Papers by Francisco W L Cavalcante
As discussões sobre utopia, costumeiramente, partem da obra que deu origem a essa palavra: Utopi... more As discussões sobre utopia, costumeiramente, partem da obra que deu origem a essa palavra: Utopia, de Thomas More, no mesmo molde de enredo d’A cidade do sol, de Tommaso Campanella, e Nova Atlântida, de Francis Bacon – o relato de viagem a uma ilha “perfeita”. A esse debate junta-se o da distopia, termo criado nas primeiras décadas do século XX, pelo editor J. Max Patrick, que seria o oposto da utopia. Os estudos sobre o tema, no entanto, vão muito além dessas obras, e permitem diálogo com a literatura distópica, incluindo os gêneros a ela relacionados, como a ficção científica e a pós-apocalíptica, agregando narrativas que fogem ao enredo do relato de viagem, comumente apontado como o gênero literário utópico por excelência. Assim, o estudo das concepções de utopia, e das representações utópicas ou distópicas, incluindo as literárias, é possível em narrativas as mais distintas. Nesta pesquisa, propomos uma análise dos romances Ensaio sobre a cegueira (1995) e Ensaio sobre a lucidez (2004), do escritor português José Saramago (1922-2010), a partir da utopia. O Ensaio sobre a cegueira defende a organização como uma experiência ainda não vivida – essa é sua utopia; é a personagem “mulher do médico” que permite os deslocamentos dessa busca. Nesse romance, as personagens são desafiadas a imaginar outro mundo, o qual se contrapõe radicalmente ao mundo conhecido. Nos dois livros, são apresentados os valores fundamentais da nova sociedade. Esses romances dialogam muitas vezes, quando questionam a suposta organização e os modelos supostamente democráticos em que vivemos, mostrando que ainda não nos organizamos e que ainda não vivenciamos a democracia, pois, no Ensaio sobre a lucidez, essa sociedade “democrática” é representada como uma distopia. Ao negar-se a imaginar um novo mundo como fizeram os utopistas projetistas, que desenhavam milimetricamente suas propostas de sociedade, Saramago não tinha outra saída senão escutar, e converter para nós em suas ficções, os sons imprecisos do futuro.
Este artigo teve como objetivo analisar o perfil de Alberto Soares, personagem central da obra Ap... more Este artigo teve como objetivo analisar o perfil de Alberto Soares, personagem central da obra Aparição, do escritor português Vergílio Ferreira, baseando-nos nos conceitos de angústia, desamparo e desespero da filosofia existencialista, propostos por Jean-Paul Sartre no livro O existencialismo é um humanismo (2012). Para realizamos essa análise, recorremos, principalmente, a obras de pensadores que se enquadram na filosofia existencialista, como Søren Aabye Kierkegaard (2011), Arthur Schopenhauer (2010), Friedrich Wilhelm Nietzsche (2005, 2012) e, principalmente, Jean-Paul Sartre (2012). Após aprofundarmos os estudos referentes a essa base teórica, iniciamos uma análise interpretativa da personagem-foco do estudo, tendo como base os mencionados conceitos. Os resultados obtidos mostram-nos que Alberto representa claramente os conceitos de angústia, desamparo e desespero. Quanto à angústia, mostra-se ciente de que, assim como exposto por Sartre (2012) – retomando este filósofo as ideias de Kierkegaard (2011) –, o ser humano é responsável por si e também pelo gênero humano. Quanto ao desamparo, retrata fielmente a ideia da necessidade de Deus apenas como superação, posto que Alberto é ateu e crê que deve ser o Homem o único responsável por suas escolhas e atos. Por fim, quanto ao desespero, Alberto não se intimida diante das possibilidades de sua existência; em vez disso, convive bem com a procura incessante por escolhas que lhe sejam agradáveis e com a incerteza inerente à existência. Concluímos, diante disso, que os conceitos estudados são perfeitamente aplicáveis à personagem analisada, daí resultando poder ser ela – como sugerido no título desse artigo – caracterizada como um perfil existencialista.
Ao ingressarem na universidade, muitos estudantes deparam-se com expressões que lhes amedrontam ... more Ao ingressarem na universidade, muitos estudantes deparam-se com expressões que lhes amedrontam em sua produção escrita – entre elas, gêneros acadêmicos. Intentando permitir uma introdução à leitura e à produção desse tipo de texto, a disciplina Leitura e Produção de Textos Acadêmicos, ofertada pelo Curso de Letras da Universidade Federal do Ceará (UFC), busca colocar os aprendizes em contanto com diversos gêneros acadêmicos, dos quais o primeiro é o resumo. Na disciplina, é permitido aos estudantes, com o auxílio de uma equipe composta por quatro monitores, a revisão de suas produções escritas. O objetivo deste estudo, assim, foi avaliar a revisão feita pelos estudantes em seus resumos, verificando se, com o auxílio da monitoria, eles obedeceram aos movimentos retóricos básicos desse gênero, a saber: 1. Situar a pesquisa; 2. Apresentar a pesquisa; 3. Descrever a metodologia; 4. Sumarizar a pesquisa; e 5. Discutir a pesquisa. Como corpus, utilizamos os resumos (versões anteriores e posteriores à revisão) produzidos e cedidos voluntariamente por alguns estudantes. Para subsidiarmos nossas análises, recorremos a estudos de pesquisadores que se debruçaram sobre o gênero acadêmico resumo, como Araújo (1999), Ferreira (2011), Fonseca (2009) e Biasi-Rodrigues (1998). Os resultados obtidos nos mostram que a maior dificuldade dos estudantes é organizar corretamente os movimentos retóricos – em alguns casos, há dificuldade mesmo em obedecer a esses movimentos. Contudo, apontamos como positiva a atividade da monitoria, posto que, através das revisões, os estudantes fizeram muitas alterações satisfatórias – e que, na construção desse savoir-faire, a revisão e a reformulação são extremamente importantes.
O objetivo deste estudo é analisar as obras Ensaio sobre a cegueira (1995) e O homem duplicado (... more O objetivo deste estudo é analisar as obras Ensaio sobre a cegueira (1995) e O homem duplicado (2002), de José Saramago – doravante referidas, respectivamente, pelas siglas ESC e HD –, intentando destacar as características do homem pós-moderno e a configuração de sua identidade. Para as reflexões desta pesquisa, recorremos a obras de alguns estudiosos que se debruçaram sobre a pós-modernidade, como Bauman (1999, 2001, 2005), Hall (2006) e Kujawski (1991). Após discussão sobre esses estudos, realizamos uma análise interpretativa das obras de Saramago.
Quando, em 1975, José Saramago (1922-2010) perdera seu emprego no Diário de Notícias e vira-se... more Quando, em 1975, José Saramago (1922-2010) perdera seu emprego no Diário de Notícias e vira-se forçado a tomar a “grande decisão” de sua vida: tornar-se escritor, contava já quase sessenta anos, e certamente não imaginava que se firmaria como um dos grandes romancistas do século XX. Cultivando de forma particular os gêneros e tendências artístico-culturais, descobriu, revisitou seu percurso literário e nos mostrou os movimentos de desenvolvimento de sua obra, que compreende, desde a primeira publicação – Terra do pecado (1947) –, até a última em vida – Caim (2009) –, mais de sessenta anos de produção. Num momento de extrema sinceridade, a 6 de maio de 1994, ele escreveu em seu diário, Cadernos de Lanzarote (1997), que “on vit pour dire qui on est” – “vivemos para dizer quem somos”. Essa necessidade de dizer quem ele é levou-o a afirmar constantemente que, em sua literatura, estão impressas as marcas de sua vida; e que o leitor, ao adentrar o universo ficcional do escritor, não procura ler o romance, mas o romancista. Este breve ensaio tem o intuito de refletir a respeito de sua obra e dialogar com o que nela há do próprio Saramago, com destaque para as “passagens” ficcionais e pessoais decisivas dessa trajetória.
O processo criativo de Ensaio sobre a cegueira - parte I: o ano de 1993
El proceso creativo de En... more O processo criativo de Ensaio sobre a cegueira - parte I: o ano de 1993
El proceso creativo de Ensayo sobre la ceguera - parte I: el año de 1993
O objetivo do presente artigo foi observar e analisar a perda dos valores da sociedade contempora... more O objetivo do presente artigo foi observar e analisar a perda dos valores da sociedade contemporânea na obra Ensaio sobre a cegueira, do escritor português José Saramago. Essa obra, segundo o próprio autor, representa a perda da Razão de nossa sociedade, perda essa representada pelo símbolo da cegueira epidêmica. Baseando-nos no conceito de “liquidez” exposto por Zygmunt Bauman em Modernidade Líquida (2001), segundo o qual a sociedade, assim com os líquidos, é incapaz de manter a forma; de possuir instituições sólidas e construir valores que não sejam facilmente mutáveis, procuramos verificar, partindo da análise do referido Ensaio, como os indivíduos de tal obra de ficção vivem com a constante mudança desses valores. Concluímos que as personagens da obra Ensaio sobre a cegueira, como representantes dos indivíduos pós-modernos, refletem o atual estado da nossa sociedade. Esta sociedade – cujos indivíduos, influenciados facilmente por diversos fatores, como o consumismo exagerado e a exacerbação da individualidade, vivem inúmeros conflitos em suas relações – enquadra- se no já mencionado conceito de “liquidez” de Zygmunt Bauman, utilizado como base para a análise da obra em estudo.
Drafts by Francisco W L Cavalcante
RESUMO: Propomo-nos a tecer alguns comentários a respeito das pinturas sacras descritas no romanc... more RESUMO: Propomo-nos a tecer alguns comentários a respeito das pinturas sacras descritas no romance Ensaio sobre a cegueira (1995), do escritor português José Saramago (1922-2010), discutindo o reconhecimento das dezoito personagens bíblicas e/ou católicas e das cenas descritas.
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El proceso creativo de Ensayo sobre la ceguera - parte I: el año de 1993
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