[INTRODUÇÃO]
Apesar da multiplicidade de abordagens e lentes teóricas para explicar os proces... more [INTRODUÇÃO]
Apesar da multiplicidade de abordagens e lentes teóricas para explicar os processos de internacionalização e vantagem competitiva de empresas, um dos fatores negligenciados pela literatura é o papel dos fatores políticos. Assim, a intenção com este trabalho é avaliar como as evidências da literatura se revelam na prática dentro da estratégia da empresa estudada e de que modo o relacionamento e uso do ambiente político têm influenciado a trajetória de internacionalização da Brasil Foods.
[METODOLOGIA]
Este projeto utilizou fontes que geraram dados primários, obtidos no campo pelo pesquisador por meio de entrevista semiestruturada em profundidade, que teve como objetivo suplementar chegar além do discurso institucional; e secundários, como relatórios da empresa, indicadores da conjuntura econômica do país, reportagens sobre eventos importantes no setor correspondente e estudos de casos publicados sobre outras empresas dos mesmos setores. Estes dados foram então analisados a partir do método de estudo de caso a fim de pesquisar os mecanismos pelos quais a relação empresa-governo afetou a internacionalização da Brasil Foods.
[RESULTADOS]
Se verificou que vários fatores mercadológicos e não mercadológicos contribuíram para o sucesso do processo de internacionalização da Brasil Foods, dentre os quais os políticos se revelaram muito importantes para complementar as capacidades e recursos técnicos da empresa. Dentre os elementos elencados merecem destaque a atuação do governo a partir de empresas como o BNDES para se garantir acesso com custo subsidiado à capital para ampliação da capacidade produtiva dentro e fora do país e acesso a linhas de crédito voltadas à exportação; a participação no Conselho de Administração da empresa de pessoas com influência política para ampliar a capacidade de relacionamento da empresa com o governo e proveito dos recursos políticos disponíveis; a doação para campanhas eleitorais a fim de favorecer a eleição de políticos cujos propósitos e objetivos se assemelhem aos do setor no qual a empresa atua; a estratégia de firmar alianças e parcerias nos países hospedeiros com empresas cujos recursos políticos encontravam-se bem desenvolvidos para facilitar o acesso à política local; o fomento e a formação de associações como a ABEF (Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos) para estimular medidas que favoreçam o setor; e a organização de missões diplomáticas em parceria com o Ministério das Relações Exteriores e demais órgãos responsáveis cuja execução contribui para a abertura de novos mercados e melhora as condições de competitividade destas empresas nos mercados internacionais.
[CONCLUSÃO]
A partir do estudo de caso analisado foi possível perceber que não são apenas os aspectos mercadológicos que influenciam e determinam o processo de expansão das empresas. Apesar de indispensáveis para o grande sucesso que Sadia e Perdigão conquistaram fora do país, em um processo continuado e expandido pela Brasil Foods quando esta foi criada, a posse de competências e know-how técnico se mostrou indispensável, porém não suficiente para explicar o sucesso do seu processo de internacionalização. Além disso, a importância de se firmar parcerias com empresas nos países hospedeiros para garantir acesso a recursos políticos foi um elemento importante da estratégia de internacionalização da empresa, mostrando que o relacionamento político deve ser estimulado não só entre a empresa e o governo do seu país de origem como também entre ela e o do país hospedeiro.
O empenho de governos na promoção dos fluxos de investimentos diretos estrangeiros não é um fenôm... more O empenho de governos na promoção dos fluxos de investimentos diretos estrangeiros não é um fenômeno novo. Em países desenvolvidos, um exemplo do engajamento voltado para a formação de multinacionais pelo Estado foi o programa MIT no Japão. Na terceira onda de internacionalização, os governos dos países emergentes têm papel fundamental de implementar estratégias para que determinadas companhias construam sua competitividade global. Porém, os efeitos destas intervenções têm sido diverso na comparação com as ondas anteriores de internacionalização.
A proposta do artigo “The Role of Home Country Political Resources for Brazilian Multinational Companies”, de Rodrigo Bandeira-de-Mello é investigar como se dá a interação entre as multinacionais com sede em países emergentes e seus governos, a partir da experiência brasileira. O autor destaca quais são os mecanismos utilizados pelo governo para impulsionar o processo de internacionalização das empresas, assim como também elege as principais estratégias políticas das companhias multinacionais em relação ao ambiente político institucional do país.
Após uma breve revisão da literatura sobre International Business a respeito do papel atribuído aos governos do país de origem, o autor descreve sua metodologia de pesquisa e seus principais achados, que sugerem uma associação entre o comportamento político das multinacionais e os benefícios concedidos pelos governos.
Mesmo antes da expansão internacional das multinacionais brasileiras, o governo brasileiro se mostrou predisposto a incentivar a concentração em setores estratégicos. O objetivo era construir "campeões nacionais", em condições de competir no mercado global. O processo passou a influenciar a política externa do país. A questão da inserção internacional das multinacionais alcançou um consenso interno de tal modo que acabou estimulando as empresas multinacionais a se aproximarem de algumas entidades governamentais que, por sua vez, passaram a ter uma agenda que agrega justamente os interesses das companhias. "Os governos tendem a visões de privilégios exclusivos sobre certas questões", declarou um executivo de multinacional brasileira durante entrevista aos pesquisadores. O estudo elege uma série mecanismos, formais e informais, adotados pelo governo brasileiro.
O apoio financeiro é um destes instrumentos e tem um peso importante, dada a fragilidade do mercado de ações brasileiro e o pouco envolvimento dos bancos comerciais locais com empréstimos de longo prazo para as empresas. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) direciona seus recursos para empresas de grande porte, com estratégias voltadas para a internacionalização. O artigo cita o exemplo de uma empresa que obteve recursos do BNDES com taxas de juros impossíveis de obter no mercado.
Há ainda a participação do governo como acionista. Embora uma série de privatizações e reformas liberais tenham sido implementadas nos anos 90, o Governo ainda mantém a participação como investidor em uma série de empresas privadas, além das estatais,. Há ainda empresas privatizadas, sob forte influência do governo. Neste caso, um exemplo é o da Embraer, na qual o poder público tem direitos por meio de golden shares. O governo mantém participações em grandes empresas através do BNDES ou de fundos de pensão estatais de pensão, o que tem fortalecido financeiramente algumas multinacionais brasileiras.
Para as empresas, há grandes dificuldades relacionadas com a influência do governo sobre negócios no Brasil. No entanto, é preciso destacar um efeito a partir da experiência de aprendizagem no país de origem e as fases posteriores de internacionalização. Durante a década de 1980, a hiperinflação e turbulência política funcionaram como uma escola para as empresas nacionais, que desenvolveram competências para sobreviver em tempos instáveis. Atualmente, as multinacionais brasileiras são caracterizadas como organizações flexíveis, capazes de se adaptar rapidamente às mudanças externas, que podem ser úteis, mesmo operando em países desenvolvidos em crise financeira.
Há uma percepção positiva em relação a entidades governamentais brasileiras que atuam na regulação sanitária. Há canais de diálogo, que tornam mais fácil o registro de produtos, a obtenção de licenças para fábricas etc. Este “diálogo aberto” é importante para as companhias multinacionais. "a fim de abastecer os mercados internacionais, as empresas têm de cumprir exigências sanitárias internacionais. Missões estrangeiras podem vir ao Brasil, ou eles podem delegar o processo de licenciamento ao governo brasileiro”, declarou um executivo. Enfim, o governo brasileiro tem a experiência necessária para lidar com tais exigências.
Outra contribuição do poder público é a articulação com governos estrangeiros e organizações internacionais. A intervenção do país de origem junto a mercados que são alvo das multinacionais parece ser um instrumento facilitador para as estratégias das companhias.
Já em relação ao comportamento político das empresas multinacionais brasileiras, há estratégias visando manter uma conexão com o governo. O objetivo é “controlar” mudanças que possam afetar seus negócios. Entre estas estratégias, estão as doações financeiras para campanhas de partidos políticos, e seus candidatos, que defendem os interesses do setor em que as companhias atuam. O artigo ainda destaca a importância das conexões pessoais no Brasil. Trata-se de um mecanismo poderoso para influenciar os tomadores de decisão do governo, permitindo que as empresas com maior poder de barganha junto ao governo se mantenham informadas sobre as políticas relacionadas a sua indústria. Outro instrumento relevante são as associações que reúnem as empresas.
Ao longo da história, o trabalho adotou diferentes significados para o homem. Como forma de suste... more Ao longo da história, o trabalho adotou diferentes significados para o homem. Como forma de sustento material, como forma de satisfação pessoal, realização, como forma de manter-se ocupado, ou de socialização. A partir da Revolução Industrial, passa a predominar o caráter do trabalho de ser intrínseco e indispensável ao homem, para que este possa participar da sociedade e conviver em um ambiente social. Esse processo se intensifica na medida em que o capitalismo evolui e passa a exigir das pessoas um maior comprometimento e qualificação que somado a um aumento de produtividade advinda de um maior aparato tecnológico tem-se como consequência, o desemprego, a exclusão e a marginalização de pessoas. Associações e Cooperativas foram instituições que se constituíram como alternativas a essa exclusão, destacando-se o fenômeno das cooperativas de catadores ou cooperativas de recicladores de lixo. Baseado nos trabalhos de Morin (2002) e Morin, Tonelli e Plioplas (2007), o presente trabalho tem como objetivo entender os diferentes sentidos do trabalho para os cooperados que trabalham em uma cooperativa dos recicladores situada no município de Ituituaba/MG. A Copercicla é uma organização que tem aproximadamente oito anos de existência e sobreviveu por algumas crises políticas e econômicas a partir de um esforço concentrado da sociedade civil e da parceria com algumas organizações públicas. Como metodologia utilizou-se uma abordagem qualitativa a partir da estratégia do estudo de caso. Foram realizadas distintas técnicas de coleta e análise de dados como uma forma particular de investigação da realidade (YIN, 2001). Um diário de campo foi constituído a partir do processo de observação e participação que durou cerca de 20 dias no mês de julho de 2011. A presença dos pesquisadores aconteceu aleatoriamente nos períodos matutino e vespertino nos diversos setores dentro da cooperativa e nas viagens dos caminhões para coleta de material reciclado pelas ruas do município. Uma grande quantidade de documentos, atas e relatórios que foram disponibilizados aos pesquisadores que fizeram análise de conteúdo. Por fim, objetivando a triangulação de dados, realizou-se 20 entrevistas com roteiro semiestruturado previamente definido. Todas elas foram autorizadas, gravadas e parcialmente transcritas. A justificativa para a utilização desse tipo de entrevistas reside no fato de que o entendimento da realidade pesquisada deve ser buscado no próprio discurso fornecido pelos entrevistados. À medida que eles falam de sua própria realidade, os entrevistados deixam transparecer, além dos fatos objetivos, elementos subjetivos que podem ajudar a esclarecer o fenômeno estudado. De modo geral, os resultados apontam que cooperados que talvez não tivessem outra oportunidade de trabalho ou emprego, entendem que o trabalho em uma cooperativa de reciclagem possui um significado de contribuição ambiental para a sociedade. Além disso, fatores como sexo, idade, tempo de trabalho como cooperado, função que exerce na cooperativa e trabalho que exercia antes de adentrar na cooperativa são fatores que influenciam o entendimento sobre esses sentidos. Categorias como sobrevivência e falta de opção, convivência, aprendizado, conquista dentre outras foram encontradas. Por fim, o trabalho contribui por mostrar um amplo e variado entendimento do trabalho e seus significados dentre os cooperados em detrimento de um mero meio de sobrevivência.
O trabalho apresentado neste relatório tem por objetivo pesquisar a constituição e o desenvolvime... more O trabalho apresentado neste relatório tem por objetivo pesquisar a constituição e o desenvolvimento da confiança entre os empresários participantes do programa Cooperar para Competir, o qual compõe o conjunto de treinamentos oferecidos para o Arranjo Produtivo Local de Birigui pelo SEBRAE-SP em parceria com instituições locais como o Sindicato da Indústrias do Calçado e Vestuário de Birigui, o SESI de Birigui, entre outros. Em termos de metodologia, foi escolhido o método qualitativo para desenvolver uma pesquisa exploratória de estudo de caso (o Cooperar para Competir) e foram utilizadas duas técnicas de pesquisa – a entrevista aberta ou não-dirigida e a técnica de história oral. Para o seu desenvolvimento, foram estabelecidas três grandes áreas de investigação que, juntas, ofereceriam uma visão abrangente do tema analisado: a) a primeira grande área é responsável pelo estudo do contexto e da estrutura econômica do APL em geral, bem como de seus agentes presentes naquela região e suas particularidades. Nesta primeira parte são apresentadas discussões sobre clusters, sua importância e representatividade no Brasil e no mundo, bem como uma análise do cluster calçadista de Birigui de acordo com o Modelo Diamante proposto por Porter (1999); b) a segunda área abrange tanto a estrutura formal do Cooperar para Competir em cada uma das turmas quanto o processo dinâmico do curso, seus momentos críticos e as estratégias pedagógicas adotadas a cada momento em vista dos desafios. Esta parte contextualiza o programa, apresenta sua estrutura e reflete a construção das bases de cooperação em sala de aula por uma perspectiva axiológica; c) a terceira área, por fim, é caracterizada pela pesquisa de campo, quando foram investigadas as vivências, experiências e impactos dos e nos participantes do ponto de vista subjetivo e como eles entenderam os efeitos em suas vidas profissional e pessoal. As entrevistas abertas foram realizadas com dois grupos de participantes, o Grupo Graduado e o Grupo Novo, a fim entender o desenvolvimento de ambos os grupos, os resultados alcançados pelo primeiro e o efeito da suspensão do programa no segundo. Todo o processo seguido durante a pesquisa permitiu que se chegasse a inúmeras conclusões, como o porquê do sucesso do programa Cooperar para Competir – o sucesso, neste caso, reside no desenho pedagógico que atende a dimensão axiológica, ou seja, não apenas se falou de cooperação, mas se produziu cooperação ao integrar competências, interesses e valores. O programa serviu, então, como um espaço filosófico e laboratorial. Assim, o conteúdo e a sequência seguidos também tem sua importância relativizada frente as relações e a construção de algo que transcende o caráter utilitarista ou funcionalista das disciplinas. As entrevistas individuais e em grupo mostraram que se reconhecerem como iguais foi um fator gerador de confiança entre os participantes, a qual também é expressa quando estes se abrem para compreenderem o modo como os outros atribuem significados para a relação de desconfiança e confiança e passam a estabelecer um sistema de significação comum. Além disso, a consciência de sua realidade e o reconhecimento de sua responsabilidade junto a si mesmo, à sua empresa, ao projeto desenvolvido no Cooperar para Competir e à comunidade de Birigui marcam, também, a mudança do esquema mental de sapateiro para empresário.
[INTRODUÇÃO]
Apesar da multiplicidade de abordagens e lentes teóricas para explicar os proces... more [INTRODUÇÃO]
Apesar da multiplicidade de abordagens e lentes teóricas para explicar os processos de internacionalização e vantagem competitiva de empresas, um dos fatores negligenciados pela literatura é o papel dos fatores políticos. Assim, a intenção com este trabalho é avaliar como as evidências da literatura se revelam na prática dentro da estratégia da empresa estudada e de que modo o relacionamento e uso do ambiente político têm influenciado a trajetória de internacionalização da Brasil Foods.
[METODOLOGIA]
Este projeto utilizou fontes que geraram dados primários, obtidos no campo pelo pesquisador por meio de entrevista semiestruturada em profundidade, que teve como objetivo suplementar chegar além do discurso institucional; e secundários, como relatórios da empresa, indicadores da conjuntura econômica do país, reportagens sobre eventos importantes no setor correspondente e estudos de casos publicados sobre outras empresas dos mesmos setores. Estes dados foram então analisados a partir do método de estudo de caso a fim de pesquisar os mecanismos pelos quais a relação empresa-governo afetou a internacionalização da Brasil Foods.
[RESULTADOS]
Se verificou que vários fatores mercadológicos e não mercadológicos contribuíram para o sucesso do processo de internacionalização da Brasil Foods, dentre os quais os políticos se revelaram muito importantes para complementar as capacidades e recursos técnicos da empresa. Dentre os elementos elencados merecem destaque a atuação do governo a partir de empresas como o BNDES para se garantir acesso com custo subsidiado à capital para ampliação da capacidade produtiva dentro e fora do país e acesso a linhas de crédito voltadas à exportação; a participação no Conselho de Administração da empresa de pessoas com influência política para ampliar a capacidade de relacionamento da empresa com o governo e proveito dos recursos políticos disponíveis; a doação para campanhas eleitorais a fim de favorecer a eleição de políticos cujos propósitos e objetivos se assemelhem aos do setor no qual a empresa atua; a estratégia de firmar alianças e parcerias nos países hospedeiros com empresas cujos recursos políticos encontravam-se bem desenvolvidos para facilitar o acesso à política local; o fomento e a formação de associações como a ABEF (Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos) para estimular medidas que favoreçam o setor; e a organização de missões diplomáticas em parceria com o Ministério das Relações Exteriores e demais órgãos responsáveis cuja execução contribui para a abertura de novos mercados e melhora as condições de competitividade destas empresas nos mercados internacionais.
[CONCLUSÃO]
A partir do estudo de caso analisado foi possível perceber que não são apenas os aspectos mercadológicos que influenciam e determinam o processo de expansão das empresas. Apesar de indispensáveis para o grande sucesso que Sadia e Perdigão conquistaram fora do país, em um processo continuado e expandido pela Brasil Foods quando esta foi criada, a posse de competências e know-how técnico se mostrou indispensável, porém não suficiente para explicar o sucesso do seu processo de internacionalização. Além disso, a importância de se firmar parcerias com empresas nos países hospedeiros para garantir acesso a recursos políticos foi um elemento importante da estratégia de internacionalização da empresa, mostrando que o relacionamento político deve ser estimulado não só entre a empresa e o governo do seu país de origem como também entre ela e o do país hospedeiro.
O empenho de governos na promoção dos fluxos de investimentos diretos estrangeiros não é um fenôm... more O empenho de governos na promoção dos fluxos de investimentos diretos estrangeiros não é um fenômeno novo. Em países desenvolvidos, um exemplo do engajamento voltado para a formação de multinacionais pelo Estado foi o programa MIT no Japão. Na terceira onda de internacionalização, os governos dos países emergentes têm papel fundamental de implementar estratégias para que determinadas companhias construam sua competitividade global. Porém, os efeitos destas intervenções têm sido diverso na comparação com as ondas anteriores de internacionalização.
A proposta do artigo “The Role of Home Country Political Resources for Brazilian Multinational Companies”, de Rodrigo Bandeira-de-Mello é investigar como se dá a interação entre as multinacionais com sede em países emergentes e seus governos, a partir da experiência brasileira. O autor destaca quais são os mecanismos utilizados pelo governo para impulsionar o processo de internacionalização das empresas, assim como também elege as principais estratégias políticas das companhias multinacionais em relação ao ambiente político institucional do país.
Após uma breve revisão da literatura sobre International Business a respeito do papel atribuído aos governos do país de origem, o autor descreve sua metodologia de pesquisa e seus principais achados, que sugerem uma associação entre o comportamento político das multinacionais e os benefícios concedidos pelos governos.
Mesmo antes da expansão internacional das multinacionais brasileiras, o governo brasileiro se mostrou predisposto a incentivar a concentração em setores estratégicos. O objetivo era construir "campeões nacionais", em condições de competir no mercado global. O processo passou a influenciar a política externa do país. A questão da inserção internacional das multinacionais alcançou um consenso interno de tal modo que acabou estimulando as empresas multinacionais a se aproximarem de algumas entidades governamentais que, por sua vez, passaram a ter uma agenda que agrega justamente os interesses das companhias. "Os governos tendem a visões de privilégios exclusivos sobre certas questões", declarou um executivo de multinacional brasileira durante entrevista aos pesquisadores. O estudo elege uma série mecanismos, formais e informais, adotados pelo governo brasileiro.
O apoio financeiro é um destes instrumentos e tem um peso importante, dada a fragilidade do mercado de ações brasileiro e o pouco envolvimento dos bancos comerciais locais com empréstimos de longo prazo para as empresas. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) direciona seus recursos para empresas de grande porte, com estratégias voltadas para a internacionalização. O artigo cita o exemplo de uma empresa que obteve recursos do BNDES com taxas de juros impossíveis de obter no mercado.
Há ainda a participação do governo como acionista. Embora uma série de privatizações e reformas liberais tenham sido implementadas nos anos 90, o Governo ainda mantém a participação como investidor em uma série de empresas privadas, além das estatais,. Há ainda empresas privatizadas, sob forte influência do governo. Neste caso, um exemplo é o da Embraer, na qual o poder público tem direitos por meio de golden shares. O governo mantém participações em grandes empresas através do BNDES ou de fundos de pensão estatais de pensão, o que tem fortalecido financeiramente algumas multinacionais brasileiras.
Para as empresas, há grandes dificuldades relacionadas com a influência do governo sobre negócios no Brasil. No entanto, é preciso destacar um efeito a partir da experiência de aprendizagem no país de origem e as fases posteriores de internacionalização. Durante a década de 1980, a hiperinflação e turbulência política funcionaram como uma escola para as empresas nacionais, que desenvolveram competências para sobreviver em tempos instáveis. Atualmente, as multinacionais brasileiras são caracterizadas como organizações flexíveis, capazes de se adaptar rapidamente às mudanças externas, que podem ser úteis, mesmo operando em países desenvolvidos em crise financeira.
Há uma percepção positiva em relação a entidades governamentais brasileiras que atuam na regulação sanitária. Há canais de diálogo, que tornam mais fácil o registro de produtos, a obtenção de licenças para fábricas etc. Este “diálogo aberto” é importante para as companhias multinacionais. "a fim de abastecer os mercados internacionais, as empresas têm de cumprir exigências sanitárias internacionais. Missões estrangeiras podem vir ao Brasil, ou eles podem delegar o processo de licenciamento ao governo brasileiro”, declarou um executivo. Enfim, o governo brasileiro tem a experiência necessária para lidar com tais exigências.
Outra contribuição do poder público é a articulação com governos estrangeiros e organizações internacionais. A intervenção do país de origem junto a mercados que são alvo das multinacionais parece ser um instrumento facilitador para as estratégias das companhias.
Já em relação ao comportamento político das empresas multinacionais brasileiras, há estratégias visando manter uma conexão com o governo. O objetivo é “controlar” mudanças que possam afetar seus negócios. Entre estas estratégias, estão as doações financeiras para campanhas de partidos políticos, e seus candidatos, que defendem os interesses do setor em que as companhias atuam. O artigo ainda destaca a importância das conexões pessoais no Brasil. Trata-se de um mecanismo poderoso para influenciar os tomadores de decisão do governo, permitindo que as empresas com maior poder de barganha junto ao governo se mantenham informadas sobre as políticas relacionadas a sua indústria. Outro instrumento relevante são as associações que reúnem as empresas.
Ao longo da história, o trabalho adotou diferentes significados para o homem. Como forma de suste... more Ao longo da história, o trabalho adotou diferentes significados para o homem. Como forma de sustento material, como forma de satisfação pessoal, realização, como forma de manter-se ocupado, ou de socialização. A partir da Revolução Industrial, passa a predominar o caráter do trabalho de ser intrínseco e indispensável ao homem, para que este possa participar da sociedade e conviver em um ambiente social. Esse processo se intensifica na medida em que o capitalismo evolui e passa a exigir das pessoas um maior comprometimento e qualificação que somado a um aumento de produtividade advinda de um maior aparato tecnológico tem-se como consequência, o desemprego, a exclusão e a marginalização de pessoas. Associações e Cooperativas foram instituições que se constituíram como alternativas a essa exclusão, destacando-se o fenômeno das cooperativas de catadores ou cooperativas de recicladores de lixo. Baseado nos trabalhos de Morin (2002) e Morin, Tonelli e Plioplas (2007), o presente trabalho tem como objetivo entender os diferentes sentidos do trabalho para os cooperados que trabalham em uma cooperativa dos recicladores situada no município de Ituituaba/MG. A Copercicla é uma organização que tem aproximadamente oito anos de existência e sobreviveu por algumas crises políticas e econômicas a partir de um esforço concentrado da sociedade civil e da parceria com algumas organizações públicas. Como metodologia utilizou-se uma abordagem qualitativa a partir da estratégia do estudo de caso. Foram realizadas distintas técnicas de coleta e análise de dados como uma forma particular de investigação da realidade (YIN, 2001). Um diário de campo foi constituído a partir do processo de observação e participação que durou cerca de 20 dias no mês de julho de 2011. A presença dos pesquisadores aconteceu aleatoriamente nos períodos matutino e vespertino nos diversos setores dentro da cooperativa e nas viagens dos caminhões para coleta de material reciclado pelas ruas do município. Uma grande quantidade de documentos, atas e relatórios que foram disponibilizados aos pesquisadores que fizeram análise de conteúdo. Por fim, objetivando a triangulação de dados, realizou-se 20 entrevistas com roteiro semiestruturado previamente definido. Todas elas foram autorizadas, gravadas e parcialmente transcritas. A justificativa para a utilização desse tipo de entrevistas reside no fato de que o entendimento da realidade pesquisada deve ser buscado no próprio discurso fornecido pelos entrevistados. À medida que eles falam de sua própria realidade, os entrevistados deixam transparecer, além dos fatos objetivos, elementos subjetivos que podem ajudar a esclarecer o fenômeno estudado. De modo geral, os resultados apontam que cooperados que talvez não tivessem outra oportunidade de trabalho ou emprego, entendem que o trabalho em uma cooperativa de reciclagem possui um significado de contribuição ambiental para a sociedade. Além disso, fatores como sexo, idade, tempo de trabalho como cooperado, função que exerce na cooperativa e trabalho que exercia antes de adentrar na cooperativa são fatores que influenciam o entendimento sobre esses sentidos. Categorias como sobrevivência e falta de opção, convivência, aprendizado, conquista dentre outras foram encontradas. Por fim, o trabalho contribui por mostrar um amplo e variado entendimento do trabalho e seus significados dentre os cooperados em detrimento de um mero meio de sobrevivência.
O trabalho apresentado neste relatório tem por objetivo pesquisar a constituição e o desenvolvime... more O trabalho apresentado neste relatório tem por objetivo pesquisar a constituição e o desenvolvimento da confiança entre os empresários participantes do programa Cooperar para Competir, o qual compõe o conjunto de treinamentos oferecidos para o Arranjo Produtivo Local de Birigui pelo SEBRAE-SP em parceria com instituições locais como o Sindicato da Indústrias do Calçado e Vestuário de Birigui, o SESI de Birigui, entre outros. Em termos de metodologia, foi escolhido o método qualitativo para desenvolver uma pesquisa exploratória de estudo de caso (o Cooperar para Competir) e foram utilizadas duas técnicas de pesquisa – a entrevista aberta ou não-dirigida e a técnica de história oral. Para o seu desenvolvimento, foram estabelecidas três grandes áreas de investigação que, juntas, ofereceriam uma visão abrangente do tema analisado: a) a primeira grande área é responsável pelo estudo do contexto e da estrutura econômica do APL em geral, bem como de seus agentes presentes naquela região e suas particularidades. Nesta primeira parte são apresentadas discussões sobre clusters, sua importância e representatividade no Brasil e no mundo, bem como uma análise do cluster calçadista de Birigui de acordo com o Modelo Diamante proposto por Porter (1999); b) a segunda área abrange tanto a estrutura formal do Cooperar para Competir em cada uma das turmas quanto o processo dinâmico do curso, seus momentos críticos e as estratégias pedagógicas adotadas a cada momento em vista dos desafios. Esta parte contextualiza o programa, apresenta sua estrutura e reflete a construção das bases de cooperação em sala de aula por uma perspectiva axiológica; c) a terceira área, por fim, é caracterizada pela pesquisa de campo, quando foram investigadas as vivências, experiências e impactos dos e nos participantes do ponto de vista subjetivo e como eles entenderam os efeitos em suas vidas profissional e pessoal. As entrevistas abertas foram realizadas com dois grupos de participantes, o Grupo Graduado e o Grupo Novo, a fim entender o desenvolvimento de ambos os grupos, os resultados alcançados pelo primeiro e o efeito da suspensão do programa no segundo. Todo o processo seguido durante a pesquisa permitiu que se chegasse a inúmeras conclusões, como o porquê do sucesso do programa Cooperar para Competir – o sucesso, neste caso, reside no desenho pedagógico que atende a dimensão axiológica, ou seja, não apenas se falou de cooperação, mas se produziu cooperação ao integrar competências, interesses e valores. O programa serviu, então, como um espaço filosófico e laboratorial. Assim, o conteúdo e a sequência seguidos também tem sua importância relativizada frente as relações e a construção de algo que transcende o caráter utilitarista ou funcionalista das disciplinas. As entrevistas individuais e em grupo mostraram que se reconhecerem como iguais foi um fator gerador de confiança entre os participantes, a qual também é expressa quando estes se abrem para compreenderem o modo como os outros atribuem significados para a relação de desconfiança e confiança e passam a estabelecer um sistema de significação comum. Além disso, a consciência de sua realidade e o reconhecimento de sua responsabilidade junto a si mesmo, à sua empresa, ao projeto desenvolvido no Cooperar para Competir e à comunidade de Birigui marcam, também, a mudança do esquema mental de sapateiro para empresário.
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Apesar da multiplicidade de abordagens e lentes teóricas para explicar os processos de internacionalização e vantagem competitiva de empresas, um dos fatores negligenciados pela literatura é o papel dos fatores políticos. Assim, a intenção com este trabalho é avaliar como as evidências da literatura se revelam na prática dentro da estratégia da empresa estudada e de que modo o relacionamento e uso do ambiente político têm influenciado a trajetória de internacionalização da Brasil Foods.
[METODOLOGIA]
Este projeto utilizou fontes que geraram dados primários, obtidos no campo pelo pesquisador por meio de entrevista semiestruturada em profundidade, que teve como objetivo suplementar chegar além do discurso institucional; e secundários, como relatórios da empresa, indicadores da conjuntura econômica do país, reportagens sobre eventos importantes no setor correspondente e estudos de casos publicados sobre outras empresas dos mesmos setores. Estes dados foram então analisados a partir do método de estudo de caso a fim de pesquisar os mecanismos pelos quais a relação empresa-governo afetou a internacionalização da Brasil Foods.
[RESULTADOS]
Se verificou que vários fatores mercadológicos e não mercadológicos contribuíram para o sucesso do processo de internacionalização da Brasil Foods, dentre os quais os políticos se revelaram muito importantes para complementar as capacidades e recursos técnicos da empresa. Dentre os elementos elencados merecem destaque a atuação do governo a partir de empresas como o BNDES para se garantir acesso com custo subsidiado à capital para ampliação da capacidade produtiva dentro e fora do país e acesso a linhas de crédito voltadas à exportação; a participação no Conselho de Administração da empresa de pessoas com influência política para ampliar a capacidade de relacionamento da empresa com o governo e proveito dos recursos políticos disponíveis; a doação para campanhas eleitorais a fim de favorecer a eleição de políticos cujos propósitos e objetivos se assemelhem aos do setor no qual a empresa atua; a estratégia de firmar alianças e parcerias nos países hospedeiros com empresas cujos recursos políticos encontravam-se bem desenvolvidos para facilitar o acesso à política local; o fomento e a formação de associações como a ABEF (Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos) para estimular medidas que favoreçam o setor; e a organização de missões diplomáticas em parceria com o Ministério das Relações Exteriores e demais órgãos responsáveis cuja execução contribui para a abertura de novos mercados e melhora as condições de competitividade destas empresas nos mercados internacionais.
[CONCLUSÃO]
A partir do estudo de caso analisado foi possível perceber que não são apenas os aspectos mercadológicos que influenciam e determinam o processo de expansão das empresas. Apesar de indispensáveis para o grande sucesso que Sadia e Perdigão conquistaram fora do país, em um processo continuado e expandido pela Brasil Foods quando esta foi criada, a posse de competências e know-how técnico se mostrou indispensável, porém não suficiente para explicar o sucesso do seu processo de internacionalização. Além disso, a importância de se firmar parcerias com empresas nos países hospedeiros para garantir acesso a recursos políticos foi um elemento importante da estratégia de internacionalização da empresa, mostrando que o relacionamento político deve ser estimulado não só entre a empresa e o governo do seu país de origem como também entre ela e o do país hospedeiro.
A proposta do artigo “The Role of Home Country Political Resources for Brazilian Multinational Companies”, de Rodrigo Bandeira-de-Mello é investigar como se dá a interação entre as multinacionais com sede em países emergentes e seus governos, a partir da experiência brasileira. O autor destaca quais são os mecanismos utilizados pelo governo para impulsionar o processo de internacionalização das empresas, assim como também elege as principais estratégias políticas das companhias multinacionais em relação ao ambiente político institucional do país.
Após uma breve revisão da literatura sobre International Business a respeito do papel atribuído aos governos do país de origem, o autor descreve sua metodologia de pesquisa e seus principais achados, que sugerem uma associação entre o comportamento político das multinacionais e os benefícios concedidos pelos governos.
Mesmo antes da expansão internacional das multinacionais brasileiras, o governo brasileiro se mostrou predisposto a incentivar a concentração em setores estratégicos. O objetivo era construir "campeões nacionais", em condições de competir no mercado global. O processo passou a influenciar a política externa do país. A questão da inserção internacional das multinacionais alcançou um consenso interno de tal modo que acabou estimulando as empresas multinacionais a se aproximarem de algumas entidades governamentais que, por sua vez, passaram a ter uma agenda que agrega justamente os interesses das companhias. "Os governos tendem a visões de privilégios exclusivos sobre certas questões", declarou um executivo de multinacional brasileira durante entrevista aos pesquisadores. O estudo elege uma série mecanismos, formais e informais, adotados pelo governo brasileiro.
O apoio financeiro é um destes instrumentos e tem um peso importante, dada a fragilidade do mercado de ações brasileiro e o pouco envolvimento dos bancos comerciais locais com empréstimos de longo prazo para as empresas. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) direciona seus recursos para empresas de grande porte, com estratégias voltadas para a internacionalização. O artigo cita o exemplo de uma empresa que obteve recursos do BNDES com taxas de juros impossíveis de obter no mercado.
Há ainda a participação do governo como acionista. Embora uma série de privatizações e reformas liberais tenham sido implementadas nos anos 90, o Governo ainda mantém a participação como investidor em uma série de empresas privadas, além das estatais,. Há ainda empresas privatizadas, sob forte influência do governo. Neste caso, um exemplo é o da Embraer, na qual o poder público tem direitos por meio de golden shares. O governo mantém participações em grandes empresas através do BNDES ou de fundos de pensão estatais de pensão, o que tem fortalecido financeiramente algumas multinacionais brasileiras.
Para as empresas, há grandes dificuldades relacionadas com a influência do governo sobre negócios no Brasil. No entanto, é preciso destacar um efeito a partir da experiência de aprendizagem no país de origem e as fases posteriores de internacionalização. Durante a década de 1980, a hiperinflação e turbulência política funcionaram como uma escola para as empresas nacionais, que desenvolveram competências para sobreviver em tempos instáveis. Atualmente, as multinacionais brasileiras são caracterizadas como organizações flexíveis, capazes de se adaptar rapidamente às mudanças externas, que podem ser úteis, mesmo operando em países desenvolvidos em crise financeira.
Há uma percepção positiva em relação a entidades governamentais brasileiras que atuam na regulação sanitária. Há canais de diálogo, que tornam mais fácil o registro de produtos, a obtenção de licenças para fábricas etc. Este “diálogo aberto” é importante para as companhias multinacionais. "a fim de abastecer os mercados internacionais, as empresas têm de cumprir exigências sanitárias internacionais. Missões estrangeiras podem vir ao Brasil, ou eles podem delegar o processo de licenciamento ao governo brasileiro”, declarou um executivo. Enfim, o governo brasileiro tem a experiência necessária para lidar com tais exigências.
Outra contribuição do poder público é a articulação com governos estrangeiros e organizações internacionais. A intervenção do país de origem junto a mercados que são alvo das multinacionais parece ser um instrumento facilitador para as estratégias das companhias.
Já em relação ao comportamento político das empresas multinacionais brasileiras, há estratégias visando manter uma conexão com o governo. O objetivo é “controlar” mudanças que possam afetar seus negócios. Entre estas estratégias, estão as doações financeiras para campanhas de partidos políticos, e seus candidatos, que defendem os interesses do setor em que as companhias atuam. O artigo ainda destaca a importância das conexões pessoais no Brasil. Trata-se de um mecanismo poderoso para influenciar os tomadores de decisão do governo, permitindo que as empresas com maior poder de barganha junto ao governo se mantenham informadas sobre as políticas relacionadas a sua indústria. Outro instrumento relevante são as associações que reúnem as empresas.
Apesar da multiplicidade de abordagens e lentes teóricas para explicar os processos de internacionalização e vantagem competitiva de empresas, um dos fatores negligenciados pela literatura é o papel dos fatores políticos. Assim, a intenção com este trabalho é avaliar como as evidências da literatura se revelam na prática dentro da estratégia da empresa estudada e de que modo o relacionamento e uso do ambiente político têm influenciado a trajetória de internacionalização da Brasil Foods.
[METODOLOGIA]
Este projeto utilizou fontes que geraram dados primários, obtidos no campo pelo pesquisador por meio de entrevista semiestruturada em profundidade, que teve como objetivo suplementar chegar além do discurso institucional; e secundários, como relatórios da empresa, indicadores da conjuntura econômica do país, reportagens sobre eventos importantes no setor correspondente e estudos de casos publicados sobre outras empresas dos mesmos setores. Estes dados foram então analisados a partir do método de estudo de caso a fim de pesquisar os mecanismos pelos quais a relação empresa-governo afetou a internacionalização da Brasil Foods.
[RESULTADOS]
Se verificou que vários fatores mercadológicos e não mercadológicos contribuíram para o sucesso do processo de internacionalização da Brasil Foods, dentre os quais os políticos se revelaram muito importantes para complementar as capacidades e recursos técnicos da empresa. Dentre os elementos elencados merecem destaque a atuação do governo a partir de empresas como o BNDES para se garantir acesso com custo subsidiado à capital para ampliação da capacidade produtiva dentro e fora do país e acesso a linhas de crédito voltadas à exportação; a participação no Conselho de Administração da empresa de pessoas com influência política para ampliar a capacidade de relacionamento da empresa com o governo e proveito dos recursos políticos disponíveis; a doação para campanhas eleitorais a fim de favorecer a eleição de políticos cujos propósitos e objetivos se assemelhem aos do setor no qual a empresa atua; a estratégia de firmar alianças e parcerias nos países hospedeiros com empresas cujos recursos políticos encontravam-se bem desenvolvidos para facilitar o acesso à política local; o fomento e a formação de associações como a ABEF (Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos) para estimular medidas que favoreçam o setor; e a organização de missões diplomáticas em parceria com o Ministério das Relações Exteriores e demais órgãos responsáveis cuja execução contribui para a abertura de novos mercados e melhora as condições de competitividade destas empresas nos mercados internacionais.
[CONCLUSÃO]
A partir do estudo de caso analisado foi possível perceber que não são apenas os aspectos mercadológicos que influenciam e determinam o processo de expansão das empresas. Apesar de indispensáveis para o grande sucesso que Sadia e Perdigão conquistaram fora do país, em um processo continuado e expandido pela Brasil Foods quando esta foi criada, a posse de competências e know-how técnico se mostrou indispensável, porém não suficiente para explicar o sucesso do seu processo de internacionalização. Além disso, a importância de se firmar parcerias com empresas nos países hospedeiros para garantir acesso a recursos políticos foi um elemento importante da estratégia de internacionalização da empresa, mostrando que o relacionamento político deve ser estimulado não só entre a empresa e o governo do seu país de origem como também entre ela e o do país hospedeiro.
A proposta do artigo “The Role of Home Country Political Resources for Brazilian Multinational Companies”, de Rodrigo Bandeira-de-Mello é investigar como se dá a interação entre as multinacionais com sede em países emergentes e seus governos, a partir da experiência brasileira. O autor destaca quais são os mecanismos utilizados pelo governo para impulsionar o processo de internacionalização das empresas, assim como também elege as principais estratégias políticas das companhias multinacionais em relação ao ambiente político institucional do país.
Após uma breve revisão da literatura sobre International Business a respeito do papel atribuído aos governos do país de origem, o autor descreve sua metodologia de pesquisa e seus principais achados, que sugerem uma associação entre o comportamento político das multinacionais e os benefícios concedidos pelos governos.
Mesmo antes da expansão internacional das multinacionais brasileiras, o governo brasileiro se mostrou predisposto a incentivar a concentração em setores estratégicos. O objetivo era construir "campeões nacionais", em condições de competir no mercado global. O processo passou a influenciar a política externa do país. A questão da inserção internacional das multinacionais alcançou um consenso interno de tal modo que acabou estimulando as empresas multinacionais a se aproximarem de algumas entidades governamentais que, por sua vez, passaram a ter uma agenda que agrega justamente os interesses das companhias. "Os governos tendem a visões de privilégios exclusivos sobre certas questões", declarou um executivo de multinacional brasileira durante entrevista aos pesquisadores. O estudo elege uma série mecanismos, formais e informais, adotados pelo governo brasileiro.
O apoio financeiro é um destes instrumentos e tem um peso importante, dada a fragilidade do mercado de ações brasileiro e o pouco envolvimento dos bancos comerciais locais com empréstimos de longo prazo para as empresas. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) direciona seus recursos para empresas de grande porte, com estratégias voltadas para a internacionalização. O artigo cita o exemplo de uma empresa que obteve recursos do BNDES com taxas de juros impossíveis de obter no mercado.
Há ainda a participação do governo como acionista. Embora uma série de privatizações e reformas liberais tenham sido implementadas nos anos 90, o Governo ainda mantém a participação como investidor em uma série de empresas privadas, além das estatais,. Há ainda empresas privatizadas, sob forte influência do governo. Neste caso, um exemplo é o da Embraer, na qual o poder público tem direitos por meio de golden shares. O governo mantém participações em grandes empresas através do BNDES ou de fundos de pensão estatais de pensão, o que tem fortalecido financeiramente algumas multinacionais brasileiras.
Para as empresas, há grandes dificuldades relacionadas com a influência do governo sobre negócios no Brasil. No entanto, é preciso destacar um efeito a partir da experiência de aprendizagem no país de origem e as fases posteriores de internacionalização. Durante a década de 1980, a hiperinflação e turbulência política funcionaram como uma escola para as empresas nacionais, que desenvolveram competências para sobreviver em tempos instáveis. Atualmente, as multinacionais brasileiras são caracterizadas como organizações flexíveis, capazes de se adaptar rapidamente às mudanças externas, que podem ser úteis, mesmo operando em países desenvolvidos em crise financeira.
Há uma percepção positiva em relação a entidades governamentais brasileiras que atuam na regulação sanitária. Há canais de diálogo, que tornam mais fácil o registro de produtos, a obtenção de licenças para fábricas etc. Este “diálogo aberto” é importante para as companhias multinacionais. "a fim de abastecer os mercados internacionais, as empresas têm de cumprir exigências sanitárias internacionais. Missões estrangeiras podem vir ao Brasil, ou eles podem delegar o processo de licenciamento ao governo brasileiro”, declarou um executivo. Enfim, o governo brasileiro tem a experiência necessária para lidar com tais exigências.
Outra contribuição do poder público é a articulação com governos estrangeiros e organizações internacionais. A intervenção do país de origem junto a mercados que são alvo das multinacionais parece ser um instrumento facilitador para as estratégias das companhias.
Já em relação ao comportamento político das empresas multinacionais brasileiras, há estratégias visando manter uma conexão com o governo. O objetivo é “controlar” mudanças que possam afetar seus negócios. Entre estas estratégias, estão as doações financeiras para campanhas de partidos políticos, e seus candidatos, que defendem os interesses do setor em que as companhias atuam. O artigo ainda destaca a importância das conexões pessoais no Brasil. Trata-se de um mecanismo poderoso para influenciar os tomadores de decisão do governo, permitindo que as empresas com maior poder de barganha junto ao governo se mantenham informadas sobre as políticas relacionadas a sua indústria. Outro instrumento relevante são as associações que reúnem as empresas.