Acciaiolis Acciolis No Brasil. Doria
Acciaiolis Acciolis No Brasil. Doria
Acciaiolis Acciolis No Brasil. Doria
Acciaiolis no Brasil
Bingen
2007
c Francisco Antonio Doria 2001, 2006, 2007
Versão mais recente: junho de 2007
c Francisco Antonio Doria, Cássia Albuquerque e Fábio Arruda de Lima
The family which had settled here, round the central tower, in the eleventh
century, was called Acciaiuoli, and from here its members had set out, in the
thirteenth century, to conquer, first Malta, and then Corinth and Athens; in
which two cities they had reigned for a century and more. Their chief
residence was the castle they had built of antique fragments upon the Acropolis
at Athens, and the ruins of which continued to stand there until the beginning
of the last century. They, doubtless, were the Dukes of Athens in whose realm
Shakespeare laid the scene of A Midsummer Night’s Dream. They possessed,
too, a castle upon the Acropolis at Corinth, and the skeleton of this crumbling
rock fortress still rose above the cliff when last I saw Corinth, in 1935.
1 De Florença à Madeira.
I. Gugliarello Acciaioli venne a Firenze da Brescia l’anno MCLX.2
É o que está escrito no retrato idealizado que o marquês Antonfrancesco
Acciaioli Torriglione d’Ancona fez pintar, no século XVIII, para figurar o tronco
e primeiro ancestral conhecido de sua famı́lia, e que hoje se acha num dos
apartamentos para hóspedes da Certosa de Florença, aquele onde estiveram
prisioneiros os papas Pio VI e Pio VII.
Gugliarello Acciaioli é citado, segundo Litta, numa escritura de 1237, na qual
1 Giambattista Ubaldini, Istoria della Casa degli Ubaldini., Florença, 1588.
2A fonte principal italiana para a ascendência de Simone Acciaioli, ou Simão Achioli,
o primeiro membro da famı́lia a passar à Madeira, é a genealogia de Litta [88]. Na ilha
da Madeira, a fonte é o Nobiliário de Noronha [104], além do livro de Menezes Vaz [92]; no
Brasil, sobretudo a Nobiliarquia Pernambucana [36], mas também o livro de Venusia de Barros
Mello [29], que descreve alguns ramos em Alagoas, ou o livro de Orlando Vieira Dantas, onde
comparecem os Acciolis de Sergipe [51], além de genealogias manuscritas, fontes documentais
e, claro, a tradição oral, sempre muito escorregadia. Sobre os Acciaiolis em geral, um livro mais
recente, apaixonado [129], do Conde della Berardenga, e um estudo que discute seu fracasso
polı́tico no momento em que o controle de um estado fica a seu alcance [59]; outras referências
sobre os Acciaiolis em Florença, sua atividade comercial e sua importância histórica, são [23]
[81].
1
2 Francisco Antonio Doria
se vendem bens da famı́lia Giandonati, e se falam dos confins dos bens de Ric-
comanno, filho de Gugliarello. A tradição mais antiga afirma haver Gugliarello
Acciaioli chegado a Florença em 1160 ou 1161, vindo de Brescia, de onde teria
fugido devido às perseguições de Frederico Barbarroxa (que então invadia o norte
da Itália), por ser Gugliarello de partido guelfo. Era com certeza mercador, e
ao que parece já banqueiro, e membro da Arte del Cambio, da corporação dos
banqueiros e cambistas em Florença. Era também popolano, ou seja, de origens
plebéias, nunca nobres.
Seu apelido, segundo a legenda familiar, derivar–se–ia de acciaio, “aço.”
Brescia e Bergamo eram centros importantes de comércio e indústria do aço,
o aço bergamasco, e é de fato possı́vel que do envolvimento com este comércio
derive–se o nome “Acciaioli.” “Gugliarello” inclusive parece uma alcunha rela-
cionada a acciaio ; pois o nome lembra guglia, “agulha.”
Mas outra tradição igualmente antiga sugere que o nome Acciaioli na verdade
se originaria de accia, “meada.” Denotaria uma origem igualmente burguesa,
mas mais modesta, obscura, para esta famı́lia: seriam autóctones da Toscana,
e cardadores de lã enriquecidos. Plausı́vel, talvez mais que a lenda da origem
numa famı́lia de armeiros, pois desde seu surgimento na história estão os Ac-
ciaiolis ligados à Arte di Calimala, a guilda dos mercadores de lã.
Sabe–se que Gugliarello Acciaioli comprou terras no Val di Pesa, em Mon-
tegufoni (“morro dos corujões”), onde fez construir uma torre fortificada, La
Gugliarella, que ainda existia em 1588. Talvez a torre, alta e fina, haja dado o
nome a seu proprietário e construtor, ou talvez o contrário haja acontecido.
Dizem que Gugliarello Acciaioli já usava das armas dos Acciaiolis,
De prata, com um leão de azul, armado e linguado de vermelho,
e que estas armas viriam das armas idênticas de Brescia.3
Sua mulher pode ter pertencido à famı́lia Riccomanni (porque Riccomanno
é o nome de um seu filho). Os Riccomanni eram uma famı́lia de banqueiros
guelfos, algo obscura, também datando do século XII [85], e depois participando
do popolo grasso no século XIII, em 1274.4
Dois filhos conhecidos:
1. Riccomanno Acciaioli, que segue;
2. Messer Leone Acciaioli, talvez doutor em leis e um dos juı́zes da comuna.
Foi ancestral dos Acciaiolis de Lucignano, que residiam naquele povoado
junto a Florença, e que se extinguiram em 1820, com a morte de Antonio
Maria Acciaioli, cônego da Sé florentina, último do seu ramo.5
3 Parece mais plausı́vel que tais armas, com um leão, que também estava nas armas da Parte
Guelfa—derivadas das armas da casa alemã dos Welf—ressalte a origem popular, plebéia, dos
Acciaiolis, assim como as pı́lulas dos Medici (“médicos”) indicavam seu primitivo ofı́cio de
boticários e médicos. Documentadamente, só vemos as armas dos Acciaiolis representadas a
partir da segunda metade do século XIII, ou seja, um século após Gugliarello.
4 O nome Riccomanno ou Riccomagno, significaria “rico e magnânimo.” Mas pode também
mente todos os autores o colocam nesta exata posição, na árvore dos Acciaiolis, de modo que
assim o mantemos.
9 Divisões medievais de Florença.
10 Como, novamente, um de seus filhos se chamava Guidalotto, talvez fosse sua mulher dos
Guidalotti ou dos Guidalotti di Balla. (Ou seria uma Pucci, já que entre os filhos de Acciaiolo
Acciaioli está um Puccio Acciaioli ?)
11 Como dissemos, aparece [128] um personagem, colocado na geração anterior, com o nome
de Leone di Riccomanno; aqui seguimos Litta, no entanto, e supomos que Leone di Ricco-
manno fosse outro membro da famı́lia. Associado e lı́der da Parte Guelfa, lutou em 1259 para
expulsar os gibelinos de Florença; foi então juiz, e no ano seguinte, em 1260, esteve na derrota
dos guelfos em Montaperti, junto com seu irmão Puccio. Seus bens foram queimados pelos
gibelinos—incluindo–se o Palazzo Acciaioli, no Borgo de’ S. S. Apostoli, e sua famı́lia se viu
expulsa de Florença. Voltaram após 1274. Documentos citados por Raveggi e outros [116]
mostram que os danos causados pelos gibelinos a seu palácio foram depois indenizados com a
soma de 100 liras.
12 Este túmulo, uma grande lápide de mármore tendo em seu centro o leão dos Acciaiolis,
aqui por ser messer Leone o único deste nome na presente geração. Simone di Leone é então,
ao que parece, o primeiro com um tal prenome entre os Acciaiolis; de geração em geração o
seu prenome se repetirá, até desembarcar, com Simone di Zanobi, na ilha da Madeira.
14 Foi neto (por bastardia) de um seu outro filho Niccolò o grande Nicola Acciaioli, filho
1. Dardanno Acciaioli. Seu nome, que é o do fundador de Troia, sugere que já
em fins do século XIII os Acciaiolis possuı́am interesses na Grécia. Mas seu
comércio principal se faz com a Tunı́sia, onde os florentinos já possuı́am
e ancestral de todos os Bourbons que descendem de Marie de Médicis e de Henrique IV de
França. Laudomia Acciaioli in Medici e seu filho Lorenzo foram protetores de Botticelli, e
para este Lorenzo di Pierfrancesco de’ Medici, Botticelli pintou a Celebração da Primavera;
Laudomia era filha de Iacopo Acciaioli e de sua mulher Costanza de’ Bardi, e neta de Donato
(a que nos referimos ao falar de Michele Acciaioli, à pág. 6), e de sua primeira mulher
Onesta di Carlo Strozzi.
Finalmente, primo–irmão de Laudomia in Medici foi o grande Donato Acciaioli, nascido
em 15.3.1428 em Florença, e falecido em Milão, onde chefiava uma embaixada florentina a
mando de seu amigo e parente o Magnı́fico Lorenzo de’ Medici, em 28.8.1478. Era filho de
Neri Acciaioli e de Elena, filha do grande Palla Strozzi, e neto de Donato, irmão do cardeal
Angiolo, e de sua segunda mulher Tecca di Gaggio de’ Giacomini di Poggio Tebalducci. Huma-
nista, traduziu as Vidas de Plutarco, às quais acrescentou uma biografia de Carlos Magno.
Comentou também a Fı́sica de Aristóteles. Morreu pobre, e seus filhos foram entregues à
tutela do Magnı́fico Lorenzo de’ Medici, e educados às custas da república.
A um deles, Roberto Acciaioli, amigo e protetor de Maquiavel, mas personagem sem
caráter, † em 1547 octogenário, concedeu Luiz XII de França, junto a quem serviu como
embaixador, um acrescentamento às suas armas, a flor–de–lis de ouro com uma coroa à antiga
à volta da pétala central, tudo sobre a espádua do leão. Este acrescentamento frequentemente
aparece nas armas dos Acciaiolis e Acciolis de Portugal e do Brasil, colaterais do ramo do
embaixador Roberto.
Mais detalhes sobre estes personagens podem ser encontrados na genealogia de Litta [88],
ou nos dois volumes do conde della Berardenga [129].
15 Estes Mancini do dugento em Florença eram guelfos, e aparecem nos documentos que
datam da primeira metade do século XIII. Participam ativamente do primeiro governo guelfo
em Florença, antes de Montaperti, havendo sido indenizados com um total de 1000 liras pelos
prejuı́zos sofridos durante o regime gibelino pós–1260. Guido Mancini, o Malabocca, é prior
diversas vezes depois de 1280, e seus parentes Rosso e Lapo di Guidotto Mancini, atestados
em cargos públicos em 1278, surgem pouco depois como titulares de uma casa bancária [116].
6 Francisco Antonio Doria
panos e tecidos de lã. Lando degli Albizzi foi prior diversas vezes entre 1284 e 1299, e seu
filho Uberto ou Berto esteve entre os cônsules da Arte di Calimala [116].
Acciaiolis no Brasil 7
Esteve Michele entre os priores ainda em 1402 e em 1409, quando foi podestà
de San Gemignano, e prometeu ao governo de Florença manter o castelo–
fortaleza de Montegufoni, pertencente aos Acciaiolis, sempre em obediência à
república.
Casou–se com Lisa di Paolo di Cino de’ Nobili. Pais de:
Madeira.
18 Seria 1479?
8 Francisco Antonio Doria
Dati a forma correta. Sendo os Dati, trata–se de uma famı́lia “nova,” isto é, que só aparece
no século XIV, com origens bastante modestas, mas que enriquece e assume uma posição de
proeminência em Florença no século XV, quando Gregorio Dati é feito prior (em 1425) e,
depois, gonfaloneiro (em 1429) [38]. O mesmo Gregorio Dati conta a história de sua famı́lia:
Sei de registros antigos que Dato e Piero di Bencivenni eram pequenos comer-
ciantes com uma loja no Ponte Vecchio junto dos peixeiros; esta lojinha foi
destruı́da na enchente de 1333. Parece que Dato teve vários filhos, dos quais o
mais velho, Stagio, nasceu em 9 de Março de 1317. Sua mãe se chamava Monna
Filippa. De acordo com os registros de Stagio, ele se casou com minha mãe,
Monna Ghita, no ano de . . . , oferecendo–lhe um anel de noivado em 3 de Agosto
e celebrando–se o casamento em 4 de Novembro.
Descobri que Stagio se associou a Vanni di Ser Lotto Castellani em primeiro de
Janeiro de 1353, organizando–se a companhia com um capital de mil florins de
ouro [. . . ] Nasci em 15 de Abril de 1362 [. . . ]
Dati é patronı́mico de Dato, por sua vez corruptela de Donato. Só na terceira geração é
que a famı́lia, como se vê, ganha uma posição respeitável em Florença, onde Gregorio Dati
torna–se um poderoso mercador e banqueiro. Ormanozzo Dati pode ter sido um seu neto ou
sobrinho–neto.
20 Eram, pelo que podemos apurar, estes Amadoris seus parentes pelo lado dos Acciaiolis,
pois Lucia Acciaioli, irmã dos duques de Atenas Neri II, † 1451, e Antonio II, † entre 1439 e
1451, fora casada com Angelo di Niccolò Amadori. E Benozzo Amadori era filho de Niccolò
Amadori e de Maria “Lisandre,” e neto de um Amonto, que supomos fosse má leitura para
Angiolo Amadori, o marido de Lucia Acciaioli. Ver à pág. 4.
Acciaiolis no Brasil 9
Pais de:
aos Acciaiolis da Madeira [83], confundiram (decerto propositadamente) o ramo de onde veio
este Simone Acciaioli, a tal ponto que mesmo Litta se engana [88]. O resultado é a dúvida
quanto à filiação de Simone Acciaioli. No entanto, notas à margem do tı́tulo “Acciaiolis” no
Nobiliário de Noronha [104], e uma tabela genealógica recente, que está exposta na Certosa,
em Florença, datada de 1952 [1], dão Zanobi di Benedetto como pai de Simone Acciaioli. É
também este o Zanobi que aparece na data mais provável para surgir como pai de Simone, na
genealogia de Litta, (que inclusive afirma ser Zanobi di Benedetto, secondo alcuni, o ancestral
dos Acciaiolis da Madeira).
O motivo da falsificação pode, no entanto, ser um fato mais especı́fico. Em 11.1.1394, através
de um ato co–promulgado pelo Cardeal Angiolo Acciaioli, na qualidade de legado pontifı́cio
e bailio real na Acaia, Ladislau, rei de Nápoles concede formalmente a Neri Acciaioli o tı́tulo
de Duque de Atenas. Em 12.1.1394, seguem–se letras patentes determinando que, à falta de
sucessores, herdem o ducado os descendentes de Donato Acciaioli, irmão de Neri. A linha de
sucessão no ducado passou, efetivamente, aos herdeiros de Francesco Acciaioli, filho natural
do mesmo Donato Acciaioli, e nesta linha se extinguiu. Sendo Simone Acciaioli descendente
por sua mãe desta linha de Donato Acciaioli, o embaralhamento de sua ascendência pelos
genealogistas portugueses do século XVII pode ter sua origem nas fantasiosas ambições ao
ducado de Atenas, constantemente referido pelos que escrevem sobre esta famı́lia.
Cremos não haver dúvidas, mas a confusão feita pelos genealogistas portugueses dos seis-
centos faz com que assinalemos aqui esta questão. Uma discussão mais detalhada está em
[56].
22 Eis o inteiro teor desta certidão:
Teria menos de vinte anos quando chegou à Madeira. Precoce ? Nem tanto
[78], desde que era comum crianças com menos de oito anos, na Florença do
século XV, serem emancipadas para começarem a trabalhar nos negócios dos
pais.
Justificou nobreza perante o Dr. Braz Netto, desembargador do paço, e D.
João III mandou que lhe fosse passada carta de brasão de armas, o que foi
feito em 27 de Outubro de 1529 pelo bacharel Antonio Rodrigues, rei d’armas
Portugal, no seguinte teor:
Dom Joham etc. . . a quamtos essa Minha carta Virem faço Saber que
symam accioly fidalguo/ floremtyno m.or na mjnha jlha da madeyra
me fez Petiçam como. . .
. . . o campo deprata com hũ leam azul com a lingoa & Vnhas de
vermelho/ elmo de prata aberto garnydo douro paquife de prata &
azull & por timbre o mesmo leam das armas. . .
Estabeleceu–se Simone Acciaioli no Funchal, na rua que levou seu nome, “rua
de Simão Achioli,” onde teve casas. Instituiu um morgadio com uma capela
dedicada à Natividade de Nossa Senhora. Foi também fundador do capı́tulo
velho do Convento de São Francisco no Funchal, e de Nossa Senhora da Piedade,
onde foi enterrado. E lá jaz numa campa defronte do altar, junto com sua
mulher.
Assinava–se, desde 1512, Simam Achioly, ou Simam Accioly. De cerca de
1520 a depois de 1530 foi almoxarife régio na Madeira, conforme o atestam
inúmeros documentos nos ANTT. Era sócio de seu genro Pedro Folgado, depois
marido de Genebra Acciaioli.
Morreu Simone Acciaioli no Funchal, na ilha da Madeira, em 15.2.1544. Fora
casado — depois de 1530, provavelmente — com Maria Pimentel, filha de Pedro
a cada um, e encomendando–os aos estrangeiros. O qual fazemos agora por
Simão, filho de Zenóbio, pelo qual com a mesma fé acima dita testemunhamos
ser ele mesmo Acciaioli da casta e famı́lia dos Acciaiolis, gerado de matrimônio
legı́timo e honroso, participante da nobreza e resplendor dos Acciaiolis, e na
mesma maneira e ordem de ter as honras e todos os ofı́cios desta república entre
nós, os quais seus antepassados tiveram, e nos será um grande contentamento
que ele por tal seja tido em toda a parte, pela causa e assim também pela lealdade
e virtude e merecimentos seus e de seus antepassados, recomendamos a todos
nosso cidadão e nosso natural, por nós muito amado, rogando aos serenı́ssimos
reis, prı́ncipes, oficiais, juı́zes e a todas as gentes em todos os lugares, para
nos fazerem mercê, tenham por bem defendê–lo em sua fazenda e proveitos, e
acrescentar em honras, para que pela mercê que lhe fizerem sejamos todos para
o tempo em grande obrigação et bene valete. De nosso Palácio, nos 14 de Julho
de 1515. Sinais dos Gonfaloneiros e Priores.
Acciaiolis no Brasil 11
Rodrigues Pimentel, fidalgo nos livros d’El Rei de Portugal, dos Pimentéis de
Torres Novas, e de sua mulher Izabel Ferreira Drummond.23
Pais de:
1. Francisco Acciaioli, falecido em 20.8.1562. Casou–se com Catarina Ro-
drigues de Mondragão, falecida em 8.8.1568, com um filho, Simão, que
nasceu em . . . .10.1545 e morreu menino; e
2. Zenóbio Acciaioli, que segue.
Deixou Simone Acciaioli uma filha ilegı́tima,
1. Genebra Acciaioli, mulher de Pedro Folgado, com quem se casou na ilha
da Madeira em 13.6.1539; criada em casa de seu pai com estimação de
23 Segundo o Nobiliário de Noronha, era neta paterna de Rodrigo Pimentel e de sua mulher
Catarina de Brito. Rodrigo Pimentel, sr. do morgado de Torres Novas, é dado em Felgueiras
Gayo como filho de Diogo Gonçalves Pimentel, menor de idade em 1417; sua mulher Catarina
de Brito, filha de Álvaro Nogueira e de Izabel de Brito. Para o restante da ascendência nos
Pimentéis, ver à pág. 18.
Neta materna, Maria Pimentel, de Gaspar Gonçalves Ferreira e de Catarina Annes, filha
esta de João Escócio e de sua mulher Branca Affonso. Como se sabe, era João Escócio irmão
de Sir Walter Drummond, † 1445, senescal de Lennox, e filhos de Sir John Drummond, laird de
Stobhall, também senescal de Lennox, juiz–mor da Escócia em 1391, † 1428, e de sua mulher
Lady Elizabeth Sinclair, e era Sir John Drummond irmão de Annabella Drummond, rainha
da Escócia, mulher de Roberto III rei da Escócia[60] [61] [105]. Faleceu Maria Pimentel em
12 de Outubro de 1541.
Eis a linha dos Drummonds na Escócia:
1. Malcolm ‘Beg’ Drummond, atestado em princı́pios do século XIII, filho de Gilbert
Galbraith, “o bretão,” e neto provavelmente de um Maurice; senescal do condado de
Lennox. Casou com Ada, filha bastarda de um Conde de Lennox. Pais de:
(a) Malcolm, segue.
(b) Gilbert, provavelmente falecido em Dupplin em 1332.
2. Malcolm Drummond (atestado como “Malcolmo de Drummond”). P.d.:
(a) John; segue.
(b) Maurice, sheriff do condado de Lennox.
(c) Margaret, que primeiro c.c. Sir John Logie e depois com o rei David II da Escócia;
rainha da Escócia, s.g.
3. John Drummond, ‘of Concraig,’ c.c Mary Montfichet, filha de William Montfichet e
descendente — ou próxima colateral — de Ralph Montfichet, um dos sureties (garan-
tidores) da Magna Carta, em 1215. P.d.:
(a) Malcolm Drummond, a quem o cunhado, o rei Robert III, permitiu construir uma
fortificação nas terras de Kyndrocht.
(b) Sir John, segue.
(c) Annabella Drummond, † 1403, rainha da Escócia, c.c. Robert III e foi antepassada
dos Stuarts reis da Escócia, e dos reis da inglaterra desde James I.
4. Sir John Drummond c.c. Elizabeth Sinclair e teve a Sir Walter Drummond, ancestral
dos Drummonds escoceses de hoje; e a John Drummond, que se fixou na Madeira.
Elizabeth Sinclair era filha de Henry Sinclair, Conde de Orkney, e de Jane Haliburton.
12 Francisco Antonio Doria
vem dos reis godos. O Livro de Linhagens do Conde D. Pedro coloca Martim Moniz, tronco
dos Vasconcellos, como filho de Moninho Osores, atestado em 1139, e de Boa Nunes de Grijó
[112]. Martim Moniz, dos Vasconcellos, seria neto do Conde D. Osório “de Cabreira e Ribeira,”
que, graças a uma sugestão de Manoel César Furtado, podemos identificar ao Conde Osório
Martı́nez, tenente de Ribera, da famı́lia dos Flaı́nez ou Flagı́nez, † na batalha de Lobregal em
1165.
Principiando a genealogia dos Vasconcellos em Martim Moniz, o que é seguro, temos a
sequência de gerações:
1. Martim Moniz, que seria o personagem morto na tomada de Lisboa em 1147, na Porta
de Martim Moniz, no Castelo de S. Jorge. Mas é episódio lendário, desde que Moninho
Osores ainda estava solteiro em 1139. C. c. Teresa Afonso, de filiação duvidosa. P.d.:
2. Pedro Martins “da Torre,” cujo nome sugere–lhe tenha sido já senhor da Torre de
Vasconcellos. C.c. Teresa Soares, filha de D. Soeiro Pires “Torta” e de s.m. Fruilhe
Viegas, filha de D. Egas Fafes “de Lanhoso,” que segundo Braancamp fora o primeiro
senhor da honra de Vasconcellos, sendo D. Soeiro Peres um dos primeiros da linhagem
dos Silvas. P.d.:
3. João Pires “de Vasconcellos,” dito o Tenreiro, ou o Temeiro, personagem dado na
história como de caráter dúbio, o que não elaboramos aqui. Recebeu em 1228 o arce-
bispo de Braga D. Estevão Soares da Silva, e esteve no cerco de Sevilha em 1248.
C.c a condessa Maria Soares Coelho, filha de Soeiro Viegas “Coelho,” primeiro dessa
gente, descendente de Egas Moniz “Aio,” cujo sangue entrará nessa linha também pelos
Alvarengas, abaixo. P.d.:
4. Rodrigo Anes de Vasconcelos, trovador. Atestado na freg. de Santa Maria de Ferreiros
desde 1258. † antes de 1297. C.c. Mecia Rodrigues de Penela, filha de Rui Vicente de
Penela, alcaide–mor de Alenquer. P.d.:
5. Mem Rodrigues de Vasconcellos, alcaide de Guimarães e meirinho–mor de Entre–
Douro–e–Minho. Documentado a partir de 1297. Presente na corte de D. Diniz desde
1318, surge designado meirinho em 1321, cargo que exerceu até 1324. Casara em 1297
com Maria Martins Zote, a quem doara uma quintã de Penela em ato solene “por com-
pra de seu corpo.” viúvo antes de 1308, c.g., casou em segundas núpcias nesse ano com
Constança Afonso de Brito, filha de Afonso Anes de Brito. Deste segundo casamento
foi filho:
6. Martim Mendes de Vasconcellos, dado em 1339 como “infanção natural de Mancelos,”
casado com Aldonça Martins de Alvarenga, viúva de Egas Gonçalves Barroso e filha
herdeira de Martim Mendes de Alvarenga, sr. de Alvarenga e descendente de Egas
Moniz Aio, cujo sangue entre nessa linha pela segunda vez. Seu filho:
7. Joane Mendes de Vasconcellos, “moço pequeno” em 1347, teve geração. Recebeu em
1381 a terra de Alvarenga, e mais outras doações de D. Fernando. C.c. Isabel Pereira,
filha de Álvaro Pereira, marechal do reino e de s.m. Mecia Vasques Pimentel.
Acciaiolis no Brasil 13
tante, Cosimo II de’ Medici, de quem recebeu uma carta em 1618, do seguinte teor [83]:
Muito magnı́fico cavaleiro, nosso muito amado, nós temos particular gosto em re-
conhecer nossos vassalos em qualquer lugar, principalmente aqueles que, havendo
habitado longo tempo nas partes remotas, têm feito ações e portamentos honrados
com grangeio de crédito e reputação. Pelo que tive contentamento da notı́cia que
me destes de vossa pessoa, mas não eram já necessários para comigo testemunhos
da famı́lia Acciaioli, porque somos bem informados de sua antiguidade e nobreza,
e a temos entre as principais desta nossa cidade de Florença, e vos agradeço o
devoto afeto que haveis mostrado com vossa obsequiosa carta, e vos oferecemos
nossa benevolência e naquilo que vos prestar daqui querı́amos que fizésseis cabedal
de nós, porque vereis sempre amorosos afetos. E o senhor Deus vos conceda os
maiores bens. De Florença, 8 de Abril de 1618.
se segue:
1. Giannozzo Cavalcanti. Nome conhecido através do patronı́mico do filho, este documen-
tado. Gianozzo teria casado com uma Adimari, o que se infere do prenome do outro
filho que lhe é atribuı́do. Gianozzo Cavalcanti viveu nos começos do século XII; as
memórias posteriores dão-no como filho de um Cavalcante di Giamberto di Benedetto,
sendo este Benedetto o mais antigo ancestral desta famı́lia; Benedetto teria vivido nos
começos do século XI. P.d.:
2. Cavalcante de Cavalcanti. Cônsul da comuna de Florença em 1176. Dado como se
tendo envolvido nos conflitos dos que se opuseram a Frederico Barbarroxa, quando este
invadiu a Itália. Seria sua mulher uma Aldobrandini ? P.d.:
3. Cavalcante de Cavalcanti. Dado apenas como um dos lı́deres da Parte Guelfa, e tendo
escolhido o partido do rei de Nápoles, que era à época o lı́der dos guelfos na Itália.
P.d.:
4. Poltrone Cavalcanti. Qualificado messer, o que o faz juiz ou cavaleiro; mas o próprio
prenome, antes um cognome, não diz grande coisa de seu caráter. Foi provavelmente
um dos anziani da Parte Guelfa em 1246, junto a um Adimari. P.d.:
5. Messer Cantino Cavalcanti. Um dos conselheiros da Parte Guelfa, como os primos
direitos, em 1278. Casou-se em 1295 com Brasia [Beatrice?] di Ciampolo Salimbeni, †
5.5.1309, de uma nobre famı́lia feudal de Siena. P.d.:
6. Messer Ciampolo Cavalcanti. Sentenciado à morte e aguardando a decapitação, foi
perdoado graças à intervenção dos embaixadores de Siena, cidade onde tinha parentes
influentes. Seus filhos renunciam à condição de magnati (nobres) em Florença, e mudam
o nome, em 1361, para de Ciampoli. P.d.:
7. Domenico Cavalcanti. Também dito de Ciampoli. Em 22.10.1362 renunciou aos
privilégios magnatı́cios e adotou novas armas; em vez das tradicionais dos Cavalcantis,
de prata, semeado de cruzetas recruzetadas de vermelho, passou a usar de prata com
uma cruz de vermelho cantonada de quatro estrelas de azul. (Mais tarde reverteram ao
nome tradicional e às armas de sempre.) P.d.:
8. Antonio Cavalcanti. Ancestral do Filippo Cavalcanti que passa ao Brasil. P.d.:
9. Filippo Cavalcanti, s.m.n. P.d.:
10. Messer Lorenzo Cavalcanti, c.c. Contessina Peruzzi, com testamento feito em
20.4.1516, já viúva. Era filha de Ugo di Rinaldo Peruzzi. P.d.:
11. Giovanni Cavalcanti, n. em Florença em 11.10.1478, mercador. C.c. Ginevra Mannelli,
sepultada em 11.4.1563 na igreja della Santa Croce, em Florença. Filha de Francesco
di Lionardo Mannelli, e de Maddalena di Gianozzo di Giovanni Naldi. P.d.:
12. Filippo Cavalcanti, n. em 12.6.1525 em Florença, batizado na Santa Croce. No Brasil
em 1560.
16 Francisco Antonio Doria
(a) D. Manoela Acciaioli Lins, que se casou com seu parente Rodrigo de
Barros Pimentel, senhor do engenho “de Riba” da freguesia de Ca-
maragibe, e filho de José de Barros Pimentel e de D. Maria Acciaioli,
c. g.;
5. Antonio Acciaioli de Vasconcellos, que se casou duas vezes, com uma filha
de Zacarias de Bulhões, e depois com D. Maria Cavalcanti, s. g.;
(a) . . . , † menino;
(b) Braz Acciaioli, que se casou com uma filha de Miguel Ribeiro, s. g.;
(c) D. Maria de Mello, que se casou com Luiz Lobo;
(d) D. Ana Acciaioli de Vasconcellos, mulher de seu primo Francisco
Acciaioli de Vasconcellos;
(e) D. Manoela e D. Francisca, † † solteiras; e
(f) D. Josefa, mulher de um filho de Miguel Ribeiro, senhor do engenho
“Mossuı́pe”; e
8. D. Francisca Acciaioli, que se casou duas vezes. Da primeira vez, com João
Baptista Pereira, capitão de cavalaria nas guerras contra os holandeses,
s. g. Da segunda, com o Coronel Paulo do Amorim Salgado, senhor do
engenho “São Paulo do Sibiró,” c. g. ampla. Passaram alguns destes
Salgados Acciaiolis a Portugal no século XVIII, onde se tornaram nos
Salgados Acciaiuolis, senhores de Belmonte no século XVIII e inı́cios do
século XIX ([65], XI);
gate.
18 Francisco Antonio Doria
10. D. Margarida Acciaioli, que se casou cerca de 1678 com seu primo co–
irmão, filho de seu tio Zenóbio Acciaioli de Vasconcellos, Filipe de Moura
Acciaioli, alcaide–mor de Olinda por carta régia de 20.3.1705, falecido em
1710 antes do inı́cio da guerra dos mascates.
XV. D. Maria Acciaioli nasceu depois de 1655, já que seu irmão pri-
mogênito nascera em Março de 1655. Em 23.2.1668 o cabido da Bahia concedeu–
lhe dispensa apostólica para se casar com seu parente José de Barros Pimentel,
filho de Rodrigo de Barros Pimentel, o velho, e de sua mulher Jerônima de
Almeida Lins; neto paterno de Antonio de Barros Pimentel, n.c. 1554, que teria
desembarcado “de calções de veludo e chapins,” foragido da justiça, em Pernam-
buco, onde se casou com Maria de Holanda, filha de Arnau de Holanda; neto
materno de Balthazar de Almeida Botelho e de sua mulher Brites Lins, filha
esta de Christoph Linz von Dorndorf, nascido em Dorndorf por volta de 1529,
e de Adriana de Holanda. Sobre a ascendência de Antonio de Barros Pimentel,
notoriamente ilustre, conhece–se bastante coisa.30
Teria quando de seu casamento esta Maria Acciaioli entre 12 e 13 anos de
30 Se interpretamos corretamente uma observação feita por Felgueiras Gayo ([68], p. 147),
era Antonio de Barros Pimentel filho de . . . de Barros, que foi um dos dois maridos de Joana
Pimentel.
A famı́lia dos Pimentéis descende, segundo tese recente de Bernardo Vasconcellos [136],
através de linhas femininas, da antiga famı́lia dos senhores de Marnel. Mas se seguimos outra
linha feminina ascendente, descenderão estes dos emires omı́adas de Córdova, e aos idrı́ssidas,
estes descendentes de Maomé:
1. Zahadon iben Halaf al–Umawi, descendente na varonia do califa al–Walid, que viveu
em começos do século VIII, através da chamada linha omı́ada dos al–Habibi; casado
com Aragunte Fromariques (atestados em 933 em Coimbra), filha possivelmente de
Fromarico Cendonis ou Tedonis, atestado em começos do século X—identificado ao
Dom Zadão Zada dos livros de linhagens. Pais de:
2. Ortega, ou melhor, Oñega, c.c. Lovesendo — que identificamos a Leodesindo ibn Firhi,
al–Hassani, um idrı́ssida atestado em 967 e 968 na região de Coimbra. A famı́lia se
muda para o norte, a região do Porto. P.d.:
3. Abunazar Lovesendes, ou melhor, Nazar ibn Leodesindo ibn Firhi, o “Dom Alboazar
Ramires” da lenda, fundador histórico do mosteiro de Santo Tirso em 978, e c.c. Unisco
Godinhes. Seu filho:
4. Ermı́gio Abunazar, casa com Vivili Trutesendes (1015) e têm a:
5. Toda Ermiges, que casa primeiro com Pedro Trutesendes e em seguida com Egas Moniz
“de Ribadouro,” † 1022. Pais, do segundo casamento, de:
6. Ermı́gio Viegas (atestado entre 1043 e 1047), casado com Unisco Pais. Tiveram a:
7. Monio Ermiges (at. entre 1085 e 1107), c.c. Ouroana. . . P.d. (além de Egas Moniz
“Aio”)
8. Mem Moniz de Ribadouro , c.c. Ouroana Mendes de Sousa. Pais de:
9. Gontinha Mendes de Ribadouro, c.c. Godinho Fafes de Lanhoso, o Velho. P.d.:
10. Unisco Godins de Lanhoso c.c. Fernão Peres de Guimarães, dos de Riba de Vizela.
P.d.:
11. Martim Fernandes de Riba de Vizela c.c. Estevainha Soares da Silva. Pais de:
12. Sancha Martins de Riba de Vizela c.c. Martim Fernandes Pimentel, ancestrais dos
Pimentéis—Martim Fernandes descenderia dos senhores de Marnel. P.d.:
Acciaiolis no Brasil 19
de burgueses de Augsburg que pode ser traçada até certo Heinrich der Lynzer, atestado em
fins do século XIII. Os Linz compraram no século XV o feudo de Dorndorf, e foram então
nobilitados. Christoph e seu primo (legı́timo) Sebald Linz von Dorndorf, o Cibaldo Lins,
vieram para o Brasil no século XVI.
É a seguinte a ascendência dos Lins de Pernambuco:
1. Heinrich Linz, irmão de Albrecht Linz, era—eram, ambos, pelo que se supõe—bisnetos
de certo Heinrich der Lynser, “Henrique, o natural de Linz,” que aparece registrado
como cidadão de Ulm em 1296, com negócios em Ulm, Augsburg, e até em Veneza e
Gênova.
O segundo Heinrich Linz, caput deste, aparece como negociante em 1350 em Eßlingen,
e até em Frankfurt. Fixado como o avoengo em Ulm, dele há notı́cias ainda no perı́odo
que vai de 1389 a 1404. Seu filho é:
2. Albrecht Linz [II], pai de:
3. Johann Linz, ou Hans Linz, irmão de Ulrich Linz, cidadão de Überlingen, com descen-
dentes, e Heinrich Linz [III]. Junto com seus irmãos, Hans Linz recebe, em 2 de Dezem-
bro de 1430, carta de brasão de armas concedida por Sigismundo de Luxemburgo–
Boêmia: “de vermelho, com uma faxa de azul cosida do campo, carregada de três
estrelas de seis pontas de . . . . Por timbre, uma capela de penas de pavão entre dois
probócides faxados de vermelho e azul de três peças, carregada cada peça de uma estrela
de cinco pontas de . . . .” Pai, Hans Linz, de:
4. Konrad Linz, cidadão de Ulm, onde foi juiz em 1488, provedor—preboste—do hospital
local entre 1490 e 1497, e conselheiro municipal em 1497, quando faleceu. Recebeu dos
20 Francisco Antonio Doria
viria a ser a região das Alagoas entre 1575 e 1585. Logo em seguida fundou,
na região de Porto Calvo, cinco engenhos, dos quais conhecemos o nome de
apenas dois, o “Escurial,” em Porto Calvo, e o “Buenos Ayres,” em Camaragibe.
Cristóvão Lins casou–se com Adriana de Holanda, e teve, entre outros filhos, a
Brites Lins, mulher de Baltazar de Almeida Botelho, de quem era filha Jerônima
condes de Montfort o senhorio de Dorndorf, na Suábia, passando a chamar–se Konrad
Linz von Dorndorf. Teve um filho único:
5. Zimprecht Linz von Dorndorf, a quem Hugo von Montfort confirma o senhorio de
Dorndorf. C.c. Barbara Gienger em 1490, † em 7.12.1508, filha de Matthäus Gienger e
de s.m. Ursula Hutz; neta de Jakob Gienger o velho, comerciante de Ulm, riquı́ssimo, e
pelo outro lado de Hans Hutz, membro da corporação dos ourives de Ulm e conselheiro
municipal. Pais de:
(a) Konrad Linz von Dorndorf, que junto com os irmãos recebe em 25 de Setembro de
1550 carta de brasão dada pelo imperador, além do tı́tulo de “nobres do império
romano.” C.g. na Alemanha.
(b) Hans Linz, convertido ao protestantismo, c.g.
(c) Euphrosyne Linz (9.1.1500–16.6.1554), casada duas vezes: da primeira, com Gal-
lus Bengel, n. em Ulm; da segunda, com Adriaan Marsilius, n. em Antuérpia e †
em Ulm em 1585. Casaram–se em 1538, e deles descende Friedrich Wilhelm von
Schelling.
(d) Hannah Linz, † após 1599, e casada com . . . Benslin.
(e) Sebald Linz von Dorndorf, gêmeo com o que se segue. Nn. em 7.12.1508 em Ulm,
morrendo–lhe do parto a mãe. † muito velho em Lisboa ou em Setúbal c. 1597.
Fixou–se em Lisboa em 1552, onde casou em 1553 com Jácoma Mendes. Tem
um filho bastardo: Christoph Linz, que é o ascendente destes Barros Pimentéis,
havido em Ulm de uma camponesa solteira. C.g. legı́tima também.
(f) Bartholommäus Linz, pai de Sebald Linz, “Cibaldo Linz,” que também se fixa,
como o primo Cristóvão, em Pernambuco.
Sabe–se que em 1600 Cristóvão Lins já era alcaide–mor de Porto Calvo, função (e dignidade)
que passará a seu bisneto José de Barros Pimentel em meados do século após as guerras
holandesas. Em 1608 o mesmo Lins concede a Rodrigo de Barros Pimentel, marido de sua
neta Jerônima de Almeida, uma vasta sesmaria em Porto Calvo:
Cristóvão Lins, alcaide–mor e repartidor das terras do distrito da povoação de
Santo Antonio dos Quatro Rios do Porto Calvo . . . dou e faço doação deste dia
para todo e sempre em nome do dito senhor [Duarte de Albuquerque Coelho,
governador de Pernambuco] a Rodrigo de Barros Pimentel, meu sobrinho, de
uma sorte de terras que está vaga em Tatuamunha, que parte pelo norte no
riacho das Lages, no sı́tio Goitizeiro, e olhos d’água, com uma légua de terra
que vendi a Antonio Machado de Vasconcellos, donde o entereis.
[Segue–se mais uma descrição da área doada.]
. . . dou e doo ao dito Rodrigo de Barros Pimentel, livre e isenta, sem foro e
nem pensão alguma, somente dı́zimos a Deus, com todos os seus matos, pastos,
águas, lenhas, mangues e pesqueiras, assim do rio como da costa do mar, em
sua confrontação, tudo a ele pertencente, a qual terra ali confrontada lhe dou
por respeito de ser um dos primeiros que no povoar deste Porto Calvo me acom-
panhou sempre, e ter metido nas ditas terras gado e criações, e feito casas, e
assistir com a sua pessoa e escravos na dita terra. . .
Atualizamos a linguagem e cortamos parte do documento; a ı́ntegra se acha em [54]. Rodrigo
de Barros Pimentel era sobrinho por afinidade de Cristóvão Lins, por ser filho de uma irmã
da mulher de Cristóvão Lins.
Acciaiolis no Brasil 21
10. D. Adriana Francisca de Barros Pimentel, que ainda vivia em 1761, idosa,
em Ipojuca, mulher de Zenóbio Accioli de Vasconcellos, seu primo, s. g.
vivia João Baptista Accioli, XIV, passam pelo litoral à fronteira entre Pernambuco e Alagoas,
onde está Porto Calvo, e de lá descem para a Vila das Alagoas (hoje Marechal Deodoro),
22 Francisco Antonio Doria
15.3.1843, filho de Joaquim Pereira da Rosa Lima e de sua mulher Maria Rita de Caldas
Accioli, e que colou grau na Faculdade de Medicina do Rio em 13.12.1869 [64].
Acciaiolis no Brasil 23
(a) João César Bezerra Camello, que em 1814 recebeu a doação dos di-
reitos de sua prima (abaixo) Maria José Accioli a parte do engenho
“Novo” das Alagoas [54]; e
não registra sucessão para Inácio Acciaioli, de modo que supomos haverem nascido seus filhos
após 1765.
24 Francisco Antonio Doria
e seu marido Luiz Antonio são citados por Wanderley Pinho ([139], p. 31) como parceiros de
contradanças, ela de Pedro II, e ele da imperatriz Teresa Cristina, num grande baile que a
aristocracia agrária baiana ofereceu ao casal reinante, por volta de 1850, quando Leonor e
Luiz Antonio deviam estar recém–casados, ela quase adolescente. Nesta mesma recepção, a
baixela é a baixela de ouro, que Jerônimo Bonaparte havia ofertado como lembrança a José
Inácio Acciaiuoli de Vasconcellos Brandão quase meio século antes, e que então pertencia à
filha adotiva de Inácio Acciaiuoli, a coronela Pedroso de Albuquerque ([139], p. 33).
39 Ou seja, Serra Pelada é coisa antiga, já.
26 Francisco Antonio Doria
herdeiros.
41 Irmã de Antonio Caetano de Almeida Bahia, n. 1820 em Salvador e † no Rio, bacharel
Alagoas, e morador há mais de três anos na Vila da Ilha Grande,” na provı́ncia do Rio,
onde servia em cargo menor. Nesta petição requer a D. João VI, a pretexto das benesses
distribuı́das quando de sua aclamação, o ofı́cio de escrivão vitalı́cio de órfãos da Vila das
Alagoas, “sem donativo à Real Fazenda, por ser de diminuto rendimento” (para receber uma
sinecura vitalı́cia, os agraciados em geral faziam um pagamento à coroa). Identificamos este
José de Barros Accioli ao supra porque, precisamente neste perı́odo, servia como juiz de fora
na Ilha Grande seu presumido irmão, o bacharel Inácio Accioli de Vasconcellos [26].
28 Francisco Antonio Doria
3. D. Maria José Accioli, que em 1814 doou, através de escritura pública seu
quinhão no engenho “Novo” da Vila das Alagoas, a seu primo João César
Bezerra Camello ([54], p. 44);43
Barros Pimentel; pelo apelido, pela data, e pela propriedade negociada, o engenho “Novo,”
pertencente a este ramo dos netos do Cel. Francisco de Barros Pimentel, supomos fosse ela
filha do Capitão Inácio Acciaioli.
44 Atestado em começos do século XIX; aqui colocado devido a seu nome. Os descendentes
Vasconcellos [122].
46 A relação dos engenhos alagoanos em 1849, publicada por Moacir Santana ([122], p. 249),
José [28].
48 Em fins do século XVIII alguns colonos, vindos do litoral, da região de S. Miguel das
Alagoas, chegam onde é hoje o municı́pio de Palmeira dos Índios; um destes colonos, de nome
Inácio Accioly, funda o povoado de Olhos d’Aguas do Accioly [17], onde permanecem alguns
de seus parentes, como as famı́lias Xavier Accioly e Cavalcanti de Albuquerque Tenório, e,
possivelmente, os Acciolis Tenórios. Note–se que em Atalaia, em 1849, o engenho “Isabel”
pertence a Joaquim Tenório de Albuquerque. (Um dos Cavalcantis de Albuquerque Tenórios
foi o deputado Tenório Cavalcanti, Natalı́cio Tenório Cavalcanti de Albuquerque, alagoano
radicado no Rio, de pais modestos, mas certamente aparentado a este grupo familiar, conforme
inclusive o afirma a memória oral [19].)
Citamos aqui tais fatos porque se a fundação de Olhos d’Águas do Accioly tiver ocorrido em
começos do século XIX (o que não pode ser documentado além da tradição oral), pode haver
coincidência entre o personagem deste caput e o fundador daquela povoação, ou, ao menos,
Acciaiolis no Brasil 29
50 A famı́lia era antiga na região: há um Manoel Coreia Masiel oficial da casa da câmara de
Há ainda um Francisco Ignácio Accioli, n.c. 1836, c.c. D. Ana Rosa da Con-
ceição, e pais de Francisco Accioli, n. 1866 e bat. 1867 em Santa Luzia do Norte.
Com tais prenomes, era com certeza dessa gente.
dos Cerqueira e Silva, em Marechal Deodoro, a antiga Vila das Alagoas, mas a tese de José
indica Mangabeira.
57 Um retrato de cerca de 1870, oferecido à nora Maria do Carmo do Valle mostra–o com
um rosto bem oval, expressão sisuda com olhos apertados, sugerindo–lhe uma ascendência
indı́gena próxima, talvez por sua famı́lia materna, os Macieis; este também era o caso de sua
mulher, e se torna aparente no parente de ambos, Floriano Peixoto.
58 Pesquisa de Cássia Albuquerque.
59 Provavelmente um acidente vascular cerebral, infelizmente comum entre seus descen-
dentes.
60 Era, pelo que supomos, bisneta de Afonso de Albuquerque Mello, fundador do engenho
“Águas Claras,” da segunda geração dos Albuquerques Mellos na região das lagoas, e de sua
mulher D. Sebastiana Calheiros; e sobrinha do pe. Affonso de Albuquerque Mello.
32 Francisco Antonio Doria
(a) José Cavalcanti de Barros Accioli nasceu em Porto Alegre (Rio Gran-
de do Sul) c. 1878. Foi professor catedrático do Colégio Pedro II;
em Petrópolis, no Palácio Izabel, antiga residência dos condes d’Eu,
dirigiu entre 1920 e 1930 o “Ginásio Petropolitano,” ao qual sucedeu,
no Rio, o “Colégio Accioli.” Casou–se duas vezes. Primeiramente,
no Rio (São Cristóvão 5, 14, e 6, 55v), com Celina Dutra, filha
de Alfredo Bernardino Dutra e de sua mulher Joana do Vale. Pela
segunda vez, em 2.5.1908, na Candelária (Engenho Velho, 14, 114),
casou–se com Arabela Bandeira de Gouveia, † 10.12.1960, filha de
Leopoldo Bandeira de Gouveia e de sua mulher Evangelina Correia
de Brito. Do segundo casamento, pais de:
i. Roberto Bandeira Accioli, que nasceu no Rio em 17.1.1910. Ba-
charel em direito pela Faculdade Nacional de Direito (Rio de
Janeiro); professor suplementar do Colégio Pedro II, e em seguida
professor catedrático de história do mesmo colégio. Foi secretário
de educação da antiga Prefeitura do Distrito Federal, no Rio,
diretor de ensino secundário do MEC e diretor do Externato
Pedro II, além de presidente do IBGE e membro do Conselho
Federal de Educação. Na primeira administração Brizola, no
Rio (1982–1986), foi subsecretário estadual de cultura, e membro
66 A pesquisa sobre os Cahets é trabalho de Cássia Albuquerque.
67 Pesquisa de Cássia Albuquerque.
68 Pesquisa de Cássia Albuquerque.
34 Francisco Antonio Doria
provı́ncia de São Paulo, n.c. 1825, filha do Sargento–Mor Gabriel Henrique Pes-
soa, natural de Lisboa, e de sua mulher D. Delfina de Castro. Nascera João
Maria do Valle71 Casara–se com Antonia Brandina no Rio, em 15.8.1848 (Santa
71 Eis aqui a ascendência de João Maria do Valle:
1. Manuel do Vale, o velho, n.c. 1640–1650, alfaiate e depois alcaide pequeno da Vila
de Chamusca, perto de Tomar, onde existia um ramo da famı́lia dos Valles antigos.
Casou–se com Maria Francisca. Foram os pais de:
2. Manuel do Valle, o moço. Eis seu batistério:
Em os vinte dias do mes de Agosto de mil seis centos e esetenta enove
annos baptizei, epuz osSanctos Oleos a Manoel filho deManoel dovalle e
desuamulher Maria Francisca forão Padrinhos Gaspar daFonceca eMaria
daAscenção filha deDomingos Fernandes Vendeiro dequefis esteacento
queaSignei dia mes e anno supra.
Casou com Josefa Nogueira, filha de Vicente Ferreira e de sua mulher Maria Nogueira.
Eis seu batistério:
Em os doze de Dezembro de oitentaequatro baptizei epus osSanctos Oleos
aJozefa filha deVicente Ferreira e desua Molher Maria Nogueira forão
Padrinhos Antonio Alvares deSeq.r eMaria Martins Molher de Domingos
Fernandes.
(O batistério é de 1684.) Já estavam ambos falecidos em 1738, quando se case seu filho,
que segue:
3. Antonio Francisco do Valle. Viveu em Lisboa, onde era comerciante. Casou-se em
6.2.1738 com Isabel Clemencia, n. de Chamusca, filha de Manuel Coelho e de s.m.
Joana Gameira. Eis o termo de seu casamento:
AosSeis dias doMes deFevereiro deMil Setecentos etrinta eoito annos
Nesta Igreja deSão Bras daVilla daChamusca pellas oito horas damanhan
em Minha prezença e dastestemunhas abaxo designadas sereceberão por-
palavras deprezente por Marido emulher Antonio Francisco doValle natural
destaVilla ondefoi baptizado filho deManoel doValle e desua Molher Jozefa
Nogueira jadefuntos emterrados naCidade deLisboa, Com Izabel Clemen-
cia natural emoradora nesta Villa ondefoi baptizada filha de Manoel Coelho
Chicharro edesua Molher Joanna Gameira Com osbanhos semimpedimento
algum nem eu tendo eforão recebidos por mandádo doDoutor Vigario Geral
deSantarem Antonio doSpirito Santo na forma dosagrado Concilio Tri-
dentino, eConstituição desteArcebispado deLisboa oriental eArcediago de-
Santarem. . .
Era a mãe da noiva, Joana Gameira, natural da Vila de Punhete.
Pais de:
4. José Antonio do Valle, n. em Lisboa c. de 1744, onde seus pais moravam à Rua Au-
gusta. Estudante de Coimbra, pede em 19.1.1762 o familiarato da inquisição, que lhe
é concedido sem maiores delongas.
Em 17.1.1774 é nomeado por D. José juiz de fora de Lorvão, pelo prazo de três anos
ao menos.
Casou–se com D. Ana Teodora. . . . Pais de:
5. José Antonio do Valle, que se casa com D. Maria do Carmo da Cunha Leite, filha de
José Tomás da Cunha Leite e de s.m. D. Inês Maria.
José Antonio do Valle, amanuense de primeira classe da Secretaria de Estado, é feito
cavaleiro da Ordem de Cristo em 7.1.1837. Seu sogro José Tomás da Cunha Leite,
em 2.1.1801, recebe através de ato do Prı́ncipe Regente D. João, a administração da
Capela instituı́da por João Rodrigues Antunes em Torres Novas.
Acciaiolis no Brasil 37
Rita 4, 215).72
São os pais de João Maria do Valle. em Lisboa em 1809, e faleceu no Rio em 20.5.1872,
sendo sepultado no cemitério do Catumbi e depois tendo seus restos transladados para
o S. João Baptista.
Para as fontes documentais, veja–se “Valle” e “Cunha Leite” na bibliografia.
72 É
interessante deixarmos aqui o registro do inteiro teor da carta de brasão que teve João
Maria do Valle, não só pelo gostoso de sua linguagem num pastiche arcaizante, quanto pelo
que diz (e não diz) das origens do armigerado Valle [37]:
D. Pedro por graça de Deus rei de Portugal, Algarves & c. Faço saber aos
que esta minha carta de brasão de armas de nobreza e fidalguia virem: que
João Maria do Valle, natural de Lisboa, fidalgo cavaleiro de minha real casa,
comendador da ordem de N. S. da Conceição de Vila Viçosa, me fez petição
dizendo que pela sentença de justificação de sua nobreza a ela junta, proferida
e assinada pelo juiz de direito da quarta vara da comarca de Lisboa, o doutor
José Antonio Ferreira Lima, subscrita por José Maria de Seita e Sá, um dos
escrivães do mesmo juı́zo, se mostrava que ele é filho legı́timo de José Antonio
do Valle,73 cavaleiro das ordens de Cristo e da Conceição, chefe de repartição
da secretaria de estado dos negócios do reino, e de sua mulher dona Maria do
Carmo do Valle; neto por parte paterna de José Antonio do Valle, proprietário,
e de sua mulher dona Ana Teodora do Valle; neto por parte materna de José da
Cunha Leite, proprietário, e de sua mulher dona Inês Maria da Cunha Leite. E
que os referidos seus pais, avós e mais ascendentes são pessoas nobres e ilustres
das famı́lias dos Valles e dos Leites, e como tais se trataram sempre à lei da
nobreza com armas, criados, cavalos e com toda a mais ostentação própria
dela, sem que em tempo algum cometessem crime de lesa majestade divina ou
humana. Pelo que me pedia ele, suplicante, por mercê que para a memória
de seus progenitores se não perder e para clareza de sua antiga nobreza lhe
mandasse dar minha carta de brasão de armas das ditas famı́lias, para delas
também usar na forma que as trouxeram e foram concedidas aos ditos seus
progenitores. E vista por mim a sua petição e sentença e constar de tudo o
referido que a ele, como descendente das mencionadas famı́lias, lhe pertence
usar e gozar de suas armas, segundo o meu regimento e ordenação da armaria,
lhe mandei passar esta minha carta de brasão delas, na forma em que aqui vão
brasonadas, divisadas e iluminadas, segundo se acham registadas no livro de
registo das armas da nobreza e fidalguia destes reinos, que tem o meu rei de
armas Portugal, a saber: um escudo partido em pala; na primeira as armas dos
Valles, que são em campo vermelho, três espadas de prata com as guarnições de
ouro, postas em três palas, com as pontas para baixo; na segunda as armas dos
Leites, que são em campo verde três flores de liz de ouro, postas em roquete.
Elmo de prata aberto guarnecido de ouro. Paquife dos metais e cores das armas.
Timbre das armas dos Valles, que são as mesmas três espadas em roquete,
fincadas no elmo e atadas com um torçal sanguinho. O qual escudo e armas
poderá trazer e usar tão somente o dito João Maria do Valle, assim como as
trouxeram e usaram os ditos nobres e antigos fidalgos seus antepassados em
tempo dos senhores reis meus antecessores, e com elas poderá exercitar todos
os atos lı́citos da guerra e da paz. E assim mesmo as poderá mandar esculpir
em seus firmais, aneis, sinetes e divisas, pô–las em suas baixelas, reposteiros,
telizes, casas, capelas e mais edifı́cios, e deixá–las gravadas sobre sua própria
sepultura, e finalmente se poderá servir, honrar, gozar e aproveitar delas em
tudo e por tudo como à sua nobreza convem. Com o que quero e me praz
que haja ele todas as honras, privilégios, liberdades, graças, mercês, isenções e
franquezas que hão e devem haver os fidalgos e nobres de antiga linhagem, e
como sempre de tudo usaram e gozaram os ditos nobres seus antepassados. Pelo
que mando a todos os juı́zes e mais justiças destes meus reinos, e em especial
aos meus reis de armas, arautos e passavantes, e a quaisquer outros oficiais e
pessoas a quem esta minha carta for mostrada e o conhecimento dela pertencer,
38 Francisco Antonio Doria
famı́lia do cunhado Raul Doria, que se prolongou aos anos 60 deste século
[57], c.g.;
Fernão Vaz da Costa e Clemenza Doria, genovesa, fixada esta na Bahia em princı́pios de 1555:
(a) Aleramo Doria. Filho de Gironima Centurione (filha de Lodisio Centurione Scotto, o
patrocinador de Colombo), e de Francesco Doria, banqueiro fixado em Sevilha em 1502,
terceiro do nome Aleramo, nascido antes de 1508 em Gênova, é atestado num padrão
de juros de 1.1.1557, que foi passado em nome de D. João III em Lisboa, dando–lhe
80$ 000 rs perpétuos sobre a alfândega de Lisboa. Neste padrão é dado como genovês,
vizinho da cidade de Gênova e lá morador, e tem como agente em Lisboa a Benedetto
Centurione. D. João III diz ainda que Aleramo Doria financiou-lhe, a câmbio, em parte,
as expedições portuguesas à África e à Ásia. Casou com Benedetta, filha de Alessandro
Cattaneo, c.g. do casamento. Filha natural:
(b) Clemenza Doria. N.c. 1535 provavelmente em Gênova, †após 1591 em Salvador. Criada
da rainha D. Catarina, mulher de D. João III, Clemenza passou ao Brasil em começos de
1555, onde casou duas vezes, c.g. Da primeira, com Sebastião Ferreira, moço de câmara
do infante D. Luiz, † 1556; da segunda, com Fernão Vaz da Costa, filho do Dr. Cristóvão
da Costa, chanceler da relação de Lisboa e reitor da universidade em 1526; casado em
1520 com Guiomar Caminha, filha do desembargador Fernão Vaz Caminha, que era
sobrinho de Pero Vaz Caminha, escrivão da frota de Cabral; neto paterno de Afonso
da Costa, alcaide–mor de Lagos confirmado em 1486; bisneto nos Costas de Soeiro da
Costa (c. 1390–1472), alcaide–mor de Lagos, navegador, um dos “Doze de Inglaterra,”
dos Costas antigos. Segue–lhes o filho:
(c) Cristóvão da Costa Doria. Do segundo casamento: batizado na Sé de Salvador em 1560,
† após 1606, segundo filho de Clemenza Doria e de Fernão Vaz da Costa, c.c. D. Maria
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75 Por que estes prenomes pouco habituais ? Quintilla é um prenome latino; Lucilla seria o
nome de parenta paterna; Inesilla provavelmente se seguiu para manter a rima; Filenilla é uma
versão latina feminina e distorcida do prenome grego masculino Phı́lon (donde a forma correta
Philonilla). Várias capelas, na região de Serinhaem, homenageiam uma Santa Philonilla,
que no entanto não está no hagiológio—talvez se haja feito alguma confusão com a também
inexistente Santa Filomena, cujo suposto túmulo teria sido descoberto em 1808.
Acciaiolis no Brasil 41
Referências
[1] “Acciaioli: Genealogia,” tábua exibida na Certosa de Florença (1952).
[2] J. I. Acciaiuoli de Vasconcellos Brandão, “Petição que fazem...”—manus-
crito existente na Biblioteca Nacional (1801).
[3] J. I. Acciaiuoli de Vasconcellos Brandão, no “Registro Geral das Mercês,”
Arquivo Nacional, Rio (1817).
[4] J. I. Acciaiuoli de Vasconcellos Brandão, “Memorial que faz José Inácio
Acciaiuoli de Vasconcellos Brandão. . . ”, Biblioteca Nacional (1817).
[5] J. I. Acciaiuoli de Vasconcellos Brandão, assento de seu óbito, Livro de
óbitos da freguesia de S. Pedro (Salvador, 1823–1830), fls. 83 e 83v.
[6] J. I. Acciaiuoli de Vasconcellos Brandão, “Inventário,” códice 04/-
1663/2132/03, Arquivo Público de Salvador (1826).
[7] A. Accioli de Vasconcellos, “Depoimento,” Autos da Devassa de 1817, Ar-
quivo Nacional, Rio (1817).
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[27] J. de Barros Accioli Pimentel, “Petição que faz José de Barros Accioli
Pimentel. . . ”, Biblioteca Nacional (1843).
[37] “Brasão de Armas de João Maria do Valle, Fidalgo Cavaleiro da Casa Real,
Comendador da Ordem de N. S. da Conceição de Vila Viçosa,” manuscrito
(1860).
[40] J. Calmette, “La Famille de Saint Guilhem,” Annales du Midi 39, 226–245
(1927).
[82] J. M. Lacarra, Textos Navarros del Códice de Roda, Tip. “La Académica,”
Saragoza (1945).
[90] J. Mattoso, “A Nobreza Rural Portuense nos Séculos XI e XII,” An. Estu-
dios Medievales 6, Barcelona (1969).
[99] S. de Moya, “Famı́lia Vieira Peixoto,” em An. Gen. Brasileiro 7, 341 (1945).
[115] A. Rangel, “Barão de Accioli,” maço cxcv, doc. 8827, no Inventário dos
Documentos do Arquivo da Casa Imperial do Brasil existentes no Castelo
d’Eu (1939).
[140] E. Zöllner, “Woher stammte der heilige Rupert ?” Mitteilungen des In-
stituts für österreichische Geschichtsforschung 57, 1–22 (1947).