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Política: decifra-me ou te devoro
Política: decifra-me ou te devoro
Política: decifra-me ou te devoro
E-book279 páginas3 horas

Política: decifra-me ou te devoro

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Sobre este e-book

O livro faz uma abordagem da Política como assunto do cotidiano de todo cidadão, argumentando que, querendo ou não, gostando ou não, a Política está presente na vida de todos. Aborda temas como democracia, cidadania, participação, ideologia, partidos políticos, sistemas de governo, corrupção, relações de poder, entre outros. A proposta nasceu da experiência do autor em escolas, em muitas leituras diversificadas e em mais de vinte anos na assessoria parlamentar em uma casa legislativa e no interesse em aproximar ovens, professores e adultos do tema. Durante dois anos, os textos foram escritos, em linguagem mais acessível e palatável, e submetidos à leitura prévia com comentários posteriores feitos por um grupo especial. Evitando contextualizar e datar os temas, embora ciente do dinamismo da Política, o livro traz muitas reflexões a partir de uma premissa básica: a dificuldade, ou impossibilidade, dê-se manter "apolítico " nas sociedades contemporâneas. A outra questão extremamente relevante do livro é sugerir uma educação política, tão necessária no currículo atual de nossas escolas, num momento em que a ignorância política pune a todos nós. Política com P maiúsculo e sem notas de rodapé.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento19 de abr. de 2023
ISBN9786555553390
Política: decifra-me ou te devoro

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    Política - Edson Gabriel Garcia

    Política: que bicho é esse?

    Política: que bicho é esse?

    Esta talvez seja a pergunta de resposta mais difícil com que temos deparado vida afora. A metáfora bicho já diz alguma coisa dessa dificuldade, pois sempre que estamos diante do desconhecido e do não sabido, eis que surge a palavra salvadora. Bicho, entre seus muitos significados, tem esse de indicar algo pouco ou nada sabido. E com razão, quem se arrisca a definir o que é

    Política? Mais interessante, talvez, do que definir, seja pontuar algumas ideias que caibam dentro deste conceito complexo. Aí... podemos arriscar.

    POLÍTICA É:

    uma atividade essencialmente humana (animais não fazem Política);

    uma necessidade da vida em grupos (pólis), em sociedade;

    entender o homem como um animal político (cuja sobrevivência está relacionada com sua vida em conjunto, convivência com outros humanos, na dependência que se estabelece quando se vive em sociedade);

    uma mistura complexa de ciência, filosofia e arte;

    uma parceira grudada na economia: onde tem uma, tem a outra (o que nasceu primeiro: o ovo ou galinha?) O que vem primeiro: a Economia ou a Política?;

    ação voltada para a construção da cidadania (lutar pelos direitos humanos dos cidadãos é fazer Política do mais alto grau);

    a coordenação de ações voltadas para o bem comum (embora a noção de bem comum varie de tempos em tempos e de grupos para grupos, a dignidade da vida deve prevalecer em todos esses matizes do bem comum);

    a luta constante pelo poder (uma relação complexa que se estabelece em grupos humanos e que dá a uns o direito do mando e do domínio);

    a luta constante pela manutenção do poder conquistado (ação geradora de mandos, domínios, atos de violência, subordinação, exploração de uns por outros, manipulação de informações etc.);

    o exercício do diálogo em busca do equilíbrio de forças de poder e de distribuição de riquezas?);

    uma ação humana que exige conhecimento, engajamento e participação (sob pena de ser sempre um dominado, explorado, mantido por cabrestos);

    sempre uma ação que envolve tomada de decisões (quem não participa, cede aos outros seus direitos);

    ação humana que está presente em todos os momentos da vida de cada cidadão (a luta pelo poder, pelo mando, por poder mandar no destino dos outros não está apenas reservada aos governantes, mas se espalha por quase todas as esferas de nossa vida, na convivência com outras pessoas. Em casa, alguém tem o poder maior do que os outros membros da família e toma decisões sobre, por exemplo, o orçamento doméstico; na escola, o espaço da sala de aula é o espaço de poder do professor ou do diretor; no grupo de amigos, haverá um entre todos que lidera o grupo, que determina o que fazer, quando e onde. Também a relação amorosa, embora diferente das outras relações, passa por disputas para se estabelecer quem manda. Em um templo religioso, ouvir um sermão do representante de deus ali presente que fala sobre o perigo deste ou daquele candidato, que tal candidato representa o demônio ou que um outro foi escolhido por deus é estar metido até a cabeça em uma ação política).

    De certa forma, Política diz respeito muito e sempre à luta pelo poder.

    A luta pelo poder envolve três momentos, diferentes entre si, mas como se fossem lados de um mesmo triângulo: a conquista, a manutenção e a expansão do poder. No campo da Política pública, a história registra a vida de alguns homens públicos que lutaram durante muito tempo, usando métodos e armas diferentes, para chegar ao poder, e lá chegando continuaram a luta para permanecer no poder, ampliando-o sempre que possível.

    Quem exerce o poder tem a possibilidade de tomar decisões e produzir fatos na vida de outros indivíduos ou grupo de indivíduos. Para o bem e para o mal. O exercício do poder estabelece uma relação obrigatória entre quem manda e quem é mandado, entre quem exerce o poder e quem sofre a ação do poder exercido. Quem exerce o poder o faz através de uma força, que permite e dá condição para que o poder possa ser exercido. Quando falamos em força, a primeira ideia que vem à cabeça é a força física, mas nem sempre esta é a força que sustenta o poder. Há outras formas de sustentação do poder que não seja a força física. Um pai ou uma mãe, por exemplo, sustenta o seu poder sobre os filhos novos por causa da sua dependência física, emocional, econômica. Quando o pai ou a mãe diz você não vai usar o carro ou chega de jogos pelo celular, está exercendo o poder sobre o filho, sem usar a força física, sustentando o seu poder na condição de dependência do filho. Quando Maomé, no século VI depois de Cristo, ditava e ordenava aos escribas aquilo que deveria ser escrito e que se tornou o Corão, o livro sagrado do Islamismo, que é seguido religiosamente pelos muçulmanos, ele o fez imbuído da força que lhe fora concedida simbolicamente por ter sido escolhido por Alá (Deus) para ser o profeta da nova religião.

    A teia de relações estabelecidas entre as pessoas no exercício do poder é muito grande. Loucura, ciúme, abuso, traição, bajulação, parceria, dedicação, violência, mentira, troca de favores, medo, perfídia, fingimento e hipocrisia, enfim, são algumas das atitudes, entre outras tantas, que envolvem a alma humana nas barras do poder. Seria ou teria ficado louco, pelo exercício do poder, o Rei Luís XIV, quando disse, num abuso de poder, o Estado sou Eu, confundindo a si com todo o aparato do poder?

    É esta relação entre as pessoas que o poder estabelece e que, no caso do exercício da Política pública, acaba por estabelecer um pacto entre quem exerce o poder e quem vive as consequências desse exercício, que sustenta a definição de Política como a arte de governar, de dirigir o destino dos cidadãos. Nesse sentido, a Política se confunde com a construção da cidadania, a busca da melhor qualidade de vida para os cidadãos de um grupo social. Talvez por essa definição tão ampla, seja quase impossível limitar o que seria a Política: ciência prática, arte, reflexão filosófica, estudo das relações humanas? Ou tudo isso ao mesmo tempo? Por ora, ficamos com essa definição de a arte de governar e de dirigir o destino dos cidadãos, sustentada pelo exercício do poder concedido de uns aos outros. Por esta razão, fomos induzidos a escrever Política, com a letra pê inicial em maiúsculo. Como se faz, por regra da nossa gramática, com os substantivos próprios.

    Política: gênero de primeira necessidade

    Nos acostumamos a ouvir reclamações sobre a Política e políticos, a maioria delas num tom de lamento, de tristeza pela causa perdida, acompanhadas por frases repetidas do tipo tenho nojo da política ou não quero saber de política ou então, a mais generalizada de todas, todos os políticos são corruptos. A história pública da Política brasileira, e mais notadamente os fatos das últimas décadas, nos obrigam a repensar nossa resposta e atitude a estes lamentos. Fatos políticos como renúncia e impeachment¹ de presidentes, a recente finda ditadura militar, com apoio de grandes camadas civis, a precarização dos serviços públicos, principalmente os que atendem a população mais necessitada, e o confisco de direitos trabalhistas, o ataque permanente, camuflado ou aberto, às instituições democráticas, o avanço de uma privatização apressada que aniquila o patrimônio público, a falta de ética e de cuidado com o uso do dinheiro e da máquina pública, entre outros, nos obrigam a ver a Política como um gênero de primeira necessidade.

    Primeiríssima necessidade!!!!

    É a atuação política de quem foi eleito que vem determinando perdas, perdas e mais perdas, impactando nossa vida. Precisaremos acompanhar – e um dos modos de acompanhamento é através do mandato dos parlamentares eleitos – o que o Executivo faz ou deixa de fazer, como gasta o dinheiro público, que é de todos nós, onde estabelece suas prioridades, cobrar as promessas de campanha expostas nos programas de governo². Negação da Política e lamentação não cabem mais. É preciso acompanhar, cobrar, participar em todos e por todos os canais existentes: no Legislativo, nos partidos, nas ruas, nas redes sociais sérias e confiáveis, pelo Ministério Público e pelo voto, quando as eleições chegarem. Não podemos mais ver o desmonte do Estado e a precarização dos serviços públicos em nome de uma privatização sem vergonha na cara que tira dos mais pobres e enriquece os mais ricos, sempre na mesma toada, nem ver o uso dos cargos políticos, que deveriam representar a vontade e a necessidade da maioria, e do uso do orçamento em benefício próprio ou de seu grupo político.

    Essas atuações políticas de baixa qualidade estão presentes no modo de implementar o dinheiro do orçamento público anual. É no uso do dinheiro orçamentário que as políticas públicas se concretizam ou não. É constante o tira daqui e põe ali, o remanejamento do patrimônio público para a privatização, a amputação cotidiana dos serviços públicos.

    Enfim... como poetizaram divina e maravilhosamente antigos compositores baianos, e talvez por isso muito atuais, é preciso estar atento e forte. A Política foi e continua sendo gênero de primeiríssima necessidade, pois é ela que determina, em primeira e última instâncias, o atendimento ou não de nossas urgências sociais e a qualidade social de nossa vida. É a Política que faz nossa vida ser assim ou assado. E são nossas respostas que permitem ou não que a vida seja desse modo ou daquele outro. História no caminho da lucidez e a Política nas mãos para enfrentarmos essa farinha política de baixa qualidade do mesmo saco de sempre que nos assola e trazer a Política para o cotidiano, consciente e fortalecida.

    Olho aberto e boca no trombone.

    O encontro da Ética e da Moral na Política

    Política e Ética são como irmãs siamesas: nasceram grudadas, como a cara e a coroa de uma mesma moeda. Não se faz Política sem Ética, como não se faz um edifício sem o alicerce, sem a base. Então, se a Ética é tão importante no exercício da Política, o que devemos entender por Ética?

    Ética é uma área do conhecimento humano que se encaixa nos ramos da Filosofia e é, sobretudo, uma disciplina de reflexão. No dicionário, a Ética é definida como um substantivo feminino que significa o Estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de modo absoluto. Tentarei traduzir este conceito do dicionário para uma significação mais palatável... Ética é um conjunto de princípios e valores (os tais juízos de apreciação) que orientam o comportamento humano, as relações pessoais na sociedade, qualificando essa conduta com os conceitos universais do bem e do mal. A Ética deve ser universal: seus princípios devem valer para todos os povos e orientam a reflexão na direção do bem comum. Os princípios éticos devem valer para todas as pessoas e para sempre. A Ética é formulada por valores que nem sempre são evidentes, que valem por si próprios e os quais não precisamos fazer nenhum esforço para entender e defender, tamanha a sua evidência e importância. Por exemplo, o valor da vida. Não é preciso ser filósofo, nem político, nem religioso, nem sábio, para entender que a vida é o bem maior de todos nós. Daí decorre que matar será sempre uma atitude condenada pela Ética. Você deve estar se perguntando:

    Mas e a guerra?. Bem, estamos falando de situações de equilíbrio social.

    A guerra é uma exceção nas relações humanas. Se houvesse permissão para a guerra, o canibalismo, o genocídio sustentado pelo preconceito e outras formas de assassinatos, a sociedade não sobreviveria diante desse caos, dessa barbárie.

    A palavra ética vem do grego ethos, que significa costume. Costume é a forma cotidiana de se comportar. Por isso Ética tem a ver com comportamento, com atitude diante da vida. É também por isso que podemos pensar na ética como a moradia humana, o lugar onde se mora. Cada um de nós tem uma moradia e ocupa parte do tempo em melhorar essa moradia. Como se cada um de nós quisesse morar no melhor lugar do mundo, onde o bem-estar e a qualidade de vida estivessem presentes.

    Ética é isso: nossa postura diante da vida, os valores que garantem o bem-estar das pessoas, os valores que nos fazem mais humanos. É o estudo da Ética que nos faz aprender sobre os valores que nos levam a compreender melhor quem somos, nossas relações com os outros e com o ambiente, tendo sempre à vista o bem-estar comum.

    É a Ética que nos leva a defender a vida, a entender e respeitar as diferenças, nos permite saber que ao nascer temos direitos universais. É a Ética que nos põe em diálogo constante para buscar entendimento entre pessoas, entre povos, entre grupos étnicos. Sem a reflexão ética, provavelmente a humanidade já não existiria mais, pois teria se autodestruído.

    Ética e Moral

    Ética e Moral quase sempre são confundidos, como se fossem sinônimos, mas não são a mesma coisa, embora ambas tenham o mesmo significado original de costumes. A Moral é mais particular e representa os valores, as regras, o modo comportamental de um grupo humano dentro da humanidade toda. Por exemplo: os jovens de determinada religião podem não assistir a programas de televisão por entenderem que isso faz mal ao caráter deles. É um modo particular de se comportar, que eles acham válidos e assumem. Isso faz parte da moral deles. Outro exemplo: um grupo de políticos, de determinado partido, acha correto arrumar bons empregos públicos, sem concursos e com ótimos salários, para seus parentes. Enquanto a maioria não acha isso correto, na moral deles isso é válido e se comportam assim. Ou então: pessoas muito ricas se acham superiores às outras e se comportam no trânsito, com seus veículos importados e caríssimos, como se fossem os donos das ruas, avenidas e vias. Ou os supremacistas brancos, que pensam fazer parte de uma raça superior...

    A esta altura, você deve estar se perguntando: a moral de um grupo dá direito às pessoas de se comportarem como prega essa moral, mesmo que seja ruim para as outras pessoas? Um grupo particular e pequeno tem direito de se comportar como prega a sua moral?

    Pois bem... é aí que entra a Ética e se estabelece a diferença com a Moral. A Ética aparece aqui como a reflexão que devemos fazer sobre o comportamento da Moral. É como se a Ética fosse um juiz e pudesse julgar a Moral dos grupos, condenando ou absolvendo, sempre pensando que uma Moral tem

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