Estudos em Análise do Comportamento sobre Transtorno do Espectro Autista
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Sobre este e-book
estudos gerados em instituições que têm contribuído
na construção do conhecimento brasileiro, apoiados
na Análise do Comportamento. Diferentes públicos
podem ser beneficiados com sua leitura: os que
iniciam o fazer pesquisa, por meio do acesso a
diferentes formas de produção de conhecimento; os
pesquisadores, que podem ser instigados a levantar
novos problemas de pesquisa; e aqueles que atuam na
intervenção, que podem, em sua prática,
adaptar/aplicar os procedimentos bem-sucedidos
apresentados neste livro.
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Estudos em Análise do Comportamento sobre Transtorno do Espectro Autista - Paula Suzana Gioia
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Bibliotecária: Eliane M. S. Jovanovich – CRB 9/1250.
E82 Estudos em análise do comportamento sobre transtorno do espéctro autista (TEA) / Paula Suzana Gioia organizadora. – Londrina : Eduel, 2019.
1 livro digital : il.
Vários autores.
Inclui bibliografia.
Disponível em: http://www.eduel.com.br
ISBN 978-85-302-0058-9
1. Psicologia comportamental - Autismo 2. Análise do comportamento. 3. Transtorno do espectro autista (TEA). I. Gioia, Paula Suzana. Título.
CDU 159.9.019.4:616.89
Enviado em: Recebido em:
Parecer 1 14/01/2017 10/04/2017 Parecer 2 22/02/2017 26/02/2017
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SUMÁRIO
Prefácio
Apresentação
Capítulo 1
Transtorno do espectro autista: aspectos etiológicos, de desenvolvimento e preventivos
Silvia Cristiane Murari
Nilza Micheletto
Capítulo 2
Análise do comportamento aplicada (aba) no tratamento de indivíduos diagnosticados com transtorno do espectro autista (tea)
Cíntia Guilhardi
Juliana P. de Godoi Fialho
Leila Bagaiolo
Claudia Romano Pacífico
Capítulo 3
DIFERENTES CONTINGÊNCIAS DE ENSINO DE SOMAS
Fernanda C. Marques Garner
Paula S. Gioia
Capítulo 4
Procedimentos adicionais para o ensino da leitura
Larissa Chaves de Sousa Santos
Paula S. Gioia
Capítulo 5
Programa de psicoeducação de pais para manejo de problemas de comportamento de crianças
Naiara Adorna da Silva
Luiz Renato Rodrigues Carreiro
Gisele da Silva Baraldi
Maria Cristina Triguero Veloz Teixeira
APLICAÇÕES DA TECNOLOGIA DE REALIDADE VIRTUAL AO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: UMA REVISÃODA LITERATURA
Verônica Bender Haydu
Marcelo Henrique Oliveira Henklain
Elizeu Borloti
SOBRE OS AUTORES E SUAS AFILIAÇÕES
Grupo Gradual
Prefácio
Existe um filme inteiro que separa esse lugar onde estou hoje do lugar que anos atrás me colocou nesse caminho. Uma saga, vários filmes. Um universo de distância, pouco mais de 30 anos.
Escrevendo esse prefácio eu visitei alguns capítulos dessa saga. Começando pelo mais recente: A Análise do Comportamento não é mais a escolha subversiva, impopular, segregada - a escolha de protesto e de resistência- que foi nos meus dias de estudante de Psicologia. Você não precisa mais perder amigos por optar pelo behaviorismo.
Em várias áreas de sua aplicação, a Psicologia continua entretendo debates teóricos exaustivos, por vezes improdutivos. Continua sendo a ciência
da mente que contribui pouco e que pouco é cobrada. Esse tipo de psicologia deverá existir por outros tantos séculos. Sobreviverá por tanto tempo quanto sobrevivem as outras práticas culturais que fazem pouca diferença.
Mas existe um canto do universo, um canto importante e cada vez maior do mundo, no qual a Análise do Comportamento, o behaviorismo, a Psicologia Comportamental, O ABA
– chamem como quiser- reina soberana. Hoje, é o campo do autismo, do desenvolvimento atípico e dos transtornos que, deixados sem tratamento eficiente, tem consequências devastadoras (ênfase ao hoje
). É um canto do universo no qual precisa haver mais do que boa sintaxe e coerência semântica para o psicólogo sobreviver. O psicólogo precisa fazer a diferença, precisa saber mudar o mundo
e mudar o mundo de verdade.
Em um outro capítulo dessa saga, engajei em discussões e me vi envolvida em confusões universitárias que só quem esteve por perto conseguiria descrever. O autismo, para os poucos que se interessavam pelo assunto, era uma condição psíquica
, uma condição rara, não um transtorno neurológico de grande prevalência. O desenvolvimento atípico, a deficiência intelectual principalmente, eram condições de exclusão, desumanizadoras. Não exclusão social apenas, exclusão da espécie mesmo. Era assim no final dos anos 80, no início dos anos 90. Culpa, óbvio, da mãe.
Bem-vindos ao hoje
.
Hoje, é um capítulo que fica em algum lugar entre o início e o fim dessa história. A pessoa com deficiência virou consumidora. A pessoa com autismo virou consumidora. A pessoa sem deficiência, ou de desenvolvimento neurotípico parece ter entendido que sua condição privilegiada é circunstancial e temporária. Que ela, também, vai precisar de uma ciência do comportamento eficiente. Também virou consumidora.
E o analista do comportamento agora tem um olho em terra de cego. Temos que aprender a ser reis com responsabilidade.
Meca Andrade
Outubro 2018
Apresentação
Neste livro estão relatados alguns exemplos de pesquisa em Análise do Comportamento sobre o Transtorno do Espectro Autista, oriundos de diferentes centros de estudos universitários. Entendemos que tornar público metodologias e resultados de pesquisa sempre é uma meta dos cientistas e deveria andar lado a lado com a produção de conhecimento, conferindo-lhe significado.
Grande parte dessas pesquisas equivale às que alguns autores da área denominaram aplicadas
, tendo seu foco principal na população investigada e no interesse em amenizar os problemas que enfrentam por meio de procedimentos derivados da análise experimental do comportamento. Estes procedimentos, por sua vez, estão detalhadamente descritos e são conceitualmente coerentes com a abordagem que os sustenta.
A estrutura proposta para a obra permite antever o que os pesquisadores das diferentes instituições têm a oferecer. O livro está dividido em quatro partes. Cada uma delas procura atender a um objetivo comum. A primeira parte, composta por dois capítulos, expõe detalhadamente o que é o Transtorno do Espectro Autista, considerado o transtorno neurológico mais frequente na população, como descrito no Capítulo 1 (Transtorno do Espectro Autista: Aspectos Etiológicos, de Desenvolvimento e Preventivos) que abre o livro com uma visão histórica sobre o diagnóstico e descreve o autismo como um transtorno democrático
, já que independe da região geográfica, da etnia, da cultura ou dos fatores sócioeconômicos aos quais os indivíduos estão vinculados.
Outra característica do TEA é sua alta incidência, o que vem instigando a busca por intervenções eficazes; as baseadas na Análise do Comportamento têm inspirado tratamentos com bons resultados para o autismo, especialmente na primeira infância e quando aplicadas precoce e consistentemente. Essas vantagens do atendimento analítico-comportamental a autistas são caracterizadas de forma perspicaz pelos psicólogos do grupo Gradual, no Capítulo 2 (Análise do Comportamento Aplicada no tratamento de indivíduos diagnosticados com Transtorno do Espectro Autista), que ainda tornam claro, no mesmo capítulo, que o conhecimento produzido por essa disciplina é de suma relevância para enfrentar os desafios da intervenção com essa população.
Na parte 2, também composta por dois capítulos, as pesquisas descritas têm o objetivo de apresentar procedimentos e resultados voltados à maximização de comportamentos relevantes para a vida cotidiana de crianças com autismo - Diferentes Contingências de Ensino de Somas, no Capítulo 3 e Procedimentos Adicionais para o Ensino da Leitura, no Capítulo 4. Diferentemente, na parte 3 apresenta-se pesquisa voltada a minimizar comportamentos de difícil manejo, por meio da preparação de cuidadores para a forma mais adequada de enfrentar os comportamentos problema, tratada no Capítulo 5 (Programa de Psicoeducação de Pais para Manejo de Problemas de Comportamento de Crianças). O livro também inclui um abrangente estudo de revisão de literatura sobre o ambiente virtual como um recurso de tratamento de TEA, caracterizando o que há de novo nos procedimentos atuais (Capítulo 6 - Aplicações da Tecnologia de Realidade Virtual ao Transtorno do Espectro Autista).
Outro ponto forte desta obra é a conjunção, em um mesmo volume, de estudos gerados em diferentes instituições que têm contribuído na construção do conhecimento brasileiro (Universidade Estadual de Londrina, Universidade Federal do Espírito Santo, Universidade Federal de Roraima, Universidade Presbiteriana Mackenzie, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), apoiados na Análise do Comportamento, assim como as intervenções realizadas pelo Grupo Gradual e pelo Instituto de Terapia por Contingências de Reforçamento.
Neste livro, o fenômeno abordado (TEA) é estritamente humano e grande parte dos capítulos, coerentemente com um critério comportamental, trata do fazer desses organismos sob investigação, assim como há a defesa da metodologia do sujeito único, que permite o estudo de um único indivíduo como controle dele mesmo, avaliado em diferentes condições experimentais (antes, durante e após a introdução de uma variável independente). Ao fazerem dessa forma, os pesquisadores claramente evidenciam que o procedimento proposto foi o responsável pelo responder final dos participantes e discutem sua eficácia na mudança substancial do comportamento investigado. Essas características constroem procedimentos e intervenções analítico-comportamentais para pessoas com TEA passíveis de avaliação, baseadas em dados que podem ser analisados, permitindo a comparação do comportamento antes e depois da intervenção.
Outra característica importante dos estudos produzidos sob a ótica da Análise do Comportamento, adequadamente descrita no Capítulo 2, diz respeito ao relato dos procedimentos e técnicas que conduziram aos resultados, que devem ser claros e completos, uma vez que se defende a possibilidade de sua replicação por outros pesquisadores. As pesquisas relatadas atendem a esse critério - estão pormenorizadamente descritas e seus resultados se estendem no tempo e espaço, isto é, para além do local e do momento da realização do trabalho dos pesquisadores. Um estudo exemplar com essa preocupação é o apresentado no Capítulo 5 que, ao lidar diretamente com os pais, garante a generalização para novos ambientes das mudanças do comportamento das crianças sob seus cuidados.
Uma última consideração não pode ser deixada de lado e envolve a relação entre Análise do Comportamento e TEA. Embora os estudos aqui apresentados relacionem-se ao TEA, a Análise do Comportamento Aplicada é uma proposta de intervenção e de produção de conhecimento, derivada da Análise Experimental do Comportamento, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida de pessoas ou grupos com diferentes características e em ambientes com diferentes finalidades.
Capítulo 1
Transtorno do espectro autista: aspectos etiológicos, de desenvolvimento e preventivos
Silvia Cristiane Murari
Nilza Micheletto
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) tem sido estudado desde o início do século XX. Inicialmente, era considerada uma patologia de base emocional, descrita como psicose infantil, que afetava crianças descritas como tendo desenvolvimento considerado típico. Essa concepção baseava-se no fato de que exames clínicos e laboratoriais eram incapazes de fornecer dados consistentes sobre a etiologia do autismo e que pudessem servir como critério diferencial para o diagnóstico de quadros de défices sensoriais, como a afasia congênita, ou de quadros ligados às oligofrenias (Assumpção JUNIOR; Pimentel, 2000; Gadia; Tuchman; Rotta, 2004).
A partir de 1970, o conceito de autismo vinculado à psicose cedeu lugar a uma perspectiva que o vinculava a distúrbios do desenvolvimento (Waller et al., 1999). Aparentemente, esse tipo de mudança deveu-se a pesquisas feitas em psicologia cognitiva e em Análise do Comportamento. Há duas publicações principais em que se pode fundamentar essa mudança. A primeira é o livro Autism: diagnosis, current research and management (Ornitz; Ritvo, 1976) no qual o autismo foi relacionado à défices cognitivos. Para Assumpção e Pimentel (2000), esta obra é um marco para a psicologia cognitiva. A segunda publicação é a obra de Ivar Lovaas (1981) Teaching Developmentally Disable Children: The ME Book e seus trabalhos com autistas, todos de uma perspectiva analítico- comportamental. Todavia, apenas em 1987 ocorreu o reconhecimento de que o transtorno autista fosse uma entidade clínica distinta das psicoses. O Manual de Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais – na versão III – passou a incluir critérios diagnósticos para autismo de uma perspectiva desenvolvimentista. Assim, se já no fim da década de 1980 o autismo estava bem estabelecido como um transtorno comportamental, sua etiologia não estava.
O TEA, de forma consensual, é compreendido como um fenômeno heterogêneo. Alguns indivíduos se desenvolvem dentro dos padrões comportamentais e biológicos estabelecidos culturalmente até aproximadamente os dois anos, mas após apresentam dificuldades de interação social e estereotipias leves. Às vezes, essas dificuldades escalam para casos severos, como ausência de fala e comorbidades tais como retardo mental e comportamentos autolesivos. Em função destas características é que mudanças nos critérios diagnósticos ocorreram e uma nova classificação foi estabelecida (Lampreia, 2008).
De acordo com Manual Diagnóstico e Estatístico de Desordens Mentais – DSM-IV-TR (Associação Americana de Psiquiatria, 2002), o TEA era uma das condições que compunha o quadro de transtornos invasivos do desenvolvimento, juntamente com Transtorno de Rett, Transtorno Desintegrativo da Infância, Transtorno de Asperger e Transtorno Invasivo do Desenvolvimento Sem Outra Especificação. Os Transtornos Invasivos do Desenvolvimento, incluindo o TEA, eram caracterizados por prejuízo severo e invasivo em habilidades de interação social recíproca, habilidades de comunicação, linguagem, ou presença de comportamento, interesses e atividades estereotipados.
Em 2013, uma nova versão do Manual Diagnóstico e Estatístico de Desordens Mentais – DSM V (Associação Americana de psiquiatria, 2014) entendia que todos os transtornos invasivos do desenvolvimento, com exceção da síndrome de Rett, não mais teriam diagnósticos distintos e passavam a ser considerados graduações dentro de um mesmo espectro. Esta mudança estabeleceu a nova classificação denominada de Transtorno do Espectro Autista -TEA.
O TEA continua a ser definido por um conjunto de défices de interação verbal e não verbal, que ocorrem de forma persistente em diferentes contextos. Abrange défices em reciprocidade social, em interações não verbais e falta de habilidade para compreender determinadas relações, défices estes acompanhados da existência de padrões comportamentais restritivos ou repetitivos. A diferença de maior destaque fica por conta de que, no DSM V, a linguagem deixa de ser critério diagnóstico.
Materiais deste tipo, como o DSM V, podem auxiliar os profissionais por apresentarem critérios padronizados de diagnóstico que, se cumpridos por todos, podem produzir dados para estudos epidemiológicos, importantes para o estabelecimento de políticas públicas. Todavia, muitas críticas são dirigidas ao uso desse manual (Banaco; Zamignani; Meyer, 2010; Gongora, 2003; Lampréia, 2003; Pessotti, 2001).
Dentre as críticas, a de se considerar os sintomas
como sendo idênticos para todos os indivíduos, caracterizando-os como um grupo homogêneo, é tida como a mais grave. Sabe-se que o TEA abrange um espectro heterogêneo de quadros clínicos e comportamentais