Kínesis - Revista de Estudos dos Pós-Graduandos em Filosofia
Defenderemos que Foucault e suas críticas à psicanálise servem aos estudos queer quando, diante d... more Defenderemos que Foucault e suas críticas à psicanálise servem aos estudos queer quando, diante da dimensão produtiva do poder, interrogam os saberes pertinentes aos corpos sujeitos e suas sexualidades. Foucault faz problematizar o que quer que apareça na forma da fixidez, da norma ou, ainda, como mais fundamental, originário e a priori ao sujeito em seus devires. Suas análises são base aos desenvolvimentos queer pois, assim como estes, apontam para Isso: essa “coisa estranha”, esse “não-lugar”, esse “estar-entre”, essa “diferença tática”, cuja característica é perturbar a estabilidade e a presunção de naturalidade das identidades hegemônicas. Se emaranhadas em noções foucaultianas, as questões queer suscitam um processo de autocrítica pelo qual dá-se a possibilidade de afirmarmos a instabilidade, a ambiguidade e a indeterminação de todas as identidades, de todas formas da sexualidade, dos prazeres, assim como todas modalidades de corpo-sujeitificação/generificação. Não por completo...
O inconsciente foi a maior contribuição freudiana e passou por reformulações. Da primeira até a s... more O inconsciente foi a maior contribuição freudiana e passou por reformulações. Da primeira até a segunda tópica, Freud teorizou a respeito de um Eu inconsciente e nada soberano. Nos interessa nesse artigo mostrar como Freud estabelece uma crítica às teorias consciencialistas e qual o caminho percorrido para encontrar um outro caráter para o Eu. Para tanto, mobilizaremos sua teoria do desejo, sendo esta a principal responsável pelo funcionamento do psiquismo. Suporemos que o inconsciente freudiano introduz para a humanidade um modo de lidar com as faltas que, além de não extirpáveis, nos descentram a todo momento.
O inconsciente, a grande descoberta freudiana, foi o responsável por toda a composição da teoria ... more O inconsciente, a grande descoberta freudiana, foi o responsável por toda a composição da teoria psicanalítica. Como toda teoria, passou por adaptações de acordo com as descobertas de Freud, que se via na necessidade de reestabelecer as regras e os meios de funcionamento do aparelho psíquico. Através das antinomias pulsionais, das topologias relativas ao inconsciente e, em particular, da melancolia como pivô entre tópicas, mostraremos como Freud possibilita pensar não só as consequências da perda objetal, mas como esta influencia na composição do Eu. Elegendo-a como fundamental à instauração da segunda tópica, advogaremos que é a partir da melancolia que Freud nos permite compreender o Eu como descentrado e despossuído por uma “cena outra” que o coloca numa situação perpetuamente deficitária. Do advento da segunda tópica, defenderemos que Freud foi capaz de desvelar um Eu que é, também, inconsciente.
Partindo de O Mal-Estar na Civilização (1930), advogaremos que, se não há nada na cultura que não... more Partindo de O Mal-Estar na Civilização (1930), advogaremos que, se não há nada na cultura que não garanta nossa ruina, nosso destino reside num indefinível e persistente mal-estar. Problematizando incógnitas como a felicidade, a inibição pulsional, a destrutividade como variante da pulsão de morte, o sentimento de culpa, a hegemonia do Super-Eu e o triunfo de Thanatos, veremos que Freud não vislumbra possibilidades de anular a situação de desamparo em que nos encontramos. Sendo a agressividade uma de nossas fontes propulsoras, acentuaremos não só o desejo de extermínio de tudo e todos, mas o quanto a cultura leva-nos a renunciar da satisfação ao propor uma seguridade que jamais garantirá. Da falta de comunhão entre indivíduo e sociedade, a ação de Thanatos revela que a civilização está minada por dentro. Portanto, veremos que o mal-estar é um fator inerente à civilização, sendo ilustrativo do atual destino da subjetividade.
Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências H... more Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Filosofia, Florianópolis, 2018.De Freud, buscaremos o percurso que o fez conceber um mais-além das noções fálicas que serviram para compreender a sexualidade. Balizados pela proposta de uma sexualidade mais-além , circunscreveremos seu entendimento acerca do feminino. Entre a primeira e segunda tópica, destacaremos sua ampliação em relação ao entendimento da sexualidade e, por extensão, do feminino. Inicialmente, notaremos como, entre 1905 e 1914, Freud passa por alto o feminino quando unifica as pulsões sob a primazia de representantes fálicos, a saber: objetos ideativos ou ego. Disto, veremos como ele amplia a noção de Anlehnung ao ponto de, a partir dos problemas suscitados entre 1920 e 1933, enxergar no feminino um horizonte que, tácito ao investimentos fálicos, presentifica o enigma psicanalítico e indica um mais-além de gozo que, de uma libido n...
Das descrições ingardeanas acerca das possibilidades de existência de entidades que, concomitante... more Das descrições ingardeanas acerca das possibilidades de existência de entidades que, concomitantemente reais e ideais, possam constituir-se ontologicamente autônomas e independentes de qualquer intencionalidade transcendental, este artigo revisita A Obra de Arte Literária a fim de evidenciar a estratificação polifônica das obras literárias. Partindo da caracterização ontológica do objeto literário como um objeto puramente intencional, nos encaminharemos ao seu esquematismo estratificado. Entendendo que cada unidade constituinte retém uma pluralidade significativa própria dentro do conjunto geral da obra, caracterizaremos o modo como cada um dos estratos literários se compõe dentro do escopo ingardeano, a saber: 1) as formações fônico-linguisticas, 2) as unidades de significação, 3) as objetividades apresentadas e 4) o estrato dos aspectos esquematizados. Isso posto, teremos enfim o que Roman Ingarden qualifica como sendo o caráter orgânico e polifônico das obras literárias: a relaçã...
O presente trabalho tem por objetivo discutir as bases teóricas das interlocuções entre Sartre, P... more O presente trabalho tem por objetivo discutir as bases teóricas das interlocuções entre Sartre, Politzer e a psicanálise clássica. Apresentaremos os conceitos-chave para compreender o que a psicanálise existencial, em sua proximidade com o projeto politzeriano de uma psicologia concreta, visa na estruturação da psique. Para entendermos como a noção de concreto entra na teoria sartreana da consciência fenomenológica, interrogaremos as influências do pensamento de Politzer sobre o projeto de uma psicanálise existencial. Mediante a ruptura com a inconsciência e a substituição do inconsciente pelo âmbito pré-reflexivo dos sujeitos, entenderemos que o agente sabe da ação, mas não tem conhecimento de si enquanto agente. Desde aquilo que é dramatizado pela concretude do sujeito em primeira pessoa, depreender-se-á: se não existem forças que lhe sejam antagônicas, então a consciência é inteira, espontânea, concreta e absolutamente livre. The present work aims to discuss the theoretical bases...
Dos estudos que Merleau-Ponty dedica à noção de corpo, este projeto versará sobre os modos como a... more Dos estudos que Merleau-Ponty dedica à noção de corpo, este projeto versará sobre os modos como a relação entre sexualidade e existência pode ser compreendida à luz de uma reinterpretação ontológica e fenomenológica da psicanálise freudiana. Com efeito, a partir de Três Ensaios sobre e Teoria da Sexualidade, veremos, num primeiro instante, como os atos humanos não são determinados apenas por um inconsciente falho e involuntário; dado que as produções do inconsciente do outro influem sobre as fontes do inconsciente subjetivo (e vice-versa), em Freud o teor destes atos possuiriam antes uma significação pulsional de ordem sexual e conflitiva que se estenderia da infância (onde é predominantemente polimorfa, perversa e autoerótica) à vida adulta (onde coloca-se à serviço da função reprodutora, sob o primado da zona genital) e que, objetiva e causal, deveria ser medida e direcionada para mantermos, em termos de economia libidinal, o controle de nossa vida sexual frente a ordem social. No...
Among Ingarden’s descriptions about the possibilities of existence of entities that, being both r... more Among Ingarden’s descriptions about the possibilities of existence of entities that, being both real and ideal, can be up ontologically autonomous and independent of any transcendental intentionality, this article revisits The Literary Work of Art to highlight the polyphonic layering of literary work. Starting from the ontological characterization of the literary object as a purely intentional object, we will reach his stratified schematism. Understanding that each constituent unit retains in itself a significant plurality to its own within the overall body of work, we characterize how each stratification of literature is composed within the scope of Ingarden, as follows: 1) formation of phonic linguistics, 2) units of significance, 3) presented objectivities and 4) the layer of the schematic aspects. That said, we finally have what Roman Ingarden qualifies as the organic character and polyphony of literary work: a significant totality of relationship, called from a non-hierarchical...
Dos estudos que Maurice Merleau-Ponty dedica à noção de corpo, este artigo versa sobre os modos c... more Dos estudos que Maurice Merleau-Ponty dedica à noção de corpo, este artigo versa sobre os modos como a questão da sexualidade pode ser compreendida. Com efeito, dentro desta perspectiva, o corpo não se confunde com aquilo que se pode pensar dela a partir de uma perspectiva tanto objetivista quanto subjetivista, mas diz respeito à nossa forma ampla de inserção no mundo da vida. Na junção entre natureza e liberdade, o corpo não é da ordem do “eu penso”, mas do “eu posso” – é potência exploratória. Assim, ser corpo é estar amarrado a certo mundo; é só por ele que o ser vai ao mundo. Todavia, se assim o for, o mesmo só pode ser compreendido a partir da relação que mantem com outras realidades sensíveis, para além de uma experiência para mim. Deste modo, será, pois, preciso passar a considerar a afetividade e a sexualidade como partes constituintes do nosso trato com o mundo. Enquanto modo de ser que evidencia nossa relação com as coisas, sem apresentar-se, contudo, independente da infr...
Das querelas de Sartre e Merleau-Ponty, delimitaremos a nadificacao ontologica, contrastando-a ao... more Das querelas de Sartre e Merleau-Ponty, delimitaremos a nadificacao ontologica, contrastando-a ao projeto de uma consciencia encarnada que nao so atualiza a distincao entre “em-si” e “para-si”, mas encontra na percepcao uma via pela qual as atitudes deliberativas sao codependentes. Posto o problema da intencionalidade, para Sartre a consciencia, alem de suscitar um acesso ao Ser (ontologia), so pode ser o que e enquanto for consciencia livre e posicional de algo. Vazia, ela e o “para-si” que, perante a realidade objetiva, possui um poder nulificante. Diante do Ser , ela e o Nada : o nao-ser, o vazio, a liberdade que surge da negacao do em-si quando, por atos interrogativos, transforma seu agir mundano em escolha existencial. Assim, ontologicamente falando, a consciencia tanto da significacao ao ser enquanto objeto, quanto tende a tornar-se o unico principio constituinte do mundo; ideia esta que Merleau-Ponty atualiza. Com efeito, visto que o corpo e veiculo de ser-no-mundo, em Merle...
This article analyzes the notion of malaise resulting from the tension impulses between individ... more This article analyzes the notion of malaise resulting from the tension impulses between individuals and cultures, according to the results achieved by Freud's psychoanalytic reflexes. Despite certain moments in his work, it is possible to envision a certain possibility of emancipation of the individual through reflection or clinical analysis itself, or the psychoanalyst does not fail to notice a certain entropy present not only in the human being, but in the whole being alive. It is a movement within the organism itself that leads to its exhaustion, meeting its demand in decline
Voluntas: Revista Internacional de Filosofia, 2020
Dos desdobramentos freudianos acerca da civilização, questionaremos como, diante da eminencia de ... more Dos desdobramentos freudianos acerca da civilização, questionaremos como, diante da eminencia de um futuro trágico, a indagação de formas alternativas de gozo pode originar uma sociedade menos hostil. Partindo de noções como pulsão de morte, agressividade e Super-Eu, veremos que a racionalização dos afetos não reclama nossa destrutividade. Da antinomia entre Eros e Thanatos, Freud conclama a independência das pulsões agressivas, alegando que a civilização é vivenciada como mal-estar. Assinalando como os desejos do outro estão implicados nos nossos, acentuaremos que a agressividade instaura o Super-Eu, cuja função é impor sobre o Eu a mesma hostilidade que este satisfaria nos outros. Exercendo autoridade interna, o Super-Eu atravessa a subjetividade, indicando que não há nada que não garanta nossa própria catástrofe. Mas se a civilização está edificada sobre o resto da liberdade individual, então talvez a responsabilização pelo desejo permita pensar novas formas de subjetivação e, qu...
Kínesis - Revista de Estudos dos Pós-Graduandos em Filosofia, 2018
Da proposta freudiana de Além do Princípio do Prazer (1920), este artigo põe à prova a “teoria do... more Da proposta freudiana de Além do Princípio do Prazer (1920), este artigo põe à prova a “teoria do choque” desenvolvida por Walter Benjamin como chave da crítica à modernidade, e cuja problemática visa distinguir Erfahrung e Erlebnis. Primeiramente, veremos como a segunda tópica freudiana nos põe diante daquilo que está subscrito ao aparato psíquico. Numa segunda instância, compreenderemos 1) como, da vivência dos choques, Benjamin encontra em Baudelaire um caminho à lírica da modernidade e 2) como, lendo Freud, a vida nas cidades nos despe da memória das experiências passadas, forçando-nos a estar atentos aos perigos imediatos e, sob o preço de uma irreflexividade, criar modos de defesa capazes de proteger-nos dos múltiplos choques. Veremos como estas vivências afetam as distintas esferas da vida cotidiana à ponto de habitar todos os seus domínios. Todavia, se aqui a “estética dos choques” leva à atrofia da experiência histórica, veremos, à luz de Freud, como o ensaísta jamais disti...
Kínesis - Revista de Estudos dos Pós-Graduandos em Filosofia
Defenderemos que Foucault e suas críticas à psicanálise servem aos estudos queer quando, diante d... more Defenderemos que Foucault e suas críticas à psicanálise servem aos estudos queer quando, diante da dimensão produtiva do poder, interrogam os saberes pertinentes aos corpos sujeitos e suas sexualidades. Foucault faz problematizar o que quer que apareça na forma da fixidez, da norma ou, ainda, como mais fundamental, originário e a priori ao sujeito em seus devires. Suas análises são base aos desenvolvimentos queer pois, assim como estes, apontam para Isso: essa “coisa estranha”, esse “não-lugar”, esse “estar-entre”, essa “diferença tática”, cuja característica é perturbar a estabilidade e a presunção de naturalidade das identidades hegemônicas. Se emaranhadas em noções foucaultianas, as questões queer suscitam um processo de autocrítica pelo qual dá-se a possibilidade de afirmarmos a instabilidade, a ambiguidade e a indeterminação de todas as identidades, de todas formas da sexualidade, dos prazeres, assim como todas modalidades de corpo-sujeitificação/generificação. Não por completo...
O inconsciente foi a maior contribuição freudiana e passou por reformulações. Da primeira até a s... more O inconsciente foi a maior contribuição freudiana e passou por reformulações. Da primeira até a segunda tópica, Freud teorizou a respeito de um Eu inconsciente e nada soberano. Nos interessa nesse artigo mostrar como Freud estabelece uma crítica às teorias consciencialistas e qual o caminho percorrido para encontrar um outro caráter para o Eu. Para tanto, mobilizaremos sua teoria do desejo, sendo esta a principal responsável pelo funcionamento do psiquismo. Suporemos que o inconsciente freudiano introduz para a humanidade um modo de lidar com as faltas que, além de não extirpáveis, nos descentram a todo momento.
O inconsciente, a grande descoberta freudiana, foi o responsável por toda a composição da teoria ... more O inconsciente, a grande descoberta freudiana, foi o responsável por toda a composição da teoria psicanalítica. Como toda teoria, passou por adaptações de acordo com as descobertas de Freud, que se via na necessidade de reestabelecer as regras e os meios de funcionamento do aparelho psíquico. Através das antinomias pulsionais, das topologias relativas ao inconsciente e, em particular, da melancolia como pivô entre tópicas, mostraremos como Freud possibilita pensar não só as consequências da perda objetal, mas como esta influencia na composição do Eu. Elegendo-a como fundamental à instauração da segunda tópica, advogaremos que é a partir da melancolia que Freud nos permite compreender o Eu como descentrado e despossuído por uma “cena outra” que o coloca numa situação perpetuamente deficitária. Do advento da segunda tópica, defenderemos que Freud foi capaz de desvelar um Eu que é, também, inconsciente.
Partindo de O Mal-Estar na Civilização (1930), advogaremos que, se não há nada na cultura que não... more Partindo de O Mal-Estar na Civilização (1930), advogaremos que, se não há nada na cultura que não garanta nossa ruina, nosso destino reside num indefinível e persistente mal-estar. Problematizando incógnitas como a felicidade, a inibição pulsional, a destrutividade como variante da pulsão de morte, o sentimento de culpa, a hegemonia do Super-Eu e o triunfo de Thanatos, veremos que Freud não vislumbra possibilidades de anular a situação de desamparo em que nos encontramos. Sendo a agressividade uma de nossas fontes propulsoras, acentuaremos não só o desejo de extermínio de tudo e todos, mas o quanto a cultura leva-nos a renunciar da satisfação ao propor uma seguridade que jamais garantirá. Da falta de comunhão entre indivíduo e sociedade, a ação de Thanatos revela que a civilização está minada por dentro. Portanto, veremos que o mal-estar é um fator inerente à civilização, sendo ilustrativo do atual destino da subjetividade.
Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências H... more Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Filosofia, Florianópolis, 2018.De Freud, buscaremos o percurso que o fez conceber um mais-além das noções fálicas que serviram para compreender a sexualidade. Balizados pela proposta de uma sexualidade mais-além , circunscreveremos seu entendimento acerca do feminino. Entre a primeira e segunda tópica, destacaremos sua ampliação em relação ao entendimento da sexualidade e, por extensão, do feminino. Inicialmente, notaremos como, entre 1905 e 1914, Freud passa por alto o feminino quando unifica as pulsões sob a primazia de representantes fálicos, a saber: objetos ideativos ou ego. Disto, veremos como ele amplia a noção de Anlehnung ao ponto de, a partir dos problemas suscitados entre 1920 e 1933, enxergar no feminino um horizonte que, tácito ao investimentos fálicos, presentifica o enigma psicanalítico e indica um mais-além de gozo que, de uma libido n...
Das descrições ingardeanas acerca das possibilidades de existência de entidades que, concomitante... more Das descrições ingardeanas acerca das possibilidades de existência de entidades que, concomitantemente reais e ideais, possam constituir-se ontologicamente autônomas e independentes de qualquer intencionalidade transcendental, este artigo revisita A Obra de Arte Literária a fim de evidenciar a estratificação polifônica das obras literárias. Partindo da caracterização ontológica do objeto literário como um objeto puramente intencional, nos encaminharemos ao seu esquematismo estratificado. Entendendo que cada unidade constituinte retém uma pluralidade significativa própria dentro do conjunto geral da obra, caracterizaremos o modo como cada um dos estratos literários se compõe dentro do escopo ingardeano, a saber: 1) as formações fônico-linguisticas, 2) as unidades de significação, 3) as objetividades apresentadas e 4) o estrato dos aspectos esquematizados. Isso posto, teremos enfim o que Roman Ingarden qualifica como sendo o caráter orgânico e polifônico das obras literárias: a relaçã...
O presente trabalho tem por objetivo discutir as bases teóricas das interlocuções entre Sartre, P... more O presente trabalho tem por objetivo discutir as bases teóricas das interlocuções entre Sartre, Politzer e a psicanálise clássica. Apresentaremos os conceitos-chave para compreender o que a psicanálise existencial, em sua proximidade com o projeto politzeriano de uma psicologia concreta, visa na estruturação da psique. Para entendermos como a noção de concreto entra na teoria sartreana da consciência fenomenológica, interrogaremos as influências do pensamento de Politzer sobre o projeto de uma psicanálise existencial. Mediante a ruptura com a inconsciência e a substituição do inconsciente pelo âmbito pré-reflexivo dos sujeitos, entenderemos que o agente sabe da ação, mas não tem conhecimento de si enquanto agente. Desde aquilo que é dramatizado pela concretude do sujeito em primeira pessoa, depreender-se-á: se não existem forças que lhe sejam antagônicas, então a consciência é inteira, espontânea, concreta e absolutamente livre. The present work aims to discuss the theoretical bases...
Dos estudos que Merleau-Ponty dedica à noção de corpo, este projeto versará sobre os modos como a... more Dos estudos que Merleau-Ponty dedica à noção de corpo, este projeto versará sobre os modos como a relação entre sexualidade e existência pode ser compreendida à luz de uma reinterpretação ontológica e fenomenológica da psicanálise freudiana. Com efeito, a partir de Três Ensaios sobre e Teoria da Sexualidade, veremos, num primeiro instante, como os atos humanos não são determinados apenas por um inconsciente falho e involuntário; dado que as produções do inconsciente do outro influem sobre as fontes do inconsciente subjetivo (e vice-versa), em Freud o teor destes atos possuiriam antes uma significação pulsional de ordem sexual e conflitiva que se estenderia da infância (onde é predominantemente polimorfa, perversa e autoerótica) à vida adulta (onde coloca-se à serviço da função reprodutora, sob o primado da zona genital) e que, objetiva e causal, deveria ser medida e direcionada para mantermos, em termos de economia libidinal, o controle de nossa vida sexual frente a ordem social. No...
Among Ingarden’s descriptions about the possibilities of existence of entities that, being both r... more Among Ingarden’s descriptions about the possibilities of existence of entities that, being both real and ideal, can be up ontologically autonomous and independent of any transcendental intentionality, this article revisits The Literary Work of Art to highlight the polyphonic layering of literary work. Starting from the ontological characterization of the literary object as a purely intentional object, we will reach his stratified schematism. Understanding that each constituent unit retains in itself a significant plurality to its own within the overall body of work, we characterize how each stratification of literature is composed within the scope of Ingarden, as follows: 1) formation of phonic linguistics, 2) units of significance, 3) presented objectivities and 4) the layer of the schematic aspects. That said, we finally have what Roman Ingarden qualifies as the organic character and polyphony of literary work: a significant totality of relationship, called from a non-hierarchical...
Dos estudos que Maurice Merleau-Ponty dedica à noção de corpo, este artigo versa sobre os modos c... more Dos estudos que Maurice Merleau-Ponty dedica à noção de corpo, este artigo versa sobre os modos como a questão da sexualidade pode ser compreendida. Com efeito, dentro desta perspectiva, o corpo não se confunde com aquilo que se pode pensar dela a partir de uma perspectiva tanto objetivista quanto subjetivista, mas diz respeito à nossa forma ampla de inserção no mundo da vida. Na junção entre natureza e liberdade, o corpo não é da ordem do “eu penso”, mas do “eu posso” – é potência exploratória. Assim, ser corpo é estar amarrado a certo mundo; é só por ele que o ser vai ao mundo. Todavia, se assim o for, o mesmo só pode ser compreendido a partir da relação que mantem com outras realidades sensíveis, para além de uma experiência para mim. Deste modo, será, pois, preciso passar a considerar a afetividade e a sexualidade como partes constituintes do nosso trato com o mundo. Enquanto modo de ser que evidencia nossa relação com as coisas, sem apresentar-se, contudo, independente da infr...
Das querelas de Sartre e Merleau-Ponty, delimitaremos a nadificacao ontologica, contrastando-a ao... more Das querelas de Sartre e Merleau-Ponty, delimitaremos a nadificacao ontologica, contrastando-a ao projeto de uma consciencia encarnada que nao so atualiza a distincao entre “em-si” e “para-si”, mas encontra na percepcao uma via pela qual as atitudes deliberativas sao codependentes. Posto o problema da intencionalidade, para Sartre a consciencia, alem de suscitar um acesso ao Ser (ontologia), so pode ser o que e enquanto for consciencia livre e posicional de algo. Vazia, ela e o “para-si” que, perante a realidade objetiva, possui um poder nulificante. Diante do Ser , ela e o Nada : o nao-ser, o vazio, a liberdade que surge da negacao do em-si quando, por atos interrogativos, transforma seu agir mundano em escolha existencial. Assim, ontologicamente falando, a consciencia tanto da significacao ao ser enquanto objeto, quanto tende a tornar-se o unico principio constituinte do mundo; ideia esta que Merleau-Ponty atualiza. Com efeito, visto que o corpo e veiculo de ser-no-mundo, em Merle...
This article analyzes the notion of malaise resulting from the tension impulses between individ... more This article analyzes the notion of malaise resulting from the tension impulses between individuals and cultures, according to the results achieved by Freud's psychoanalytic reflexes. Despite certain moments in his work, it is possible to envision a certain possibility of emancipation of the individual through reflection or clinical analysis itself, or the psychoanalyst does not fail to notice a certain entropy present not only in the human being, but in the whole being alive. It is a movement within the organism itself that leads to its exhaustion, meeting its demand in decline
Voluntas: Revista Internacional de Filosofia, 2020
Dos desdobramentos freudianos acerca da civilização, questionaremos como, diante da eminencia de ... more Dos desdobramentos freudianos acerca da civilização, questionaremos como, diante da eminencia de um futuro trágico, a indagação de formas alternativas de gozo pode originar uma sociedade menos hostil. Partindo de noções como pulsão de morte, agressividade e Super-Eu, veremos que a racionalização dos afetos não reclama nossa destrutividade. Da antinomia entre Eros e Thanatos, Freud conclama a independência das pulsões agressivas, alegando que a civilização é vivenciada como mal-estar. Assinalando como os desejos do outro estão implicados nos nossos, acentuaremos que a agressividade instaura o Super-Eu, cuja função é impor sobre o Eu a mesma hostilidade que este satisfaria nos outros. Exercendo autoridade interna, o Super-Eu atravessa a subjetividade, indicando que não há nada que não garanta nossa própria catástrofe. Mas se a civilização está edificada sobre o resto da liberdade individual, então talvez a responsabilização pelo desejo permita pensar novas formas de subjetivação e, qu...
Kínesis - Revista de Estudos dos Pós-Graduandos em Filosofia, 2018
Da proposta freudiana de Além do Princípio do Prazer (1920), este artigo põe à prova a “teoria do... more Da proposta freudiana de Além do Princípio do Prazer (1920), este artigo põe à prova a “teoria do choque” desenvolvida por Walter Benjamin como chave da crítica à modernidade, e cuja problemática visa distinguir Erfahrung e Erlebnis. Primeiramente, veremos como a segunda tópica freudiana nos põe diante daquilo que está subscrito ao aparato psíquico. Numa segunda instância, compreenderemos 1) como, da vivência dos choques, Benjamin encontra em Baudelaire um caminho à lírica da modernidade e 2) como, lendo Freud, a vida nas cidades nos despe da memória das experiências passadas, forçando-nos a estar atentos aos perigos imediatos e, sob o preço de uma irreflexividade, criar modos de defesa capazes de proteger-nos dos múltiplos choques. Veremos como estas vivências afetam as distintas esferas da vida cotidiana à ponto de habitar todos os seus domínios. Todavia, se aqui a “estética dos choques” leva à atrofia da experiência histórica, veremos, à luz de Freud, como o ensaísta jamais disti...
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