Apostasia
Apostasia (em grego antigo απόστασις [apóstasis], "estar longe de") tem o sentido de um afastamento definitivo e deliberado de alguma coisa, uma renúncia de sua anterior fé ou doutrinação. Ao contrário da crença popular, não se refere a um mero desvio ou um afastamento em relação à sua fé e à prática religiosa. Pode manifestar-se abertamente ou de modo oculto.
Dependendo de cada religião, um apóstata, afastado do grupo religioso no qual era membro, pode ser vitima de preconceito, intolerância, difamação e calúnia por parte dos demais membros ativos. Um caso extremo, é aplicação da pena de morte para apóstatas na religião islâmica em países muçulmanos, como por exemplo, na Arábia Saudita[1][2][3][4] e Irã[5][6][7].
Apostasia para efeitos legais
O apóstata pode pedir formalmente para ser retirado dos arquivos da religião em causa deixando assim de ser contabilizado para todos os efeitos legais, o que acontecia no caso de religiões cristãs em consequência do ato de batismo sobre o qual ele não teve (na maioria dos casos) qualquer intervenção consciente. Esta vertente jurídica da apostasia é relevante mesmo em países com separação formal entre o Estado e a religião, tendo em conta que muitas decisões políticas em relação às religiões são feitas de acordo com as estatísticas de pessoas registradas e não com o número de pessoas que efetivamente a praticam.
Apostasia da Fé Cristã
Apostasia da Fé Cristã, ou seja, do Cristianismo primitivo, na ótica das diversas religiões cristãs, é controversa. Existe uma notória diferença entre apostasia da Fé Cristã e apostasia de uma determinada organização religiosa.
As igrejas cristãs trinitarianas consideram apostasia o afastamento do fiel do seio da igreja invisível, o Corpo de Cristo, para abraçar ensinos contrários aos fundamentos bíblicos, o que é denominado heresia. Para os trinitarianos, após conhecer o evangelho e estar envolvido com a Palavra Sagrada, para depois negar que a salvação vem de Jesus Cristo, como único e suficiente salvador, é apostatar do ensino mais básico do cristianismo. Este tipo de apostasia é considerado extrema ingratidão e ponto central entre todas as igrejas trinitarianas.
Apostasia nas Testemunhas de Jeová
As Testemunhas de Jeová consideram como sendo apostasia um membro batizado e conhecedor da doutrina que sai da organização e distorce o ensino e a persegue, efetuando uma verdadeira oposição a Jeová. Afirmam que, embora alguns apóstatas professam conhecer e servir a Deus, desprezam os ensinamentos e as orientações Dele, contidas na Bíblia. Ou então, que afirmam crer na Bíblia, mas rejeitam que Deus tenha uma ideologia terrestre.
O Corpo Governante das Testemunhas de Jeová define que "a apostasia inclui ação tomada contra a verdadeira adoração de Jeová ou contra a ordem que ele estabeleceu entre o seu povo dedicado (Jer. 17:3; 23:15; 28:15, 16; 2 Tes. 2:9, 10)". (Ref.ª Prestai Atenção a Vós Mesmos e a Todo o Rebanho [o Manual da Escola do Ministério do Reino], pág. 94-5). Isto inclui participação em atividades ecumênicas ou a filiação a outra organização religiosa, por parte de um membro batizado (dedicado).
Dando apoio a essa diretriz, as Testemunhas Cristãs de Jeová citam 2 João 9,10, Atos 20:30 e 2 Pedro 2:1-3. E com base nestes preceitos, evitam todo e qualquer tipo de contato com os que se tornam apóstatas declarados. Além disso, considerando a Bíblia inspirada por Deus, elas levam a sério o que está escrito em Provérbios 11:9: "Pela boca é que o apóstata arruína seu próximo, mas é pelo conhecimento que os justos são socorridos." (NM).
A apostasia de um membro batizado é determinada às portas fechadas por uma Comissão Judicativa Congregacional (legalmente não é a Organização Religiosa em si mesma que julga o alegado infrator, mas o julgamento é feito a nível congregacional). Seguindo as orientações bíblicas e publicadas na revista "A Sentinela", no "Nosso Ministério do Reino", no manual "Prestai Atenção a Vós Mesmos e a Todo o Rebanho" e em cartas internas, gerais ou específicas. As suas razões e a condução de todo o processo judicativo é mantido confidencial, mantido assim fora do conhecimento geral, uma vez que segundo as diretrizes das Testemunhas, cabe aos anciãos, e somente a eles, "o pastoreio do rebanho de Deus". A Comissão Judicativa realiza a(s) sua(s) reunião(ões) em privado (não é público), isto é, participam dela apenas o transgressor e os anciãos habilitados. Tal medida obedece uma lógica que visa manter a harmonia dentro da congregação: a influência do(a) transgressor(a) deve ser retirada de modo a não influenciar outros a pecarem contra Jeová Deus e/ou Seu Filho, Jesus Cristo.
Os membros da religião evitam em absoluto todo e qualquer contato social com os desassociados (que foram expulsos pela religião) e dissociados (que renunciaram formalmente a continuar ser membro). (É importante salientar que todos os membros conhecem as regras da Organização antes de ingressarem nela. É necessário absorver conhecimento acerca de Jeová Deus e Jesus Cristo, de acordo com o que diz João 17:3. Isso é possível quando é dirigido um estudo bíblico com a pessoa interessada no ensino bíblico, além de o estudante ser encorajado a frequentar as reuniões, de acordo com Hebreus 10:24, 25, para ele ou ela decidir se quer mesmo ser uma Testemunha Cristã de Jeová. Neste intervalo de tempo, o estudante pode eventualmente presenciar o anúncio sobre pessoas que são desassociadas. De modo que, quem deseja se tornar uma Testemunha de Jeová está ciente de que a desassociação faz parte da doutrina oficial). Afirmam que devido ao fato dos apóstatas já terem sido cristãos, eles conhecem as doutrinas das Testemunhas de Jeová e perseguem os membros da organização com o intuito de induzi-los ao mesmo proceder apóstata.
Para as Testemunhas de Jeová, casos de apostasia se assemelham ao citado na passagem bíblica de 2 Timóteo 2:16-18: "Esquiva-te dos falatórios vãos que violam o que é santo; porque passarão a impiedade cada vez maior e a palavra deles se espalhará como gangrena. Himeneu e Fileto são desses. Estes mesmos se desviaram da verdade, dizendo que a ressurreição já ocorreu [conforme escrito aqui, Himeneu e Fileto estavam ensinando algo contrário ao que a Bíblia ensinava]; e estão subvertendo a fé que alguns têm".(NM).
Apostasia no Catolicismo Romano
Segundo o Código de Direito Canônico de 1983 e atualizado em 2009[8], apostasia é o repúdio total à fé cristã[9], que difere do cisma que é a recusa em submeter-se à autoridade do Papa ou à comunhão com os membros da Igreja a ele sujeitos[9]. Ainda segundo o Código de Direito Canônico, o apóstata da fé incorre em excomunhão latae sententiae[10], isto é, aquela em que o fiel incorre no exato momento em que apostata.
Apostasia no Cristianismo Protestante
No protestantismo apostasia é o esfriamento da fé, o abandono dos princípios bíblicos. Uma igreja ou um indivíduo apóstata é uma igreja ou indivíduo que aderiu ao mundanismo e aos costumes seculares, substituindo os princípios de Deus. De modo mais abrangente, pode-se dizer que um cristão ou igreja são apóstatas quando deixam de seguir os fundamentos da Palavra de Deus, desviando-se da verdadeira fé e voltando-se para o mundanismo, satisfazendo somente os desejos carnais.
Referências
- ↑ «Homem responsável pela morte de três pessoas é decapitado na Arábia Saudita». Correio Brasiliense. 9 de abril de 2013. Consultado em 19 de outubro de 2013
- ↑ Frontiere news (20 de dezembro de 2012). «Arabia Saudita, l'attivista Badawi rischia la pena di morte per apostasia» (em italiano). Consultado em 19 de outubro de 2013
- ↑ «Editor pode ser condenado à pena de morte por criar site sobre religião na Arábia Saudita». UOL Notícias. 27 de dezembro de 2012. Consultado em 19 de outubro de 2013
- ↑ «Arábia Saudita executa e expõe ao público 5 condenados por homicídio». Portal Terra. 21 de Maio de 2013. Consultado em 19 de outubro de 2013
- ↑ «Pastor cristão é condenado a pena de morte no Irã por se recusar a mudar de religião». Portal UOL. 29 de setembro de 2011. Consultado em 19 de outubro de 2013
- ↑ Daily Mail Reporter (29 September 2011). «Christian pastor faces execution in Iran for refusing to renounce his faith». Daily Mail Online (em inglês). Consultado em 19 de outubro de 2013 Verifique data em:
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(ajuda) - ↑ «Irã enforca homem condenado por apostasia». Estadão Online. 31 de janeiro de 2011. Consultado em 19 de outubro de 2013
- ↑ «Pelo motu proprio do Papa Bento XVI "Omnium In Mentem", publicado em Dezembro de 2009.»
- ↑ a b Cânon 751 do Código de Direito Canônico:"— Diz-se heresia a negação pertinaz, depois de recebido o baptismo, de alguma verdade que se deve crer com fé divina e católica, ou ainda a dúvida pertinaz acerca da mesma; apostasia, o repúdio total da fé cristã; cisma, a recusa da sujeição ao Sumo Pontífice ou da comunhão com os membros da Igreja que lhe estão sujeitos."
- ↑ Cânon 1364 §1 do Código de Direito Canônico:"Sem prejuízo do cân. 194, § 1, n.° 2, o apóstata da fé, o herege e o cismático incorrem em excomunhão latae sententiae; o clérigo pode ainda ser punido com as penas referidas no cân. 1336, § 1, ns. l, 2 e 3."
Ligações externas
- «www.apostasia.es» (em espanhol)
- «www.apostasie.org»
- «Código de Direito Canónico» (PDF). da Igreja Católica Romana