Uma fada veio me visitar
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Sobre este e-book
Livro que inspirou o filme É fada, estrelado por Kéfera Buchmann.
Semana de provas e duas notas vermelhas no bimestre. Luna estava preocupada com o seu futuro, ou com o futuro dos seus fins de semana, naquela véspera de prova de matemática. A mãe já havia avisado: mais uma nota ruim e nada de festas, cinema, praia, shopping, televisão ou computador por tempo indeterminado. Os dias não estavam sendo nada fáceis para esta menina de 13-quase-14 anos, cabelos ondulados, inteligente, sensível e descolada. Mas ela não podia imaginar o que a esperava naquela noite.
Depois de dar uma ajeitada no quarto e devorar números e fórmulas até o limite da exaustão, Luna caiu no sono, livro de matemática no colo. Foi então que seu sonho foi interrompido pela inusitada visita de uma fadinha espevitada que usava um vestido amarelo-ovo de bolinhas pretas, todo rodado, e um cabelo armado que a fazia parecer saída do filme Grease, nos tempos da brilhantina. Luna não acreditava em fadas, mas achava que, se elas existissem, deveriam usar vestidos brancos, longos e esvoaçantes. Com muito esforço, algumas doses de magia e diálogos impagáveis, a simpática Tatu conquista a confiança de Luna. E um mundo de descobertas incríveis tem início.
A missão de Tatu, na verdade, era dar uma mãozinha a uma certa Lara Amaral, que estava prestes a passar por um grande problema, mas para isso a fada precisaria da ajuda de Luna. O problema é que a tal Lara era simplesmente a menina mais metida do colégio, e ainda por cima havia ficado com o fofo do Pedro Maia!
Será que Luna vai deixar de lado sua implicância com a colega de turma e ajudar Tatu a cumprir a sua tarefa e quem sabe conseguir uma promoção? No fim das contas, uma grande amizade estava por nascer para provar que as coisas nem sempre são como parecem e os problemas podem ser a chave para novas e enriquecedoras experiências.
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Uma fada veio me visitar - Thalita Rebouças
Autora
Capítulo Um
QUE DIA!
Luna estava desolada, de nada adiantaram suas lágrimas melodramáticas. Djalma, professor de Geografia sem alma, sem sentimento (e sem cabelo no cocuruto), não se abalou nem um pouquinho com elas e não lhe deu o meio ponto pelo qual ela tanto implorou. Resultado imutável dessa história: era sua segunda nota vermelha no bimestre, o que lhe renderia um castigo daqueles, como sua mãe já alertara. Ficaria sem festas, sem cinema, sem praia e sem música por tempo indeterminado. Quer tragédia maior do que essa?
O pior ainda estava por vir. No dia seguinte, Luna teria prova de Matemática – que simplesmente odiava – e precisava estudar muito, muito mesmo, para se dar bem. Caso contrário, ela teria sua terceira nota vermelha no boletim, o que significava um aumento drástico do já terrível castigo: televisão, shopping e computador também seriam cortados de sua vida. Ou seja, tortura geral, crueldade total.
Não bastasse o drama que vivia com as notas, Luna soube que o fofo do Pedro Maia, dono dos cílios mais enormes, mais lindos e mais charmosos do planeta, ficou com a metida da Lara Amaral, uma menina que se achava tudo de tudo, mas que era nada de nada. Para piorar, a fofoqueira da Bia Baggio (que em algumas semanas era sua melhor amiga, em outras sua pior amiga) espalhou para toda a escola que Luna tinha inveja de sua criatividade. Só porque seu blog tinha uns gifs animados parecidos com os do blog dela. Definitivamente, aquele dia não era dos mais felizes na vida de Luna.
À noite, enquanto devorava números, cálculos e fórmulas, a menina sabia que em pouco tempo sua mãe chegaria do trabalho e lhe daria uma bronca, a nonagésima sétima da semana, ao constatar que seu quarto continuava o retrato do caos, como se por lá tivesse passado um furacão dos grandes. Roupas amontoadas em cima da cômoda, da escrivaninha e no chão, meias e tênis espalhados por todo canto, CDs fora das caixas, papéis de bala pelo colchão, prendedores de cabelo embaixo da cama, livros abertos, lápis, canetas e revistas adolescentes por todo lado... Por conta da bagunça (e também do alerta do castigo-pedreira), o clima entre ela e sua mãe não estava nada bom e a tendência era piorar.
Foi o que aconteceu.
– Ah, não, Luna! Não acredito que você ainda não arrumou esse quarto! Está parecendo um chiqueiro!
– Eu tenho que estudar, mãe!
– Arruma e estuda depois! E diminui esse som!
– Música alta me ajuda a concentrar.
– Conversinha! Diminui esse barulho horroroso e arruma essa bagunça já!
– Mas tem muita coisa para arrumar, vai demorar e atrapalhar meus estudos! E você não quer que eu me dê mal na prova de Matemática, né?
– Espero que você se dê maravilhosamente bem nessa prova, porque três notas vermelhas no bimestre é demais para a minha cabeça! E você sabe o que vai acontecer se seu boletim vier com três notas vermelhas, não sabe?
– Sei – rosnou. – Vou entrar num castigo desumano, cruel, o pior castigo já dado a alguém desde que o mundo é mundo.
Luna levantou-se e, irritada, emburrada e cheia de má vontade, começou a arrumar a bagunça sob o mal-humorado olhar materno.
– Não tenho medo de cara feia, não, viu? Cara feia para mim é fome – disse sua mãe antes de sair do quarto.
Foi só ela bater a porta para a menina logo parar a encenação.
Luna – garota da Zona Sul viciada em fruta-do-conde e pingue-pongue e alucinada pela lua (Luna significa lua
em italiano, e ela sempre adorou isso) – era apaixonada por seu quarto, mas nunca gostou de arrumá-lo. Costumava dizer que se entendia na sua bagunça. Seu quarto não era o quarto que se espera de uma menina de 13-quase-14 anos. Nada de rosa, nada de cortininha meiguinha, de coisinhas fofinhas e bonitinhas de pelúcia. Tudo lá era multicolorido e pintado à mão por ela, que, aos três anos, já mostrava aptidão para lidar com os pincéis.
As paredes eram decoradas pelas telas que pintava e o banquinho de madeira que ficava ao lado de sua cama também era Lunamente
colorido, como ela gostava de dizer. Tudo tinha seu toque de artista: a cama, o armário, a caneca, até o teto... A adolescente adorava pintar o sete no quarto que não era quarto, era a Casa da Luna, como frisava a placa pintada por ela pendurada na porta. A porta, aliás, era cheia de luas. Crescentes, minguantes, cheias... De várias formas, cores e tamanhos.
Depois do jantar, por volta das oito e meia, ela conectou-se para um animadíssimo bate-papo virtual com Nina Dantas (sua melhor amiga número dois). O assunto era Lara Amaral. Como a Lara Amaral era uma equivocada, sem noção da vida, como a Lara Amaral era falsa e mentirosa, como a Lara Amaral era metida, como a Lara Amaral conseguiu ficar com o gato da escola e, por isso, ficou ainda mais metida, como a Lara Amaral parecia um pequinês subnutrido. Daí para as duas começarem a brincar de dar a Lara Amaral apelidos asquerosos foi um pulo, mas bem nessa hora sua mãe entrou no quarto sem bater, uma ofensa gigante para Luna.
– Eu vou desligar esse computador agora se você não arrumar esse quarto decentemente e estudar.
– Invasão de privacidade é crime! – chiou. – Eu estou fazendo a digestão, não dá para estudar de barriga cheia! Estou aproveitando esse tempo para ter uma conversa importantééésima com a Nina, não tá vendo?
– Importantésima é a prova de amanhã. Você já terminou de estudar?
– Não... – disse Luna, cabisbaixa.
– Já arrumou o quarto?
– Não...
– Então desliga esse computador agora!
– Ainda não terminei com ela. Tô quase acabando, já desligo.
– Desliga agora, Luna. Eu estou mandando! Ou você quer que eu entre nessa conversa e deixe um recadinho para a Nina dizendo que você precisa desligar para levar uma bronca da mãe?
Luna engoliu a raiva, inventou uma desculpa para a amiga e desligou o computador.
– Você tem quase 14 anos, filha! Assim não dá! Eu tenho uma vida atribulada, não posso ser sua babá, ficar em cima o tempo todo para ver se você está fazendo as coisas direito. Você já é uma moça, quase uma adulta, precisa aprender a ter responsabilidade!
– Eu sou responsável!
– Não sei em que planeta! Faz tudo errado, está virando uma péssima aluna, ficou respondona, desobediente, agressiva... e agora deu pra brigar comigo, logo comigo! A gente sempre se deu tão bem!
– Mas você tá muito chata com essa pressão em cima de mim.
– Eu não estou chata, eu estou preocupada. Você quer repetir o ano? Ficar com os pirralhos em vez de ficar na mesma sala das suas amigas?
– Eu não vou repetir, depois eu recupero!
– Recupera agora, Luna! Quero ver você meter a cara nos livros agora!
– Tá – resignou-se a menina, tristonha.
– Mas antes arruma o quarto.
– Tá! – disse ela, agora emburrada.
Luna não arrumou, apenas dobrou umas roupas que estavam jogadas em cima da cômoda e deixou-as por lá mesmo. O livro de Matemática... bom, ela achou por bem estudar. Não queria ficar sem festa, sem cinema, sem praia, sem shopping, sem música, sem computador e sem televisão. Isso seria pééééssimo!
Passaram-se três horas. Sua mãe bateu à porta e entrou:
– Você não arrumou nada, Luna? Não é possível!
– Como não arrumei, mãe? Dobrei várias roupas que estão em cima da cômoda, não tá vendo? Que saco!
– Luna!
– Ah, é isso mesmo! O quarto é meu, a bagunça é minha, você não mora no meu quarto, mora? Sabe por que você se preocupa tanto com ele? Porque você é uma chata que não tem o que fazer da vida.
Silêncio. Silêncio desconfortável.
– Você era tão boa filha, Luna... tão boa filha... – desabafou sua mãe, quase chorando, saindo do quarto. – Onde foi que eu errei? Onde foi que eu errei?
Não era uma pergunta para ser respondida, Luna sabia. Sua mãe (que, diga-se de passagem, tinha, sim, o que fazer da vida, trabalhava numa agência de publicidade e era uma ótima profissional) saiu com a maior expressão de decepção e desgosto que ela já vira. Por sua causa.
Que chato. Chatão. A menina não queria magoar sua mãe, mas acabou sendo dura demais com ela. Assim que ficou sozinha de novo, sentiu-se culpada, incompetente, má filha, má aluna, má pessoa, irresponsável... tudo de ruim. E ainda tinha sido uma grossa com a pessoa que mais amava no mundo. Ficou triste à beça. E chorou baixinho. Baixinho e rapidinho, pois logo sentiu-se na obrigação de enxugar as lágrimas para voltar a estudar.
Lá pela meia-noite, as pálpebras pesaram e ela caiu no sono com o livro de Matemática no colo.
Capítulo Dois
A VISITA
Entrar na vida das pessoas era a pior parte do trabalho para Tatu. Ela ficava sem jeito na hora de se apresentar, o primeiro contato sempre assustava, mesmo sem querer, e isso a deixava bem aborrecida. Naquele dia, depois de décadas e décadas de sono profundo no mundo das fadas, tinha uma missão: resolver mais um problema juvenil. Como de praxe, entrou em sonho na vida da pessoa escolhida, aquela que iria ajudá-la em sua incumbência na Terra.
Claro que a escolhida era Luna, que a essa altura sonhava com cálculos para a prova do dia seguinte, quando Tatu entrou no meio de uma equação, toda rebolativa. Como era exibida aquela fada!
Oi, Luna, tudo bem? Muito prazer, eu sou a Tatu.
Tatu? Fala sério! Que nome é esse?
Meu nome mesmo é Ortatulina, Tatu é apelido.
Melhor. Mas por que Tatu? Tatu é um bicho tão feio...
É, mas eu sou uma fada linda, que entrou no seu sonho para te acordar.
Fada? Eu não acredito em fada. E, na boa, não te acho nada linda.
"Mesmo assim, sua mal-educada, você precisa acordar para ter uma