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 Nota: Este artigo é sobre o livro de Thomas Mann. Para o filme de Luchino Visconti, veja Morte em Veneza (filme). Para a ópera, veja Morte em Veneza (ópera).

Morte em Veneza (no original em alemão Der Tod in Venedig) é uma novela escrita por Thomas Mann e publicado pela primeira vez em 1912.

Der Tod in Venedig
Morte em Veneza [PT]
Morte em Veneza
Der Tod in Venedig 1912
Autor(es) Thomas Mann
Idioma língua alemã
País  Alemanha
Editora S. Fischer Verlag
Lançamento 1912
Edição portuguesa
Tradução Sara Seruya
Editora Europa-América, Relógio D'Água, Círculo de Leitores
Lançamento 1978
Páginas 130
Edição brasileira
Tradução Herbert Caro
Editora Opera Mundi
Lançamento 1970
Páginas 228

Em A Morte em Veneza, Thomas Mann apresenta uma escrita complexa e profunda, onde quase cada parágrafo pode ter várias leituras. Em contraponto, o enredo é praticamente inexistente: um homem de meia-idade viaja até Veneza, apaixona-se platonicamente por um jovem rapaz polaco extremamente atraente e morre sem sequer ter trocado uma palavra com ele.

Se, a uma primeira leitura, a homossexualidade se torna evidente em A Morte em Veneza, conforme se debruça na narrativa, essa questão mostra-se secundária à análise da obra. Não foi esta a preocupação central do autor, visto que nem sequer houve contato físico entre as personagens, estando o amor de Aschenbach por Tadzio no âmbito da idealização. A verdadeira atração de Gustav mostra-se ser pela beleza e perfeição do menino, o que fica evidente para o leitor, dentre outros motivos, na medida em que Tadzio é apresentado como “o belo”.

Rosenfeld (1994, p. 183) declara que “Aschenbach vê no jovem Tadzio o reflexo temporal da beleza eterna, do ideal sempre perseguido e de tal modo irresistível na sua encarnação que se acha moralmente desarmado diante da imagem perfeita”. Logo, a imagem de Tadzio seria uma captura da beleza, que a arte se encarrega por eternizar.

Segundo o mesmo autor, o amor de Aschenbach por Tadzio vai se dar como uma paixão narcisista, em que o escritor ama na beleza do menino a sua própria imagem, a própria meta espiritual, o sonho da beleza. Sonho este que, ironicamente, irá lançá-lo às profundezas da dissolução.

Por fim, confirmando as hipóteses já defendidas pelos autores acima citados, Rodrigues (s.d.), em seu artigo O erotismo e a estética em A Morte em Veneza, defende que Aschenbach busca na arte a forma física e a perfeição que gostaria de ter.

De A Morte em Veneza: “Ele era mais bonito do que as palavras podiam exprimir, e Aschenbach (o homem de meia-idade) sentiu dolorosamente, como tantas vezes antes, que a linguagem pode apenas louvar, mas não reproduzir, a beleza que toca os sentidos. (...) Tadzio (o rapaz polaco) sorriu; (...) E recostando-se, com os braços caídos, transbordando de emoção, tremendo repetidamente, segredou a formulação tradicional do desejo - impossível, absurda, abjecta, idiota mas sagrada, e mesmo neste caso honrada: "Amo-te!"

Como em suas outras grandes obras, Mann explora o papel do artista na sociedade. O cerebral Aschenbach exibe uma disciplina e resistência extraordinárias em seu trabalho literário, mas seus desejos íntimos acabam por dominá-lo.[1]

Enredo

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Durante um passeio em Munique, Gustav von Aschenbach — um autor consagrado cuja obra é conhecida pela disciplina e perfeição formal — encontra um tipo estranho que o deixa meio abalado e decide romper com a rotina e partir em viagem. Primeiro vai até Pula, na costa austro-húngara, mas depois decide prosseguir até Veneza. Em seu hotel veneziano no Lido, depara com um adolescente de extrema beleza, de uma família polaca: o jovem Tadzio. O tempo quente e húmido afeta a saúde de Aschenbach, que decide partir, mas a caminho da estação começa a arrepender-se, e quando descobre que a sua bagagem foi encaminhada para o comboio errado e que terá que aguardar o seu retorno, fica satisfeito por poder continuar na proximidade de Tadzio. Embora observe Tadzio obsessivamente, jamais ousa falar com ele, no máximo trocam um olhar furtivo e fugaz um com o outro.

Apesar dos sinais de uma epidemia de cólera, que é ocultada pelas autoridades para não prejudicar o turismo, mas que lhe é revelada por um agente de viagens britânico, Aschenbach permanece em Veneza, sacrificando sua dignidade e bem-estar pela experiência imediata da beleza corporificada por Tadzio. Através da obra, existe uma ambiguidade/dualidade quanto à paixão de Aschenbach: se inicialmente não passa de uma contemplação platónica do ideal de beleza ("Pois a beleza, meu Fédon, é a única forma do espiritual que podemos receber sensualmente, suportar sensualmente"),[2] com o tempo vai assumindo uma feição mais sensual, erótica, como fica claro na tentativa de Aschenbach de parecer mais jovem pelo tratamento cosmético e no seu sonho perturbador quase no final da novela: "Com as batidas dos tímbales seu coração retumbava, seu cérebro girava, acometido de raiva, de desvario, de atordoante voluptuosidade, e sua alma desejou unir-se à dança de roda do Deus. O enorme símbolo obsceno, de madeira, foi descoberto e elevado."[3]

Poucos dias depois, Aschenbach descobre que a família polaca planeia partir depois do almoço. Desce até a praia, onde está Tadzio com um menino mais velho, Jasiu. Os dois rapazes lutam, e Tadzio é facilmente vencido. Com raiva, deixa o seu companheiro e se dirige à parte do mar próxima de Aschenbach. Após contemplar por um momento o mar, dá meia volta para olhar o seu admirador. Para Aschenbach, é como se o menino estivesse a acenar-lhe. Tenta levantar-se e retribuir, no entanto caí morto na sua cadeira. Seu corpo é descoberto minutos depois. "E ainda no mesmo dia, um mundo respeitosamente comovido recebeu a notícia de sua morte."[4]

Referências

  1. Merriam Webster's Encyclopedia of Literature, verbete Death in Venice.
  2. Thomas Mann, 'A Morte em Veneza, tradução de Maria Delling, pág. 82.
  3. Idem, pág. 116.
  4. Idem, pág. 128.

Referências bibliográficas

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Morte em Veneza foi transposto para o cinema por Luchino Visconti, numa produção franco-italiana de 1971.

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