In NEJJAR, Najlae e FELLAHI, Salma (coord.), Transmissions et transgressions, revista Relais, nº9, Agosto 2024, pp. 99-113, ISSN: 2336-0410, 2024
Dans le roman Os fantasmas de Pessoa de Manuel Jorge Marmelo, un dialogue est établi entre cet au... more Dans le roman Os fantasmas de Pessoa de Manuel Jorge Marmelo, un dialogue est établi entre cet auteur contemporain et le poète moderniste portugais Fernando Pessoa, nous conduisant à examiner les transferts possibles entre l'univers de Pessoa - et ses nombreux hétéronymes - et celui du roman de Marmelo. Dans cette étude, nous analysons à la fois les liens d'intertextualité et d'hypertextualité tout au long du texte de Marmelo. Étant donné qu'il s'agit d'un univers transfictionnel dans lequel un auteur contemporain utilise audacieusement l'autorité canonique de Pessoa, nous examinons également la manière dont les liens transfictionnels sont générés dans le roman. Enfin, nous analysons la présence de l'ironie dans le texte qui met en lumière les échanges entre les auteurs modernes et leurs prédécesseurs littéraires, montrant comment la nouvelle littérature est capable d'émerger à partir de modèles antérieurs.
Beira(s) - Imagens do Ambiente Natural e Humano na Literatura de Ficção, In CARVALHO, A.C. e VIEIRA, C. V. (Eds.). Lisboa: Ed. Colibri, pp. 159-176. ISBN - 978-989-566-117-6., 2023
A ficção de Agustina Bessa-Luís privilegia, geralmente, os espaços do norte do país, arreigando a... more A ficção de Agustina Bessa-Luís privilegia, geralmente, os espaços do norte do país, arreigando as personagens nas regiões do Douro, do Minho ou das Beiras, espaços rurais que amplificam as histórias contadas, ecoando vozes de um passado e de uma tradição que ganham expressão na ficção desta autora. Neste panorama, a província tem um papel de cenário romanesco, mas também de quase personagem, dado que ela “participa” na construção romanesca como uma das múltiplas vozes narrativas, aquela que estabelece e, de certa forma, justifica o fio condutor, a perenidade de comportamentos humanos e até nacionais. Em Eugénia e Silvina, o leitor encontra-se face a um espaço simbólico, onde coisas extraordinárias se passarão, um espaço elevado à categoria de cronótopo.
Lire l’Asie em langue portugaise: regards contemporains, In Cordeiro, Gonçalo (coord.), Revista Les Langues Néo-Latines, nº406, Setembro 2023, pp. 99-113, ISSN: 0184-7570., 2023
Surtout connu pour des romans où l’écriture se matérialise dans des univers tragiques et où le le... more Surtout connu pour des romans où l’écriture se matérialise dans des univers tragiques et où le lecteur reconnaît un Portugal en transformation, l’écrivain portugais José Luís Peixoto s’est lancé depuis 2012 dans l’aventure de l’écriture de voyage. C’est à ce moment-là que l’Asie devient de plus en plus présente dans son œuvre, tout d’abord dans les récits de voyage : Dentro do segredo : uma viagem na Coreia do Norte et O Caminho imperfeito, mais aussi dans des chroniques, des poèmes ou d’autres projets de l’auteur. (...)
Le souvenir d’une certaine image, Pour Maria do Rosário Girão dos Santos, In Álvares, Cristina et alii, coll. Exotopies. Paris: Éditions Le Manuscrit, pp. 135-141. ISBN: 978-2-304-05455-2., 2023
Actas do 5º Fórum internacional do ensino de língua portuguesa na China, Zhang Yunfeng e Caio César Christiano (coord.), IPM, Macau, China, pp. 75-86. ISBN: 978-99965-2-262-8., 2021
Resumo: Se seguirmos a definição dada por José Luís Peixoto, ao afirmar que traduzir é como carre... more Resumo: Se seguirmos a definição dada por José Luís Peixoto, ao afirmar que traduzir é como carregar uma taça cheia de água de um lugar para outro, podemos perguntar-nos quantas gotas da poesia de Jidi Majia chegaram ao seu destino na tradução que o próprio propôs para a coletânea de poemas Palavras de fogo. Interessa-nos, por isso, em primeiro lugar neste trabalho perceber as motivações que levaram o autor português, não dominando o mandarim, a realizar a tradução de um poeta chinês da etnia Yi. Nas palavras dos dois autores, aquando da passagem pelo festival literário Rota das Letras de 2019, em Macau, a poesia e a sua tradução permitem aproximar duas culturas que, embora sejam distantes, se aproximam pelas temáticas literárias e pelas preocupações universalistas dos seus autores. Este trabalho pretende também abordar as pontes temáticas estabelecidas entre as obras dos dois autores, nomeadamente questões ligadas à memória, à transmissão de conhecimentos e valores, à relação do sujeito poético com o local das suas origens, mas também ao posicionamento do Eu no mundo. Para um escritor que sabemos privilegiar os universos da escrita de si e, nomeadamente, os espaços da infância em geral e a aldeia de Galveias em particular, como é o caso de Peixoto, é interessante analisar como o sentimento de pertença do autor influencia a tradução de poemas que retratam um espaço geográfico tão distante do Alentejo. A poesia apresenta-se assim como o laço que permite ligar a China de Jidi Majia e, nomeadamente, as tradições da minoria étnica Yi ao mundo rural alentejano descrito por Peixoto nas suas obras.
Augusto, Sara (2021). Alegoria ensaios. Macau: Instituto Politécnico de Macau., 2021
A presença do sobrenatural, de personagens e episódios estranhos é uma marca da criação literária... more A presença do sobrenatural, de personagens e episódios estranhos é uma marca da criação literária de José Luís Peixoto. A estranheza provocada pela leitura de algumas das suas obras obriga o leitor a posicionar-se na interpretação que faz de cada detalhe insólito e, muitas vezes, a recorrer a uma interpretação alegórica, nomeadamente, dos dois primeiros romances do autor: Nenhum Olhar (2000) e Uma casa na escuridão (2002). Partindo destes dois romances, destacar-se-á ainda a presença da alegoria na ficção contemporânea portuguesa, sua importância e funções, assim como os debates que o seu uso suscita entre os especialistas. Palavras-chave: alegoria; José Luís Peixoto; trágico; fantástico; realismo mágico.
André, Carlos A. e Augusto, Sara (coord.). Camilo Pessanha: novas interrogações (150 anos do nascimento). Macau: Instituto Politécnico de Macau. , 2019
Falar de Camilo Pessanha sem falar de Clepsydra é tarefa quase impossível dada a importância que ... more Falar de Camilo Pessanha sem falar de Clepsydra é tarefa quase impossível dada a importância que a poesia assume, de forma evidente, na vida e na obra do autor. Recuando à juventude de Pessanha, apercebemo-nos, no entanto, da existência de um projecto literário que envolveria prosa e poesia. A prosa chamar-se-ia Solidões e seria constituída por contos que retratariam, no dizer do autor, “estados de espírito” traduzidos em “impressões rápidas”. Os contos seriam uma forma de apreender o fugaz, as pequenas solidões individuais e que se declinam em histórias curtas pautadas pelo instante que marca a vida de uma personagem e, desta forma, teriam uma relação com a poesia que completaria o projecto. Apesar de o autor nunca ter concretizado tal empresa, podemos observar que os contos que publicou em periódicos da época respondem a este critério, mas revelam também outros aspectos da sua personalidade literária. Assim, é visível o pendor lírico da sua prosa, nomeadamente, no trabalho minucioso na escolha das palavras e o cuidado estético com certos recursos de estilo, mas também nos é dado a conhecer um pendor político e empenhado que distancia, em muito, a prosa da poesia do autor. Esta vertente política revela uma mundividência muito particular ao autor, uma consciência da sociedade portuguesa no final do século XIX que nos permite compreender os seus ideais marcadamente republicanos e traços de um retrato ainda que a preto e branco, dessa sociedade finissecular. Acresce a esta tendência política uma clara presença do autor no seu texto que se faz sentir nas múltiplas intromissões do autor feitas na primeira pessoa, introduzindo comentários às cenas narradas, dúvidas e impressões que desvendam, aos olhos do leitor, as etapas de um escritor em construção.
Gadomska, Katarzyna, Loska, Agnieszka e Swoboda, Anna (ed.). Le surnaturel en littérature et au cinéma. Wydawnictwo Uniwersytetu Śląskiego, 2018
Romancier contemporain portugais, connu pour une écriture à caractère réflexif et intimiste, José... more Romancier contemporain portugais, connu pour une écriture à caractère réflexif et intimiste, José Luís Peixoto va plus loin dans les domaines de l’écriture de soi en y ajoutant des traits de l’univers fantastique qu’il puise dans l’univers de l’oralité́ et du conte traditionnel portugais. La puissance de son œuvre vient d’ailleurs de l’inventivité avec laquelle l’auteur se sert de plusieurs genres littéraires, ainsi que de plusieurs procédés hérités de diverses époques littéraires pour créer des fictions de plus en plus novatrices. C’est dans le mélange donc d’héritages littéraires, nous pensons ici plus particulièrement aux héritages du fantastique et du réalisme magique, que le surnaturel s’installe au sein des romans de cet auteur. L’écriture de soi s’avère être dans le cadre des romans analysés un terrain favorable à la construction d’univers étranges, surtout dans Sans un regard et Une maison dans les ténèbres, où règne l’onirique et où la pente fantastique est indéniable. Il s’avère que le terrain de l’écriture à la première personne, notamment l’autofiction, est un espace de liberté, car l’alliance entre l’écriture de la mémoire et l’imagination permet la naissance de récits comme ceux de Peixoto, et nous ne sommes pas très éloignés d’une sorte d’autofiction fantastique, comme le suggère Vincent Colonna. Le registre onirique réunit à la fois le récit de rêve et la fiction de soi, notamment en permettant la création d’alter-egos de l’écrivain, tout en créant des univers déroutants où d’étranges créatures côtoient les personnages plus réalistes. Il s’agit ici de repousser les barrières de l’invraisemblable et d’aller chercher dans l’inhumain la part de soi qui réside dans l’Autre. La présence du surnaturel dans les écrits de Peixoto est une caractéristique importante de ses textes, car elle permet d’exprimer une crise de valeurs, puisque la recherche métaphysique sur l’homme et sur Dieu révèlent les inquiétudes vécues dans les sociétés contemporaines. Venu de l’Alentejo, Peixoto exprime peut-être, par ce recours à la tonalité fantastique, la peur de voir disparaître le monde de son enfance : les personnes, les traditions orales et les légendes. Les éléments étranges, miroirs de la réalité, expriment ainsi l’inquiétude face à la disparition des valeurs et d’une certaine société rurale qui ne peut résister à la modernisation du Portugal et à la désertification des régions de l’intérieur. Ce Portugal qui ne sait pas ou ne veut pas conjuguer tradition et modernité, veut nier son isolement et essaye de se construire dans une projection plus européenne, cosmopolite et forcément moins rurale. Le surnaturel explique le besoin de dépasser les discours courants et de montrer que le réel est bien plus complexe que la vision linéaire et déterminée que l’histoire officielle semble avoir imposée. Les phénomènes aussi étranges qu’invraisemblables, mis en scène dans l’œuvre de José Luís Peixoto, montrent justement l’impossibilité pour l’être humain à comprendre toutes les dimensions de la réalité.
In Teixeira, M.; Tavares, T.C.; Gorgulho, A.R.; Macário, M.J. & Rodrigues, P. (Orgs). Anais do VI SIMELP – Da união à diversidade. Santarém, Instituto Politécnico de Santarém. ISBN: 978-972-9434-13-6., 2021
Sendo a memória uma porta de entrada na intimidade do sujeito, sobretudo quando estamos a falar d... more Sendo a memória uma porta de entrada na intimidade do sujeito, sobretudo quando estamos a falar do personagem-narrador no romance, é muitas vezes através dela que o narrador consegue dominar a sua própria existência e até preencher o vazio do presente. Ao estar face a face com as lembranças do passado, o escritor pode suspender de maneira eficaz o tempo para o compreender e assim apreender as questões ligadas à sua própria fragilidade enquanto ser humano. Não é por acaso que a escrita de si na literatura contemporânea portuguesa aparece muitas vezes associada ao retorno do sentimento do trágico na literatura, sentimento que se materializa na literatura europeia já na segunda metade do século XX e na literatura portuguesa em particular neste início de século XXI. No caso dos escritores que me proponho estudar - José Luís Peixoto na sua obra romanesca e Dulce Maria Cardoso, especialmente no romance O Retorno -, a memória é não só uma espécie de motor da escrita mas também um instrumento a mais na busca da sua identidade. A língua desempenha um papel fundamental na reconstituição desta busca tão íntima do ser. É através dela que se materializa a memória frequentemente fragmentada. Aliada a processos de fabulação, a escrita de si em José Luís Peixoto e em Dulce Maria Cardoso acaba por tocar também de forma profunda os elementos simbólicos que constituem o imaginário português. Na busca da sua identidade, o Eu e o Outro confundem-se. O Outro sendo muitas vezes uma espécie de Eu coletivo, o Nós dos portugueses.
Alonso, Cláudia Pazos et alii (ed.). De Oriente a Ocidente: estudos da Associação Internacional de Lusitanistas, 2019
O debate em torno do conceito de lusofonia tem sido o assunto de diversos ensaios e alimentado a ... more O debate em torno do conceito de lusofonia tem sido o assunto de diversos ensaios e alimentado a reflexão de inúmeros pensadores da língua portuguesa. Filósofos, historiadores e especialistas do mundo em língua portuguesa fomentam definições diversas deste conceito, defendendo-o ou mostrando que o mesmo deve ser abandonado. Este trabalho pretende participar na discussão em torno deste conceito, usando como ponto de partida o texto da peça de teatro Estrangeiras (2016), de José Luís Peixoto. Dramaturgo bissexto, o romancista e poeta José Luís Peixoto consegue concentrar na peça de teatro Estrangeiras uma grande parte do questionamento que a palavra lusofonia suscita no dia-a-dia, não só dos falantes de língua portuguesa, mas também dos estudiosos deste universo e mormente nos professores de português espalhados pelo mundo afora. Ao encerrar as três personagens da peça numa sala de um aeroporto nos Estados Unidos da América, o escritor coloca o leitor e, sobretudo, o espectador face ao facto de que a língua portuguesa funciona amiúde mais como agente de estranhamento entre os povos ditos lusófonos do que como um factor de união, como se procura afirmar quando se defende a existência desta dita comunidade lusófona. Isabella, a personagem brasileira, Lili, a personagem cabo-verdiana e Rosário, a personagem portuguesa, obrigadas a comunicar por se encontrarem numa situação complexa, exprimem em diálogos curtos e, por vezes, cómicos, toda a dificuldade de concretização desse conceito abstrato que é a lusofonia. Não é a língua o único fator que dificulta a comunicação das personagens, mas igualmente a imagem – ou a sua completa inexistência – que cada uma tem em relação ao país das outras, as referências culturais de cada uma e os preconceitos acumulados ao longo da história dos respetivos países. O confinamento ocasionado pela situação da peça acaba por aproximar as personagens e fazê-las unirem-se ironicamente não por falarem, em teoria, a mesma língua, mas porque face ao problema da emigração e do ponto de vista das autoridades, fazem parte de uma massa de anónimos que, no caso das três personagens, acabam por se entender e se reconfortar mutuamente. O ténue fio de humor com que se conduz a peça permite observar as contradições que suscita a noção de lusofonia, incluindo os inúmeros problemas históricos que a mesma levanta, nomeadamente o fantasma do colonialismo. Destarte, o presente trabalho analisará como a literatura pode contribuir para o debate sobre a noção de lusofonia, assim como as diversas questões associadas a este conceito, entre elas, a utopia do projeto lusófono, a questão linguística e as questões institucionais.
Actas do 4º Fórum internacional do ensino de língua portuguesa na China, Lei Heong Iok (ed.), C. A. André, R. Pereira e L. Inverno (coord.), IPM, Macau, China. ISBN:9789996521799. , 2018
É frequente mencionar-se a lusofonia para captar estudantes para o estudo da língua portuguesa. Q... more É frequente mencionar-se a lusofonia para captar estudantes para o estudo da língua portuguesa. Quando as instituições académicas o fazem, procuram mostrar a importância do português no mundo, a presença nos cinco continentes e o número consequente de falantes. Estes argumentos colocam o professor de PLE face a uma circunstância para a qual ele não foi devidamente preparado: ensinar a língua e a cultura da lusofonia, isto é, não só ensinar a língua e a cultura de um país, mas de oito países completamente diferentes. Evocar a lusofonia como objeto de ensino acarreta inúmeras dificuldades para o professor que tem de compreender e ensinar um conceito tão amplo como o pode ser a lusofonia e abrir a porta da sala de aula a uma realidade que implica uma carga ideológica que ultrapassa o ensino da língua estrangeira. Não se pretende com este trabalho definir o que é a lusofonia ou entrar no debate sobre a sua real existência e possível concretização no mundo da língua portuguesa. Pelo contrário, parte- se do princípio que a lusofonia faz parte, efetivamente, dos encantos da língua portuguesa e que um futuro falante da mesma terá muito a ganhar quanto mais conseguir compreender e dominar as particularidades intrínsecas deste universo. Este trabalho explorará algumas razões para o estudo da lusofonia na sala de aula, procurando refletir sobre o papel do professor de PLE desde a sua formação académica até às estratégias de ensino da lusofonia. Nele serão analisadas as principais dificuldades encontradas pelo professor de PLE no que concerne à desconstrução de preconceitos e estereótipos – os seus e os dos aprendentes -, assim como à valorização individual das culturas dos diferentes países lusófonos, defendendo-se que o estudo das culturas lusófonas numa perspectiva ampla e contemporânea permite pensar o futuro da língua portuguesa e do seu ensino.
De Portugal a Macau: Filosofia e Literatura no diálogo das culturas, 2017
2017 | Entre Portugal e Macau - Congresso Internacional Filosofia e Literatura, 28-30 de Março de... more 2017 | Entre Portugal e Macau - Congresso Internacional Filosofia e Literatura, 28-30 de Março de 2017 (Macau)
A chegada a um novo país ocasiona um estranhamento e uma consequente necessidade de compreensão dos comportamentos locais e da organização social. A literatura oferece algumas pistas de reflexão sobre as atitudes que determinam a forma de estar de um povo, assim como os códigos necessários para compreender o funcionamento de uma sociedade. A dimensão filosófica na criação literária macaense concretiza-se nos detalhes antropológicos e históricos sobre a China nos contos de Deolinda da Conceição e sobre Macau nos contos e romances de Henrique de Senna Fernandes, assim como nos inúmeros comentários de ordem ética e sociológica dos narradores e/ou intromissões dos autores no texto. A leitura destes dois autores serve-me de janela para a observação dos códigos da sociedade chinesa tradicional (a posição da mulher na sociedade, os rituais sociais, as superstições), assim como a observação das especificidades de Macau, nomeadamente no que diz respeito à convivência (ou indiferença) entre as comunidades chinesa, macaense e portuguesa que partilham o território geográfico de Macau há tantos séculos.
Penser la question du lien chez José Luís Peixoto nous mène instantanément à la réflexion sur la ... more Penser la question du lien chez José Luís Peixoto nous mène instantanément à la réflexion sur la filiation et les rapports entre générations. Il s’agit dans les romans de l’auteur, mais aussi dans sa poésie ou encore dans ses chroniques de mettre en scène un Je en construction où l’écriture de soi se fait à partir des liens tissés entre l’individu et la famille ou encore entre l’individu et le tissu social et historique de la réalité qui l’entoure. Le récit de filiation est aussi une réponse à l’oubli et notamment au risque de disparition du monde de l’enfance – son Alentejo natal –, lieu d’origine, de traditions et superstitions que l’auteur fait vivre dans ses écrits. Le récit de filiation matérialise aussi une espèce de pulsion double de l’auteur, entre fiction et imagination, pulsion que nous observons dans le croisement de genres littéraires divers dans son œuvre. L’écriture de soi s’avère être un espace de liberté pour le romancier, puisqu’il se sert de l’autobiographie ou encore de certains aspects de l’autofiction innovant à partir de genres et de procédés stylistiques divers. C’est ainsi que nous retrouvons une confluence de lectures diverses et l’actualisation de genres comme le conte traditionnel, le conte philosophique, le fantastique, le réalisme magique, le tragique, qui se croisent avec des éléments autobiographiques et une vision très pointue de la société portugaise en particulier et de l’être humain en général, typiques de l’écriture de soi et qui finissent par se mêler avec la culture populaire alentejaine. Mais le récit de filiation chez Peixoto l’est aussi dans la mesure où il se positionne en tant qu’héritier de toute une tradition littéraire occidentale et donc l’inventivité de l’auteur vient aussi de la combinaison inédite de certains apports qui n’étaient pas nécessairement faits pour se rejoindre et qui surgissent dans le texte comme une réponse à l’époque contemporaine. Le dialogue avec la tradition littéraire se fait alors par le biais des multiples intertextes – portugais et internationaux –, mais aussi par des procédés tels le pastiche, la mise en abyme ou encore la métalepse de l’auteur. Partant de l’analyse du rapport entre écriture de soi et récit de filiation, je m’intéresserai à la mise en scène des rapports entre pères et fils, notamment à partir de la question du nom, de la transmission des savoirs et de la mémoire, ainsi que des liens entre la tradition littéraire et l’œuvre de l’auteur.
IPPOLITO Christophe (org.), Self-Narratives and social criticism, Revista Lublin Studies in Modern Languages and Literature. , 2016
Through a series of continuous innovations, the literary work of José Luís Peixoto always emphasi... more Through a series of continuous innovations, the literary work of José Luís Peixoto always emphasizes the value of the self. The intersection between self-fiction and the language of the self, most often in stories dealing with identity, creates a kind of writing that quivers between creative imaginative fiction and autobiographical writing of the self, in an idiosyncratic double-drive characteristic of this author. The power of Peixoto's work spawns from the communion of his unique ideological vision of contemporary Portuguese society and his use of a language that is extremely lyrical, and full of symbolism.
Lê-se amiúde que a literatura contemporânea se afunda em divagações narcisistas ou se perde em te... more Lê-se amiúde que a literatura contemporânea se afunda em divagações narcisistas ou se perde em tentativas vãs de cosmopolitismo. No entanto, os estudos sobre a escrita contemporânea já demonstraram o quanto a escrita de si pode ser uma escrita do Outro, algo que tende para o universal. Ao buscar a compreensão do eu no tempo e no espaço, o autor acaba por enunciar o que há de essencial numa certa comunidade regional, nacional e até mesmo universal. Destarte, a escrita do eu transforma-se numa escrita do nós. É nesta perspetiva que analisaremos os romances Livro (2010), Galveias (2014) e a novela Em teu ventre (2015). Destacando-se de outros autores da sua geração, a prosa de José Luís Peixoto ecoa a voz de um país profundo, cheio de tradições e de contradições. É esse país que se delineia através das três narrativas citadas e que se conta nas entrelinhas das ficções do autor. Ao trazer para a cena literária a voz profunda do seu país natal, Peixoto cria uma espécie de autobiografia de Portugal e dos portugueses.
De volta ao futuro da língua portuguesa”. Atas do V SIMELP - Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa, 2017
Ler Dentro do segredo, Uma viagem na Coreia do Norte, de José Luís Peixoto é abrir uma porta para... more Ler Dentro do segredo, Uma viagem na Coreia do Norte, de José Luís Peixoto é abrir uma porta para um mundo desconhecido, quase ignorado, como o pode ser a Coreia do Norte. O autor procura com esta obra mostrar como a literatura pode tomar conta de assuntos que remetem para a esfera política, sociológica e até antropológica, de forma a colocar em cena uma sociedade enclausurada, assim como um dos regimes ditatoriais mais fechados do mundo. A representação literária e geográfica da Coreia do Norte permite ao autor entrar na “casa do Outro” e perceber de que forma a visão de um ocidental sobre essa cultura pode contribuir para a construção do texto e de que forma o contacto com a mesma possibilita a desconstrução dessa visão sobre um dado lugar no mundo. Por outro lado, a escolha do país é a forma encontrada pelo autor de viver a sua aventura quixotesca, dado que o exílio momentâneo na Coreia do Norte, corresponde a um desejo profundo de busca de si e o encerramento numa sociedade tão fechada é uma forma de se descobrir e de descobrir a sua pertença ao pequeno retângulo pintado a amarelo no globo terrestre encontrado numa escola coreana. A referência a D. Quixote não é gratuita, dado que o livro, escondido numa mala, acompanha o autor ao longo da viagem e será o ponto de partida para uma reflexão sobre a realidade vivida e a realidade retórica do regime de Pyongyang.
In BRIAND M. (et al) (orgs.), Les figures du ravissement, La Licorne, PUR, 2014
REGO Vânia , « Les figures de l’extase chez les poètes modernistes portugais : Fernando Pessoa et... more REGO Vânia , « Les figures de l’extase chez les poètes modernistes portugais : Fernando Pessoa et Mário de Sá-Carneiro », In BRIAND M. (et al) (orgs.), Les figures du ravissement, La Licorne, PUR, 2014, p. 365-379.
IV SIMELP : Língua Portuguesa : ultrapassando fronteiras, unindo culturas., 2013
Quando se fala de poesia em Portugal, mesmo nos dias de hoje, os vultos mais ouvidos e citados sã... more Quando se fala de poesia em Portugal, mesmo nos dias de hoje, os vultos mais ouvidos e citados são, sem dúvida alguma, Camões, por razões históricas, e Fernando Pessoa, pela grandeza e pela diversidade da sua obra inigualável no panorama lusófono e quiçá internacional. Contudo, depois da passagem do movimento modernista, a literatura portuguesa, em geral, e a poesia, em particular, metamorfosearam-se fortemente. A poesia contemporânea, desempossada do seu caráter nacionalista e do seu cunho social e politicamente comprometido que se revelou de extrema importância durante o período da ditadura, adquiriu um outro estatuto e revestiu-se de nova importância. A entrada na União Europeia a partir da década de 80 e a abertura de Portugal ao mundo na atualidade contribuíram para que assistíssemos a uma desconstrução dos modelos considerados clássicos e a uma maior liberdade na criação poética que, se por um lado abre mais possibilidades à criação e à linguagem poéticas, por outro torna mais difícil a categorização e a definição de características específicas da poesia contemporânea portuguesa. É neste contexto que surge a obra poética de José Luís Peixoto, atualmente, um dos autores consagrados da Língua Portuguesa: A Criança em Ruínas (2001), A Casa, a Escuridão (2002) e Gaveta de papéis (2008). Impregnada de conceitos e reflexões universais sobre a vida e a morte, a filiação, a memória ou a reflexão sobre o tempo, a obra deste autor apresenta-se na esteira de José Saramago ou de Lobo Antunes, dado o poder universal e humanista que lhe é reconhecido. Escritor de romances, contos, poemas e letras de músicas para horizontes musicais tão diversos como o são o fado e a música heavy metal portuguesa, J. L. Peixoto presenteia-nos com uma poesia nova, cosmopolita e por vezes desconcertante. De mãos dadas com a prosa lírica dos romances que escreve, a poesia de Peixoto é um espaço de escrita do “eu”, onde a memória desempenha um papel fundamental. O estudo da obra poética de J. L. Peixoto permitir-nos-á um olhar mais atento não só sobre as novas temáticas e formas de construção poética, mas também sobre os caminhos e a evolução da poesia contemporânea em Portugal.
III SIMELP: A formação de novas gerações de falantes de português no mundo, 2012
Lugar das suas origens, o Alentejo é, na obra de José Luís Peixoto, um espaço de memória, onde a ... more Lugar das suas origens, o Alentejo é, na obra de José Luís Peixoto, um espaço de memória, onde a herança deixada pelos ensinamentos dos mais velhos se perpetua, por exemplo, pelas personagens de Nenhum Olhar ou de Livro. Espaço de reflexão e de projeção do “eu”, o Alentejo torna-se um lugar mítico fora do tempo e do espaço. Por outro lado, torna-se um espaço de descoberta de “si”, de descoberta do que há de mais profundo nas relações humanas. É na imensidão do Alentejo que a personagem do pastor José pode refletir sobre o tempo, a eternidade, a existência humana e a morte.
Além do Alentejo, Lisboa assume-se como um espaço de reflexão sobre a pertença do “eu” no espaço familiar e locais geograficamente distantes como Estocolmo ou Paris são também espaços privilegiados do desenrolar das narrativas e da relação poética entre as personagens, a memória e a construção do “eu”.
Na poesia, as cidades ocupam um lugar peculiar: São Francisco, Estocolmo, Praia, Coimbra, Porto, Budapeste ou Rio de Janeiro figuram como fotografias feitas de palavras onde as emoções do autor se projetam nos espaços visitados através dos objetos, das lembranças e dos sentimentos.
O estudo do espaço na obra de Peixoto permitir-nos-á uma reflexão sobre a relação entre o espaço e a identidade do “eu” poético, entre a origem, a memória e o sentimento de imensidão eterna que a paisagem do Alentejo representa.
In NEJJAR, Najlae e FELLAHI, Salma (coord.), Transmissions et transgressions, revista Relais, nº9, Agosto 2024, pp. 99-113, ISSN: 2336-0410, 2024
Dans le roman Os fantasmas de Pessoa de Manuel Jorge Marmelo, un dialogue est établi entre cet au... more Dans le roman Os fantasmas de Pessoa de Manuel Jorge Marmelo, un dialogue est établi entre cet auteur contemporain et le poète moderniste portugais Fernando Pessoa, nous conduisant à examiner les transferts possibles entre l'univers de Pessoa - et ses nombreux hétéronymes - et celui du roman de Marmelo. Dans cette étude, nous analysons à la fois les liens d'intertextualité et d'hypertextualité tout au long du texte de Marmelo. Étant donné qu'il s'agit d'un univers transfictionnel dans lequel un auteur contemporain utilise audacieusement l'autorité canonique de Pessoa, nous examinons également la manière dont les liens transfictionnels sont générés dans le roman. Enfin, nous analysons la présence de l'ironie dans le texte qui met en lumière les échanges entre les auteurs modernes et leurs prédécesseurs littéraires, montrant comment la nouvelle littérature est capable d'émerger à partir de modèles antérieurs.
Beira(s) - Imagens do Ambiente Natural e Humano na Literatura de Ficção, In CARVALHO, A.C. e VIEIRA, C. V. (Eds.). Lisboa: Ed. Colibri, pp. 159-176. ISBN - 978-989-566-117-6., 2023
A ficção de Agustina Bessa-Luís privilegia, geralmente, os espaços do norte do país, arreigando a... more A ficção de Agustina Bessa-Luís privilegia, geralmente, os espaços do norte do país, arreigando as personagens nas regiões do Douro, do Minho ou das Beiras, espaços rurais que amplificam as histórias contadas, ecoando vozes de um passado e de uma tradição que ganham expressão na ficção desta autora. Neste panorama, a província tem um papel de cenário romanesco, mas também de quase personagem, dado que ela “participa” na construção romanesca como uma das múltiplas vozes narrativas, aquela que estabelece e, de certa forma, justifica o fio condutor, a perenidade de comportamentos humanos e até nacionais. Em Eugénia e Silvina, o leitor encontra-se face a um espaço simbólico, onde coisas extraordinárias se passarão, um espaço elevado à categoria de cronótopo.
Lire l’Asie em langue portugaise: regards contemporains, In Cordeiro, Gonçalo (coord.), Revista Les Langues Néo-Latines, nº406, Setembro 2023, pp. 99-113, ISSN: 0184-7570., 2023
Surtout connu pour des romans où l’écriture se matérialise dans des univers tragiques et où le le... more Surtout connu pour des romans où l’écriture se matérialise dans des univers tragiques et où le lecteur reconnaît un Portugal en transformation, l’écrivain portugais José Luís Peixoto s’est lancé depuis 2012 dans l’aventure de l’écriture de voyage. C’est à ce moment-là que l’Asie devient de plus en plus présente dans son œuvre, tout d’abord dans les récits de voyage : Dentro do segredo : uma viagem na Coreia do Norte et O Caminho imperfeito, mais aussi dans des chroniques, des poèmes ou d’autres projets de l’auteur. (...)
Le souvenir d’une certaine image, Pour Maria do Rosário Girão dos Santos, In Álvares, Cristina et alii, coll. Exotopies. Paris: Éditions Le Manuscrit, pp. 135-141. ISBN: 978-2-304-05455-2., 2023
Actas do 5º Fórum internacional do ensino de língua portuguesa na China, Zhang Yunfeng e Caio César Christiano (coord.), IPM, Macau, China, pp. 75-86. ISBN: 978-99965-2-262-8., 2021
Resumo: Se seguirmos a definição dada por José Luís Peixoto, ao afirmar que traduzir é como carre... more Resumo: Se seguirmos a definição dada por José Luís Peixoto, ao afirmar que traduzir é como carregar uma taça cheia de água de um lugar para outro, podemos perguntar-nos quantas gotas da poesia de Jidi Majia chegaram ao seu destino na tradução que o próprio propôs para a coletânea de poemas Palavras de fogo. Interessa-nos, por isso, em primeiro lugar neste trabalho perceber as motivações que levaram o autor português, não dominando o mandarim, a realizar a tradução de um poeta chinês da etnia Yi. Nas palavras dos dois autores, aquando da passagem pelo festival literário Rota das Letras de 2019, em Macau, a poesia e a sua tradução permitem aproximar duas culturas que, embora sejam distantes, se aproximam pelas temáticas literárias e pelas preocupações universalistas dos seus autores. Este trabalho pretende também abordar as pontes temáticas estabelecidas entre as obras dos dois autores, nomeadamente questões ligadas à memória, à transmissão de conhecimentos e valores, à relação do sujeito poético com o local das suas origens, mas também ao posicionamento do Eu no mundo. Para um escritor que sabemos privilegiar os universos da escrita de si e, nomeadamente, os espaços da infância em geral e a aldeia de Galveias em particular, como é o caso de Peixoto, é interessante analisar como o sentimento de pertença do autor influencia a tradução de poemas que retratam um espaço geográfico tão distante do Alentejo. A poesia apresenta-se assim como o laço que permite ligar a China de Jidi Majia e, nomeadamente, as tradições da minoria étnica Yi ao mundo rural alentejano descrito por Peixoto nas suas obras.
Augusto, Sara (2021). Alegoria ensaios. Macau: Instituto Politécnico de Macau., 2021
A presença do sobrenatural, de personagens e episódios estranhos é uma marca da criação literária... more A presença do sobrenatural, de personagens e episódios estranhos é uma marca da criação literária de José Luís Peixoto. A estranheza provocada pela leitura de algumas das suas obras obriga o leitor a posicionar-se na interpretação que faz de cada detalhe insólito e, muitas vezes, a recorrer a uma interpretação alegórica, nomeadamente, dos dois primeiros romances do autor: Nenhum Olhar (2000) e Uma casa na escuridão (2002). Partindo destes dois romances, destacar-se-á ainda a presença da alegoria na ficção contemporânea portuguesa, sua importância e funções, assim como os debates que o seu uso suscita entre os especialistas. Palavras-chave: alegoria; José Luís Peixoto; trágico; fantástico; realismo mágico.
André, Carlos A. e Augusto, Sara (coord.). Camilo Pessanha: novas interrogações (150 anos do nascimento). Macau: Instituto Politécnico de Macau. , 2019
Falar de Camilo Pessanha sem falar de Clepsydra é tarefa quase impossível dada a importância que ... more Falar de Camilo Pessanha sem falar de Clepsydra é tarefa quase impossível dada a importância que a poesia assume, de forma evidente, na vida e na obra do autor. Recuando à juventude de Pessanha, apercebemo-nos, no entanto, da existência de um projecto literário que envolveria prosa e poesia. A prosa chamar-se-ia Solidões e seria constituída por contos que retratariam, no dizer do autor, “estados de espírito” traduzidos em “impressões rápidas”. Os contos seriam uma forma de apreender o fugaz, as pequenas solidões individuais e que se declinam em histórias curtas pautadas pelo instante que marca a vida de uma personagem e, desta forma, teriam uma relação com a poesia que completaria o projecto. Apesar de o autor nunca ter concretizado tal empresa, podemos observar que os contos que publicou em periódicos da época respondem a este critério, mas revelam também outros aspectos da sua personalidade literária. Assim, é visível o pendor lírico da sua prosa, nomeadamente, no trabalho minucioso na escolha das palavras e o cuidado estético com certos recursos de estilo, mas também nos é dado a conhecer um pendor político e empenhado que distancia, em muito, a prosa da poesia do autor. Esta vertente política revela uma mundividência muito particular ao autor, uma consciência da sociedade portuguesa no final do século XIX que nos permite compreender os seus ideais marcadamente republicanos e traços de um retrato ainda que a preto e branco, dessa sociedade finissecular. Acresce a esta tendência política uma clara presença do autor no seu texto que se faz sentir nas múltiplas intromissões do autor feitas na primeira pessoa, introduzindo comentários às cenas narradas, dúvidas e impressões que desvendam, aos olhos do leitor, as etapas de um escritor em construção.
Gadomska, Katarzyna, Loska, Agnieszka e Swoboda, Anna (ed.). Le surnaturel en littérature et au cinéma. Wydawnictwo Uniwersytetu Śląskiego, 2018
Romancier contemporain portugais, connu pour une écriture à caractère réflexif et intimiste, José... more Romancier contemporain portugais, connu pour une écriture à caractère réflexif et intimiste, José Luís Peixoto va plus loin dans les domaines de l’écriture de soi en y ajoutant des traits de l’univers fantastique qu’il puise dans l’univers de l’oralité́ et du conte traditionnel portugais. La puissance de son œuvre vient d’ailleurs de l’inventivité avec laquelle l’auteur se sert de plusieurs genres littéraires, ainsi que de plusieurs procédés hérités de diverses époques littéraires pour créer des fictions de plus en plus novatrices. C’est dans le mélange donc d’héritages littéraires, nous pensons ici plus particulièrement aux héritages du fantastique et du réalisme magique, que le surnaturel s’installe au sein des romans de cet auteur. L’écriture de soi s’avère être dans le cadre des romans analysés un terrain favorable à la construction d’univers étranges, surtout dans Sans un regard et Une maison dans les ténèbres, où règne l’onirique et où la pente fantastique est indéniable. Il s’avère que le terrain de l’écriture à la première personne, notamment l’autofiction, est un espace de liberté, car l’alliance entre l’écriture de la mémoire et l’imagination permet la naissance de récits comme ceux de Peixoto, et nous ne sommes pas très éloignés d’une sorte d’autofiction fantastique, comme le suggère Vincent Colonna. Le registre onirique réunit à la fois le récit de rêve et la fiction de soi, notamment en permettant la création d’alter-egos de l’écrivain, tout en créant des univers déroutants où d’étranges créatures côtoient les personnages plus réalistes. Il s’agit ici de repousser les barrières de l’invraisemblable et d’aller chercher dans l’inhumain la part de soi qui réside dans l’Autre. La présence du surnaturel dans les écrits de Peixoto est une caractéristique importante de ses textes, car elle permet d’exprimer une crise de valeurs, puisque la recherche métaphysique sur l’homme et sur Dieu révèlent les inquiétudes vécues dans les sociétés contemporaines. Venu de l’Alentejo, Peixoto exprime peut-être, par ce recours à la tonalité fantastique, la peur de voir disparaître le monde de son enfance : les personnes, les traditions orales et les légendes. Les éléments étranges, miroirs de la réalité, expriment ainsi l’inquiétude face à la disparition des valeurs et d’une certaine société rurale qui ne peut résister à la modernisation du Portugal et à la désertification des régions de l’intérieur. Ce Portugal qui ne sait pas ou ne veut pas conjuguer tradition et modernité, veut nier son isolement et essaye de se construire dans une projection plus européenne, cosmopolite et forcément moins rurale. Le surnaturel explique le besoin de dépasser les discours courants et de montrer que le réel est bien plus complexe que la vision linéaire et déterminée que l’histoire officielle semble avoir imposée. Les phénomènes aussi étranges qu’invraisemblables, mis en scène dans l’œuvre de José Luís Peixoto, montrent justement l’impossibilité pour l’être humain à comprendre toutes les dimensions de la réalité.
In Teixeira, M.; Tavares, T.C.; Gorgulho, A.R.; Macário, M.J. & Rodrigues, P. (Orgs). Anais do VI SIMELP – Da união à diversidade. Santarém, Instituto Politécnico de Santarém. ISBN: 978-972-9434-13-6., 2021
Sendo a memória uma porta de entrada na intimidade do sujeito, sobretudo quando estamos a falar d... more Sendo a memória uma porta de entrada na intimidade do sujeito, sobretudo quando estamos a falar do personagem-narrador no romance, é muitas vezes através dela que o narrador consegue dominar a sua própria existência e até preencher o vazio do presente. Ao estar face a face com as lembranças do passado, o escritor pode suspender de maneira eficaz o tempo para o compreender e assim apreender as questões ligadas à sua própria fragilidade enquanto ser humano. Não é por acaso que a escrita de si na literatura contemporânea portuguesa aparece muitas vezes associada ao retorno do sentimento do trágico na literatura, sentimento que se materializa na literatura europeia já na segunda metade do século XX e na literatura portuguesa em particular neste início de século XXI. No caso dos escritores que me proponho estudar - José Luís Peixoto na sua obra romanesca e Dulce Maria Cardoso, especialmente no romance O Retorno -, a memória é não só uma espécie de motor da escrita mas também um instrumento a mais na busca da sua identidade. A língua desempenha um papel fundamental na reconstituição desta busca tão íntima do ser. É através dela que se materializa a memória frequentemente fragmentada. Aliada a processos de fabulação, a escrita de si em José Luís Peixoto e em Dulce Maria Cardoso acaba por tocar também de forma profunda os elementos simbólicos que constituem o imaginário português. Na busca da sua identidade, o Eu e o Outro confundem-se. O Outro sendo muitas vezes uma espécie de Eu coletivo, o Nós dos portugueses.
Alonso, Cláudia Pazos et alii (ed.). De Oriente a Ocidente: estudos da Associação Internacional de Lusitanistas, 2019
O debate em torno do conceito de lusofonia tem sido o assunto de diversos ensaios e alimentado a ... more O debate em torno do conceito de lusofonia tem sido o assunto de diversos ensaios e alimentado a reflexão de inúmeros pensadores da língua portuguesa. Filósofos, historiadores e especialistas do mundo em língua portuguesa fomentam definições diversas deste conceito, defendendo-o ou mostrando que o mesmo deve ser abandonado. Este trabalho pretende participar na discussão em torno deste conceito, usando como ponto de partida o texto da peça de teatro Estrangeiras (2016), de José Luís Peixoto. Dramaturgo bissexto, o romancista e poeta José Luís Peixoto consegue concentrar na peça de teatro Estrangeiras uma grande parte do questionamento que a palavra lusofonia suscita no dia-a-dia, não só dos falantes de língua portuguesa, mas também dos estudiosos deste universo e mormente nos professores de português espalhados pelo mundo afora. Ao encerrar as três personagens da peça numa sala de um aeroporto nos Estados Unidos da América, o escritor coloca o leitor e, sobretudo, o espectador face ao facto de que a língua portuguesa funciona amiúde mais como agente de estranhamento entre os povos ditos lusófonos do que como um factor de união, como se procura afirmar quando se defende a existência desta dita comunidade lusófona. Isabella, a personagem brasileira, Lili, a personagem cabo-verdiana e Rosário, a personagem portuguesa, obrigadas a comunicar por se encontrarem numa situação complexa, exprimem em diálogos curtos e, por vezes, cómicos, toda a dificuldade de concretização desse conceito abstrato que é a lusofonia. Não é a língua o único fator que dificulta a comunicação das personagens, mas igualmente a imagem – ou a sua completa inexistência – que cada uma tem em relação ao país das outras, as referências culturais de cada uma e os preconceitos acumulados ao longo da história dos respetivos países. O confinamento ocasionado pela situação da peça acaba por aproximar as personagens e fazê-las unirem-se ironicamente não por falarem, em teoria, a mesma língua, mas porque face ao problema da emigração e do ponto de vista das autoridades, fazem parte de uma massa de anónimos que, no caso das três personagens, acabam por se entender e se reconfortar mutuamente. O ténue fio de humor com que se conduz a peça permite observar as contradições que suscita a noção de lusofonia, incluindo os inúmeros problemas históricos que a mesma levanta, nomeadamente o fantasma do colonialismo. Destarte, o presente trabalho analisará como a literatura pode contribuir para o debate sobre a noção de lusofonia, assim como as diversas questões associadas a este conceito, entre elas, a utopia do projeto lusófono, a questão linguística e as questões institucionais.
Actas do 4º Fórum internacional do ensino de língua portuguesa na China, Lei Heong Iok (ed.), C. A. André, R. Pereira e L. Inverno (coord.), IPM, Macau, China. ISBN:9789996521799. , 2018
É frequente mencionar-se a lusofonia para captar estudantes para o estudo da língua portuguesa. Q... more É frequente mencionar-se a lusofonia para captar estudantes para o estudo da língua portuguesa. Quando as instituições académicas o fazem, procuram mostrar a importância do português no mundo, a presença nos cinco continentes e o número consequente de falantes. Estes argumentos colocam o professor de PLE face a uma circunstância para a qual ele não foi devidamente preparado: ensinar a língua e a cultura da lusofonia, isto é, não só ensinar a língua e a cultura de um país, mas de oito países completamente diferentes. Evocar a lusofonia como objeto de ensino acarreta inúmeras dificuldades para o professor que tem de compreender e ensinar um conceito tão amplo como o pode ser a lusofonia e abrir a porta da sala de aula a uma realidade que implica uma carga ideológica que ultrapassa o ensino da língua estrangeira. Não se pretende com este trabalho definir o que é a lusofonia ou entrar no debate sobre a sua real existência e possível concretização no mundo da língua portuguesa. Pelo contrário, parte- se do princípio que a lusofonia faz parte, efetivamente, dos encantos da língua portuguesa e que um futuro falante da mesma terá muito a ganhar quanto mais conseguir compreender e dominar as particularidades intrínsecas deste universo. Este trabalho explorará algumas razões para o estudo da lusofonia na sala de aula, procurando refletir sobre o papel do professor de PLE desde a sua formação académica até às estratégias de ensino da lusofonia. Nele serão analisadas as principais dificuldades encontradas pelo professor de PLE no que concerne à desconstrução de preconceitos e estereótipos – os seus e os dos aprendentes -, assim como à valorização individual das culturas dos diferentes países lusófonos, defendendo-se que o estudo das culturas lusófonas numa perspectiva ampla e contemporânea permite pensar o futuro da língua portuguesa e do seu ensino.
De Portugal a Macau: Filosofia e Literatura no diálogo das culturas, 2017
2017 | Entre Portugal e Macau - Congresso Internacional Filosofia e Literatura, 28-30 de Março de... more 2017 | Entre Portugal e Macau - Congresso Internacional Filosofia e Literatura, 28-30 de Março de 2017 (Macau)
A chegada a um novo país ocasiona um estranhamento e uma consequente necessidade de compreensão dos comportamentos locais e da organização social. A literatura oferece algumas pistas de reflexão sobre as atitudes que determinam a forma de estar de um povo, assim como os códigos necessários para compreender o funcionamento de uma sociedade. A dimensão filosófica na criação literária macaense concretiza-se nos detalhes antropológicos e históricos sobre a China nos contos de Deolinda da Conceição e sobre Macau nos contos e romances de Henrique de Senna Fernandes, assim como nos inúmeros comentários de ordem ética e sociológica dos narradores e/ou intromissões dos autores no texto. A leitura destes dois autores serve-me de janela para a observação dos códigos da sociedade chinesa tradicional (a posição da mulher na sociedade, os rituais sociais, as superstições), assim como a observação das especificidades de Macau, nomeadamente no que diz respeito à convivência (ou indiferença) entre as comunidades chinesa, macaense e portuguesa que partilham o território geográfico de Macau há tantos séculos.
Penser la question du lien chez José Luís Peixoto nous mène instantanément à la réflexion sur la ... more Penser la question du lien chez José Luís Peixoto nous mène instantanément à la réflexion sur la filiation et les rapports entre générations. Il s’agit dans les romans de l’auteur, mais aussi dans sa poésie ou encore dans ses chroniques de mettre en scène un Je en construction où l’écriture de soi se fait à partir des liens tissés entre l’individu et la famille ou encore entre l’individu et le tissu social et historique de la réalité qui l’entoure. Le récit de filiation est aussi une réponse à l’oubli et notamment au risque de disparition du monde de l’enfance – son Alentejo natal –, lieu d’origine, de traditions et superstitions que l’auteur fait vivre dans ses écrits. Le récit de filiation matérialise aussi une espèce de pulsion double de l’auteur, entre fiction et imagination, pulsion que nous observons dans le croisement de genres littéraires divers dans son œuvre. L’écriture de soi s’avère être un espace de liberté pour le romancier, puisqu’il se sert de l’autobiographie ou encore de certains aspects de l’autofiction innovant à partir de genres et de procédés stylistiques divers. C’est ainsi que nous retrouvons une confluence de lectures diverses et l’actualisation de genres comme le conte traditionnel, le conte philosophique, le fantastique, le réalisme magique, le tragique, qui se croisent avec des éléments autobiographiques et une vision très pointue de la société portugaise en particulier et de l’être humain en général, typiques de l’écriture de soi et qui finissent par se mêler avec la culture populaire alentejaine. Mais le récit de filiation chez Peixoto l’est aussi dans la mesure où il se positionne en tant qu’héritier de toute une tradition littéraire occidentale et donc l’inventivité de l’auteur vient aussi de la combinaison inédite de certains apports qui n’étaient pas nécessairement faits pour se rejoindre et qui surgissent dans le texte comme une réponse à l’époque contemporaine. Le dialogue avec la tradition littéraire se fait alors par le biais des multiples intertextes – portugais et internationaux –, mais aussi par des procédés tels le pastiche, la mise en abyme ou encore la métalepse de l’auteur. Partant de l’analyse du rapport entre écriture de soi et récit de filiation, je m’intéresserai à la mise en scène des rapports entre pères et fils, notamment à partir de la question du nom, de la transmission des savoirs et de la mémoire, ainsi que des liens entre la tradition littéraire et l’œuvre de l’auteur.
IPPOLITO Christophe (org.), Self-Narratives and social criticism, Revista Lublin Studies in Modern Languages and Literature. , 2016
Through a series of continuous innovations, the literary work of José Luís Peixoto always emphasi... more Through a series of continuous innovations, the literary work of José Luís Peixoto always emphasizes the value of the self. The intersection between self-fiction and the language of the self, most often in stories dealing with identity, creates a kind of writing that quivers between creative imaginative fiction and autobiographical writing of the self, in an idiosyncratic double-drive characteristic of this author. The power of Peixoto's work spawns from the communion of his unique ideological vision of contemporary Portuguese society and his use of a language that is extremely lyrical, and full of symbolism.
Lê-se amiúde que a literatura contemporânea se afunda em divagações narcisistas ou se perde em te... more Lê-se amiúde que a literatura contemporânea se afunda em divagações narcisistas ou se perde em tentativas vãs de cosmopolitismo. No entanto, os estudos sobre a escrita contemporânea já demonstraram o quanto a escrita de si pode ser uma escrita do Outro, algo que tende para o universal. Ao buscar a compreensão do eu no tempo e no espaço, o autor acaba por enunciar o que há de essencial numa certa comunidade regional, nacional e até mesmo universal. Destarte, a escrita do eu transforma-se numa escrita do nós. É nesta perspetiva que analisaremos os romances Livro (2010), Galveias (2014) e a novela Em teu ventre (2015). Destacando-se de outros autores da sua geração, a prosa de José Luís Peixoto ecoa a voz de um país profundo, cheio de tradições e de contradições. É esse país que se delineia através das três narrativas citadas e que se conta nas entrelinhas das ficções do autor. Ao trazer para a cena literária a voz profunda do seu país natal, Peixoto cria uma espécie de autobiografia de Portugal e dos portugueses.
De volta ao futuro da língua portuguesa”. Atas do V SIMELP - Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa, 2017
Ler Dentro do segredo, Uma viagem na Coreia do Norte, de José Luís Peixoto é abrir uma porta para... more Ler Dentro do segredo, Uma viagem na Coreia do Norte, de José Luís Peixoto é abrir uma porta para um mundo desconhecido, quase ignorado, como o pode ser a Coreia do Norte. O autor procura com esta obra mostrar como a literatura pode tomar conta de assuntos que remetem para a esfera política, sociológica e até antropológica, de forma a colocar em cena uma sociedade enclausurada, assim como um dos regimes ditatoriais mais fechados do mundo. A representação literária e geográfica da Coreia do Norte permite ao autor entrar na “casa do Outro” e perceber de que forma a visão de um ocidental sobre essa cultura pode contribuir para a construção do texto e de que forma o contacto com a mesma possibilita a desconstrução dessa visão sobre um dado lugar no mundo. Por outro lado, a escolha do país é a forma encontrada pelo autor de viver a sua aventura quixotesca, dado que o exílio momentâneo na Coreia do Norte, corresponde a um desejo profundo de busca de si e o encerramento numa sociedade tão fechada é uma forma de se descobrir e de descobrir a sua pertença ao pequeno retângulo pintado a amarelo no globo terrestre encontrado numa escola coreana. A referência a D. Quixote não é gratuita, dado que o livro, escondido numa mala, acompanha o autor ao longo da viagem e será o ponto de partida para uma reflexão sobre a realidade vivida e a realidade retórica do regime de Pyongyang.
In BRIAND M. (et al) (orgs.), Les figures du ravissement, La Licorne, PUR, 2014
REGO Vânia , « Les figures de l’extase chez les poètes modernistes portugais : Fernando Pessoa et... more REGO Vânia , « Les figures de l’extase chez les poètes modernistes portugais : Fernando Pessoa et Mário de Sá-Carneiro », In BRIAND M. (et al) (orgs.), Les figures du ravissement, La Licorne, PUR, 2014, p. 365-379.
IV SIMELP : Língua Portuguesa : ultrapassando fronteiras, unindo culturas., 2013
Quando se fala de poesia em Portugal, mesmo nos dias de hoje, os vultos mais ouvidos e citados sã... more Quando se fala de poesia em Portugal, mesmo nos dias de hoje, os vultos mais ouvidos e citados são, sem dúvida alguma, Camões, por razões históricas, e Fernando Pessoa, pela grandeza e pela diversidade da sua obra inigualável no panorama lusófono e quiçá internacional. Contudo, depois da passagem do movimento modernista, a literatura portuguesa, em geral, e a poesia, em particular, metamorfosearam-se fortemente. A poesia contemporânea, desempossada do seu caráter nacionalista e do seu cunho social e politicamente comprometido que se revelou de extrema importância durante o período da ditadura, adquiriu um outro estatuto e revestiu-se de nova importância. A entrada na União Europeia a partir da década de 80 e a abertura de Portugal ao mundo na atualidade contribuíram para que assistíssemos a uma desconstrução dos modelos considerados clássicos e a uma maior liberdade na criação poética que, se por um lado abre mais possibilidades à criação e à linguagem poéticas, por outro torna mais difícil a categorização e a definição de características específicas da poesia contemporânea portuguesa. É neste contexto que surge a obra poética de José Luís Peixoto, atualmente, um dos autores consagrados da Língua Portuguesa: A Criança em Ruínas (2001), A Casa, a Escuridão (2002) e Gaveta de papéis (2008). Impregnada de conceitos e reflexões universais sobre a vida e a morte, a filiação, a memória ou a reflexão sobre o tempo, a obra deste autor apresenta-se na esteira de José Saramago ou de Lobo Antunes, dado o poder universal e humanista que lhe é reconhecido. Escritor de romances, contos, poemas e letras de músicas para horizontes musicais tão diversos como o são o fado e a música heavy metal portuguesa, J. L. Peixoto presenteia-nos com uma poesia nova, cosmopolita e por vezes desconcertante. De mãos dadas com a prosa lírica dos romances que escreve, a poesia de Peixoto é um espaço de escrita do “eu”, onde a memória desempenha um papel fundamental. O estudo da obra poética de J. L. Peixoto permitir-nos-á um olhar mais atento não só sobre as novas temáticas e formas de construção poética, mas também sobre os caminhos e a evolução da poesia contemporânea em Portugal.
III SIMELP: A formação de novas gerações de falantes de português no mundo, 2012
Lugar das suas origens, o Alentejo é, na obra de José Luís Peixoto, um espaço de memória, onde a ... more Lugar das suas origens, o Alentejo é, na obra de José Luís Peixoto, um espaço de memória, onde a herança deixada pelos ensinamentos dos mais velhos se perpetua, por exemplo, pelas personagens de Nenhum Olhar ou de Livro. Espaço de reflexão e de projeção do “eu”, o Alentejo torna-se um lugar mítico fora do tempo e do espaço. Por outro lado, torna-se um espaço de descoberta de “si”, de descoberta do que há de mais profundo nas relações humanas. É na imensidão do Alentejo que a personagem do pastor José pode refletir sobre o tempo, a eternidade, a existência humana e a morte.
Além do Alentejo, Lisboa assume-se como um espaço de reflexão sobre a pertença do “eu” no espaço familiar e locais geograficamente distantes como Estocolmo ou Paris são também espaços privilegiados do desenrolar das narrativas e da relação poética entre as personagens, a memória e a construção do “eu”.
Na poesia, as cidades ocupam um lugar peculiar: São Francisco, Estocolmo, Praia, Coimbra, Porto, Budapeste ou Rio de Janeiro figuram como fotografias feitas de palavras onde as emoções do autor se projetam nos espaços visitados através dos objetos, das lembranças e dos sentimentos.
O estudo do espaço na obra de Peixoto permitir-nos-á uma reflexão sobre a relação entre o espaço e a identidade do “eu” poético, entre a origem, a memória e o sentimento de imensidão eterna que a paisagem do Alentejo representa.
Ensinar PLE em lugares tão distintos quanto a França ou a China responde a desafios diferentes, n... more Ensinar PLE em lugares tão distintos quanto a França ou a China responde a desafios diferentes, nomeadamente, no que diz respeito às tradições pedagógicas relacionadas com a prática da leitura. É, portanto, essencial que se adapte o conteúdo a ser ensinado ao público em questão levando em consideração as suas particularidades e especificidades linguísticas e histórico-culturais. A ubiquidade da informação em suas diversas formas torna a leitura no principal meio de difusão de informações, todavia, constata-se um declínio na leitura de materiais mais longos e para fins recreativos e de fruição. Esta apresentação consiste no relato de uma experiência de introdução de textos de uma literatura estrangeira a membros desta geração acima referida e procura responder à indagação: seria possível usar a leitura de textos literários como um instrumento eficaz na aprendizagem de uma língua para um público que tem pouca familiaridade com esta atividade? A experiência realizada na aula de "Leitura e escrita" sobre o estudo do conto A fada Oriana, de Sophia de Mello Breyner Andresen, com os alunos do 1º ano do curso de Licenciatura em Português possibilitou o levantamento de algumas hipóteses sobre a questão. O modelamento de estratégias metacognitivas (Kleiman, 2000) e o seguimento de uma série de princípios de orientação para a leitura em segunda língua (Farrell, 2003) foram algumas das estratégias adotadas para levar a cabo as atividades afastando-nos de concepções de abordagem textual mais tradicional às quais os alunos por ventura pudessem estar condicionados. Dentre as conclusões depreendidas encontramos evidências de que a adaptação do conteúdo e das atividades ao gosto, cultura e nível de conhecimento dos aprendentes é fundamental para o êxito da aprendizagem da leitura.
Além dos conhecimentos específicos ligados à área do ensino de língua estrangeira, o trabalho do ... more Além dos conhecimentos específicos ligados à área do ensino de língua estrangeira, o trabalho do professor de línguas é muitas vezes condicionado pelo contexto do país no qual trabalha e pelas tradições pedagógicas por ele adotadas. A minha prática pedagógica permitiu-me constatar que ensinar PLE na França ou em Macau responde a desafios diferentes, nomeadamente, no que concerne à nomenclatura e aos programas pré-estabelecidos nas suas respetivas tradições universitárias. Nesta apresentação debruçar-me-ei principalmente sobre as disciplinas que se intitulam “leitura intensiva” ou “leitura extensiva”, frequentemente constantes do currículo universitário chinês. Começarei por apresentar as dificuldades na definição exata do tipo de atividades que se espera serão feitas em cada uma dessas disciplinas e no que as diferencia umas das outras. Pude constatar que o discurso vigente entre os professores diverge bastante da definição teórica encontrada na literatura específica. Em seguida, relatarei como, ao adotar uma metodologia mais próxima às raízes teóricas, pude desenvolver com êxito um semestre na disciplina leitura extensiva no IPM. Desta forma, esta apresentação procurará responder a indagações comuns aos professores de PLE tais como: como incentivar os alunos a ler e, sobretudo, a usarem a leitura como um instrumento eficaz na aprendizagem de uma língua? O que se pretende ensinar numa disciplina chamada “leitura extensiva”? Como distingui-la da “leitura intensiva”? Como preparar aulas de leitura extensiva? Que tipos de textos selecionar? Como organizar a aula? Como motivar os alunos para a leitura? Abordarei ainda o tema do abismo que pode existir entre as expectativas de um professor e as dos seus aprendentes. Ainda que o objetivo de um seja ensinar e do outro aprender a língua estrangeira em questão, o choque cultural entre as perspectivas ocidental e oriental mostrou-se flagrante na experiência pedagógica levada a cabo.
O trabalho do professor de línguas estrangeiras não depende só dos conhecimentos específicos liga... more O trabalho do professor de línguas estrangeiras não depende só dos conhecimentos específicos ligados à língua a ensinar, mas é muitas vezes condicionado pelo contexto do país no qual trabalha e pelas tradições pedagógicas nele adotadas. Ensinar PLE a aprendentes de Macau ou do Interior da China tem-me confrontado com a necessidade de rever a minha prática pedagógica tanto ao nível da nomenclatura e aos programas pré-estabelecidos na tradição universitária, quanto ao nível das estratégias a adotar para o contrato de aprendizagem a estabelecer com os alunos. Nesta apresentação concentrar-me-ei no trabalho efetuado nas disciplinas que se intitulam “leitura intensiva” e “leitura extensiva”, tradicionalmente presentes no currículo universitário chinês. Desta forma, apresentarei as dificuldades na definição e distinção do tipo de atividades que devem ser feitas em cada uma destas disciplinas, tendo em conta as teorias relacionadas com o ensino da competência da leitura nas duas modalidades estudadas e as divergências no discurso e opções metodológicas dos professores. Ao descrever a minha experiência pedagógica, procurarei responder a algumas questões frequentes no ensino da competência da leitura em língua estrangeira: como incentivar os alunos a ler e, sobretudo, a usarem a leitura como um instrumento eficaz na aprendizagem de uma língua? O que se pretende ensinar numa disciplina chamada “leitura extensiva” ou “leitura intensiva” ? Como distingui-las? Como motivar os alunos para a leitura? Na apresentação das conclusões, abordarei ainda o uso do texto literário no ensino de línguas estrangeiras, a questão da seleção dos conteúdos a ensinar, assim como a gestão das expectativas de um professor e as dos seus aprendentes, nomeadamente em situação de choque cultural.
Se considerarmos que um dos objetivos da leitura é a compreensão de um texto, teremos seguramente... more Se considerarmos que um dos objetivos da leitura é a compreensão de um texto, teremos seguramente de admitir que, quase sempre, essa compreensão ultrapassa o domínio linguístico, abarcando também o domínio cultural. Para analisar uma informação, necessitamos, muitas vezes, de mobilizar conhecimentos de ordem cultural, sem os quais a compreensão fica comprometida. É, portanto, essencial que se adapte o conteúdo a ser ensinado ao público-alvo levando em consideração as suas particularidades e especificidades linguísticas e histórico-culturais. Desta forma, esta apresentação procurará refletir sobre o ensino da competência da leitura em aulas de língua estrangeira e, neste caso específico, no português língua estrangeira (PLE) e responder a questionamentos comuns aos professores de PLE tais como: como incentivar os alunos a ler e, sobretudo, a usarem a leitura como um instrumento eficaz na aprendizagem de uma língua? O que se pretende ensinar numa disciplina chamada “leitura extensiva”? Como preparar aulas de leitura extensiva? Que tipos de textos selecionar? Como organizar a aula? Como motivar os alunos para a leitura? A resposta a estas questões permitirá perceber o abismo que pode existir entre as expectativas de um professor e as dos seus alunos. Destarte, esta apresentação consistirá também no relato de uma experiência de introdução de textos da literatura em língua portuguesa na aula de língua e procurará responder à pergunta: é possível usar a leitura de textos literários como um instrumento eficaz na aprendizagem de uma língua para um público que tem pouca familiaridade com esta atividade?
No ensino de línguas estrangeiras, a leitura é frequentemente utilizada como uma possível janela ... more No ensino de línguas estrangeiras, a leitura é frequentemente utilizada como uma possível janela para a compreensão do mundo do Outro, uma possibilidade de adentrar paulatinamente a alteridade proposta pela língua que se pretende dominar. As peculiaridades narrativas de um texto, bem como a sua lógica intrínseca – aparentemente evidentes para um falante de língua materna – contêm muito da lógica cultural e histórica de um povo, o que constitui ao mesmo tempo dificuldade e desafio para os novo-aprendentes da língua portuguesa. Por essa razão, muitos alunos abraçam o desafio trazido pelas leituras na língua estrangeira, na esperança de encontrar os traços distintivos do que é ser português ou brasileiro, os modos de pensar de um angolano ou de um moçambicano; procuram uma nova realidade, os elementos simbólicos e implícitos do que é ser lusófono e que poderão aprender a desvendar. No entanto, outra possibilidade menos explorada do uso da leitura em LE, e sobre o qual nos concentraremos nesta comunicação, é a descoberta da visão que o outro tem a nosso respeito, ou seja, que visões imperam na cultura que se deseja alcançar sobre aquela da qual se faz parte. Através da análise de contos lusófonos que colocam em cena personagens chinesas ou situações de contacto entre personagens chinesas e lusófonas analisaremos como os estudantes reagem às personagens e situações descritas e em que circunstâncias pode haver identificação ou estranhamento. Procuraremos analisar se a linguagem literária do conto e o poder de mediação cultural da narrativa produzem o mesmo impacto quando se trata de ler o Eu na língua do Outro. Assim, este trabalho pretende mostrar, através do relato de experiências em sala de aula, como a leitura de contos favorece o desenvolvimento das competências de leitura e, de caminho, o diálogo entre as línguas e as culturas portuguesa e chinesa.
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Papers by Vânia REGO
Palavras-chave: alegoria; José Luís Peixoto; trágico; fantástico; realismo mágico.
Recuando à juventude de Pessanha, apercebemo-nos, no entanto, da existência de um projecto literário que envolveria prosa e poesia. A prosa chamar-se-ia Solidões e seria constituída por contos que retratariam, no dizer do autor, “estados de espírito” traduzidos em “impressões rápidas”.
Os contos seriam uma forma de apreender o fugaz, as pequenas solidões individuais e que se declinam em histórias curtas pautadas pelo instante que marca a vida de uma personagem e, desta forma, teriam uma relação com a poesia que completaria o projecto. Apesar de o autor nunca ter concretizado tal empresa, podemos observar que os contos que publicou em periódicos da época respondem a este critério, mas revelam também outros aspectos da sua personalidade literária.
Assim, é visível o pendor lírico da sua prosa, nomeadamente, no trabalho minucioso na escolha das palavras e o cuidado estético com certos recursos de estilo, mas também nos é dado a conhecer um pendor político e empenhado que distancia, em muito, a prosa da poesia do autor.
Esta vertente política revela uma mundividência muito particular ao autor, uma consciência da sociedade portuguesa no final do século XIX que nos permite compreender os seus ideais marcadamente republicanos e traços de um retrato ainda que a preto e branco, dessa sociedade finissecular.
Acresce a esta tendência política uma clara presença do autor no seu texto que se faz sentir nas múltiplas intromissões do autor feitas na primeira pessoa, introduzindo comentários às cenas narradas, dúvidas e impressões que desvendam, aos olhos do leitor, as etapas de um escritor em construção.
C’est dans le mélange donc d’héritages littéraires, nous pensons ici plus particulièrement aux héritages du fantastique et du réalisme magique, que le surnaturel s’installe au sein des romans de cet auteur. L’écriture de soi s’avère être dans le cadre des romans analysés un terrain favorable à la construction d’univers étranges, surtout dans Sans un regard et Une maison dans les ténèbres, où règne l’onirique et où la pente fantastique est indéniable. Il s’avère que le terrain de l’écriture à la première personne, notamment l’autofiction, est un espace de liberté, car l’alliance entre l’écriture de la mémoire et l’imagination permet la naissance de récits comme ceux de Peixoto, et nous ne sommes pas très éloignés d’une sorte d’autofiction fantastique, comme le suggère Vincent Colonna.
Le registre onirique réunit à la fois le récit de rêve et la fiction de soi, notamment en permettant la création d’alter-egos de l’écrivain, tout en créant des univers déroutants où d’étranges créatures côtoient les personnages plus réalistes. Il s’agit ici de repousser les barrières de l’invraisemblable et d’aller chercher dans l’inhumain la part de soi qui réside dans l’Autre.
La présence du surnaturel dans les écrits de Peixoto est une caractéristique importante de ses textes, car elle permet d’exprimer une crise de valeurs, puisque la recherche métaphysique sur l’homme et sur Dieu révèlent les inquiétudes vécues dans les sociétés contemporaines. Venu de l’Alentejo, Peixoto exprime peut-être, par ce recours à la tonalité fantastique, la peur de voir disparaître le monde de son enfance : les personnes, les traditions orales et les légendes. Les éléments étranges, miroirs de la réalité, expriment ainsi l’inquiétude face à la disparition des valeurs et d’une certaine société rurale qui ne peut résister à la modernisation du Portugal et à la désertification des régions de l’intérieur. Ce Portugal qui ne sait pas ou ne veut pas conjuguer tradition et modernité, veut nier son isolement et essaye de se construire dans une projection plus européenne, cosmopolite et forcément moins rurale.
Le surnaturel explique le besoin de dépasser les discours courants et de montrer que le réel est bien plus complexe que la vision linéaire et déterminée que l’histoire officielle semble avoir imposée. Les phénomènes aussi étranges qu’invraisemblables, mis en scène dans l’œuvre de José Luís Peixoto, montrent justement l’impossibilité pour l’être humain à comprendre toutes les dimensions de la réalité.
No caso dos escritores que me proponho estudar - José Luís Peixoto na sua obra romanesca e Dulce Maria Cardoso, especialmente no romance O Retorno -, a memória é não só uma espécie de motor da escrita mas também um instrumento a mais na busca da sua identidade.
A língua desempenha um papel fundamental na reconstituição desta busca tão íntima do ser. É através dela que se materializa a memória frequentemente fragmentada.
Aliada a processos de fabulação, a escrita de si em José Luís Peixoto e em Dulce Maria Cardoso acaba por tocar também de forma profunda os elementos simbólicos que constituem o imaginário português. Na busca da sua identidade, o Eu e o Outro confundem-se. O Outro sendo muitas vezes uma espécie de Eu coletivo, o Nós dos portugueses.
Dramaturgo bissexto, o romancista e poeta José Luís Peixoto consegue concentrar na peça de teatro Estrangeiras uma grande parte do questionamento que a palavra lusofonia suscita no dia-a-dia, não só dos falantes de língua portuguesa, mas também dos estudiosos deste universo e mormente nos professores de português espalhados pelo mundo afora.
Ao encerrar as três personagens da peça numa sala de um aeroporto nos Estados Unidos da América, o escritor coloca o leitor e, sobretudo, o espectador face ao facto de que a língua portuguesa funciona amiúde mais como agente de estranhamento entre os povos ditos lusófonos do que como um factor de união, como se procura afirmar quando se defende a existência desta dita comunidade lusófona.
Isabella, a personagem brasileira, Lili, a personagem cabo-verdiana e Rosário, a personagem portuguesa, obrigadas a comunicar por se encontrarem numa situação complexa, exprimem em diálogos curtos e, por vezes, cómicos, toda a dificuldade de concretização desse conceito abstrato que é a lusofonia. Não é a língua o único fator que dificulta a comunicação das personagens, mas igualmente a imagem – ou a sua completa inexistência – que cada uma tem em relação ao país das outras, as referências culturais de cada uma e os preconceitos acumulados ao longo da história dos respetivos países.
O confinamento ocasionado pela situação da peça acaba por aproximar as personagens e fazê-las unirem-se ironicamente não por falarem, em teoria, a mesma língua, mas porque face ao problema da emigração e do ponto de vista das autoridades, fazem parte de uma massa de anónimos que, no caso das três personagens, acabam por se entender e se reconfortar mutuamente.
O ténue fio de humor com que se conduz a peça permite observar as contradições que suscita a noção de lusofonia, incluindo os inúmeros problemas históricos que a mesma levanta, nomeadamente o fantasma do colonialismo.
Destarte, o presente trabalho analisará como a literatura pode contribuir para o debate sobre a noção de lusofonia, assim como as diversas questões associadas a este conceito, entre elas, a utopia do projeto lusófono, a questão linguística e as questões institucionais.
Evocar a lusofonia como objeto de ensino acarreta inúmeras dificuldades para o professor que tem de compreender e ensinar um conceito tão amplo como o pode ser a lusofonia e abrir a porta da sala de aula a uma realidade que implica uma carga ideológica que ultrapassa o ensino da língua estrangeira.
Não se pretende com este trabalho definir o que é a lusofonia ou entrar no debate sobre a sua real existência e possível concretização no mundo da língua portuguesa. Pelo contrário, parte- se do princípio que a lusofonia faz parte, efetivamente, dos encantos da língua portuguesa e que um futuro falante da mesma terá muito a ganhar quanto mais conseguir compreender e dominar as particularidades intrínsecas deste universo.
Este trabalho explorará algumas razões para o estudo da lusofonia na sala de aula, procurando refletir sobre o papel do professor de PLE desde a sua formação académica até às estratégias de ensino da lusofonia. Nele serão analisadas as principais dificuldades encontradas pelo professor de PLE no que concerne à desconstrução de preconceitos e estereótipos – os seus e os dos aprendentes -, assim como à valorização individual das culturas dos diferentes países lusófonos, defendendo-se que o estudo das culturas lusófonas numa perspectiva ampla e contemporânea permite pensar o futuro da língua portuguesa e do seu ensino.
A chegada a um novo país ocasiona um estranhamento e uma consequente necessidade de compreensão dos comportamentos locais e da organização social. A literatura oferece algumas pistas de reflexão sobre as atitudes que determinam a forma de estar de um povo, assim como os códigos necessários para compreender o funcionamento de uma sociedade.
A dimensão filosófica na criação literária macaense concretiza-se nos detalhes antropológicos e históricos sobre a China nos contos de Deolinda da Conceição e sobre Macau nos contos e romances de Henrique de Senna Fernandes, assim como nos inúmeros comentários de ordem ética e sociológica dos narradores e/ou intromissões dos autores no texto.
A leitura destes dois autores serve-me de janela para a observação dos códigos da sociedade chinesa tradicional (a posição da mulher na sociedade, os rituais sociais, as superstições), assim como a observação das especificidades de Macau, nomeadamente no que diz respeito à convivência (ou indiferença) entre as comunidades chinesa, macaense e portuguesa que partilham o território geográfico de Macau há tantos séculos.
Le récit de filiation matérialise aussi une espèce de pulsion double de l’auteur, entre fiction et imagination, pulsion que nous observons dans le croisement de genres littéraires divers dans son œuvre. L’écriture de soi s’avère être un espace de liberté pour le romancier, puisqu’il se sert de l’autobiographie ou encore de certains aspects de l’autofiction innovant à partir de genres et de procédés stylistiques divers. C’est ainsi que nous retrouvons une confluence de lectures diverses et l’actualisation de genres comme le conte traditionnel, le conte philosophique, le fantastique, le réalisme magique, le tragique, qui se croisent avec des éléments autobiographiques et une vision très pointue de la société portugaise en particulier et de l’être humain en général, typiques de l’écriture de soi et qui finissent par se mêler avec la culture populaire alentejaine.
Mais le récit de filiation chez Peixoto l’est aussi dans la mesure où il se positionne en tant qu’héritier de toute une tradition littéraire occidentale et donc l’inventivité de l’auteur vient aussi de la combinaison inédite de certains apports qui n’étaient pas nécessairement faits pour se rejoindre et qui surgissent dans le texte comme une réponse à l’époque contemporaine. Le dialogue avec la tradition littéraire se fait alors par le biais des multiples intertextes – portugais et internationaux –, mais aussi par des procédés tels le pastiche, la mise en abyme ou encore la métalepse de l’auteur.
Partant de l’analyse du rapport entre écriture de soi et récit de filiation, je m’intéresserai à la mise en scène des rapports entre pères et fils, notamment à partir de la question du nom, de la transmission des savoirs et de la mémoire, ainsi que des liens entre la tradition littéraire et l’œuvre de l’auteur.
É nesta perspetiva que analisaremos os romances Livro (2010), Galveias (2014) e a novela Em teu ventre (2015). Destacando-se de outros autores da sua geração, a prosa de José Luís Peixoto ecoa a voz de um país profundo, cheio de tradições e de contradições. É esse país que se delineia através das três narrativas citadas e que se conta nas entrelinhas das ficções do autor. Ao trazer para a cena literária a voz profunda do seu país natal, Peixoto cria uma espécie de autobiografia de Portugal e dos portugueses.
Por outro lado, a escolha do país é a forma encontrada pelo autor de viver a sua aventura quixotesca, dado que o exílio momentâneo na Coreia do Norte, corresponde a um desejo profundo de busca de si e o encerramento numa sociedade tão fechada é uma forma de se descobrir e de descobrir a sua pertença ao pequeno retângulo pintado a amarelo no globo terrestre encontrado numa escola coreana. A referência a D. Quixote não é gratuita, dado que o livro, escondido numa mala, acompanha o autor ao longo da viagem e será o ponto de partida para uma reflexão sobre a realidade vivida e a realidade retórica do regime de Pyongyang.
A poesia contemporânea, desempossada do seu caráter nacionalista e do seu cunho social e politicamente comprometido que se revelou de extrema importância durante o período da ditadura, adquiriu um outro estatuto e revestiu-se de nova importância.
A entrada na União Europeia a partir da década de 80 e a abertura de Portugal ao mundo na atualidade contribuíram para que assistíssemos a uma desconstrução dos modelos considerados clássicos e a uma maior liberdade na criação poética que, se por um lado abre mais possibilidades à criação e à linguagem poéticas, por outro torna mais difícil a categorização e a definição de características específicas da poesia contemporânea portuguesa.
É neste contexto que surge a obra poética de José Luís Peixoto, atualmente, um dos autores consagrados da Língua Portuguesa: A Criança em Ruínas (2001), A Casa, a Escuridão (2002) e Gaveta de papéis (2008). Impregnada de conceitos e reflexões universais sobre a vida e a morte, a filiação, a memória ou a reflexão sobre o tempo, a obra deste autor apresenta-se na esteira de José Saramago ou de Lobo Antunes, dado o poder universal e humanista que lhe é reconhecido.
Escritor de romances, contos, poemas e letras de músicas para horizontes musicais tão diversos como o são o fado e a música heavy metal portuguesa, J. L. Peixoto presenteia-nos com uma poesia nova, cosmopolita e por vezes desconcertante.
De mãos dadas com a prosa lírica dos romances que escreve, a poesia de Peixoto é um espaço de escrita do “eu”, onde a memória desempenha um papel fundamental.
O estudo da obra poética de J. L. Peixoto permitir-nos-á um olhar mais atento não só sobre as novas temáticas e formas de construção poética, mas também sobre os caminhos e a evolução da poesia contemporânea em Portugal.
Além do Alentejo, Lisboa assume-se como um espaço de reflexão sobre a pertença do “eu” no espaço familiar e locais geograficamente distantes como Estocolmo ou Paris são também espaços privilegiados do desenrolar das narrativas e da relação poética entre as personagens, a memória e a construção do “eu”.
Na poesia, as cidades ocupam um lugar peculiar: São Francisco, Estocolmo, Praia, Coimbra, Porto, Budapeste ou Rio de Janeiro figuram como fotografias feitas de palavras onde as emoções do autor se projetam nos espaços visitados através dos objetos, das lembranças e dos sentimentos.
O estudo do espaço na obra de Peixoto permitir-nos-á uma reflexão sobre a relação entre o espaço e a identidade do “eu” poético, entre a origem, a memória e o sentimento de imensidão eterna que a paisagem do Alentejo representa.
Palavras-chave: alegoria; José Luís Peixoto; trágico; fantástico; realismo mágico.
Recuando à juventude de Pessanha, apercebemo-nos, no entanto, da existência de um projecto literário que envolveria prosa e poesia. A prosa chamar-se-ia Solidões e seria constituída por contos que retratariam, no dizer do autor, “estados de espírito” traduzidos em “impressões rápidas”.
Os contos seriam uma forma de apreender o fugaz, as pequenas solidões individuais e que se declinam em histórias curtas pautadas pelo instante que marca a vida de uma personagem e, desta forma, teriam uma relação com a poesia que completaria o projecto. Apesar de o autor nunca ter concretizado tal empresa, podemos observar que os contos que publicou em periódicos da época respondem a este critério, mas revelam também outros aspectos da sua personalidade literária.
Assim, é visível o pendor lírico da sua prosa, nomeadamente, no trabalho minucioso na escolha das palavras e o cuidado estético com certos recursos de estilo, mas também nos é dado a conhecer um pendor político e empenhado que distancia, em muito, a prosa da poesia do autor.
Esta vertente política revela uma mundividência muito particular ao autor, uma consciência da sociedade portuguesa no final do século XIX que nos permite compreender os seus ideais marcadamente republicanos e traços de um retrato ainda que a preto e branco, dessa sociedade finissecular.
Acresce a esta tendência política uma clara presença do autor no seu texto que se faz sentir nas múltiplas intromissões do autor feitas na primeira pessoa, introduzindo comentários às cenas narradas, dúvidas e impressões que desvendam, aos olhos do leitor, as etapas de um escritor em construção.
C’est dans le mélange donc d’héritages littéraires, nous pensons ici plus particulièrement aux héritages du fantastique et du réalisme magique, que le surnaturel s’installe au sein des romans de cet auteur. L’écriture de soi s’avère être dans le cadre des romans analysés un terrain favorable à la construction d’univers étranges, surtout dans Sans un regard et Une maison dans les ténèbres, où règne l’onirique et où la pente fantastique est indéniable. Il s’avère que le terrain de l’écriture à la première personne, notamment l’autofiction, est un espace de liberté, car l’alliance entre l’écriture de la mémoire et l’imagination permet la naissance de récits comme ceux de Peixoto, et nous ne sommes pas très éloignés d’une sorte d’autofiction fantastique, comme le suggère Vincent Colonna.
Le registre onirique réunit à la fois le récit de rêve et la fiction de soi, notamment en permettant la création d’alter-egos de l’écrivain, tout en créant des univers déroutants où d’étranges créatures côtoient les personnages plus réalistes. Il s’agit ici de repousser les barrières de l’invraisemblable et d’aller chercher dans l’inhumain la part de soi qui réside dans l’Autre.
La présence du surnaturel dans les écrits de Peixoto est une caractéristique importante de ses textes, car elle permet d’exprimer une crise de valeurs, puisque la recherche métaphysique sur l’homme et sur Dieu révèlent les inquiétudes vécues dans les sociétés contemporaines. Venu de l’Alentejo, Peixoto exprime peut-être, par ce recours à la tonalité fantastique, la peur de voir disparaître le monde de son enfance : les personnes, les traditions orales et les légendes. Les éléments étranges, miroirs de la réalité, expriment ainsi l’inquiétude face à la disparition des valeurs et d’une certaine société rurale qui ne peut résister à la modernisation du Portugal et à la désertification des régions de l’intérieur. Ce Portugal qui ne sait pas ou ne veut pas conjuguer tradition et modernité, veut nier son isolement et essaye de se construire dans une projection plus européenne, cosmopolite et forcément moins rurale.
Le surnaturel explique le besoin de dépasser les discours courants et de montrer que le réel est bien plus complexe que la vision linéaire et déterminée que l’histoire officielle semble avoir imposée. Les phénomènes aussi étranges qu’invraisemblables, mis en scène dans l’œuvre de José Luís Peixoto, montrent justement l’impossibilité pour l’être humain à comprendre toutes les dimensions de la réalité.
No caso dos escritores que me proponho estudar - José Luís Peixoto na sua obra romanesca e Dulce Maria Cardoso, especialmente no romance O Retorno -, a memória é não só uma espécie de motor da escrita mas também um instrumento a mais na busca da sua identidade.
A língua desempenha um papel fundamental na reconstituição desta busca tão íntima do ser. É através dela que se materializa a memória frequentemente fragmentada.
Aliada a processos de fabulação, a escrita de si em José Luís Peixoto e em Dulce Maria Cardoso acaba por tocar também de forma profunda os elementos simbólicos que constituem o imaginário português. Na busca da sua identidade, o Eu e o Outro confundem-se. O Outro sendo muitas vezes uma espécie de Eu coletivo, o Nós dos portugueses.
Dramaturgo bissexto, o romancista e poeta José Luís Peixoto consegue concentrar na peça de teatro Estrangeiras uma grande parte do questionamento que a palavra lusofonia suscita no dia-a-dia, não só dos falantes de língua portuguesa, mas também dos estudiosos deste universo e mormente nos professores de português espalhados pelo mundo afora.
Ao encerrar as três personagens da peça numa sala de um aeroporto nos Estados Unidos da América, o escritor coloca o leitor e, sobretudo, o espectador face ao facto de que a língua portuguesa funciona amiúde mais como agente de estranhamento entre os povos ditos lusófonos do que como um factor de união, como se procura afirmar quando se defende a existência desta dita comunidade lusófona.
Isabella, a personagem brasileira, Lili, a personagem cabo-verdiana e Rosário, a personagem portuguesa, obrigadas a comunicar por se encontrarem numa situação complexa, exprimem em diálogos curtos e, por vezes, cómicos, toda a dificuldade de concretização desse conceito abstrato que é a lusofonia. Não é a língua o único fator que dificulta a comunicação das personagens, mas igualmente a imagem – ou a sua completa inexistência – que cada uma tem em relação ao país das outras, as referências culturais de cada uma e os preconceitos acumulados ao longo da história dos respetivos países.
O confinamento ocasionado pela situação da peça acaba por aproximar as personagens e fazê-las unirem-se ironicamente não por falarem, em teoria, a mesma língua, mas porque face ao problema da emigração e do ponto de vista das autoridades, fazem parte de uma massa de anónimos que, no caso das três personagens, acabam por se entender e se reconfortar mutuamente.
O ténue fio de humor com que se conduz a peça permite observar as contradições que suscita a noção de lusofonia, incluindo os inúmeros problemas históricos que a mesma levanta, nomeadamente o fantasma do colonialismo.
Destarte, o presente trabalho analisará como a literatura pode contribuir para o debate sobre a noção de lusofonia, assim como as diversas questões associadas a este conceito, entre elas, a utopia do projeto lusófono, a questão linguística e as questões institucionais.
Evocar a lusofonia como objeto de ensino acarreta inúmeras dificuldades para o professor que tem de compreender e ensinar um conceito tão amplo como o pode ser a lusofonia e abrir a porta da sala de aula a uma realidade que implica uma carga ideológica que ultrapassa o ensino da língua estrangeira.
Não se pretende com este trabalho definir o que é a lusofonia ou entrar no debate sobre a sua real existência e possível concretização no mundo da língua portuguesa. Pelo contrário, parte- se do princípio que a lusofonia faz parte, efetivamente, dos encantos da língua portuguesa e que um futuro falante da mesma terá muito a ganhar quanto mais conseguir compreender e dominar as particularidades intrínsecas deste universo.
Este trabalho explorará algumas razões para o estudo da lusofonia na sala de aula, procurando refletir sobre o papel do professor de PLE desde a sua formação académica até às estratégias de ensino da lusofonia. Nele serão analisadas as principais dificuldades encontradas pelo professor de PLE no que concerne à desconstrução de preconceitos e estereótipos – os seus e os dos aprendentes -, assim como à valorização individual das culturas dos diferentes países lusófonos, defendendo-se que o estudo das culturas lusófonas numa perspectiva ampla e contemporânea permite pensar o futuro da língua portuguesa e do seu ensino.
A chegada a um novo país ocasiona um estranhamento e uma consequente necessidade de compreensão dos comportamentos locais e da organização social. A literatura oferece algumas pistas de reflexão sobre as atitudes que determinam a forma de estar de um povo, assim como os códigos necessários para compreender o funcionamento de uma sociedade.
A dimensão filosófica na criação literária macaense concretiza-se nos detalhes antropológicos e históricos sobre a China nos contos de Deolinda da Conceição e sobre Macau nos contos e romances de Henrique de Senna Fernandes, assim como nos inúmeros comentários de ordem ética e sociológica dos narradores e/ou intromissões dos autores no texto.
A leitura destes dois autores serve-me de janela para a observação dos códigos da sociedade chinesa tradicional (a posição da mulher na sociedade, os rituais sociais, as superstições), assim como a observação das especificidades de Macau, nomeadamente no que diz respeito à convivência (ou indiferença) entre as comunidades chinesa, macaense e portuguesa que partilham o território geográfico de Macau há tantos séculos.
Le récit de filiation matérialise aussi une espèce de pulsion double de l’auteur, entre fiction et imagination, pulsion que nous observons dans le croisement de genres littéraires divers dans son œuvre. L’écriture de soi s’avère être un espace de liberté pour le romancier, puisqu’il se sert de l’autobiographie ou encore de certains aspects de l’autofiction innovant à partir de genres et de procédés stylistiques divers. C’est ainsi que nous retrouvons une confluence de lectures diverses et l’actualisation de genres comme le conte traditionnel, le conte philosophique, le fantastique, le réalisme magique, le tragique, qui se croisent avec des éléments autobiographiques et une vision très pointue de la société portugaise en particulier et de l’être humain en général, typiques de l’écriture de soi et qui finissent par se mêler avec la culture populaire alentejaine.
Mais le récit de filiation chez Peixoto l’est aussi dans la mesure où il se positionne en tant qu’héritier de toute une tradition littéraire occidentale et donc l’inventivité de l’auteur vient aussi de la combinaison inédite de certains apports qui n’étaient pas nécessairement faits pour se rejoindre et qui surgissent dans le texte comme une réponse à l’époque contemporaine. Le dialogue avec la tradition littéraire se fait alors par le biais des multiples intertextes – portugais et internationaux –, mais aussi par des procédés tels le pastiche, la mise en abyme ou encore la métalepse de l’auteur.
Partant de l’analyse du rapport entre écriture de soi et récit de filiation, je m’intéresserai à la mise en scène des rapports entre pères et fils, notamment à partir de la question du nom, de la transmission des savoirs et de la mémoire, ainsi que des liens entre la tradition littéraire et l’œuvre de l’auteur.
É nesta perspetiva que analisaremos os romances Livro (2010), Galveias (2014) e a novela Em teu ventre (2015). Destacando-se de outros autores da sua geração, a prosa de José Luís Peixoto ecoa a voz de um país profundo, cheio de tradições e de contradições. É esse país que se delineia através das três narrativas citadas e que se conta nas entrelinhas das ficções do autor. Ao trazer para a cena literária a voz profunda do seu país natal, Peixoto cria uma espécie de autobiografia de Portugal e dos portugueses.
Por outro lado, a escolha do país é a forma encontrada pelo autor de viver a sua aventura quixotesca, dado que o exílio momentâneo na Coreia do Norte, corresponde a um desejo profundo de busca de si e o encerramento numa sociedade tão fechada é uma forma de se descobrir e de descobrir a sua pertença ao pequeno retângulo pintado a amarelo no globo terrestre encontrado numa escola coreana. A referência a D. Quixote não é gratuita, dado que o livro, escondido numa mala, acompanha o autor ao longo da viagem e será o ponto de partida para uma reflexão sobre a realidade vivida e a realidade retórica do regime de Pyongyang.
A poesia contemporânea, desempossada do seu caráter nacionalista e do seu cunho social e politicamente comprometido que se revelou de extrema importância durante o período da ditadura, adquiriu um outro estatuto e revestiu-se de nova importância.
A entrada na União Europeia a partir da década de 80 e a abertura de Portugal ao mundo na atualidade contribuíram para que assistíssemos a uma desconstrução dos modelos considerados clássicos e a uma maior liberdade na criação poética que, se por um lado abre mais possibilidades à criação e à linguagem poéticas, por outro torna mais difícil a categorização e a definição de características específicas da poesia contemporânea portuguesa.
É neste contexto que surge a obra poética de José Luís Peixoto, atualmente, um dos autores consagrados da Língua Portuguesa: A Criança em Ruínas (2001), A Casa, a Escuridão (2002) e Gaveta de papéis (2008). Impregnada de conceitos e reflexões universais sobre a vida e a morte, a filiação, a memória ou a reflexão sobre o tempo, a obra deste autor apresenta-se na esteira de José Saramago ou de Lobo Antunes, dado o poder universal e humanista que lhe é reconhecido.
Escritor de romances, contos, poemas e letras de músicas para horizontes musicais tão diversos como o são o fado e a música heavy metal portuguesa, J. L. Peixoto presenteia-nos com uma poesia nova, cosmopolita e por vezes desconcertante.
De mãos dadas com a prosa lírica dos romances que escreve, a poesia de Peixoto é um espaço de escrita do “eu”, onde a memória desempenha um papel fundamental.
O estudo da obra poética de J. L. Peixoto permitir-nos-á um olhar mais atento não só sobre as novas temáticas e formas de construção poética, mas também sobre os caminhos e a evolução da poesia contemporânea em Portugal.
Além do Alentejo, Lisboa assume-se como um espaço de reflexão sobre a pertença do “eu” no espaço familiar e locais geograficamente distantes como Estocolmo ou Paris são também espaços privilegiados do desenrolar das narrativas e da relação poética entre as personagens, a memória e a construção do “eu”.
Na poesia, as cidades ocupam um lugar peculiar: São Francisco, Estocolmo, Praia, Coimbra, Porto, Budapeste ou Rio de Janeiro figuram como fotografias feitas de palavras onde as emoções do autor se projetam nos espaços visitados através dos objetos, das lembranças e dos sentimentos.
O estudo do espaço na obra de Peixoto permitir-nos-á uma reflexão sobre a relação entre o espaço e a identidade do “eu” poético, entre a origem, a memória e o sentimento de imensidão eterna que a paisagem do Alentejo representa.
A ubiquidade da informação em suas diversas formas torna a leitura no principal meio de difusão de informações, todavia, constata-se um declínio na leitura de materiais mais longos e para fins recreativos e de fruição.
Esta apresentação consiste no relato de uma experiência de introdução de textos de uma literatura estrangeira a membros desta geração acima referida e procura responder à indagação: seria possível usar a leitura de textos literários como um instrumento eficaz na aprendizagem de uma língua para um público que tem pouca familiaridade com esta atividade?
A experiência realizada na aula de "Leitura e escrita" sobre o estudo do conto A fada Oriana, de Sophia de Mello Breyner Andresen, com os alunos do 1º ano do curso de Licenciatura em Português possibilitou o levantamento de algumas hipóteses sobre a questão.
O modelamento de estratégias metacognitivas (Kleiman, 2000) e o seguimento de uma série de princípios de orientação para a leitura em segunda língua (Farrell, 2003) foram algumas das estratégias adotadas para levar a cabo as atividades afastando-nos de concepções de abordagem textual mais tradicional às quais os alunos por ventura pudessem estar condicionados.
Dentre as conclusões depreendidas encontramos evidências de que a adaptação do conteúdo e das atividades ao gosto, cultura e nível de conhecimento dos aprendentes é fundamental para o êxito da aprendizagem da leitura.
Nesta apresentação debruçar-me-ei principalmente sobre as disciplinas que se intitulam “leitura intensiva” ou “leitura extensiva”, frequentemente constantes do currículo universitário chinês.
Começarei por apresentar as dificuldades na definição exata do tipo de atividades que se espera serão feitas em cada uma dessas disciplinas e no que as diferencia umas das outras. Pude constatar que o discurso vigente entre os professores diverge bastante da definição teórica encontrada na literatura específica.
Em seguida, relatarei como, ao adotar uma metodologia mais próxima às raízes teóricas, pude desenvolver com êxito um semestre na disciplina leitura extensiva no IPM.
Desta forma, esta apresentação procurará responder a indagações comuns aos professores de PLE tais como: como incentivar os alunos a ler e, sobretudo, a usarem a leitura como um instrumento eficaz na aprendizagem de uma língua? O que se pretende ensinar numa disciplina chamada “leitura extensiva”? Como distingui-la da “leitura intensiva”? Como preparar aulas de leitura extensiva? Que tipos de textos selecionar? Como organizar a aula? Como motivar os alunos para a leitura?
Abordarei ainda o tema do abismo que pode existir entre as expectativas de um professor e as dos seus aprendentes. Ainda que o objetivo de um seja ensinar e do outro aprender a língua estrangeira em questão, o choque cultural entre as perspectivas ocidental e oriental mostrou-se flagrante na experiência pedagógica levada a cabo.
Nesta apresentação concentrar-me-ei no trabalho efetuado nas disciplinas que se intitulam “leitura intensiva” e “leitura extensiva”, tradicionalmente presentes no currículo universitário chinês. Desta forma, apresentarei as dificuldades na definição e distinção do tipo de atividades que devem ser feitas em cada uma destas disciplinas, tendo em conta as teorias relacionadas com o ensino da competência da leitura nas duas modalidades estudadas e as divergências no discurso e opções metodológicas dos professores.
Ao descrever a minha experiência pedagógica, procurarei responder a algumas questões frequentes no ensino da competência da leitura em língua estrangeira: como incentivar os alunos a ler e, sobretudo, a usarem a leitura como um instrumento eficaz na aprendizagem de uma língua? O que se pretende ensinar numa disciplina chamada “leitura extensiva” ou “leitura intensiva” ? Como distingui-las? Como motivar os alunos para a leitura?
Na apresentação das conclusões, abordarei ainda o uso do texto literário no ensino de línguas estrangeiras, a questão da seleção dos conteúdos a ensinar, assim como a gestão das expectativas de um professor e as dos seus aprendentes, nomeadamente em situação de choque cultural.
É, portanto, essencial que se adapte o conteúdo a ser ensinado ao público-alvo levando em consideração as suas particularidades e especificidades linguísticas e histórico-culturais.
Desta forma, esta apresentação procurará refletir sobre o ensino da competência da leitura em aulas de língua estrangeira e, neste caso específico, no português língua estrangeira (PLE) e responder a questionamentos comuns aos professores de PLE tais como: como incentivar os alunos a ler e, sobretudo, a usarem a leitura como um instrumento eficaz na aprendizagem de uma língua? O que se pretende ensinar numa disciplina chamada “leitura extensiva”? Como preparar aulas de leitura extensiva? Que tipos de textos selecionar? Como organizar a aula? Como motivar os alunos para a leitura?
A resposta a estas questões permitirá perceber o abismo que pode existir entre as expectativas de um professor e as dos seus alunos. Destarte, esta apresentação consistirá também no relato de uma experiência de introdução de textos da literatura em língua portuguesa na aula de língua e procurará responder à pergunta: é possível usar a leitura de textos literários como um instrumento eficaz na aprendizagem de uma língua para um público que tem pouca familiaridade com esta atividade?
As peculiaridades narrativas de um texto, bem como a sua lógica intrínseca – aparentemente evidentes para um falante de língua materna – contêm muito da lógica cultural e histórica de um povo, o que constitui ao mesmo tempo dificuldade e desafio para os novo-aprendentes da língua portuguesa.
Por essa razão, muitos alunos abraçam o desafio trazido pelas leituras na língua estrangeira, na esperança de encontrar os traços distintivos do que é ser português ou brasileiro, os modos de pensar de um angolano ou de um moçambicano; procuram uma nova realidade, os elementos simbólicos e implícitos do que é ser lusófono e que poderão aprender a desvendar.
No entanto, outra possibilidade menos explorada do uso da leitura em LE, e sobre o qual nos concentraremos nesta comunicação, é a descoberta da visão que o outro tem a nosso respeito, ou seja, que visões imperam na cultura que se deseja alcançar sobre aquela da qual se faz parte.
Através da análise de contos lusófonos que colocam em cena personagens chinesas ou situações de contacto entre personagens chinesas e lusófonas analisaremos como os estudantes reagem às personagens e situações descritas e em que circunstâncias pode haver identificação ou estranhamento. Procuraremos analisar se a linguagem literária do conto e o poder de mediação cultural da narrativa produzem o mesmo impacto quando se trata de ler o Eu na língua do Outro.
Assim, este trabalho pretende mostrar, através do relato de experiências em sala de aula, como a leitura de contos favorece o desenvolvimento das competências de leitura e, de caminho, o diálogo entre as línguas e as culturas portuguesa e chinesa.