Taudeni
Taudeni (em francês: Taoudenni, Taoudeni; em berbere: Tawdenni) ou Taudenite (em francês: Taoudénit) é um remoto centro de mineração de sal situado em um oásis na região desértica do norte do Mali, 664 quilômetros a norte de Tombuctu. O sal, explorado secularmente,[1] é cavado à mão do leito de um antigo lago salgado, cortado em lajes e transportado de caminhão ou por camelo para Tombuctu.
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Cidade | ||
Lajes de sal das minas de Taudeni empilhados no cais no porto de Mopti | ||
Localização | ||
Localização de Taudeni no Mali | ||
Coordenadas | 22° 40′ N, 3° 59′ O | |
País | Mali | |
Região | Tombuctu | |
Características geográficas | ||
Fuso horário | GMT (UTC+0) |
As caravanas de camelo (azalai) de Taudeni são algumas das últimas que operam no deserto do Saara. No final da década de 1960, durante o regime de Moussa Traoré, uma prisão foi construída no sítio e o internos foram forçados a trabalhar nas minas. A prisão foi fechada em 1988.
Mineração de sal
editarA menção mais antiga a Taudeni está presente na História do Sudão de al-Sadi que escreveu que em 1586, quando 200 mosqueteiros marroquinos atacaram o centro de mineração de sal de Tagaza (150 quilômetros a noroeste de Taudeni), alguns dos mineiros mudaram-se para Taudani.[2] Em 1906, o soldado francês Édouard Cortier visitou Taudeni com uma unidade soldados montados em camelos (mearistas) e publicou a primeira descrição das minas.[3] À época o único edifício era o alcácer de Smida que possuía uma muralha circundante com uma única entrada pequena no lado ocidental. As ruínas do alcácer estão 600 metros ao norte do edifício da prisão.[4]
As minas de Taudeni estão localizadas no leito dum antigo lago salgado. Os mineiros utilizam machados brutos para cavar poços que geralmente medem 5 metros por 5 metros com profundidade de 4 metros. Os mineiros primeiro removem 1,5 metros de sobrecarga de barro vermelho, então várias camadas de sal de baixa qualidade antes de alcançarem três camadas de sal de alta qualidade. Ele é cortado em lajes irregulares que medem em torno de 110 centímetros por 45 centímetros e possuem espessura de 5 centímetros e peso em torno de 30 quilos. Duas das camadas de alta qualidade são de espessura suficiente para serem divididas pela metade de modo que 5 lajes podem ser produzidas das três camadas. Tendo removido o sal da área da base do poço, os mineiros escavam horizontalmente para criar galerias das quais lajes adicionais podem ser obtidas.[5]
Quando um poço está exaurido, outro é cavado de modo que atualmente milhares de poços espalham-se por uma ampla área. Através dos séculos foi extraído de três áreas distintas da depressão com cada área nova sucessivamente se situando mais a sudoeste.[1] As três áreas podem ser vistas claramente em fotografias por satélite. À época da visita de Édouard Cortier em 1906, a área mineradora estava 3 quilômetros ao sul do alcácer,[6] na década de 1950 elas estavam a 5 quilômetros,[7] e atualmente a 9.[8]
Em 2007-2008, havia aproximados 350 times de mineiros com cada time geralmente consistindo de um mineiro experiente com 2 trabalhadores dando um total aproximado de 1000 homens. Os homens vivem em cabanas primitivas construídas de blocos de sal de qualidade inferior e trabalham nas minas de outubro a abril, evitando os meses mais quentes do ano quando apenas cerca de 10 deles residem ali.[9][10]
As lajes são transportadas através do deserto via o oásis de Arauane para Tombuctu. No passado, elas foram sempre carregadas por camelos, mas recentemente algumas delas são removidas por caminhões de quatro rodas.[11] A jornada com camelos para Tombuctu leva cerca de três semanas com cada camelo carregando quatro ou cinco lajes. O acordo tradicional é que para cada quatro lajes levadas à Tombuctu uma é dos mineiros e as outras três são o pagamento dos proprietários dos camelos.[12]
Até meados do século XX, o sal foi transportado em duas grandes caravanas de camelos (azalai) uma dirigida a Tombuctu no começo de novembro e uma segunda deixando Tombuctu no final de março no fim da estação;[13] elas são algumas das últimas caravanas ainda ativas no Saara. Horace Miner, um antropólogo estadunidense que gastou sete meses na cidade, estimou que em 1939-40 a caravana de inverno consistia de mais de 4 000 camelos e que a produção total englobava 35 000 lajes de sal.[14]
Prisão
editarUm entreposto militar e prisão foram construídos em Taudeni em 1969 durante o regime de Moussa Traoré.[15] A prisão foi utilizada para deter prisioneiros políticos até 1988, quando foi fechada.[16] Muitos dos prisioneiros eram oficiais do governo que haviam sido acusados de conspirar contra o regime.[17] Os prisioneiros trabalharam nas minas de sal e muitos deles morreram. À leste das ruínas do edifício da prisão está um cemitério contendo 140 túmulos dos quais apenas uma dúzia tem nomes. Eles incluem:[8]
- Yoro Diakité, chefe do primeiro governo provisório após o golpe de 19 de novembro de 1968, que morreu em 1973;
- Tiécoro Bagayoko, chefe dos serviços de segurança de 1968 a 1978, que morreu em agosto de 1983;
- Kissima Doukara, o ministro de defesa entre 1968-1978;
- Youssouf Balla Sylla, chefe de política do terceiro distrito de Bamaco;
- Jean Bolon Samaké, chefe da circunscrição de Gundam em 1969, que morreu em 1973;
Clima
editarTaudeni é um sítio remoto na região mais quente do planeta, situado a centenas de milhas das localidades habitadas mais próximas de qualquer tamanho. A região está em meio ao deserto do Saara, na porção sul do Tanezrufte (uma das áreas mais inóspitas do planeta, conhecida por seu calor extremo e aridez) e apresenta uma versão extrema do quente clima desértico (Classificação climática de Köppen-Geiger). A região apresenta um clima tórrido, hiperárido com claridade ininterrupta o ano todo. As temperaturas médias elevadas excedem 40 °C de abril a setembro e alcançam um pico extremo de 48 °C em julho, o mais alto valor para uma área com elevação acima do nível do mar.[18]
Os invernos também são muito quentes comparado à média mundial. As temperaturas médias elevadas aproximam-se de 27 °C no mês mais frio. A temperatura diária média anual está em torno de 29 °C, colocando-a entre as mais altas no mundo. A média de precipitação anual está entre 10 e 20 milímetros que precipitam sobretudo de julho a outubro.[18] Na média, Taudeni têm 3 700 horas de iluminação anualmente, com 84% das horas diárias sendo ensolaradas. O sítio está também situado em uma das regiões mais secas do globo.[19]
Referências
- ↑ a b Trench 1982, p. 119.
- ↑ Hunwick 2003, p. 167.
- ↑ Cortier 1906, p. 328-330.
- ↑ Cortier 1906, p. 327.
- ↑ Clauzel 1960, p. 23-54.
- ↑ Cortier 1906, p. 328.
- ↑ Clauzel 1960.
- ↑ a b Papendieck 2007, p. 9.
- ↑ Papendieck 2007, p. 7.
- ↑ Trench 1982, p. 123.
- ↑ Harding 2009.
- ↑ Clauzel 1960, p. 90.
- ↑ Miner 1953, p. 66 n27.
- ↑ Miner 1953, p. 68.
- ↑ Papendieck 2007, p. 7, para. 6.
- ↑ Projeto Minorias em Risco 2004.
- ↑ Sangaré 2011.
- ↑ a b «Climat - Teghaza»
- ↑ Fabre 1988.
Bibliografia
editar- Clauzel, Jean (1960). L'exploitation des salines de Taoudenni. Alger: Universidade de Alger, Instituto de Pesquisas Saelianas
- Cortier, Édouard (1906). «De Tombouctou à Taodéni: Relation du raid accompli par la compagnie de méharistes du 2e Sénégalais commandée par le capitaine Cauvin. 28 février -17 juin 1906». La Géographie. 14 (6): 317–341
- Fabre, Jean; Petit-Maire, Nicole (1988). «Holocene climatic evolution at 22–23 ° N from two paleolakes in the Taoudenni area (Northern Mali)». Palaeogeography Palaeoclimatology Palaeoecology. 65 (3-4): 133-148. doi:10.1016/0031-0182(88)90020-X
- Harding, Andrew (2009). «Timbuktu's ancient salt caravans under threat»
- Hunwick, John O. (2003). Timbuktu and the Songhay Empire: Al-Sadi's Tarikh al-Sudan down to 1613 and other contemporary documents. Leida: Brill. ISBN 90-04-12560-4
- Meunier, D. (1980). «Le commerce du sel de Taoudeni». Journal des Africanistes. 50 (2): 133–144. doi:10.3406/jafr.1980.2010
- Miner, Horace (1953). The primitive city of Timbuctoo. [S.l.]: Princeton University Press
- Papendieck, Barbara; Papendieck, Henner; Schmidt, Wieland (2007). «Logbuch einer Reise von Timbuktu nach Taoudeni 23.–28.12. 2007» (PDF). Mali-Nord
- Projeto Minorias em Risco (2004). «Chronology for Tuareg in Mali»
- Sangaré, Samba Gaïné (2011). «Témoignage: Dans l'enfer de Taoudénit». DiasporAction. Cópia arquivada em 3 de fevereiro de 2013
- Trench, Richard (1982). Forbidden Sands: A Search in the Sahara. Chicago: Academy Chicago. ISBN 0-89733-027-7