Lélia Gonzalez
De Alex Ratts e Flavia Rios
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Pré-visualização do livro
Lélia Gonzalez - Alex Ratts
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Ratts, Alex
Lélia Gonzalez / Alex Ratts, Flavia Rios. — São Paulo : Selo Negro, 2010. — (Retratos do Brasil Negro / coordenada por Vera Lúcia Benedito)
Bibliografia
ISBN 978-85-87478-85-6
1. Ativistas pelos direitos humanos - Biografia 2. Gonzalez, Lélia, 1935-1994 3. Mulheres - Biografia 4. Mulheres negras - Atividade política I. Rios, Flavia. II. Benedito, Vera Lúcia. III. Título. IV. Série.
Índice para catálogo sistemático:
1. Brasil : Ativistas negras : Biografia 305.48896
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LÉLIA GONZALEZ
Copyright © 2010 by Alex Ratts e Flavia Rios
Direitos desta edição reservados por Summus Editorial
Editora executiva: Soraia Bini Cury
Editoras assistentes: Andressa Bezerra e Salete Del Guerra
Coordenadora da coleção: Vera Lúcia Benedito
Projeto gráfico de capa e miolo: Gabrielly Silva/Origem Design
Diagramação: Acqua Estúdio Gráfico
Foto da capa: Januário Garcia
Selo Negro Edições
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Alex Ratts dedica este livro a Nathasha Ratts, que na sua adolescência lê a plenos vapores.
Flavia Rios dedica este livro às Louva-Deusas, pela amizade de sempre.
Agradecimentos
Os autores agradecem aos funcionários e dirigentes das instituições públicas e privadas nas quais puderam levantar fontes e consultar documentos imprescindíveis à realização deste trabalho: Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro/Departamento de Ordem Política e Social (Dops), Biblioteca Nacional, Biblioteca Florestan Fernandes-USP, Arquivo Nacional, Arquivo do Estado de São Paulo, Acervo Audiovisual da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Centro de Estudos Afro-Asiáticos da Universidade Cândido Mendes e biblioteca do Geledés – Instituto da Mulher Negra. Também a todos os que colaboraram nas etapas de entrevista, levantamento/coleta de dados e acompanhamento durante a produção do texto. Agradecem aos amigos cariocas – Rodrigo Reduzino e Joilson Santana, Vanusa e Hellen Barcelos – pela hospedagem e abrigo no início e no final da pesquisa no Rio de Janeiro e ainda a Juliana Jardel, Clécia Santana e Diogo Marçal Cirqueira, fundamentais no apoio em Goiânia e na leitura de trechos do livro. A Luciana Pereira e Igor Alencar, pela transcrição das entrevistas, sendo que a primeira também leu e comentou cuidadosamente trechos dos originais. A Cinthia Marques do Santos e José Paulo Teixeira, pela contribuição no ordenamento de parte do material. Aos entrevistados que conheceram Lélia Gonzalez em momentos distintos de sua trajetória e indicaram ou cederam outras fontes de pesquisa: em São Paulo, Rafael Pinto e Milton Barbosa; no Rio, Ana Maria Felippe, Benedita da Silva, Elizabeth Viana, Hilton Cobra, Helena Theodoro, Januário Garcia e Rose Marie Muraro. A Eliane Almeida, também no Rio, e a Rubens Rufino, em Brasília, ambos sobrinhos de Lélia Gonzalez, por terem colaborado com este projeto. A Carlos Moore, que nos autorizou a utilizar suas entrevistas com a biografada. A Nelson Inocêncio, em Brasília, pelo fornecimento de material impresso sobre Lélia Gonzalez, e a Schuma Schumaher, no Rio, por disponibilizar documentos relativos ao Movimento Negro Unificado e ao Conselho Nacional dos Direitos da Mulher. A Carlos Alberto Medeiros e Paulo Roberto (Paulinho Boca), pelos diálogos referentes à Lélia Gonzalez e outros intelectuais e ativistas negros dos anos 1970 e 1980. Pela disposição em colaborar conosco, nossos agradecimentos a Luiz Ferreira (MA), Luiza Bairros (BA), Shawna Davis (EUA), Zezé Motta, Jurema Werneck, Lúcia Xavier e Amauri Mendes Pereira (RJ). Por fim, a Matheus Gato de Jesus, pela companhia e solidariedade durante a pesquisa e pelos comentários críticos e sugestões valiosas.
Introdução
Em 1986, nas primeiras eleições pós-ditadura militar – que havia governado o Brasil de 1964 até 1985 –, Lélia Gonzalez, intelectual, militante e feminista negra e candidata a deputada estadual pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT), aos 51 anos, apresentava-se à sociedade com o seguinte panfleto:
Quem é Lélia Gonzalez?
Penúltima de uma família de dezoito irmãos, mãe índia e pai negro, ferroviário.
Formação universitária: graduação em História e Filosofia; pós-graduação em Comunicação e Antropologia; cursos livres em Sociologia e Psicanálise.
Militante do Movimento Negro. Fundadora do Movimento Negro Unificado. Vice-Presidente Cultural do Instituto de Pesquisa das Culturas Negras (IPCN).
Membro do Conselho Diretor do Memorial Zumbi.
Militante da luta contra a discriminação da mulher. Primeira mulher negra eleita uma das Mulheres do Ano
pelo Conselho Nacional de Mulheres do Brasil, em 1981.
Membro do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher.
Primeira mulher negra a sair do país para divulgar a verdadeira situação da mulher negra brasileira. Vice-Presidente do 1o e do 2o Seminário da ONU sobre a Mulher e o apartheid
(Montreal-Canadá e Helsinque-Finlândia, 1980). Representante brasileira do Fórum da Meia Década da Mulher (Copenhague-Dinamarca, 1980). Convidada especial da ONU para a conferência sobre Sanções
contra a África do Sul (Paris-França, 1981). Representante brasileira no Seminário Um outro desenvolvimento com as mulheres
(Dacar-Senegal, 1982). Representante brasileira no Fórum de Encerramento da Década da Mulher (Nairóbi-Quênia, 1985).
Autora de artigos (no Brasil e no exterior) e livros sobre as condições de exploração e opressão do negro e da mulher.
Membro do Conselho Diretor da Sociedade Internacional para o Desenvolvimento (SID), com sede em Roma.
Professora com longa experiência de trabalho em escolas, colégios e universidades; atualmente, é professora de Cultura Popular Brasileira e de Proxemia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ).
Lélia foi eleita como suplente, e muito do que se conhece a seu respeito está sintetizado nos pontos mencionados.
Nascida em 1935 em Belo Horizonte e falecida em 1994 no Rio de Janeiro, Lélia de Almeida Gonzalez foi uma figura extremamente importante para o debate sobre as questões de raça, gênero e classe.
Antes de mais nada, é preciso dizer que escrever a biografia de Lélia Gonzalez não é fazer o resgate
de uma pessoa negra que se tornou conhecida no Brasil e no exterior. É bem mais que isso, pois essa intelectual ativista faz parte de um esforço coletivo de legitimação intelectual protagonizado pelo movimento negro e feminista no processo de redemocratização do Brasil. Estamos cientes, no entanto, de que contar a história de uma pessoa negra, especificamente de uma mulher, nos coloca na delicada posição de, tomando emprestadas as palavras de Jorge Luis Borges, avaliar o perímetro dos vazios e das lacunas
.
Lélia Gonzalez é verbete do Dicionário de mulheres do Brasil, da Enciclopédia da diáspora africana e da Enciclopédia Encarta africana. Alguns de seus artigos são citados em trabalhos contemporâneos escritos em português, inglês, espanhol e francês, os quais abordam as relações raciais e de gênero. Desde o ano de 1999, como veremos, vasto material tem sido produzido sobre as ideias e a vida dessa ativista.
Lélia é hoje reconhecida e reverenciada de várias maneiras: é nome de um colégio estadual no bairro de Ramos (Rio de Janeiro), de um Centro de Referência Negra (Goiânia), de uma Cooperativa Educacional (Aracaju). Nas mãos de Anna Rigato e Cláudio Donato, sua figura virou grafite para a fachada de um ponto de cultura voltado para mulheres (Guarulhos). Por duas vezes o bloco afro Ilê Aiyê a homenageou no carnaval baiano: em 1997, inserindo-a no tema Pérolas Negras do Saber
, e, no ano seguinte, com o tema Candaces
. A peça Candaces – A reconstrução do fogo, inspirada em suas reflexões, com texto e direção de Marcio Meirelles e realização da Cia. dos Comuns, foi apresentada em 2003, no Rio de Janeiro, nos teatros Gláucio Gil e Carlos Gomes. Em 2000, a Associação Nacional dos Docentes de Instituições do Ensino Superior (Andes) criou uma premiação nacional em distintas áreas, sendo que o prêmio para ensaios sobre educação e o negro brasileiro levava o nome de Lélia Gonzalez. Em São Paulo, a biblioteca do Geledés – Instituto da Mulher Negra também receberia seu nome em 2002.
Lélia Gonzalez tem sido lembrada em circuitos políticos de mulheres e do feminismo. Ainda em 1994, a Revista de Estudos Feministas republicou trechos de uma entrevista sua, dando-lhe novo título: Lélia fala de Lélia. Três anos depois, foi realizada a Jornada Lélia Gonzalez, em São Luís do Maranhão, com participação de mulheres negras feministas brasileiras, além da presença de Angela Davis, um dos maiores ícones da luta negra norte-americana em favor dos direitos civis. Em 2003, a Revista Eparrei, da Casa de Cultura da Mulher Negra de Santos, publicou matéria intitulada Imagens de Lélia Gonzalez
. No ano seguinte, aos dez anos de sua morte, a Fundação Cultural Palmares organizou, no Rio de Janeiro, a Semana Lélia Gonzalez.
Parcela significativa da trajetória e da produção de Lélia, além de material escrito a seu respeito, está abrigada na organização não governamental Memória Lélia Gonzalez e disponibilizada no site www.leliagonzalez.org.br, tendo sido coletada e organizada pela filósofa Ana Maria Felippe, que foi sua aluna e amiga.
Além do referido material, alguns trabalhos foram fundamentais para a elaboração desta biografia. Nesse sentido, destacamos o artigo Lembrando Lélia Gonzalez
, da socióloga Luiza Bairros (1999), e as dissertações Enegrecendo o feminismo ou feminilizando a raça: narrativas de libertação em Angela Davis e Lélia Gonzalez (2005), da historiadora Raquel de Andrade Barreto, e Relações raciais, gênero e movimentos sociais: o pensamento de Lélia Gonzalez (1970-1990), da cientista social Elizabeth do Espírito Santo Viana, concluída em 2006.
Além de apresentarem uma linguagem grandiloquente (para elogiar ou detrair o biografado), muitas obras também costumam retratar certas personalidades como pessoas desde muito cedo predestinadas a ser o que se tornaram. Com Lélia Gonzalez não corremos este risco, pois, ainda que sua vida tenha seguido um curso de exceção para uma pessoa negra pobre, sua trajetória até os 40 anos ainda não indicava claramente a militante, feminista, figura pública nacional e internacional que ela se tornaria.
Os autores deste livro não conheceram pessoalmente a biografada; o contato foi