Luca Fazzini is a research fellow at the Centre for Comparative Studies (CEComp) of the School of Humanities of the University of Lisbon, where he is also deputy director of the PhD Programme in Portuguese as a Foreign Language. . He holds a BA in Modern Literatures at the University of Siena (2012) and a MA in Comparative Studies at the Faculty of Humanities of the University of Lisbon (2014). He is a Doctor (2019) in Literature, Culture and Contemporaneity at the Pontifical Catholic University of Rio de Janeiro (PUC-Rio), where he carried out a research concerning the representation of the city in contemporary literature and culture in Angola, Brazil, Cape Verde and Portugal. He is the author of Versões do Horror: Guerra e Testemunho no Romance Português e Italiano Contemporâneo (Lisboa, Ed. Colibri) and other essays and articles related to African Literatures in Portuguese language, to Contemporary Portuguese Literature, to Comparative and Postcolonial Studies. His research activities concern the literary representations of violence and trauma; literature and urban experience; relations between aesthetics and politics in literature and contemporary art. He has a personal Research Project “Lisbon as an Afro-Atlantic City: Postcolonial Perspective for a Comparative Approach in Portuguese”, with a FCT funding. He is also a member of the FCT Research Project “The Portuguese Colonial Literature: Beyond the memory of the empire” and Brazilian Research Group “Afropeans-Port: Afropeans writing in Portuguese” with a CNPq funding.
Com o presente artigo pretende-se investigar as formas de encenar, na literatura brasileira conte... more Com o presente artigo pretende-se investigar as formas de encenar, na literatura brasileira contemporânea em prosa, a cidade do Rio de Janeiro enquanto uma cidade Afro-atlântica, ou seja, uma cidade moldada pelos trânsitos oceânicos caraterísticos da colonização e da escravidão, assim como teatro de conflitos entre alteridades que manifestam a colonialidade do poder no contemporâneo urbano. Na primeira parte, através das reflexões de Beatriz Sarlo (2014), Malcolm Miles (2019) e Renato Cordeiro Gomes (1999), propõe-se uma análise panorâmica da densa relação entre cidade e literatura. Em seguida, tentar-se-á pensar, com Walter Benjamin (1987), a porosidade caraterística da cidade do Rio de Janeiro – como proposto por Bruno de Carvalho (2019) – enquanto típica dos espaços Afro-atlânticos. Por último, a partir das tensões urbanas levantadas, entre outros autores, por Geovani Martins em O sol na cabeça (2018) e por Luiz Antonio Simas em O corpo encantado das ruas (2019), procurar-se-á debater algumas das dinâmicas culturais e das estratégias do poder na contemporaneidade urbana do Rio de Janeiro.
The collection of essays presented in this volume, the fifth issue of Compendium, provides a lite... more The collection of essays presented in this volume, the fifth issue of Compendium, provides a literary and cultural mapping of the Atlantic that, through a critical-theoretical post-colonial perspective and a comparative approach, enables us to (re)assess the circulation of texts and cultures within the Atlantic space in the light of unequal power relations that are intrinsic to colonial modernity. Furthermore, the collection highlights the multiple forms of micro- and macro-physical violence underlying contemporary migrations which have always borne the scars of the colonial nature of knowledge and power. This dossier comprises a series of essays that engage in dialogue with the social sciences, pedagogy, and literary studies, alongside two critical reviews.
Crítica Anticolonial no Império Português: perspectivas culturais e políticas, 2023
O presente artigo, após uma análise crítica preliminar da presença da África nos estudos em torno... more O presente artigo, após uma análise crítica preliminar da presença da África nos estudos em torno da Literatura-mundo, propõe pensar a inclusão de autores e obras africanos/as no debate sobre a questão a partir do paradigma da mobilidade de Achille Mbembe. Em Sair da grande noite: ensaio sobre África descolonizada (2019), Mbembe pensa a África e as suas produções culturais em perspectiva “afropolitana”, isto é, não apenas por meio da oposição binária centro/periferia, mas a partir das possibilidades abertas pelas múltiplas circulações alternativas que proliferaram nas últimas décadas, colocando o continente no cerne de uma densa rede de trocas globais. Trata-se de um outro “afrotopos”, como diria Felwine Sarr, mudança epistemológica que obrigaria a reconsiderar também a maneira de pensar as literaturas e as culturas no continente africano, destacando justamente as densas relações e circulações de caráter mundial que as moldam.
Possible Spaces/ Spaces of Possibility in Contemporary Brazilian Literature, 2023
Resumo: O presente artigo visa investigar a produção dos espaços atlânticos - os das cidades-port... more Resumo: O presente artigo visa investigar a produção dos espaços atlânticos - os das cidades-portos de Lisboa e Rio de janeiro - nas crônicas de Kalaf Epalanga e Luiz Antonio Simas publicadas nas coletâneas O angolano que comprou Lisboa (por metade do preço) (2014) e O corpo encantado das ruas (2019). Através de uma abordagem metodológica de caráter comparativa, a análise de tais escritas permite nos desenhar tais espaços 'porosos' (assim descritos por Bruno Carvalho, com base num conceito de Walter Benjamin) como o que Mary Louise Pratt designou por 'zonas de contacto', marcados pelas experiências historicamente em trânsitos de corpos e culturas. Paralelamente, tendo em consideração a relevância política da crônica, é possível investigar a sobrevivência e a persistência de dinâmicas caraterísticas da modernidade colonial, dentro do projeto urbano neoliberal contemporâneo.
Revista Crioula - nº 29 - Estudos comparados hoje, 2022
O presente artigo propõe pensar e discutir os desdobramentos contemporâneos da Literatura Compara... more O presente artigo propõe pensar e discutir os desdobramentos contemporâneos da Literatura Comparada e dos Estudos Comparatistas através de uma abordagem diaspórica, ou seja, voltada para as experiências em trânsitos de autores e obras pelo espaço fluido do Atlântico. A partir dessas travessias oceânicas, o ensaio interroga os limites do paradigma nacional no estudo da literatura enquanto, ao mesmo tempo, pretende articular as tensões e propostas teóricas em torno do Atlântico Negro (GILROY, 2012) com as subjacentes à teoria e à práxis comparativa. Tentar-se-á, desta forma, traçar as coordenadas de um comparativismo que questione (e ultrapasse) as persistências coloniais na contemporaneidade.
De acordo com as reflexões de David Harvey (2014) e de Loïc Wacquant (2001), a violência configur... more De acordo com as reflexões de David Harvey (2014) e de Loïc Wacquant (2001), a violência configura-se como elemento fulcral para investigar a organização espacial e geográfica das metrópoles contemporâneas. Tal violência, intrínseca ao desenvolvimento capitalista sobre o qual assenta a expansão urbana, estaria vinculada ao passado de cada contexto específico, evidenciando a persistência dos paradigmas excludentes que marcaram a época colonial e escravista. Nessa perspectiva, a partir de uma leitura analítica do romance Passageiro do fim do dia, de Rubens Figueiredo, e através de uma abordagem crítica pós-colonial (HALL, 2009), o presente artigo propõe uma discussão em torno da natureza endocolonial da violência urbana na contemporaneidade.
Veredas: Revista da Associação Internacional de Lusitanistas, 2020
EmPredadores, romance publicado em 2005, o escritor Pepetela, ao encenar aspráticas cotidianas da... more EmPredadores, romance publicado em 2005, o escritor Pepetela, ao encenar aspráticas cotidianas da elite financeira angolana, propõe uma reflexão sobre o pós-independência do país destacando as continuidades das dinâmicas do poder, ape-sar das mudanças radicais que Angola sofreu nas últimas décadas, tanto no planopolítico como no econômico. Através da leitura crítica do romance mencionadoe de uma mais ampla discussão sobre a construção ocidental do espaço colonialcomo espaço do impolítico, estritamente vinculado às demandas do capital, o pre-sente artigo pretende investigar as continuidades na organização e nas práticasdo poder na cidade de Luanda, destacando a persistência das lógicas coloniais nopós-independência. Tais persistências e continuidades, conjugadas à ação trans-nacional do capital, tornariam adequada a noção deendocolonialismo, para pensara organização do poder na contemporaneidade angolana.
O presente artigo propõe uma reflexão em torno das escritas produzidas na Europa e, em particular... more O presente artigo propõe uma reflexão em torno das escritas produzidas na Europa e, em particular, em Portugal, por sujeitos em trânsito, migrantes contemporâneos, evidenciando as dissonâncias presentes nesses textos em relação ao imaginário coletivo hegemônico, e suas possíveis contribuições. Tendo como objeto de análise as dinâmicas urbanas e a ação do poder público na cidade de Lisboa, assim como a representação do espaço lisboeta por experiências literárias contemporâneas -- dentro das quais destaca-se o romance Luanda, Lisboa, Paraíso (2018), de Djaimilia Pereira de Almeida -- esse artigo evidencia a articulação entre o desenvolvimento do capitalismo na contemporaneidade e as persistências coloniais no cotidiano urbano da cidade de Lisboa.
Publifarum n° 32 - Da dietro le sbarre: arte, letteratura e carcere dall'Ottocento a oggi, 2020
A partire dagli anni Novanta si assiste in Brasile alla pubblicazione di
numerose opere volte a r... more A partire dagli anni Novanta si assiste in Brasile alla pubblicazione di numerose opere volte a rappresentare lo spazio e l’esperienza del carcere. Repressione omicida, violenza, degrado e abbandono motivano l’urgenza di testimoniare, attraverso le forme della letteratura, il dramma della detenzione. È da tale esigenza che sorge Estação Carandiru (1999), opera pubblicata dal medico Drauzio Varella in seguito alla strage avvenuta nel 1992 nel carcere di Carandiru, e anni più tardi Prisioneiras (2017), romanzo di testimonianza in cui l’autore interroga l’universo carcerario femminile. Con la lettura critica di queste due opere, il presente articolo pretende interrogare le dinamiche del potere nel Brasile contemporaneo, evidenziando la persistenza delle logiche coloniali e schiaviste nella contemporaneità urbana brasiliana.
Criando, n. V: Potere e Identità nelle Americhe Romanze, 2020
Indagare la relazione tra potere e identità subalterne in Brasile significa inoltrarsi all’intern... more Indagare la relazione tra potere e identità subalterne in Brasile significa inoltrarsi all’interno di un dibattito pieno di tensioni e conflitti. Da un lato il mito della democrazia razziale, del Brasile come il paese dell’incontro pacifico tra alterità. Dall’altro la dura realtà della segregazione etnico-razziale e del genocidio dei corpi considerati indesiderati. Partendo da una prospettiva letteraria, con la lettura di alcune delle cronache di Lima Barreto riunite nel volume Lima Barreto: cronista do Rio (2017), e di Cidinha da Silva in #Parem de nos matar! (2019), il presente articolo discute due tra le tante dinamiche attraverso le quali il razzismo si impone come strutturante all’interno della società brasiliana: la costituzione di una realtà urbana divisa e segregata, e l’uso della morte come strumento di controllo. Analizzando tali dinamiche sarebbe dunque possibile tracciare una linea continua che, senza significative rotture, parta dall’esperienza traumatica della schiavitù ed arrivi all’oggi della marginalizzazione sociale.
This article analysis the film Praça Paris (2017), directed by Lúcia Murat, showing how this work... more This article analysis the film Praça Paris (2017), directed by Lúcia Murat, showing how this work points to the residues of colonialism and slavery in the urban contemporary city of Rio de Janeiro. By establishing links between characters and symbolic spaces in the city of Rio, the Murat's film proposes a reading of contemporary racisms. From a diachronic reading of the interventions performed by the public power in the carioca metropolis, the article highlights the relevance of political affects both in the construction of urban space and in the relations between alterities, shaped at the structural level by the practices of racism.
Resumo: Levando em consideração as reflexões sobre " biopolítica " , de Michel Foucault, e " pode... more Resumo: Levando em consideração as reflexões sobre " biopolítica " , de Michel Foucault, e " poder soberano " , de Giorgio Agamben, assim como as análises das dinâmicas coloniais na contemporaneidade, desenvolvidas por Achille Mbembe, o presente ensaio investiga os múltiplos mecanismos violentos do poder nas periferias urbanas brasileiras. Através da análise do romance Cidade de Deus, de Paulo Lins, o objetivo do artigo é questionar o papel da escrita como instrumento de sobrevivência e resistência perante a condição de " vida nua " , desprovida dos direitos de cidadania, à qual o corpo negro e periférico encontra-se submisso.
A época contemporânea manifesta uma contínua banalização da violência. No entanto, para Jacques R... more A época contemporânea manifesta uma contínua banalização da violência. No entanto, para Jacques Rancière, tal banalização não se deve à quantidade de imagens propostas, mas principalmente ao status de objeto atribuído às próprias vítimas da violência, corpos sem nome e sem voz. Tendo em consideração as representações da violência urbana em literatura, através de uma leitura comparada dos romances Cidade de Deus, de Paulo Lins, e Marginais, de Evel Rocha, com o presente artigo pretendo discutir este status de objeto como continuidade com as lógicas que caraterizaram a modernidade colonial
De acordo com quanto analisado por Jacinto do Prado Coelho em Originalidade da literatura portugu... more De acordo com quanto analisado por Jacinto do Prado Coelho em Originalidade da literatura portuguesa, o imaginário coletivo lusitano apoiou-se, ao longo dos séculos, numa série de referências provenientes da literatura. A própria historiografia portuguesa, durante muito tempo, constituiu-se tendo como fonte primária a literatura: mitos, memórias, crónicas e relatos de viagem participaram tanto da construção da história oficial pelo poder, quanto daquela que pode ser definida a poética da Nação portuguesa – durante década ao serviço da ideologia imperial propagandeada pelo Estado Novo. No entanto, a partir do ano de 1974, com o fim da ditadura salazarista e da chamada Guerra Colonial, a literatura passou a encenar o momento da perda, o epílogo da longa tradição ultramarina. Passou a interrogar os fantasmas e as fantasias imperiais ̶ retomando a expressão de A. P. Ferreira e M. C. Ribeiro. Tendo, portanto, como ponto de partida a estrita ligação, em Portugal entre literatura, historiografia e imaginário coletivo, com o presente artigo pretendo oferecer uma análise crítica do romance O retorno (2011), de Dulce Maria Cardoso, que vise indagar, questionar os restos do império.
Considerando algumas das reflexões acerca do pós-moderno e do pós-colonial, expressas em particul... more Considerando algumas das reflexões acerca do pós-moderno e do pós-colonial, expressas em particular por Boaventura de Sousa Santos, Fredric Jameson e Remo Ceserani, com o artigo “Entre pós-moderno e pós-colonial: memória e perda no romance português da Guerra Colonial” proponho uma leitura comparada dos romances portugueses Os cus de Judas (1979), de António Lobo Antunes, e Jornada de África (1989), de Manuel Alegre. Ambos os romances, solicitando uma ampla reflexão acerca da experiência traumática da Guerra Colonial e da repressão fascista, manifestam o enfraquecimento dos sujeitos fortes da modernidade ocidental ̶ como a Nação e o Estado – e a necessidade pós-colonial de repensar a identidade portuguesa e a memória coletiva, numa perspetiva pós-colonial, perante o desmorono do império ultramarino.
A segunda grande guerra e os conflitos devidos à descolonização podem ser considerados como os úl... more A segunda grande guerra e os conflitos devidos à descolonização podem ser considerados como os últimos confrontos militares cuja lógica subjacente seja de natureza ideológica. De facto, o que Mary Kaldor chama de new war são conflitos que se baseiam sobre razões identitárias. Na mesma maneira, como refere Susan Sontag, também a recepção da violência naquela que Marc Augè define de “sociedade espetacular”, foi mudando para uma contínua banalização. Todavia, não obstante as transformações nas práticas bélicas e na percepção da dor, a literatura manteve algumas estratégias narrativa constantes. Em War and representation, Fredric James sublinha como um elemento típico de tais representações seja a oestranenie (estranhamento), elemento que se encontra nas obras de Pepetela relacionadas com a guerra. No texto seguinte pretende-se observar como as formas do estranhamento estão presentes e servem para delinear as personagens em Mayombe e em Parábola do c ágado velho de Pepetela.
Com o presente artigo pretende-se investigar as formas de encenar, na literatura brasileira conte... more Com o presente artigo pretende-se investigar as formas de encenar, na literatura brasileira contemporânea em prosa, a cidade do Rio de Janeiro enquanto uma cidade Afro-atlântica, ou seja, uma cidade moldada pelos trânsitos oceânicos caraterísticos da colonização e da escravidão, assim como teatro de conflitos entre alteridades que manifestam a colonialidade do poder no contemporâneo urbano. Na primeira parte, através das reflexões de Beatriz Sarlo (2014), Malcolm Miles (2019) e Renato Cordeiro Gomes (1999), propõe-se uma análise panorâmica da densa relação entre cidade e literatura. Em seguida, tentar-se-á pensar, com Walter Benjamin (1987), a porosidade caraterística da cidade do Rio de Janeiro – como proposto por Bruno de Carvalho (2019) – enquanto típica dos espaços Afro-atlânticos. Por último, a partir das tensões urbanas levantadas, entre outros autores, por Geovani Martins em O sol na cabeça (2018) e por Luiz Antonio Simas em O corpo encantado das ruas (2019), procurar-se-á debater algumas das dinâmicas culturais e das estratégias do poder na contemporaneidade urbana do Rio de Janeiro.
The collection of essays presented in this volume, the fifth issue of Compendium, provides a lite... more The collection of essays presented in this volume, the fifth issue of Compendium, provides a literary and cultural mapping of the Atlantic that, through a critical-theoretical post-colonial perspective and a comparative approach, enables us to (re)assess the circulation of texts and cultures within the Atlantic space in the light of unequal power relations that are intrinsic to colonial modernity. Furthermore, the collection highlights the multiple forms of micro- and macro-physical violence underlying contemporary migrations which have always borne the scars of the colonial nature of knowledge and power. This dossier comprises a series of essays that engage in dialogue with the social sciences, pedagogy, and literary studies, alongside two critical reviews.
Crítica Anticolonial no Império Português: perspectivas culturais e políticas, 2023
O presente artigo, após uma análise crítica preliminar da presença da África nos estudos em torno... more O presente artigo, após uma análise crítica preliminar da presença da África nos estudos em torno da Literatura-mundo, propõe pensar a inclusão de autores e obras africanos/as no debate sobre a questão a partir do paradigma da mobilidade de Achille Mbembe. Em Sair da grande noite: ensaio sobre África descolonizada (2019), Mbembe pensa a África e as suas produções culturais em perspectiva “afropolitana”, isto é, não apenas por meio da oposição binária centro/periferia, mas a partir das possibilidades abertas pelas múltiplas circulações alternativas que proliferaram nas últimas décadas, colocando o continente no cerne de uma densa rede de trocas globais. Trata-se de um outro “afrotopos”, como diria Felwine Sarr, mudança epistemológica que obrigaria a reconsiderar também a maneira de pensar as literaturas e as culturas no continente africano, destacando justamente as densas relações e circulações de caráter mundial que as moldam.
Possible Spaces/ Spaces of Possibility in Contemporary Brazilian Literature, 2023
Resumo: O presente artigo visa investigar a produção dos espaços atlânticos - os das cidades-port... more Resumo: O presente artigo visa investigar a produção dos espaços atlânticos - os das cidades-portos de Lisboa e Rio de janeiro - nas crônicas de Kalaf Epalanga e Luiz Antonio Simas publicadas nas coletâneas O angolano que comprou Lisboa (por metade do preço) (2014) e O corpo encantado das ruas (2019). Através de uma abordagem metodológica de caráter comparativa, a análise de tais escritas permite nos desenhar tais espaços 'porosos' (assim descritos por Bruno Carvalho, com base num conceito de Walter Benjamin) como o que Mary Louise Pratt designou por 'zonas de contacto', marcados pelas experiências historicamente em trânsitos de corpos e culturas. Paralelamente, tendo em consideração a relevância política da crônica, é possível investigar a sobrevivência e a persistência de dinâmicas caraterísticas da modernidade colonial, dentro do projeto urbano neoliberal contemporâneo.
Revista Crioula - nº 29 - Estudos comparados hoje, 2022
O presente artigo propõe pensar e discutir os desdobramentos contemporâneos da Literatura Compara... more O presente artigo propõe pensar e discutir os desdobramentos contemporâneos da Literatura Comparada e dos Estudos Comparatistas através de uma abordagem diaspórica, ou seja, voltada para as experiências em trânsitos de autores e obras pelo espaço fluido do Atlântico. A partir dessas travessias oceânicas, o ensaio interroga os limites do paradigma nacional no estudo da literatura enquanto, ao mesmo tempo, pretende articular as tensões e propostas teóricas em torno do Atlântico Negro (GILROY, 2012) com as subjacentes à teoria e à práxis comparativa. Tentar-se-á, desta forma, traçar as coordenadas de um comparativismo que questione (e ultrapasse) as persistências coloniais na contemporaneidade.
De acordo com as reflexões de David Harvey (2014) e de Loïc Wacquant (2001), a violência configur... more De acordo com as reflexões de David Harvey (2014) e de Loïc Wacquant (2001), a violência configura-se como elemento fulcral para investigar a organização espacial e geográfica das metrópoles contemporâneas. Tal violência, intrínseca ao desenvolvimento capitalista sobre o qual assenta a expansão urbana, estaria vinculada ao passado de cada contexto específico, evidenciando a persistência dos paradigmas excludentes que marcaram a época colonial e escravista. Nessa perspectiva, a partir de uma leitura analítica do romance Passageiro do fim do dia, de Rubens Figueiredo, e através de uma abordagem crítica pós-colonial (HALL, 2009), o presente artigo propõe uma discussão em torno da natureza endocolonial da violência urbana na contemporaneidade.
Veredas: Revista da Associação Internacional de Lusitanistas, 2020
EmPredadores, romance publicado em 2005, o escritor Pepetela, ao encenar aspráticas cotidianas da... more EmPredadores, romance publicado em 2005, o escritor Pepetela, ao encenar aspráticas cotidianas da elite financeira angolana, propõe uma reflexão sobre o pós-independência do país destacando as continuidades das dinâmicas do poder, ape-sar das mudanças radicais que Angola sofreu nas últimas décadas, tanto no planopolítico como no econômico. Através da leitura crítica do romance mencionadoe de uma mais ampla discussão sobre a construção ocidental do espaço colonialcomo espaço do impolítico, estritamente vinculado às demandas do capital, o pre-sente artigo pretende investigar as continuidades na organização e nas práticasdo poder na cidade de Luanda, destacando a persistência das lógicas coloniais nopós-independência. Tais persistências e continuidades, conjugadas à ação trans-nacional do capital, tornariam adequada a noção deendocolonialismo, para pensara organização do poder na contemporaneidade angolana.
O presente artigo propõe uma reflexão em torno das escritas produzidas na Europa e, em particular... more O presente artigo propõe uma reflexão em torno das escritas produzidas na Europa e, em particular, em Portugal, por sujeitos em trânsito, migrantes contemporâneos, evidenciando as dissonâncias presentes nesses textos em relação ao imaginário coletivo hegemônico, e suas possíveis contribuições. Tendo como objeto de análise as dinâmicas urbanas e a ação do poder público na cidade de Lisboa, assim como a representação do espaço lisboeta por experiências literárias contemporâneas -- dentro das quais destaca-se o romance Luanda, Lisboa, Paraíso (2018), de Djaimilia Pereira de Almeida -- esse artigo evidencia a articulação entre o desenvolvimento do capitalismo na contemporaneidade e as persistências coloniais no cotidiano urbano da cidade de Lisboa.
Publifarum n° 32 - Da dietro le sbarre: arte, letteratura e carcere dall'Ottocento a oggi, 2020
A partire dagli anni Novanta si assiste in Brasile alla pubblicazione di
numerose opere volte a r... more A partire dagli anni Novanta si assiste in Brasile alla pubblicazione di numerose opere volte a rappresentare lo spazio e l’esperienza del carcere. Repressione omicida, violenza, degrado e abbandono motivano l’urgenza di testimoniare, attraverso le forme della letteratura, il dramma della detenzione. È da tale esigenza che sorge Estação Carandiru (1999), opera pubblicata dal medico Drauzio Varella in seguito alla strage avvenuta nel 1992 nel carcere di Carandiru, e anni più tardi Prisioneiras (2017), romanzo di testimonianza in cui l’autore interroga l’universo carcerario femminile. Con la lettura critica di queste due opere, il presente articolo pretende interrogare le dinamiche del potere nel Brasile contemporaneo, evidenziando la persistenza delle logiche coloniali e schiaviste nella contemporaneità urbana brasiliana.
Criando, n. V: Potere e Identità nelle Americhe Romanze, 2020
Indagare la relazione tra potere e identità subalterne in Brasile significa inoltrarsi all’intern... more Indagare la relazione tra potere e identità subalterne in Brasile significa inoltrarsi all’interno di un dibattito pieno di tensioni e conflitti. Da un lato il mito della democrazia razziale, del Brasile come il paese dell’incontro pacifico tra alterità. Dall’altro la dura realtà della segregazione etnico-razziale e del genocidio dei corpi considerati indesiderati. Partendo da una prospettiva letteraria, con la lettura di alcune delle cronache di Lima Barreto riunite nel volume Lima Barreto: cronista do Rio (2017), e di Cidinha da Silva in #Parem de nos matar! (2019), il presente articolo discute due tra le tante dinamiche attraverso le quali il razzismo si impone come strutturante all’interno della società brasiliana: la costituzione di una realtà urbana divisa e segregata, e l’uso della morte come strumento di controllo. Analizzando tali dinamiche sarebbe dunque possibile tracciare una linea continua che, senza significative rotture, parta dall’esperienza traumatica della schiavitù ed arrivi all’oggi della marginalizzazione sociale.
This article analysis the film Praça Paris (2017), directed by Lúcia Murat, showing how this work... more This article analysis the film Praça Paris (2017), directed by Lúcia Murat, showing how this work points to the residues of colonialism and slavery in the urban contemporary city of Rio de Janeiro. By establishing links between characters and symbolic spaces in the city of Rio, the Murat's film proposes a reading of contemporary racisms. From a diachronic reading of the interventions performed by the public power in the carioca metropolis, the article highlights the relevance of political affects both in the construction of urban space and in the relations between alterities, shaped at the structural level by the practices of racism.
Resumo: Levando em consideração as reflexões sobre " biopolítica " , de Michel Foucault, e " pode... more Resumo: Levando em consideração as reflexões sobre " biopolítica " , de Michel Foucault, e " poder soberano " , de Giorgio Agamben, assim como as análises das dinâmicas coloniais na contemporaneidade, desenvolvidas por Achille Mbembe, o presente ensaio investiga os múltiplos mecanismos violentos do poder nas periferias urbanas brasileiras. Através da análise do romance Cidade de Deus, de Paulo Lins, o objetivo do artigo é questionar o papel da escrita como instrumento de sobrevivência e resistência perante a condição de " vida nua " , desprovida dos direitos de cidadania, à qual o corpo negro e periférico encontra-se submisso.
A época contemporânea manifesta uma contínua banalização da violência. No entanto, para Jacques R... more A época contemporânea manifesta uma contínua banalização da violência. No entanto, para Jacques Rancière, tal banalização não se deve à quantidade de imagens propostas, mas principalmente ao status de objeto atribuído às próprias vítimas da violência, corpos sem nome e sem voz. Tendo em consideração as representações da violência urbana em literatura, através de uma leitura comparada dos romances Cidade de Deus, de Paulo Lins, e Marginais, de Evel Rocha, com o presente artigo pretendo discutir este status de objeto como continuidade com as lógicas que caraterizaram a modernidade colonial
De acordo com quanto analisado por Jacinto do Prado Coelho em Originalidade da literatura portugu... more De acordo com quanto analisado por Jacinto do Prado Coelho em Originalidade da literatura portuguesa, o imaginário coletivo lusitano apoiou-se, ao longo dos séculos, numa série de referências provenientes da literatura. A própria historiografia portuguesa, durante muito tempo, constituiu-se tendo como fonte primária a literatura: mitos, memórias, crónicas e relatos de viagem participaram tanto da construção da história oficial pelo poder, quanto daquela que pode ser definida a poética da Nação portuguesa – durante década ao serviço da ideologia imperial propagandeada pelo Estado Novo. No entanto, a partir do ano de 1974, com o fim da ditadura salazarista e da chamada Guerra Colonial, a literatura passou a encenar o momento da perda, o epílogo da longa tradição ultramarina. Passou a interrogar os fantasmas e as fantasias imperiais ̶ retomando a expressão de A. P. Ferreira e M. C. Ribeiro. Tendo, portanto, como ponto de partida a estrita ligação, em Portugal entre literatura, historiografia e imaginário coletivo, com o presente artigo pretendo oferecer uma análise crítica do romance O retorno (2011), de Dulce Maria Cardoso, que vise indagar, questionar os restos do império.
Considerando algumas das reflexões acerca do pós-moderno e do pós-colonial, expressas em particul... more Considerando algumas das reflexões acerca do pós-moderno e do pós-colonial, expressas em particular por Boaventura de Sousa Santos, Fredric Jameson e Remo Ceserani, com o artigo “Entre pós-moderno e pós-colonial: memória e perda no romance português da Guerra Colonial” proponho uma leitura comparada dos romances portugueses Os cus de Judas (1979), de António Lobo Antunes, e Jornada de África (1989), de Manuel Alegre. Ambos os romances, solicitando uma ampla reflexão acerca da experiência traumática da Guerra Colonial e da repressão fascista, manifestam o enfraquecimento dos sujeitos fortes da modernidade ocidental ̶ como a Nação e o Estado – e a necessidade pós-colonial de repensar a identidade portuguesa e a memória coletiva, numa perspetiva pós-colonial, perante o desmorono do império ultramarino.
A segunda grande guerra e os conflitos devidos à descolonização podem ser considerados como os úl... more A segunda grande guerra e os conflitos devidos à descolonização podem ser considerados como os últimos confrontos militares cuja lógica subjacente seja de natureza ideológica. De facto, o que Mary Kaldor chama de new war são conflitos que se baseiam sobre razões identitárias. Na mesma maneira, como refere Susan Sontag, também a recepção da violência naquela que Marc Augè define de “sociedade espetacular”, foi mudando para uma contínua banalização. Todavia, não obstante as transformações nas práticas bélicas e na percepção da dor, a literatura manteve algumas estratégias narrativa constantes. Em War and representation, Fredric James sublinha como um elemento típico de tais representações seja a oestranenie (estranhamento), elemento que se encontra nas obras de Pepetela relacionadas com a guerra. No texto seguinte pretende-se observar como as formas do estranhamento estão presentes e servem para delinear as personagens em Mayombe e em Parábola do c ágado velho de Pepetela.
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grande noite: ensaio sobre África descolonizada (2019), Mbembe pensa a África e as suas produções culturais em perspectiva “afropolitana”, isto é, não apenas por meio da oposição binária centro/periferia, mas a partir das possibilidades abertas pelas múltiplas circulações alternativas que proliferaram nas últimas décadas, colocando o continente no cerne de uma densa rede de trocas globais. Trata-se de um outro “afrotopos”, como diria Felwine Sarr, mudança epistemológica que obrigaria a reconsiderar também a maneira de pensar as literaturas e as culturas no
continente africano, destacando justamente as densas relações e circulações de caráter mundial que as moldam.
numerose opere volte a rappresentare lo spazio e l’esperienza del
carcere. Repressione omicida, violenza, degrado e abbandono motivano
l’urgenza di testimoniare, attraverso le forme della letteratura, il dramma
della detenzione. È da tale esigenza che sorge Estação Carandiru
(1999), opera pubblicata dal medico Drauzio Varella in seguito alla strage avvenuta nel 1992 nel carcere di Carandiru, e anni più tardi Prisioneiras (2017), romanzo di testimonianza in cui l’autore interroga l’universo carcerario femminile. Con la lettura critica di queste due opere, il presente articolo pretende interrogare le dinamiche del potere nel Brasile contemporaneo, evidenziando la persistenza delle logiche coloniali e schiaviste nella contemporaneità urbana brasiliana.
A própria historiografia portuguesa, durante muito tempo, constituiu-se
tendo como fonte primária a literatura: mitos, memórias, crónicas e relatos de viagem participaram tanto da construção da história oficial pelo poder, quanto daquela que pode ser definida a poética da Nação portuguesa – durante década ao serviço da ideologia imperial propagandeada pelo Estado Novo. No entanto, a partir do ano de 1974, com o fim da ditadura salazarista e da chamada Guerra Colonial, a literatura passou a encenar o momento da perda, o epílogo da longa tradição ultramarina. Passou a interrogar os fantasmas e as fantasias imperiais ̶ retomando a expressão de A. P. Ferreira e M. C. Ribeiro. Tendo, portanto, como ponto de partida a estrita ligação, em Portugal entre literatura, historiografia e imaginário coletivo, com o presente artigo pretendo oferecer uma análise crítica do romance O retorno (2011), de Dulce Maria Cardoso, que vise indagar, questionar os restos do império.
numa perspetiva pós-colonial, perante o desmorono do império ultramarino.
grande noite: ensaio sobre África descolonizada (2019), Mbembe pensa a África e as suas produções culturais em perspectiva “afropolitana”, isto é, não apenas por meio da oposição binária centro/periferia, mas a partir das possibilidades abertas pelas múltiplas circulações alternativas que proliferaram nas últimas décadas, colocando o continente no cerne de uma densa rede de trocas globais. Trata-se de um outro “afrotopos”, como diria Felwine Sarr, mudança epistemológica que obrigaria a reconsiderar também a maneira de pensar as literaturas e as culturas no
continente africano, destacando justamente as densas relações e circulações de caráter mundial que as moldam.
numerose opere volte a rappresentare lo spazio e l’esperienza del
carcere. Repressione omicida, violenza, degrado e abbandono motivano
l’urgenza di testimoniare, attraverso le forme della letteratura, il dramma
della detenzione. È da tale esigenza che sorge Estação Carandiru
(1999), opera pubblicata dal medico Drauzio Varella in seguito alla strage avvenuta nel 1992 nel carcere di Carandiru, e anni più tardi Prisioneiras (2017), romanzo di testimonianza in cui l’autore interroga l’universo carcerario femminile. Con la lettura critica di queste due opere, il presente articolo pretende interrogare le dinamiche del potere nel Brasile contemporaneo, evidenziando la persistenza delle logiche coloniali e schiaviste nella contemporaneità urbana brasiliana.
A própria historiografia portuguesa, durante muito tempo, constituiu-se
tendo como fonte primária a literatura: mitos, memórias, crónicas e relatos de viagem participaram tanto da construção da história oficial pelo poder, quanto daquela que pode ser definida a poética da Nação portuguesa – durante década ao serviço da ideologia imperial propagandeada pelo Estado Novo. No entanto, a partir do ano de 1974, com o fim da ditadura salazarista e da chamada Guerra Colonial, a literatura passou a encenar o momento da perda, o epílogo da longa tradição ultramarina. Passou a interrogar os fantasmas e as fantasias imperiais ̶ retomando a expressão de A. P. Ferreira e M. C. Ribeiro. Tendo, portanto, como ponto de partida a estrita ligação, em Portugal entre literatura, historiografia e imaginário coletivo, com o presente artigo pretendo oferecer uma análise crítica do romance O retorno (2011), de Dulce Maria Cardoso, que vise indagar, questionar os restos do império.
numa perspetiva pós-colonial, perante o desmorono do império ultramarino.