Referencialidade funcional e suas implicaçMes para a identificação de pareamentos entre som e significado no comportamento vocal de primatas não humanos

Resumo

Devido ao caráter inferencial das interpretações atribuídas ao comportamento vocal de primatas não humanos, há uma série de controvérsias envolvendo o conteúdo manifestado por cada vocalização. Marler (1980) foi um dos primeiros estudiosos a reabrir o debate sobre as motivações por trás da produção vocal de primatas não humanos e sobre a qualidade da informação transmitida a coespecíficos. O principal obstáculo está em determinar se as vocalizações de alarme - e, em sentido amplo, as vocalizações de alerta - representam a expressão dos estados emocionais do sinalizador, como sugeriu Darwin (1872), ou se estão associadas a um componente simbólico, expressando classes de referentes no mundo externo, como proposto pela Hipótese da Integração - ou seja, o sistema Lexical (Miyagawa et al., 2013). Com o objetivo de avaliar essas duas hipóteses distintas, o projeto visa revisar o conceito de referencialidade funcional proposto por Macedonia & Evans (1993), que é amplamente empregado como o principal diagnóstico para identificar pares de som e significado no comportamento vocal animal. Serão avaliados os dois principais critérios para determinar os cantos funcionalmente referenciais: (i) o critério de produção, ou seja, a produção dos cantos é específica ao contexto (vinculada a um determinado tipo de predador); e (ii) o critério de percepção, ou seja, as respostas apropriadas das chamadas são independentes do estímulo (implantadas mesmo quando a pista contextual está ausente). Além disso, considerando o segundo pressuposto - ou seja, que as vocalizações são simbólicas -, o projeto busca identificar as propriedades referenciais elementares atribuídas às palavras da linguagem humana para avaliar em que medida os critérios podem auxiliar na identificação de precursores evolutivos de palavras da linguagem humana.