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Emmanuel Alves Moreno (Salvador, 30 de outubro de 1947), de nome artístico Tutty Moreno, é um baterista de Música Popular Brasileira (MPB).

Tutty Moreno
Tutty Moreno
Tutty Moreno em show no Museu de Arte da Pampulha (BH), em 2014
Informação geral
Nome completo Emmanuel Alves Moreno
Nascimento 30 de outubro de 1947 (77 anos)
Origem Salvador, BA, Brasil
Gênero(s) Jazz
MPB
Bossa nova
Instrumento(s) bateria

Carreira

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Tutty manifestou aptidão para a música ainda na infância, quando começou a tocar trompete e, em seguida, sax alto, até encontrar seu instrumento definitivo: a bateria. Tinha 16 anos e iniciava ali uma carreira em que se destacam a atuação em discos e shows históricos da MPB; a produção de seis álbuns, entre os quais Nonada, indicado ao Grammy Latino de 2008 na categoria Melhor Álbum de Jazz; e a parceria com Joyce Moreno em todos discos e shows feitos pela artista desde que se conheceram e passaram a viver juntos, em 1977.[1][2][3]

Embora tenha estudado no Seminário de Música da Universidade Federal da Bahia (UFBA), é autodidata em seu instrumento [4], pelo qual abandonou os sopros depois de conhecer o trabalho de Edison Machado, o inventor do samba no prato da bateria.[5] Seu primeiro trabalho como profissional ocorreu nos anos 60, quando foi contratado pela TV Itapoã (BA) para integrar o Carlos Lacerda Trio, período em que também participou do Perna's Trio, com Perna Fróes e Moacir Albuquerque, e da Orquestra Avanço.

Tropicália e MPB

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Em 1970, foi para Londres e passou a tocar nas bandas de Caetano Veloso e Gilberto Gil, assinando a bateria nos discos Transa (álbum), de Caetano, e Live in London '71, show de Gil e Gal Costa gravado ao vivo. De volta ao Brasil dois anos depois, Tutty Moreno atuou em outros álbuns considerados marcos da Tropicália, caso de Expresso 2222, de Gil; Araçá Azul, de Caetano; Cantar, de Gal; e Jards Macalé (disco de 1972), de Jards Macalé com Lanny Gordin; e da MPB, como Sinal Fechado, de Chico Buarque; Caetano e Chico Juntos e Ao Vivo; e Drama, Álibi, Mel e Nossos Momentos, todos de Maria Bethânia, para citar alguns exemplos.[1]

Em 1973, quando nasceu sua primeira filha, Kadi, mudou-se para São Paulo e integrou o Lanny Gordin Trio, que se apresentava em casas noturnas. No ano seguinte iniciou uma nova etapa, agora nos Estados Unidos, trabalhando em Los Angeles e no circuito jazzístico de Nova York com músicos como os pianistas Guilherme Vergueiro e Larry Willis, e os contrabaixistas Walter Booker e Frank Clayton.[1] Em 1977, ao conhecer Joyce, que fazia uma temporada de shows em Nova York, retornou com ela para o Rio de Janeiro.[3]

Com Joyce Moreno, teve a segunda filha, e imprimiu o estilo de sua bateria nas dezenas de discos e shows que ela faria a partir do lançamento de Feminina (álbum), em 1980. Além das apresentações no Brasil, essa agenda inclui turnês anuais na Europa, no Japão, nos Estados Unidos e no Canadá.

Paralelamente, Tutty Moreno seguiu participando de apresentações e gravações de outros artistas, entre os quais Milton Nascimento, Elizeth Cardoso, Alcione (cantora) e Maria Bethânia; e de discos instrumentais com diversos músicos, entre os quais o clarinetista Paulo Sergio Santos, o flautista e saxofonista Teco Cardoso e o pianista, arranjador e compositor Mozar Terra.

Produção instrumental

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Nos anos 90, integrou também a banda Quarteto Livre, que produziu, em 1996, o álbum Pra Que Mentir? No mesmo ano, o baterista lançou, pela gravadora inglesa Far Out Recordings, Tocando, Sentindo, Suando - Tutty Moreno & Friends, no qual incluiu a composição própria Piancó. O trabalho tem participação e coprodução de Joyce e foi relançado dez anos depois, rebatizado com o nome de uma das músicas da artista, chamada Mágica.[3][6]

Em 1998, o artista apresentou o álbum Forças D'Alma, com o Tutty Moreno Quarteto, composto pelo então jovem pianista André Mehmari; o saxofonista, clarinetista e arranjador Nailor Proveta e o contrabaixista e produtor musical Rodolfo Stroeter. O disco destacou-se por uma nova linguagem na bateria, melódica e harmônica, e foi aclamado pela crítica especializada como um dos mais importantes lançamentos instrumentais do ano.

Nos Estados Unidos, a revista JazzTimes ressaltou na abertura de sua análise sobre o disco: “Se você não fosse informado de que este é um álbum de jazz brasileiro, tocado por um baterista brasileiro, você nunca adivinharia. Nada de batidas “to-tap-tap-tap“ gratuitas de bossa nova, nada de percussão estridente. Em vez disso, é uma coleção de profundas reformulações de jazz, no melhor sentido do final do século 20, de um punhado de músicas que representam alguns dos compositores mais interessantes e complexos do Brasil.”[1][7][8][9]

Anos 2000

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O CD seguinte viria quase dez anos depois. Ainda que a parceria fosse permanente desde que se conheceram, Tutty e Joyce só lançaram o primeiro trabalho em dupla em 2007, pela Far Out Recordings. Samba Jazz & Outras Bossas foi concebido para comemorar os 30 anos de união do casal e homenagear os ídolos que, na juventude, foram decisivos na formação musical de ambos. No encarte do disco, que saiu no Brasil em 2011 pela Biscoito Fino, eles declaram amor à bossa nova, ao jazz, ao samba e a "toda a música criativa".[5]

Um ano depois, o quarteto de Forças D'Alma se reuniu novamente, chamou Teco Cardoso, e produziu Nonada, cujo repertório reúne composições de grandes nomes da MPB. Indicado a Melhor Álbum de Jazz no Grammy Latino de 2008, “Nonada representa a qualidade dos instrumentistas que constroem a música brasileira no momento atual, com o pé fincado em nossas matrizes, mas extrapolando com total liberdade as novas possibilidades", pontua texto de apresentação do trabalho no site do Museu da Imagem e do Som.[2]

Em 2017, o quarteto de Forças D'Alma e Nonada voltou a se reunir para um novo projeto, o disco Dorival, que apresenta uma abordagem jazzística à obra de Dorival Caymmi[10] e no qual "os músicos jogam a rede para puxar outros sons e harmonias no mar profundo de Caymmi", segundo o crítico especializado Mauro Ferreira.[11] O álbum foi gravado em Oslo, na Noruega, em 2016, e lançado pela gravadora Pau Brasil em 2017 para o público brasileiro.

Tutty Moreno, Rodolfo Stroeter, André Mehmari e Nailor Proveta também participaram da pré-produção e da gravação de Áfrico, obra do compositor Sérgio Santos (músico) lançada pela Biscoito Fino em 2002 e vencedora do Prêmio Rival-BR de Melhor Disco daquele ano.[12] É o disco que inaugura oficialmente a Discoteca Básica Brasileira do Século XXI do Museu da Imagem e do Som.[13]

Discografia

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  • Pra Que Mentir? (1996) Lumiar Discos  CD
  • Tocando, Sentindo, Suando - Tutty Moreno & Friends (1996) Far Out Recordings (Inglaterra) LP CD
  • Forças D’Alma (1998) Sons da Bahia/Malandro Records (EUA) CD
  • Samba Jazz & Outras Bossas, com Joyce Moreno (2007) Biscoito Fino/Far Out Recordings (Inglaterra) CD
  • Nonada (2008) Pau Brasil  CD
  • Dorival (2017) Pau Brasil  CD

Referências

  1. a b c d «dicionariompb.com.br/tutty-moreno». Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. Consultado em 13 de agosto de 2020 
  2. a b «MIS Blog/ Discoteca Básica/ RODOLFO STROETER, TUTTY MORENO, ANDRÉ MEHMARI, NAILOR PROVETA E TECO CARDOSO – NONADA (2008)». MIS. Consultado em 13 de agosto de 2020 
  3. a b c . «Joyce e Tutty Moreno comemoram 30 anos de união afetiva e instrumental». www.correiobraziliense.com.br. Consultado em 13 de agosto de 2020 
  4. «Baterista Tutty Moreno recebe Moreno Veloso e Davi Moraes no Rio». Rede Brasil Atual. 23 de março de 2013. Consultado em 13 de agosto de 2020 
  5. a b «O som cheio de afeto de Joyce e Tutty - Cultura». Estadão. Consultado em 13 de agosto de 2020 
  6. CD PRA QUE MENTIR?, consultado em 14 de agosto de 2020 
  7. «Folha de S.Paulo - Música: Feras do instrumental lançam seus discos em São Paulo - 28/11/98». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 14 de agosto de 2020 
  8. «| Maritaca Produçoes Artísticas |». www.maritaca.art.br. Consultado em 14 de agosto de 2020 
  9. Quinn, Mike. «Tutty Moreno: Forcas d'Alma (Forces of the Soul)». JazzTimes (em inglês). Consultado em 14 de agosto de 2020 
  10. «Dorival Caymmi ganha abordagem jazzística do 'Quarteto Fantástico' - Cultura». Estadão. Consultado em 14 de agosto de 2020 
  11. «Em 'Dorival', quarteto joga a rede no mar de Caymmi e puxa outros sons | G1 Música Blog do Mauro Ferreira». Mauro Ferreira. Consultado em 14 de agosto de 2020 
  12. «Folha de S.Paulo - Música/Lançamentos: - "Áfrico": Sergio Santos explora raiz musical negra». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 14 de agosto de 2020 
  13. «MIS Blog/ Discoteca Básica/ SERGIO SANTOS : ÁFRICO (2002)». MIS. Consultado em 14 de agosto de 2020