Reino Hamádida
O Reino Hamádida foi um reino do Magrebe fundado pela dinastia berbere dos hamádidas ou Banu Hamade (em árabe: بنو حماد; romaniz.: Banū Ḥammād; em tifinague: ⴰⵢⵜ ⵃⴻⵎⵎⴰⴷ; romaniz.: Āït Ḥammād) que pertenciam à confederação tribal dos sanhajas que reinou no Magrebe Central (parte do que é hoje a Argélia) de 1015 a 1152. A dinastia foi fundada por Hamade ibne Bologuine por secessão da dinastia zírida devido a disputas familiares. Desapareceu a seguir à conquista do Magrebe Central pelos almóadas.
Banu Hammad Hamádidas | ||||
| ||||
Mapa do Emirado Hamádida c. 1100 | ||||
Continente | África | |||
País | Argélia | |||
Capital | Alcalá (até 1090), Bugia (depois de 1090) | |||
Língua oficial | berbere, árabe | |||
Religião | Islão sunita maliquita | |||
Governo | monarquia | |||
Emir | ||||
• 1015–1028 | Hamade ibne Bologuine | |||
Período histórico | Idade Média | |||
• 1015 | Fundação da dinastia por secessão dos Zíridas | |||
• 1018 | Reconhecimento pelos Zíridas | |||
• 1102 | Vitória sobre os Almorávidas | |||
• 1152 | Anexação pelo Califado Almóada |
História
editarHamade ibne Bologuine, filho do fundador da dinastia zírida, Bologuine ibne Ziri, declarou-se independente dos Zíridas, reconhecendo a legitimidade dos califas abássidas de Bagdade. Em 1016, depois de pouco menos de dois anos de conflito, é concluído um acordo com os Zíridas, mas estes só em 1018 é que reconhecem a autoridade dos hamádidas.
A capital hamádida começa por ser Alcalá, tendo mudado para Bugia quando foi ameaçada pelo Banu Hilal.[1] Os hamádidas tornaram Bugia uma das cidades mais prósperas do Magrebe e do Mediterrâneo e os seus palácios inspirariam a Alhambra de Granada.[carece de fontes] As incursões dos Banu Hilal, enviados pelo Califado Fatímida a partir de 1052, enfraqueceram muito a dinastia, que acabaria definitivamente com a chegada dos almóadas.
Os hamádidas conquistaram aos Berberes ifrânidas de Tremecém várias cidades importantes, como Setife, Constantina e Massila, antes de serem atacados pelos Banu Hilal. Numa primeira fase, os Ifrenidas foram aliados políticos dos hamádidas, mas depois aliaram-se aos Banu Hilal. O Reino de Tremecém, que tinha permanecido nas mãos dos Ifrenidas, foi conquistado por esta coligação,[2] com a derrota de Abu Soda, o último emir ifrenida, em 1058.[3]
O terceiro emir almorávida Iúçufe ibne Taxufine (r. 1071–1106) atacou os Ifrenidas, os magrauas e todos os Zenetas. Conquistou Salé, na costa ocidental de Marrocos, aos Ifrenidas e matou Laguate, casando-se depois com uma das suas ex-mulheres, uma zeneta de nome Zainebe. Iúçufe ibne Taxufine prossegue depois com as suas conquistas a norte, tomando Fez em 1075, Tremecém em 1080,[4] que entretanto estava de novo nas mãos dos Ifrenidas, e depois Icósio (Argel).[5] Os Almorávidas só pararam o seu avanço nas fronteiras dos Zíridas e dos hamádidas,[6] tendo acabado por ser derrotados pelo emir hamádida Almançor (r. 1088–1105), sendo obrigados a retirar para o Magrebe Ocidental (atual Marrocos).[4]
Segundo outras fontes, os Almorávidas foram vencidos pelos hamádidas em 1102, tendo abandonado Tremecém e Achir.[7] Segundo outra versão, Nácer ibne Alanas (r. 1062–1088) matou o seu primo Bologuine, tornando-se o emir hamádida, e reconquista Achir, N'Gaous, Miliana, Constantina, Argel e Hâmeza em 1063.[8]
Apesar dos avanços dos Banu Hilal, o Reino Hamádida conheceu grande prosperidade durante o reinado de Almançor. Este monarca reforçou as suas tropas Sanhajas e Zenetas com mercenários árabes para lutar contra os Almorávidas, a quem tomou Tremecém em 1102 ou 1103. Reconquistou também Anaba e Constantina aos Zíridas e subjugou revoltas berberes. Depois dele, o poderio hamádida não pára de declinar. O seu filho Abdalazize (r. 1105–1121/1222 ou 1124/1125) ainda logra conquistar Jerba e repelir os Árabes da região de Hodna, mas o seu filho Iáia (r. 1221/1122 ou 1224/1225–1152), de quem se dizia que só se interessava por caça e por mulheres, não conseguiu impedir um ataque dos Genoveses contra Bugia em 1136 e foi ainda menos capaz de travar a invasão dos almóadas que acabou com o seu reino.[9]
Emires hamádidas
editarNome | Reinado | Observações |
---|---|---|
Hamade ibne Bologuine | 1015–1052 | Filho do fundador da dinastia zírida, Bologuine ibne Ziri, declarou-se independente dos Zíridas |
Alcaide ibne Hamade | 1028–1054 | Filho de Hamade, cognominado Xarife Adaulá ("nobreza da dinastia") |
Almocine ibne Alcaide | 1054–1055 | Filho de Alcaide; morto por Bologuine ibne Maomé |
Bologuine ibne Maomé | 1055–1062 | Primo de Almocine, ascende ao trono matando o seu primo |
Nácer ibne Alanas | 1062–1088 | Primo de Bologuine ibne Maomé, ascende ao trono matando o seu primo |
Almançor ibne Nácer | 1088–1105 | Filho de Nácer |
Badis ibne Almançor | 1105 | Filho de Almançor, morre poucos meses depois de ascender ao trono |
Abdalazize ibne Almançor | 1105–1121/1122 ou 1124/1125 | Filho de Almançor e irmão de Badis |
Iáia ibne Abdalazize | 1121/1122 ou 1124/1125–1152 | Filho de Abdalazize, abdicou em 1152 e morreu em 1163 |
Notas e referências
editar- Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em francês cujo título é «Hammadides», especificamente desta versão.
- ↑ De Maria & Turchetti 2004, p. 111
- ↑ Kaddache 1982, p. 66.
- ↑ ibne Caldune, p. 271
- ↑ a b Derdour 1983, p. 210.
- ↑ Rozet & Carette 1856, p. 200
- ↑ ibne Caldune 1852
- ↑ Godard 1860, p. 313.
- ↑ Mercier 1888.
- ↑ Julien 1966, p. 104.
Bibliografia
editar- Bosworth, Clifford Edmund (2004), The New Islamic Dynasties: A Chronological and Genealogical Manual, ISBN 9780748621378 (em inglês), Edinburgh University Press, consultado em 7 de janeiro de 2013
- Derdour, H'sen (1983), Annaba, vingt-cinq siècles de vie quotidienne et de luttes (em francês), 1, SNED, consultado em 7 de janeiro de 2013
- Godard, Léon Nicolas (1860), Description et histoire du Maroc comprenant la géographie et la statistique de ce pays d'après les renseignements les plus récents et le tableau du règne des souverains qui l'ont gouverné depuis les temps les plus anciens jusqu'à la paix de Tétouan en 1860 : comprenant la géographie (em francês), Paris: C. Tanera, consultado em 7 de janeiro de 2013
- Govin, L. (2000), «Hammadides», ISBN 9782744901270, Edisud, Encyclopédie berbère (em francês), 22: 3334-3345, consultado em 7 de janeiro de 2013
- Kaddache, Mahfoud (1982), L'Algérie médiévale (em francês), Société nationale d'édition et de diffusion, consultado em 7 de janeiro de 2013
- ibne Caldune (1852), Slane, William MacGuckin de (trad.), ed., Histoire des Berbères et des dynasties musulmanes de l'Afrique septentrionale par Ibn-Khaldoun (em francês), 1, Argel: Imprimerie du Gouvernement, consultado em 7 de janeiro de 2013
- ibne Caldune (1856), Slane, William MacGuckin de (trad.), ed., Histoire des Berbères et des dynasties musulmanes de l'Afrique septentrionale par Ibn-Khaldoun (em francês), 3, Argel: Imprimerie du Gouvernement, consultado em 7 de janeiro de 2013
- Julien, Charles-André (1966), Histoire de l'Afrique du Nord: des origines à 1830, ISBN 9782228887892 (em francês), Paris: Éd. Payot, consultado em 7 de janeiro de 2013
- De Maria, Lorenza; Turchetti, Rita (2004), Rotte e porti del Mediterraneo dopo la caduta dell'Impero romano d'Occidente: continuità e innovazioni tecnologiche e funzionali : IV seminario, ISBN 9788849811179 (em italiano), Génova: Rubbettino Editore, consultado em 7 de janeiro de 2013
- Mercier, Ernest (1888), Histoire de l'Afrique septentrionale (Berbérie) depuis les temps les plus reculés jusqu'à la conquête français (1930) (em francês), 1, Ernest Leroux, consultado em 7 de janeiro de 2013
- Rozet, Claude Antoine M.; Carette, Ernest (1856), Algérie (em francês), Paris: Firmin Didot Frères, consultado em 7 de janeiro de 2013
- Sourdel, Janine; Sourdel, Dominique (2004), Dictionnaire historique de l'Islam, ISBN 9782130545361, Quadrige (em francês), Paris: Presses Universitaires de France, p. 333