Paulo Benedito dos Santos Braga
Paulo Benedito dos Santos Braga (Belém, 18 de novembro de 1934[1]) mais conhecido como Quarentinha ou, ocasionalmente, como Quarenta, como foi chamado predominantemente durante sua carreira,[2][3] é um ex-futebolista brasileiro que atuava como meio-campista. Detém o recorde de títulos estaduais no Brasil como jogador, com doze conquistas, todos pelo Paysandu, no campeonato paraense,[4][5][6][7][8] do qual foi eleito em 2010 o maior jogador da história entre cem votantes. Também foi eleito o maior jogador do futebol paraense no século XX, em 2000, em votação entre vinte e dois cronistas esportivos.[1] Seus doze títulos ainda fazem dele o jogador mais vezes campeão no Paysandu.[9] Givanildo Oliveira (1982), Durval (2017) e Jorge Henrique (2021) também lograram 12 taças estaduais, mas por times e estados diferentes. É Quarentinha, portanto, o recordista isolado de estaduais em um mesmo time e em um mesmo campeonato. Seus 12 títulos, conquistados em 17 anos (1956 a 1972), incluem dois bicampeonatos (1956/57; 1971/72) e dois tricampeonatos (1961 a 1963; 1965 a 1967).[10] [11]
Estátua de Quarentinha no estádio da Curuzu, do Paysandu. A placa informa seu recorde nacional de títulos estaduais | ||
Informações pessoais | ||
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Nome completo | Paulo Benedito dos Santos Braga | |
Data de nascimento | 18 de novembro de 1934 (89 anos) | |
Local de nascimento | Belém, Pará, Brasil | |
Nacionalidade | brasileiro | |
Altura | 1,58 m | |
Pé | ambidestro | |
Informações profissionais | ||
Posição | meia-esquerda | |
Clubes de juventude | ||
1955 1955–1956 |
Remo Paysandu | |
Clubes profissionais | ||
Anos | Clubes | Jogos e gol(o)s |
1955–1973 | Paysandu | 750 | (86)
Seleção nacional | ||
1958–1971 | Pará | 10 (1) |
Os doze títulos vieram em meio a uma carreira que durou dezoito anos, integralmente no Paysandu, ainda que fosse ocasionalmente sondado por clubes de fora do Pará, recebendo propostas ignoradas pelos dirigentes alviazuis[1] em tempos de leis de passe mais fortes contra saídas de jogadores. Isto e o paralelo emprego fixo de funcionário público também dificultaram que saísse.[12] Na chamada "Era Quarentinha", o Paysandu ultrapassou o grande rival Remo em número de títulos estaduais; no ano da estreia do craque, em 1955, os alvicelestes somavam 16 títulos, três a menos que o arquirrival. Na ocasião do jogo da despedida em 1973, o clube da Curuzu já tinha 28, e o Remo, 22. Nem este clube e nem o outro rival, a Tuna Luso, conseguiram sequer dois títulos seguidos entre 1955 e 1973. Dona de mais de um terço dos títulos paraenses nos vinte anos entre 1938 e 1958, a Tuna chegou a passar doze anos de jejum enquanto Quarentinha jogou.[13] Em grande sinal de respeito ao craque, os rivais se uniram no jogo de despedida dele em 1973: o adversário foi a Tuna e o estádio usado, o do Remo.[1]
Pelo Paysandu, Quarentinha jogou em torno de 750 partidas e marcou 86 gols, sendo o 12º maior artilheiro bicolor, se notabilizando mais por armação de jogadas do que propriamente por conclui-las;[1] chegou a ser o 8º maior goleador alviazul, sendo superado por jogadores de passagem posterior pelo clube.[14] Sobressaía-se em relação aos demais meias-armadores paraenses de sua época pelos passes longos, por esticar a bola com precisão de uma ponta a outra, sem deixar de deslocar-se por todo o gramado, com a bravura de sua figura diminuta rendendo comparações à luta de Davi e Golias.[3] A outra camisa que Quarentinha vestiu foi a da seleção paraense,[6] entre 1958 e 1971, sobretudo no Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais e em alguns amistosos.[15]
Quarentinha também é o jogador que mais vezes disputou o clássico Re-Pa. Foram 135 partidas, entre 1956 e 1971,[4] e doze gols marcados, sendo o 16º na artilharia[16] do clássico futebolístico mais vezes realizado a nível mundial.[17] Outra fonte para sua idolatria para a torcida do Paysandu está no fato de que durante os "anos Quarentinha" o clube, além de mais títulos, também passou a ter, provisoriamente, mais vitórias do que derrotas na rivalidade (essa vantagem está revertida desde meados da década de 1970),[18][4] incluindo o maior tabu a favor do "Papão", os treze clássicos seguidamente invictos ao longo do ano de 1970.[19] Considera-se que a "Era Quarentinha" foi a responsável por fazer a torcida do Paysandu, que seria significantemente inferior anteriormente, crescer de modo a se equiparar à do Remo.[3][20] Segue no clube atualmente, como um dos "beneméritos atletas" do Conselho Deliberativo do Paysandu.[21]
Trajetória
editarInícios, em meio a outros Quarenta(inhas)
editarO apelido surgiu espontaneamente em jogos de rua e seria uma referência a Quarenta,[1] cujo apelido por sua vez provinha de seu número de identificação como aluno interno do Instituto Lauro Sodré. Quarenta jogou curiosamente também por dezoito anos (de 1927 a 1945) e ainda é o terceiro maior artilheiro do Paysandu[22] e terceiro maior artilheiro também do clássico Re-Pa.[16] Durante a carreira, Paulo Benedito dos Santos Braga foi predominantemente chamado de Quarenta, com o diminutivo só prevalecendo posteriormente.[2] E era justamente o Quarenta que jogou da década de 1920 à década de 1940 o futebolista com mais títulos no Paysandu e com mais títulos estaduais no Brasil antes de Quarentinha, tendo sido campeão paraense onze vezes.[9][22]
"Foi um craque daqueles que enche a vista de qualquer um com o futebol que praticava", declarou Quarentinha sobre Quarenta,[1] que passou rapidamente por Vasco da Gama e São Paulo e que também foi pai de outro Quarentinha,[22][23] o mais famoso nacionalmente, por ter jogado na seleção brasileira e por ainda ser o maior artilheiro do Botafogo.[5][23][24] Curiosamente, o velho Quarenta teve também um filho que jogou justamente nos rivais Remo e Tuna Luso: Walmir, inicialmente também apelidado com o número[22][2] quando apareceu no time principal do Remo em 1957. À medida em que o homônimo do Paysandu se sobressaía mais, o remista, campeão estadual em 1960 e 1964, passou a ser referido pela crônica esportiva como Walmir.[25] Na Tuna, Walmir foi ainda artilheiro do campeonato em 1961 e em 1962.[26][27] Eles chegaram a atuar juntos nas categorias de base do Paysandu, com Walmir sendo referido como "Quarentinha" e Paulo, como "Quarentinha II".[3]
Os Quarentinhas de Paysandu e Botafogo (de nome Waldir), por sua vez, também tiveram carreiras contemporâneas e o botafoguense, nascido um ano antes, também foi revelado no Paysandu (em 1951), mas deixou o Pará em 1953.[24] Já o Quarentinha que permaneceria no Estado participava de uma equipe de rua chamada exatamente de Paysanduzinho, depois chamado Águia. Lá era centroavante e atuava com outro futuro ídolo bicolor, o atacante Carlos Alberto Urubu. Outras equipes de bairro que defendera foram o Olaria e o Dramático, todos das redondezas da Praça Brasil, próxima ao bairro onde sempre residiu, o Telégrafo;[3] na época, o Dramático jogava na segunda divisão estadual.[28] Mas jogar no antigo Paysanduzinho e torcer pelo Paysandu[3] não impediram que inicialmente tentasse jogar justamente no Remo, para onde levado por um irmão. Porém, após um mês de testes, foi ignorado em função da figura muito diminuta: tinha 1 metro e 58 centímetros, pesava 50 quilogramas e calçava chuteiras de número 35. Em 8 de abril de 1955, deixou o Remo e,[1] após encontro ocasional com um vizinho que trabalhava como massagista no Paysandu, mencionando-se a negativa remista, recebeu imediato e insistente convite para testes entre os bicolores.[3]
Embora inicialmente desiludido em tentar a carreira em clubes grandes, não tardou em ser aprovado na Curuzu após um treino preparatório do elenco para jogo contra o Bangu. "Pelo treino que fez, Quarentinha é uma promessa para o futebol paraense", publicou o jornal A Vanguarda em 21 de abril.[3] O jogador logo teve providenciada a transferência de seu registro de amador do Remo para o Paysandu, onde veio a estrear no time principal em 29 de junho daquele mesmo ano, em um 3–0 amistoso em clássico com a Tuna Luso,[1] a campeã paraense daquele ano, invicta,[29] embora a atuação do estreante não tenha sido considerada satisfatória pela imprensa. A baixa estatura para um centroavante o fez ser deslocado para a armação de jogadas.[3] Em 1956, o meia-esquerda, ainda semi-integrado ao time principal, foi campeão estadual inicialmente na categoria de aspirantes.[30]
Ainda em 1955, houve um Quarentinha campeão do Estadual juvenil,[31] mas tratava-se de outra pessoa: o ponta-esquerda Ércio. Assim como Walmir, Ércio, promovido ao time principal bicolor em 1959, também passou a ser conhecido pelo nome em função do apelidado estar consolidado em Paulo Braga.[25] Ércio também faria carreira de sucesso no Paysandu, defendendo-o por dez anos, sendo lembrado especialmente por marcar o primeiro gol da famosa vitória sobre o Peñarol em 1965. Seria campeão também na Tuna Luso, em 1970.[32] Ércio inclusive declararia sobre Quarentinha, em 2012, que o colega "tinha uma visão de jogo privilegiada, se cuidava muito fisicamente e tinha uma técnica apurada. Para mim, ele foi e ainda é o maior meia-esquerda não apenas do Paysandu, mas de toda a história do futebol paraense. E, além de tudo, ainda marcava muitos gols, mesmo não sendo um atacante nato, como eu era. Ele marcava até 10 gols em um campeonato, média de um artilheiro do Parazão nos dias de hoje".[33]
Despontando: os três primeiros títulos
editarQuarentinha começou a ter mais oportunidades no time principal a partir de 1956, firmando-se na meia-esquerda após a saída de outro ídolo do Paysandu, Guimarães, antigo remanescente do celebrado 7–0 em clássico com o Remo em 1945, ainda a maior goleada da rivalidade. Já naquele ano de 1956, Quarentinha foi, pela primeira vez, campeão estadual,[1] inclusive marcando o gol do título, o único em mais um clássico Re-Pa. Foi em chute longo, de fora da área.[3] Além da vitória de 1–0 na segunda final, o clube venceu o rival na primeira decisão por 3–2, com Quarentinha também marcando, além de Cacetão.[34] Em 2014, declarou considerar aqueles primeiros Re-Pas os mais importantes que jogou:
“ | Em 1956, era ainda um garoto e fazia nove anos que o Paysandu não ganhava um título. Eu entrei nos dois jogos finais contra o Remo e marquei gols nas duas partidas. O sentimento era de aproveitar a oportunidade. Tinha 47 quilos e era um sonho, mas tinha que dar meu jeito de compensar isso. Já tinha jogado contra a Tuna, um amistoso, na despedida do Guimarães. Eu entrei no segundo tempo e tive uma atuação não muito convincente, mas ganhei experiência. Até os jornais disseram que eu estava 'meio verde' ainda. Veio o amadurecimento e no Re-Pa eu provei que poderia seguir no time.[12] | ” |
Por essa conquista do estadual de 1956 encerrar um longo jejum do Paysandu,[34] o craque, em 2015, declararia que aquele primeiro título foi também o mais importante da carreira.[35] Foi eleito também a revelação do torneio,[1] em meio a uma campanha que passou por pequenas turbulências, com a demissão do técnico Arlindo Dourado após a nona rodada: o jogador Natividade estava insatisfeito em ser escalado na defesa ou na linha média, pleiteando um lugar no ataque, acabando então por liderar um motim contra o treinador. Dourado foi demitido,[36] mas em seu lugar, de forma inédita, assumiu o diretor de futebol do clube, Arnaldo Moraes Filho. Sentindo suposta falta de disciplina nos atletas em função de rotineiros atrasos e ausências nos treinamentos, o sucessor impôs rigidez.[37] Foi justamente Moraes Filho quem passou a dar oportunidades a Quarentinha.[36] Foi o fim de um ano festivo: além do título profissional e de aspirantes, o Paysandu também foi campeão também na categoria juvenil.[38]
Em 1957, foi novamente campeão e, dessa vez, eleito o jogador do ano,[1] marcado também por uma vitória de 3–0, no estádio da Tuna Luso, sobre o Cerro Porteño, que possuía seis jogadores da seleção paraguaia e passara invicto contra os rivais bicolores Tuna (1–1) e Remo (2–1).[39] Um dos paraguaios derrotados pelo elenco apelidado de "Demolidor de Cartazes" foi Cayetano Ré,[40] que seria artilheiro do campeonato espanhol pelo Barcelona.[41]
O título estadual de 1957, por sua vez, veio de forma especial: o Paysandu venceu dois clássicos finais com o Remo, por 2–1 (com Quarentinha marcando em partida na qual sofreu violento chute em sua rótula desferido pelo zagueiro adversário Ribeiro[42]) e 1–0, mas ainda assim perderia o título se fosse derrotado no terceiro, o que acontecia por 3–2 até os instantes finais, quando houve o empate. Quarentinha jogou até o fim essa partida, realizada já em 16 de março de 1958,[43] mesmo tendo fraturado uma clavícula. Foi sua primeira lesão séria no futebol.[1]
Além do título válido pelo campeonato de 1957, o ano de 1958, cujo campeonato próprio terminou vencido pela Tuna,[44] rendeu a Quarentinha também a primeira convocação à seleção paraense. Foi em 15 de janeiro, na primeira vez em que uma equipe do Pará jogou no estádio do Maracanã, em derrota amistosa de 4–0 para o Fluminense.[15] Mesmo sem o título estadual, Quarentinha, tal como em 1957, foi novamente eleito o melhor jogador do ano no futebol paraense.[1]
O título voltou ao Paysandu em 1959, não sem percalços: Quarentinha foi expulso em um 0–0 no Re-Pa, em clássico, no fim de outubro, que rendeu a conquista do segundo turno, reagindo a xingamentos e puxões de camisa da torcida adversária quando cobrava arremessos laterais.[45] Foi algo raro: Quarentinha foi expulso somente seis vezes em mais de setecentos jogos.[1] O campeonato só foi retomado já em fevereiro de 1960;[45] nesse intervalo, os clubes cederam jogadores à seleção paraense para o Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais. O Pará conseguiu o título simbólico de campeão do norte,[1] mas sem poder contar até o fim com Quarentinha,[15] que fraturou o perônio direito em duelo com o adversário Moésio,[1] em amistoso em dezembro com a seleção cearense em paralelo ao campeonato. Justamente nesta partida, marcou seu único gol pelo Pará, em dez jogos.[15]
Em março de 1960, já recuperado da sua segunda lesão séria, voltando a disputar o campeonato paraense ainda válido por 1959 e fazendo-se presente nos três clássicos extras com o Remo. O desenlace ocorreu de forma bastante similar ao ocorrido no torneio de 1957: o rival era campeão com vitória parcial de 3–2 e sua torcida já comemorava, mas o título ficou com os alvicelestes graças a um gol nos últimos segundos, de Ércio. Foi uma vingança pessoal de Quarentinha: no segundo jogo da série, vencido por 3–1, ele precisou sair novamente carregado, diretamente ao Pronto Socorro Municipal, após entrada violenta do rival Socó.[45] Essa conquista teve ainda outro sabor adicional, o de igualar Paysandu e Remo como maiores campeões estaduais, com ambos tendo 19 taças.[13]
O primeiro tricampeonato
editarO Remo, inicialmente, retomou a vantagem de maior campeão estadual isolado, ganhando o título válido propriamente pelo ano de 1960. E o Paysandu de Quarentinha imediatamente voltou a se igualar, em 1961.[13] Foi outro certame só encerrado na realidade no ano seguinte, já em abril de 1962.[26] Novamente, Quarentinha precisou superar uma fratura, em janeiro de 1962, em disputa com Antoninho em clássico com a Tuna encerrado em 1–1. Foi sua terceira e última fratura na carreira.[1] Voltou a jogar em março, na partida que rendeu o título de campeão do segundo turno, forçando final com o Remo. O Paysandu, que não havia começado bem o certame, reagiu após a contratação do célebre técnico Gentil Cardoso. Quarentinha esteve nos três jogos que se fizeram necessários, todos no campo neutro da Tuna: os dois primeiros foram empatados em 2–2 e em 0–0, com o título indo para os bicolores após um triunfo de 1–0.[26]
O título estadual de 1962, com Gentil Cardoso sendo mantido na maior parte do campeonato, veio de forma mais fácil.[27] O sabor especial da conquista aos torcedores bicolores residiu no fato de ela fazer os alvicelestes ultrapassarem o Remo. Na ocasião, eram 20 conquistas remistas e 21 do Paysandu.[13] No ano de 1962, em dezembro, Quarentinha também jogou algumas das últimas vezes pela seleção paraense. Foi no Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais. A seleção, após aquele ano, só seria retomada em 1971.[15]
Um tricampeonato estadual veio em 1963 com a única turbulência ocorrendo em uma goleada sofrida de 7–1 para a Tuna, com Quarentinha fazendo o gol do desconto. Nas demais partidas, sobressaiu-se como armador para as conclusões dos artilheiros Carlos Alberto Urubu e Vila.[46] Naquele ano, Quarentinha voltou a participar também do campeonato estadual de aspirantes e foi igualmente campeão.[1]
O ano de 1964 rendeu, em 21 de junho, o curioso confronto dos Quarentinhas, em amistoso contra o Botafogo onde jogava o centroavante paraense de mesmo apelido, cuja biografia O Artilheiro que não sorria menciona o encontro como "inusitado". Os cariocas venceram por 5–0.[47] Posteriormente, o craque do Paysandu precisou submeter-se a uma operação, ficando afastado dos jogos por quase toda a temporada - foi em sua ausência que o clube promoveu a entrada do jovem Beto no time adulto, improvisado como meia-armador embora fosse volante defensivo.[48] O Remo, naquele ano, acabou por voltar a ganhar o título estadual.[13]
O segundo tricampeonato
editarEm 1965, além de um título estadual fácil (Quarentinha marcou no 4–1 sobre o clube Júlio César, na partida que assegurou por antecipação a conquista; também marcou o gol do título do primeiro turno, o único em em um Re-Pa na casa adversária), com dez vitórias em doze jogos garantido em uma data festiva em 22 de novembro no qual o Paysandu conseguiu também títulos estaduais nas categorias juvenil e aspirante, outros momentos destacados ocorreram. O clube contratou um treinador que seria exitoso, o uruguaio Juan Álvarez, e o renomado goleiro Castilho,[49] participante de quatro Copas do Mundo e vencedor de duas.[50] E, com Quarentinha presente, ganhou o título invicto em torneio internacional que reuniu Fast, Fortaleza e Transvaal.[51] Mais marcante ainda foi a vitória por 3–0 sobre o Peñarol, equipe das mais poderosas mundialmente na época[52][53][54] e que mantinha uma invencibilidade de treze partidas, com recentes vitórias contra brasileiros naquele ano sobre Santos (3–2, após derrota de 5–4, e 2–1, todos pela Taça Libertadores da América de 1965) e Fluminense (3–1 em amistoso no Maracanã).[55] A vitória sobre os uruguaios rendeu crônica de Nelson Rodrigues no jornal O Globo, na época.[56] Três dias mais tarde, Quarentinha figurou em novo bom resultado contra os uruguaios, que só aos 42 minutos do segundo tempo conseguiram empatar em 1-1 contra um combinado entre Paysandu e Tuna.[57]
O título estadual de 1966 teve o sabor extra de ocorrer no ano em que se celebravam os 350 anos da cidade de Belém,[58] o que motivou também um torneio municipal, igualmente vencido por Quarentinha e o Paysandu, de forma invicta.[59] O Estadual também veio de forma invicta, com Quarentinha marcando no jogo final contra o Remo, vencido por 3–1.[60] Ele também esteve em outra vitória no Re-Pa, um 2–0 em amistoso na casa adversária assegurado a despeito disso e do rival, que celebrava 60º aniversário, contar especialmente para a ocasião com o celebrado Nilton Santos.[61]
Em 1967, o clube excursionou de forma invicta pelas Guianas e pelo Caribe, chegando a ganhar duas vezes da seleção de Trinidad e Tobago (2–1 e 1–0).[62] E conquistou novo título estadual de forma das mais lembradas, após seis Re-Pas seguidos em um espaço de 26 dias: o segundo turno terminou empatado entre os dois rivais, forçando jogo-extras. O primeiro terminou empatado e o segundo foi vencido pelo Remo. Como os alvicelestes haviam vencido o primeiro turno, fez-se necessário mais jogos. Os dois primeiros terminaram empatados, com a vitória bicolor por 2–0 no terceiro enfim finalizando o campeonato.[63]
O tricampeonato acumulou ao todo 36 vitórias do Paysandu em 47 jogos, com apenas três derrotas. O disputadíssimo torneio de 1967 também foi disputado em contratações de treinadores: o ex-goleiro Castilho agora treinava o ex-clube enquanto o Remo era treinado por outro ex-craque, Zizinho.[64] Aquele foi precisamente o ano que mais teve Re-Pas, dezessete, em média um a cada vinte dias.[4] E Quarentinha terminou o ano eleito como "o craque mais querido do futebol paraense".[1]
Os três últimos títulos e a aposentadoria
editarEm 1968, o tetracampeonato estadual não veio,[13] em função de um gol sofrido nos cinco minutos finais no Re-Pa decisivo, empatado em 2–2. O Paysandu assegurava o título após virar a partida e vencer por 2–1, até uma jogada irregular originar o gol de empate, favorável ao rival. O goleiro alviazul, ao cobrar uma falta, passou a bola ao zagueiro Abel. O oponente Amoroso interceptou a jogada e na sequência marcou o gol, que deveria ser anulado por impedimento conforme as regras da época - o juiz, porém, estava de costas no momento. Abel havia defendido por dez anos o Remo e vinha de família azulina, o que não o impediu de protestar: "o lance foi irregular, pois o jogador adversário tinha que estar a uma distância de nove metros. O bandeirinha, Theodorico Rodrigues, remista que só ele, viu tudo, mas não falou nada para o árbitro".[65]
Por outro lado, naquele ano Quarentinha e o Paysandu destacaram-se pela vitória de 1–0, no estádio da Curuzu, sobre a seleção romena, uma das mais fortes da Europa na época e que se classificaria à Copa do Mundo FIFA de 1970.[66]
Novo título estadual veio em 1969, com o meia-esquerda municiando um ataque que marcou 126 gols em 17 jogos, em especial os do artilheiro Bené.[67]
Em 1970, o campeonato daquele ano alongou-se para o ano de 1971 e terminou vencido pela Tuna, a sofrer na "Era Quarentinha" um jejum de doze anos,[68] em contraste ao fato de ter sido campeã oito vezes entre 1937 e 1958.[13] Em contrapartida, ao longo de 1970 o Paysandu estabeleceu a maior quantidade de clássicos seguidos sem derrotas para o Remo: foram treze Re-Pas invictos, entre 29 de janeiro e 9 de dezembro.[19] A sequência incluiu um W.O. em 23 de em julho de 1970 (ocasião em que foi disputado apenas o primeiro tempo, com o presidente remista ordenando a retirada de seus jogadores ao inteirar-se em viagem de Salinópolis a Belém que o jogo seria arbitrado por um juiz vetado pelo clube[69]) e um 4–1 em 9 de dezembro.[19] Quarentinha esteve em nove jogos desta série, incluindo nestes dois clássicos em especial.[69]
Ainda em 1971, concluiu-se o campeonato próprio daquele ano. Quarentinha, ainda titular, esteve em uma conquista bastante celebrada: o título veio com vitória de virada por 3–2 na prorrogação contra o arquirrival Remo, que vencia por 2–0 em plena Curuzu, em outubro. A rivalidade jamais teve outra virada parecida.[70] Foi um dos últimos Re-Pas de Quarentinha: o último ocorreu ainda naquele ano, em dezembro, em amistoso em 0–0 no estádio rival.[4] Ainda em 1971, receberia um diploma de "honra ao mérito" outorgado pela Câmara Municipal de Belém.[1]
Em 1972, já veterano, o ídolo atuou apenas três vezes no Estadual daquele ano, todas no mês de maio, contra equipes menores e saindo do banco. Foi em um certame finalizado em setembro.[71] Sua participação foi o suficiente para acumular mais um título de forma especial: foi no ano do sesquicentenário da Independência do Brasil, com a necessidade de um Supercampeonato: o campeonato regular terminou empatado entre Paysandu, Tuna e Remo, forçando um turno extra.[72]
No ano de 1973, o Paysandu jogaria pela primeira vez a fase moderna, inaugurada em 1971, do Campeonato Brasileiro de Futebol, a partir de agosto.[73] Porém, o ídolo já não estaria presente; seu jogo de despedida, um 0–0, ocorreu em 8 de abril de 1973, data que escolhera, com o reconhecimento dos dois adversários: foi em amistoso contra a Tuna Luso realizado no estádio do Remo.[1] Jogou os 45 minutos iniciais, retirando então a camisa e as chuteiras[3] para receber diversas homenagens e dar uma volta olímpica com familiares e admiradores, fotografando-se tanto com os colegas como também, em separado, com os adversários tunantes. Toda a renda da partida foi destinada ao ídolo.[1][6]
Legado
editarQuarentinha, que não era notabilizado como um goleador e sim pela armação de jogadas, segue como 12º maior artilheiro do Paysandu. Foram 86 gols. Chegou a ser o oitavo maior, sendo depois superado por Cabinho, atual quinto maior, com 127 gols na década de 1980; Zé Augusto, atual sétimo maior, com 118 gols da década de 1990 à de 2010; Edil Highlander, atual décimo maior, com 95 gols da década de 1980 à de 2000; e Robgol, atual 11º maior, com 91 gols na década de 2000; todos estes tiveram passagem posterior pelo time.[14]
As jogadas do meia também contribuíram substancialmente para outros jogadores ficarem à sua frente na lista, em especial nos casos de Bené (o recordista, com 249 gols) e Carlos Alberto Urubu (atual quinto maior, com 130).[74] Outros contemporâneos que puderam ficar à frente são os atuais oitavo e nono maiores goleadores do clube, respectivamente Ércio (104 gols) e Vila (100).[14]
Sem a concorrência de Quarentinha, o Remo voltaria a conseguir títulos seguidos pela primeira vez desde 1954, logrando um tricampeonato entre 1973 e 1975,[13] período em que chegou a abrir 24 jogos seguidos de invencibilidade no Re-Pa, entre 17 de abril de 1973 e 10 de março de 1976.[19] Anteriormente, o cenário era diverso: à altura do clássico 300, em 1964, o Remo tinha somente uma vitória a mais, com 107 triunfos. O Paysandu igualou-se no clássico 301, vencendo pela 107ª vez, no recordado segundo duelo da série de três válidas ainda pelo campeonato estadual de 1959, na qual o craque precisou sair de campo diretamente ao Pronto Socorro Municipal.[75]
Em 1969, quando a rivalidade chegou ao 400º jogo, o Paysandu reunia 141 vitórias e o Remo, 139,[76] ainda antes do tabu máximo de treze jogos a favor dos bicolores em 1970.[19] A vantagem voltou a ser remista a partir de meados da década de 1970; no clássico de número 500, em 1979, o Remo reunia 174 vitórias e o Paysandu, 166.[18] Permanece azulina na década de 2010.[4] Quarentinha é apontado como o principal responsável por fazer a torcida do Paysandu crescer de modo a se equiparar à do Remo.[3][20]
Após parar de jogar
editarQuarentinha, em paralelo à carreira de jogador, trabalhava desde 1958 no serviço de identificação civil da Polícia Militar. Posteriormente, foi remanejado para o Serviço de Identificação da Secretaria de Segurança Pública, se aposentando em 1986 como perito policial. Em tempos em que a profissão de jogador de futebol não era tão lucrativa, teve como único bem material adquirido por meio dela a casa onde reside.[1] A aposentadoria do futebol profissional não o afastou dos gramados, continuando a participar regularmente de campeonatos amadores por um time chamado Fuzuê.[3] Entre 1973 e 1974 também trabalhou no Paysandu como auxiliar técnico, inicialmente de Miguel Cecim, e ocasionalmente como treinador principal.[3]
No ano de 2014, o Paysandu homenageou Quarentinha com uma estátua no estádio do clube, que celebrava o centenário enquanto o craque completava 80 anos.[77] Quarentinha tornou-se o primeiro futebolista paraense homenageado com uma estátua completa.[4] No ano seguinte, foi homenageado com uma linha de camisas do clube.[78] Antes, em 2013, sua imagem já havia sido representada em uma série cards alusivos ao futebol paraense lançados pelo jornal Diário do Pará.[79]
Quarentinha segue no Paysandu atualmente, como um dos "beneméritos atletas" do Conselho Deliberativo do clube.[21]
Quarentinha e Alcino
editarO fim da carreira de Quarentinha coincidiu com o início, no futebol paraense, da trajetória de Alcino,[80] considerado o maior ídolo do rival Clube do Remo.[81] O ano de 1971, em que Alcino chegou ao futebol paraense, foi o único em que se enfrentaram, pois Quarentinha já não participou do clássico em 1972 e em 1973.[4] Ambos duelaram nove vezes. Os confrontos foram equilibrados, com três vitórias para cada um e três empates. Alcino, que jogava em posição mais ofensiva, marcou mais vezes, mas Quarentinha terminou como campeão.[82]
Alcino e Quarentinha também chegaram a jogar lado a lado. Oficialmente, foi uma única vez, pela seleção paraense, que em novembro de 1971 jogou pela primeira vez desde 1962. Foi em amistoso em 1–1 com o Porto, com Alcino marcando o gol do Pará sobre os portugueses. Foi o último jogo de Quarentinha pela seleção.[15] Apesar da fama temperamental do rival, ambos construíram relação cordial. Quarentinha foi um dos entrevistados pela biografia de Alcino publicada em 2017, aparecendo em uma das fotos da seção-galeria do autor com outros entrevistados e doadores.[83] A respeito do rival, declarou que Alcino era "criança grande, sem maldades no coração. Fora de campo, o Alcino era uma coisa e dentro era outra".[84]
O autor do livro, sobrinho-bisneto do autor do hino do Remo, admitiu em 2016 que a inspiração para a obra foi o desejo de uma homenagem equiparável à feita pelo Paysandu em 2014 com a estátua de Quarentinha: "eu peguei essa ideia do (livro do) Alcino na Inglaterra, porque lá não importa se é o Manchester United ou um time da quinta divisão, os times têm uma estátua do melhor jogador, um livro sobre ele, valorizam essa história. Eu vi que aqui em Belém não valorizam tanto. Achei bacana que o Paysandu fez uma estátua do Quarentinha. Por que o Remo não pode ter o mesmo?".[81] A biografia assume que Alcino só pôde começar a ter títulos estaduais após a aposentadoria de Quarentinha e outros veteranos remanescentes alviazuis da década de 1960.[84]
Declarações
editarEm 2015, sobre a longeva carreira:
“ | Não existe futebol moderno, existem métodos modernos. Muito do que se fazia antes se faz agora. Tem-se a mania de não respeitar mais o jogador quando se chega a 30. Na minha época, íamos até os 40 anos e os campos era piores. Com 30 anos, o jogador é considerado velho, nem tanto pelo excesso de treinos e sim pela forma como treinam.[12] | ” |
Modéstia ao ser homenageado com uma linha de camisas do Paysandu, também em 2015:
“ | Para mim é uma satisfação muito grande, mas eu recebo essa homenagem representando uma categoria de jogadores que estiveram comigo naquela época. Ninguém deve levar como vaidade o esforço que foi coletivo, e o esforço que não depende apenas de um. Vesti a camisa do Paysandu por 18 anos e dentro do clube conquistei 12 títulos com esta camisa. Agradeço a todos que me ajudaram na minha caminhada como jogador e a todos que me propuseram esta grande homenagem.[78] | ” |
Em 2017, sobre a fidelidade ao Paysandu:
“ | Hoje em dia você não vê um atleta ficando mais que dois anos em um time. Por isso, me orgulho de ter dedicado quase 20 anos da vida ao Paysandu, onde sempre sou bem recebido e recebo homenagens até hoje.[85] | ” |
Títulos
editar- Paysandu
- Seleção Paraense
- Etapa Norte do Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais: 1959[1]
Referências
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Trata-se do meia que defendeu-o dos anos 50 aos 70 e é o maior campeão estadual do Brasil, com doze taças.
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