Meu Maior Desafio Da Vida - Tdah
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Meu Maior Desafio Da Vida - Tdah - Lenisa Varotto Lucena
PARTE 1 - AQUECENDO OS MOTORES
Nesta parte do livro você encontrará os conceitos que julgo serem importantes para sua compreensão do universo TDAH. Aqui, a ideia é trazer luz ao caos e clareza a tantas perguntas existenciais sem respostas.
Vamos buscar juntos compreender o que é normal
e o que é um padrão comportamental apenas para o TDAH, afinal, para quem nasce com o transtorno, o normal é o anormal para os outros.
Meu desejo é traduzir em palavras aquilo que nem você mesmo conseguia expressar, para que consiga explicar ao outro como é ser você, sem parecer desculpa ou vitimismo.
CAPÍTULO 1 - TDAH: INIMIGO ÍNTIMO
Às vezes, eu acho que eu vivo num mundo paralelo. Um mundo que a gente cria para se burlar, se esconder e se tornar esquecido! Mas esquecido de quem? Só pode ser de mim mesma! Será vergonha de assumir que precisamos agir e fazer acontecer!? Minha mente me trai todos os dias! Me sabota! Me faz crer que eu ficando um pouco mais na cama, vou me sentir mais descansada! Pura mentira para me manter em devaneios sem sentido!
Me afundo em mim mesma o tempo todo! Numa loucura que não se acredita existir! Será que um dia isso vai acabar? Por isso, não quero mais sonhar. Pois me confundo entre o verdadeiro e o imaginário. Por isso, não quero mais fazer planos, porque eu voo tão longe que não volto mais!
Me sinto tão frágil e suscetível a essas coisas, que tenho receio de projetar e ficar apenas na projeção e organização! Sei que sou capaz! Mas meu caminhar é tão lento, que não consigo ver que saí do lugar!
A única coisa que preciso fazer é ter constância, perseverança e comprometimento! E para onde se foram que as perdi? Ou melhor, por onde ando que não as reconheço? Vivo numa cabeça de balão! Viajando! Com o raciocínio lento, para não dizer parado! E sei que sou um tiro! Mas cadê esse tiro?
Minha descoberta TDAH é conflituosa! Eu ando tão inconstante e me culpo o tempo todo! Me mantendo numa bolha de pensamentos que não saem do lugar! E o pior, que é como se eu tivesse dois Eus! Um Eu que faz e deixa de fazer, enlouquece, se apaga, sofre, grita internamente, quer morrer todos os dias, quer fazer mil coisas, mudar o mundo...
E outro Eu, que assiste plenamente a loucura começar e terminar todos os dias! Este Eu que sofre ao ver o outro se cansando tanto de correr de si mesmo! Um Eu que acorda o outro e diz para seguir... Minha consciência é muito forte! Minha fé em Deus ainda maior, mas um Eu não tem dado conta do outro! Como eu vou poder seguir e evoluir com essa revolução interna??? É tempo de mais perdido!
E quando o Eu sonhador, aquele que vive na realidade paralela, para pra olhar tudo que ele fez e acredita que fez funcionar e vê que, na verdade, nada fez, se percebe vazio e sofre com o outro que passou o tempo todo assistindo. Daí, por poucos instantes,me encontro dentro da minha essência divina e estou comigo!
Isso ocorre poucas vezes e são esses encontros que busco diariamente. Essa tem sido a minha busca! Por essa razão, não há evolução externa. A interna está em construção! Mas já é algo bom! Eu durmo, eu não sinto dores de cabeça, eu não sinto crises de ansiedade e passei a acreditar que esses encontros serão mais frequêntes.
Sigo querendo arrancar do peito toda essa dor! Mas não há como se não enfrentar e acreditar que não sou uma fraude! Vamos para mais um dia! Só por hoje, mais um dia!
Jorgina, 39 anos
linhaJorgina participou do treinamento EU+ para TDAH adulto, e tornou-se uma amiga querida. Ela me enviou esta mensagem na manhã seguinte após uma de nossas sessões.
Resolvi dedicar o início deste capítulo a este desabafo profundo, pois realmente representa o que muitos TDAH sentem diariamente e, para compreender essa complexidade toda com maior profundidade, segue aqui uma breve tradução, parte por parte:
linhaÀs vezes, eu acho que eu vivo num mundo paralelo.
Um mundo que a gente cria para se burlar, se esconder e se tornar esquecido!
linhaTodos possuem dois Eu, no mínimo. Freud já explicava isso. Até Pato Donald sabe disso, com o episódio do anjinho e do capetinha influenciando suas ações. Porém, no caso da mente TDAH, acredito que a presença do anjinho e do capetinha fica mais evidente devido a nossa falta de filtro, à intensidade que damos àquilo que acreditamos se torna muito forte e literalmente somos abduzidos. Entretanto, no fundo, sabemos que aquilo não é real, apesar disso, se torna muito difícil resistir.
Neste cenário, teoricamente, teríamos o EU real, que é simples e rotineiro, e o EU paralelo, que é megalomaníaco e gosta de pensar em grandes feitos, potencializando tanto o positivo quanto o negativo.
linhaMas esquecido de quem?
Só pode ser de mim mesma!
Será vergonha de assumir que precisamos agir e fazer acontecer!?
linhaQuando permitimos que o Eu paralelo entre em ação, não temos que lidar com a chatice da autorresponsabilidade, com a rotina de fazer um pouquinho por dia. Ou seja, é mais fácil se esconder no EU paralelo.
linhaMinha mente me trai todos os dias! Me sabota!
Me faz crer que eu ficando um pouco mais na cama vou me sentir mais descansada!
Pura mentira para me manter em devaneios sem sentido!
Me afundo em mim mesma o tempo todo! Numa loucura que não se acredita existir!
linhaQuando oscilamos entre o EU real e o EU paralelo, vamos perdendo a autoconfiança e não sabemos mais em que acreditar. No fundo, sabemos o que temos que fazer, mas cedemos, como em uma relação doentia, que se sabe que está sendo traído, apesar disso, prefere-se não ver, não ter que se mover e mudar.
Essa pseudoconsciência sobre o que se passa nos bastidores desta mente remete a uma espécie de loucura, que muitos psiquiatras poderiam até diagnosticar erroneamente como transtorno de personalidade, em que na verdade é a deficiência no desenvolvimento das funções executivas Memória de trabalho não verbal (olhos da mente) e verbal (ouvidos da mente).
linhaSerá que um dia isso vai acabar?
Por isso, não quero mais sonhar.
Pois me confundo entre o verdadeiro e imaginário.
Por isso, não quero mais fazer planos, porque eu voo tão longe, que não volto mais!
Me sinto tão frágil e suscetível a essas coisas, que tenho receio de projetar e ficar apenas na projeção e organização!
linhaQuando tomamos consciência deste nosso andar em círculos e da fraqueza de nosso EU real não se posicionando e assumindo seu lugar de direito, ficamos paralisados e perdemos a fé na possibilidade de um futuro desejado. Temos medo de ficarmos só na divagação daquilo que não passa de projeção. Ou seja, paralisamos por não confiarmos em nós mesmos, por não confiarmos em nosso EU real.
linhaSei que sou capaz! Mas meu caminhar é tão lento que não consigo ver que saí do lugar! A única coisa que preciso fazer é ter constância, perseverança e comprometimento! E para onde se foram que as perdi? Ou melhor, por onde ando que não as reconheço? Vivo numa cabeça de balão! Viajando! Com o raciocínio lento, para não dizer parado! E sei que sou um tiro! Mas cadê esse tiro?
linhaE, após a melancolia e o drama da constatação de remar e remar e morrer na praia, vem a força interior de se saber das potencialidades e capacidades, mas de que adianta ser este potencial sem senso de direcionamento, comprometimento e continuidade?
Quando não temos um objetivo claro, uma motivação certa, nos perdemos e deixamos de ser comprometidos, e, por consequência, não damos continuidade e novamente minamos a nossa autoconfiança diante de tanta confusão.
Minha descoberta TDAH é conflituosa! Eu ando tão inconstante e me culpo o tempo todo! Me mantendo numa bolha de pensamentos que não saem do lugar! E o pior que é como se eu tivesse dois Eus! Um Eu que faz e deixa de fazer, enlouquece, se apaga, sofre, grita internamente, quer morrer todos os dias, quer fazer mil coisas, mudar o mundo... E outro Eu, que assiste plenamente a loucura começar e terminar todos os dias! Este Eu que sofre ao ver o outro se cansando tanto de correr de si mesmo! Um Eu que acorda o outro e diz para seguir... Minha consciência é muito forte! Minha fé em Deus é ainda maior, mas um Eu não tem dado conta do outro!
Culpa é o que mais sentimos. Regamos este sentimento com a nossa insatisfação, sempre perseguindo o próximo desafio. Temos consciência destes nossos Eus, mas como não temos ideia de como lidar com isso, agimos da mesma maneira que lidamos com o TDAH: tapamos nossos olhos e fingimos que nada está acontecendo ali.
linhaComo eu vou poder seguir e evoluir com essa revolução interna!??? É tempo demais perdido! E quando o Eu sonhador, aquele que vive na realidade idealizada, para e olha tudo que ele fez e acredita que fez funcionar e vê que, na verdade, nada fez, se percebe vazio e sofre com o outro que passou o tempo todo assistindo.
linhaQuem vê o rosto de uma pessoa com TDAH não imagina o que se passa dentro: uma verdadeira guerra. É muita energia investida para que essa guerra interna não vá para o lado externo. E, assim, vamos tendo que fracionar grande parte da nossa energia vital para os nossos conflitos internos e outra pequena para a realização do externo. Com isso, o resultado do dia é baixo equilíbrio e baixo resultado, isto é, insatisfação garantida.
Daí, por poucos instantes, me encontro dentro da minha essência divina e estou comigo! Isso ocorre poucas vezes. E são esses encontros que busco diariamente. Essa tem sido a minha busca! Por essa razão, não há evolução externa. A interna está em construção! Mas já é algo bom! Eu durmo, eu não sinto dores de cabeça, eu não sinto crises de ansiedade e passei a acreditar que esses encontros serão mais frequentes. Sigo querendo arrancar do peito toda essa dor! Mas não há como se não enfrentar e acreditar que não sou uma fraude! Vamos para mais um dia! Só por hoje, mais um dia!"
Às vezes, conseguimos silenciar essa guerra. É quando tudo faz sentido, pois tudo se conecta. Então, um Eu olha para o outro e agradece por existirem. Logo, fica evidente que todas as consequências externas negativas estão ligadas ao interno, que ainda precisa crescer e amadurecer, entendendo que o caminho não é a negação e o conflito e, sim, buscar o acolhimento e aprender a dar espaço saudável para os dois, permitindo-se a vivência de um dia de cada vez, construindo um Eu+ autoconfiante e satisfeito consigo mesmo e com a vida.
Quem vive dia e noite com este transtorno sabe o quão difícil é possuir este nível de clareza para encontrar palavras que possam traduzir os desafios diários de se ter uma mente TDAH. E, se você, de fato, tem esta mente, possivelmente se pegou com uma lágrima no canto dos olhos, ou com aquela cara de espanto, de quem acaba de ler algo que descreve perfeitamente seu caos interior. Pode confessar: deu vontade de mostrar isso para aquela pessoa que acha que é fácil ser você, não é?
Todavia, mesmo que não seja tão intenso assim para você, possivelmente, sabe como não é nada fácil viver seu caos interior desde que nasceu e ainda sorrir como se nada estivesse acontecendo internamente.
Só você sabe o quanto de energia emprega para manter a sanidade e o equilíbrio até o final do dia, sendo operacional e dando conta do recado. Sei que você terá que administrar o tsunami de pensamentos, julgamentos, autocobrança, necessidade de satisfação imediata, ainda por cima, em uma mente que não possui filtro e autocontrole, só pode, no mínimo, dar uma bela de uma confusão.
É por isso que vivemos enfiando os pés pelas mãos e saímos como loucos tentando consertar o mal já feito. Ou preferimos nos isolar e sumir de tudo e de todos, nos desconectando da realidade. No decorrer deste livro, vou falar com mais detalhes sobre isso tudo. E você poderá começar a encontrar uma luz no fim do túnel para o que agora parece tão sem esperança.
CAPÍTULO 2 - TDAH E DIAGNÓSTICO: COMO FUNCIONA?
Existem várias formas de você receber o diagnóstico de TDAH. Buscando profissionais das áreas aptos para isso, tais como: psiquiatras, neurologistas, psicólogos e psicopedagogos.
O TDAH pode ser diagnosticado oficialmente a partir dos sete anos, contudo, particularmente, acredito que as crianças já apresentam sinais desde muito cedo.
Esse cuidado do diagnóstico aos sete anos se dá devido à primeira formação da personalidade da criança. Não vou entrar em detalhes aqui, mas em todas as frentes de estudos psicológicos e pedagógicos, se têm marcos significativos de transição nesta idade.
Já para nós adultos não diagnosticados na infância, ou quando diagnosticados, mas não tratados, existe um agravante, que é a falta de informação, apesar do avanço dos estudos do TDAH no meio científico. Ainda assim, muitos especialistas da área acreditam que os sintomas tendem a desaparecer na fase adulta.
De fato, para alguns, os sintomas se reduzem ao ponto de não serem um problema na vida adulta, principalmente quando tratados corretamente na infância.
A questão é que, para a maioria, os sintomas na vida adulta podem ainda se agravar em relação aos da infância. Isso se dá principalmente pelas comorbidades como depressão, transtorno de ansiedade generalizado e fobias, que se desenvolvem decorrentes do TDAH não tratado, e logo passam a encobrir os sintomas primários.
Isso faz com que muitos profissionais da área insistam no tratamento do sintoma mais evidente, ignorando uma investigação mais aprofundada. A consequência disso será um eterno tratamento cheio de altos e baixos, só piorando ainda mais o quadro clínico do paciente.
Analisando por este ângulo, chega a dar raiva dos profissionais de saúde despreparados, não é? Mas vamos lá, pense comigo: e a sua responsabilidade nisso? Passei por isso, pois só descobri o TDAH com 30 anos e ainda assim, tratei como uma simples disfunção. Então, eu o ignorei, achando que, se olhasse para ele, estaria dando desculpas a mim mesma para justificar minhas incompletudes.
Não procurei um especialista em TDAH, acreditei no que me foi dito e segui com minha vida batendo cabeça e andando em círculos.
O lance é, como eu nasci com este transtorno assim como você, como saber que tem algo errado, de fato, e lidar com isso? Pois quando se desenvolve algo ao longo da vida, você sabe que algo está diferente, mas quando se nasce com aquilo, fica quase impossível ter este nível de consciência. Por isso, confiamos tanto nos profissionais de saúde. Afinal, eles são os especialistas
, mas quem pode ser mais especialista em si do que seu próprio Eu, seu Self? E isso é tão, mas tão sério, que apesar de possuir já muita consciência sobre mim, quase fui diagnosticada com bipolaridade e distimia.
Quando a médica