Filosofia para Dormir: Textos Filosóficos Curtos para Ler Antes de Deitar e Pegar no Sono sem Culpa

INTRODUÇÃO

Dormir bem é fundamental para uma vida feliz e filosofar é um exercício cognitivo recomendável para elaborar possibilidades que se aproximem do ideal de felicidade.

Muitos têm como hábito antes de ir deitar relaxar com programas de televisão, jogos virtuais, ou distrações no celular que nada mais fazem a não ser perturbar a vontade de dormir, poluir os pensamentos e prejudicar os sonhos que virão. E isso terá impacto em nosso comportamento desperto.

Por que, ao invés disso, em um dos momentos mais importantes do dia, não colocar para dentro da mente contemplações construtivas, que além de ajudar a ter um sono mais tranquilo, atuarão, ainda por cima, de forma subconsciente para que os nossos dias possam ser melhores? E não seria muito bom se, complementarmente, essas ideias estivessem indiretamente, de forma sutil e agradável, relacionadas com os grandes pensadores e ensinamentos da humanidade?

Pensando nessas questões, todo o material deste livro foi elaborado com o propósito de ser fácil e interessante de ler para aprendermos um pouquinho da filosofia de grandes pensadores da história. Você não terá que fazer um grande esforço para compreender filosofias complexas, pois os conceitos e teorias foram construídos de forma simplificada, às vezes indireta, e em alguns momentos lúdica. Entretanto estas ideias com certeza alicerçarão uma vida mais pensativa e criativa.

Este é um livro tanto para aqueles que se consideram entendedores como para os não praticantes da filosofia. Para os que não se consideram filósofos, este é um livro que irá a cada capítulo apresentar uma ideia principal de um pensador de um jeito sucinto e simples de compreender. Todavia há também surpresas para quem já voa pelo céu filosófico e que conhece provavelmente todos, ou a maioria dos conceitos que aqui serão apresentados, pois, além disso, a cada capítulo será proposto um desafio existencial a ser levado consigo para a noite de sono e para exercitar durante o próximo dia. Portanto existe uma estratégia muito gostosa de leitura. No entanto, como isso funcionará?

Como o título já sugere, este é um livro que foi pensado para ser lido antes de dormir, e, de preferência, para fazer o leitor sentir sono e adormecer com mais facilidade. Quantas não são as pessoas que se sentem frustradas sempre que tentam ler alguma coisa antes de ir para a cama, mas que acabam pegando no sono e fracassando neste objetivo? Com Filosofia para dormir você não precisará se sentir desapontado se acabar dormindo durante a leitura, afinal de contas, esse é o intuito. E não é só isso.

O grande plano por trás deste estudo é o de que, além de ter algo para ler antes de ir deitar, e que proporcione uma boa desculpa para sentir os olhos pesados, está também maquiada a intenção de jogar no seu subconsciente ideias e palavras agradáveis, para que logo antes de você repousar, após um dia longo de atividades, as últimas frases que você carregará para a sua jornada de recuperação física e intelectual sejam de aprimoramento do conhecimento e das emoções.

Filosofia para dormir foi concebido para que fosse lido de maneira estratégica a fim de tirar o máximo de proveito prático das teorias nele contidas. A proposta sugerida é a de que apenas um filósofo (um capítulo) seja lido logo antes de se recolher. Para isso o livro foi dividido em textos breves e prazerosos. Porém você também pode lê-lo da maneira que achar mais interessante e conveniente para si.

Cada capítulo aborda a ideia de um filósofo, empreendedor, cientista, pintor ou músico. Sendo assim, teremos o prazer de conhecer nomes famosos da filosofia, como Sócrates, Platão e Aristóteles, bem como os consagrados da pintura, como Picasso, Andy Warhol e Henry Matisse; e inclusive exemplos do meio empresarial que também levam uma vida filosófica mais voltada para resultados práticos e profissionais, como Ray Dalio, Elon Musk, Oprah Winfrey e Phil Knight; e muitos outros.

A bem da verdade é que qualquer pessoa com boas ideias poderá encabeçar nossa lista de pensadores a serem lidos ao longo de nossa jornada de crescimento intelectual e emocional, desde que tenha algo de construtivo para nos ensinar. Os conhecimentos abordados abrangerão desde os pensadores mais antigos até conceitos recentes e que nos desafiam na atualidade.

Ao final de cada texto será proposto um exercício reflexivo para ser pensado antes de cair no sono. Ao fazer isso, sua mente subconsciente estará repousando sobre um travesseiro intelectual inspirador e agradável. Com isso você garante que uma das atividades mais importantes de sua vida seja de fato regeneradora.

Depois de uma noite inteiramente bem dormida, ao acordar pela manhã, antes de sair da cama, o exercício sugerido será o de recordar o desafio proposto pelo capítulo lido na noite anterior, e que você poderá colocar em prática nesse novo dia que se apresenta. Agindo assim, você estará se preparando para viver cada dia com plenitude e intenção e você também estará colocando em ação o verdadeiro propósito da filosofia, que é viver de boas ideias.

É por isso que, apesar de ser um livro muito fácil de ser compreendido em termos teóricos, este também é um material para todos aqueles que se consideram filósofos por convicção, pois todos terão a chance de serem desafiados a colocar em ação a cada dia uma nova reflexão em sua rotina de vida.

Concomitante a tudo o que uma rápida leitura lhe proporcionará, você ainda poderá memorizar uma frase de impacto famosa de cada filósofo. Quem nunca viu em algum filme aquelas pessoas que sempre tinham uma citação impactante para dizer em momentos oportunos? Em cada texto você observará um aforismo proferido por aquele pensador realçado em negrito para você utilizar com seus amigos em um bate papo.

Ao final de cada capítulo, não apenas feche o livro e vá dormir, mas guarde o material e pense por alguns segundos a respeito do que leu e da frase para memorizar, e aí sim vá descansar. Você descobrirá o quanto essa prática ampliará sua força de aprendizado e vivências diárias. E ao acordar pela manhã, não saia simplesmente da cama sem primeiro dedicar alguns segundos para recordar o que leu na noite anterior e na frase poderosa que memorizou para poder relembrar ao longo do dia com o intuito de influenciar as suas ações.

Portanto a ordem, para facilitar a nossa compreensão, fica mais ou menos assim: ler apenas um tema; refletir; dormir bem; acordar rejuvenescido; pensar sobre o que leu; e viver plenamente.

Para reforçar ainda mais o que estiver descobrindo todas as noites, você pode também lançar mão da estratégia de todos os dias comentar com algum amigo ou colega de trabalho a respeito do que estudou e da frase que se propôs a memorizar. Com isso o potencial de aprendizagem e de aplicação prática da teoria se tornará ainda mais fortemente vivenciada.

Você perceberá que a cada texto muitos conceitos serão apenas pincelados levemente por cima, para não tornar a leitura cansativa, como acontecerá, por exemplo, quando falarmos do Solipsismo (que diz que na vida nós podemos apenas conhecer nossas próprias experiências particulares). Porém, quem sabe, você sinta curiosidade em pesquisar a respeito de alguns temas posteriormente com mais profundidade, e fazer isso certamente ajudará no seu aprimoramento pessoal.

Para que possamos tirar o máximo de proveito de nossa leitura sonolenta o estudo foi dividido em 5 blocos de 18 capítulos cada. A primeira parte se chama Contando carneirinhos; a segunda, Pegando no sono assistindo televisão no sofá; a terceira, Barulho de chuva no telhado; a quarta, Frio gostoso e cobertas quentinhas; e a quinta e última, Sono profundo. Tudo isso carinhosamente pensado para garantir que você irá babar na fronha do travesseiro.

Quem sabe só de ler esses títulos você já esteja caindo de sono. Espere; não durma ainda. Eu prometo que já estamos acabando esta parte. Lembre-se de que a proposta é que você leia apenas um capítulo por dia. O intuito é não ter pressa. Não se debruce sobre este material com a vontade de terminar toda a leitura em poucos dias. A nossa meta é relaxar e aprender enquanto avançamos.

Tanto as teorias como os desafios a serem pensados são de ordem positiva, para que o ato de dormir seja conduzido de forma saudável. É como imaginar a pessoa que opta por alimentos leves antes de ir para a cama, pois sabe que estará garantindo uma noite de sono excelente. Nós estaremos optando por ler algo sereno e nutritivo ao invés de assistir algum programa preocupante ou perder tempo sem propósito pela internet de nosso celular. Não basta observar a nossa alimentação física para ter uma vida salutar, é preciso também observar as ideias com as quais estamos nutrindo a nossa mente.

E com uma noite bem descansada e recheada de valores construtivos e educativos, certamente o seu dia será muito melhor aproveitado.

Desejo a você uma cama confortável, um pijama folgado, o travesseiro perfeito, um parceiro que não ronque ao seu lado, sonhos tranquilos, e uma vida emocionalmente e intelectualmente acordada.

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CONTANDO

CARNEIRINHOS

Sempre que eu quero dormir e não consigo, nada me ajuda menos a pegar no sono do que contar carneirinhos! Eu não sei quem inventou essa técnica, mas, para mim, ela definitivamente não funciona. Entretanto eu lembro que, quando era criança, havia algo que sempre me ajudava, mas que quando crescemos, deixamos de fazer.

Quando eu posava na casa da querida tia Loiva, ela sempre conversava comigo antes de deitar e me contava alguma história ou piada, depois me dava um beijo de boa noite na testa, e eu só me lembrava da vida no outro dia, na hora de acordar.

Só que eu cresci, e hoje em dia ninguém vai me contar uma bela historinha para dormir, nem me dar um beijinho na testa. Ao invés disso, disseram-me para contar carneirinhos. Eu até tentei algumas vezes; nunca funcionou. Por isso eu pensei em escrever este livro, com a desculpa de ouvirmos histórias filosóficas, mas com o verdadeiro intuito de apenas pegar no sono de forma relaxante e sem esforço.

O curioso é que eu ainda me lembro vividamente dos momentos e de algumas histórias contadas pela tia Loiva na minha infância. O fato é que aqueles momentos eram tão bons que eles não apenas me faziam pegar no sono, como também ficaram nitidamente registrados em minha memória de saudades. Em razão disso, eu quis criar um livro de histórias para dormir que não apenas desse sono e fizesse descansar bem, mas que também fosse fonte de boas recordações e pensamentos que servissem de inspiração para uma vida mais prazerosa. E nada melhor para realizar esse desígnio do que ideias filosofais.

Os pensamentos apresentados neste livro não lhe colocarão para dormir por serem histórias entediantes e difíceis de compreender, e sim porque lhe darão um prazer e leveza para preparar a sua noite de sono para ser a mais proveitosa possível e para que os seus dias de trabalho e de desafios cotidianos possam ser vividos com sabedoria e fortaleza.

Permita-se absorver com paciência as belas palavras que este amigo em forma de livro irá lhe contar. O exercício diário sugerido é o de ler cada capítulo antes de ir dormir, e, no dia seguinte, quando acordar, antes de levantar, pensar na ideia lida na noite anterior, e tentar colocá-la em prática ao longo de seu novo dia.

Procure sempre recordar o pensamento que você leu na noite anterior e devolver o rumo da sua atenção ao pensamento estudado. Isso pode parecer difícil de realizar no início, mas com intenção e prática a habilidade será aprimorada.

Muito bem, acredito que por enquanto é isso, agora você pode fechar o livro. Podemos deixar o primeiro filósofo para estudarmos amanhã. A lição aprendida hoje é paciência para aprender com qualidade a fim de jamais esquecer, assim como eu jamais esquecerei meus bons momentos da infância com a tia Loiva.

E quais são as suas melhores recordações dos tempos de inocência? Quanto tempo faz que você não conversa com o seu eu criança? E quem são as pessoas que você tem tratado com ternura e respeito, e que lembrarão de você no futuro, assim como eu me recordo carinhosamente da tia Loiva? Não são apenas os pequeninos que precisam ouvir belas histórias para dormir; nossos amigos, cônjuge, pais, e colegas de trabalho também necessitam de nossa paciência e afeto.

Boa noite e bons sonhos. E amanhã, quando acordar, lembre-se de escovar os dentes e viver o dia com paciência.

1.1 Aristóteles

O começo é mais que metade do todo.

Não poderíamos iniciar nossa caminhada em melhor companhia. E como ele bem disse: "O começo é mais que metade do todo". E essa é a frase para você recordar de agora em diante, pelo resto de sua vida. Antes de dormir hoje, e antes de levantar ao acordar amanhã, é nessa citação que você irá pensar. Nós iniciamos com ela, pois ela nos guiará. Começar é difícil. Somos mestres em procrastinar as ações que podem de fato mudar nossa vida para melhor. No entanto, uma vez dado o pontapé inicial, o desenrolar da história encontra o seu caminho com mais facilidade.

Aristóteles nasceu há mais de 2 mil anos, quando Jesus nem era nascido ainda. Ele é uma das personalidades históricas mais importantes a ser estudada. Ele é o terceiro da geração de grandes filósofos gregos mais populares da antiguidade clássica que chegaram em forma de conhecimento até os dias atuais. O primeiro deles foi Sócrates, que ensinou Platão, e esse foi mestre de Aristóteles. E juntos eles formam o SPA inquietante da filosofia. Mesmo que você nunca tenha lido qualquer coisa a respeito desses três filósofos, certamente já ouviu falar no nome deles. Eles são tão populares como qualquer banda de rock de nossa geração. E certamente suas palavras são tão barulhentas quanto qualquer grupo de heavy metal. Não bastasse Aristóteles ter sido quem foi e ter aprendido de quem aprendeu, ele ainda foi o professor de outra grande personalidade da história: Alexandre, o Grande. Alexandre iniciou seus estudos com Aristóteles ainda muito jovem, e com apenas 20 anos já iniciou em campanhas militares bem sucedidas sem nunca ter perdido nenhuma batalha. Aos 30 anos havia criado um dos maiores impérios do mundo antigo, que se estendia da Grécia para o Egito e parte da Índia. Alexandre morreu com apenas 32 anos de idade. Como é possível que alguém assim tão jovem tenha conquistado tanto? Esse é o poder da filosofia, e hoje todos nós podemos ser discípulos de Aristóteles ao aprendermos seus ensinamentos.

Só que uma boa ideia que não é colocada em prática não vale nada. Por outro lado um projeto interessante que ganha vida a partir de um primeiro passo já avançou mais do que metade do caminho. Muitos dos grandes atletas de elite e dos renomados artistas e escritores que hoje conhecemos iniciaram a sua jornada muito cedo. A grande maioria já sabia o que iria ser pelo resto da vida aos 5 ou 6 anos de idade. Enquanto que tantos outros anônimos morreram sem nunca descobrir para que nasceram. Aqueles que sabem o que querem ser e que objetivos alcançar, e que vão em busca disso, não deixam a própria vida passar em vão. Frequentemente inventamos desculpas para não ir atrás de nossos sonhos. Não importa a sua idade, sempre é tempo de iniciar.

O exercício filosófico para se pensar hoje antes de ir dormir é o de identificar uma ação que precisa ser iniciada, pois tem o potencial de propulsionar a sua existência. Não pense em nenhum passo além do primeiro. Depois de principiar, você encontrará as soluções necessárias para vencer os próximos desafios. Muitos começam a ler, e não vão até o fim. O seu primeiro compromisso é com o livro que agora tem em mãos. O segundo compromisso é com você mesmo. Amanhã você dará o passo que precisa em direção de uma decisão que tem sido protelada. Imagine que o próprio Aristóteles está falando com você e não esqueça jamais as suas palavras: "O começo é mais que metade do todo".

Contudo agora é hora de começar a dormir. Bons sonhos.

1.2 Aristóteles

As virtudes são um hábito que conduzem à felicidade.

Essa não é uma citação literal das palavras do filósofo, e sim um resumo exagerado do que ele ensinou na obra Ética a Nicômaco. Na obra, Aristóteles ensina o caminho que leva à felicidade. Não a felicidade com que estamos acostumados a ver nos comerciais de televisão. Felicidade para o grande mestre é sim ser feliz e sentir prazer na vida, pois isso não pode ser negado, porém também saber enfrentar as adversidades inevitáveis com coragem e postura.

Uma pessoa preparada para conviver bem com as alegrias e fortunas da existência e que também é apta para encarar com força e determinação as desventuras e percalços inevitáveis poderá, portanto, ser chamada de feliz. Alguém que apenas saiba desfrutar das benesses, sem saber se conduzir pelas adversidades, não é inteiramente feliz; ou alguém que apenas se vanglorie de ser forte diante da dor, mas que repudia os prazeres, não adquiriu a virtude plena. Conforme as palavras do grande professor: O sucesso ou o fracasso na vida não dependem dos favores da fortuna, mas sim, a vida humana também deve contar com eles; porém o que constitui a felicidade são as atividades virtuosas, e as atividades viciosas nos conduzem à situação oposta.

Em outras palavras, podemos dizer que aquilo que fazemos todos os dias determina quem nós somos. No capítulo anterior, falamos da importância de dar o pontapé inicial às atividades que julgamos relevantes para uma vida de autorrealização, agora, aqui, falamos da necessidade de nos mantermos firmes em nossa jornada. Uma pessoa que se deixa levar pela preguiça um dia, mas que retorna suas atividades com convicção no dia seguinte, não pode ser chamada de preguiçosa. Todavia alguém que nunca faz o que deve ser feito por falta de vontade é sem dúvidas uma pessoa desleixada e fracassada. Não são as minhas palavras que acusam tal indivíduo, mas as próprias ações dele. Quem se mantém firme nos projetos importantes que inicia aumenta as chances percentuais de alcançar bons resultados. Isso não quer dizer que insucessos e dores emocionais não surgirão pelo caminho; muito pelo contrário, são justamente aqueles que se dispõem a iniciar e batalhar por bons projetos que mais se depararão com dificuldades. Entretanto um batalhador acostumado a enfrentar desafios estará preparado para vencê-los. E esse mesmo lutador estará preparado para desfrutar das vitórias de maneira equilibrada, sem se deixar embriagar pelas ilusões perigosas dos prazeres e das glórias.

No livro Ética a Nicômaco, Aristóteles nos ensina a buscar sempre o caminho do meio termo, evitando os excessos. Ter virtudes é uma conquista que precisa ser praticada todos os dias, nos pequenos e nos grandes detalhes. Uma pessoa que perde o controle emocional diante de situações muito estressantes já não tinha controle emocional diante de pequenos percalços. Um político que se lambuza na corrupção das grandes oportunidades de ganho facilitado e ilícito já cometia mínimos delitos quando podia nas pequenas ocasiões, quando ninguém estava olhando. Aristóteles não aponta essas falhas de conduta humana para acusar, da mesma forma que ele não sugere que façamos o mesmo com aqueles ao nosso redor. Ele ensina-nos o caminho da virtude do meio termo para que nós avaliemos nossas próprias ações, sem nos preocuparmos com os possíveis aparentes ganhos e perdas dos outros. Ao fim das contas, você só deve satisfação a respeito de suas próprias ações, o que os outros fazem é responsabilidade deles, e a justiça humana é muito severa quando decide se debruçar sobre as falhas dos cidadãos. Aja de forma que a sua alegria possa ser desfrutada sem receio e que as suas tristezas possam ser choradas com a convicção de não ter do que se arrepender.

A frase para recordar hoje e amanhã é: "as virtudes são um hábito que conduzem à felicidade". E que a sua felicidade possa ser plena e imperturbável, independente do que venha a acontecer.

O sorriso é um hábito virtuoso e embelezador. Durma bem e acorde melhor ainda.

1.3 Immanuel Kant

Não é o tempo que passa rápido, nós é que passamos rápido pelo tempo.

Considerado um dos autores mais difíceis da filosofia, tanto por seu estilo de escrita rebuscado (para não dizer, como alguns, ruim) quanto por suas ideias complexas demais para serem assimiladas em uma primeira leitura (às vezes nem na segunda, ou até mesmo terceira). Alguns filósofos chegam ao ponto de dizer que se você está compreendendo o que Kant tem a dizer, então você não assimilou de fato, mas que se por acaso sente que não está entendendo, provavelmente você está no caminho certo para a compreensão. Qualquer filósofo alemão tem a característica de ser difícil (entediante, inclusive) de ser estudado.

Considerando uma introdução como essa, não é de se admirar que o tempo seja um dos requisitos indispensáveis para se absorver a obra desse que foi sem dúvidas um dos grandes filósofos da humanidade e que deixou um dos maiores legados para a posteridade. Ninguém poderá se queixar de não ter crescido intelectualmente após passar algum tempo na companhia de Immanuel Kant.

Tempo era uma das coisas que Kant mais respeitou em vida. Relatos contam que esse filósofo que viveu na Prússia (antiga parte da Alemanha), entre 1724 e 1804 (79 anos), tinha o ritual de acordar sempre no mesmo horário e de sair para caminhadas vespertinas religiosamente sempre em um instante específico. Reza a lenda que as pessoas da cidade ajustavam seus relógios de acordo com os momentos de passeio de Kant. Essa era a rotina de alguém evidentemente preocupado com a passagem da vida e com a intenção de aproveitar ao máximo cada minuto.

Tempo é o que alguém mais precisa quando dedicado a um planejamento de grande alcance. O filósofo era tão preocupado com o seu projeto hercúleo do pensamento que, para a sua obra mais famosa, a Crítica da Razão Pura, dedicou três livros. A primeira versão, muito complexa; uma segunda versão, reduzida e mais acessível, chamada Prolegômenos para toda Metafísica Futura; e uma terceira tentativa de aperfeiçoar a primeira versão. É nessa obra que o autor se debruça inclusive sobre esse tema que haverá de consumir anos de vida de qualquer mortal que se aventure a tentar conhecer (ou provar) a existência de Deus.

Entretanto Immanuel não foi dedicado apenas à filosofia. Ele soube administrar seu tempo com maestria e reservou momentos para suas caminhadas diárias e para o convívio afetivo com amigos.

A frase desse ilustre autor que tentaremos memorizar é esta: "Não é o tempo que passa rápido, nós é que passamos rápido pelo tempo". Não teríamos oportunidade nem espaço neste livro para sequer pincelar as diversas e complexas