Contos da bola
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Sobre este e-book
As experiências vividas em peladas e "jogos contra", em ruas de asfalto e paralelepípedos, no colégio, em campinhos de terra ou de (pouca) grama, quadras de clubes ou praças, até mesmo no quarto e na sala de casa; nas arquibancadas, gerais, cadeiras e tribunas de imprensa do Maracanã e de outros estádios, alguns bem acanhados; nas redações; na cobertura jornalística in loco de tantas partidas, das menos importantes às grandes decisões, e a — permitam-me — fértil imaginação, fizeram esta criança crescer e se desenvolver para finalmente entrar em campo.
A viagem no tempo e no espaço por todos os lugares onde o futebol pode nos levar é a mesma daquela bola colocada com maestria, em câmera lenta, no ângulo, lá onde a coruja repousava, apesar de o constante som ensurdecedor das torcidas.
Muitos personagens dos contos deste livro foram inspirados em pessoas que conheci, alguns são amigos com os quais ainda convivo, uns com mais, outros com menos frequência. Por motivos diversos, preferi não revelar os nomes verdadeiros, nem o meu, embora para quem conheça — ou conheceu — fique muito fácil identificá-los.
Há outros, porém, que foram tirados da cartola, ou melhor, da cachola. Há histórias que me foram contadas e misturei com outras. Em muitas, eu estava lá. Se aconteceram exatamente como estão escritas, não tem a menor importância. No mundo da ficção, onde muitas vezes há mais verdades do que no noticiário do dia a dia, uma mentira bem contada vale muito mais do que uma realidade mal (d)escrita.
Esta foi a minha intenção, e espero ter acertado o gol. Lá no cantinho.
Ou melhor, nos continhos.
Eduardo Lamas
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Pré-visualização do livro
Contos da bola - Eduardo Lamas
São Paulo
2021
1ª edição
Copyright @ Cartola Editora
Ficha técnica:
L217c
Lamas, Eduardo, 1966 -
Contos da bola/ Eduardo Lamas - São Paulo: Cartola Editora, 2021.
586kb. ; ePub.
ISBN: 978-65-87084-58-9
1. Crônica. 2. Futebol. I. Título.
CDD: B869.93
CDU: 82.94(81)
Revisão:
Thais Rocha e Rodrigo Barros
Diagramação e projeto gráfico:
Rodrigo Barros
Capa:
Rodrigo Barros
1ª edição
Todos os direitos desta edição reservados à Cartola Editora. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização por escrito da editora. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Sumário
Apresentação
Prefácio
Dedicatória
O torcedor de videoteipe
Futebol de sonhos
Tino
O árbitro honesto
O que é que só você viu?
A angústia da espera pelo gol da vitória
Sinuca de bico
Um zagueiro inesperado
O melhor resultado
O doido Cornoió
Outra bolada certeira
Cinco de julho de 1982
Motivação extra
Picolé
Paixão de extremos
Um Fla-Flu esquecido no tempo
Os xarás
Um torcedor volúvel e azarado
Dos palcos aos gramados
Sobre o autor
Apresentação
Pode-se dizer que as primeiras jogadas destes contos começaram a ser criadas quando dei meus primeiros chutes numa bola colorida de borracha ou, quem sabe, numa dente de leite
. Os mais velhos sabem do que digo…
As experiências vividas em peladas e jogos contra
, em ruas de asfalto e paralelepípedos, no colégio, em campinhos de terra ou de (pouca) grama, quadras de clubes ou praças, até mesmo no quarto e na sala de casa; nas arquibancadas, gerais, cadeiras e tribunas de imprensa do Maracanã e de outros estádios, alguns bem acanhados; nas redações; na cobertura jornalística in loco de tantas partidas, das menos importantes às grandes decisões, e a — permitam-me — fértil imaginação, fizeram esta criança crescer e se desenvolver para finalmente entrar em campo.
A viagem no tempo e no espaço por todos os lugares onde o futebol pode nos levar é a mesma daquela bola colocada com maestria, em câmera lenta, no ângulo, lá onde a coruja repousava, apesar de o constante som ensurdecedor das torcidas.
Muitos personagens dos contos deste livro foram inspirados em pessoas que conheci, alguns são amigos com os quais ainda convivo, uns com mais, outros com menos frequência. Por motivos diversos, preferi não revelar os nomes verdadeiros, nem o meu, embora para quem conheça — ou conheceu — fique muito fácil identificá-los.
Há outros, porém, que foram tirados da cartola, ou melhor, da cachola. Há histórias que me foram contadas e misturei com outras. Em muitas, eu estava lá. Se aconteceram exatamente como estão escritas, não tem a menor importância. No mundo da ficção, onde muitas vezes há mais verdades do que no noticiário do dia a dia, uma mentira bem contada vale muito mais do que uma realidade mal (d)escrita.
Esta foi a minha intenção, e espero ter acertado o gol. Lá no cantinho.
Ou melhor, nos continhos.
Eduardo Lamas
Prefácio
Habilidoso, criativo e dono de uma visão de jogo digna de um camisa 10, neste Contos da Bola, Eduardo Lamas deita e rola em divertidos e fantásticos causos
do futebol, tabelando de primeira com o leitor.
Como não se identificar com o torcedor de videoteipe que vibrou com a Seleção Brasileira de 1970 mais de duas décadas depois? Quem nunca parou em frente à televisão, comemorou e se emocionou com glórias passadas do seu time de coração? Futebol-emoção. Sentimentos rabiscados com categoria em deliciosas partidas, narradas com a elegância de um Oduvaldo Cozzi, José Carlos Araújo ou Osmar Santos.
Lembro que quando era menino batia minhas peladas na rua, nos campinhos do bairro, driblava pedras, buracos e até adversários. Futebol, o primeiro amor de todo menino. A bola, sua primeira namorada. Dormíamos juntos, esperando rolar agarrados na grama no dia seguinte, fizesse sol ou chuva.
O livro me arremessou ao passado como num lateral cobrado milimetricamente na cabeça do atacante.
Gol!!!!!
Balança a rede das lembranças, dos jogos narrados nos meus campos de futebol de botão, onde sonhava me tornar um repórter esportivo. Sonhos da bola interrompidos pela falta de habilidade ou pelo simples desejo de contar histórias de craques que jamais jogariam ao meu lado?
Mas a história do futebol não se resume apenas aos personagens consagrados. Há espaço no campo para os Manés, Joões e Tinos, ricos e deliciosos artistas do esporte bretão. Trilou o apito. Homem de preto em campo, gritos, agitação, pobre da mãe do cidadão. Ê, juizão!… Será sempre um eterno coadjuvante do espetáculo.
Se depender do autor, não! E cada lance é contado com a minúcia e o preciosismo de um artilheiro matador, daqueles que lembram de cada gol marcado, mesmo que ninguém se recorde com clareza de suas incontáveis façanhas. Sabe história de pescador?
Que diga o zagueirão, o velho beque de roça, cuja única responsabilidade em campo é censurar o que há de melhor no jogo: o gol. Que ingrata posição! Só perde para o goleiro frangueiro ou para o juiz ladrão.
E quem não tem na manga da camisa uma divertida história no velho Maracanã? A sensação de falta de ar e de admiração ao dar de cara com aquele que um dia foi o maior do mundo? As fanfarras, os surdos desafinados, o empurra-empurra na hora de entrar, os resmungos e gritos na rampa de acesso, os copos que voavam no ar, os folclóricos geraldinos
, o cheiro de xixi que empesteava o ar, o abraço num desconhecido na hora do gol. O templo da bola guarda uma biblioteca repleta de histórias para contar.
Mas também havia festa do lado de fora, as ruas pintadas em anos de Copa do Mundo, crianças sujas de tinta e rostos cheios de esperança. Brasil que encanta, mas nos faz chorar. Triste Sarriá, maledeto Rossi!
Outros dias de glória vieram e ainda virão. Em seus contos, o autor nos faz mergulhar e reviver nossa infância: as peladas de rua, os pôsteres dos ídolos grudados com durex na janela do quarto, os jogos com bolas de meia, o rádio ligado no noticiário dos clubes, as resenhas pós-jogo, os choros de alegria e dos chutes desferidos a cada gol perdido.
Busquei tenras recordações de menino. Me transportei para os ombros de meu pai e vi meu tricolor golear o Botafogo. No túnel do tempo, como num passe de mágica, me vi ajoelhado comemorando o gol de barriga, sofrendo com as quedas e reviravoltas que só o futebol pode nos dar.
Como dizia o saudoso locutor Fiori Gigilotti: Abrem-se as cortinas e começa o espetáculo
.
Tem drama e comédia, alegria e tristeza no teatro chamado futebol.
Atenção, terceiro sinal! Entram em campo os artistas do espetáculo, o show vai começar!
Alexandre Araújo
Jornalista e radialista desde 1994, Alexandre Araújo é, atualmente, apresentador e roteirista do programa Pop Bola, na TV Max, apresentador do Boteco Tricolor, na FLUTV, e colunista do site Gazeta do Rio. Além de rádio, com passagens também pela Rádio Globo, Bradesco Esportes FM, MPB FM, Oi FM, FM O Dia, Cidade FM e Rádio Globo FM, Alexandre atuou também na Fox Sports, TV Record, Canal VIVA, SporTV, Premier Combate, TV Globo, Multishow, TV Oi, TV JB, CNN, Rede Bandeirantes, Canal 21 SP, Agência Estado; nos jornais Extra, Meia Hora e Terceira Via; nas revistas Placar e Superinteressante; no site Eu vivo a Seleção; e no Micos no Mundial para mobile. É também publicitário, mestre de cerimônias em eventos corporativos de grandes empresas e autor do livro Informação em segundo lugar, sobre a trajetória do Pop Bola, e do infanto-juvenil Onde a coruja dorme e outras histórias (Editora Livros Ilimitados).
A todos os peladeiros e apaixonados pelo futebol do Brasil e AOS CRAQUES QUE VI JOGAR NO VELHO MARACA.
Sou-lhes muitíssimo grato e manterei sempre a mais plena admiração, recordando inúmeras vezes seus mais belos gols, suas mais fantásticas jogadas. Porém, embora tenha tantas vezes sonhado estar lá ao seu lado, jamais poderei dotar-me de inveja, pois detive outro privilégio — e, sob alguns aspectos, melhor, com milhares à minha volta — o de vê-los jogar, lá daquela arquibancada, cadeira, geral ou tribuna, muito mais do que uma vez.
Isso lhes era e seria e será sempre impossível: assistirem no gigantesco estádio à própria beleza que criavam com a bola — às vezes até sem ela — e viverem as emoções que me proporcionaram — e a tantos, tantos — por tantos anos. Lá naquela arquibancada, cadeira, geral ou tribuna, que já não mais existem em concreto, permanecerão eternamente os nossos corações e as nossas mais gratas e felizes memórias.
O torcedor de videoteipe
Sujeito pacato e trabalhador, o Djalma. E muito querido em todos os lugares por onde passava: na rua em que morava, nos pagodes e no trabalho. Adorava uma roda de samba, participava de todas sempre com seu jeito discreto. Além do samba, Didi, como era carinhosamente chamado pelos amigos e colegas de trabalho, tinha outra paixão: a seleção brasileira. Um verdadeiro torcedor, mas não daqueles que ficam discutindo escalação, pedindo Fulano, Beltrano e Sicrano no ataque do escrete canarinho, como ele ainda se referia à seleção. Didi era avesso a discussões e, talvez por isso, poucos se davam conta do quanto ele amava o esquadrão brasileiro, muito mais do que o famoso esporte bretão, como os antigos cronistas e narradores se referiam ao futebol.
Às vésperas da Copa do Mundo de 1994, porém, sua fama de torcedor