Portas entre Mundos

Parte um:

Michael

Capítulo Um - Esferas Fantasma

Michael se lançou pelas robustas portas duplas da biblioteca, perdendo por pouco uma maçã bem apontada jogada por um dos meninos no ano acima dele. O suco de maçã espirrou no chão de ladrilhos ao entrar em contato, mas pelo menos o uniforme de Michael escapou da bagunça pela primeira vez.

Rogers, o bibliotecário da escola, ergueu os olhos de sua mesa quando as portas se fecharam, com a caneta sobre o enorme catálogo que continha os detalhes de todos os livros que a biblioteca mantinha. Ele examinou Michael criticamente, inspirando a respiração apressada e a aparência amassada do garoto, e balançou a cabeça grisalha. Então, você voltou, disse ele.

O velho tinha um nariz curto e curto, que parecia quase palhaço contra seus olhos sérios, e sempre usava um kilt, apesar de não ser nem remotamente escocês, tanto quanto Michael sabia.

O trabalho do Sr. Rogers era garantir que todos os livros estivessem perfeitamente ordenados o tempo todo, a menos que fossem emprestados ou lidos - um trabalho que ele levava muito a sério. Se um livro se destacasse um centímetro dos outros, o Sr. Rogers correria e o colocaria de volta na posição, como se temesse que algo lhe acontecesse se o deixasse.

Michael suspirou e tentou endireitar a camisa. 'Você sabe que este é o único lugar onde eu estou a salvo deles no intervalo e, de qualquer forma, este é o único lugar que euquer ser estar.' Ele olhou as estantes de livros ao seu redor, prestando atenção especial à sua seção favorita: fantasia. Ficava à direita da mesa do Sr. Rogers e a maioria dos livros lembrava pedaços gigantes de papel que levariam a maioria das pessoas por ano a ler. - Você já tem algum livro novo sobre magia? ele perguntou.

- Não, o que você retornou da última vez é o mais novo que temos. O que aconteceu com o livro que você me disse que recebeu ontem? Não me diga que você já terminou?

Michael desviou o olhar. 'Eu poderia ficar acordado a noite toda lendo - ele disse calmamente. - Você não vai contar à senhorita Rowan, vai? Ela dirá à minha mãe, com certeza, e nunca mais poderei ler na cama!

Sr. Rogers riu. - Não, não vou contar à senhorita Rowan. Além disso, passei muitas noites lendo também ... embora seja por isso que tenho tantas rugas aparecendo em mim. Ele olhou tristemente para a distância por um momento, dando a impressão de se lembrar de seus dias de juventude. Michael tossiu e o Sr. Rogers deu um sobressalto. 'Oh, sim, onde estávamos? Livros. Agora tem um novo sobre os mitos gregos. Você está familiarizado com eles?' ele disse, olhando a estante atrás de si e puxando um livro ainda embrulhado em celofane.

Eu ouvi um pouco sobre eles, mas nunca li nada, disse Michael. - Eles são sobre os deuses gregos que vivem no Monte Olimpo, não são?

A maioria deles, mas não todos, disse Rogers. - Na verdade, meu favorito é sobre a Gorgon Medusa.

'Medusa? Não é ela que tem cobras por cabelos e um olhar que transforma as pessoas em pedra? Michael perguntou.

'De fato ela é; Eu pensei que você poderia reconhecer o nome dela. istoéum dos mitos mais conhecidos, afinal. Há muito mais no livro, alguns dos quais nem eu ouvi falar antes. Está com vontade de tentar?

Michael olhou para o livro com fome. Seu interesse sempre foi despertado quando ele encontrou um livro que continha histórias das quais a maioria das pessoas nunca ouvira falar. O Sr. Rogers sorriu para ele, revelando dois dentes da frente muito tortos e, sem esperar uma resposta, desembrulhou o celofane ao redor do livro. Ele o carimbou com a data em que ele queria que fosse devolvido e depois o jogou nas mãos ansiosas de Michael.

Michael podia cheirar as páginas, o aroma fresco de papel e tinta recém-impressa que só vinha de livros novos. - Obrigado, senhor Rogers - ele disse, agarrando-o ao corpo e correndo para encontrar seu canto favorito da biblioteca, onde podia ler sem interrupções até o final do intervalo.

Ele abriu a capa, virando as páginas até chegar à lista de capítulos. Aquele sobre a Medusa estava na metade, mas como o Sr. Rogers havia dito que era o seu favorito (e como ele costumava ter bom senso nessas coisas), Michael se voltou direto para ele.

Medusa era uma criatura chamada Górgona, com o tronco e o rosto de uma mulher, mas o rabo de uma cobra. Ela tinha um olhar que poderia transformar qualquer coisa viva em pedra se você a olhasse nos olhos, e o cabelo dela era feito de cobras vivas.

Instantaneamente, Michael descobriu que estava sendo atraído para a história, virando página após página, lendo sobre todas as pessoas que tentaram desafiá-la e foram transformadas em pedra, esquecendo bastante que a campainha estava prestes a tocar.

Quando isso aconteceu, ele pulou violentamente, quase perdendo a página. Rapidamente, ele tirou um marcador do bolso e marcou a página, antes de voltar para a sala de aula onde a srta. Rowan estava esperando.

Em vez de sorrir para ele como ela costumava fazer, sua sobrancelha se enrugou e uma careta tremeu nos cantos da boca. Mas isso não era tudo o que era estranho. As bolinhas em seu vestido estavam se movendo, flutuando e ondulando pelo material. Ninguém mais parecia ter notado. Então ele percebeu que o vestido estava liso mais cedo naquela manhã, e a verdade sobre o que ele estava vendo começou a afundar.

Não é bom. Tentando esconder sua preocupação, ele se sentou no fundo da sala, observando as bolinhas dispararem, ficando maiores a cada momento. Na verdade, não eram pontos, eram esferas de fantasmas - bolas de matéria fantasmagórica que, por alguma razão, só ele podia ver. Eles estavam atraídos por pessoas de mau humor e, aparentemente, a senhorita Rowan estava com muito mau humor.

Parece, disse ela, falando lentamente e fixando o olhar firmemente em Michael, "que alguns de vocês não levaram seu trabalho a escrever sobre o que gostariam de ser no futuro a sério. Gostaria de lembrá-lo de tudo, como feiticeiros, feitiços e criaturas mágicas que não existem, e fingir que são reais é o que apenas as classes infantis fazem. '

Uma sensação de afundamento atingiu seu estômago. Embora ela estivesse se dirigindo a toda a turma, ele sabia que suas palavras eram dirigidas exclusivamente a ele. Por alguma razão estúpida, ele fora obrigado a escrever sobre sua ambição de treinar como mago. Ele sabia para todo mundo que a ideia pareceria ridícula, mas ele acreditava que os bruxos existiam desde que ele era criança. E depois de ler o livro que seu pai lhe dera de aniversário, isso serviu apenas para convencê-lo ainda mais.

Por fora, o livro se parecia com qualquer outro, mas os detalhes lá dentro eram tão bem escritos que parecia que o autor realmente estava lá. A história era simples; um mago chamado Ramble, o mais poderoso do Reino das Árvores, foi recrutado pelo rei para combater uma horda de demônios conhecidos como Desrai. O que era estranho, porém, era que Michael parecia saber coisas que nem haviam sido escritas. Como a filha do rei, que só foi mencionada uma vez porque tinha sido levado a algum lugar seguro longe da batalha. Michael sabia que havia mais na história dela, sabia que Ramble já a curara de uma doença terrível que varrera a cidade e que sua mãe também a havia contraído, mas a doença progredira demais para Ramble salvá-la.

Michael procurou o livro inteiro depois, tentando encontrar algum vestígio dele; simplesmente não havia um. No entanto, ele tinha certeza de que isso havia acontecido, assim como ele tinha certeza de que sua mãe estava com raiva de seu pai naquela manhã por adormecer em sua mesa em vez de examinar as contas.

Quando Michael voltou a pensar, percebeu que a senhorita Rowan estava agora a um centímetro da mesa. As esferas fantasmas eram ainda maiores agora e tentavam se fundir em uma. "Vá embora', ele disse a eles, esperando que funcionasse. Ele havia feito isso duas vezes antes, mas havia apenas um ou dois, não um enxame inteiro.

As esferas fantasmas resistiram, e agora todo mundo estava olhando para ele. Rowan parecia furiosa.

'EU implorar seu perdão? ela disse, com a voz embargada.

Rowan. Eu não estava falando com você. Eu estava conversando com ... - ele vacilou, sem saber o que dizer.

'Conversando com quem? Alguma criatura mágica que só você pode ver? Um unicórnio, talvez, ou talvez um dragão?

Não, são esferas fantasmas, disse ele, antes que pudesse se conter. Por que ele disse isso? Havia momentos em que dizer a verdade era necessário, ele sabia, mas esse realmente não era um deles.

Rowan zombou dele, e a sala de aula explodiu em gargalhadas. Foi demais para ele. Ele pulou quando as lágrimas obstruíram seus olhos, distorcendo sua visão, de modo que os cabelos dela pareciam cobras tão hediondas quanto os de Medusa, e saíram correndo da sala.

Ele não estava indo para nenhum lugar em particular, apenas para algum lugar para fugir, mas seus pés o levaram direto para a biblioteca. Batendo pelas portas duplas mais uma vez, ele passou por trás da estante mais próxima e caiu de joelhos.

'Michael?' Rogers disse, olhando para ele na esquina. 'Qual é o problema? Por que você está aqui durante o horário das aulas?

Michael enxugou os olhos na manga e olhou para ele. 'Eu ... eu não posso te contar. Você não acreditaria em mim - ele fungou.

'Oh, eu sou muito aberta. Por que você não me tenta? Rogers disse, ajudando Michael a se levantar. Ele o levou até a mesa e puxou outra cadeira para Michael se sentar, e encontrou uma lata de biscoitos em uma das gavetas, florescendo até que Michael pegou uma com relutância.

Como se o biscoito tivesse um soro da verdade, toda a história saiu de sua boca antes mesmo que ele tivesse tempo de engolir. Sua capacidade de ver as esferas fantasmas, a história sobre Wizard Ramble e como ele sabia coisas sobre isso, ele não podia explicar, a Srta. Rowan o repreendeu por acreditar que os bruxos eram reais e até mesmo seu próprio sonho de se tornar um.

O Sr. Rogers ouviu em silêncio e depois pegou um biscoito para si. Bem, posso lhe dizer uma coisa. Assistente real - ele disse, limpando as migalhas de seu kilt. Michael piscou para ele.

Infelizmente, continuou ele, "a senhorita Rowan é uma daquelas pessoas que costumo chamar de prática. Magia é uma ideia muito difícil para ela entender, e se, como você diz, ela está possuída por essas esferas fantasmas, não é de admirar que ela não acredite em você.

O que há de tão difícil nisso? Michael perguntou.

'Ela é uma pessoa que precisa de explicações sobre como as coisas funcionam, e dado que a maioria das pessoas tem a ideia de que a mágica simplesmente ... acontece, sem regras rígidas ou rápidas ... ela simplesmente não pode aceitá-la. Eu sei que você e eu estamos cientes de que a magia tem muitas regras e requer muita habilidade para usar, mas ela não percebe isso - respondeu o Sr. Rogers.

Você parece saber muito sobre isso, disse Michael, estreitando os olhos. 'Por quê? Você não é um bruxo, é?

O Sr. Rogers sorriu, embora seus olhos parecessem tristes. 'Não, eu não sou um bruxo. Mas eu conheci uma vez, muito tempo antes de você nascer. Acredito o nome era Ramble, pense nisso.

'Ele?' Michael disse. 'Quão?'

Nesse momento as portas da biblioteca se abriram, revelando a senhorita Rowan. Sua expressão era de pura raiva, e as esferas fantasmas em seu vestido quase se transformaram em uma. O Sr. Rogers franziu o cenho para ela e disse baixinho: - Acho que está na hora de você ir embora.

A princípio, Michael pensou que o Sr. Rogers estava falando com ele, mas depois seguiu o olhar e viu que as esferas fantasmas estavam desaparecendo. Quando o último desapareceu, Miss Rowan se sacudiu.

'O que estou fazendo na biblioteca?' ela disse, e então avistou Michael e o Sr. Rogers. - Sr. Rogers, você deveria saber que não deve permitir que um aluno entre aqui durante as aulas.

- Peço desculpas, senhorita Rowan - ele respondeu suavemente. - Acabei de descobrir que temos minhocas em uma das estantes de livros ali. Michael estava apenas me ajudando a mudar os livros para outro lugar.

Ela arqueou a sobrancelha e deu um sorriso caloroso. - Suponho que posso permitir isso - ela disse finalmente. Mas seja rápido. Com isso, ela saiu da biblioteca, com a habitual leveza em seus passos.

Capítulo Dois - A Nota

Assim que o som dos calcanhares da srta. Rowan desapareceu no corredor, Michael virou-se para o Sr. Rogers. - Por que você não me disse que também podia vê-los?

'Veja o que? A minhoca? Rogers perguntou, olhando atentamente para a estante como se realmente as tivesse.

'Não, as esferas fantasmas. Você deve poder vê-los, porque disse para eles saírem e eles o fizeram.

'Oh, aqueles. Bem, até hoje, eu também não sabia que você podia vê-los - ele disse, agora indo até a estante de livros e organizando uma trilogia que alguém havia colocado na ordem incorreta.

Mas é porque eu não achei que alguém acreditasse em mim, explicou Michael.

'Exatamente. Eu não posso muito bem sair por aí dizendo a qualquer pessoa; eles diziam que eu era louco. Se eu soubesse que você poderia vê-los, eu teria lhe dito. Mas não, então é isso - respondeu o Sr. Rogers, voltando para a mesa e sentando-se atrás dela.

- Mas como você conseguiu se livrar deles tão rapidamente? Quando tentei, eles nem se mexeram - disse Michael, se mexendo na cadeira.

'Quando houver tantas esferas fantasmas como essa, você deve manter sua mente muito calma e clara. Você tem que pensar em mais nada, exceto bani-los.

E essa é a chave?

O Sr. Rogers sorriu. 'Isso ajuda a ter mais experiência, eu admito. Duvido que eu fosse capaz de fazer isso na sua idade também. E foi nessa época que eles eram muito mais frequentes , disse ele, mas depois acrescentou quase para si mesmo, mas eles parecem estar em ascensão novamente.

Ele percebeu que Michael estava olhando para ele e tossiu, um pouco envergonhado. - De qualquer forma, deve ser tempo suficiente para convencer a senhorita Rowan de que estamos movendo livros. É melhor você voltar para a aula.

Michael se levantou, mas depois lembrou que