Moxico
Moxico é uma das 18 províncias de Angola, localizada na região leste do país. Sua capital está na cidade de Luena, no município de Moxico.
Moxico | |
---|---|
Localidade de Angola (Província) | |
Localização de Moxico em Angola | |
Dados gerais | |
Fundada em | 15 de setembro de 1917 (107 anos) |
Gentílico | moxiquense |
Província | Moxico |
Município(s) | Alto Zambeze, Bundas, Camanongue, Léua, Luacano, Luau, Luchazes, Cameia e Moxico |
Características geográficas | |
Área | 223 023 km² |
População | 854 258[1] hab. (2018) |
Dados adicionais | |
Prefixo telefónico | +244 |
Projecto Angola • Portal de Angola | |
Segundo as projeções populacionais de 2018, elaboradas pelo Instituto Nacional de Estatística, conta com uma população de 854 258 habitantes e área territorial de 223 023 km², sendo a maior província em área da nação, comparável em tamanho a países como Romênia, Laos ou Guiana.[1]
Moxico compreende os municípios de Alto Zambeze, Bundas, Camanongue, Léua, Luacano, Luau, Luchazes, Cameia e Moxico.
Etimologia
editarA palavra Moxico deriva de "Muxiko", uma espécie de cesto que servia para o transporte de víveres e armas de resistência anti-colonial. Com o tempo o soba local passou a utilizar para si o termo Muxiko, dando a entender, segundo o historiador Francisco Chiwende, que "era o receptáculo de todas as questões da sua jurisdição".[2] Os portugueses deram então àquela região, tributária do reino Lunda, o nome de "terras do Moxico", inicialmente somente equivalente ao Moxico-Velho, mas com o tempo como sinônimo de todo o território entre o Zambeze e o Lungué-Bungo.
História
editarAntes da efetiva ocupação colonial portuguesa, as terras de Moxico eram território de vários povos bantos, destacadamente das etnias chócue, lunda e ganguela, havendo também algumas frações de lubas. Esses quatro povos começaram a se organizar politicamente no século XVI.
Organização política
editarA região leste de Angola, assim como parte da República Democrática do Congo e Zâmbia, foi unificada, em 1590, sob a égide do rei Muanta Gandi, que formou o reino Lunda, um poderoso Estado pré-colonial que tinha inicialmente sede em Mussumba, atualmente no sul do Congo.[3]
O Estado Lunda acabou por tornar-se, no século XVII, o Império Lunda (1º império), que por fim esfacelou-se em vários Estados confederados em virtude de inúmeras guerras pelo trono da rainha Lueji A'Nkonde. O seu principal ente confederado substituto foi Reino Lunda-Chócue, que tinha sede em Luena e zona importante em Saurimo. O próprio Reino Lunda-Chócue costurou a formação de um 2º Império Lunda, em meados do século XIX.[4][5]
As potências colonias, Bélgica, Grã-Bretanha e Portugal, não aceitaram a formação dessa nova unidade imperial, fazendo diversas incursões militares na região, até que, como resultado da Conferência de Berlim, procederam a divisão definitiva dos lundas, extinguindo-se o Reino Lunda-Chócue.[4]
Colonização
editarConhecida inicialmente pelo nome de "região Luvale", o primeiro português que viajou de Benguela para as terras moxiquenses foi José de Assunção e Melo, em missão comercial, em 1794.[2]
A efetiva expedição de ocupação portuguesa só aconteceu em março de 1895, após o tratado que firmou o Protetorado Lunda-Chócue. A missão foi chefiada pelo tenente-coronel Trigo Teixeira. Nesta expedição o militar transferiu definitivamente o Moxico-Velho para aonde está assentada a capital Luena.[2] Um dos últimos reinos da região a ser subjugado por Portugal foi o reino Bundalândia, após a derrota do rei Mwene Mbandu Kapova I, em 1914.
Entre o final do século XIX e o início do século XX diversas expedições foram feitas para estudar a área e construir o monumental Caminho de Ferro de Benguela, que marcou profundamente a região, interligando-a definitivamente com o resto da Colônia de Angola.[2]
Formação administrativa
editarPelo decreto-lei nº 3365/17, de 15 de setembro de 1917, foi criado o "distrito do Moxico", a partir de território desmembrado do distrito de Benguela, assentando capital na até então chamada "vila do Moxico" (atual Luena).[2]
Período das guerras
editarEm 1966 o MPLA consegue tomar dos portugueses o Aeródromo de Recurso de Vila Teixeira de Sousa (Luau), abrindo a III Região Militar, que tinha como foco as províncias de Moxico e Cuando-Cubango. A UNITA lança um ataque à base de Luau, porém não consegue a tomar do MPLA.[6] Ao final de 1967 a província já está sob total controle do movimento, dando oportunidade de lançar ataque nas terras das províncias Lundas, no leste do Bié e no Cunene.[7]
Em 1973 a UNITA, com o apoio da Força de Defesa da África do Sul, inicia uma intensa campanha militar no leste, com vistas a tomar as áreas sob domínio do MPLA, conseguindo estabelecer posições em Cangonga, Cangumbe, Chicala, Samafo e Serpa Pinto (Menongue), conseguindo ocupar Luena em 1975, já dentro da Operação Savana, na Guerra Civil Angolana. A cidade permaneceu sob domínio estrangeiro por dois meses.[7]
Em 10 de dezembro de 1975, um mês após a proclamação da Independência Nacional, as Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA) abandonaram a capital da província do Moxico e recuaram em duas colunas, uma rumo ao Luau e a outra que estabeleceu-se na Buíla. Entre 14 e 15 de fevereiro de 1976, dentro da operação Carlota, que tinha o apoio das Forças Armadas de Cuba, as FAPLA reconquistaram Luena e, até o final de fevereiro, o restante da província.[7]
Geografia
editarA província de Moxico é limitada ao norte pela província de Lunda Sul e pelo Congo-Quinxassa, ao leste pela Zâmbia, ao sul pelo Cuando-Cubango e, ao oeste pelo Bié.
Clima
editarSegundo a classificação climática de Köppen-Geiger predomina na província, o clima subtropical úmido (Cwa), com uma média anual de temperatura que varia entre os 22°C e os 24°C.[8]
Demografia
editarO perfil demográfico e populacional provincial é construído principalmente pelas etnias dos chócues e ganguelas,[9] havendo também relevantes contingentes de ovimbundos, lundas e ambundos, além de outros grupos etnolinguísticos menores como vambundas,[10] e de origens miscigenadas, como luso-angolanos, ango-brasileiros[11] e quinxassa-congoleses.[12]
Ecologia, flora e fauna
editarDomina a maior parte da paisagem da província, isto é, o centro, o norte, o oeste e o sul moxiquense, a ecorregião das "florestas de miombo angolanas",[13] com flora de savana de folha larga decídua úmida e floresta com domínio de miombo, além de pastagens abertas.[14] No leste da província, predominam as "florestas de miombo da Zambézia Central", com flora típica de miombo de árvores altas com arbustos e pastagens por baixo,[15] e; no estremo-leste há as "florestas secas de Cryptosepalum zambeziano", uma notável ecorregião de florestas tropicais perenes com densa vegetação rasteira de trepadeiras e arbustos.[16] Por fim, na planície de inundação de Barotse-Liuva, há a apresença da ecorregião das "pastagens da Zambézia Ocidental", com imensas zonas pantanosas e de vegetação herbácea latifoliada aberta com arbustos.[17] A principal zona protegida moxiquense é o Parque Nacional da Cameia.
Hidrografia
editarOs principais cursos d'água da província são: o rio Zambeze, que corre no sentido norte-sul, ao leste; seus afluentes, os rios Lungué-Bungo, Luanguingo e Luena, que correm no sentido noroeste-sudeste, cortando quase toda a extensão territorial moxiquense, e; o rio Cuando, de sentido norte-sul. Outros importantes reservatórios de água são os lagos Liassa, Capaco, Banda Licolocolo, Libala, Uito, Cachaca, Dilolo e Cameia, além de uma miríade de menores lagos e lagoas das planícies de Barotse-Liuva, ao sudeste.[10]
Relevo
editarA fisiologia moxiquense é dominada por três zonas principais, sendo: o Planalto Central de Angola entre o noroeste, oeste e sudoeste, incluíndo os altiplanos das Areias Húmidas e das Areias Secas e as Escarpas do Bié; o Planalto de Catanga-Chambezi, no extremo-leste (mais especificamente o extremo do Alto Zambeze) e em toda fronteira nordeste até Luau, e;[18] as planícies de Barotse (bem como suas extensões Liuva, Luena e Lungué-Bungo), ao sudeste e centro.[10] No Alto Zambeze está a porção mais ocidental do cinturão de cobre da África Central, importantíssima área de mineração industrial do continente.[19][20]
Economia
editarHistoricamente a agricultura constitui a base do desenvolvimento socioeconômico da província, havendo, desde o fim da Guerra Civil Angolana um incremento de atividades vinculadas à indústria, comércio e serviços.[21]
Agropecuária e extrativismo
editarO Moxico possui produção de lavoura temporária assentada em massango, batata-doce, girassol, vielo, arroz, mandioca e milho. Já na lavoura permanente registra-se a produção de citrinos e goiabas.[22]
No subsetor da pecuária, a província é um dos centros nacionais especializados em produção de carne e leite, havendo rebanhos bovinos, ovinos, caprinos e suínos. Igualmente para a produção de carne, conjugada com ovos, existe a criação de galináceos.[22]
Há um grande excedente obtido pela pesca artesanal na região, visto que o Moxico possui diversos rios e lagos. Nas estações chuvosas, esta potencialidade é estendida, visto que muitas regiões da província alagam-se.[22]
Existe certa exploração florestal nos municípios de Moxico, principalmente extraídas de áreas plantadas de eucaliptos e pinheiros. As toras de madeira são exportadas para consumo do litoral e exterior do país, com uma fração utilizada localmente.[22]
Indústria e mineração
editarOs parques industriais moxiquenses são especializados na agroindústria para transformação de carne, leite e ovos, registrando-se também produção alimentícia, de bebidas, vestuário, de transformação moveleira e de materiais de construção. As áreas de maior concentração industrial estão em Luena e Luau.[22]
Nesta província ainda há extração dos seguintes minérios: carvão, cobre, manganês, ferro, diamantes, ouro, volfrâmio, estanho, molibdénio, urânio e lenhite.[22]
Comércio e serviços
editarO subsetor comercial assenta sua base em centros atacadistas que distribuem produtos beneficiados e semi-beneficiados às localidades da província, sendo encontra-se concentrado em Luena, Luau e Cazombo.[22]
Já nas atividades de serviços, que incluem centros de saúde, unidades de ensino, postos financeiros, entretenimento, entre outros, a gama de oferta fica concentrada na capital provincial.[22]
Registram-se ainda atividades de serviços vocacionadas à logística, dado que atravessa o Moxico o Caminho de Ferro de Benguela e inúmeras rodovias.[22]
Cultura e lazer
editarHá, naturalmente, um forte impacto da cultura introduzida pela antiga potência colonial, Portugal, através de missões cristãs de diferentes obediências, que influenciaram principalmente os aspectos arquitetônicos, os comportamentos sociais e as tradições culturais-religiosas. Neste último caso, por exemplo, as maiores manifestações populares são vistas em procissões religiosas católicas, que ocorrem em todas as localidades moxiquenses.
Em locais de lazer, a província encontra o Parque Nacional da Cameia, com 14 450 quilómetros quadrados de área, albergando espécies vegetais e animais e; também, as Quedas do rio Luizavo e as quedas do rio Lucula no Muni.
Referências
- ↑ a b Schmitt, Aurelio. Município de Angola: Censo 2014 e Estimativa de 2018. Revista Conexão Emancipacionista. 3 de fevereiro de 2018.
- ↑ a b c d e Província do Moxico completa 90 anos. Portal Angop. 16 de setembro de 2007.
- ↑ Lunda. Medicare Club Angola. 2018.
- ↑ a b Reino Unido da Lunda Tchokwe. Federação dos Estados Livres da África . 2011
- ↑ O Reino da Lunda. Portal Geledés. 28 de outubro de 2016.
- ↑ Nos Trilhos da Independência: 90 dias pelo Leste de Angola. Buala. 1 de setembro de 2013.
- ↑ a b c Memórias das batalhas que levaram à reconquista da cidade do Luena. Jornal de Angola. 29 de novembro de 2014.
- ↑ Clima: Moxico. Climage-data.org. 2022.
- ↑ Angola ethnic groups. Perry-Castañeda Library Map Collection. University of Texas, 1973.
- ↑ a b c Marks, Shula E.. "Southern Africa". Encyclopedia Britannica, 30 Sep. 2020. Accessed 19 January 2022.
- ↑ Jover, Estefanía.; Pintos, Anthony Lopes.; Marchand, Alexandra. (setembro de 2012). Angola: Private Sector Country Profile. (PDF). Reino Unido: Printech Europe/Banco Africano de Desenvolvimento
- ↑ Redden, Jack; Martin, Harriet. Thirty years on, UNHCR seeks full integration for Congolese refugees in Angola. UNHCR. 21 de março de 2006.
- ↑ Angola Vegetation. Perry-Castañeda Library Map Collection. University of Texas, 1973.
- ↑ World Wildlife Fund, ed. (2001). «Angolan Miombo woodlands». WildWorld Ecoregion Profile. [S.l.]: National Geographic Society. Cópia arquivada em 8 de março de 2010
- ↑ Central Zambezian miombo woodlands. DOPA Explorer. 22 de março de 2022.
- ↑ [1] Zambezian Cryptosepalum dry forests]. DOPA Explorer. 22 de março de 2022.
- ↑ Western Zambezian grasslands. DOPA Explorer. 23 de março de 2022.
- ↑ Cotterill, Fenton Peter David. The Upemba lechwe, Kobus anselli: An antelope new to science emphasizes the conservation importance of Katanga, Democratic Republic of Congo. Journal of Zoology 265(2):113 - 132. February 2005.
- ↑ Mwamba, J. Exploration potential for copperbelt - style mineralisation in NW Province, Zambia; soil geochemistry as a targeting tool. [s./ed.]. 2018
- ↑ A ″Copperbelt″, área mineira mundialmente famosa da Zâmbia e RDC, afinal prolonga-se por território angolano. Novo Jornal. 8 de fevereiro de 2017.
- ↑ Redinha, José. Etnias e culturas de Angola. Luanda: Instituto de Investigação Científica de Angola, 1974.
- ↑ a b c d e f g h i Moxico. Portal São Francisco. 2018.