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Capa Preta
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E-book629 páginas9 horas

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Sobre este e-book

Esta versão é de livro impresso em tamanho A5. Esta obra é excelente e inigualável em conteúdo, revelando-se a mais completa que existe no mercado literário. Inédita em seu conteúdo, pois é completa, com você nunca viu. Obra extraída dos originais de autoria atribuída ao maior feiticeiro (bruxo) de todos os tempos: Cipriano de Antióquia. Poucos homens sábios são tão conhecidos e temidos como o famoso mago São Cipriano. A verdadeira história do antigo Bispo de Cartago é permeada de magia, paixão, mistério e conversão. Persistência e fé inabaláveis nortearam sua busca, seu encontro com o conhecimento e com a essência do amor divino. Índice QUEM FOI CIPRIANO? DADOS BIOGRÁFICOS DO FEITICEIRO EPISÓDIOS DA VIDA DE CIPRIANO, ANTES DA CONVERSÃO UMA NOVA AVENTURA OUTRO CASO MÁGICA DOS BICHOS DISPUTA DE CIPRIANO COM GREGÓRIO A DOENÇA QUE MOLESTA O CORPO É COISA DE SATANÁS? ESCONJURAÇÕES PRIMEIRA ESCONJURAÇÃO SEGUNDA ESCONJURAÇÃO TERCEIRA ESCONJURAÇÃO A FEITICEIRA DE ÉVORA — PODEROSA BRUXA ENCONTRO DE CIPRIANO O BRUXO COM LAGARRONA. QUEM DOS DOIS MAIORES FEITICEIRO? ORAÇÕES DE SÃO CIPRIANO ORAÇÃO QUE SE LÊ AO ENFERMO PARA SE SABER SE A MOLÉSTIA É NATURAL OU SOBRENATURAL AO DEMÔNIO, PARA NÃO MORTIFICAR O ENFERMO (Para todo o tempo da esconjura) OUTRA ORAÇÃO DE SÃO CIPRIANO CONJURAÇÃO ORAÇÃO PARA LIVRAR O ENFERMO DO PODER DE SATANÁS COMO SE HÁ DE FECHAR A MORADA PALAVRAS SANTÍSSIMAS QUE O RELIGIOSO DEVE DIZER QUANDO ESTIVER A FECHAR A MORADA SOBRE FANTASMAS QUE APARECEM NAS ENCRUZILHADAS ORAÇÕES PARA PEDIR PELOS ESPÍRITOS BONS SALVADOR DO PECADOR e MUITO MAIS
IdiomaPortuguês
Data de lançamento11 de set. de 2018
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    Capa Preta - São Cipriano/mago Sidrak Yan


    Título: São Ci priano , o bru xo

    Subtítulo: O legítimo Capa Preta

    Traduzido, revisto e adaptado: Mago Sidrak Yan

    Editor: Ramiro Augusto Nunes Alves

    * Várias imagens foram suprimidas por apresentarem divergências e polêmicas em relação a sua verdadeira e original forma. Isto não sacrifica, porém, em nada o entendimento da obra pelo leitor(a).

    Dúvidas, críticas, sugestões, incorreções:

    topbook-livros@outlook.com


    DEDICATÓRIA

    Esta obra é dedicada a todos que desejam conhecer o lado oculto da verdade, para fazer o bem, e perderam o medo de enxergar além dos olhos.

    Sobre o livro

    Esta obra é excelente e inigualável em conteúdo, revelando-se a mais completa que existe no mercado literário. Inédita em seu conteúdo, pois é completa, com você nunca viu.

    Obra extraída dos originais de autoria atribuída ao maior feiticeiro de todos os tempos: Cipriano de Antióquia.


    ÍNDICE

    QUEM FOI CIPRIANO?

    DADOS BIOGRÁFICOS DO FEITICEIRO

    EPISÓDIOS DA VIDA DE CIPRIANO, ANTES DA CONVERSÃO

    UMA NOVA AVENTURA

    OUTRO CASO

    MÁGICA DOS BICHOS

    DISPUTA DE CIPRIANO COM GREGÓRIO

    A DOENÇA QUE MOLESTA O CORPO É COISA DE SATANÁS?

    ESCONJURAÇÕES

    PRIMEIRA ESCONJURAÇÃO

    SEGUNDA ESCONJURAÇÃO

    TERCEIRA ESCONJURAÇÃO

    A FEITICEIRA DE ÉVORA — PODEROSA BRUXA

    ENCONTRO DE CIPRIANO O BRUXO COM LAGARRONA. QUEM DOS DOIS MAIORES FEITICEIRO?

    ORAÇÕES DE SÃO CIPRIANO

    ORAÇÃO QUE SE LÊ AO ENFERMO PARA SE SABER SE A MOLÉSTIA É NATURAL OU SOBRENATURAL

    AO DEMÔNIO, PARA NÃO MORTIFICAR O ENFERMO (Para todo o tempo da esconjura)

    OUTRA ORAÇÃO DE SÃO CIPRIANO

    CONJURAÇÃO

    ORAÇÃO PARA LIVRAR O ENFERMO DO PODER DE SATANÁS

    COMO SE HÁ DE FECHAR A MORADA

    PALAVRAS SANTÍSSIMAS QUE O RELIGIOSO DEVE DIZER QUANDO ESTIVER A FECHAR A MORADA

    SOBRE FANTASMAS QUE APARECEM NAS ENCRUZILHADAS

    ORAÇÕES PARA PEDIR PELOS ESPÍRITOS BONS

    SALVADOR DO PECADOR

    ORAÇÃO PARA ASSISTIR AOS DOENTES NA HORA DA MORTE

    REZAS FORTES DA ANTIGUIDADE USADAS POR CIPRIANO NA HORA CERTA

    ORAÇÃO DAS HORAS ABERTAS

    DA TRINDADE (Rezar às Três da Tarde)

    GRANDE VIBRAÇÃO (Para as Seis Horas)

    NA PERIGOSA HORA (Rezar à Meia-Noite)

    ESTUDOS E EXPERIÊNCIAS DE CIPRIANO

    ELIXIR MARAVILHOSO PARA CASAMENTO FELIZ

    CRUZ DE S. BARTOLOMEU SEGREDOS DA MAGIA

    Como fazer a cruz

    Como usar a cruz

    PODEROSA FÓRMULA PARA UMA MOÇA CONQUISTAR UM HOMEM E CASAR COM ELE

    MÁGICA DAS FAVAS PARA TORNAR UMA PESSOA INVISÍVEL

    CABEÇA DE GATO PRETO, MÁGICA PARA SE FICAR INVISÍVEL

    OUTRA DO GATO PRETO PARA CASOS DE AMOR

    PARA SE VINGAR DOS INIMIGOS

    PARA SE GERAR UM DIABINHO

    COMO FAZER PACTO COM O DEMÔNIO E DELE OBTER TUDO QUE SE QUER

    MÁGICAS

    MÁGICA DO CÃO PRETO, QUE O SEGUIRÁ ONDE QUER QUE VÁ

    OUTRA DO CÃO PRETO PARA SE FAZER AMAR

    MÁGICA DO SAPO PARA ALGUÉM REVELAR O QUE DESEJA FAZER

    OUTRA DE SAPO PARA QUALQUER EMPREENDIMENTO

    MÁGICA DA POMBA PARA CONQUISTAR MULHER

    PÍLULA MARAVILHOSA PARA CONQUISTAR HOMEM

    ÓLEO MÁGICO PARA FAZER APARECER FANTASMAS

    BRUXEDO DO SAPO PARA OBRIGAR A AMAR CONTRA VONTADE

    OUTRA DE SAPO PARA FAZER O MAL

    OUTRO BRUXEDO DO SAPO PARA FAZER CASAMENTO

    TALISMÃ PARA SE GANHAR NOS JOGOS

    TALISMÃ PARA REGRESSAR À TERRA NATAL, RICO E FELIZ

    DO SAPO PRETO PARA CONVERTER O BOM NO MAU FEITIÇO

    COM OLHOS DE SAPO PARA SEU HOMEM GOZAR  SÓ COM VOCÊ

    MAIS UMA DO SAPO PRETO PARA APRESSAR O CASAMENTO

    MÁGICA DO AZEVINHO

    MÁGICA DO VIDRO ENCANTADOR

    AGULHA MÁGICA

    DA POMBA PRETA ENCANTADA PARA LEVAR CARTA À NAMORADA

    FEITIÇO DO MOCHO PARA A MULHER CATIVAR O HOMEM

    FEITIÇO DO OURIÇO-CACHEIRO

    ENCANTOS DA CORUJA

    MÁGICA DA RAIZ DE SALGUEIRO

    OVOS DE FORMIGA PARA A MULHER SE LIVRAR DO HOMEM QUE NÃO QUER

    ESPONJA MARAVILHOSA, INFALÍVEL PARA EVITAR GRAVIDEZ

    PELO DE MULA. OUTRA MÁGICA PARA A MULHER NÃO TER FILHOS

    BRUXEDO DE AVELÃ PARA AQUECER MULHER FRIA

    FEITIÇARIA DAS ROSAS VERMELHAS

    SIDEROL E OS SETE PRODÍGIOS

    1 — FEITIÇO PARA PROTEGER A CASA CONTRA INIMIGOS OCULTOS

     2 — SEGREDO DA ÁGUA DO MAR PARA ELIMINAR MAZELAS

    3 — COMO ENFEITIÇAR UMA PESSOA COM QUEM SE DESEJA CASAR

    4 — TREVO DE QUATRO FOLHAS, MÁGICA PARA OBTER FORTUNA

    5 — REZA DO GATO PRETO, PRATICADA PELOS CIGANOS ROMS

    6 — LENHO DE CIPRIANO CONTRA FEITIÇOS

    7 — MÁGI C A DAS ERVAS SANTAS — DE COMO CIPRIANO ENGANOU ZEDEON

    PODER MAGNÉTICO

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    O Amor Magnetizador

    Influência dos Planetas

    Fluido Nervoso

    Fluido Moral

    A Força da Vontade

    Mau-Olhado

     Modo de Magnetizar uma Pessoa

    CATALEPSIA MAGNÉTICA

    FENÔMENOS DO HIPNOTISMO

    A LETARGIA

    A CATALEPSIA

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    FASCINAÇÃO E ALUCINAÇÃO

    CRUZES E OUTROS SÍMBOLOS MÁGICOS BENÉFICOS E MALÉFICOS

    CRUZ EGÍPCIA

    CRUZ DA MAGIA BRANCA

    CRUZ DA BRUXARIA

    CRUZ DA MAGIA NEGRA

    CRUZ SAGRADA DOS ROMANOS

    CRUZ DOS PRIMEIROS CR I STÃOS

    A GRANDE CRUZ DE SÃO C I PRIANO

    BRUXO DE GRANDE PODER E MALDADE CIPRIANO FEZ ESCOLA A ELE SUCEDERAM ADMIRÁVEIS MESTRES DA FEITIÇARIA

    RECOMENDAÇÃO PRIMEIRA

    Afa Afca Nostra

    FUNDAMENTOS DOS RITUAIS DE MAGIA NEGRA

    Manifestação do espírito

    Resposta ao espírito

    O satânico impõe

    O mágico responde

    Oração para Despedir o Espírito

    FEITICEIROS e FEITICEIRAS

    DROGAS E UNGUENTOS

    SEGREDOS SECULARES

    GÊNIOS DO BEM E DO MAL COMANDADOS POR CIPRIANO

    BONS E MAUS GÊNIOS NO CAMINHO DE TODOS

    INFLUÊNCIA DOS GÉNIOS

    NUMEROLOGIA POR CIPRIANO

    O DIA EM QUE NASCEMOS E A NUMEROLOGIA

    DIA 1

    DIA 2

    DIA 3

    DIA 4

    DIA 5

    DIA 6

    DIA 7

    DIA 8

    DIA 9

    DIA 10

    DIA 11

    DIA 12

     DIA 13

    DIA 14

    DIA 15

    DIA 16

    DIA 17

    DIA 18

    DIA 19

    DIA 20

    DIA 21

    DIA 22

    DIA 23

    DIA 24

    DIA 25

    DIA 26

    DIA 27

    DIA 28

    DIA 29

    DIA 30

    DIA 31

    TESOUROS ENCANTADOS

    S ÍTi OS DOS TESOUROS

    TESOUROS DA GALIZA

    EXTRATO DO PERGAMINHO QUE RELACIONA OS TESOUROS ENCANTADOS

    TESOUROS ESCONDIDOS PELOS BRUXOS NO SÉCULO III

    Total de 26 Tesouros (Interpretado assim: 2 + 6 = 8 = Cabala da Fortuna)

    SIGNIFICADO DOS SONHOS

    APÊNDICE I

    BRUXEDOS E FEITIÇOS NO SÉCULO XX

    COMO TRABALHAM OS BRUXOS NO SÉCULO XX

    REGRAS PARA ATIVAR OS FEITIÇOS DE AMOR

    A LISTA DE COMPRAS DO FEITICEIRO

    ALGUNS FEITIÇOS DE AMOR

    TRUQUES PARA DESENVOLVER O SEU OLHO-MAU

    TRUQUES PARA SE DEFENDER DO OLHO-MAU

    PRAGAS MAIS COMUNS

    PÓS E FÓRMULAS MÁGICAS ESPECIALIDADES DOS FEITICEIROS

    APÊNDICE II

    INICIAÇÃO À MAGIA NEGRA

    Ritual de iniciação do noviço como feiticeiro ou feiticeira.

    Ritual

    Ritual de iniciação de um sacerdote à condição de alto sacerdote

    Ritual

    ORAÇÃO DA CABRA PRETA

    APÊNDICE III

    CIPRIANO E A ERVA MÁGICA

    CONVERSÃO DE CIPRIANO

    PRISÃO E MARTÍRIO DE CIPRIANO

    INSTRUÇÕES AOS RELIGIOSOS

    ORAÇÃO PELOS BONS ESPÍRITOS, PARA OS LEVAR A DEUS E DEIXAR A CRIATURA

    EXORCISMO PARA EXPULSAR O DIABO DO CORPO

    CURAS MILAGROSAS E OUTRAS PASSAGENS

    ANTIGO TRATADO DE CARTOMANCIA

    CARTOMANCIA CRUZADA

    COMO DEUS PERMITE QUE O DEMÔNIO ATORMENTE AS CRIATURAS

    MODO DE PREPARAR UMA PENEIRA PARA ADIVINHAR E OUTRAS FORMAS

    ORAÇÃO DO ANJO CUSTÓDIO E OUTROS EPISÓDIOS

    COMO SE DEVE PREPARAR A VARA BOLEANTE PARA CASTIGAR O DEMÔNIO

    MAGIA DAS CORES SEGUNDO OS MANUSCRITOS

    PRESENTES, QUE DÃO FELICIDADE, DO HOMEM PARA A MULHER E VICE-VERSA

    A MAGIA

    MAGIA PARA CASAR COM UM HOMEM RICO E OUTRAS

    MAGIA PARA CONSERVAR O VIGOR VIRIL (VIRILIDADE)

    SEGREDO DA FEITIÇARIA

    MÁGICA (MAGIA) DO GATO PRETO

    TRABALHO QUE SE FAZ COM DOIS BONECOS

    OUTROS TRABALHOS E ENCANTOS

    MAGIA COM DOIS BONECOS, PARA FAZER MAL A QUALQUER CRIATURA

    ESPÍRITOS DIABÓLICOS E REMÉDIOS PARA OS EVITAR

    OS MISTÉRIOS DA FEITIÇARIA

    RECEITA PARA OBRIGAR O MARIDO A SER FIEL A SUA ESPOSA

    RECEITA PARA OBRIGAR MOÇAS SOLTEIRAS, E ATÉ MESMO MULHERES CASADAS, A DIZEREM TUDO QUE FIZERAM OU TENCIONAM FAZER NA VIDA

    OUTRAS RECEITAS

    OS DIAS AZIAGOS (AZARADOS) DO ANO

    MAIS TRABALHOS E MAGIAS

    FORÇAS E PODERES OCULTOS DO ÓDIO E DO AMOR

    MANEIRA DE SE SABER SE A PESSOA QUE ESTÁ AUSENTE É FIEL

    GRANDES CONJURAÇÕES DE MAGIA NEGRA

    SOBRE AS CLAVÍCULAS DE SALOMÃO

    O COMBATE ENTRE SALOMÃO E LÚCIFER

    SEU DIREITO DE SER RICO

    O MAGNETISMO DA VONTADE

    AS RIQUEZAS DA SUA MENTE

    A ALQUIMIA PSÍQUICA

    O PODER ATRATIVO DA PIRÂMIDE

    COMO CONSTRUIR UM AMULETO MÁGICO PARA ATRAIR RIQUEZAS

    BANHOS PARA PROSPERAR

    RITUAIS

    O MODO DE CURAR AS CHAGAS COM VINHO E AZEITE

    REMÉDIOS PARA CURAR CALVÍCIE E OUTROS MALES OU ANOMALIAS

    O HIPNOTISMO, SEGUNDO SÃO CIPRIANO

    MISSA NEGRA

    ORAÇÕES


    Q UEM FOI CIPRIANO?

    DADOS BIOGRÁFICOS DO FEITICEIRO

    Cipriano, conhecido como o Feiticeiro, nasceu na cidade de Antióquia, situada entre a Síria e a antiga Arábia. Seus pais, vendo que o filho era dotado de muito talento, o que lhe permitia granjear a estima dos homens, destinaram-no ao sacerdócio dos deuses, e mandaram dar-lhe toda a instrução necessária para isso. Cipriano aprendeu a ciência dos sacrifícios oferecidos aos ídolos, de modo que ninguém conhecia melhor do que ele os mistérios da idolatria.

    Aos trinta anos de idade, Cipriano fez uma viagem a Babilônia, para aprender astrologia e numerologia, os mistérios e segredos dos Caldeus. Além de empregar naqueles estudos o tempo que poderia aproveitar no conhecimento de outras verdades, Cipriano aumentou sua malícia e iniquidade, quando se entregou inteiramente ao estudo da magia, a fim de conseguir, por meio desta arte, estreitas relações com os demônios, levando ao mesmo tempo uma vida desregrada, libertina, escandalosa e impura.

    Conquanto o fervoroso cristão, Eusébio, que havia sido seu companheiro de estudos, censurasse a má vida de Cipriano, procurando tirá-lo do profundo abismo em que o via precipitado, este tão-somente desprezava as exortações e censuras do antigo colega como se utilizava da sua infernal inteligência para ridicularizar os sagrados mistérios e os virtuosos professores da lei cristã, por ódio à qual, chegou a unir-se aos bárbaros perseguidores para forçar os cristãos a renunciar a Jesus Cristo.

    A vida de Cipriano tinha chegado a tal estado; minar e converter este infeliz vaso de contumélias e ignomínias em vaso de bondade, por isso somente a divina graça poderia operar no coração de Cipriano prodigioso milagre.

    Em Antióquia vivia uma jovem de nome Justina, rica quanto formosa, a quem o pai Edeso e a mãe Cledônia educaram com desvelo nas superstições pagãs. Justina era dotada de rara inteligência. Assim que ouviu os sermões de Paulo , diácono de Antióquia, abandonou as extravagâncias das práticas dos gentios e, abraçando a fé cristã, conseguiu logo depois converter seus próprios pais.

    Sendo batizada, a ditosa moça tornou-se logo depois uma das mais perfeitas esposas de Jesus Cristo, consagrando sua vida ao Divino Mestre, procurando todos os meios de conservar esta delicada e preciosa virtude; para isso observava rigorosamente a modéstia, entregando-se às orações e ao retiro. Não obstante isso, um rapaz chamado Aglaide, logo que a viu ficou enamorado e pediu-a aos pais para sua esposa, com o que concordaram Edeso e Cledônia. Apesar de todos os empenhos e rogos de Aglaide, Justina não concordou casar.

    Aglaide valeu-se então das artes de Cipriano, o qual, com efeito empregou os meios mais eficazes da sua ciência diabólica para atender ao namorado, que era seu amigo. Ofereceu aos demônios muitos sacrifícios abomináveis e eles lhe prometeram o desejado êxito, cobrindo logo a jovem com terríveis tentações e ameaçando-a com terríveis fantasmas. Justina, porém, fortalecida pela graça de Deus, saiu vitoriosa de todas as tentações diabólicas.

    Indignado Cipriano por não poder vencer a moça, rebelou-se contra o demônio, que estava presente e falou-lhe: "Pérfido, já estou vendo a tua fraqueza, pois não podes vencer uma delicada donzela, tu, que tanto te gabas do teu poder e de fazer prodigiosas maravilhas. Dize-me logo o motivo desta mudança e com que armas se defende ela para inutilizar os teus esforços? ''

    O demônio não teve outra saída, confessou-lhe a verdade, dizendo que o Deus dos cristãos era o supremo Senhor do céu, da terra e do inferno e que ele não podia nada fazer contra o sinal da cruz com que Justina continuamente se armava. Tão logo ele aparecia para tentá-la, era obrigado a fugir em virtude da sombra do sinal da cruz.

    Pois se assim é — replicou Cipriano — eu sou muito louco em não me entregar ao serviço do Senhor, que é mais poderoso do que tu. Se o sinal da cruz dos cristãos obriga-te a fugir, não quero mais utilizar-me do teu prestígio, renuncio a todos os teus sortilégios, confiando na bondade do Deus que há de me admitir como seu servo.

    Irritado, o demônio por perder aquele que por seu intermédio fizera tantas conquistas, apoderou-se do seu corpo. Porém, foi logo obrigado a sair, pela graça de Jesus Cristo, que estava senhor do seu coração. Em consequência Cipriano teve de se empenhar em vigorosos combates contra os inimigos da sua alma; mas o Deus de Justina a quem Cipriano sempre invocara valeu-lhe com o seu socorro e o fez vitorioso.

    Para este resultado muito concorreu seu amigo Eusébio, a quem Cipriano foi logo procurar e disse chorando: Meu grande amigo, chegou para mim o feliz tempo de reconhecer meus erros e espero que o teu Deus, que desde já confesso ser o único e verdadeiro, me admita entre seus ínfimos servos, para maior triunfo da sua benigna misericórdia.

    Eusébio ficou muito satisfeito por essa prodigiosa mudança. Abraçou afetuosamente o amigo, deu-lhe muitos parabéns pela sua heroica resolução, animando-o a confiar sempre na infalível verdade de Deus, que jamais desampara aos que sinceramente o procuram. Assim fortificado, Cipriano pôde resistir com valor a todas as tentações do diabo.

    Para isso ele fazia sem cessar o sinal da cruz, tendo sempre nos lábios e no coração o sagrado nome de Jesus. Vendo os demônios todos os seus artifícios inteiramente frustrados, esforçaram-se em levar Cipriano ao desespero, falando-lhe:

    O Deus dos cristãos é sem dúvida o único Deus verdadeiro, mas que é um Deus de pureza, um Deus que pune com severidade extrema mesmo os menores crimes, a maior prova somos nós mesmos, os demônios, que por um só pecado de orgulho fomos condenados a um castigo extremo. Sendo assim, como haveria perdão para ti, Cipriano. Pela gravidade das tuas culpas já tens um lugar preparado no mais profundo inferno. Portanto, não tendo misericórdia que esperar, cuida somente de divertir-te, satisfazendo à rédea solta todas as paixões da tua vida.

    Na verdade, esta tentação pôs em grande perigo a salvação de Cipriano. O amigo Eusébio, sabedor da crise que perturbava Cipriano, animou-o e consolou-o, propondo-lhe com a benigna misericórdia com que Deus recebe e generosamente perdoa aos pecadores arrependidos, por maiores que sejam os pecados. Depois, o mesmo Eusébio levou-o à assembleia dos fiéis, onde se admitiam as pessoas que desejavam instruir-se nos mistérios da fé cristã.

    No livro Confissão, afirma o próprio Cipriano, que à vista do

    respeito e piedade de que estavam penetrados os fiéis, adorando o verdadeiro Deus, tocou-o vivamente no coração. Disse: Eu vi cantar naquele coro os louvores a Deus e terminando cada verso dos salmos com a palavra Aleluia, tudo com atenção respeitosa e suave harmonia, parecendo-me estar entre homens celestes.

    No fim do ofício religioso, admiraram-se os assistentes de que um presbítero como Eusébio introduzisse Cipriano naquela sagrada reunião. E o  B ispo que a estava presidindo muito mais o estranhou, pois não julgara sincera a conversão de Cipriano. Porém este desfez todas as dúvidas, queimando todos os seus livros de magia e ingressando no grupo dos catecúmenos, depois de haver distribuídos todos os seus bens aos pobres.

    Estando suficientemente instruído na doutrina cristã, Cipriano foi batizado pelo bispo, juntamente com Aglaide, o apaixonado de Justina, que arrependido da sua loucura quis emendar a vida e seguir a fé verdadeira. Comovida com esses dois exemplos da divina misericórdia, Justina cortou os cabelos em sinal de sacrifício que fazia a Deus da sua virgindade e repartiu também pelos pobres os bens que possuía.

    Cipriano fez grandes e maravilhosos progressos nos caminhos do Senhor; sua vida foi um perene exercício na mais rigorosa penitência. Muitas vezes foi visto prostrado por terra, a cabeça coberta de cinza, rogando a todos os fiéis que implorassem para ele a divina misericórdia. E para mais se humilhar e erradicar sua antiga soberba, obteve, depois de muitos rogos, que se lhe desse o emprego de varredor do templo.

    Cipriano morava em companhia do presbítero Eusébio, a quem venerou como se fora seu pai espiritual. O divino Senhor, em reconhecimento do bom proceder e humildade, concedeu-lhe a graça de fazer milagres. Sua eloquência concorreu para a conversão à fé de muitos idólatras. Servindo-se do seu famoso escrito Confissão, no qual fez públicos seus crimes e excessos, animava a confiança tão-somente dos fiéis como também dos pecadores.

    Por isso, a fama das conquistas que Cipriano fazia para o reino de Jesus e o seu zelo chegaram aos ouvidos dos imperadores. Diocleciano, que então se achava em Nicomédia, informado dos milagres de Cipriano e da santidade de Justina, deu ordem ao juiz Eutolmo, governador da Fenícia, para que prendesse ambos.

    Conduzidos à presença do juiz, Cipriano e Justina responderam e confessaram com tanta eloquência a fé em Jesus Cristo que pouco faltou para converterem aquela autoridade. Entretanto, para que não supusessem que ele favorecia os cristãos, o juiz mandou açoitar com duas cordas Justina e rasgar com grampo de ferro as carnes de Cipriano. Esse cruel suplício causou horror entre os presentes.

    Vendo o déspota que nem as promessas, nem as ameaças, nem o terrível suplício abatiam a constância dos dois, mandou atirar cada um em uma grande caldeira cheia de alcatrão, banha e cera fervente. Mas a súbita serenidade que se via nas faces e nas palavras dos mártires indicava que nada padeciam, naquele tormento. Percebia-se que mesmo o fogo, debaixo das caldeiras, não tinha o mínimo calor. À vista disso, um sacerdote dos ídolos, de nome Atanásio, que por algum tempo fora discípulo de Cipriano, julgando que todos aqueles prodígios eram provocados pelos sortilégios do seu antigo mestre, e querendo ganhar reputação maior entre o povo, invocou os demônios, nas suas cerimônias mágicas, e lançou-se na mesma caldeira de onde Cipriano foi tirado. Porém logo morreu queimado, com as carnes despregadas dos ossos.

    Este fato produziu grande perplexidade nos presentes e quase aconteceu na cidade um motim em favor de Cipriano. Intimidado, o juiz resolveu enviar os mártires a Diocleciano, informando o imperador de tudo quanto acontecera. Lendo a carta, Diocleciano, sem mais formalidades de processo, ordenou que Cipriano e Justina fossem degolados. A sentença foi executada no dia 26 de setembro, às margens do Rio Galo, que atravessa a cidade de Nicomédia.

    Chegando naquela ocasião um bom cristão de nome Teotisto a falar em segredo a Cipriano, foi também condenado e degolado. Esse homem era um marinheiro que, vindo das costas da Toscana, desembarcara próximo a Bitínia. Os seus companheiros eram também todos cristãos e sabendo do acontecido vieram durante a noite recolher os corpos dos três mártires e os levaram para Roma, onde ficaram ocultos na casa de uma piedosa senhora, até o tempo de Constantino Magno, quando foram transladados para a Basílica de São João de Latrão.

    Em uma das suas melhores orações, Gregório Nazianzeno, elogiando os dois mártires, Cipriano e Justina, convida tão-somente as virgens como também as casadas a que imitem a jovem mártir. Diz o doutor: — "Sendo ela furiosamente acometida, o candor da sua pureza pelos impulsos dos homens lascivos e sugestões dos demônios impuros, recorreu às armas da oração e mortificação, macerando o corpo com jejuns, invocando com fervor e humildade o auxílio de Cristo.

    Valham-se, pois, das mesmas armas, quando se virem tentadas pelo poder das trevas. O Senhor certamente as defenderá, para que as trevas sejam vencidas como também para que com maior mérito recebam a coroa da vitória. Por fim, Gregório Nazianzeno, propõe o exemplo de Cipriano, cuja admirável conversão servirá de estímulo e de conforto aos pecadores, por mais carregados que estejam de inumeráveis e pesadas culpas, incutindo-lhes confiança na divina misericórdia, pela virtude da sua graça, pode abrandar os corações mais duros, reduzindo-os logo ao exercício de sincera penitência e levá-los depois a um sumo grau de eterna glória.

    EPISÓDIOS DA VIDA DE CIPRIANO, ANTES DA CONVERSÃO

    No dia 14 de março do ano 299 Cipriano estava conversando com Satanás, e disse: — Ó amigo Satanás, qual é a ceia que me dás  hoje, em recompensa da minha fidelidade? Respondeu Satanás: — Vou dar-te uma ceia, ou antes, um prazer de que ficarás muito contente. Cipriano ficou muito satisfeito com a promessa do demônio e retrucou: — Meu amigo e meu senhor, a quem amo e sirvo há dez anos, com muita fidelidade e imenso prazer, de tal modo que me parece só estou satisfeito quando estou junto de ti. . .

    — Já que me amas e me és fiel, hei também de amar-te da mesma maneira. Mete a tua fava na boca e acompanha-me. Satanás e Cipriano logo desapareceram, Oito minutos depois estavam sobre o palácio do rei de um país distante. Esse rei tinha uma filha de nome Clotilde. Satanás abriu um buraco, no lado direito do quarto da princesa Clotilde, depois voltando-se para Cipriano disse-lhe:

    — Vês aquela bonita princesa? Respondeu Cipriano: — Creio que não há moça tão formosa que se lhe possa comparar. Falou Satanás: — Pois já vês, Cipriano, meu servo, que eu sou teu amigo e que te amo de todo o coração. Ouvindo estas palavras, Cipriano postou-se aos pés do diabo, dizendo:

    — Meu amigo e senhor, a quem amo de todo coração, corpo, alma e vida, se vós podeis fazer com que eu goze aquela donzela, juro-vos amar- vos ainda mais do que até agora.

    E Satanás: — Deixo-a ao teu alcance. Convence-a com as tuas astúcias e artes, pois eu estou aqui pronto para tudo quanto quiseres. Depois disso, Cipriano tratou de fazer uma feitiçaria para que a princesa o seguisse ou mandasse chamá-lo. Mas nem Cipriano nem todos os seus feitiços puderam convencer a princesa.

    Desesperado, um dia entrou no palácio, foi ao gabinete do rei mas não o encontrou. Irritado, ficou pensando meia hora no que haveria de fazer. De repente, o rei entrou pela porta do gabinete e bradou em alta voz: — Acudam-me! Acudam-me! Cipriano mete a mão no bolso direito para tirar a fava e botá-la na boca, e fugir, mas não a encontrou. Meteu a mão no bolso esquerdo e tirou um canudinho de prata, onde se escondia um diabinho.

    Cipriano disse: — Quero já quatro castelos em volta de mim. — Executarei suas ordens, num momento, responde o diabinho. No mesmo instante, chegaram cavalaria e escoltas de soldados, porém nada fizeram. O combate foi tão forte que o castelo ficou inteiramente destruído.

    O rei ajoelhou-se aos pés de Cipriano e lhe suplicou que o perdoasse pelo amor daquele a quem Cipriano mais quisesse. — Saberás que sou um mago e além de ser mago pratico arte diabólica. Tu vês que este palácio está destruído. Que me das tu, se eu fizer com que o palácio se levante tal como era antes, e isto, imediatamente?

    Depois proferiu as seguintes palavras: — Eu mando já pelo poder da magia negra que tudo faz, mando já, que este palácio seja levantado e fique no seu próprio natural e para golão traga matão, vais de pauto a chião a molidão, pexela ispera regra retragarão, onite protual fines! Abracadabra!

    Quando Cipriano acabou de dizer estas palavras o palácio ficou tal qual era. O rei que viu Cipriano fazer tantas maravilhas, cada vez mais assustado, lançou-se pela segunda vez a seus pés e disse-lhe:

    Peço-te, rogo-te, senhor, que me perdoe, se achas que te ofendi nalguma coisa. Cipriano retorna: — Levanta-te. Estás perdoado mas com a condição de que hás de me dar a princesa Clotilde, que é tua filha. Ouvindo estas palavras, o rei tremeu e ficou imóvel, sem poder dar uma única palavra. Cipriano outra vez bradou: — Já te disse. Queres dar-me a tua filha Clotilde? Do contrário tudo será outra vez reduzido a nada. m rei nada respondeu. Voltou a gritar Cipriano: — Então, que digo eu? m rei continuou silencioso. Irado, Cipriano deu um forte grito: — Por toda a força da minha arte mágica, negra e branca, mando que já todo este reino fique encantado, reduzido a penedos, o rei e a rainha sejam duas pedras de mármore!

    Em cinco minutos, foi executada a sua ordem! Só não pôde encontrar Clotilde por causa de uma oração que ela rezava todos os dias. Assim que viu tudo encantado, menos Clotilde, Cipriano ficou irado contra Satanás e bradou em alta voz:

    — Satanás! Satanás! Aparece-me, meu. Satanás! — Aqui estou às tuas ordens, amigo Cipriano, disse o espírito das trevas. — Quero que me digas a razão por que eu não posso satisfazer os meus apetites com esta linda princesa. A princesa, que ouviu estas palavras, disse em voz baixa:

    — Se tu és o demônio, peço em nome do Senhor para que só digas a verdade. Obrigado por invencível força divina, Satanás disse a Cipria no: — Meu amigo saberás que há um Deus poderoso, que cobre o céu e a terra e tem poder sobre tudo. Se ele quiser, tu e eu não nos moveremos daqui porque ele é poderoso. A princesa invocou o seu santo nome e eu não pude deixar de confessar a verdade além de que a princesa reza uma oração todos os dias, que a livra de tudo quanto é tentação minha ou dos meus queridos filhos.

    Ouvindo isto, Cipriano prostrou-se por terra e disse: Senhor dos altos céus, quem sois vós, que eu não conheço? E tu, Satanás, espírito maligno, demônio maldito, tu foste a minha perdição! Maldita seja a hora em que fui concebido; maldito seja o ventre que me concebeu; malditos sejam o pai e a mãe de quem sou descendente; maldita seja a hora em que nasci; maldito seja o leite que mamei; maldito seja quem tal criação me deu; malditos sejam quantos passos tenho dado nesta vida! Meu Deus, meu Deus, fazei já abrir as portas do inferno para tragarem este maldito homem; desapareça para sempre! Jesus, Jesus, Jesus, se ainda tenho salvação respondei-me dos altos céus!

    Cipriano ouviu uma voz que lhe dizia: — Filho, continua com esta vida que tens, que eu te avisarei, com um ano de antecipação da tua morte, para cuidares da tua salvação. Cipriano beijou a terra e agradeceu a Deus os benefícios que lhe fazia. Porém foi engano de Cipriano, porque aquela voz que ele ouviu foi do próprio demônio, que para enganá-lo subiu aos astros para dar a impressão de que era Deus que respondia å seus rogos.

    Cipriano, tal corno um inocente, acreditou na voz que ouvia. Muito ingênuo devia ser para não se aperceber de que aquela voz não podia ser a de Deus. Porém Jesus Cristo, bondoso e justo, não deixou de. perdoar a Cipriano os pecados cometidos pela ambição desmedida, que a ilusão pelo poder de Satanás lhe havia causado. Cipriano retirou-se do palácio e quando já ia distante ouviu uma voz que lhe dizia:

    — Cipriano, Cipriano, vale-me nesta aflição pelo amor do grande Deus. Cipriano tremeu e caiu por terra. A boa princesa Clotilde chegou junto e lhe disse: — Eu mando em nome de Deus! Levanta-te! Cipriano levantou-se de repente e fitou os olhos na linda princesa, dizendo-lhe: — Que pretendes? A princesa respondeu: — Invoco o santo nome de Jesus, para que tu, homem, não te movas daqui sem que vás restituir a vida de meu pai e de minha mãe e desencantar tudo àquilo quanto tens encantado neste reino por uma arte oculta, maligna e poderosa.

    — Eu — disse Cipriano — tudo isto te faço, porém peço-te que me digas qual é a oração que dizes todos os dias, por causa da qual eu nunca pude levar adiante os meus desejos, mesmo usando de todos os meus feitiços e encantos.

    Responde a princesa:

    — A oração é muito simples, te ensinarei de muito boa vontade. Escuta: "Eu me entrego a Jesus e à Santíssima Cruz, ao Santíssimo Sacramento, às três relíquias que tem dentro, às três missas do Natal, que não me aconteça nenhum mal. Maria Santíssima seja sempre comigo, o anjo da minha guarda me guarde e me livre das astúcias de Satanás.

    Cipriano foi em seguida ao local do palácio, desencantou tudo quanto tinha encantado e disse para a princesa: — Pede sempre por mim nas tuas orações. A princesa assim fez e obteve de Nosso Senhor Jesus Cristo o perdão para os pecados de Cipriano, que não levou senão mais de um ano naquela vida enganosa.

    UMA NOVA AVENTURA

    Certo dia Cipriano foi ao palácio do rei da Pérsia para dizer ao monarca que pretendia sua filha, a princesa Neckar, para casa-la com um seu amigo, chamado Nabor, de uma rica família da Babilônia.

    O rei da Pérsia disse que Neckar jamais seria esposa de Nabor, pois ele já tinha escolhido um parente para ser o marido da princesa. Cipriano insistiu, pedindo que o rei consentisse que ele, Cipriano, falasse com a princesa, pois se esta o ouvisse certamente consentiria. O monarca achou inconveniente esta exigência, chamou alguns eunucos e mandou pô-lo para fora do palácio. Como Cipriano tentasse reagir, o rei mandou encarcerá-lo nos porões do palácio.

    Entretanto, com bons modos, Cipriano captou a confiança de um criado da princesa Neckar. Deu-lhe um elixir para que pingasse dentro de um copo d'água, para a princesa cheirar. Esse criado chamava-se Alan, e, sem Neckar perceber, pingou cinco gotas do elixir num copo d'água.

    A princesa cheirou o líquido e logo depois começou a sentir uma sensação deliciosa, aparecendo-lhe em visões um belo rapaz. Sentiu forte desejo de casar-se com ele.

    Tendo sido chamado por sua filha, o rei ficou sabendo de tudo o que se passava com ela, sem perda de tempo mandou chamar um pintor para com as explicações da princesa apanhar os traços e pintar o retrato do jovem que ela via nas suas visões. Deste retrato tiraram-se muitas cópias e foram entregues a emissários do reino para, percorrendo o mundo, encontrarem um rapaz que se parecesse com o desenho, pois este devia ser o noivo da princesa Neckar.

    Como se passassem os dias e Neckar continuasse cada vez mais excitada e com mais fortes desejos pelo noivo, que a não deixava nas suas visões, o rei foi procurar a bruxa Elma-Persa. Esta, depois de experimentar todos os recursos para desencantos, disse ao rei:

    — Vossa filha está enfeitiçada com um elixir poderoso e eu não posso agir contra ele, porém posso garantir que o feiticeiro acha-se em vosso palácio.

    Ouvindo estas palavras, o rei lembrou-se do homem que a pedira em casamento para o seu amigo. Voltando ao palácio, o rei queria mandar logo matá-lo, mas Cipriano exclamou: — Se eu morrer, pior para ti, porque tua filha também morrerá. Diante disso, o rei que muito amava sua filha ficou aterrorizado e disse: — Pede ouro, pedras preciosas, palácios. Nada te negarei, mas cura a minha filha. — Eu fiz o meu pedido e não transijo, declarou Cipriano. E o rei da Pérsia, homem inabalável, homem de coração de ferro, cedeu, pensando na sua filha Neckar, que estava sofrendo. No momento em que a comitiva do grande rei estava formada no imenso salão azul do castelo, para ir à Babilônia buscar o noivo, Neckar entrou no salão e com os braços abertos abraçou e beijou seu pai, dizendo:

    — Da sacada da torre do castelo, vi meu noivo e o conheci. E, comovida, acrescentou: — Como ele é belo. Ele vem no meio da grande comitiva amarela. Afinal Neckar se casou com Nabor e foram muitos felizes, pois o destino havia determinado que fossem esposos, Cipriano, desta vez, havia praticado uma boa ação, utilizando-se dos seus conhecimentos mágicos.

    OUTRO CASO

    Cipriano desejou o amor de uma menina de nome Adelaide. Foi pedi-la a seus pais, mas em vão, porque estes não deram consentimento. Desesperado com a negativa dos pais da jovem, irou-se de tal maneira contra eles que mandou o seu diabinho, que trazia sempre na algibeira, destruir sem mais perda de tempo as casas e todos os bens dos pais de Adelaide. As suas ordens foram de imediato executadas.

    Logo que Adelaide viu os seus haveres destruídos, dirigiu-se a Cipriano e o incentivou: — Homem, que mal te fez meu pai para que procedesses para com ele com tanta maldade? Cipriano respondeu: — Não vês, Adelaide, que te amo tanto que nada vejo, senão o lugar onde moras? Disse então Adelaide: — Se for verdade o que me dizes, faze de conta que de hoje em diante sou tua escrava, mas não tua mulher, pois não sou digna de ser desposada por ti.

    — Por que razão — respondeu Cipriano — por que razão tu dizes que não és digna de ser minha esposa? Esclareceu Adelaide: — Sendo tu um santo, como vou ser tua mulher, se sou a maior pecadora do mundo? Voltando-se para Adelaide, Cipriano respondeu: — Menina, pois se tu adoras tanto a Deus, e ainda assim dizes que és a maior pecadora do mundo, que Deus vingativo tu admiras? Ouvindo estas palavras, Adelaide ficou como pasmada e duvidando do que tinha ouvido, disse consigo mesma: Que Deus será o que adora este homem? Porventura haverá outro Deus, sem ser o meu? Não é possível! Tomou coragem e disse a Cipriano: — Homem, obrigo-te da parte de Deus, a quem adoro, que me digas que Deus estranho é esse, que tu adoras e que te obriga a renegar o meu! — O Deus que adoro é Lúcifer dos infernos! Ouvindo isto, Adelaide benzeu-se três vezes e falou: — Esconjuro-te e obrigo-te da parte de Deus, a quem adoro, a que me restituas os meus haveres, tal e qual eles estavam. Obrigado pela força de Deus Onipotente, Cipriano restituiu os bens aos pais de Adelaide e no fim de tudo isso retirou-se sem gozar o amor de Adelaide.

    Lúcifer aparecendo falou neste tom a Cipriano: — Meu amigo Cipriano, não estejas sempre a incomodar-me. Já te ensinei todos os feitiços e toda a arte mágica. Já tens todo o poder que eu tenho, porém, como teu amigo, que sempre fui, sou e serei, vou dar-te um conselho para gozares o amor de Adelaide. — Tu, meu amigo, a quem amo de todo o coração, corpo e alma, dize o que tenho de fazer neste caso. — Pega na tua garrafa mágica, mete a tua fava na boca e torna-te invisível. Agora mesmo vai à casa de Adelaide. Logo que chegares lá, deita um pouco de azeite da tua garrafa em uma das luzes que vires. Tanto Adelaide como seus pais se assustarão e tu, Cipriano, aproveita essa ocasião para gozar o amor de Adelaide.

    Decorrido cinco minutos, Cipriano já tinha feito amor com Adelaide; estavam satisfeitos seus lúbricos desejos.

    MÁGICA DOS BICHOS

    A mágica dos bichos é uma de que o demônio e Cipriano se utilizaram para convencer a filha única do marquês de Sória, o mais estimado pelo rei da Pérsia.

    Vendo-a um dia passear com seus pais, Cipriano julgou que no mundo não havia uma jovem que se assemelhasse a Elvira, em beleza. Pôs logo em prática sua arte mágica, dando a entender ao marquês que desejava sua filha Elvira. Encarando bem a pessoa de Cipriano, o marquês viu que este era um homem vulgar e lhe disse: — Tu, homem, dizes, que pretendes de minha filha? E Cipriano: — Eu pretendo amar Elvira, mas não casar com ela. Ouvindo estas palavras, o marquês ficou irado, porém tudo foi inútil porque Cipriano se apressou em dizer as seguintes palavras: — Eu quero já, por artes diabólicas e mágicas, A.M.N.O.P:, que o marquês e a marquesa virem pedra mármore! Cipriano voltou-se para Elvira e lhe disse: Vês, menina, o que fiz a teus pais? Outro tanto te farei, se não cederes ao meu desejo. Assustada com o que acabara de ouvir, Elvira respondeu:

    — Que queres, homem?...

    — Eu quero que me sigas e deixes de adorar o falso Deus que adoras e ames só minhas leis e mandados. Ouvindo estas palavras, Elvira prostrou-se por terra e fez a Jesus Cristo esta oração: Senhor se é de vossa vontade que eu siga este homem, dizei-mo lá das alturas, que estarei pronta para seguir a vossa determinação. Ouvindo a súplica de Elvira, Cipriano indignou-se contra ela e encantou-a com as mesmas palavras com que tinha encantado seus pais. Cipriano ficou satisfeito com sua vingança, porém, antes não ficasse, pois esteve em risco de perder a vida. Como o rei era muito amigo do marquês de Sória, logo deu pela sua falta na corte. Admirou-se de não vê-lo e disse consigo mesmo: Que será feito do marquês? Que será feito de sua filha Elvira e de toda a sua família? Por mais que mandasse procurá-lo em todo o reino, todas as buscas foram inúteis. Daí a um mês, apareceu no palácio uma mulher, mal vestida , dizendo, que queria falar com sua majestade. Foram dar parte ao rei que ali estava uma pobre mulher, que pretendia falar-lhe. O rei respondeu ao pajem: — Diga a essa mulher que entre. A mulher entrou e não se prostrou por terra, como era de costume. O rei, vendo que a mulher era tão altiva, falou: — Porventura, mulher, tu não mereces ser já degolada, neste lugar, por faltares o devido respeito ao rei? — Que é que dizes, rei bárbaro? — exclamou a mulher. Derramar o sangue de uma mulher, quando ela vem te trazer boa notícia e aliviar o sofrimento que trazes tão entranhado em teu peito?

    Então o rei lembrou-se de que talvez aquela mulher viesse trazer-lhe notícias do marquês e da sua família e lhe disse em voz suplicante: — Mulher, desculpa-me. Bem vês que a minha amizade pelo marquês é que me faz estar zangado. Respondeu a mulher: — Hoje mesmo, verás o marquês e toda a sua família, mas com a condição de que hás de mandar matar um homem de nome Cipriano . — Cipriano, o feiticeiro?! — exclamou o rei, — Sim, esse mesmo — disse a mulher — e vou aconselhar-vos como haveis de proceder. — Sim, mulher, concordou o rei; dize como devo agir. — Chamai-o ao vosso palácio e dizei-lhe que vos apresente o marquês e sua família e que, se não o fizer, pagará com a própria vida. Acreditando nos conselhos da mulher, o rei fez o que ela disse: mandou chamar Cipriano à sua presença; apenas chegou Cipriano o rei lhe disse: — És tu o homem chamado Cipriano? — Sim, majestade. O que quereis, real senhor? — Quero que me apresentes aqui o marquês de Sória e sua família, sob pena de mandar cortar-te a cabeça. Retrucou Cipriano: — Com quem cuidas estar falando? — Falo com um feiticeiro — retrucou o rei — que tem pacto com Lúcifer, o príncipe dos infernos. Ouvindo que o rei se manifestava desse modo, Cipriano invocou os espíritos malignos e ordenou que todo o palácio, assim como o rei com toda a sua família ficassem encantados.

    Então o rei lançou-se aos pés de Cipriano: — Perdão, perdão, grande e poderoso Cipriano! Desencantai-me e à minha família, pois não sou culpado disto. Perguntou Cipriano, muito zangado:

    — Pois quem é o culpado? — O culpado. .. — respondeu o rei — a culpada é uma mulher que está escondida no meu palácio. E Cipriano: — Essa mulher que venha sem demora à minha presença. O rei mandou que a mulher viesse imediatamente. Vendo-a, exclamou Cipriano: — Então, tu, mulher, com que prazer querias que o rei derramasse o sangue de um homem prudente e sem crimes! — Sem crimes? — retrucou a mulher. —Qual será o homem que tenha mais crimes do que tu? Tu encantaste uma família que é estimada do rei meu senhor, e ainda dizes que não tens crimes?! Ah! Infame! És digno de mil mortes, se possível fosse. Aqui está quem tem poder sobre todos os teus poderes e todas as tuas astúcias.

    Ouvindo o que acabava de proferir a desconhecida, Cipriano estremeceu e falou: — Que poder tens contra as minhas astúcias? — Tenho poder sobre tudo porque sou uma feiticeira de maior idade. Fui das primeiras que fizeram pacto com Lúcifer. Por isso tenho poder sobre todas as feitiçarias.

    Retrucou, então, Cipriano: — Como pertences à minha classe, não te quero fazer sentir as forças dos meus feitiços. Que pretendes de mim, mulher? Disse a feiticeira:

    — Quero que restituas ao rei o marquês e toda a sua família e que traga todos já à presença do rei. Depois de pensar um momento, Cipriano disse à feiticeira:

    — Sim, farei tudo isso, com a condição de que Elvira seja ,minha e eu a estimarei como devo. Respondeu a mulher: — Traze todos aqui e Elvira será tua. Ingenuamente, Cipriano acreditou nas promessas daquela feiticeira. Muito contente, foi logo desencantar o marquês, a marquesa e sua filha. Quando Cipriano se retirou, o rei e a feiticeira ficaram conversando. Disse a mulher: — Real senhor, nós temos de matar Cipriano, hoje mesmo. Mas o rei observou: — Não vês que Cipriano tem o grande poder da arte mágica? Ele pode nos encantar a todos com uma só palavra! — Não, real senhor! Eu também tenho poder bastante para impedir todos os seus encantos e artes diabólicas. Dito isto, a feiticeira foi defumar todo o palácio, mas em vão, porque Cipriano tinha grande força diabólica. Contudo, conseguiu fazer alguma coisa contra ele.

    Pouco depois, chegaram acompanhando Cipriano, o marquês de Sória, sua esposa e sua filha Elvira, que tinham sido desencantados. O rei ficou cheio da mais viva satisfação e alegria. Disse a Cipriano: — Retira-te já daqui, homem sem coração, que tens sobre ti o peso dos mais horrendos crimes pela tua perversidade e infâmia! Enfurecido pelo que acabava de ouvir, Cipriano disse arrogantemente ao rei: — Então é essa a paga que me dás por eu ter desencantado as pessoas a quem estimas? Vejo que não me conheces bem. Espera que já te arranjo.

    Dizendo isso, meteu a mão numa das suas algibeiras, tirou um diabinho e ordenou-lhe: — Quero já dez castelos às minhas ordens! Foram logo cumpridas as ordens de Cipriano, que pôs fogo no palácio. Mas tudo foi inútil devido à feitiçaria da mulher, quando defumou o palácio.

    Cipriano reconheceu logo que a feiticeira tinha impedido que ele realizasse o seu intento. Vendo que nada podia conseguir, desesperou-se da falsidade com que o rei tinha usado contra ele.

    Cipriano estava pensando tristemente na traição do rei, dizendo consigo mesmo que devia deixar este mundo, quando lhe apareceu Lúcifer, que pondo a mão no seu ombro, falou:

    — Não te entristeças, Cipriano amigo, que Elvira será tua. — Não pode ser, respondeu Cipriano. Retrucou Lúcifer: Julguei que confiavas mais em mim, meu Cipriano. Sossega, que tem remédio. Cipriano tranquilizou-se com as palavras consoladoras de Lúcifer, que o conduziu.a um deserto e lhe disse: — Já vês, caro amigo, que o palácio foi defumado com alecrim e incenso e por isso não podemos entrar lá com as nossas artes diabólicas. Porém não será bastante para que Elvira não seja tua, hoje mesmo...

    Perguntou Cipriano, que parecia estourar de satisfação:

    — Que é preciso fazer para possuí-la?

    Lúcifer explicou: Agarra todos os bichos do mundo, de preferência sapos, aranhas, ratos, cobras, sardões, formigas, moscas, sardoniscas, enfim, todos os mais que puderes e quiseres. Mete-os num grande caldeirão instalado numa trempe, despeja um quartilho e meio de azeite, e acende fogo debaixo, de maneira que os bichos se derretam e virem óleo, com a condição única de que devem ser atirados vivos no caldeirão. Depois, traze-me o óleo num frasco tapado. Não deves cheirar o conteúdo.

    Cipriano fez como Lúcifer ordenou e logo viu que tudo estava pronto para comunicar a Lúcifer. Lúcifer falando: — Sabes o que hás  de fazer agora a esse óleo? Cipriano com curiosidade: — Ouvirei o teu conselho. — Prepara uma luz com o óleo dos bichos e depois de tudo preparado, mete a tua fava na- boca e vai ao palácio sem que sejas visto por alguém.

    Antes de executar as instruções de Lúcifer, Cipriano perguntou: — Que devo fazer quando lá chegar? Lúcifer explicando: — Logo que entrares no palácio, acende a luz mágica; ficarão assustados todos quantos se acharem no palácio. Tu, Cipriano, me te uma fava na boca da feiticeira, que ainda deve estar lá, e outra na de Elvira e diz: Favas, acompanhai-me. Assim que tiveres elevado a grande altura a feiticeira, deixa-a cair, porque foi ela quem te meteu nesta encrenca.

    Cipriano agiu conforme Lúcifer indicou. Depois de haver precipitado a feiticeira de uma grande altura, levou Elvira para um deserto e lhe disse: — Que queres, Elvira, que eu faça? Escusado será dizer o que fez Cipriano, porque os leitores certamente já compreenderam. Só com o óleo dos bichos é que Cipriano pôde roubar e convencer Elvira. Preparou-lhe um palácio muito rico para que nele entrasse tão formosa pomba como era aquela formosa mulher.

    Como veem, o diabo depois de começar a enredar uma criatura não a deixa sem antes ter conseguido o que deseja. Por isso, recomenda-se a todos que é bom diariamente fazer 3 vezes o sinal da cruz.

    Voltando S. Cipriano de uma festa de Natal e não podendo atravessar os campos, devido a grande cheia no rio por onde tinha de passar, teve de se abrigar num túnel formado pela natureza, para ali passar a noite.

    Embrulhou-se no seu grosseiro manto e foi encostar-se no recesso mais seguro da furna. Perto da meia-noite, ouviu passos e divisou uma luz. Temendo que fossem malfeitores, encolheu-se atrás da ponta de uma grossa pedra. Pouco depois, soou naquele covão uma voz cavernosa que dizia:

    O mágico Cipriano, rei dos feiticeiros, por ti aqui venho com quatro fogachos e peço-te que ajudes a ganhar o prêmio à minha apaixonada cliente.

    Cipriano ia levantar-se para perguntar quem assim falava, mas teve de recuar a estas palavras:

    "EM MEU CAMINHO DE FEITICEIRO PASTOREIO AS ÂNSIAS, O AMOR-PAIXÃO, O SONHO DO POVO, O MEDO, OS FEITIÇOS E BRUXEDOS. GARGALHADAS DE FANTASMAS ANDAM SEMPRE COMIGO, MAS EU USO COMO DEFESA ESPECIAL CRUZ-AMULETO. CARREGANDO-A COMIGO ESTOU SEMPRE PROTEGIDO DE MALEFÍCIOS  ESTRANHOS" - PALAVRAS DE CIPRIANO, O BRUXO. O PODEROSO SÍMBOLO VAROU SÉCULOS E FICOU CONHECIDO COMO A GRANDE CRUZ DE SÃO CIPRIANO, ESTA QUE VAI ESTAMPADA NA PÁGINA ANTERIOR.

    "Ó Lúcifer, ó poderoso governador do país  do fogo, ergue-te das labaredas, vem até mim e entra neste covão, onde venho todas as noites e socorre o meu ofício  de consolar as esposas infelizes."

    Depois disto correu pelo subterrâneo uma fumaça enjoada. Cipriano marchou na direção da voz e topou com uma velha esguedelhada e com o cabelo raspado na nuca.

    — Que fazeis aqui, mulher, e quem é o Cipriano que agora invocaste? — É um feiticeiro que há  pouco se converteu à fé cristã e que possuía o

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