ALUNO: MATRCULA: PROF: RENAN MARQUES Penal III Ateno !

! o presente material foi elaborado com base nos livros de Rogrio Sanches Cunha(Direito Penal: Parte especial, 3 ed. So Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010 e Cdigo Penal Para Concursos, 5 Ed. Salvador: Editora JusPODIVM), Rogrio Greco(Cdigo Penal Comentado, Ed. Impetus, 2011) e Fernando Capez (Curso de Direito Penal: Parte Especial: dos crimes contra os costumes a dos crimes contra a administrao pblica,Volume 3, So Paulo: Ed. Saraiva, 2011) UNIDADE I. Crimes contra o Patrimnio. Aula 1 1. Dos crimes contra ao patrimnio. 1.1 Conceito de patrimnio para o Direito Penal; - Sob a rubrica Dos crimes contra o patrimnio tutela o Cdigo Penal, no Ttulo II, o patrimnio da pessoa fsica e jurdica. O Direito Penal tem por finalidade reforar a tutela do patrimnio, que j realizada pelo Direito Civil por meio de seus institutos. No entanto, por vezes, a sano civil no suficiente para prevenir e repreender a prtica dos ilcitos civis patrimoniais. - Dessa forma, o Direito Penal selecionou as condutas mais reprovveis e passou a consider-las ilcito penal. Antes de objetivar a proteo individual da propriedade, almeja a lei penal impedir, com a ameaa da sano penal, os atentados contra a propriedade, de modo a proteger o interesse social. - Discute-se na doutrina a real abrangncia da expresso patrimnio, pois para uns abrange somente as relaes aferveis economicamente; j para outros o valor econmico prescindvel. O patrimnio, em sentido amplo, segundo Carlos Roberto Gonalves (autor civilista), constitudo pelo conjunto de bens, de qualquer ordem, pertencentes a um titular. J o patrimnio, em sentido estrito, abrangeria apenas as relaes jurdicas ativas e passivas de que a pessoa titular, afervel economicamente, restringe-se, assim, aos bens avaliveis em dinheiro. - Para Nelson Hungria, as coisas sem valor econmico ou de valor puramente sentimental (ex. furtar um amuleto sem valor de troca, ou um anel de cabelos que se guarda como lembrana da pessoa amada), tambm integra o patrimnio, de modo que podem ser objeto material dos crimes contra o patrimnio.1

CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, Volume 2: parte especial. So Paulo: Saraiva, 2010.

- Apesar do entendimento o ilustre autor acima, entendo, seguindo parte da doutrina, que o patrimnio, para fins penais, restringe-se quele que possui algum valor economicamente aprecivel, at porque, como ser melhor explicado no momento oportuno, possvel aplicar o princpio da insignificncia a alguns crimes contra o patrimnio. 2. Furto. 2.1 Furto Simples. A) Tipo Objetivo. - Ele est no Art. 155, caput, do Cdigo Penal, e ocorre na seguinte situao: Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia mvel: Pena - recluso, de um a quatro anos, e multa. - Percebe-se que a conduta do agente a de: a) Subtrair. - Subtrair significa tirar, retirar de outrem, bem mvel, sem a sua permisso, com o fim de assenhoramento definitivo. - A subtrao do bem sempre implica a retirada do bem sem o consentimento do possuidor, proprietrio ou detentor, podendo acontecer at as vistas destes, como por exemplo um sujeito que entra em uma loja sob vigilncia do comerciante e se apodera da mercadoria, saindo em fuga depois. - NO h o emprego de violncia ou grave ameaa na subtrao do bem, tendo em vista que o emprego destes meios desconfigurariam a prtico do crime de furto. b) Coisa alheia mvel. - Coisa mvel nada mais do que um bem mvel, sendo necessrio saber ento o que bem mvel para fins penais. Pois bem, bem mvel para fins de direito penal tudo aquilo que seja passvel de remoo, bens capazes de serem transportados de um local para o outro sem perderem a sua real identidade. Ou seja, ao contrrio do Direito Civil, o Direito Penal trabalha com um conceito natural de coisa alheia mvel. Ex. Navios, aeronaves, animais e cadveres que estiverem sendo utilizados em pesquisas. - Desta forma, irrelevante o conceito fornecido pela lei civil, que considera imveis determinados bens, como os navios, por pura fico legal. Neste caso, pouco importa a definio civil, pois para fins penais so considerados mveis. OBS: Os bens imveis, por sua vez, NO podem ser objeto do delito de furto. - Alm disso, o bem mvel deve ser economicamente aprecivel. Vale ressaltar que o interesse apenas moral da coisa, segundo alguns autores, tambm configura o crime, entendimento ao qual discordamos. O autor Nucci, inclusive, traz o seguinte posicionamento que seguimos: coisa puramente de estimao: entendemos no ser objeto material do crime de furto, pois objeto sem qualquer valor econmico. No se pode conceder seja passvel de subtrao, penalmente punvel, por exemplo, uma caixa de fsforo vazia, desgastada, que a vtima possui somente porque lhe foi dada por uma namorada, no passado como smbolo de amor antigo. Caso seja subtrada por algum, cremos que a dor moral causada ao ofendido deva ser resolvida na esfera civil, mas jamais na esfera penal, que ano presta a esse tipo de reparao.2 - Coisa mvel alheia considerada, pela doutrina majoritria, a coisa de quem detm, de forma legtima, a propriedade (ex: pessoa que subtrai o carro de seu dono, sem violncia ou grave ameaa, quando o carro estava em um estacionamento) ou a
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Cunha, Rogrio Sanches. Direito Penal: Parte especial, 3 ed. So Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010.

posse (ex: pessoa que subtrai um carro alugado por outrem), ou ainda a deteno da coisa mvel. OBS: Vale ressaltar que os conceitos de propriedade, posse e deteno so do mbito do direito civil. Entretanto, de forma resumida, pode-se diferenci-los da seguinte forma. A propriedade um direito real em que o sujeito pode usar, gozar e dispor do bem, nos casos dos bens mveis a sua aquisio se d com a tradio. A posse, por sua vez, um fato e sua aquisio acontece desde o momento em que se torna possvel exercer qualquer dos poderes inerentes propriedade, ou seja, quando o possuidor exerce o poder de usar, gozar ou dispor do bem. A deteno, por fim, ocorre com a prtica de atos materiais sobre o bem em cumprimento de ordens ou instrues alheias, havendo uma dependncia hierrquica que recai sobre o detentor, como por exemplo, um motorista, um caseiro, uma empregada domstica que atuam por ordem de um empregador. - A coisa mvel deve ser alheia (elemento normativo), ou seja, pertencente a algum que no aquele que a subtrai. Desta forma, no poder ser objeto do crime de furto, por no constituir propriedade, nem estar sob a posse ou deteno de algum: 1) Coisa de ningum ou sem dono. (res nullius) uma coisa que nunca teve dono. Neste caso a apropriao da coisa por outrem ser um fato atpico. Ex. Pessoa que subtrai uma fruta de uma rvore que se encontra em um local que no propriedade de ningum. 2) Coisa abandonada (res derelicta) a coisa que j pertenceu a algum, mas foi dispensada pelo prprio dono. Neste caso a apropriao da coisa por outrem ser um fato atpico. Ex. Pessoa possua um celular, mas resolveu jog-lo no lixo tendo em vista que comprou outro. Se uma pessoa encontra referido celular no lixo e se apropria do objeto o fato ser atpico. 3) Coisa perdida (res desperdita) neste ltimo caso a propriedade perdida no renunciada espontaneamente pelo dono (ao contrrio do que ocorre com a coisa que foi abandonada) e o seu apoderamento por terceiro poder constituir o crime de apropriao de coisa achada, nos termos do Art. 169, II, do Cdigo Penal. Ex. Pessoa possua celular, mas acabou perdendo o aparelho em seu local de trabalho, se outra pessoa se apropria do bem poder haver o crime de apropriao de coisa achada. 4) Coisa pblicas de uso comum so aquelas que a todos pertencem, como por exemplo o ar, a luz do sol, a gua do mar e dos rios, em princpio no podem ser objeto material do crime de furto, a no ser que destacadas do local de origem tenham significado econmico para algum (ex: areia da praia que serve ao artista para criar obras). c) Para si ou para outrem. - O crime exige a finalidade especfica de o agente, dolosamente, com a vontade livre e consciente, apoderar-se definitivamente da coisa alheia mvel, para si mesmo ou para outrem. Referida finalidade especfica, ou tambm chamado de especial fim de agir ser melhor analisada quando se falar do tipo subjetivo, logo a seguir. B) Bem jurdico e Objeto Material. - Quanto ao bem jurdico protegido a maioria da doutrina informa, que a posse e a propriedade da coisa alheia mvel que so protegidos pelo direito penal, e tambm a mera deteno sobre a coisa alheia mvel.

- Por sua vez, o objeto material do delito de furto a coisa alheia mvel contra a qual dirigida a conduta praticada pelo agente. Vale lembrar que coisa toda substncia material, corprea, passvel de subtrao e que tenha valor econmico, desta forma, uma ideia, enquanto entidade imaterial, NO poder ser furtada, salvo se estiver corporificada em um documento. Esta coisa, para ser objeto material do crime de furto ainda deve ser alheia e mvel, elementos estes que j foram analisados no tipo objetivo do crime. C) Tipo Subjetivo. - O crime de furto SOMENTE pode ser praticado na forma DOLOSA, devendo o sujeito ter a vontade livre e consciente de apoderar-se definitivamente da coisa alheia, para si ou para outrem. Ou seja, NO basta o dolo para que o tipo penal se configure; exige a lei que a subtrao se efetue com a finalidade especial de assenhoramento definitivo, consubstanciado na expresso para si ou para outrem. - o chamado animus furandi ou animus rem sibi habendi, tendo em vista que o agente deve ter a inteno de no devolver mais a coisa vtima, sendo indispensvel que o agente tenha a inteno de possu-la, submetendo-a a seu poder, isto , de no devolver o bem de forma alguma. Vale ressaltar, inclusive, que no importa para a configurao do furto a motivao do agente (ex. lucro, vingana, etc.), basta a finalidade especial de apoderamento definitivo. - Vale ressaltar, tambm, que somente h que se falar em furto no caso de a subtrao da coisa alheia mvel seja contra a vontade expressa ou tcita da vtima, tendo em vista que o consentimento desta exclui o crime, sendo um fato atpico. Subtrair significa retirar contra a vontade do possuidor. Assim, quam pega um bem com o consentimento do ofendido, no subtrai, e quem no subtrai no comete furto. - Esclarece Rogrio Sanches que a subtrao da coisa, apenas para us-la momentaneamente, devolvendo-a logo em seguida, caracterizaria o chamado furto de uso, que considerado um fato atpico, um indiferente penal, tendo em vista a ausncia do elemento subjetivo caracterizador do delito (animus furandi ou animus rem sibi habendi). A doutrina elucida que o furto de uso possui as seguintes caractersticas: 1) Inteno, desde o incio, de uso momentneo da coisa subtrada tendo em vista que o uso prolongado da coisa subtrada faz com que se entenda pela ocorrncia do furto comum, e no da subtrao para uso, que deve ser momentnea. 2) Coisa no consumvel so os bens mveis cujo uso no importa destruio imediata de sua prpria substncia. 3) Coisa infungvel so nos bens mveis insubstituveis. 4) Que a restituio da coisa seja imediata (por um curto espao de tempo) e com a sua integralidade preservada, devendo ser devolvida da mesma forma como foi subtrada, nas mesmas condies e no mesmo lugar, tendo em vista que h decises no sentido de se condenar o sujeito do delito de furto quando houver a destruio total ou parcial da coisa, ou ainda, quando for deixada em lugar diferente do qual foi levada. OBS 1: O apoderamento momentneo de veculo configura furto de uso ? Para a maioria da doutrina sim, pois se trata de bem no consumvel e infungvel, entretanto para outros haveria furto em relao gasolina e do leo, pois tais substncias so total ou parcialmente consumidas. Entretanto, esclarece Rogrio Sanches que a doutrina moderna, no entanto, vem ensinando a necessidade, para caracterizar o crime quando, do simples uso, haja um desfalque juridicamente

aprecivel no patrimnio da vtima, o que no se d com o mero gasto dos pneus ou desfalque de um tanque de gasolina. OBS 2: Furto Famlico (para saciar a fome) - possvel de ocorrer o chamado furto famlico quando houver presentes os requisitos do estado de necessidade, uma vez que, de um lado, podemos visualizar o patrimnio da vtima e, do outro, a vida ou a sade do agente, havendo risco em virtude da ausncia de alimentao necessria sua subsistncia. Ou seja, devem estar presentes os seguintes requisitos para se configurar o furto famlico: 1) Que o fato seja praticado para mitigar a forme; 2) Que seja o nico e derradeiro recurso do agente (inevitabilidade do comportamento lesivo); 3) Que haja a subtrao de coisa capaz de diretamente contornar a emergncia; 4) Que haja insuficincia dos recursos adquiridos ou impossibilidade de trabalhar. OBS 3: Erro de tipo Se o agente, por erro, apodera-se de objeto alheio supondo ser prprio, ocorre erro de tipo, excluindo-se o dolo e o fato tpico. Se ele no sabia que se tratava de coisa alheia, ento no tinha conscincia nem vontade de subtra-la, de modo que no houve furto doloso. Como no prevista a modalidade culposa, o fato atpico. D) Consumao e tentativa. - Atualmente, tem se entendido que o crime de furto se consuma no momento em que a coisa alheia mvel retirada da esfera da posse e disponibilidade da vtima, ingressando, consequentemente na do agente, ainda que no tenha ele a posse tranquila da coisa. Ou seja, basta haver a inverso da posse, momento em que o bem passa da esfera de disponibilidade da vtima para a do autor. A subtrao se opera no exato instante em que o proprietrio ou possuidor perde o poder e controle sobre a coisa, tendo de retom-la porque j no est mais consigo. - Ainda quanto consumao do crime de furto, vale lembrar que na doutrina existem quatro correntes disputando a prevalncia da consumao: 1) Teoria da contrectatio a consumao se d pelo simples contato entre o agente e a coisa alheia, dispensando o seu deslocamento. 2) Teoria da amotio ou apprehensio dar-se a consumao quando a coisa subtrada passa para o poder do agente, mesmo que por um curso espao de tempo, independentemente de deslocamento ou de posse mansa e pacfica. 3) Teoria da ablatio a consumao ocorre quando o agente, depois de apoderarse da coisa, consegue desloc-la de um lugar para outro. 4) Teoria da ilatio para ocorrer a consumao, a coisa deve ser levada ao local desejado pelo ladro para ser mantida a salvo, sendo exigida a posse mansa e pacfica da coisa alheia mvel. - Pois bem, o STF e o STJ adotam a segunda teoria (teoria da amotio ou apprehensio). Isto , quanto ao momento consumativo do crime de furto ele ocorre com a simples apreenso da coisa, tendo em vista que segundo orientao pacfica do STF e do STJ, foi adotada a teoria da amotio ou apprehensio (apreenso), para o momento consumativo do furto. Ou seja, a mera subtrao da coisa suficiente para consumar o furto, ainda que por um curto espao de tempo e ainda que o objeto no tenha sado da esfera de vigilncia da vtima, NO sendo necessria a posse mansa a pacfica do bem. Neste sentido, o prprio STJ se posicionou recentemente:

Processo HC 217700 / SP HABEAS CORPUS 2011/0211832-5 Relator(a) Ministro OG FERNANDES (1139) rgo Julgador T6 - SEXTA TURMA Data do Julgamento 07/02/2012 Data da Publicao/Fonte DJe 27/02/2012 Ementa HABEAS CORPUS. ROUBO CIRCUNSTANCIADO. DESCLASSIFICAO PARA TENTATIVA. IMPOSSIBILIDADE. DESNECESSIDADE DA POSSE MANSA E PACFICA DA COISA SUBTRADA. ARMA DESMUNICIADA. AUSNCIA DE COMPROVAO. INVIABILIDADE DE EXAME NESTA SEDE. REINCIDNCIA. CABIMENTO DE REGIME MAIS GRAVOSO PARA INCIO DE CUMPRIMENTO DA EXPIAO. 1. Considera-se consumado o crime de roubo, assim como o de furto, no momento em que o agente se torna possuidor da coisa alheia mvel, ainda que no obtenha a posse tranquila, sendo prescindvel que o objeto subtrado saia da esfera de vigilncia da vtima para a caracterizao do ilcito. - Fernando Capez traz hipteses exemplificativas em que se reputa consumado o crime de furto: a) Perda do bem subtrado: com a perda do bem subtrado reputa-se o crime consumado, pois no h mais possibilidade de o ofendido exercer seu direito sobre a coisa, por exemplo, o agente, durante a perseguio, jias na correnteza do rio. b) Priso em flagrante de um dos agentes e fuga dos demais com a res: nessa hiptese, em que pese a priso de um dos agentes no local do crime, o delito se consumou para todos os coparticipantes, uma vez que alguns lograram fugir, detendo a posse tranquila da res. c) Subtrao de parte dos bens: se o agente se dispe a subtrair uma pluralidade de bens, mas aps se apropriar de alguns e guard-los em esconderijo prximo ao local do crime, preso em flagrante ao tentar apoderar-se do restante, o crime reputa-se consumado, pois j houve anteriormente priso em flagrante a efetiva espoliao de bens, ainda que somente em parte. d) Priso em flagrante: a priso em flagrante no incompatvel com a consumao do crime de furto. Assim, se o agente logra apoderar-se da res, mas encontrado logo depois com instrumentos, armas, objetos ou papis que faam presumir se ele o autor da infrao, a priso em flagrante no ter o condo de interferir na consumao do crime, pois j houve a subtrao do bem. - Por se tratar de crime plurissubsistente possvel haver a tentativa no crime de furto, j que o inter crimines do crime pode ser fracionado. Ocorrer quando o agente, por circunstncias alheias sua vontade, no chega a subtrair definitivamente o bem, como por exemplo, no caso em que o agente surpreendido por vizinhos no momento em que est retirando o veculo de dentro da garagem da residncia da ofendida.

OBS 1: Como se pode distinguir a tentativa de furto com a ocorrncia de mero ato preparatrio em um caso concreto ? Pois bem, somente haver tentativa quando houver o incio de execuo, ou seja, quando houver o comeo de realizao do verbo do tipo. A execuo se inicia com o primeiro ato idneo e inequvoco para a consumao do delito. Enquanto os atos realizados no forem aptos consumao ou quando ainda no estiverem inequivocamente vinculados a ela, o crime permanece em sua fase de preparao. necessrio que no haja qualquer dvida de que o ato se destina consumao do crime. Vejamos alguns exemplos trazidos pela doutrina: a) O agente surpreendido subindo a escada para entrar em uma residncia haver mero ato preparatrio do crime de furto, no se podendo falar em incio da execuo do crime, pois o agente no comeou a tirar nenhum bem da vtima. b) Aps entrar na residncia, o sujeito surpreendido pelos donos da casa antes de se apoderar de qualquer objeto se o agente surpreendido quando est comeando a pegar algum bem mvel haver tentativa de furto; entretanto, se ainda estava andando pela casa, procura da coisa mvel, o fato ainda no se enquadra no furto, pois no houve ainda o incio da subtrao. S ir responder pela violao de domiclio. Aps entrar na residncia, o autor surpreendido pelos donos da casa se apoderando dos objetos - nessa hiptese, j existe incio de execuo, pois o verbo do tipo j comeou a ser realizado.

c)

OBS 2: Como se poder distinguir o crime impossvel da tentativa de furto em um caso concreto ? O crime impossvel aquele que, pela ineficcia absoluta do meio empregado ou pela impropriedade absoluta do objeto material, impossvel de consumar-se. Por sua vez, se a ineficcia ou a impropriedade forem relativas, haver tentativa de furto. Eis os seguintes exemplos: a) Punguista que enfia a mo em bolso errado das vestes de transeunte: se a vtima tem dinheiro acondicionado em outro bolso, o bem jurdico (patrimnio) corre srio risco, havendo tentativa de furto, pois a ausncia do objeto circunstancia meramente acidental, que no torna impossvel o crime. Por outro lado, se o bem no estiver com a vtima, em bolso nenhum, a impropriedade passa a ser absoluta, inviabilizando totalmente a consumao do crime, tornando-o impossvel pelo simples fato de que no se pode subtrair coisa alheia de quem nada tem. OBS 3: A vigilncia constante do bem, atravs de sistema eletrnico de vigilncia em estabelecimento comercial, NO torna, por si s, o crime de furto impossvel de ser consumado, tendo em vista que no torna o agente completamente incapaz de consumar o crime. Este o entendimento mais recente do STJ, como se depreende do julgado abaixo: 4. A presena de sistema eletrnico de vigilncia no estabelecimento comercial no
torna o agente completamente incapaz de consumar o furto. Logo, no se pode afastar a punio, pela configurao do crime impossvel, pela absoluta ineficcia dos meios empregados. Precedentes. (HC 223710 / SP - HABEAS CORPUS 2011/0262224-8 Ministra LAURITA VAZ (1120) - T5 - QUINTA TURMA - DJe 08/03/2012)

E) Sujeito Ativo e Passivo. - O sujeito ativo do crime pode ser qualquer pessoa, excetuando-se o prprio dono, ou o possuidor da coisa. O proprietrio, entretanto, segundo a doutrina, poder ser

considerado sujeito ativo do crime de furto de coisa comum, em virtude de previso expressa do Art. 156, do Cdigo Penal (Subtrair condmino, coerdeiro ou scio, para si ou para outrem, a quem legitimamente detm, a coisa comum). O possuidor, por sua vez, no pode figurar como sujeito ativo pelo fato de que, se no restituir a coisa ao seu legtimo proprietrio, dever ser responsabilizado pelo delito de apropriao indbita, nos termos do Art. 168 do Cdigo Penal. OBS: O famulato o nome dado ao furto realizado pelo empregado que se encontra a servio de seu patro, em sua residncia ou no, como a empregada domstica, o operrio. O empregado aproveitando-se de tal situao subtrai bens pertencentes ao empregador. Tais pessoas tm apenas uma transitria disposio material dos bens, da porque o seu apoderamento no constitui crime de apropriao indbita, mas o de furto. - O sujeito passivo pode ser qualquer pessoa, fsica ou jurdica, proprietria ou possuidora da coisa assenhorada. 2.2 Figuras Tpicas.

- As figuras tpicas do crime de furto so as seguintes: a) Furto simples (Art. 155, caput, do Cdigo Penal j analisado). b) Furto noturno (Art. 155, 1, do Cdigo Penal). c) Furto privilegiado (Art. 155, 2, do Cdigo Penal).

d) Furto de energia (Art. 155, 3, do Cdigo Penal). e) Furto qualificado (Art. 155, 4 e 5, do Cdigo Penal)

- Todas as figuras tpicas acima mencionadas sero analisadas a seguir: 2.2.1 Furto noturno (Furto com Causa de Aumento de Pena pelo Repouso Noturno). - Ele est no Art. 155, 1, do Cdigo Penal e ocorre na seguinte situao: A pena aumenta-se de um tero, se o crime praticado durante o repouso noturno. - Repouso noturno um elemento normativo do tipo que varia no tempo e no espao, entende-se que o perodo do dia em que as pessoas de certo lugar habitualmente se recolhem, havendo um maior perigo a que exposto o bem jurdico em virtude da diminuio da vigilncia e dos meios de defesa daqueles que se encontram recolhidos noite para repouso, facilitando a prtica delituosa do crime de furto. Desta forma, percebese que o repouso noturno, conforme ensina Fernando Capez, NO se confunde com noite, tendo em vista que esta se caracteriza pela simples ausncia de luz solar, sendo um critrio fsico-astronmico, enquanto que o repouso noturno um perodo de tempo, que se modifica conforme os costumes locais, em que as pessoas dormem, sendo um critrio psicossociolgico. Ex. O repouso noturno de uma cidade que capital de um Estado no ocorre necessariamente as 18:00h, em muitas capitais do pas pode haver repouso noturno depois das 22:00h. Ou seja, o repouso noturno vai variar de acordo com cada cidade. - Para que a causa de aumento incida necessrio que o fato seja praticado em local destinado ao repouso. Por conta disso NO h a incidncia da causa de aumento de pena se o crime cometido em restaurantes, bares ou supermercados. Por outro lado,

h a incidncia da causa de aumento de pena se o crime cometido em hotis, j que um estabelecimento comercial destinado ao repouso. - Esta causa de aumento de pena aplicada em virtude de uma maior vulnerabilidade para as residncias, lojas ou veculos, sendo irrelevante o fato de se tratar de estabelecimento comercial ou de residncia, habitada ou desabitada, bem como o fato de a vtima estar, ou no, efetivamente repousando, como j decidiu o STJ (HC 29153/MS, HC 2003/0118253-0, Rel. Min. Gilson Dipp, 5 T. DJ 3/11/2003) - Por fim, cumpre esclarecer que entendimento doutrinrio e jurisprudencial dominante de que a causa de aumento de pena do repouso noturno somente se aplica ao furto simples, NO sendo permitida a causa de aumento de pena nas hipteses de furto qualificado, isto se d em virtude da posio topogrfica dos artigos. OBS: Atualmente o STJ tem entendido, em julgados recentes, que o princpio da insignificncia NO tem aplicao nos casos de crime de furto praticado durante o repouso noturno em virtude do alto grau de reprovabilidade da conduta, no havendo que se falar em mnima ofensividade da conduta perpetrada pelo agente. Neste sentido o seguinte julgado do STJ: PENAL. HABEAS CORPUS. FURTO. INVASO DE ESTABELECIMENTO COMERCIAL DURANTE O PERODO DE REPOUSO NOTURNO. REITERAO DA CONDUTA DELITIVA. PRINCPIO DA INSIGNIFICNCIA. REDUZIDO VALOR DA RES FURTIVA. INAPLICABILIDADE. 1. O denominado princpio da insignificncia, como causa supralegal de excluso da tipicidade, s tem aplicao quando preenchidos os seguintes requisitos: (i) mnima ofensividade da conduta perpetrada pelo agente; (ii) ausncia de periculosidade social da ao; (iii) reduzidssimo grau de reprovabilidade do comportamento; e (iv) inexpressividade da leso jurdica provocada. 2. Na hiptese dos autos, a despeito de reduzido ser o valor monetrio da res furtiva (R$ 45,65, dois maos de cigarro e 12 isqueiros), no se revela a conduta perpetrada pelo autor do delito como sendo de mnima ofensividade, sendo alto o grau de reprovabilidade da mesma, especialmente por ter sido praticada no perodo de repouso noturno e atravs da invaso de propriedade alheia, merecendo destaque ainda o fato de possuir o paciente duas condenaes anteriores, com trnsito em julgado, pela prtica do mesmo delito. 3. Ordem denegada. (HC 217778 / MG - HABEAS CORPUS 2011/0212155-2 - Ministro VASCO DELLA GIUSTINA (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RS) (8155) - T6 SEXTA TURMA - DJe 14/03/2012)

2.2.2 Furto Privilegiado.

- Ele est no Art. 155, 2, do Cdigo Penal e ocorre na seguinte situao: Se o criminoso primrio, e de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de recluso pela de deteno, diminu-la de um a dois teros, ou aplicar somente a pena de multa. - Para que o ru tenha direito a aplicao do furto privilegiado devem ser obedecidos dois requisitos. O primeiro requisito o de que o bem furtado seja de pequeno valor. Tem-se entendido que bem de pequeno valor aquele que inferior a UM salrio mnimo vigente poca do fato, ou seja, um critrio objetivo para se constatar o pequeno valor do bem subtrado. Note-se que o valor da coisa no deve ser avaliado em

funo da situao financeira da vtima, tendo em vista que bem de pequeno valor no um critrio subjetivo. - Alm disso, o segundo requisito o de que deve o criminoso ser primrio, ou seja, o ru NO pode ser reincidente, ainda que tenha passado por vrias condenaes. Primrio todo aquele que no reincidente. Assim, se o agente j sofreu diversas condenaes, mas no considerado reincidente porque no praticou nenhum delito aps ter sido condenado em definitivo, ser considerado tecnicamente primrio e far jus ao benefcio, nos termos do Art. 63 do Cdigo Penal. - Presentes os dois requisitos acima, o juiz est obrigado a conceder o privilgio legal. Em que pese a lei conter o verbo poder, denotando a faculdade concedida ao juiz, majoritrio o entendimento de que se trata de um direito subjetivo do ru, e, uma vez presentes os dois requisitos do furto privilegiado, o juiz estar obrigado a conceder o benefcio. Assim, dever substituir a pena de recluso pela de deteno, diminu-la de um a dois teros, ou aplicar somente a pena de multa. Nada impede que o juiz, cumulativamente, substitua a recluso pela deteno e, em seguida, diminua esta pena. OBS 1: Aplicabilidade do princpio da insignificncia aos crimes contra o patrimnio o princpio da insignificncia est relacionado ao conceito de tipicidade conglobante adotado por Zaffaroni. Para este autor a tipicidade penal deriva da tipicidade legal (adequao de uma conduta ao um tipo penal previsto na lei) somada a tipicidade conglobante. Para que se possa falar em tipicidade conglobante: 1) A conduta deve ser antimormativa consiste na contrariedade da conduta com o ordenamento normativo, ou seja, deve haver a inexistncia de normas que ordenam ou que fomentam as condutas. Fomentar estimular, quase obrigar a fazer, h um dever de agir, no se pode confundir com comportamentos meramente permitidos, estes so s aceitados. Ex. oficial de justia que pega dinheiro de banco no comete furto, pois o seu fato fomentado, estimulado pelo direito, este o fundamento. 2) Deve haver tipicidade material a conduta deve ser materialmente lesiva. O direito penal somente se presta a proteger os bens jurdicos mais importantes. Desta forma, excluem-se os tipos penais que no trouxeram ofensa ao bem jurdico, chamados de crimes de bagatela, havendo incidncia do princpio da insignificncia. - Pois bem, o direito penal no cuida de bagatelas, nem admite tipos incriminadores que descrevam condutas incapazes de lesar bem jurdico. Se a finalidade do tipo penal tutelar bem jurdico, se a leso, de to insignificante, torna-se imperceptvel, no possvel proceder-se ao enquadramento, por absoluta falta de correspondncia entre o fato narrado na lei e o comportamento inquo realizado. Por essa razo, os danos de pequena monta devem ser considerados fatos atpicos, em face da ausncia de tipicidade material da conduta. - A doutrina majoritria tem entendido que NO aplicvel o princpio da insignificncia ao crimes contra o patrimnio que sejam praticados COM violncia ou grave ameaa a pessoa, tendo em vista que o alto grau de reprovabilidade do comportamento e ofensividade da conduta. - Alm disso, o Supremo Tribunal Federal vem entendendo que para poder ser aplicado o princpio da insignificncia, devem estar presentes, de forma cumulativa alguns vetores, conforme transcrio abaixo:

 O princpio da insignificncia - que deve ser analisado em conexo com os postulados da fragmentariedade (BEM JURDICO) e da interveno mnima(SUBSIDIRIO) do Estado em matria penal - tem o sentido de excluir ou de afastar a prpria tipicidade penal, examinada esta na perspectiva de seu carter material. Doutrina. Precedentes. Tal postulado - que considera necessria, na aferio do relevo material da tipicidade penal, a presena de certos vetores, tais como (a) a mnima ofensividade da conduta do agente, (b) a nenhuma periculosidade social da ao, (c) o reduzidssimo grau de reprovabilidade do comportamento e (d) a inexpressividade da leso jurdica provocada apoiou-se, em seu processo de formulao terica, no reconhecimento de que o carter subsidirio do sistema penal reclama e impe, em funo dos prprios objetivos por ele visados, a interveno mnima do Poder Pblico. (STF, HC 98152/MG, Rel. Min. Celso de Mello, 2 T. DJ 5/6/2009). OBS 2: Furto de pequeno valor X Furto de valor insignificante. Furto de valor insignificante ser aplicado o princpio da insignificncia, devendo o sujeito ser absolvido em face da ausncia de tipicidade material de sua conduta. Os tribunais superiores tem entendido que o princpio da insignificncia uma causa supralegal de excluso da tipicidade e s tem aplicao quando preenchidos os seguintes requisitos: (i) mnima ofensividade da conduta perpetrada pelo agente; (ii) ausncia de periculosidade social da ao; (iii) reduzidssimo grau de reprovabilidade do comportamento; e (iv) inexpressividade da leso jurdica provocada. Furto de pequeno valor o furto de um bem que tem o valor inferior a UM Salrio Mnimo, mas que houve ofensa ao patrimnio da vtima. Nestes casos o ru ser condenado, mas possvel a aplicao somente da pena de multa, bem como substituio da pena de recluso pela de deteno ou diminuio da pena de um a dois teros, previstas no Art. 155, 2, do Cdigo Penal. OBS 3: possvel o furto privilegiado e qualificado ao mesmo tempo ? SIM, os julgados mais recentes do STJ, mais precisamente da 6 Turma, tem entendido ser possvel a existncia de furto privilegiado e qualificado ao mesmo tempo, desde que haja compatibilidade entre o privilgio e a qualificadora. Neste sentido: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. FURTO QUALIFICADOPRIVILEGIADO. POSSIBILIDADE. PRIMARIEDADE E PEQUENO VALOR DA RES FURTIVA. CRITRIO DE AFERIO. 1. possvel o reconhecimento da figura do furto qualificado-privilegiado, desde que haja compatibilidade entre as qualificadoras e o privilgio. 2. O valor do salrio mnimo pode ser adotado, em princpio, como referncia ao que se entende como coisa de pequeno valor, no sendo, portanto, critrio de absoluto rigor aritmtico, cabendo ao juiz da causa sopesar as circunstncias prprias ao caso. 3. Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp 1227073 / RS - AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL 2011/0006975-1- Ministro SEBASTIO REIS JNIOR (1148) - T6 - SEXTA TURMA - DJe 21/03/2012)

2.2.3 Furto de energia.

- Ele est no Art. 155, 3, do Cdigo Penal que preceitua o seguinte: Equipara-se coisa mvel a energia eltrica ou qualquer outra que tenha valor econmico.

- O referido artigo considera que a energia eltrica ou qualquer outra que tenha valor econmico pode ser objeto de furto, como a energia elica ou energia hidrulica, por exemplo, podem ser objeto de furto. - Para que ocorra o furto de energia a ligao deve ser clandestina, o famoso macaco, como a captao da energia antes da passagem desta pelo aparelho medidor. Neste caso, o crime passa a ser permanente, sendo possvel haver a priso em flagrante enquanto houver a ligao clandestina. OBS 1: Caso o sujeito empregue manobras para alterar o prprio medidor de energia teremos o crime de estelionato, previsto no Art. 171, do Cdigo Penal, segundo entendimento doutrinrio pacfico. Nesta hiptese o agente emprega fraude, alterando o medidor de energia, para acusar um resultado menor do que o consumido. Nesta hiptese o agente autorizado, via contrato, a gastar a energia eltrica, porm, acaba usando de artifcio, induzindo a vtima a erro, provocando resultado fictcio, lhe advindo indevidamente vantagem. OBS 2: A doutrina majoritria tem entendimento que a captao irregular de sinal de TV a cabo seria um fato atpico, pois o sinal de TV no reduzido e as punies do sujeito ficariam no mbito civil. Entretanto, existe divergncia na jurisprudncia dos tribunais superiores: STF 2 Turma a 2 Turma do Supremo Tribunal Federal no Informativo n. 623 (RHC - 97816 HC 97261/RS, rel. Min. Joaquim Barbosa, 12.4.2011. (HC-97261)) concedeu habeas corpus para declarar a atipicidade da conduta de condenado pela prtica do crime descrito no art. 155, 3, do CP (Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia mvel: ... 3 Equipara-se coisa mvel a energia eltrica ou qualquer outra que tenha valor econmico.), por efetuar ligao clandestina de sinal de TV a cabo. Reputou-se que o objeto do aludido crime no seria energia e ressaltou-se a inadmissibilidade da analogia in malam partem em Direito Penal, razo pela qual a conduta no poderia ser considerada penalmente tpica. Vale ressaltar que o entendimento do STF o entendimento mais recente sobre o assunto. STJ 5 Turma - o Superior Tribunal de Justia, mais precisamente a 5 Turma deste tribunal superior, j se posicionou no sentido de que a captao irregular de sinal de TV a cabo configura delito previsto no art. 155, 3, do CP(REsp 1076287 / RN - RECURSO ESPECIAL 2008/0161986-4 - Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA (1128) - T5 - QUINTA TURMA - DJe 29/06/2009).

2.2.4 Furto Qualificado.

- Ele est no Art. 155, 4, do Cdigo Penal, que prev que a pena ser de recluso de dois a oito anos, e multa, se o crime cometido: I - com destruio ou rompimento de obstculo subtrao da coisa; - O furto ser qualificado se houver destruio (o agente destri o obstculo usando de violncia contra a coisa, eliminando ou fazendo desaparecer aquilo que impedia a levar a efeito a subtrao, Ex. com p de cabra o sujeito arrebenta cadeado que impedia abrir uma porta para subtrair bens) ou rompimento (partir, despedaar, separar, rasgar, abrir o obstculo, ou at mesmo conseguir afastar, eliminar o obstculo, mesmo que o agente o

preserve intacto, Ex. sujeito desparafusa cadeado colocado par impedir a abertura de uma porta e depois o recoloca no lugar aps subtrair bens) de obstculo subtrao da coisa. - A doutrina esclarece que o obstculo NO pode ser a coisa em si, ou seja, os obstculos deve ser exteriores a coisa. Ou seja, obstculo tudo aquilo que tenha a finalidade precpua de proteger a coisa e que tambm no seja a ela naturalmente inerente. Ex. Quebrar vidro que protegia um quadro de ser subtrado h destruio de obstculo. Mas quebrar uma esttua que estava presa ao cho para subtra-la no h rompimento de obstculo. - Para haver a comprovao desta qualificadora deve haver a realizao de laudo pericial, tendo em vista que um crime que deixa vestgios. OBS: Quebrar vidro de veculo para subtrair bens do seu interior configuraria furto qualificado com rompimento de obstculo ? Depende: STJ - 6 Turma em julgados recentes tem afastado a qualificadora de rompimento de obstculo, permanecendo o crime com furto simples, no caso de o sujeito quebrar vidro de veculo automotor para subtrair objetos de seu interior, por ofensa aos princpios da razoabilidade e da proporcionalidade, tendo em vista que caso o sujeito subtrasse o prprio veculo responderia por furto simples. Neste sentido:
1. Consoante entendimento consolidado no mbito da Sexta Turma deste Superior Tribunal, no se mostra razovel considerar como qualificado o furto de objeto no interior do veculo, ainda que com rompimento de obstculo, e como simples a subtrao do prprio veculo automotor, sob pena de se ferir os princpios da proporcionalidade e da razoabilidade. 4. Ordem parcialmente concedida para afastar a qualificadora prevista no inciso I do 4 do art. 155 do Cdigo Penal, tornando a reprimenda do paciente definitiva em 1 ano de recluso e pagamento de 10 dias-multa, bem como para fixarlhe o regime inicial semiaberto de cumprimento de pena. (HC 174259 / SP - HABEAS CORPUS 2010/0096611-8 - Ministro SEBASTIO REIS JNIOR (1148) - T6 - SEXTA TURMA - DJe 21/03/2012)

STJ - 5 Turma mantm o entendimento de que caso o sujeito quebre vidro de veculo automotor para subtrair bens de seu interior configura o crime de furto com rompimento de obstculo.

II - com abuso de confiana, ou mediante fraude, escalada ou destreza; a) Abuso de confiana o agente deve se valer da confiana depositada para executar o crime, pressupondo lealdade, credibilidade, presuno de honestidade entre as pessoas. Abusa o agente da confiana que nele fora depositada quando se aproveita dessa relao de fidelidade existente anteriormente para praticar a subtrao. Ex. NINA. OBS 1: A simples relao empregatcia ou de hospitalidade, por si s, no permite a qualificadora relativa a abuso de confiana, mas pode haver incidncia se restar demonstrada a relao de confiana. OBS 2: Furto qualificado por abuso de confiana X Apropriao indbita. Furto qualificado por abuso de confiana a posse do bem vigiada e o dolo de se apropriar da coisa anterior posse.

 Apropriao indbita o agente exerce a posse desvigiada em nome de outrem, e o dolo de se apropriar superveniente posse. Ex. proprietrio, por confiar no agente, transfere a posse do objeto a este, o qual passa a agir como se dono fosse. b) Mediante fraude o emprego de fraude visa apenas fazer diminuir a vigilncia sobre a coisa, facilitando com isso a subtrao. Nestes casos, a fraude uma encenao para minar a vigilncia da vtima, induzindo a pessoa em erro e o prprio agente subtrai o bem da vtima, sem esta querer. Ex. Sujeito se veste de torneiro mecnico para entrar em residncia, sem ser um profissional regularmente habilitado, e conversa coma vtima, pedindo para que esta pegue um copo de gua, neste momento subtrai um aparelho celular que estava na residncia. OBS 1: O crime de furto qualificado pela fraude NO se confunde com o crime de estelionato (Art. 171, do Cdigo Penal), tendo em vista que neste crime a vtima induzida em erro e a prpria vtima que, espontaneamente, entrega a coisa. Ex. Saulo, utilizando-se da fraude conhecida como conto do bilhete premiado, ofereceu o falso bilhete a Salete para que esta resgatasse o prmio. Encantada com a oferta e desconhecendo a falsidade do bilhete, Salete entregou a Saulo vultosa quantia, sob a crena de que o bilhete representasse maior valor. OBS 2: Saque via internet configuram o crime de furto qualificado pelo emprego de fraude. A consumao do delito se d quando o bem subtrado sai de esfera de disponibilidade da vtima, mediante o dbito lanado na conta em poder da instituio financeira depositria dos valores transferidos. c) Mediante escalada escalada todo e qualquer meio anormal de o agente ingressar em determinado local (por tnel ou pela chamin).H aqui o uso de instrumentos para adentrar no local, como por exemplo, escada, corda, ou ento o agente obrigado a empregar um esforo incomum, como saltar um muro de dois metros de altura; entrar pelo telhado, com a consequente remoo das telhas. No caracteriza a qualificadora a mera transposio de obstculo facilmente vencvel (Ex. Saltar muro baixo). Na definio de Nelson Hungria o ingresso em edifcio ou recinto fechado, ou sada dele, por vias no destinadas normalmente ao trnsito das pessoas, servindo-se o agente de meios artificiais (no violentos) ou de sua prpria agilidade. Tanto escalada o galgar uma altura, quanto saltar um desvo (ex. um fosso), ou passar por via subterrnea no transitvel ordinariamente. Para a caracterizao desta qualificadora prescindvel o exame pericial, pois nem sempre a escalada deixa vestgios. Geralmente a escalada reconhecida pela s descrio do fato criminoso.

d) Mediante destreza a destreza caracteriza a peculiar habilidade fsica ou manual utilizada na pratica do crime, fazendo com que a vtima no perceba que est sendo despojada de seus bens (ex. batedores de carteira). Entende-se que a destreza deve ser analisada sob a tica da vtima e no de terceiro. Assim, se a vtima, no caso concreto, pressente a ao do agente, conseguindo impedir a fuga com o bem subtrado, haver tentativa de furto simples (ex: a vtima sente a mo do agente em seu bolso). Sendo o agente impedido por terceiro, a tentativa ser de

furto qualificado mediante destreza, pois neste caso a prpria vtima no percebeu que estava sendo furtada. OBS: Subtrao por arrebatamento (crime do trombadinha). - A subtrao por arrebatamento, tambm conhecida por crime de trombadinha, ocorre naquelas situaes em que o agente, depois de escolher a sua vtima, parte em direo a ela e, rapidamente, mediante um golpe ligeiro ou trombada, arrebata-lhe, como regra, das mos(bolsa, telefone celular, etc.), do pescoo (colares, cordes), do pulso (pulseiras, relgios, etc.), os bens que pretendia subtrair. - A doutrina e a jurisprudncia majoritrias posicionam-se no seguinte sentido, haver o crime de roubo ou o de furto nas seguintes situaes: Furto se a trombada s atinge a coisa.

Roubo se a trombada atinge a pessoa, havendo contato corporal e gere algum tipo de leso. III - com emprego de chave falsa; - Considera-se chave falsa qualquer instrumento tenha ou no aparncia ou formato de chave destinado a abrir fechaduras, a exemplo de grampos, gazuas, mixa, arames. OBS: Cpia de chave original NO considerada chave falsa, segundo entendimento doutrinrio e jurisprudencial dominante. IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas. - Para que haja a configurao desta qualificadora basta, to somente, que um dos agentes seja imputvel, no importando se os demais participantes possuam ou no esse qualidade, ou seja, reconhecido o furto mediante concurso de pessoas se o crime cometido por um imputvel e por um inimputvel. - Alm disso, basta que um dos coautores ou partcipes tenha sido descoberto para que haja a incidncia da qualificadora. - Haver a incidncia desta qualificadora ainda que no estejam todos os sujeitos na cena do crime. OBS 1: Os tribunais superiores (STF e STJ) tem entendido que possvel haver a punio pelo crime de furto qualificado pelo concurso de pessoas (Art. 155, 4, IV, CP) e o crime de quadrilha ou bando (Art. 288, CP), tendo em vista que nestes crimes existe afronta a bens jurdicos distintos, no crime de furto protege-se o patrimnio da vtima, enquanto que no crime de quadrilha ou bando protege-se a paz pblica. OBS 2: Smula 442 do STJ inadmissvel aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de agentes, a majorante do roubo. - Por fim, o Art. 155, 5, do Cdigo Penal, ainda traz outra forma de furto qualificado, tendo em vista que a pena de recluso de trs a oito anos: V- se a subtrao for de veculo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior. - Essa qualificadora diz respeito, especificamente, subtrao de veculo automotor. Consideram-se como tal os automveis, nibus, caminhes, motocicletas, aeronaves, lanchas, jet-skies, etc., porm o transporte de partes do veculo no abrangido por essa figura tpica. Sanciona-se mais gravemente a conduta daquele que, aps furtar o veculo

automotor, transporta-o para outro Estado ou para o exterior, havendo a configurao da qualificadora no momento da transposio dos limites territoriais. - A peculiaridade em relao a esta forma qualificada que ela NO admite tentativa, desta forma, se o agente conseguir a subtrao, mas for detido antes de chegar em outro Estado ou pas, responder por furto (simples ou qualificado por algumas das hipteses do 4 do CP), mas NO por tentativa de furto qualificado pelo 5, do CP, pois no se pode cogitar de tentativa em uma hiptese em que a subtrao j se consumou. 2.3 Distino entre o delito de furto e os seguintes crimes.

2.3.1 Apropriao indbita (Art. 168,caput, CP)

- No crime de apropriao indbita a coisa licitamente entregue pelo dono ao agente, para determinada finalidade, passando este, depois de algum tempo, a dela dispor como se fosse sua. Ou seja, neste crime a posse do agente sobre o bem desvigiada. - Por sua vez, no furto, o gente NO tem a posse do bem, apoderando-se deste contra a vontade da vtima, que desconhece a subtrao. Ou seja, no furto a posse do agente sobre o bem vigiada. Na hiptese em que o agente tem a mera deteno provisria do bem (ex. vendedor de loja, caixa de supermercado), esta exercida sob vigilncia do proprietrio, de modo que o apoderamento do objeto implica a configurao de furto e no apropriao indbita.

2.3.2 Estelionato (Art. 171, CP)

- Difere o estelionato do furto mediante o emprego de fraude. No estelionato, a vtima, iludida com o ardil empregado pelo agente, entrega-lhe o bem voluntariamente. A fraude no empregada para reduzir a vigilncia da vtima, mas, sim, para obter a entrega voluntria do prprio bem pelo proprietrio. - No furto mediante fraude, h a retirada do bem contra a vontade da vtima, que tem a sua vigilncia sobre o bem desviada em face do ardil empregado pelo agente. Este, ento, utiliza-se da fraude para reduzir a vigilncia do dono do bem e, com isso, facilitar a subtrao.

2.3.3 Exerccio arbitrrio das prprias razes (Art. 345, CP)

- Quando a inteno do agente fazer justia pelas prprias mos para satisfazer pretenso legtima, o crime ser o de exerccio arbitrrio das prprias razes, como, por exemplo, no caso de credor que se apodera de objeto mvel de seu devedor para satisfazer dvida que este se recusa a pagar.

2.3.4 Favorecimento real (Art. 349, CP).

- Se o agente presta auxlio aps consumao do crime, sem que tenha existido qualquer acordo anterior ao furto, responder pelo crime de favorecimento real (ex., o amigo do agente que guarda o objeto da subtrao em sua residncia, sem ter o conhecimento prvio do cometimento do crime de furto, para tornar seguro o proveito do crime). - Na hiptese de haver prvio acordo ao crime de furto, ambos respondero pelo crime de furto qualificado pelo concurso de agentes.

2.3.5 Receptao (Art. 181, CP).

- Se o agente adquirir objeto que sabe ser produto do crime de furto, ou, se no o sabe, adquire-o culposamente, responder pelo crime de receptao dolosa ou culposa. Se, no entanto, o recebimento do bem for ajustado previamente prtica do furto, respondero ambos os agentes pelo crime de furto qualificado pelo concurso de pessoas. Por sua vez, se o furto for de veculo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior, respondero os agentes pelo furto na forma qualificada prevista no Art. 155, 5, do Cdigo Penal.

2.3.6 Peculato-furto (Art. 312, 1, do CP)

- O crime de peculato furto est previsto no Art. 312, 1, do Cdigo Penal. Trata-se de crime praticado por aquele que detm a qualidade de funcionrio pblico e no tem a posse do bem mvel em razo do cargo, mas que se vale da facilidade proporcionada por essa condio para subtrair ou concorrer para que terceiro subtraia dinheiro, valor ou qualquer outro bem mvel.

2.3.7 Roubo (Art. 157 do CP).

- No crime de roubo existe o emprego de violncia, grave ameaa ou qualquer outro meio que diminua a resistncia da vtima, para que o agente consiga subtrair o bem mvel alheio. Por sua vez, no crime de furto no h o emprego de violncia ou grave ameaa a pessoa.

3. Roubo. 3.1Roubo Simples. A) Tipo Objetivo. - Ele est no Art. 157, caput, do Cdigo Penal, e ocorre na seguinte situao: Subtrair coisa mvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaa ou violncia a pessoa, ou depois de hav-la, por qualquer meio, reduzido impossibilidade de resistncia. Pena recluso, de quatro a dez anos, e multa. - As condutas do crime de roubo simples so as seguintes: a) Subtrair coisa mvel alheia, para si ou para outrem. - Estas condutas j foram analisadas no crime de furto, tendo em vista que subtrair significa tirar, retirar de outrem, bem mvel, sem a sua permisso, com o fim de assenhoramento definitivo.

- Coisa mvel nada mais do que um bem mvel, e bem mvel para fins de direito penal tudo aquilo que seja passvel de remoo, bens capazes de serem transportados de um local para o outro sem perderem a sua real identidade. - Coisa mvel alheia considerada, pela doutrina majoritria, a coisa de quem detm, de forma legtima, a propriedade (ex: pessoa que subtrai o carro de seu dono, sem violncia ou grave ameaa, quando o carro estava em um estacionamento) ou a posse (ex: pessoa que subtrai um carro alugado por outrem), ou ainda a deteno da coisa mvel. Ou seja, coisa mvel alheia aquela pertencente a algum que no aquele que a subtrai. - Por fim o crime de roubo tambm exige a finalidade especfica de o agente, dolosamente, com a vontade livre e consciente, apoderar-se definitivamente da coisa alheia mvel, para si mesmo ou para outrem. Referida finalidade especfica, ou tambm chamado de especial fim de agir ser melhor analisada quando se falar do tipo subjetivo, logo a seguir. b) Mediante grave ameaa ou violncia a pessoa. Grave Ameaa. - uma coao psicolgica, a promessa de causar um mal grave e iminente. Ou seja, a grave ameaa aquela capaz de infundir temor vtima, permitindo que seja subjugada pelo agente que, assim, subtrai-lhe os bens. Percebe-se que a promessa do mal dirigido a vtima injusto, grave e deve ser iminente, sendo capaz de permitir a subtrao naquele exato instante pelo agente, em virtude do temor que infunde na pessoa da vtima. - A sua anlise foge da esfera fsica para atuar no plano da atividade mental. Por isso mesmo sua conceituao complexa, porque atuam fatores diversos, como a fragilidade da vtima, o momento (dia ou noite), o local (ermo, escuro, etc.) e a prpria aparncia do agente. - A ameaa pode ser praticada mediante o emprego de palavras, gestos, ou ainda no caso de simulao de porte de arma de fogo, tendo em vista que neste caso esta simulao constitui meio idneo intimidatrio capaz de diminuir a resistncia da vtima, em face do temor nela incutido (ex. agente que coloca a mo no bolso da cala ou do casaco fingindo estar armado. Violncia contra a pessoa. - Engloba qualquer tipo de violncia fsica contra o corpo da vtima, basta simples a ocorrncia de leso corporal ou vias de fato. Ou seja, o agente emprega fora fsica capaz de dificultar ou paralisar os movimentos do ofendido, de modo a impedir sua defesa. - Constitui a chamada violncia prpria. Ex. amarrar as mos da vtima, jog-la ao cho, dar-lhe tapas, pontaps, segurar-lhe fortemente os braos. c) Ou depois de hav-la, por qualquer meio, reduzido impossibilidade de resistncia. - Fazer com que a vtima, por qualquer meio, tenha reduzido impossibilidade a sua resistncia uma violncia imprpria consistente em outro meio que no constitua violncia fsica ou grave ameaa, porm a ela equiparada, retirando da vtima a sua capacidade de oposio. Tais meios devem ser usados ardilosamente, s escondidas, desacompanhados, evidentemente, de violncia ou grave ameaa.

- Constitui a chamada violncia imprpria. Ex. Emprego de sonferos, drogas, hipnose. OBS 1: No caso do Art. 157, caput, do Cdigo Penal temos o chamado roubo prprio, tendo em vista que o agente ANTES de se apoderar do patrimnio alheio, emprega violncia contra a pessoa, ou grave ameaa, ou, por qualquer meio, reduz a vtima impossibilidade de resistncia. OBS 2: Se a prpria vtima se coloca em condio que a incapacite de oferecer resistncia, a eventual subtrao no ser o crime de roubo e sim o crime de furto. - O roubo simples tambm est no Art.157, 1, do Cdigo Penal, e ocorre na seguinte situao: Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtrada a coisa, emprega violncia contra pessoa ou grave ameaa, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a deteno da coisa para si ou para terceiro. - Neste caso temos o chamado roubo imprprio, tendo em vista que: 1) Ocorre a subtrao do bem mvel para si ou para outrem Neste caso, se o sujeito tivesse parado sua conduta neste momento ocorreria simplesmente o crime de furto. 2) Logo depois de subtrada a coisa, h o emprego de violncia contra a pessoa ou grave ameaa Neste caso, aps a subtrao do bem, o agente constrange a vtima mediante violncia ou grave ameaa para assegurar a impunidade do crime ou a deteno do bem (trata-se de um crime de furto que se transforma em roubo em face das circunstncias do caso concreto). - Pela expresso logo depois, deve-se entender a imediatidade entre a retirada do bem e o emprego de violncia ou grave ameaa. Percebe-se que a violncia ou a grave ameaa ocorrem aps a subtrao, visando o agente assegurar a posse da coisa subtrada ou a impunidade do crime. 3) Existe finalidade de assegurar impunidade do crime ou a deteno da coisa para si ou para terceiro. - O tipo penal exige uma finalidade especial de agir, pois o agente visa assegurar a posse da coisa subtrada ou a impunidade do crime. Ex. Violncia exercida contra guarda-noturno quando o agente, j carregando produto do crime, desperta a ateno do policial. Neste caso o sujeito visa assegurar a posse da coisa subtrada. Ex. Sujeito subtrai determinado bem mvel, j tendo escondido o bem em local seguro, e volta ao local da subtrao para apanhar documento que deixou cair e pode servir de identificao, praticando violncia contra o vigia que tinha encontrado este documento. Neste caso o sujeito visa assegurar a impunidade do crime com a sua no identificao. OBS 1: Para configurar o roubo imprprio imprescindvel o prvio apoderamento da coisa. Assim, se o agente, SEM apoderar-se do bem visado,

surpreendido pela vtima, empregando contra ela violncia para conseguir fugir, no caracteriza roubo imprprio, mas furto tentado em concurso com crime contra a pessoa. OBS: O roubo imprprio S pode ser cometido com o emprego de violncia ou grave ameaa a pessoa. NO haver roubo imprprio se o agente usa de qualquer outro meio para reduzir ou afastar a possibilidade de resistncia, j que no cabe analogia para prejudicar o ru, neste caso o sujeito responderia por outro crime. B) Bem jurdico e Objeto Material. - Quanto ao bem jurdico protegido a doutrina informa que o delito de roubo protege, precipuamente, o patrimnio, a posse, e por conta de sua natureza complexa, tambm a deteno, no deixando, contudo, mesmo que mediatamente, de proteger a integridade corporal ou a sade, a liberdade individual, bem como a vida, tratando-se de crime pluriofensivo. - Por sua vez, o objeto material do delito de roubo a coisa alheia mvel contra a qual dirigida a conduta praticada pelo agente, bem como, a pessoa sobre a qual recai a conduta criminosa, em face da sua pluralidade ofensiva. C) Tipo Subjetivo. - O crime de roubo SOMENTE pode ser praticado na forma DOLOSA, devendo o sujeito ter a vontade de apoderar-se da coisa alheia mvel, para si ou para outrem, mediante violncia ou grave ameaa, existindo este especial fim de agir. - Alm disso, no roubo imprprio existe a finalidade especial de atuar no sentido de assegurar a impunidade do crime ou a deteno da coisa. OBS: Roubo de uso crime, NO sendo admitido pela doutrina e pela jurisprudncia dos tribunais superiores. Desta forma, no importa se a real inteno do agente era subtrair para ficar com o bem subtrado ou simplesmente para apenas us-lo momentaneamente. No h aqui similitude com o crime de furto, pois h, alm do ataque ao patrimnio, h ofensa pessoa. D) Consumao e Tentativa. Consumao no roubo prprio. - Quanto ao momento consumativo do crime de roubo prprio ele ocorre com a subtrao (apoderamento) da coisa alheia mvel mediante violncia ou grave ameaa, tendo em vista que, segundo orientao pacfica do STF e do STJ, foi adotada a teoria da amotio ou apprehensio (apreenso), para o momento consumativo do roubo. - Ou seja, a mera subtrao da coisa mediante violncia ou grave ameaa suficiente para consumar o roubo, ainda que por um curto espao de tempo e ainda que tenha havido perseguio imediata, NO sendo necessria a posse mansa a pacfica do bem. Consumao no roubo imprprio. - Por sua vez, o momento consumativo do crime de roubo imprprio ocorre, segundo entendimento doutrinrio majoritrio, com o emprego da violncia ou grave ameaa efetuada aps a subtrao do bem.

 Tentativa no roubo prprio. - No roubo prprio admite-se a tentativa, j que o inter crimes do crime pode ser fracionado e o agente pode no conseguir subtrair o bem por circunstncias alheias a vontade do agente. Ex. Sujeito aponta uma arma para a cabea de um homem que dirigia um carro, com a inteno de subtrair o veculo, a vtima sai do carro mas leva a chave do carro consigo, neste caso haver roubo tentado. Tentativa no roubo imprprio. - No roubo imprprio NO se admite a tentativa, conforme entendimento doutrinrio majoritrio, tendo em vista que ou h o emprego de violncia/grave ameaa contra a vtima e a consumao do crime, ou no h o emprego destes meios, havendo que se falar apenas no crime de furto. E) Sujeito Ativo e Sujeito Passivo. - O sujeito ativo do crime pode ser qualquer pessoa, excetuando-se o proprietrio ou possuidor da coisa alheia mvel, podendo estes, caso empreguem violncia ou grave ameaa visando recuperar coisa sua, responderem pelo crime de exerccio arbitrrio das prprias razoes (Art. 345 do Cdigo Penal). - O sujeito passivo pode ser qualquer pessoa, fsica ou jurdica, proprietria, possuidora ou mera detentora da coisa assenhorada, bem como a pessoa contra quem se dirige a violncia ou grave ameaa, ainda que desligada da leso patrimonial (ex. segurana pessoal do possuidor do bem mvel), tendo em vista se tratar de crime pluriofensivo. 3.2 Figuras tpicas. - As figuras tpicas do crime de furto so as seguintes: a) Roubo Simples (Art. 157, caput e 1, CP).

b) Roubo Majorado (com causa de aumento de pena Art.157, 2, CP). c) Roubo Qualificado (Art.157, 3, CP).

3.2.1. Roubo Majorado (com causa de aumento de pena). - Ele est no Art.157, 2, do Cdigo Penal, que prev que a pena aumenta-se de um tero at metade: I - se a violncia ou ameaa exercida com emprego de arma; - De acordo com a maioria da doutrina a expresso arma deve ser entendida em sentido amplo, abrangendo todo e qualquer instrumento, com ou sem finalidade blica, desde que sirva para o ataque, desta forma engloba as armas prprias (Ex. revolver, pistola, metralhadora e armas de fogo em geral, punhais, explosivos) e tambm as armas imprprias (Ex. faca de cozinha, barra de ferro, garrafa de vidro, animais). Assim, as armas devem ter potencialidade lesiva.

OBS 1: entendimento doutrinrio e jurisprudencial pacfico de que o uso de arma de brinquedo NO suficiente para configurar a majorante de emprego de arma no crime de roubo, sendo apenas suficiente para configurar a violncia ou grave ameaa do crime de roubo simples. Alm disso, foi cancelada a Sumula 174 do STJ. OBS 2: O atual entendimento da Terceira Seo do STJ bem como do Pleno do STF no sentido de que prescindvel a apreenso e percia da arma de fogo para a aplicao da causa de aumento prevista no art. 157, 2., I, do Cdigo Penal, desde que comprovada a sua utilizao por outros meios de prova. (Ver HC 199570 / SP - Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA (1131) - T6 - SEXTA TURMA - DJe 01/07/2011). Ou seja, pode no ser necessria a percia da arma de fogo para comprovar a sua potencialidade lesiva se ela tiver sido atestada por outras provas trazidas aos autos, Ex. testemunhas viram o ru atirando com a arma de fogo. II - se h o concurso de duas ou mais pessoas; - Para que haja a configurao desta qualificadora basta, to somente, que um dos agentes seja imputvel, no importando se os demais participantes possuam ou no esse qualidade, ou seja, reconhecido o roubo majorado pelo concurso de pessoas se o crime cometido por um imputvel e por um inimputvel. - Alm disso, basta que um dos coautores ou partcipes tenha sido descoberto para que haja a incidncia da majorante. - Haver a incidncia desta qualificadora ainda que no estejam todos os sujeitos na cena do crime. OBS: Os tribunais superiores (STF e STJ) tem entendido que possvel haver a punio pelo crime de roubo majorado pelo concurso de pessoas (Art. 155, 4, IV, CP) e o crime de quadrilha ou bando (Art. 288, CP), tendo em vista que nestes crimes existe afronta a bens jurdicos distintos, no crime de roubo protege-se, precipuamente, o patrimnio da vtima, enquanto que no crime de quadrilha ou bando protege-se a paz pblica. III - se a vtima est em servio de transporte de valores e o agente conhece tal circunstncia. - Para que haja a configurao desta majorante necessria a conjugao de dois fatores: 1) Que a vtima esteja em servio de transporte de valores incide a majorante se o servio da vtima era o transporte de valores (dinheiro ou qualquer outro bem economicamente aprecivel, como pedras preciosas, selos). Alm disso, a expresso transporte de valores abrange alm de servios especficos de transporte de valores (ex. carro-forte), qualquer outro servio de transporte de valores (ex. Office-boy que entrega bens valiosos de moto) 2) O agente conhecer a circunstncia acima o agente tem que saber, efetivamente, que a vtima, naquele momento, estava a servio de transporte de valores. Ou seja, este conhecimento deve, obrigatoriamente, fazer parte de seu dolo, sob pena de restar afastada esta majorante. IV - se a subtrao for de veculo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior;

- Mesmas consideraes feitas no crime de furto, com a ressalva de que neste caso a circunstncia configura uma majorante (causa de aumento de pena). V - se o agente mantm a vtima em seu poder, restringindo sua liberdade. - Para a configurao deste crime a privao da liberdade da vtima meio para a execuo do roubo ou como uma garantia, em beneficio do agente contra a ao policial. - Alm disso, a subtrao do bem independe de colaborao da vtima. - Por fim, a restrio da liberdade ocorre por um curto espao de tempo, ou seja, deve ser o tempo suficiente para conseguir subtrair o bem da vtima com violncia ou grave ameaa. Ex. Dois assaltantes apontam uma arma para a cabea da vtima e pedem para ela entrar no porta-malas do carro e ali permanece por tempo no prolongado, at que os agentes tenham completo sucesso na empreitada criminosa, vindo a liberar a vtima em local ermo e sem vigilncia policial. OBS 1: Smula 443 do STJ - O aumento na terceira fase de aplicao da pena no crime de roubo circunstanciado exige fundamentao concreta, no sendo suficiente para a sua exasperao a mera indicao do nmero de majorantes. 3.2.2. Roubo Qualificado. - Ele est no Art.157, 3, do Cdigo Penal que traz a seguinte previso: Se da violncia resulta leso corporal grave, a pena de recluso, de sete a quinze anos, alm da multa; se resulta morte, a recluso de vinte a trinta anos, sem prejuzo da multa. - Primeiro detalhe que esta modalidade qualificada somente ocorrer se houver violncia fsica contra a vtima, no havendo que se falar em emprego de grave ameaa ou recurso que impossibilite a resistncia da vtima. - Alm disso, o roubo pode ser qualificado se da violncia resulta: 1) Leso corporal grave. 2) Morte (Latrocnio) - A doutrina majoritria entende que os resultados podem ser atribudos ao agente a ttulo de dolo ou culpa, sendo este inclusive o entendimento do STJ. - Vale ressaltar que somente latrocnio considerado crime hediondo, no estando incluso o roubo qualificado pelo resultada leso corporal grave. - Para que haja o latrocnio necessrio, tambm, que a morte decorra da violncia empregada durante (fator tempo) e em razo (fator nexo causal) do assalto. Ausentes qualquer destes pressupostos, o agente responder por crime de homicdio doloso em concurso com o roubo. - O latrocnio considerado crime contra o patrimnio (de forma preponderante), razo pela qual NO um crime doloso contra a vida, NO sendo julgado pelo Tribunal do Jri, nos termos da Sumula 603 do STF.

- Fique ligado na Smula 610 do STF H crime de latrocnio, quando o homicdio se consuma, ainda que no se realize o agente a subtrao de bens da vtima. - O latrocnio tentado ocorreria ento quando o roubo e a morte foram tentadas, ou ento quando o roubo foi consumado, mas a morte foi tentada. 3.3. Destaque. 1) Princpio da insignificncia NO admitido pela doutrina e pela jurisprudncia dos tribunais superiores, pois trata-se de crime com pluralidade ofensiva. O crime de roubo representa um dos mais graves atentados segurana social, de modo que, ainda que nfimo o calor subtrado, ou seja, ainda que a ofensa ao patrimnio seja nfima, tal no afasta o desvalor da ao representado pelo emprego de violncia ou ameaa pessoa. 2) No extensvel o privilgio previsto no Art. 155, 2, do Cdigo Penal ao crime de roubo em sendo o bem subtrado de pequeno valor e o ru primrio inadmissvel a extenso desse preceito benfico ao crime de roubo, uma vez que este crime revela uma ao de maior gravidade, ou seja, h maior desvalor da ao, em virtude do emprego de violncia ou grave ameaa pessoa, de modo que o pequeno valor do objeto roubado no pode por si s ser capaz de atrair o benefcio legal, segundo entendimento dos tribunas superiores.

4. Extorso. 4.1Extorso Simples. A) Tipo Objetivo - Ele est no Art. 158, caput, do Cdigo Penal, e ocorre na seguinte situao: Constranger algum, mediante violncia ou grave ameaa, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econmica, a fazer, tolerar que se faa ou deixar fazer alguma coisa: Pena - recluso, de quatro a dez anos, e multa. - Percebe-se que as condutas so as seguintes: a) Constranger algum, mediante violncia ou grave ameaa; - Constranger tem o sentido de obrigar, coagir, compelir, forar algum, utilizando-se de violncia(agresso fsica, ex. emprega fora sobre seu corpo) ou grave ameaa ( uma coao psicolgica, a promessa de causar um mal injusto, grave e possvel), esta grave ameaa pode atingir tanto o titular do patrimnio quanto pessoa ligada a ele (ex. pai, filhos, me, esposa, etc.) - A ameaa o meio mais comum utilizado pelo agente para constranger a vtima a agir ou abster de determinado comportamento. H diversos bens que podem ser visados na ameaa, como a vida, a integridade fsica, a honra, a reputao, o renome profissional ou artstico, o crdito comercial, o equilbrio financeiro, a tranquilidade pessoal ou familiar, a paz domiciliar, a propriedade de uma empresa, em resumo, todo bem ou interesse cujo

sacrifcio represente, para o respectivo titular, uma mal maior que o prejuzo patrimonial correspondente vantagem exigida pelo extorsionrio. Assim, a vtima cede vantagem ante o temor que um bem seu de maior valor seja sacrificado. - Adverte o autor Fernando Capez que NO requisito do crime que o dano da ameaa seja injusto. Ou seja, o dano da ameaa pode no ser, em si, injusto, porm assim se torna, pela injustia do objetivo do agente. Ex. Caio possui provas de que Tcio cometeu um crime e ameaa denunci-lo, se Tcio no lhe pagar determinada quantia de dinheiro. b) Com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econmica, a fazer, tolerar que se faa ou deixar fazer alguma coisa; - Existe a finalidade especial de obter para si ou para outrem (em benefcio do prprio sujeito ativo do crime ou de um terceiro) indevida vantagem ( uma vantagem que o agente no tinha direito, sendo contrria ao direito este um elemento normativo do tipo penal) econmica (a vantagem pretendida obrigatoriamente deve ter valor econmico, tendo um sentido mais amplo que no crime de furto ou roubo que se limitam a bem mvel). Ou seja, no crime de extorso no apenas o bem mvel que est amparada, mas tambm, por exemplo, o bem imvel, Ex. o agente que obriga a vtima a assinar uma escritura pblica, por meio do qual ela lhe transfere uma propriedade imvel. - Alm disso o agente ir constranger algum, mediante violncia ou grave ameaa, com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econmica, a fazer (ex. traficantes que obrigam o pagamento de propina a moradores, obrigar a quitar uma dvida no paga), tolerar que se faa (permitir que o agente rasgue um contrato) ou deixar fazer alguma coisa (obrigar a vtima a no cobrar a dvida de um amigo do sujeito ativo do crime). Percebe-se que primeiramente existe a ao de constranger realizada pelo coator, a qual seguida pela realizao ou absteno de um ato por parte do coagido. OBS: Distines ! 1) Extorso (Art. 158 CP) x Constrangimento Ilegal (Art. 146 CP). - A ausncia da finalidade de obter indevida vantagem econmica poder configurar o crime de constrangimento ilegal (Art. 146 do CP), valendo ressaltar que a principal diferena do crime de extorso para o crime de constrangimento ilegal que a finalidade do agente no crime de constrangimento ilegal a restrio da liberdade (Constrange-se algum, mediante violncia ou grave ameaa, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistncia, a no fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela no manda), enquanto que no crime de extorso a finalidade o enriquecimento do agente(obteno de indevida vantagem econmica). 2) Extorso (Art. 158 CP) x Roubo (Art.157 CP) A diferenciao dos dois crimes pode ser resumida da seguinte forma: Roubo (Art.157 CP) 1. A ameaa, normalmente, prometida para aquele instante, pois a vantagem patrimonial imediata. Extorso (Art. 158 CP) 1. A ameaa, normalmente, futura, pois a vantagem patrimonial mediata.

2. um crime material. 3. O proveito patrimonial no depende de qualquer atuao da vtima, ou seja, a colaborao da vtima dispensvel, pois o prprio ladro que subtrai o bem. B) Bem jurdico protegido e Objeto material.

2. um crime formal. 3. O proveito patrimonial depende de atuao da vtima, ou seja, a colaborao da vtima indispensvel, pois a prpria vtima que entrega o bem.

- O bem jurdico protegido, alm do patrimnio (aqui entendido num sentido mais amplo do que a posse e a propriedade, pois a lei fala em indevida vantagem econmica), tambm pode-se incluir a liberdade individual, a integridade fsica ou psquica. - O objeto material, por sua vez, a pessoa contra qual recai o constrangimento. C) Tipo Subjetivo. - Este crime SOMENTE pode ser praticado na forma DOLOSA, devendo o agente constranger algum, mediante violncia ou grave ameaa, com finalidade especial de obter indevida vantagem econmica. OBS: A doutrina esclarece que: Se a vantagem for de natureza sexual: pode haver crime de estupro. (Art. 213, CP) Se a vantagem for devida: pode haver crime de exerccio arbitrrio das prprias razes (Art. 345, CP) D) Consumao e Tentativa. - A consumao do crime de extorso, por se tratar de um crime formal, ocorre quando o sujeito constrange a vtima, mediante violncia ou grave ameaa, a fazer, a tolerar que se faa ou deixar de fazer alguma coisa, desta forma, o crime se consuma independentemente do efetivo recebimento da vantagem indevida. Caso o agente venha a receber a indevida vantagem econmica, haver mero exaurimento do crime. OBS: Smula n 96 STJ - O crime de extorso consuma-se independentemente da obteno da vantagem indevida. - A tentativa para a maioria da doutrina no possvel, j que se trata de crime formal. Entretanto parte da doutrina entende que seria possvel a tentativa se o crime fosse praticado de forma escrita, como por meio de uma carta, e esta fosse interceptada. E) Sujeito Ativo e Passivo. - O sujeito ativo do crime pode ser qualquer pessoa, bem como o sujeito passivo. 4.2Figuras tpicas. a) Extorso Simples - Art. 158, caput, CP.

b) Extorso Majorada (com causa de aumento de pena) - Art. 158, 1, CP. c) Extorso Qualificada - Art. 158, 2 do CP.

d) Sequestro relmpago Extorso Qualificada Art. 158, 3 do CP. 4.2.1 Extorso Majorada (com causa de aumento de pena). - Ela est no Art. 158, 1 do Cdigo Penal e aumenta-se a pena de um tero at metade se o crime : a) Cometido por duas ou mais pessoas . - Pela redao do artigo, conclui-se que esta majorante, diferentemente do que ocorre com o roubo ou o furto, s ocorrer, se existir, no mnimo duas pessoas executando o crime de extorso, NO computando eventuais partcipes. Ou seja, exige-se coautoria e NO mera participao. b) Cometido com emprego de arma - Esta majorante possui as mesmas consideraes do crime de roubo. OBS: Se ligue que o crime de extorso possui apenas duas majorantes (causas de aumento de pena) diferentemente do crime de roubo que possui cinco majorantes. 4.2.2 Extorso Qualificada. - Ela est no Art. 158, 2 do Cdigo Penal e prev o seguinte: Aplica-se extorso praticada mediante violncia o disposto no 3 do artigo anterior. - Ou seja, se da violncia resulta leso corporal grave, a pena de recluso, de sete a quinze anos, alm da multa; se resulta morte, a recluso de vinte a trinta anos, sem prejuzo da multa. - A doutrina majoritria entende que os resultados podem ser atribudos ao agente a ttulo de dolo ou culpa. - Alm disso, nos termos do Art. 1, III, da Lei 8072/90, a extorso qualificada pelo resultado morte considerada um crime hediondo. - Vale lembrar, tambm, que a extorso com morte da vtima, assim como o latrocnio, de competncia do juiz singular, e no do Tribunal do Jri. 4.2.3 Sequestro Relmpago. - Ele est previsto no Art. 158, 3 do Cdigo Penal e ocorre na seguinte situao: Se o crime cometido mediante a restrio da liberdade da vtima, e essa condio necessria para a obteno da vantagem econmica, a pena de recluso, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, alm da multa; se resulta leso corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, 2o e 3o, respectivamente. (Includo pela Lei n 11.923, de 2009) - O sequestro relmpago nada mais do que uma forma de extorso qualificada, com a peculiaridade que neste crime, alm de o papel da vtima ser imprescindvel para que o agente aufira a indevida vantagem econmica, exige-se a restrio da liberdade da vtima sendo esta uma condio necessria para a obteno da vantagem econmica. - Se ligue que no crime de sequestro relmpago a prpria vtima que deve disponibilizar a vantagem indevida depois de ter restringida a liberdade, tendo uma participao ativa, pois se a vantagem indevida for disponibilizada por terceiro teremos o crime de extorso mediante sequestro.

Ex. Sujeitos pegam pessoa e a colocam em um carro restringindo sua liberdade para poderem lev-la a um caixa eletrnico e a prpria vtima vem a sacar uma quantia em dinheiro para os criminosos. - Ou seja, o crime de sequestro relmpago apenas detalhou uma forma de execuo da extorso que quando existe restrio da liberdade da vtima, sendo uma condio necessria para obter a vantagem econmica indevida. OBS: Denties: 1) Sequestro Relmpago x Roubo Majorado do Art. 157, 2, V, CP. - No crime de extorso conhecido como sequestro relmpago, Art. 158, 3, do Cdigo Penal do CP, possui as seguintes peculiaridades, NO se confundindo com o roubo majorado do Art. 157, 2, V, CP, tendo em vista que: 1) Na extorso o proveito patrimonial do crime depende de colaborao da vtima. Logo o crime de roubo NO se confunde com a figura do sequestro relmpago previsto no Art. 158, pargrafo 3 do CP. 2) A privao da liberdade da vtima um meio necessrio para que o agente obtenha a vantagem econmica que S a vtima pode oferecer. 3) Exige-se a participao ativa da vtima para que o agente aufira a vantagem econmica, como observa o STJ. 4) um crime formal, nos termos da Smula 96 do STJ, sendo o roubo um crime material. Ex. Vitima acompanhada por agente para que ela efetua um saque em dinheiro de sua conta corrente. Ou vitima levada a sua residncia para que abra um cofre que somente ela sabe o segredo. 5) Vale ressaltar ainda que ela uma qualificadora pois aumenta a pena base do crime de extorso. 2) Extorso (Art. 158 CP) X Concusso (Art. 316 CP) O crime de concusso somente pode ser praticado por funcionrio pblico existindo uma exigncia de vantagem indevida SEM violncia ou grave ameaa, ou seja, alm da vantagem poder ser de natureza patrimonial ou no (o que NO ocorre no crime de extorso, tendo em vista que neste a vantagem deve ser sempre econmica), no crime de concusso NO h o emprego de violncia ou ameaa.

5. Extorso mediante sequestro. 5.1 Extorso mediante sequestro Simples. A) Tipo Objetivo. - Ele est no Art. 159, caput, do Cdigo Penal e ocorre na seguinte situao: Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condio ou preo do resgate: Pena - recluso, de oito a quinze anos. - Veja que a conduta do agente a de: a) Sequestrar pessoa a conduta sequestrar abrange inclusive o crcere privado, havendo uma restrio do direito de ir e vir que pode ser impedido por qualquer meio (violncia, grave ameaa, etc.). Alm disso, o agente visa uma pessoa determinada (pessoa especfica). b) Com a finalidade de obter para si ou para outrem, qualquer vantagem como condio ou preo do resgate. - Apesar da redao do artigo a doutrina majoritria entende que a expresso qualquer vantagem deve ser uma vantagem econmica, tendo em vista se tratar de um crime contra o patrimnio. - Alm disso esta vantagem exigida como condio ( qualquer tipo de ao do sujeito passivo que possa conduzir a uma vantagem econmica, Ex. assinatura de um contrato) ou preo (indica a exigncia de um valor em dinheiro ou qualquer outra utilidade patrimonial) do resgate, (neste caso a vantagem patrimonial NO entregue pela prpria vtima e sim por um terceiro). B) Bem Jurdico e Objeto Material. - Trata-se de um crime complexo e por esta razo o bem jurdico protegido o patrimnio (aqui mais amplo do que somente a posse ou a propriedade, pois a lei penal fala em qualquer vantagem), bem como a liberdade individual( principalmente no que diz respeito ao direito de ir, vir e permanecer) e a integridade fsica e psquica. Logicamente, como se trata de um crime contra o patrimnio, este o bem jurdico precipuamente protegido.

- Por sua vez, o objeto material do crime a pessoa contra a qual recai a privao da liberdade, mediante o sequestro. C) Tipo Subjetivo. - Este crime SOMENTE pode ser praticado na forma DOLOSA, devendo o agente ter a vontade consciente de privar a vtima de sua liberdade, aliada finalidade de obter ilcita vantagem em troca de sua soltura. D) Consumao e Tentativa. - A consumao da extorso mediante sequestro ocorre com a privao da liberdade da vtima, como condio ou preo de resgate, independentemente da obteno da vantagem,. Ou seja, o recebimento do resgate considerado mero exaurimento do crime, tendo em vista se tratar de um crime formal. - Esclarece ainda a doutrina que este um crime permanente, sendo admitida a priso em flagrante enquanto ocorrer a privao da liberdade da vtima. - A tentativa admissvel, apesar de ser crime formal, j que se trata de crime plurissubsistente. E) Sujeito Ativo e Sujeito Passivo. - O sujeito ativo do crime pode ser qualquer pessoa. - Por sua vez, o sujeito passivo ser tanto a vtima que teve sua liberdade tolhida, quanto aquele que sofreu a leso patrimonial em virtude da extorso, alm disso, para parte da doutrina, a pessoa jurdica tambm poderia ser vtima do crime em estudo, e por consequncia, seria tambm sujeito passivo (ex. um dos scios de uma empresa pode ter privada sua liberdade para que se efetue um pagamento por intermdio do patrimnio da pessoa jurdica a eles pertencente). 5.2. Figuras Tpicas. a) Extorso mediante sequestro Simples Art. 159, caput, do CP.

b) Extorso mediante sequestro Qualificada - Art. 159, 1, 2 e 3 do CP. 5.2.1 Modalidades Qualificadas. 1) Art. 159, 1, do Cdigo Penal. - A pena do crime de extorso mediante sequestro ser de recluso, de doze a vinte anos, SE: a) O sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas a contagem do prazo tem incio a partir do momento que a vtima se v, efetivamente, privada de sua liberdade. b) O sequestrado menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos a qualificadora se justifica em virtude da condio da vtima, alm disso, o sequestrador deve ter conhecimento da idade das vtimas, para que possa haver a incidncia da qualificadora. c) O crime cometido por bando ou quadrilha para que se possa aplicar a qualificadora em estudo, preciso que exista, efetivamente, a formao de quadrilha ou

bando, nos moldes do Art. 288 do Cdigo Penal. Ou seja, deve haver a associao NO eventual de mais de trs pessoas, que exige certa estabilidade ou permanncia, com o fim de praticar crimes, vale dizer, um nmero indeterminado de infraes penais. Desta forma, caso ocorra a reunio eventual de mais de trs pessoas com o fim especfico de praticar UM NICO crime de extorso mediante sequestro, restar afastada a qualificadora. OBS: Os tribunais superiores (STF e STJ) tem entendido que possvel haver a punio pelo crime de extorso mediante sequestro qualificado pela quadrilha ou bando (Art. 159, 1, CP) e o crime de quadrilha ou bando (Art. 288, CP), tendo em vista que nestes crimes existe afronta a bens jurdicos distintos, no crime de extorso mediante sequestro qualificado protege-se o patrimnio da vtima, enquanto que no crime de quadrilha ou bando protege-se a paz pblica, NO havendo que se falar em bis in idem. 2) Art. 159, 2, do Cdigo Penal. - A pena do crime de extorso mediante sequestro ser de recluso, de dezesseis a vinte e quatro anos, SE do fato resulta leso corporal de natureza grave. - Trata-se de crime qualificado pelo resultado e o resultado agravador, qual seja, a leso corporal grave, poder ser atribudo a ttulo de dolo ou culpa. 3) Art. 159, 3, do Cdigo Penal. - A pena do crime de extorso mediante sequestro ser de recluso, de vinte e quatro a trinta anos, SE do fato resulta a morte. - Trata-se de crime qualificado pelo resultado e o resultado agravador, qual seja, a morte, poder ser atribudo a ttulo de dolo ou culpa. - Alm disso, assim como ocorre no crime de latrocnio, o crime ser julgado pelo juiz singular, e no pelo Tribunal do Jri. OBS: A extorso mediante sequestro em TODAS as suas formas, seja ela simples ou qualificada considerado um crime hediondo, nos termos do Art. 1, IV, da Lei 8072/90. 5.3 Delao premiada. - Ela est no Art. 159, 4, do Cdigo Penal, e ocorre na seguinte situao: Se o crime cometido em concurso, o concorrente que o denunciar autoridade, facilitando a libertao do sequestrado, ter sua pena reduzida de um a dois teros. - Ela uma causa especial de reduo de pena e possui os seguintes requisitos: 1) Que o crime tenha sido cometido em concursos de pessoas. 2) Que um dos concorrentes denuncie (esclarea, d conhecimento) autoridade (Delegado, Promotor, Juiz) 3) Facilitando a libertao do sequestrado (no sendo suficiente, para o seu reconhecimento, a mera intencionalidade do agente).

- Como se observa, o pagamento ou no do resgate NO se insere dentre os requisitos da delao premiada. Portanto, independentemente da diminuio patrimonial, presentes os requisitos acima apontados, imperiosa a reduo de pena prevista. OBS: Se ligue nas diferenciaes! 1) Roubo (Art. 157 CP) x Extorso Qualificada (Art. 158, 3, CP Sequestro relmpago) x Extorso Mediante Sequestro (Art. 159 CP).
Roubo Ncleo do tipo Colaborao da Vtima Subtrair com violncia. Dispensvel. Extorso Qualificada (Sequestro relmpago) Constranger com violncia. Indispensvel (a vantagem depende de seu comportamento e h restrio de sua liberdade) Extorso Mediante Sequestro (Art. 159 CP) Sequestrar. Dispensvel (a vantagem depende de comportamento de terceiro.)

6. Apropriao Indbita. 6.1Apropriao Indbita Simples. A) Tipo Objetivo. - Ela est no Art. 168, caput, do Cdigo Penal, e ocorre na seguinte situao: Apropriarse de coisa alheia mvel, de que tem a posse ou a deteno. Pena - recluso, de um a quatro anos, e multa. - Veja que em relao conduta, a apropriao (assenhorar-se,tomar para si) ocorre quando o agente, abusando da condio de possuidor ou detentor, inverte o animus, agindo arbitrariamente como se dono fosse. Ou seja, inicialmente o agente tem legitimamente a posse ou a deteno da coisa, a qual transferida pelo proprietrio, de forma livre e consciente, mas, em momento posterior, inverte esse ttulo, passando a agir como se dono fosse. Nesse momento se configura a apropriao indbita. Veja-se: h a lcita transferncia da posse ou deteno do bem para o agente pelo proprietrio. O agente, por sua vez, estando de boa-f, recebe o bem sem a inteno de apoderar-se dele. At aqui no nenhum crime ocorre, entretanto, a conduta passa a ter conotao criminosa no memento em que o agente passa a dispor da coisa como se dono fosse. - Vale ressaltar que NO pode haver o emprego de violncia ou fraude por parte do agente para conseguir a posse ou a deteno do objeto, pois sua obteno contra a vontade do dono poder caracterizar outros crimes contra o patrimnio, como o crime de roubo, estelionato ou furto. Ex. O proprietrio de um carro aluga este carro para uma pessoa, entretanto esta pessoa, aps terminar o contrato de locao, passa a agir como se fosse dono do veculo, apresentando-se como proprietrio do bem e nunca mais devolvendo o bem ao legtimo proprietrio. - Alm disso, a ao deve recair sobre coisa alheia mvel, que aquela pertencente a uma pessoa diversa do sujeito ativo do crime e passvel de ser transportada de um local para o outro. Por fim, observa-se que a posse ou deteno exercida pelo agente deve ser desvigiada (confiada sem vigilncia, havendo a livre disponibilidade sobre a coisa) e legtima (com a concordncia expressa ou tcita do proprietrio).

OBS: Vale ressaltar que os conceitos de propriedade, posse e deteno so do mbito do direito civil. Entretanto, de forma resumida, pode-se diferenci-los da seguinte forma. A propriedade um direito real em que o sujeito pode usar, gozar e dispor do bem, nos casos dos bens mveis a sua aquisio se d com a tradio. A posse, por sua vez, um fato e sua aquisio acontece desde o momento em que se torna possvel exercer qualquer dos poderes inerentes propriedade, ou seja, quando o possuidor exerce o poder de usar, gozar ou dispor do bem. A deteno, por fim, ocorre com a prtica de atos materiais sobre o bem em cumprimento de ordens ou instrues alheias, havendo uma dependncia hierrquica que recai sobre o detentor, como por exemplo, um motorista, um caseiro, uma empregada domstica que atuam por ordem de um empregador. B) Bem jurdico e Objeto material. - O bem jurdico protegido o direito de propriedade. - Por sua vez, o objeto material da apropriao indbita a coisa alheia mvel que se encontra na posse ou sob a deteno do sujeito ativo do crime. C) Tipo Subjetivo. - Este crime SOMENTE pode ser praticado na forma DOLOSA, entretanto o dolo posterior posse ou deteno da coisa, representado pela vontade consciente de se apropriar de objeto alheio mvel, existindo a inteno de se apropriar definitivamente do bem, agindo como se dono fosse (animus rem sibi habendi), ou seja, o agente tem a vontade de ter a coisa para si, como se fosse o dono. OBS: Distines ! 1) Apropriao indbita (Art. 168, CP) X Estelionato (Art. 171, CP) No crime de estelionato o dolo anterior posse da coisa, ou seja, o agente age desde o incio com a inteno especfica de apoderar-se definitivamente do bem, o que NO ocorre com apropriao indbita, em que o dolo sempre posterior ao recebimento da coisa. Alm disso, no crime de estelionato existe o emprego de fraude, iludindo-se o proprietrio do bem a agir em erro, vindo a entregar o bem sem saber que est sendo enganada. J na apropriao indbita NO existe o emprego de fraude, sendo a coisa entregue livremente por quem detm a posse ou deteno da coisa alheia mvel. Ex. Se o sujeito, com dolo antecedente, utiliza-se de um contrato de locao como artifcio para cometer a apropriao, restar configurado o crime de estelionato. 2) Apropriao indbita (Art. 168, CP) X Furto (Art. 155, CP) No crime de furto a posse vigiada, pois o agente NO tem a livre disponibilidade do bem (Ex. empregado de uma loja que vigiado pelo gerente). Se a posse for desvigiada, ou seja, a posse do bem confiada ao agente sem vigilncia do proprietrio, ocorrer a apropriao indbita, ou seja, o exerccio da posse no controlado pelo proprietrio (Ex. locatrio que aps alugar um carro resolve se apropriar definitivamente do carro que foi objeto de um contrato de locao). D) Consumao e tentativa. - A consumao do crime de apropriao indbita, por se tratar de crime material, ocorre com a exteriorizao da inverso da posse, transformando-se em domnio, ou seja, quando o

agente pratica atos inerentes qualidade de dono, incompatveis com a possibilidade de posterior restituio da coisa. Ex. Se o sujeito que detm a posse ou a deteno do bem a vende, ou doa a terceiro. - Por sua vez, apesar de bastante divergente, entende-se possvel a tentativa, pois tratase, como regra, de crime plurissubsistente. Ex. O agente surpreendido pelo proprietrio no momento em que est vendendo a coisa, sendo impedido de concretizar o negcio. E) Sujeito Ativo e Sujeito Passivo. - O sujeito ativo do crime pode ser qualquer pessoa a quem seja confiada a posse ou deteno de determinado bem mvel. Inclusive o condmino pode figurar no polo ativo, desde que no se trate de coisa fungvel e que ultrapasse a cota a que faz jus. - Por sua vez, o sujeito passivo ser aquele atingido em seu patrimnio pela indevida apropriao, podendo ser pessoa fsica ou jurdica, no necessariamente aquele que entregou o bem ao agente. OBS: Se o sujeito ativo do crime for funcionrio pblico, apropriando-se da coisa, pblica ou particular, em razo do seu ofcio, haver a caracterizao do crime de peculato apropriao, nos termos do Art. 312, caput, do Cdigo Penal. 6.2Figuras Tpicas. a) Apropriao Indbita Simples Art. 168, caput, CP.

b) Apropriao Indbita com causa de aumento de pena Art. 168, 1,CP. 6.2.1 Apropriao Indbita com causa de aumento de pena. - O Art. 168, 1, do Cdigo Penal, prev que a pena aumentada de um tero, quando o agente recebeu a coisa: I - em depsito necessrio a legislao civil (Art. 647 do CC) define o depsito necessrio como sendo aquele atribudo no desempenho de funo legal ou na ocorrncia de calamidades, ou ainda, de acordo com o Art. 649 do CC, no caso de depsito por equiparao. Segundo Nelson Hungria (acompanhado pela maioria da doutrina), o dispositivo abrange somente a hiptese de depsito ocorrido em calamidades, j que o depositrio legal ser o funcionrio pblico, que cometer peculato, recebendo a coisa em razo do cargo. No deposito por equiparao, por sua vez, afirma Nelson Hungria que dever o agente responder como incurso no 168, 1, III, do CP. II - na qualidade de tutor, curador, sndico, liquidatrio, inventariante, testamenteiro ou depositrio judicial a causa de aumento de pena se d em razo da qualidade pessoal do agente. Vale lembrar que tutor pessoa que rege menor e seus bens; curador aquele que dirige pessoa e bens maiores e capazes; sndico pessoa incumbida da administrao da falncia; inventariante quem administra o esplio at a partilha; testamenteiro aquele que cumpre as disposies de ultima vontade do de cujos; e, por fim, depositrio judicial a pessoa nomeada pelo juiz com a incumbncia de guardar objetos at deciso judicial, cuida-se aqui de particular nomeado depositrio judicial pelo juiz, pois, se for funcionrio poder haver a punio pelo crime de peculato.

III - em razo de ofcio, emprego ou profisso a causa de aumento de pena se d em razo da atividade desempenhada pelo agente. A doutrina esclarece que ofcio a atividade, com fim de lucro, habitual e consistente em arte mecnica ou manual, como exemplo, o ourives, o sapateiro; o emprego a ocupao em servio particular em que haja relao de subordinao e dependncia, por exemplo, empregada domstica, operrio de empresa particular; e, por fim, profisso a atividade habitual remunerada, de carter intelectual, a exemplo do mdico, advogado, professor. OBS: Apropriao Indbita Privilegiada. - Est prevista no Art. 170 do Cdigo Penal que prev que: Nos crimes previstos neste Captulo, aplica-se o disposto no art. 155, 2. - Desta forma, os requisitos da referida apropriao indbita so: a) que o criminoso seja primrio; b) que a coisa seja de pequeno valor. Presentes as circunstancias judiciais legais, o juiz est obrigado a reduzir a pena de recluso de um tero a dois teros ou substitu-la por deteno, ou aplicar apenas a multa. - No mais, devem ser observados os comentrios que foram feitos no art. 155, 2, do CP. 6.3 Destaques. 1) Apropriao Indbita de Uso. possvel haver a chamada apropriao indbita de uso segundo a doutrina majoritria. Da mesma forma como ocorre com a subtrao de uso, pode o agente, por exemplo, no devolver, momentaneamente, a coisa que se encontra em sua posse, a fim de us-la por mais algum tempo. - Neste caso, NO restaria configurado o delito de apropriao indbita, em virtude da ausncia do animus rem sibi habendi , vale dizer, o dolo de se apropriar da coisa, de tlo para si como se fosse dono, invertendo o ttulo da posse. 2) Possibilidade de aplicao do princpio da insignificncia ao crime de apropriao indbita. - possvel aplicar o princpio da insignificncia ao crime de propriacao indbita segundo julgados recentes do STJ, neste sentido:
Informativo n 0463 Perodo: 14 a 18 de fevereiro de 2011. Sexta Turma INSIGNIFICNCIA. APROPRIAO INDBITA. AGENDA. A Turma concedeu a ordem de habeas corpus para reconhecer a atipicidade da conduta imputada ao paciente denunciado pela suposta prtica do crime previsto ante no a art. 168 do CP do (apropriao indbita), aplicao

princpio da insignificncia. In casu, a vtima, advogado, alegou que o paciente tambm advogado e colega do mesmo escritrio de advocacia teria se apropriado de sua agenda pessoal (avaliada em cerca de dez reais), a qual continha dados pessoais e profissionais. Para a Min. Relatora, a hiptese dos autos revela um

acontecimento trivial, sem que tenha ocorrido qualquer circunstncia hbil a lhe conferir maior relevncia. Consignou que, por mais que se considere que o objeto supostamente tomado continha informaes importantes vtima, a conduta dotada de mnimo carter ofensivo e reduzido grau de reprovao, assim como a leso jurdica inexpressiva e no causa repulsa social. Precedentes citados do STF: HC 84.412-SP, DJ 19/11/2004; do STJ: HC 103.618-SP, DJe 4/8/2008; REsp 922.475-RS, DJe 16/11/2009; REsp 1.102.105-RS, DJe 3/8/2009, e REsp 898.392-RS, DJe 9/3/2009. HC 181.756-MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 15/2/2011.