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Palácio dos Sovietes

O Palácio dos Sovietes (em russo: Дворец Советов, Dvorets Sovetov) foi um projeto de centro de administração e salão para reuniões e congressos em Moscou, Rússia. O projeto situava o edifício próximo do Kremlin, em lugar da antiga Catedral de Cristo Salvador. O concurso de arquitetos, feito entre 1931 e 1933, foi vencido pelo conceito neoclássico de Boris Iofan, subsequentemente revisado por Iofan, Vladimir Shchuko e Vladimir Gelfreikh para tornar-se um arranha-céu. Se tivesse sido construído até ao fim, teria sido a construção mais alta do mundo naquela época. A construção iniciou-se em 1937 e foi interrompida em 1941 com a invasão alemã ocorrida naquele ano. Entre 1941 e 1942, sua estrutura de aço foi desmontada em função do esforço de guerra para uso em fortificações e pontes. Sua construção jamais foi retomada. Em 1958, as fundações foram transformadas naquela que seria a maior piscina a céu aberto do mundo, a Piscina Moskva, que posteriormente daria lugar à reconstrução da Catedral, entre 1995 e 2000.[1]

Palácio dos Sovietes
em russo: Дворец Советов
Palácio dos Sovietes
Informações gerais
Tipo Soviete Supremo da União Soviética
Arquiteto Boris Iofan, Vladimir Shchuko
Dimensões
Altura 415 m (1 362 pé)
495 m (1 624 pé) (antena)
Número de andares 100
Andares sobre o solo 100
Geografia
País  Rússia
(na época  União Soviética)
Cidade MoscouPB (MoscovoPE)
Coordenadas 55° 44′ 41″ N, 37° 36′ 21″ L
Mapa
Localização em mapa dinâmico

Histórico do conceito

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O Congresso dos Sovietes estabeleceu oficialmente a União Soviética em dezembro de 1922. Sergey Kirov, durante discurso no congresso, propôs a construção de um Palácio "nos lugares de palácios que antes foram propriedade de banqueiros, latifundiários e czares". Logo em seguida, disse Kirov, que os salões existentes ficaram pequenos demais para acomodar os delegados das novas repúblicas da União. O Palácio, para ele, seria "outro impulso para o proletariado europeu, ainda dormente... para perceber que viemos de uma vez e para sempre, que as ideias [do comunismo] estão profundamente enraizadas como os poços da indústria petrolífera de Baku".[2]

Em 1924, com a morte de Vladimir Lenin e a construção de mausoléus em seu nome, teve início uma campanha nacional para construir memoriais por todas as repúblicas. Victor Balikhin, um estudante de graduação de Vkhutemas, propôs instalar o memorial de Lênin no topo de um edifício do Comintern no lugar da Catedral de Cristo Salvador. "Lâmpadas de arco inundarão as vilas, cidades, parques e praças, conclamando a todos para honrar a Lenin, mesmo à noite..."[3] O conceito de Balikhin, esquecido por um tempo, reemergiu mais tarde no design de Boris Iofan.

Demolição da catedral

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A demolição da catedral, em 5 de dezembro de 1931.

Seis anos mais tarde, o Estado declarou o primeiro concurso para o Palácio dos Sovietes, distribuindo propostas preliminares a 15 grupos de arquitetos (tanto avant-garde quanto tradicionais). Este concurso encerrou-se em maio de 1931, sem vencedores.

Em 2 de junho de 1931, uma conferência dos anciãos do Partido identificou o lugar do futuro palácio e condenou a catedral. O endosso oficial veio em 16 de julho, partindo da comissão Soviete Supremo da União Soviética. Em 18 de julho, quando o Izvestia anunciou o segundo concurso, agora internacional; comissários de Estado iniciaram um inventário dos materiais da Catedral. Uma pequena parte foi removida e destinada ao monastério de Donskoy e ao próprio Estado; o restante pereceu. A demolição iniciou-se em 18 de agosto; em 5 de dezembro, a estrutura foi finalmente demolida após duas sequências de explosões.[4] A retirada do entulho levou mais de um ano.[5]

Concurso

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O segundo concurso, agora internacional, foi iniciado em 18 de julho de 1931. Um total de 272 projetos foram reunidos, incluindo de 160 trabalhos arquitetônicos, 136 soviéticos e 24 estrangeiros. O concurso atraiu arquitetos de renome, tais como Le Corbusier, Joseph Urban, Walter Gropius, Erich Mendelsohn e Armando Brasini, o professor italiano de Boris Iofan;[6] Os projetos norte-americanos foram coordenados por Albert Kahn.[7] Foi o italiano Brasini quem expressou a ideia de ter "Lênin no topo do arranha-céu".[8]

Enorme publicidade envolveu o concurso. Entre 1931 e 1932, houve transmissões internacionais, com reportagens e resenhas publicadas em vários países. O conselho de especialistas foi presidido pelo velho bolchevique Gleb Krzhizhanovsky; a revista Time considerou "que tal júri tinha como membro mais proeminente o ditador Stalin."[9]

Em vez de anunciar claramente um vencedor, em fevereiro de 1932, o conselho declarou que haviam sido escolhidos os projetos de Boris Iofan, Ivan Vladislavovich Zholtovsky e um arquiteto britânico de 28 anos vivendo em Nova Jersey, Hector Hamilton.[10] Este resultado gerou a necessidade de uma terceira competição - ou uma intervenção do Estado. Os três competidores rejeitaram o avant-garde e direcionaram-se ao neoclassicismo (ou ecletismo). Essa decisão "reacionária" causou revolta entre os artistas de vanguarda europeus. Le Corbusier e Sigfried Giedion, líder do Congresso Internacional de Arquitetura Moderna, protestou a Stalin que "a decisão do conselho é um insulto direto ao espírito da Revolução e aos Planos Quinquenais... [é] uma trágica traição."[11]

Ver também
  • Projeto de Dmitry Chechulin[12]
  • Projeto de Karo Alabyan, Arkady Mordvinov et al.[13]

Decisão

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Minicartaz do Primeiro Congresso de Arquitetos Soviéticos mostrando o Palácio dos Sovietes (1937).

O concurso internacional foi seguido por não uma, mas duas competições. O terceiro concurso (entre março e julho de 1932) convidou 15 equipes e o quarto (entre julho de 1932 e fevereiro de 1933) convidou apenas cinco. Em 10 de maio de 1933, o projeto de Boris Iofan foi declarado o vencedor. Uma dupla de arquitetos neoclássicos, Vladimir Shchuko e Vladimir Gelfreikh, foram designados para participar da equipe de Iofan, e o design resultante ficou conhecido como Iofan-Schuko-Gelfreikh.

A correspondência entre Josef Stalin e Lazar Kaganovich, entretanto, marca o momento da seleção como não posterior a agosto de 1932. No dia 7 daquele mês, Stalin escreveu um memorando a Kaganovich, Vyacheslav Molotov e Kliment Voroshilov, nomeando claramente o projeto de Iofan como o melhor e propondo alterações:

O design Iofan-Schuko-Gelfreikh

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O projeto original de Iofan era coroado com uma estátua relativamente pequena do "Proletário Livre". Em agosto de 1932, fica claro que essa estátua desaparecera do projeto e Stalin interveio pessoalmente para corrigir a omissão. Uma torre mais alta e a estátua de Lenin apareceram após o quarto concurso, como resposta a um discurso de Stalin: "O Palácio dos Sovietes é um monumento a Lenin. Não se assustem com sua altura; aceitem-na."[15] No processo, a altura máxima subiu de 260 m para 415 m. O Salão Principal, com capacidade para 21 000 lugares, tinha 100 m de altura e 160 m de diâmetro (O Salão Menor no lado leste teria 6 000 lugares).[16] Esse projeto foi publicado em março de 1934. A estrutura da estátua foi projetada posteriormente; uma versão com 100 m, datada de 1936, pesava mais de 6 000 toneladas. Em 1937, Frank Lloyd Wright, dirigindo-se ao Congresso dos Arquitetos Soviéticos, disse que "Essa estrutura — apenas proposta, eu espero — é boa se a tomarmos como uma versão moderna de São Jorge destruindo o dragão."[17][18]

Construção

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A estrutura vista em 1940.

A fundação foi completada em 1939. Os construtores fizeram um perímetro de 20 m de estruturas de aço, escavaram o poço, demoliram e removeram as fundações da antiga catedral. Em junho de 1941, a estrutura de aço da base foi erguida: veio então a II Guerra Mundial, que levou à remoção do material para uso em outras finalidades entre 1941 e 1942. A estrutura vazia preencheu-se com água e foi mantida sem uso até 1958.

Enquanto isso, a equipe de Iofan, realocada para Sverdlovsk, continuou a desenvolver o design. Após a guerra, Iofan produziu outra iteração[19] do projeto original, incorporando dessa vez o tema da Vitória, literalmente: os salões internos foram decorados com os motivos da Ordem da Vitória. Esses projetos permaneceram nessa condição: a construção no local jamais foi retomada.[20]

Legado

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A ponte de Bolshoy Krashokholmsky, com seus arcos de aço.

O projeto do palácio estimulou o desenvolvimento de novas tecnologias, especialmente a família de aços de construção DS (ДС, Дворец Советов). Os aços ODS (DS ordinário) e SDS (DS especial) foram usados em pontes moscovitas na década de 1930[21] e na estrutura do Canal de Moscou. Uma estação de metrô próxima, ganhadora de um prêmio de design em 1935, de autoria de Alexei Dushkin, foi intitulada Palácio dos Soviets e renomeada Kropotkinskaya em 1957.

Entre 1958 e 1960, as fundações do palácio foram limpas dos detritos e convertidas na Piscina Moskva, cujo diâmetro era de 129,5 m. Na década de 1970, o Estado soviético fez um concurso para o novo museu dedicado a Lênin, entre o museu de Pushkin e o Kremlin. Alguns dos participantes, entretanto, propuseram que o museu fosse construído no lugar da Piscina Moskva, seguindo o conceito de Iofan. Entretanto, esse projeto jamais foi realizado. A Catedral de Cristo Salvador foi reconstruída entre 1995 e 2000.

Na literatura e na cultura

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  • A historiadora da arquitetura Evgenia Kirichenko discute o planejamento e o projeto de construção do Palácio dos Sovietes em seu volume sobre a Catedral de Cristo Salvador;[22]
  • O polonês Ryszard Kapuscinski descreve a demolição da catedral e o projeto de construção do Palácio dos Sovietes em seu livro Imperium;
  • O vencedor do Prêmio Pritzker Rem Koolhaas descreve o Palácio em seu livro de 1995 S,M,L,XL.
  • O autor soviético Viktor Suvorov descreve a construção do Palácio dos Sovietes como o sinal definitivo a supremacia comunista no mundo, no livro Última República.

Ver também

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O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Palácio dos Sovietes

Bibliografia

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  • Pioneers of Soviet Architecture: The Search for New Solutions in the 1920s and 1930s, por Selim Khan-Magomedov, Thames e Hudson Ltd, ISBN 978-0-500-34102-5 (Edição completa em russo: Russo: С.О.Хан-Магометов. «Архитектура Советского авангарда», Москва, Стройиздат, 1996, 2001)
  • Architecture of The Stalin Era, por Alexei Tarkhanov (colatorador), Sergei Kavtaradze (colatorador), Mikhail Anikst (designer), 1992, ISBN 978-0-8478-1473-2
  • Architecture in the Age of Stalin: Culture Two, por Vladimir Paperny (autor), John Hill (tradução em inglês), Roann Barris (tradução em inglês), 2002, ISBN 978-0-521-45119-2
  • The Edifice Complex: How the Rich and Powerful Shape the World, por Deyan Sudjic, 2004, ISBN 978-1-59420-068-7

Referências

  1. Catedral de Cristo Salvador História (em russo) Arquivado em 17 de junho de 2008, no Wayback Machine.
  2. Russian: Kirov's speech transcript, December 30, 1922 Moscow Museum of Architecture, www.muar.ru Arquivado em 25 de fevereiro de 2007, no Wayback Machine. quoting 1957 official edition
  3. Russian: Extract from Balikhin's article, www.artchronica.ru, May 2002 Arquivado em 20 de janeiro de 2007, no Wayback Machine.
  4. Time Magazine, 14-12-1931, mentioned demolition by liquid air cartridges; this isn't corroborated by current Russian sources www.time.com
  5. Russian: Cathedral of Christ the Saviour, official site Destruction page Arquivado em 29 de dezembro de 2017, no Wayback Machine.
  6. English: Brasini Exhibition brief, www.muar.ru Arquivado em 4 de fevereiro de 2007, no Wayback Machine.
  7. Russian: М. Маркуша , Д. Хмельницкий, "Конец утопии – конкурс на Дворец Советов в Москве", www.archi.ru, July 2005 Arquivado em 5 de abril de 2007, no Wayback Machine.
  8. Brasini Exhibits: Palace of the Soviets www.muar.ru Arquivado em 4 de fevereiro de 2007, no Wayback Machine.
  9. "Soviet Palace", Time, March 19, 1934 www.time.com
  10. Hamilton's Palace, Time, March 14, 1932 www.time.com
  11. Russian: Дмитрий Хмельницкий, "Сталин и архитектура", гл.2, www.archi.ru Arquivado em 17 de março de 2007, no Wayback Machine. (Khmelnitzky, chapter 2)
  12. Overview Arquivado em 8 de março de 2008, no Wayback Machine. Interior Arquivado em 27 de setembro de 2007, no Wayback Machine.
  13. «www.wbb.ru». Consultado em 11 de junho de 2011 
  14. Khmelnitsky, ch.2, quoting Russian edition of "Сталин и Каганович: Переписка, 1931–1936 гг.", M, 2001, p.259, ISBN 5-8243-0241-3
  15. Khmelnitsky, ch.2, quotes a 1940 edition of "Palace of the Soviets" by N.Atarov
  16. Russian: Глазычев, В.М., "Россия в петле модернизации", гл.10, 1989 www.glazychev.ru
  17. Frank Lloyd Wright, "Address at First All-Union Congress of Soviet Architects", June 21, 1937, archive publication by Vladimir Paperny
  18. *High-resolution graphics of different exterior designs (1937–1940) at www.muar.ru Arquivado em 18 de abril de 2007, no Wayback Machine.: Elevation Arquivado em 22 de setembro de 2006, no Wayback Machine. Plaster model Arquivado em 27 de setembro de 2007, no Wayback Machine. Cutaway Arquivado em 19 de fevereiro de 2007, no Wayback Machine. *Animated newsreel: New Moscow (1937) (Divx .AVI format: Video 1, Video 2, Video 3, Video 4)
  19. «another iteration». Muar.ru. Consultado em 11 de junho de 2011. Arquivado do original em 16 de julho de 2011 
  20. «1947 placement map». Consultado em 8 de fevereiro de 2016. Arquivado do original em 8 de março de 2008 
  21. Russian: Носарев В.А., Скрябина, Т.А., "Мосты Москвы", М, "Вече", 2004, стр. 77–79 (Bridges of Moscow, 2004, p.77–79) ISBN 5-9533-0183-9
  22. «see p. 288-315» (PDF). Consultado em 8 de fevereiro de 2016. Arquivado do original (PDF) em 2 de maio de 2014