Carnaúba
A carnaúba (Copernicia prunifera), também chamada carnaubeira e carnaíba,[1] é uma palmeira, da família Arecaceae, endêmica do semiárido da Região Nordeste do Brasil.[2] É a árvore-símbolo do Estado do Ceará e do Estado do Piauí,[3] conhecida como "árvore da vida", pois oferece uma infinidade de usos ao homem. Como exemplos, as raízes têm uso medicinal como eficiente diurético e antivenéreo; os frutos são um rico nutriente para a ração animal; o tronco é madeira de qualidade para construções; as palhas servem para a produção artesanal, adubação do solo e extração de cera (cera de carnaúba), um insumo valioso que entra na composição de diversos produtos industriais, tais como cosméticos, cápsulas de remédios, componentes eletrônicos, produtos alimentícios, ceras polidoras, revestimentos e produtos como lubrificantes.[4][5][6]
Carnaúba | |||||||||||||||
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Estado de conservação | |||||||||||||||
Classificação científica | |||||||||||||||
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Nome binomial | |||||||||||||||
Copernicia prunifera (Miller) H.E. Moore |
Etimologia
editar"Carnaúba" e "carnaíba" provêm do tupi karana'iwa, "árvore do caraná".[1]
Descrição
editarSeu desenvolvimento máximo ocorre por volta de 50 anos, podendo atingir entre 9 a 12 metros de altura,[8] podendo excepcionalmente atingir 15 m.[9]
Por tratar-se de uma planta adaptada ao clima semiárido, a carnaúba oferece grandes possibilidades de uso em atividades econômicas mesmo durante o período de estiagem, tratando-se, portanto, de importante alternativa na composição da renda familiar das comunidades rurais.
Os carnaubais formam florestas que têm predominância nas planícies aluviais dos principais rios do Ceará, Piauí e Maranhão, cumprindo importantes funções para a manutenção do equilíbrio ecológico da região, como a conservação dos solos, fauna, cursos d'água e mananciais hídricos.
Nas últimas décadas, em virtude da desvalorização dos preços da cera vegetal, a carnaúba voltou a ser alvo de desmatamentos para a introdução de outras atividades produtivas, como a agricultura irrigada e a criação de camarão.
A cera da carnaúba
editarA cera de carnaúba é um produto usado em um grande número de indústrias. Popularmente conhecida como "rainha das ceras", a cera de carnaúba tem um ponto de derretimento muito maior que outras (78°C), além de ser extremamente dura. Isso faz com que seja ideal para criar coberturas extremamente fortes para pisos, automóveis, entre outras coisas. Adicionalmente, a cera de carnaúba aparece em doces, polimentos, vernizes, produtos cosméticos e em muitos outros lugares.
Ela também não é facilmente solúvel. A água não pode romper uma camada de cera de carnaúba, apenas outros solventes o podem fazer, geralmente em combinação com calor. Isso significa que o material possui alta durabilidade, tornando inclusive uma superfície um tanto ou quanto resistente à água. Muitos surfistas, por exemplo, usam cera para suas pranchas que contém carnaúba. Também é usada como cobertura de pratos de papel, fio dental e uma alternativa para gelatina vegetariana. Na indústria farmacêutica, aparece como cobertura de tabletes e em um grande número de embalagens de alimentos. Ao contrário de muitas outras ceras, o acabamento com cera de carnaúba não se desfaz com o tempo, apenas fica opaco. Apesar de a cera de carnaúba ter sido substituída em grande parte por sintéticos, ainda é um produto muito usado em muitas partes do mundo. Também é muito usada em cera de carros.
A cera de carnaúba é utilizada, ainda, na conservação de frutas. Ela é dissolvida com água e outros ingredientes e aplicada sobre as frutas, formando uma película protetora que impede a ação oxidante do oxigênio e evita a perda de líquido com a evaporação. Estudos demonstram que a aplicação dessa proteção em tomates, mangas, e tantas outras frutas pode prolongar o seu viço quase o dobro do tempo de uma fruta que não recebeu essa aplicação.
Bagana
editarBagana é a palha resultante da extração da cera da folha da carnaúba.[10][11] A cera tem diversas aplicações industriais, e é também exportada. A palha pode ser aproveitada para fins agrícolas em compostagem ou como cobertura morta, para ajudar a conservar a umidade do solo.[12][13] Além disso, pode ser usada como componente de ração para ovinos.[14]
Arquitetura
editarÉ uma fonte de materiais para uso arquitetônico, seja ele rústico ou requintado. A palha de carnaúba serve para cobertura de casas residenciais e/ou para pavilhões expositivos; o caule serve para enripamento, encaibramento e enforquilhamento.[15]
Artesanato
editarA palha da carnaúba também é muito utilizada para produzir peças artesanais como cestas, trançados, bolsas, chapéus e caixas. É apreciada por turistas que visitam a região, tornando-a importante fonte de renda da população local.
Um dos principais produtos acabados com uma conexão a esta cadeia produtiva do artesanato da carnaúba é a cachaça Ypioca, que tradicionalmente tem suas garrafas recobertas por um trançado da palha. As artesãs envolvidas tem uma renda significativa como resultado deste processo.
Pecuária
editarA palha da carnaúba também é usada na alimentação dos animais. Estes, em tempo de escassez, comem as folhas (palhas) das carnaubeirinhas pequenas, chamadas pindoba.
Símbolo heráldico
editarA carnaubeira é um símbolo heráldico muito comum nos estados do Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte, estados onde a planta é abundante.
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Palha de carnaúba compondo a heráldica do brasão da Universidade Federal do Ceará
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Carnaubeira no brasão do Ceará
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Réplica do decreto que oficializa a carnaúba como árvore símbolo do Ceará
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Brasão do Piauí
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Brasão do Rio Grande do Norte
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Brasão de São Gonçalo do Amarante, município do Ceará
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Brasão de Limoeiro do Norte, município do Ceará
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Brasão de Acaraú, município do Ceará
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Brasão de Campo Maior, município do Piauí
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Brasão de Mossoró, município do Rio Grande do Norte
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Em selo postal do Correio do Brasil em 1978.
Árvore símbolo de regiões no Brasil
editarPor meio do Decreto n° 27.413 de 30 de março de 2004, o então governador, Lúcio Alcântara, instituiu a carnaúba como árvore símbolo do Ceará. A decisão foi tomada considerando a importância de promover a conservação da biodiversidade, do desenvolvimento sustentável e do reconhecimento do valor histórico, cultural e paisagístico da espécie. Além disso, em seu Art.2º, o dispositivo legal condiciona o corte da carnaúba à autorização dos órgãos e entidades estaduais competentes.[16][17]
No Piauí, por meio do decreto estadual nº 17.378, de 25 de setembro de 2017, assinado pelo governador Wellington Dias, após uma votação pública, oficializou a carnaúba como árvore símbolo do estado.[18]
Referências
- ↑ a b FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.354
- ↑ «Carnaúba». Museu de Astronomia e Ciências Afins - MAST. Consultado em 8 de novembro de 2014
- ↑ «Carnaúba é escolhida como árvore símbolo do Piauí». G1. Consultado em 2 de junho de 2020
- ↑ «A planta e suas utilidades». Portal da Carnaúba. Consultado em 8 de novembro de 2014
- ↑ «Cera de Carnaúba». Portal da Carnaúba. Consultado em 8 de novembro de 2014
- ↑ Associacao Caatinga, BMU-IKI/GIZ (2019). «Manual de boas praticas para a cadeia productiva da carnaúba» (PDF)
- ↑ «COLHEITA DE CARNAÚBA». www.consciencia.org. Consultado em 27 de novembro de 2015
- ↑ https://escola.britannica.com.br/artigo/carna%C3%BAba/574448
- ↑ https://www.portalsaofrancisco.com.br/alimentos/carnauba
- ↑ https://editorarealize.com.br/revistas/conidis/trabalhos/TRABALHO_EV064_MD4_SA3_ID1637_21102016084842.pdf
- ↑ https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/regiao/derivados-da-carnauba-geram-emprego-e-renda-para-agricultores-1.1081472
- ↑ https://monografias.ufma.br/jspui/handle/123456789/2356
- ↑ http://www.abid.org.br/cd-xxv-conird/PDF/184.pdf
- ↑ https://www.embrapa.br/caprinos-e-ovinos/busca-de-publicacoes/-/publicacao/658215/uso-da-bagana-de-carnauba-na-terminacao-de-cordeiros-no-semiarido-cearense
- ↑ SILVA FILHO, Olavo Pereira da.Carnaúba, Pedra e Barro na Capitania de são José do Piauí, 3 V. Belo horizonte; Maria de Fátima, 2007. ISBN 8590683737
- ↑ CEARÁ, Governo do. [DECRETO Nº 27.413, de 30 de março de 2004 http://antigo.semace.ce.gov.br/integracao/biblioteca/legislacao/conteudo_legislacao.asp?cd=461]
- ↑ FREITAS, Vicente. BELA CRUZ — biografia do município. Joinville: Clube de Autores, 2013, pp. 144-53. ISBN 978-85-916141-0-3
- ↑ Diário Oficial do Estado do Piauí, Ano LXXXVI. Teresina(PI) - Segunda-feira, 25 de setembro de 2017 • Nº 180. Documento pesquisado em 21 de outubro de 2018.