As Pensadoras Vol. 02
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As Pensadoras Vol. 02 - Rita de Cassia Fraga Machado (org.)
A todas as pensadoras do Planeta Terra.
Que esperava com a mão pronta? pois tinha uma experiência, tinha um lápis e um papel, tinha a intenção e o desejo – ninguém nunca teve mais que isto.
Clarice Lispector, em A maçã no escuro (Rocco)
Sumário
Nota da editora
Trilhas de um pensamento feminista complexo
Nísia Floresta: Pensamento pedagógico-feminista
Uma estrela vermelha
Escritora, pensadora e abolicionista negra
O contragolpe feminista na ciência dominante
Construir pontes, atravessar fronteiras: a potência do encontro em Gloria Anzaldúa
Uma nova visão de mundo a partir dos feminismos
Marta Lamas: 50 anos de caminho feminista
Sobre as autoras
Nota da editora
As Pensadoras é uma iniciativa, que surgiu no Rio Grande do Sul, em 2020, concebida por mulheres, destinada a todas, todes e todos interessados em construir conhecimento e formas de se relacionar a partir de um ponto de vista feminista, libertador e coletivo. A estratégia de ação desta iniciativa tem como base a instituição de Escola, Comunidade e Editora.
A Editora As Pensadoras teve, como marco de sua criação, o lançamento da Coleção As Pensadoras, portanto, uma abertura de catálogo comprometida com o trabalho continuado. Oportunidade de apreciação e registro das profundas transformações sociais que estão em curso, em todo o mundo, a partir do pensamento e prática dos feminismos. Caminho sem volta.
A publicação do primeiro volume da coleção possibilitou à Editora As Pensadoras uma experiência intensa, tanto na relação com as autoras quanto no aprimoramento de métodos de trabalho, nas estratégias de difusão de conhecimento, a partir do livro, e na busca de alternativas para a distribuição. Chegamos até aqui, com o volume 2 vindo a público e confirmando nossa postura independente no mercado editorial, confiantes de que a invenção de um modo próprio de existir nos cai bem.
A Editora As Pensadoras se identifica com frentes que buscam rupturas e reinvenções, no mercado editorial. Assim, reafirmamos o nosso compromisso com a propriedade intelectual fortalecida. Também somamos forças com outras editoras independentes que apoiam o redimensionamento do papel social de agentes estratégicos na cadeia produtiva do livro: de autora/autores a leitoras/leitores, incluindo editoras, distribuidoras e livrarias neste movimento.
Na busca de caminhos sustentáveis, As Pensadoras inaugurou sua própria livraria on-line, criou o Clube de Leitura Feminista e, em 2022, a editora abriu o Selo Vivas! para atender à demanda de publicação das mulheres envolvidas com as atividades da Escola e aquelas que integram a Comunidade também. Agora precisamos avançar.
A editora
Patrícia Guimarães Gil¹
Trilhas de um pensamento feminista complexo
O volume 2 de As Pensadoras representa mais um impulso importante e necessário para iluminar tempos sombrios.
O novo livro convida ao resgate e à valorização de mulheres que elevaram suas vozes e sua escrita em contextos hostis à inovação feminina. Fazia escuro nos tempos de mulheres como Nísia Floresta, Maria Firmina dos Reis e Nadezhda Krupskaia, quando seus simples nomes como escritoras, intelectuais e educadoras produziam estranhamentos e ameaças.
Contextos de violência e negação também marcam a pena de Gloria Anzaldúa e Marta Lamas, que trazem a experiência latino-americana, mais precisamente das mulheres mexicanas, em busca do reconhecimento de sua alteridade. Por meio de sua militância e de sua densidade teórica, ambas lançaram luz às identidades femininas múltiplas, mestiças e silenciadas.
Enquanto a sociedade e a própria academia negavam (e negam) o (re)conhecimento ao pensamento diverso e liderado por mulheres, pensadoras como Sandra Harding e Heloisa Buarque de Hollanda desafiaram epistemologias clássicas. Em suas obras, não há mais espaço para as tradições da produção de conhecimento fundadas nos princípios que, desde os tempos de Nísia, Maria Firmina e Krupskaia, submetiam as mulheres à obscuridade.
As pensadoras representadas neste volume recusam a visão única para abrir espaço à diversidade; rompem as trincheiras do pensamento filosófico para construir pontes; trazem fôlego e clareza para a luta política de mulheres que seguem resistindo ao breu.
Após o bem-sucedido lançamento do volume 1 da coleção As Pensadoras – com textos de estudiosas sobre Hannah Arendt, Seyla Benhabib, Simone de Beauvoir, Margaret Cavendish, Adriana Cavarero, Lélia Gonzalez, Angela Davis, Silvia Rivera Cusicanqui e María Lugones –, confirmamos a importância de construir uma obra a partir da mistura
organizada e respeitosa do pensamento feminista. E seguimos com essa acertada fórmula no volume 2 – uma receita tácita, afetiva e ricamente formulada no debate crítico que caracteriza a Coleção.
Interseccionalidades, hibridismos, mestiçagens e pluralidades: todos esses ingredientes fazem da Coleção e do presente volume, em especial, um convite à reflexão atenta sobre a diversidade do pensamento feminista que vem rasgando
a história há dois séculos. Essa metáfora remete-nos à memória do quê as mulheres retratadas nas próximas páginas precisaram fazer, cada uma em seu tempo, para serem ouvidas, lidas e vistas.
Diante da rigidez e da cegueira das estruturas políticas, econômicas e socioculturais em diferentes períodos históricos, essas mulheres tiveram de abrir trilhas em meio à mata densa e hostil. Pegaram na enxada – a pena revolucionária – para desbravar novos territórios. Nada foi fácil, pacífico nem simples. Os textos aqui apresentados relatam a luta dessas pensadoras e retratam as clareiras que conseguiram abrir em terrenos inóspitos para a presença feminina.
A organização deste volume e o ordenamento proposto dos capítulos têm inspiração em uma provocação apresentada por Mary Beard, em seu Mulheres e Poder: um manifesto – lançado no Brasil, em 2018, pela Editora Crítica, depois de se tornar um best seller no Reino Unido e nos Estados Unidos. A autora inicia a apresentação da obra recontando-nos sobre a ordem de silenciamento do imberbe Telêmaco para sua mãe, a interessantíssima Penélope, que segurou as pontas em Ítaco, enquanto Ulisses tentava retornar da Guerra de Tróia. A cena está em Odisseia, de Homero. Mary Beard escreve:
Há algo vagamente ridículo neste menino recém-saído das fraldas que faz calar uma Penélope sagaz e madura, no entanto, é uma prova palpável de que já nas primeiras evidências escritas da cultura ocidental, as vozes das mulheres são caladas na esfera pública. E mais, tal e qual escreve Homero, uma parte integrante do desenvolvimento de um homem até sua plenitude consiste em aprender a controlar o discurso público e a silenciar as fêmeas de sua espécie. ²
A proposta de Beard de resgatar a luta política das mulheres desde aqueles relatos gregos até as cenas midiáticas contemporâneas é também um convite. Como diz o título de seu livro, trata-se de um manifesto, com foices e/ou com abraços, da cena política e de poder pelas mulheres. Isso começa pela potência da voz – e, obviamente, da escrita.
A coleção As Pensadoras intensifica esse manifesto e o expande significativamente, com identidade própria e em estreito diálogo com leitoras e leitores no Brasil. A organização dos capítulos não segue necessariamente uma cronologia temporal. Ela busca remontar a força das mulheres em se fazer ouvir e em colocar em pauta questões inaugurais da cena política em diferentes tempos.
O primeiro capítulo traz a história de Nísia Floresta, que em 1853 (!) escreveu Direitos das mulheres e injustiça dos homens, exatamente como uma demanda para que mulheres acessassem postos de comando. A autora, Rita de Cássia Fraga Machado, também nos apresenta algumas controvérsias na obra de Nísia, para então enriquecer o conhecimento sobre os pressupostos teórico-metodológicos em sua obra profundamente inovadora para a pedagogia – e também, claro, para o pensamento feminista.
Em diálogo muito próximo com Nísia Floresta, Samantha Lodi apresenta-nos como Nadezhda Konstantínovna Krupskaia supera o simples fato de ter sido companheira de Lenin na Rússia para expor o projeto educacional de operários com vistas à sua emancipação política em um contexto de perseguição. Para Krupskaia, a educação é o caminho libertador de homens e mulheres contra a exploração das elites – um pensamento que hoje pode parecer frase feita
ou retórica simplória, mas que atravessou a história rompendo as limitações impostas sobre oprimidas e oprimidos, estabelecendo-se definitivamente no pensamento filosófico e pedagógico a partir do século XX.
A coragem de Krupskaia enreda-se com a de Maria Firmina dos Reis, no capítulo 3, de autoria de Fernanda R. Miranda. Brasileira, nascida no século XIX, seu vínculo com as duas pensadoras que abrem o volume está novamente na pedagogia. Mas seu destaque cresce em virtude de sua relevância para a propagação das vozes de mulheres pretas. É dela o primeiro romance abolicionista (Úrsula) escrito por uma mulher no Brasil. Sua militância na literatura e no magistério reverbera, no Brasil, o olhar para a formação de meninas e meninos sem distinções, como também a autora russa defendeu. Maria Firmina lançou a primeira escola mista do País. As transgressões
inauguradas por ela também marcam presença em nossos tempos, em que lugar da pessoa negra segue desrespeitado e sob suspeita.
Os profundos questionamentos que Maria Firmina apresenta, em Úrsula, sobre ser branco, negro, homem e mulher permitiram-nos uma costura cuidadosa com o pensamento de Sandra Harding, que estrela o capítulo 4. A autora Maria Helena Soares descreve como a filósofa norte-americana, hoje com 86 anos, insurge contra métodos e epistemologias do pensamento colonialista – enraizado na ideologia escravocrata, racista, dominadora e patriarcal. A construção de um pensamento pretensamente objetivo que ignora as injustiças presentes ontem e hoje na sociedade é um engodo. Contra isso, ela propõe a objetividade forte
, uma perspectiva inclusiva para o ponto de vista de quem sofre a diferença e não a neutraliza para poder ser aceito nos cânones acadêmicos clássicos. Foi também o que Maria Firmina fez em seu tempo. Assim, a marginalização do pensamento feminino entra como elemento de uma epistemologia mais densa, mais real, mais justa. Ou seja, a condição das(os) marginalizadas(os) é pressuposto necessário e valoroso na reflexão filosófica.
Este contragolpe epistêmico
que Harding promove na ciência, para usar as palavras de Maria Helena, é confirmado pela obra da chicana Glória Anzaldúa. No capítulo 5, Marina Costin Fuser nos ajuda a compreender como essa pensadora radicalizou, no melhor sentido dessa palavra, a experiência de mulheres