Papers by Alfons C Salellas Bosch
Cadernos Arendt, 2022
RESUMO A biografia intelectual e pessoal de Hannah Arendt-indissociável a uma da outra-está marca... more RESUMO A biografia intelectual e pessoal de Hannah Arendt-indissociável a uma da outra-está marcada por duas datas. A primeira é 1924, quando entrou na Universidade de Marburg para estudar filosofia com Martin Heidegger. A segunda é exata, 27 de fevereiro de 1933, quando ao incêndio do Reichstag em Berlim se seguiram as prisões preventivas e ilegais nessa mesma noite. A própria Arendt foi arrestada e privada de sua liberdade durante um curto período de tempo. Convencida de que a partir desse momento não se podia olhar para outro lado, focou seus esforços na política e tornou-se uma de suas maiores teóricas. Tentamos realizar uma exposição sumária dos fundamentos filosóficos que informam o percurso da obra arendtiana, e dos quais em parte se separa, confluindo com a crítica da filosofia como tutora da política a partir dos diálogos de Platão. Mesmo recusando o nome de filósofa, Arendt nunca abandonou a filosofia como referencial teórico e é evidente que seu livro póstumo, A vida do espírito, não pode ser chamado de outra forma que de obra filosófica. Palavras-chave: filosofia, verdade, política, opinião.
A grave crise economica e politica que comecou nos Estados Unidos em 2007, e que prontamente espa... more A grave crise economica e politica que comecou nos Estados Unidos em 2007, e que prontamente espalhou-se pelo mundo, e resultado do “pensamento unico” neoliberal, o qual coloca um ente abstrato - o livre mercado – como intocavel, por cima de individuos e paises inteiros. Enquanto O caminho da servidao de Friedrich A. Hayek, ergue-se como faro do neoliberalismo, a obra de Hannah Arendt, notadamente Origens do totalitarismo, permite estabelecer paralelismos entre a crise presente e aquela que propiciou o aparecimento e a ascensao ao poder do nazismo, na Alemanha de meados do seculo XX, com suas semelhancas e suas diferencas e, deste modo, acede a identificar caracteristicas totalitarias nas atuais democracias neoliberais.Palavras-chave: Neoliberalismo; pensamento unico; totalitarismo.
"Quem sou eu para jultar": Diálogos com Hannah Arendt, 2020
Introdução a duas vozes O desmatamento da floresta amazônica 2 , que nos últimos anos padeceu um ... more Introdução a duas vozes O desmatamento da floresta amazônica 2 , que nos últimos anos padeceu um incremento exponencial devido aos incêndios provocados em boa medida pela mão do homem, e a pandemia do novo coronavirus (Covid-19), para a qual, enquanto estou escrevendo, a ciência ainda não encontrou uma vacina, são os últimos exemplos que evidenciam a fragilidade sobre a qual o nosso mundo está sentado. A estes, juntam-se a degradação do solo, a poluição do ar, a extinção de espécies animais, a superpopulação e a possibilidade tecnológica de explodir várias vezes o planeta. A humanidade deixou progressivamente de se ver a si mesma como outro ser vivo dentro de um organismo maior e se autoproclamou dono e senhor da Terra e de todas as outras espécies com as quais compartilha o seu lugar no cosmos. O período no qual este processo foi se consolidando recebeu o nome de modernidade e parece que está dando sintomas de esgotamento. Aquele que é considerado o livro mais importante na teoria política de Hannah Arendt, A condição humana (1958) está emoldurado pela preocupação primordial da autora sobre a alienação humana cifrada na indiferença e no desprezo em relação ao mundo e à Terra e a um recolhimento sobre si, que afastam perigosamente a deliberação pública ao redor daquilo que, na diversidade, todos compartilhamos. Por isso, no prólogo, ela já anunciou que o propósito final da sua análise histórica era o de rastrear até sua origem a moderna alienação do mundo, em sua dupla fuga da Terra para o universo e do mundo para o si-mesmo [self], a fim de chegar a uma compreensão da natureza da sociedade, como esta se desenvolvera e se apresentava no instante em que foi suplantada pelo advento de uma era nova e ainda desconhecida (ARENDT, 2014, p. 7).
Cadernos Arendt, 2020
Este artigo procura oferecer uma forma de introdução distinta à teoria política de Hannah Arendt.... more Este artigo procura oferecer uma forma de introdução distinta à teoria política de Hannah Arendt. Em primeiro lugar, mostramos como a reflexão arendtiana pode ser remitida a uma ideia ou a uma experiência – totalitarismo, política, natalidade, mundo, pluralidade – sem pretender estabelecer qualquer redução monística de sua obra. A continuação, desenvolvemos o conceito romano de humanitas, a partir do texto de Arendt sobre Lessing, e a noção grega de amizade política como porta de entrada ao pensamento arendtiano. Finalmente, ressaltamos a influência decisiva de Karl Jaspers e sugerimos que Hannah Arendt aponta para a possibilidade de outra filosofia fora dos parâmetros metafísicos e ontológicos da tradição, um filosofar distinto que leva inscrito o selo da contingência e a marca da humanitas.
Argumentos - Revista de Filosofia, 2019
Existe um realismo trágico no plano de fundo de todo o pensamento arendtiano, que corresponde à s... more Existe um realismo trágico no plano de fundo de todo o pensamento arendtiano, que corresponde à sua forma de lidar com a fragilidade das questões práticas que se colocam entre os homens, sem renunciar – muito pelo contrário – à ação. Através da sua afinidade nietzschiana, busco evidenciar aquela que acredito ser a postura intelectual base de toda a reflexão político-filosófica de Hannah Arendt, que não é unicamente um subentendido, mas que aparece explícita em muitos momentos da sua produção.
Quem sou eu para julgar? Diálogos com Hannah Arendt, 2020
Introdução a duas vozes O desmatamento da floresta amazônica 2 , que nos últimos anos padeceu um ... more Introdução a duas vozes O desmatamento da floresta amazônica 2 , que nos últimos anos padeceu um incremento exponencial devido aos incêndios provocados em boa medida pela mão do homem, e a pandemia do novo coronavirus (Covid-19), para a qual, enquanto estou escrevendo, a ciência ainda não encontrou uma vacina, são os últimos exemplos que evidenciam a fragilidade sobre a qual o nosso mundo está sentado. A estes, juntam-se a degradação do solo, a poluição do ar, a extinção de espécies animais, a superpopulação e a possibilidade tecnológica de explodir várias vezes o planeta. A humanidade deixou progressivamente de se ver a si mesma como outro ser vivo dentro de um organismo maior e se autoproclamou dono e senhor da Terra e de todas as outras espécies com as quais compartilha o seu lugar no cosmos. O período no qual este processo foi se consolidando recebeu o nome de modernidade e parece que está dando sintomas de esgotamento. Aquele que é considerado o livro mais importante na teoria política de Hannah Arendt, A condição humana (1958) está emoldurado pela preocupação primordial da autora sobre a alienação humana cifrada na indiferença e no desprezo em relação ao mundo e à Terra e a um recolhimento sobre si, que afastam perigosamente a deliberação pública ao redor daquilo que, na diversidade, todos compartilhamos. Por isso, no prólogo, ela já anunciou que o propósito final da sua análise histórica era o de rastrear até sua origem a moderna alienação do mundo, em sua dupla fuga da Terra para o universo e do mundo para o si-mesmo [self], a fim de chegar a uma compreensão da natureza da sociedade, como esta se desenvolvera e se apresentava no instante em que foi suplantada pelo advento de uma era nova e ainda desconhecida (ARENDT, 2014, p. 7).
Cadernos Arendt, 2020
The roman humanitas as the key to reading Hannah Arendt's political thought Alfons Carles Salella... more The roman humanitas as the key to reading Hannah Arendt's political thought Alfons Carles Salellas Bosch 1 RESUMO Este artigo procura oferecer uma forma de introdução distinta à teoria política de Hannah Arendt. Em primeiro lugar, mostramos como a reflexão arendtiana pode ser remitida a uma ideia ou a uma experiência-totalitarismo, política, natalidade, mundo, pluralidade-sem pretender estabelecer qualquer redução monística de sua obra. A continuação, desenvolvemos o conceito romano de humanitas, a partir do texto de Arendt sobre Lessing, e a noção grega de amizade política como porta de entrada ao pensamento arendtiano. Finalmente, ressaltamos a influência decisiva de Karl Jaspers e sugerimos que Hannah Arendt aponta para a possibilidade de outra filosofia fora dos parâmetros metafísicos e ontológicos da tradição, um filosofar distinto que leva inscrito o selo da contingência e a marca da humanitas. ABSTRACT This article seeks to offer a different introduction to Hannah Arendt's political theory. First, we show how Arendtian reflection can be referred to an idea or an experience-totalitarianism, politics, birth, world, plurality-without intending to establish any monistic reduction in his work. Next, we develop the Roman concept of humanitas, based on Arendt's text on Lessing, and the Greek notion of political friendship as a gateway to Arendtian thought. Finally, we highlight the decisive influence of Karl Jaspers and suggest that Hannah Arendt points to the possibility of another philosophy outside the metaphysical and ontological parameters of tradition, a distinct philosophizing that bears the seal of contingency and the mark of humanitas.
Argumentos - Revista de Filosofia, 2019
Resumo: Existe um realismo trágico no plano de fundo de todo o pensamento arendtiano,
que corresp... more Resumo: Existe um realismo trágico no plano de fundo de todo o pensamento arendtiano,
que corresponde à sua forma de lidar com a fragilidade das questões práticas que
se colocam entre os homens, sem renunciar – muito pelo contrário – à ação. Através
da sua afinidade nietzschiana, busco evidenciar aquela que acredito ser a postura
intelectual base de toda a reflexão político-filosófica de Hannah Arendt, que não é
unicamente um subentendido, mas que aparece explícita em muitos momentos
da sua produção.
Abstract: There is a tragic realism in the background of all Arendtian thinking, which
corresponds to her way of dealing with the fragility of the practical issues that lie
between men, without renouncing – quite the contrary - to action. Through her
Nietzschean affinity, I seek to evidence what I believe to be the intellectual posture
that is the basis of all the political-philosophical reflection of Hannah Arendt,
which is not only an understatement but appears explicit in many moments of
her work.
Argumentos - Revista de Filosofia
A grave crise econômica e política que começou nos Estados Unidos em 2007, e que prontamente espa... more A grave crise econômica e política que começou nos Estados Unidos em 2007, e que prontamente espalhou-se pelo mundo, é resultado do “pensamento único” neoliberal, o qual coloca um ente abstrato - o livre mercado – como intocável, por cima de indivíduos e países inteiros. Enquanto O caminho da servidão de Friedrich A. Hayek, ergue-se como faro do neoliberalismo, a obra de Hannah Arendt, notadamente
Origens do totalitarismo, permite estabelecer paralelismos entre a crise
presente e aquela que propiciou o aparecimento e a ascensão ao poder do nazismo, na Alemanha de meados do século XX, com suas semelhanças e suas diferenças e, deste modo, acede a identificar características totalitárias nas atuais democracias neoliberais.
Resumo: Se o herói da literatura do século XIX foi o "rebelde", esse homem com ânsias de destaque... more Resumo: Se o herói da literatura do século XIX foi o "rebelde", esse homem com ânsias de destaque por oposição ao vulgo, o do século XX é o "conformista", ou seja, aquele que quer se integrar e ser confundido com a massa. Em O Conformista, o escritor italiano Alberto Moravia realiza uma análise do tipo humano caraterístico de uma sociedade moderna sob o fascismo, obcecado por aquilo que ele entende por "normalidade". Neste breve ensaio pretende-se mostrar que o romance do grande escritor italiano, publicado em 1951, entra em harmonia com a definição de "burguês" e do pai de família dada por Hannah Arendt, esse sujeito ofuscado por segurança, responsável último pelos crimes de seu tempo.
Abstract: If the hero of nineteenth-century literature was " the rebel " , a man with a desperate craving to stand out from common people, the twentieth century is " the conformist " , the one who wants to fit in and be confused with the mass. In The Conformist, Alberto Moravia analyzes this human type characteristic of a modern society under fascism, obsessed by what he thought it was "normality". This short essay aims to show how this novel by the great Italian writer, published in 1951, comes into line with the definition of the "bourgeois" and the householder given by Hannah Arendt, this man overshadowed by security, who is the ultimate responsible for the crimes of his time.
Pretende-se aqui estabelecer uma comparação entre os conceitos de liberdade de Hannah Arendt e de... more Pretende-se aqui estabelecer uma comparação entre os conceitos de liberdade de Hannah Arendt e de Isaiah Berlin, respectivamente. Arendt oferece uma defesa da liberdade política, oposta às teorias liberais, clássicas ou modernas. Para a autora, a liberdade consiste na capacidade humana de iniciar processos e de agir na esfera pública junto a outros indivíduos. Por seu turno, Isaiah Berlin considera que a liberdade essencial para a política é a liberdade negativa, a não interferência de terceiros na vida dos indivíduos, a fim de que estes possam escolher entre alternativas. Berlin apresenta o problema mediante uma dicotomia – liberdade positiva ou liberdade negativa –, enquanto a posição arendtiana pode ser interpretada como uma alternativa ao planejamento berliniano.
Conference Presentations by Alfons C Salellas Bosch
Resumo: Quando observamos de certa distância para a obra de Hannah Arendt, temos a estranha sensa... more Resumo: Quando observamos de certa distância para a obra de Hannah Arendt, temos a estranha sensação dela ter previsto o seu percurso desde o princípio. Temas que são apontados nos primeiros livros são desenvolvidos nos seguintes, e chegando até o último dos seus títulos. Isto se evidencia de forma especial no que diz respeito à relação entre o pensar e o agir ou, se preferir, entre o pensamento e a ação. O mesmo pensamento, que é um regulador ético da conduta, é já atividade quando é definido por Arendt como um debruçar-se sobre si do próprio ego. Toda a obra desta pensadora pode definir-se como uma tentativa de aproximar a Filosofia, o pensar, do domínio dos assuntos humanos, o agir.
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Papers by Alfons C Salellas Bosch
que corresponde à sua forma de lidar com a fragilidade das questões práticas que
se colocam entre os homens, sem renunciar – muito pelo contrário – à ação. Através
da sua afinidade nietzschiana, busco evidenciar aquela que acredito ser a postura
intelectual base de toda a reflexão político-filosófica de Hannah Arendt, que não é
unicamente um subentendido, mas que aparece explícita em muitos momentos
da sua produção.
Abstract: There is a tragic realism in the background of all Arendtian thinking, which
corresponds to her way of dealing with the fragility of the practical issues that lie
between men, without renouncing – quite the contrary - to action. Through her
Nietzschean affinity, I seek to evidence what I believe to be the intellectual posture
that is the basis of all the political-philosophical reflection of Hannah Arendt,
which is not only an understatement but appears explicit in many moments of
her work.
Origens do totalitarismo, permite estabelecer paralelismos entre a crise
presente e aquela que propiciou o aparecimento e a ascensão ao poder do nazismo, na Alemanha de meados do século XX, com suas semelhanças e suas diferenças e, deste modo, acede a identificar características totalitárias nas atuais democracias neoliberais.
Abstract: If the hero of nineteenth-century literature was " the rebel " , a man with a desperate craving to stand out from common people, the twentieth century is " the conformist " , the one who wants to fit in and be confused with the mass. In The Conformist, Alberto Moravia analyzes this human type characteristic of a modern society under fascism, obsessed by what he thought it was "normality". This short essay aims to show how this novel by the great Italian writer, published in 1951, comes into line with the definition of the "bourgeois" and the householder given by Hannah Arendt, this man overshadowed by security, who is the ultimate responsible for the crimes of his time.
Conference Presentations by Alfons C Salellas Bosch
que corresponde à sua forma de lidar com a fragilidade das questões práticas que
se colocam entre os homens, sem renunciar – muito pelo contrário – à ação. Através
da sua afinidade nietzschiana, busco evidenciar aquela que acredito ser a postura
intelectual base de toda a reflexão político-filosófica de Hannah Arendt, que não é
unicamente um subentendido, mas que aparece explícita em muitos momentos
da sua produção.
Abstract: There is a tragic realism in the background of all Arendtian thinking, which
corresponds to her way of dealing with the fragility of the practical issues that lie
between men, without renouncing – quite the contrary - to action. Through her
Nietzschean affinity, I seek to evidence what I believe to be the intellectual posture
that is the basis of all the political-philosophical reflection of Hannah Arendt,
which is not only an understatement but appears explicit in many moments of
her work.
Origens do totalitarismo, permite estabelecer paralelismos entre a crise
presente e aquela que propiciou o aparecimento e a ascensão ao poder do nazismo, na Alemanha de meados do século XX, com suas semelhanças e suas diferenças e, deste modo, acede a identificar características totalitárias nas atuais democracias neoliberais.
Abstract: If the hero of nineteenth-century literature was " the rebel " , a man with a desperate craving to stand out from common people, the twentieth century is " the conformist " , the one who wants to fit in and be confused with the mass. In The Conformist, Alberto Moravia analyzes this human type characteristic of a modern society under fascism, obsessed by what he thought it was "normality". This short essay aims to show how this novel by the great Italian writer, published in 1951, comes into line with the definition of the "bourgeois" and the householder given by Hannah Arendt, this man overshadowed by security, who is the ultimate responsible for the crimes of his time.