Curso De Psicanálise - Módulo Iv
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Curso De Psicanálise - Módulo Iv - Djanira Soares E Roberto Clementino
MÓDULO 4
PSICOSSOMÁTICA,
PSICOPATOLOGIA,
PSIQUIATRIA E
PSICOFARMACOLOGIA
Este material foi elaborado a partir de pesquisas em livros, periódicos eletrônicos de psicanálise e psicologia, sites, blogs especializados e bibliote-cas eletrônicas como Scielo, Google Acadêmico,
Pepsic e ScienceResearch. O objetivo deste material é informar, despertar o interesse dos alunos e divulgar os textos, autores e a bibliografia necessária para que estes aprofundem seus estudos e pesquisas em cada tema apresentado ao longo do curso.
O estudo da teoria e técnica psicanalítica é extenso, portanto, longe de pretender substituir a leitura dos originais, convidamos cada um a debruçar-se sobre eles, construindo, assim, o seu próprio saber.
É proibida a reprodução parcial ou total do conteúdo
desta
pesquisa,
por
qualquer
meio de impressão, em forma idêntica, resumida ou modificada, em língua portuguesa ou qualquer outro idioma sem a autorização do Instituto Cuidar.
Copyright © 2021: Módulo 4:Psicossomática, Psicopatologia, Psiquiatria e Psicofarmacologia
Todos os direitos reservados pelos autores: Djanira Soaes e Roberto Clementino
Título do original: Curso de Formação em Psicanálise
– Módulo 4 – Psicossomática, Psicopatologia, Psiquiatria e Psicofarmacologia
2ª Edição: Fevereiro/ 2021
Editoração e Diagramação:
Edna Adão
editora.querigma@gmail.com.
A reprodução total ou parcial desta publicação literária seja por qual meio for sem a permissão escrita ou autorização do autor ou por citação desta obra, expressa nos moldes da lei é ilegal e configura apropriação indébita de Direitos Intelectuais e Patrimoniais (Artigo 184 do Código Penal – Lei nº. 9.610 de 19 de fevereiro de 1.998). As ideias, a revisão ortográfica, os comentários e os conteúdos expressos neste livro são de total e exclusiva responsabilidade de seus autores.
CLEMENTINO. Roberto;
SOARES. Djanira
Curso de Psicanálise – Módulo 4 – Psicossomática, Psicopatologia, Psiquiatri a e Psicofarmacologia - 2ª
Edição – São Paulo – SP: Edição dos Autores. 2020.
– Psicanálise – Psicanálise – Psicopatologias
IMAGENS
Imagem 1: Neurose ____________________ 48
Imagem 2: Perversão __________________ 151
Imagem 3: Fetiche Segundo Freud _______ 157
Imagem 4: A modelo mais magra do mundo 185
Imagem 5: Classificação de Jean Bergeret et al.,
2006, p. 195 _________________________ 234
Imagem 6: Sistema Nervoso Central e Sistema
Nervoso Periférico ____________________ 395
Imagem 7: Sistema Nervoso Simpático e
Sistema Nervoso Parassimpático ________ 396
Imagem 8: Estrutura anatómica do Neurônio 397
Imagem 9: Neurotransmissores __________ 401
Imagem 10: Neurotransmissores _________ 406
Imagem 11: Receptores e neurotransmissores408
Imagem 12: Cérebro emocional __________ 409
Imagem 13: Sistema Límbico ____________ 411
SUMÁRIO
01 – INTRODUÇÃO ____________________ 14
02 – PSICOSSOMÁTICA ________________ 16
2.1 A criação e a evolução do conceito de
psicossomática – da Grécia até os dias atuais ___ 17
03 – PSICOPATOLOGIA ________________ 34
04 – PSIQUIATRIA _____________________ 40
4.1 Critérios diagnósticos: DSM-V e CID-10 _____ 45
05 – PSICOPATOLOGIA PSICANALÍTICA __ 47
5.1 Neuroses ____________________________ 48
5.2 Histeria ou Neurose Histérica _____________ 51
5.2.1 Estrutura histérica para psicanálise ___ 55
5.2.2 Transtorno da Personalidade Histriônica 63
5.2.3 Neurose Histérica versus Transtorno de
Personalidade
Histriônica
–
Diagnóstico
diferencial ____________________________ 64
5.3
Neurose
Obsessiva
ou
Personalidade
Anancástica _____________________________ 71
Psiquiatria – Sintomatologia DSM-V (301.4) e
CID-10 (F60.5 _________________________ 73
5.3.1 Estrutura obsessiva para psicanálise __ 75
5.3.2 Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC)82
5.3.3 Personalidade Anancástica ou TOCP e
TOC – Diagnóstico diferencial ____________ 94
5.4 Neurose Fóbica ou Histeria de Angústia ____ 95
5.4.1 Estrutura fóbica para psicanálise _____ 98
5.4.2 Agorafobia ou Fobia Típica _________ 105
5.4.3 Agorafobia para a Psicanálise _______ 107
5.4.4 Fobia Social ou Transtorno de Ansiedade
Social (TAS) _________________________ 113
5.4.5 Fobia social para psicanálise _______ 114
5.4.6 Agorafobia versus Fobia Social (TAS) –
Diagnóstico diferencial _________________ 116
5.4.7 Fobia Específica ou Fobia Atípica ____ 118
5.4.8 Fobia específica para psicanálise ____ 122
06- PSICOSE ________________________ 124
6.1 Paranoia ou Transtorno Psicótico Breve (TPB)125
6.2 Esquizofrenia ________________________ 128
6.2.1 Transtorno de Personalidade Esquizoide
(TPE) DSM-V (301.20) e CID-10 (F60.1) ___ 129
6.2.2 Transtorno de Personalidade Esquizotípica
(TPE) DSM-V (301.22) e CID-10 (F21) ____ 130
6.3 Estrutura psicótica para psicanálise _______ 134
07- PERVERSÕES ___________________ 150
7.1 Perversão para a psicanálise ____________ 153
7.2 Parafilias ____________________________ 156
7.2.1 Fetichismo ______________________ 157
7.2.2 Sadismo _______________________ 160
7.2.3 Masoquismo ____________________ 161
7.3 Transtorno de Personalidade Antissocial (TPA)172
08
–
PSICOPATOLOGIAS
CONTEMPORÂNEAS E A CLÍNICA DO VAZIO184
8.1 Distúrbios Alimentares _________________ 185
8.1.1 Anorexia (AN) ___________________ 186
8.1.2 Bulimia (BN) ____________________ 190
8.1.3 Transtorno de Compulsão Alimentação
Periódica – TCAP _____________________ 196
8.1.4 Transtornos alimentares para a psicanálise201
8.2 CLÍNICA DO NARCISISMO _____________ 220
8.2.1 Transtorno de Personalidade Narcisista (TPN)222
8.2.2 Narcisista para psicanálise _________ 224
8.3 Transtorno de Personalidade Borderline (TPB)233
8.3.1 Borderline para psicanálise _________ 238
8.4 Transtornos do Espectro Autista (TEA) ____ 249
8.4.1 Autismo versus Síndrome de Asperger –
Diagnóstico diferencial _________________ 253
8.4.2 Autismo para psicanálise __________ 255
8.5 Transtornos Depressivos _______________ 271
8.5.1 Transtorno de Personalidade Bipolar ou
Depressão Bipolar ____________________ 273
8.5.2 Psicose e depressão – psiquiatria versus
psicanálise __________________________ 281
8.5.3 Ciclotimia ou Transtorno Ciclotímico DSM-
V (301.13) e CID-10 (F34.0) _____________ 292
8.5.4 Distúrbio Depressivo Maior (DDM) ou
Depressão Unipolar ___________________ 293
8.5.5 Luto versus Depressão Maior (Melancolia) -
Diagnóstico diferencial _________________ 294
8.5.6 Transtorno Depressivo Persistente (Distimia)296
8.5.7 Depressão para psicanálise ________ 300
8.5.8 Manejo clínico ___________________ 302
8.5.9 Depressão Pós-Parto (DPP) ________ 303
8.5.9.1 Depressão Pós Parto Masculina (DPPM)305
8.5.9.2 DPP e DPPM para psicanálise _____ 306
8.6 Distúrbios ou Transtornos Associados à
Ansiedade ______________________________ 317
8.6.1 Transtorno de Ansiedade de Separação
(TAS) ______________________________ 319
8.6.2 Transtorno de Ansiedade Generalizada
(TAG) ______________________________ 322
8.6.3 Ansiedade para a psicanálise _______ 324
8.6.4 Transtorno de Pânico (TP) _________ 334
8.6.4.1 Pânico para psicanálise __________ 335
8.6.5 Transtorno de Estresse Pós-traumático
(TEPT) _____________________________ 342
8.6.6 Trauma para psicanálise ___________ 345
8.7 Transtorno de Personalidade Evitativa ou
Esquiva DSM-V (301.82) CID-10 (F60.6) ______ 351
8.7.1 Personalidade Evitativa para psicanálise355
8.8 Transtorno da Personalidade Dependente DSM-
V (301.6) CID-10 (F60.7) __________________ 361
8.8.1 Personalidade dependente, Personalidade
Esquiva e Borderline – Diagnóstico diferencial364
8.8.2 Dependência para Psicanálise ______ 365
8.9 Dependências e Compulsões – Patologias do
Ato ___________________________________ 370
8.9.1 Transtornos Relacionados a Substâncias e
Transtornos Aditivos ___________________ 373
8.9.2 Oniomania ______________________ 376
8.9.3 Jogo Patológico __________________ 379
8.9.4 Satiríase e Ninfomania – Compulsão
Sexual _____________________________ 383
8.9.5 Toxicomania e comportamentos aditivos
para a psicanálise ____________________ 386
09 – INTRODUÇÃO A PSICOFARMACOLOGIA392
9.1 Estrutura e funcionamento do Sistema Nervoso393
9.1.1 Sistema Nervoso (SN) _____________ 394
9.1.2 Estrutura anatômica do Neurônio ____ 396
9.1.3 As funções dos principais neurotransmissores399
9.1.3.1 Adrenalina ou Epinefrina: _________ 401
9.1.3.2 Noradrenalina ou Norepinefrina ____ 402
9.1.4 Fenda Sináptica _________________ 406
9.1.5 O cérebro emocional ______________ 409
9.2 Conceitos de Farmacologia _____________ 413
9.2.1 Classe de medicamentos, mecanismos de
ação e efeitos colaterais ________________ 418
9.2.1.1 Ansioliticos: ___________________ 418
9.2.1.2
Estabilizadores
de
Humor
(Anticonvulsivantes, Benzodiazepínicos e Lítio)420
9.2.1.3 Antidepressivos ________________ 423
9.2.1.4 Antipsicóticos __________________ 427
9.2.1.5 Estimulantes ___________________ 429
BIBLIOGRAFIA ______________________ 433
13
01 – INTRODUÇÃO
Este semestre, através do estudo da história e da apresentação de alguns dos conceitos sobre psicossomática, psicopatologia, psiquiatria e psico-farmacologia; pretendemos contribuir com o aluno para o conhecimento e a construção de um vocabu-lário mínimo e comum, com as diversas áreas médicas, que em geral estão presentes quando os distúrbios e patologias exigem tratamentos multidisciplinares, em especial à neurologia e a psiquiatria, áreas com as quais o futuro analista trocará informações sobre seus clientes.
Com foco nos transtornos de personalidade, apresentaremos as definições de psicopatologias do ponto de vista médico e como elas são classificadas pelos manuais de psiquiatria, DSM-V e pelo CID-10; suas divergências e convergências ao longo do tempo com o entendimento psicanalítico sobre os transtornos afetivos e mentais; e as percepções de como estas patologias se apresentam na clínica.
14
Apresentaremos também conceitos básicos sobre farmacologia, com o objetivo de subsidiar, o aluno a fazer correlações sobre a ação e os efeitos colaterais das medicações e suas possíveis interfe-rências no setting terapêutico.
É importante reforçarmos que, a função de diagnosticar, enquadrar nas classificações dos manuais e, sobretudo de prescrever medicamentos psicotrópicos, não fazem parte das atribuições do psicanalista, sendo proibidas por lei.
Nosso foco é o indivíduo e sua subjetividade, é contribuir para o aumento do bem estar do sujeito e se possível, para sua possível cura, através da compreensão e utilização da teoria e técnica psicanalítica. Em relação ao cliente/paciente; perceber que o psicanalista compreende a linguagem médica, pode contribuir para o aumento da confiança no analista, facilitando o rapport e a construção da transferência; em relação a classe médica, é um facilitador para o diálogo.
15
02 – PSICOSSOMÁTICA
Meu corpo não é meu corpo,
é ilusão de outro ser.
Sabe a arte de esconder-me
e é de tal modo sagaz
que a mim de mim ele oculta
Se tento dele afastar-me,
por abstração ignorá-lo,
volta a mim, com todo o peso
de sua carne poluída,
seu tédio, seu desconforto.
Drummond.
16
2.1 A criação e a evolução do conceito de psicossomática – da Grécia até os dias atuais
Desde a antiguidade existe uma grande preocupação e esforço para entender o adoecimento humano e as relações entre saúde e doença, vida e morte. A partir do desenvolvimento da cultura Grega, são dados os primeiros passos importantes pa-ra desvincular a doença do pensamento mítico-religioso; o adoecer, até então, era considerado uma manifestação de forças sobrenaturais, sendo a cura buscada em rituais religiosos. As práticas terapêuticas e as concepções de vida, de saúde e de morte eram intimamente ligadas a essas crenças e a medicina era exercida pelos Sacerdotes. Curas ritualísticas e mágicas coexistiam com tentativas de estabelecer procedimentos por analogia, com referência à mitologia, à metafísica e à astronomia.
No século V a. C, Heródoto assinalava a divisão em especialidades na medicina egípcia. Segundo Volich (2000), A partir de Sócrates, gradu-17
almente surgiu à ideia de que o homem seria constituído não apenas por um substrato material, mas também de uma essência imaterial, vinculada aos sentimentos e à atividade do pensamento, a alma (Volich, 2000).
Foi com Hipócrates (460 - 377 a.C.), considerado o pai da medicina
, que sustentava sua pratica numa visão humanista, porém embasada por um rigor científico, que se separou o divino das causas reais da doença e doenças como a epilepsia, por exemplo, deixam de serem consideradas manifestações sobrenaturais e passam a serem vistas co-mo doenças ocorrida no cérebro, que tinham causas naturais e inteligíveis.
A prática hipocrática, estabelece as bases pa-ra a medicina moderna e determina a importância de se conhecer a história da doença e a singularidade do doente, pois ele considera o homem uma unidade organizada, que tem o corpo como dimensão funcional, a alma como dimensão reguladora e a doença como o resultado da desorganização desta unidade.
18
O Modelo Hipocrático, da medicina humanista, natural ou homeopática, tem como característica a aplicação de estímulos energéticos positivos nas suas diversas fases, ou seja, fase energética, mental e emocional, o que favorece ao ser vivo a conexão com as energias do Cosmos.
A utilização de estímulos terapêuticos positivos gera uma vibração eletromagnética positiva, erradicando assim, de forma duradoura, a doença.
Apesar da influência deste pensamento surgem no mesmo período, outras escolas de abordagem descritiva, que valorizam a formulação do diagnóstico e a construção de uma nosografia a partir dos órgãos atingidos e dos sintomas locais.
A principal escola deste modelo foi a escola Galênica, que traz a prática da medicina alopática ou química, não considera o indivíduo como um todo, dá ênfase ao tratamento do órgão afetado pela doença, através de produtos químicos Gastos financeiros imensos são realizados em pesquisas, sempre visando o conhecimento da doença. O objetivo não é curar a origem da doença e sim o tratamento do sintoma localizado e do órgão 19
doente, atitude que mantém e perpetua a doença nos seres vivos.
A influência do pensamento Galênico, contri-buiu para que a medicina ampliasse o olhar apenas sobre o corpo – o substrato material, contudo não deixaram de existir iniciativas que valorizasse a observação e a proximidade entre médico e doente.
E assim, o termo psicossomático, foi sendo construindo, entre marcos importantes para as duas correntes de pensamentos, como o surgimento da homeopatia que enfatiza o respeito as reações naturais ou da investigação anatômica e a criação do microscópio, que amplia a relação com o órgão e a doença. Em 1818, o psiquiatra alemão C. Heinroth cria o termo Psicossomática.
Uma grande contribuição para o reconhecimento da importância do sofrimento psíquico, não vinculada a uma lesão corporal, foi dada pelo Psiquiatra Dr. Phillipe Pinel (1745~1826), considerado o pai da psiquiatria
; através do seu empenho em fazer com que as perturbações mentais fossem consideradas como doenças. Inicia-se a aqui o ca-20
minho para a humanização do tratamento destes doentes.
As práticas terapêuticas de magnetismo do Dr. Joseph Anton Mesmer, (1734~1815) e da hipnose difundida pelo Dr. Josef Breuer (1842~1925) chamaram a atenção para as dimensões subjetivas presentes nas manifestações orgânicas.
A psicossomática busca compreender esta unidade corpo-alma e a psicanálise ocupou um lugar importante neste percurso. Freud percebeu que as manifestações corporais da histeria não corres-pondiam à organização anatômica, mas sim a uma anatomia imaginária, então abandona a posição de observador neutro dos fenômenos clínicos para dar ouvido ao drama que os pacientes vivem em torno de algumas experiências ditas ‘traumáticas’ e a partir desta escuta formulou uma teoria que ampliou a compreensão das múltiplas possibilidades de manifestação no sofrimento humano.
Freud cria a teoria da primeira tópica e descreve uma estrutura do aparelho psíquico. Nesta estrutura o pré-consciente ocupa o lugar de mais importância por ser o operador das ligações psíqui-21
cas e comunicação entre as demais instâncias. Entre o inconsciente e o pré-consciente descreveu a barreira do recalcamento, um mecanismo de defesa para conter a energia dos desejos inconscientes e quando este mecanismo é insuficiente surgem as expressões simbólicas do conflito, sonhos, atos falhos e sintomas neuróticos que buscam expressão no corpo, como é o caso da Histeria.
Freud também observou algumas manifestações sintomáticas, como a neurastenia e a angústia, nas quais não estavam presentes o caráter simbólico e angústia era mais difusa, resultado do bloqueio de demandas libidinais atuais que também buscavam o corpo como fonte de descarga. Então, além da conversão histérica, desenha um segundo modelo para compreensão da sintomatologia somática. Estas descobertas permitiram que Freud for-mulasse as noções de metapsicologia, narcisismo, pulsão de morte, pulsão de vida e segunda tópica.
A maioria dos pioneiros deste campo de estudo participaram dos primeiros movimentos psicanalíticos e entre eles, estava Sandor Ferenczi, que destacou a importância de distinguir entre os 22
distúrbios funcionais das neuroses atuais e os a psiconeuroses e a importância do papel da dimensão psíquica em todas as patologias.
Um marco importante nos conceitos da psicossomática e a obra do médico Georg Groddeck (1866~1934), para quem as doenças orgânicas podem ser compreendidas e tratadas pela psicanálise, pois a essência do humano é psicossomática. Para Groddeck a doença pode ser entendida como uma criação carregada de finalidade, sentido e função expressiva, sendo assim todo tratamento é, ao mesmo tempo, do ser humano e dos seus sintomas.
Não cheguei à psicanálise tratando de doenças nervosas, como a maior parte dos discípu-los de Freud, mas a partir de minha atividade terapêutica, desenvolvida junto a pacientes com doenças crônicas, fui obrigado a recorrer ao tratamento psicológico e posteriormente ao psicanalítico.
Os êxitos do
post hocergo propter hoc1 (
depois disso, logo, causado por isso), me ensina-ram que é igualmente válido imaginar o corpo dependendo da alma – e agir de forma correspondente – como o contrário.
Groddeck, 2011, p.18
23
Em 1917 publica seu texto seminal Condicio-namento psíquico e tratamento de moléstias orgânicas pela psicanálise
, o qual inaugura a psicossomática moderna e a possibilidade de aplicar conceitos da psicanálise na compreensão do processo do adoecer e de suas significações.
Nesse mesmo ano, inicia uma troca de cartas com Freud, e descobre que os conceitos que ele mesmo já aplicava em seus tratamentos havia alguns anos, como transferência e resistência, já haviam sido consagrados por outro autor. O seguinte trecho da primeira carta enviada por Groddeck é esclarecedor. (Ávila, 2002).
Às minhas – ou devo dizer às suas – concepções, não cheguei, através do estudo das neuroses, mas mediante a observação de doenças chamadas comumente de corporais. [...] Não é possível, no desenvolvimento destas ideias, que, no fundo, são suas, empregar outra nomenclatura que aquela por você estabelecida (Groddeck, 1994, p. 5).
24
Freud e Groddeck mantiveram uma profícua e combativa relação, alimentada mediante troca de cartas ao longo de 17 anos (Ávila, 2003). A relação entre Freud e Groddeck, causou profundo impacto em ambos no que se refere à influência teórica mútua. O que se pode constatar é que Groddeck ne-cessitava dos conceitos freudianos para dar consistência à sua psicossomática, enquanto, Freud encontrava nas ideias groddeckianas algumas de su-as próprias intuições que ainda não ousava afirmar (D’Epinay, 1988). Freud baseou seu conceito de id no constructo do Isso, que possui importância central na teoria groddeckiana (Vaguerèse, 1995).
Outra teoria importante na formatação e compreensão do conceito de psicossomática foi criada por Wilhelm Reich. A psicossomática reichi-ana derruba a ideia de que as funções mentais eram separadas do corpo, substituindo-a pela afirmação de que o corpo é o receptáculo das experiências físicas e emocionais vividas por todos nós desde a gestação até a morte.
Segundo Reich, o corpo sente, aprende, se disciplina, se condiciona e expressa os conflitos 25
emocionais da mente, corporificados nos tecidos celulares, refletidos na qualidade do tônus muscular, expressões faciais, ritmo respiratório, postura, tom de voz etc. Portanto, nosso corpo é molda-do de acordo com as experiências vividas, principalmente aquelas ocorridas na vida intrauterina e na primeira infância, quando as formas que encontramos para nos defender ainda são precárias.
Nos Estados Unidos, por volta dos anos 30, surge a Escola de