Energia Das Ondas
Energia Das Ondas
Energia Das Ondas
sarmento
Ttulo:
Energia das Ondas: Introduo aos Aspectos Tecnolgicos, Econmicos e Ambientais Joo M.B.P. Cruz Antnio J.N.A. Sarmento Instituto Superior Tcnico WEC Wave Energy Centre
Autoria:
Instituto do Ambiente Outubro de 2004 Fernandes & Terceiro, Lda. Enclave, Publicidade & Marketing, Lda. 1 500 exemplares 972-8577-11-7 217316/04
Para o Prof. Antnio Falco, que inspirou e inspira geraes e geraes de estudantes (incluindo as duas que escreveram este livro).
ndice
1. 2. 2.1. 2.2. 2.2.1. 3. 3.1. 3.2. 3.2.1. 3.2.2. 3.2.3. 3.2.4. 3.3. 3.3.1. 3.3.2. 3.4. 3.4.1. 3.4.2. 3.4.3. 3.4.4. 3.4.5. Origem e Recurso Energtico das Ondas dos Oceanos Aspectos Genricos da Energia das Ondas Histria da Energia das Ondas A Energia das Ondas em Portugal Perspectivas Futuras no Caso Portugus Tecnologias de Converso de Energia das Ondas Classificao das Tecnologias Dispositivos Costeiros Dispositivos de Coluna de gua Oscilante (CAO) Central Piloto Europeia da Ilha do Pico Central LIMPET Outras Centrais: a Energetech OWC Dispositivos Prximos da Costa OSPREY CEO Douro Dispositivos Afastados da Costa Archimedes Wave Swing Pelamis Wave Dragon Mighty Whale Outros Dispositivos: Perspectivas Futuras 7 9 9 11 12 15 15 16 16 17 20 21 21 22 22 23 23 25 27 29 30
4. 4.1. 4.2. 4.3. 4.4. 4.5. 5. 5.1. 5.2. 5.3. 5.4. 5.5. 6. 7. 8.
Economia da Energia das Ondas Custo Unitrio de Potncia Instalada para Condies de Viabilidade Econmica Investimento, Produtividade e Remunerao de um Parque de Energia das Ondas com 1 km de Extenso Custo Actual da Tecnologia e Investimento Necessrio para se Atingir a Viabilidade Econmica Aproveitamento de Energia das Ondas Integrado em Obras de Proteco Costeira Dimenses Tpicas de um Parque de Energia das Ondas Impactes Ambientais Associados Converso de Energia das Ondas Impactes Visuais Rudo Perturbao do Meio Envolvente Esquematizao dos Impactes Ambientais Aspectos Relevantes numa Poltica Ambiental Barreiras ao Desenvolvimento Concluses Referncias Lista de figuras Lista de tabelas
33 33 35 36 39 40 43 43 43 44 45 48 65 68 71 59 61
disponvel facilmente concebemos que este recurso constitui uma mais valia para Portugal, que se encontra ainda por explorar.
Figura 1.1 Distribuio do potencial mundial das ondas em kW/m de frente de onda
Portugal foi alis um dos pases pioneiros na investigao e desenvolvimento dos dispositivos de converso de energia das ondas, pois desde 1977 que um grupo do Instituto Superior Tcnico (IST) da Universidade Tcnica de Lisboa se dedica a este tpico, grupo ao qual se juntou em 1983 um outro do Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovao (INETI). A central piloto europeia da Ilha do Pico, que descrita em 3.2.2., representa o culminar do esforo conjunto do IST, do INETI e de algumas empresas, tais como a EDP, a EDA e a EFACEC, no que diz respeito implementao de tecnologias de converso da energia das ondas. A sua importncia histrica ser salvaguardada seguramente pelas futuras geraes de investigadores e cientistas. A constituio, em 2003, do Centro de Energia das Ondas2, uma associao internacional sem fins lucrativos cuja ndole est direccionada para o desenvolvimento e promoo da utilizao da energia das ondas atravs de apoio tcnico e estratgico a empresas, prova o crescente interesse nesta rea. Este texto tem como objectivo fundamental apresentar e descrever as principais tecnologias que permitem a converso da energia das ondas em energia elctrica. Dada a prpria natureza destas tecnologias outras podem surgir, substituindo ou no as existentes, mas o estado actual de desenvolvimento permite j esquematizar um mtodo de classificao e prever os seus impactes ambientais, tecendo ainda consideraes sobre as principais barreiras ao seu desenvolvimento e aspectos relativos viabilidade econmica das tecnologias. Ser dada naturalmente especial nfase ao caso Portugus. Pretende-se que este texto permita ao leitor um primeiro contacto (em Portugus) com as tecnologias de converso de energia das ondas, servindo de base para estudos futuros neste tema.
2 www.wave-energy-centre.org
Foi no perodo que se seguiu a crise no mercado petrolfero de 1973 que a energia das ondas surgiu nos programas de I&D (Investigao e Desenvolvimento) no Reino Unido, sendo que o trabalho de Salter chamou a ateno para o potencial energtico disponvel nas ondas (Salter, 1974). O resultado imediato deste interesse culminou no aparecimento de diversas actividades em diversos pases (casos da Sucia, Noruega, Dinamarca, Portugal, Irlanda, Japo e EUA) salientando-se o programa britnico que se revelaria demasiado ambicioso (o objectivo inicial visava a instalao de centrais que perfaziam 2 GW), facto que se pode considerar responsvel pelo abandono quase na totalidade do apoio governamental a este programa em meados da dcada de 1980.
A experincia japonesa divergiu consideravelmente do programa do Reino Unido, uma vez que a opo de investigao passou das bias do comandante Masuda para o Kaimei, um navio de demonstrao que integrava 13 cmaras pneumticas acopladas a gerados elctricos de 40 a 50 kW, sendo o princpio de operao o da CAO Coluna de gua Oscilante (Oscillating Water Column, ver 3.2.1.). Os testes do Kaimei ocorreram em 1978 e 1979, seguindo-se a construo de uma central de CAO (40 kW) em Senze, por volta de 1983. No final dessa dcada foi ainda construda uma outra central de CAO (60 kW), desta feita num quebra-mar no porto de Sakata. O programa Japons inclui ainda uma central flutuante de CAO: o Migthy Whale (ver 3.4.4.). A abordagem Norueguesa foi semelhante, tendo conduzido construo de duas centrais de tipos diferentes: uma de CAO de 400 kW (Kvaerner) e uma cental de galgamento denominada Tapchan (Tapered Channel). A primeira foi entretanto destruda devido a uma tempestade, tendo a segunda estado em operao durante diversos anos. Desde o inicio da dcada de 1990 que outras centrais pilotos foram construdas na ndia, China, Portugal e Reino Unido, com potncias que oscilam entre os 20 e os 500 kW, e todas do tipo de CAO (excepto o Tapchan). No de estranhar que as centrais de CAO, nomeadamente as costeiras, sejam pois as mais estudadas, embora no existam publicaes extensas sobre a performance destas centrais, facto que pode ser visto como um indicador de que as expectativas sobre os rendimentos das centrais no foram atingidas. Este facto no surpreendente, em especial nas centrais mais antigas, que no beneficiaram do estado avanado de simulao, controlo e projecto que esto na actualidade disponveis. Tambm no deve ser desprezado o facto do Japo, China e ndia terem um recurso energtico baixo, que conduz necessariamente a condies menos favorveis para a converso da energia das ondas. O apoio da Comisso Europeia est patente desde 1991, iniciando-se com os estudos preliminares sobre a energia das ondas (1991 e 1992) a que se seguiram, desde 1993, uma srie de projectos sob a alada do programa JOULE. Salientam-se os projectos que conduziram criao de um atlas europeu do recurso energtico das ondas ("Atlas of Wave Energy Resource in Europe") e a construo de duas centrais piloto de CAO, uma na ilha do Pico (ver 3.2.2.) e outra na ilha de Islay, Esccia (ver 3.2.3). Mais recentemente, em 2003, a Comisso financiou a construo e o teste de uma central escala 1:4 do Wavedragon (ver 3.4.3.). Desde 1993 a Comisso patrocina uma conferncia internacional de energia das ondas (Edimburgo 1993, Lisboa 1995, Patras 1998, Aalborg 2000 e Cork 2003) que tem vindo a estimular a continuao da I&D nesta rea na Europa. Esta aco foi complementada, de 2000 a 2003, pelas actividades de uma rede Europeia de energia das ondas (European Wave Energy Network), que envolve 14 equipas de universidades, institutos de investigao e empresas das mais activas no campo da utilizao da energia das ondas. Esta rede europeia ser alargada no trinio seguinte com uma Aco Coordenada em Energia dos Oceanos, que envolve 51 parceiros, metade dos quais so empresas. No mesmo perodo ser desenvolvida uma rede europeia de investigao em energia das ondas, tambm financiada pela Comunidade Europeia, envolvendo 11 parceiros, dos quais 2 so empresas. O final da dcada de 1990 e incio do novo sculo viram aparecer 5 centrais piloto de 4 diferentes tecnologias, que esto ou sero ainda em 2004 testadas no mar. O facto de 4 destas centrais piloto serem propriedade de empresas deve ser encarado como factor de motivao extra, e como sinal da evoluo para a maturidade das tecnologias de energia das ondas. Os dados retirados destas centrais piloto so fundamentais para o desenvolvimento dos sistemas, pois constituem, por exemplo,
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ferramentas de validao dos modelos realizados. Uma outra etapa no menos importante passa pela demonstrao da viabilidade econmica das tecnologias, que seguir um processo anlogo ao de outras tecnologias, como as inerentes converso da energia elica (ver 4.) Existem tambm notcias de planos para a instalao no norte de Espanha de um "parque de ondas", em 2005. As tendncias para o desenvolvimento futuro encontram-se patentes na Tabela 2.1.1.
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Apresentam-se seguidamente alguns elementos representativos da actividade realizada pela equipa do IST/INETI na rea da energia das ondas, presentemente constituda por seis membros doutorados: Na sequncia dos trabalhos de investigao iniciais de natureza mais fundamental seguiram-se actividades de desenvolvimento e demonstrao da tecnologia que incluem trs centrais piloto construdas: a da ilha do Pico, nos Aores (concluda em 1999, com 400 kW), a do LIMPET na ilha de Islay, na Esccia (concluda em 2001, com 500 kW), e a central AWS instalada em 2004 ao largo da Pvoa do Varzim (2 MW), bem como os estudos preliminares da central de demonstrao a construir no quebra-mar da Foz do Douro (ver 3.2.2.). A equipa tem grande experincia de participao e coordenao de projectos cientficos: participou em 12 projectos de investigao financiados pela Comisso Europeia nesta rea, dos quais coordenou 6. Para alm disso a equipa coordenou numerosos projectos nacionais nesta rea, colaborando com um grande nmero de empresas nacionais e estrangeiras na sua actividade. A implantao internacional da equipa revela-se tambm pela sua grande contribuio na organizao de conferncias e simpsios nesta rea, sendo de salientar a presena de membros da equipa no comit cientfico de todas as conferncias europeias na rea e das duas grandes conferncias anuais de impacto mundial com sesses na rea, a Internacional Offshore and Polar Engineering Conference e a International Offshore Mechanics and Artic Engineering. Por iniciativa do INETI, que detm a sua presidncia, foi criado em 2001 um Implementing Agreement on Ocean Energy Systems no mbito da Agncia Internacional de Energia. Para alm do desenvolvimento tecnolgico, a equipa tem uma elevada produo cientfica ilustrada por 8 teses de doutoramento e 9 de mestrado defendidas no IST e pela publicao de 41 artigos cientficos em revista da especialidade e 112 artigos cientficos publicados em anais de conferncias cientficas. Na sequncia destas actividades realizadas no pas, foi criado em 2003 o Centro de Energia das Ondas (CEO)3, e uma nova vaga de investigadores procura desenvolver alguns dos sistemas mencionados, contribuindo para que o esforo at aqui desenvolvido no seja desaproveitado.
Para um descrio mais detalhada do CEO e dos seus associados recorrer directamente a www.wave-energy-centre.org.
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dos oceanos. Fruto da actividade de algumas destas empresas e ainda de diversas instituies de I&D, a Europa dispe na actualidade de diversas centrais piloto de diferentes tipos, que se encontram em teste no mar ou em elevada fase de desenvolvimento. Duas destas centrais, uma costeira (Pico) outra offshore (AWS), encontram-se em Portugal. Os chamados sistemas offshore so particularmente vocacionados para a extraco de energia em larga escala, atravs da sua instalao em parques (anlogos aos parques elicos), pelo que so aqueles onde a investigao recente tem focado a sua ateno, embora a tecnologia mais estudada seja a de Coluna de gua Oscilante para aplicao na linha de costa. A viabilidade econmica destes dispositivos (ver 4.) comea tambm a ser seriamente equacionada. Um documento recente (PNEO, 2004) visa esboar uma estratgia nacional para a energia das ondas. Nesta seco procuram-se salientar os pontos fortes e fracos da actual situao nacional nesta temtica, evidenciando as oportunidades que se oferecem e as dificuldades na concretizao dos objectivos. Os pontos fortes e fracos tendo em vista a implementao destas tecnologias em Portugal so esquematizados genericamente na Tabela 2.2.1, sendo brevemente comentados em seguida.
Tabela 2.2.1 Pontos fortes e pontos fracos do caso portugus (PNEO, 2004)
Analisemos primeiramente os pontos fortes. Como primeiro elemento dessa coluna da Tabela 2.2.1 temos a existncia de mercado. Do ponto de vista interno este mercado existe pois uma primeira anlise sobre a batimtrica do 50 m de profundidade mostra que ao largo da costa ocidental do continente Portugus existem cerca de 250 a 350 km de extenso que podem ser aproveitados para fins de extraco de energia de energia das ondas, pois no esto se enquadram no estatuto de zonas reservadas a outros fins (regies protegidas, trfego martimo, actividades militares e de recreio, zonas de proteco de cabos submarinos; e no colidem com a actividade da pesca). Note-se que os sistemas offshore sero em princpio instalados em profundidades entre os 50 e os 80 m, dependendo de condicionalismos locais, como a existncia de zonas ou corredores de pesca e o tipo de fundo (geologia e batimetria). Mesmo adoptando critrios conservadores (admitindo, por exemplo, que 15% da energia disponvel para sistemas offshore convertida em energia elctrica e assumindo que apenas so viveis para instalao deste sistemas 250 km de linha costeira) chegamos ao valor de 10TWh/ano, representativo da introduo de energia elctrica na rede e que corresponde a cerca de
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20% do consumo nacional de electricidade. Se assumirmos ainda que o factor de carga4 de 25% obtemos como valor da potncia a instalar 4,5 GW para a extenso de costa referida, valor que deve ser comparado com os cerca de 3,75 GW de potncia elica a instalar at 2010 e que pode ser considerado como o potencial nacional (PNEO, 2004). Do ponto de vista do mercado externo os estudos efectuados levam a crer que a energia das ondas ser economicamente vivel em zonas com recursos energticos superiores a 15 kW/m (fluxo de energia mdio anual transportado em cada metro de frente de onda), valor que suplantado pelas condies naturais de Portugal: 45 kW/m em alto mar e um pouco menos de 30 kW/m em profundidades de cerca de 50 m. Outro factor importante o do recurso energtico das ondas ser atractivo num nmero muito elevado de locais a uma escala global, o que confere uma excepcional oportunidade para quem vier a dominar a tecnologia. Um outro ponto forte a salientar prende-se com os incentivos governamentais, que no presente se traduzem, por exemplo, na tarifa atribuda a energia das ondas (0,225 /kWh), valor extraordinariamente favorvel a nvel mundial. No que diz respeito aos pontos fracos salientam-se os riscos inerentes a uma tecnologia em desenvolvimento, que exige um elevado esforo financeiro at a viabilidade econmica ser atingida, a pouca experincia de Portugal em matria de inovao tecnolgica e as barreiras tcnicas associadas natureza do prprio recurso. O peso relativo destes pontos fortes e fracos naturalmente subjectivo, e apenas o futuro poder dizer quais so preponderantes. As oportunidades para o pas so desta forma diversas, e passam pela produo de uma quantidade relevante de energia elctrica por uma fonte renovvel, pela criao de emprego, pelo desenvolvimento da economia na perspectiva de uma tecnologia de impacto mundial e a de uma tecnologia offshore com aplicao potencial noutros recursos ocenicos, e pela oportunidade para empresas nacionais, como fornecedoras de componentes, equipamentos e servios. A definio de uma Estratgia Nacional para a rea da Energia das Ondas essencial para que, a curto-mdio prazo, as oportunidades e pontos fortes acima referidos sejam rentabilizados (PNEO, 2004), e pressupe a definio de medidas de apoio que a sustentem. Salienta-se tambm o envolvimento de uma empresa portuguesa produtora independente de energia, a ENERSIS, em duas das actuais tecnologias, o AWS e o Pelamis, o que poder permitir a curto prazo o teste de centrais deste tipo em guas nacionais.
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A principal diferena entre os dispositivos prximos da costa e os afastados da costa resulta das profundidades envolvidas. No primeiro caso as profundidades sero normalmente inferiores a 20 m e os dispositivos sero assentes no fundo do mar, enquanto no segundo caso rondaro os 50 m e os dispositivos sero flutuantes. importante notar que o regime de ondas mais energtico em profundidades de 50 m do que em profundidades de 20 m, havendo, por este lado, vantagem em coloc-los em profundidades superiores. Assim, quando o leitor for confrontado com a classificao genrica de "distncia costa" deve ter presente que o factor preponderante a profundidade evidenciada a essa distncia e no o valor da distncia costa em si. Uma outra classificao plausvel, classificao essa que est associada ao modo de converso de energia das ondas em energia elctrica (isto , ao tipo de dispositivo). Temos assim trs classes5 principais de dispositivos de converso de energia das ondas, que podem ser de: a. coluna de gua oscilante, CAO (OWC - Oscillating Water Column); b. corpos flutuantes, podendo ser de absoro pontual (Point Absorbers) ou progressivos (Surging devices); c. galgamento (Overtopping devices). Como veremos mais frente estas duas classificaes podem ser associadas de forma coerente e lgica, pelo que ser seguida a primeira e ser mencionada a segunda sempre que se justifique. Estas e outras questes sero abordadas medida que as diferentes tecnologias forem sendo apresentadas.
Uma descrio destas classes ser efectuada medida que as mesmas forem apresentadas.
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primeira vez foram utilizadas vlvulas rectificadoras com o objectivo de controlar o escoamento de ar de e para a turbina, permitindo uma produo de energia estvel (Hotta, 1995; Miyazaki, 1993)9. Salienta-se que alguns destes dispositivos (nomeadamente os associados a estruturas costeiras como quebra-mares) so considerados dispositivos fixos prximos da costa, uma categoria que ser analisada em detalhe em 3.3. Sero seguidamente apresentados os dois exemplos actuais que melhor ilustram os dispositivos de CAO costeiros: a central piloto europeia da ilha do Pico, Aores, e a central LIMPET, na ilha de Islay, Esccia.
Figura 3.2.1 Esquema de uma central de coluna de gua oscilante (cortesia Wavegen)
10 Ilha do Pico: localizao - grupo central do arquiplago dos Aores; populao - 15 000 habitantes; rea - 447 km2
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com a construo da central, cuja potncia de 400 kW, foi desenvolvido pelo Instituto Superior Tcnico, que o coordenou, Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovao, Electricidade dos Aores E.P., Electricidade de Portugal S.A., Efacec Sistemas de Electrnica S.A. e Profabril Centro de Projectos S.A.. O projecto teve ainda a colaborao de duas instituies universitrias estrangeiras: a Queen's University of Belfast (Reino Unido) e a University College Cork (Irlanda). A central encontra-se assente no fundo, em guas com cerca de 8 m de profundidade, com uma seco em planta de dimenses interiores de 12 x 12 m2, ao nvel mdio das guas do mar (Falco, 2000). A parede frontal apresenta uma inclinao de 30 em relao vertical. A central foi inserida numa reentrncia da costa, apoiada num rochedo do lado poente, tendo sido construda no local ao abrigo de uma proteco provisria (Brito e Melo, 2000). A estrutura engloba a cmara pneumtica e zonas projectadas para instalao do equipamento turboelctrico. As Figuras 3.2.3, 3.2.4 e 3.2.5 mostram uma vista lateral, traseira e interior da central, respectivamente.
Figuras 3.2.3 e 3.2.4 Central piloto europeia de energia das ondas do Pico (vista lateral)
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Figura 3.2.5 Central piloto europeia de energia das ondas do Pico (vista interior)
A turbina da central do Pico do tipo Wells. O gerador elctrico est directamente acoplado turbina (Figura 3.2.6) com uma velocidade de rotao varivel, limitada inferiormente pela velocidade sncrona (750 r.p.m.) e superiormente pelo dobro deste valor.
Figura 3.2.6
A central tem tambm uma vlvula de guilhotina que se encontra na entrada da conduta de ar que liga a cmara ao exterior, cuja finalidade isolar a turbina durante os perodos de paragem. Foi tambm projectada uma vlvula de alvio de actuao rpida que tem por finalidade controlar o valor mximo da presso no interior da cmara, evitando caudais excessivos na turbina, que induziriam a sua entrada em perda com a correspondente queda de rendimento. A central dispe de um sistema de controlo para executar as operaes de arranque e paragem da central, paragens de emergncia e registo de eventos que possam ocorrer. Refira-se que a central do Pico foi o primeiro dispositivo no mundo a introduzir electricidade produzida pela converso de energia das ondas numa rede elctrica, embora tal tenha ocorrido apenas pontualmente e durante a fase de ensaios. Os testes na central do Pico iniciaram-se no vero de 1999 e estenderam-se, com interrupes significativas, at 2001, em resultado de deficincias vrias, sobretudo ao nvel do equipamento mecnico auxiliar. Est actualmente em curso a recuperao desta central, no mbito das actividades do Centro de Energia das Ondas. Os ensinamentos, lies e experincia adquirida neste projecto constituem uma valiosa contribuio para o desenvolvimento de futuras centrais de energia das ondas em Portugal.
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11 http://www.wavegen.co.uk
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Refira-se ainda que a ilha de Islay apresentou-se como candidata natural implementao desta central (e do prottipo que a antecedeu) no s pelas condies naturais no que diz respeito ao clima de ondas mas tambm ao acesso fcil central, ao facto de uma parcela importante da electricidade consumida ser importada da Esccia (no gerada na prpria ilha) e ainda ao entusiasmo da populao local face s energias renovveis, com especial incidncia na energia das ondas. semelhana da central do Pico, mas ainda com maior relevncia, os custos relacionados com a construo da estrutura foram responsveis pelo encarecimento do projecto, sendo no entanto passveis de redues massivas no futuro.
Figura 3.2.12 Imagem gerada por computador do sistema de CAO da Energetech em Port Kembla (cortesia Energetech)
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Dado o carcter introdutrio deste texto ser apresentado um dispositivo do tipo CAO que pode ser genericamente englobado nesta categoria, o OSPREY, sendo tambm referida a central a construir num quebra-mar na Foz do Douro.
3.3.1. OSPREY
O OSPREY (Ocean Swell Powered Renewable EnergY) foi desenvolvido em meados da dcada de 1990 pela empresa escocesa Wavegen, como sistema isolado de CAO, para ser colocado prximo da costa, em guas de 20 m de profundidade. Era constitudo por uma estrutura metlica de parede dupla, que deveria ser rebocada at ao local de instalao, onde seria afundada atravs do enchimento das suas paredes ocas, com materiais densos, ficando assente no mar. A ocorrncia de um acidente na fase de afundamento levou interrupo do projecto. Existem planos para recuperar este projecto, associando uma turbina elica offshore a uma destas centrais (ver Figuras 3.3.2).
Figura 3.3.2 Modelo do OSPREY com a incluso do aerogerador para aproveitamento elico
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Figura 3.4.1, formado por dois cilindros ocos, colocados um sobre o outro, no interior dos quais h ar pressurizado a uma presso tal que equilibra o peso do cilindro superior (o flutuador) e da coluna de gua exterior que ele sustenta. Com a passagem da onda a presso exterior varia, sendo mais alta nas cristas e menor nas cavas, produzindo um movimento oscilatrio vertical do flutuador relativamente base. Este movimento utilizado para accionar um gerador elctrico linear que produz energia elctrica transmitida por um cabo submarino para uma estao em terra, onde a energia transformada de modo a poder ser injectada na rede elctrica. Com um dimetro de 10 a 15 m, muito inferior ao comprimento de onda (cerca de 150 m), o AWS pode pois ser considerado um dispositivo de absoro pontual. Uma central piloto escala 1:2, com potncia nominal de 2 MW, foi submersa em meados de 2004 ao largo da Pvoa de Varzim. Refira-se que a portaria n. 1357/2003, de 13 de Dezembro, concede OCEANERGIA - Projecto de Produo de Energia das Ondas, Unipessoal, Lda., o direito implantao desta central piloto (ver Figuras 3.4.2, 3.4.3 e 3.4.4).
Figura 3.4.2 Central piloto do AWS em guas portuguesas (cortesia AWS BV)
Note-se que esta central piloto diverge do dispositivo final na forma como se encontra fixo ao fundo do mar: enquanto nesta instalao utilizada uma plataforma de apoio, o dispositivo final, cuja potncia nominal unitria ser prxima dos 5 MW, ser fixo provavelmente recorrendo a cabos de amarrao, como ilustram as antevises artsticas das Figuras 3.4.5 e 3.4.6. de salientar que desde 1997 o IST colabora no desenvolvimento deste sistema, nomeadamente na estabilizao do conceito e no desenvolvimento dos ensaios em laboratrio, dos modelos matemticos de simulao, na definio de uma nova estratgia de submerso e dos ensaios a realizar aps o afundamento do sistema. No mbito desta colaborao foram realizadas trs teses de mestrado no pas. Para o sucesso desta colaborao foi essencial a experincia adquirida nos estudos relativos central de CAO do Pico.
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Figura 3.4.3 Perspectiva da central piloto do AWS em construo (cortesia AWS BV)
Figura 3.4.4 Central piloto do AWS no porto de Leixes (cortesia AWS BV)
Figura 3.4.5 Anteviso artstica do AWS da prxima gerao (cortesia AWS BV)
Figura 3.4.6 Anteviso artstica do AWS da prxima gerao (cortesia AWS BV)
3.4.2. Pelamis
O Pelamis um dispositivo de converso de energia das ondas do tipo progressivo, desenvolvido pela Ocean Power Delivery Ltd13 (Esccia), empresa fundada em 1998 com o intuito de o desenvolver e explorar comercialmente. Os dispositivos progressivos so sistemas alongados com uma dimenso longitudinal da ordem de grandeza do comprimento de onda e esto dispostos no sentido de propagao da onda, de modo a gerarem um efeito de bombeamento progressivo, associado passagem da onda, por aco de um elemento flexvel em contacto com a gua. O Pelamis consiste basicamente numa estrutura articulada semi-submersa composta por diferentes mdulos cilndricos que se encontram unidos por juntas flexveis. O movimento ondulatrio das ondas incidentes provoca a oscilao dos mdulos cilndricos em torno das juntas que os unem e dessa forma a pressurizao de leo que ser forado a passar por motores
13 http://www.oceanpd.com
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Figuras 3.4.7 e 3.4.8 Detalhe das juntas flexveis do Pelamis (cortesia OPD Ltd)
hidrulicos, que por sua vez accionam geradores elctricos que produzem electricidade. Cada dispositivo contar com quatro tubos circulares e trs mdulos de converso de energia, esquematizados na Figura 3.4.9, perfazendo uma capacidade unitria do dispositivo igual a 750 kW, sendo o seu comprimento escala 1:1 de 120 m e o dimetro externo igual a 3.5 m. O programa de testes do Pelamis incluiu ensaios laboratoriais com diversos modelos (cujas escalas oscilaram entre 1:80 e 1:7). Em 23 de Fevereiro de 2004 foi anunciado que seria iniciado o ensaio de um dispositivo escala real (ver Figura 3.4.13), o que foi concretizado muito recentemente.
Figuras 3.4.9 e 3.4.10 Detalhe e vista lateral do mdulo de converso de energia do Pelamis (cortesia OPD Ltd)
O Pelamis foi concebido tendo em mente a sua implementao em parques, pelo que no de estranhar o facto de a energia extrada de todos os mdulos (trs em cada dispositivo) ser retirada e enviada para terra atravs de um nico cabo, algo particularmente relevante se tivermos um nmero elevado de dispositivos presentes (numa perspectiva de minimizao de custos). Outras variveis importantes na concepo do Pelamis foram por um lado a tentativa de utilizao de componentes j existentes na indstria offshore, pois foi do entendimento da empresa que uma vez que fique claro que o dispositivo vivel essa mesma indstria ir produzir componentes mais eficientes e a um custo extraordinariamente mais reduzido do que o actual, e por outro lado a sobrevivncia do dispositivo, que foi identificada como parmetro fulcral em todo o processo de desenvolvimento, prioritrio at sobre as tentativas para melhorar a eficincia de converso de energia. Uma das componentes importantes do Pelamis o seu sistema de fixao ao fundo do mar, que dadas as caractersticas do dispositivo assume um relevncia fundamental (ver Figura 3.4.11). A anteviso artstica representada na Figura 3.4.12 refere-se a um parque de 40 dispositivos (30 MW instalados), que, ocupando uma rea de 1 km2, poderia ser responsvel pelo abastecimento de 20 000 habitaes, de acordo com os dados fornecidos pela empresa.
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Figura 3.4.13 Lanamento do primeiro Pelamis escala 1:1 (cortesia OPD Ltd)
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hdrica flutuante, pois o seu princpio de funcionamento em tudo semelhante ao de um aproveitamento hidroelctrico convencional.
Figura 3.4.14a princpio de funcionamento do Wave Dragon (cortesia Wave Dragon ApS)
O prottipo (escala 1:4,5) que se encontra agora em funcionamento segue um programa de testes laboratoriais iniciado em 1998, na Universidade de Aalborg. Os planos actuais passam pela concepo, num horizonte temporal de 2 a 3 anos, de um dispositivo escala real com potncia nominal de 7 MW, sendo o clima de ondas de referncia o do Atlntico (36 a 40 kW/m). Em Portugal est em fase inicial de desenvolvimento um sistema de galgamento fixo a ser instalado junto costa, patenteado pela empresa portuguesa ENERWAVE.
Figura 3.4.14b Wave Dragon visto de um dos reflectores (cortesia Wave Dragon ApS)
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Figura 3.4.17 Migthy Whale pronto para o lanamento ao mar (Maro de 1998)
Figura 3.4.18 Migthy Whale pronto para o lanamento ao mar (Maro de 1998)
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(AquaBuOY), a Lancaster University (PS Frog), a Evelop (Wave Rotor), a Embley Energy (Sperboy) e a Wave Dragon ApS (Wave Dragon). O Carbon Trust ir ainda desenvolver estudos complementares, procurando estabelecer "cdigos de boa engenharia" para estas e outras tecnologias da mesma natureza. Muitos foram os dispositivos que chegaram a prottipo mas que no evoluram para uma fase prcomercial semelhana daqueles que j foram apresentados. Em alguns casos a investigao continua, sendo injusto no referir um dos primeiros, cujo desenvolvimento prossegue na University of Edinburgh: o pato de Salter (Salter Duck). Foi um dos primeiros conceitos a ser introduzido no programa de energia das ondas do Reino Unido, tendo sido concebido em 1974 pelo Prof. Stephen Salter15. Mesmo no seu desenho actual este dispositivo requer um estudo mais aprofundado para provar a sua viabilidade. A sua importncia est directamente relacionada com o carcter inovador que introduziu no meio cientfico.
15 http://www.mech.ed.ac.uk/research/wavepower/
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Para que uma dada central seja rentvel, os proveitos anuais da venda de energia g devem suportar a anuidade e os custos de operao e manuteno. Exprimindo os custos de operao e manuteno como uma fraco x do capital investido, como comum em projectos de sistemas energticos, teremos, (2).
Por outro lado, os proveitos anuais da venda da energia so dados pelo produto da energia anualmente produzida p pela tarifa de venda s, (3).
O custo de capital C pode ser expresso em termos da potncia instalada P atravs do custo unitrio de potncia instalada b, (4)
e a produo mdia anual de energia elctrica (em MWh) pode ser referida potncia nominal do equipamento elctrico (em MW) atravs de (5) em que h o nmero de horas equivalentes potncia nominal. Combinando as equaes anteriores obtm-se o custo unitrio de potncia instalada (em /MW) compatvel com as condies de viabilidade econmica, isto , aquele que permite que os proveitos
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(6)
em que
Para avaliar a bondade desta expresso iremos aplic-la a um projecto tpico de energia elica e a outro de central minihdrica. A tabela seguinte indica os valores de referncia das variveis independentes que aparecem na equao (6) para os dois tipos de projectos e os valores de referncia calculados para o investimento por unidade de potncia instalada.
tabela 4.1.1 Investimento por unidade de potncia instalada obtido atravs do mtodo da anuidade e sua comparao com os valores de referncia para projectos tpicos de energia elica e de energia mini-hdrica
A Tabela 4.1.1 mostra que a equao (6) apresenta valores realistas do investimento por unidade de potncia instalada para os dois tipos de projecto considerados, quando se utilizam dados de entrada tpicos para os dois tipos de projecto. Aplicando o mesmo valor para a taxa de juro a projectos de energia das ondas obtm-se os valores da Tabela 4.1.2 para duas situaes distintas: i) a actual tarifa de 0,225 /kWh, correspondente a uma situao de tecnologia em fase inicial de desenvolvimento, caso em que se considerou razovel admitir um perodo de amortecimento de 13,5 anos, e ii) uma tarifa de 0,09 /kWh, igual mais elevada praticada em Portugal para a energia elica, que se assume ser caracterstica de uma situao de maturidade tecnolgica, caso em que se toma o perodo de amortizao considerado para as energias mini-hdrica e elica. Em ambos os casos se admitem 2190 horas de funcionamento e um custo anual de manuteno e operao de 8% do investimento, superior em 5% ao valor usado na energia elica, devido agressividade do ambiente marinho e ao sobrecusto associado s operaes no mar. Verificamos assim que, nas condies actuais, um projecto de energia das ondas ser rentvel se o custo de investimento no for superior a 2879 por cada kW instalado. Como iremos ver essa no , em geral, a situao actual. Contudo, quando (e se) a tecnologia ficar madura, o investimento
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tabela 4.1.2 Investimento por unidade de potncia instalada obtido atravs do mtodo da anuidade para projectos de energia das ondas para a tarifa actual, correspondente a tecnologia em fase inicial de desenvolvimento, e tarifa para tecnologia madura
mximo no dever ultrapassar o valor de 946 por cada kW instalado se se pretender igualar a competitividade actual dos projectos de centrais elicas mais caros, embora no seja possvel assegurar que projectos de energia das ondas de menor rentabilidade que esta no venham a ser atractivos, por no haver outras alternativas para a produo de energia elctrica atravs de fontes renovveis.
4.2. Investimento, produtividade e remunerao de um Parque de energia das ondas com 1 km de extenso
De seguida iremos caracterizar a economia de um parque de energia das ondas com 1 km de extenso. Tal no significa que esta seja a extenso adequada, mas to somente que este um valor de referncia. Designemos por ! o factor de carga (relao entre a potncia mdia anual e a potncia nominal de cada dispositivo), por " a percentagem de energia incidente que em mdia pode ser convertida em energia elctrica na rede e por F o fluxo mdio de energia das ondas incidente em cada quilmetro de frente de onda, que para os fins em vista admitiremos que idntico ao que atravessa cada quilmetro ao longo da batimtrica sobre a qual esto colocados os dispositivos de extraco de energia. A produo mdia anual de energia elctrica ser, ento, dada por (7) a potncia mdia instalada em cada quilmetro, (8)
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A remunerao anual resultante da venda de energia dada pela equao (3), sendo o custo de operao e manuteno anual por cada quilmetro de utilizao de energia das ondas dado por (10)
tabela 4.2.1 valores de referncia por quilmetro de aproveitamento de energia das ondas. Os valores em Euros foram calculados admitindo um investimento por unidade de potncia instalada e uma tarifa correspondentes a uma tecnologia madura
No estado actual do aproveitamento da energia das ondas habitual tomar-se como valores de referncia " =0,15 e ! =0,25. No caso da costa Oeste portuguesa o fluxo mdio de energia das ondas em guas de 50 metros de profundidade, onde se espera que o aproveitamento de energia das ondas em larga escala se realize, F =30 MW/km. Utilizando estes valores obtm-se os resultados apresentados na Tabela 4.2.1 para cada quilmetro de aproveitamento, admitindo as condies de investimento por unidade de potncia instalada e de tarifa correspondentes a uma tecnologia madura. Note-se que uma parte significativa dos custos de operao e manuteno tm a ver com os sobrecustos decorrentes da agressividade do meio e da necessidade de realizar operaes no mar. Assim, parte significativa destes custos ter um impacto directo na economia das regies onde venha a ser realizado o aproveitamento.
4.3. Custo actual da tecnologia e investimento necessrio para se atingir a viabilidade econmica
Os estudos de viabilidade econmica do aproveitamento da energia das ondas tm sido realizados sobretudo no Reino Unido (Thorpe, 2003) e so de uma forma geral bastante promissores, conforme se pode constatar das Figuras 4.3.1 e 4.3.2 que se apresentam e comentam de seguida. Estes estudos so baseados em dados fornecidos pelas empresas que desenvolvem os diversos sistemas de extraco de energia e em avaliaes independentes. Contudo, como apenas nos ltimos anos foram construdas as primeiras centrais para teste no mar e no se atingiu ainda uma fase industrial, ainda que incipiente, as estimativas apresentadas devem ser vistas com alguma cautela. Sobre este aspecto, podem referir-se os gastos com as primeiras centrais construdas, referidas pelas empresas envolvidas no seu desenvolvimento, durante a 5 Conferncia Europeia de Energia das
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Ondas, realizada em Cork, na Irlanda, em Setembro de 2003 e que se apresentam na Tabela 4.3.1. Faz-se notar que estes custos incluem o desenvolvimento e a engenharia das centrais em causa, que so prottipos e, portanto, pouco representativas do custo das unidades a construir no futuro.
figura 4.3.1 gama de custos de produo de energia elctrica para centrais costeiras de coluna de gua oscilante em funo do fluxo mdio de energia das ondas no alto mar (Thorpe, 2003).
figura 4.3.2 gama de custos de produo de energia elctrica para centrais de absoro pontual (point absorbers) em funo do fluxo mdio de energia das ondas no alto mar (Thorpe, 2003).
tabela 4.3.1 custo e potncia instalada de algumas das centrais piloto construdas.
O custo por unidade de potncia instalada bastante varivel e muito elevado, sobretudo para o Wave Dragon (o que resulta deste ser uma instalao construda a uma escala 1:4,5 e, portanto, particularmente pouco representativo). De acordo com o responsvel pelo actual programa britnico de aproveitamento de energia das ondas, o custo actual cerca de 5 M por cada MW instalado. Este valor, apresentado na conferncia de Cork, no parece irrealista face ao exposto. sabido que o custo das tecnologias se reduz com a experincia acumulada. Numa fase inicial de desenvolvimento comum assistir-se a uma reduo de cerca de 20% do custo cada vez que duplica a potncia instalada, tal como se verifica hoje na energia fotovoltaica. Em fases mais avanadas do
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desenvolvimento esta taxa de reduo tende a ser menor, podendo atingir 10%, como no caso da energia elica. Designando por r a reduo de custo por cada duplicao da potncia instalada, a evoluo de custos acima indicada representada matematicamente pela seguinte curva de experincia, (11) em que a = ln(1 - r) / ln2, bm o custo unitrio de potncia instalada aps instalar m MW e (b1) o custo do primeiro MW instalado. A viabilidade econmica atinge-se quando o custo unitrio de potncia instalado atinge o valor b0 dado pela equao (6), ou seja, quando for instalada uma potncia de M MW, dada por
1a
b M= 0 b1
(12)
resultado que se obtm utilizando a equao (11). At se atingir viabilidade econmica, ou seja a potncia instalada M, parte do investimento realizado no compensado pela venda de energia elctrica tarifa correspondente a uma tecnologia madura, sendo esse valor, por cada unidade de potncia instalada, dado por bm - b0. Esta parcela de investimento poder ser considerada como um subsdio, que pode ter origem pblica ou origem privada. No primeiro caso pode ser resultante de uma tarifa artificial (como no caso previsto pela legislao portuguesa), ou de subsdios ao investimento (como os que possam resultar de projectos submetidos ao PRIME ou Comisso Europeia). O volume total de subsdio acumulado at se atingir viabilidade econmica ser, ento, dado por,
(13)
Aps se atingir a viabilidade econmica o custo da tecnologia continuar a baixar, eventualmente a uma taxa r menor, passando a haver um lucro, por cada unidade de potncia instalada, dado por b0 - bm. O subsdio acumulado V ser reembolsado depois de ser instalada uma potncia N que se obtm atravs de (14)
=
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Note-se que os valores de V, M e N obtidos no correspondem apenas ao que vier a ser feito no Pas, mas ao esforo internacional nesta rea. Admitindo que a reduo do custo da tecnologia com a duplicao da potncia instalada de 15% at se atingir viabilidade econmica compatvel com a tarifa para tecnologias maduras e de 10% aps esta, obtm-se os valores apresentados na Tabela 4.3.2..
tabela 4.3.2 valores de potncia a instalar e subsdio acumulado para se atingir condies de viabilidade econmica comparvel aos projectos de energia elica mais caros (tarifa de 0,09 /kWh) e potncia a instalar para recuperar o subsdio acumulado
Utilizando o valor referido na Tabela 4.2.1, indicativo para a costa ocidental portuguesa, de 18 MW instalados por quilmetro, seria necessrio aproveitar cerca de 67,5 km de costa para se atingirem custos de produo de energia semelhantes aos das centrais elicas. A extenso de costa necessria aproveitar para se recuperar o subsdio seria de 172 km. Contudo, como o esforo de desenvolvimento desta tecnologia no ser feito apenas em Portugal, os valores referidos efectivamente aplicveis a Portugal podero ser substancialmente mais baixos.
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semelhante ao do que feito fora da costa. No caso da tecnologia CAO, tm, no entanto, a vantagem de permitirem desenvolver a tecnologia com investimentos significativamente menores antes de a aplicar em sistemas oscilantes, fora da costa.
em que ! o comprimento de onda. Para ondas de 12 s de perodo o comprimento de onda igual a 206 m em guas de 50 m de profundidade, onde se espera que os dispositivos offshore venham a ser instalados. Da resulta que a potncia de projecto disponvel para uma central com as caractersticas indicadas de W =7,8 MW. Admitindo um rendimento de 50% em condies de projecto teremos uma potncia elctrica instalada Wi =3,9 MW. Estima-se que o factor de carga duma central de energia das ondas seja de 25%, ou seja que fornea anualmente a energia equivalente a 1/4 das horas do ano potncia nominal, isto , que a central fornea uma energia de 8,5 GWh/ano. Com um afastamento de 200 metros, podero ser instaladas 5 destas centrais por quilmetro, obtendo-se uma potncia instalada de 20 MW por quilmetro e uma produo anual de energia de 42,5 GWh, valores que, embora calculados doutra forma, no se afastam significativamente dos apresentados na Tab. 4.2.1. Algumas das centrais, por motivos intrnsecos tecnologia de aproveitamento, no comportam uma potncia unitria to elevada como 3,9 MW. Nesses casos devero ser colocadas com um afastamento inferior aos referidos 200 metros e eventualmente em vrias linhas paralelas direco tpica da crista das ondas. De facto de esperar que em algumas das tecnologias a potncia instalada em cada central seja de apenas 0,5 MW. Para manter a potncia instalada em cerca de 20 MW por quilmetro de frente de onda (aproximadamente por quilmetro de costa) com centrais com 0,5 MW de potncia elctrica instalada, ser necessrio colocar 40 centrais por quilmetro paralelo costa. De modo a manter um afastamento entre centrais de 100 metros, ser necessrio ter 4 linhas de colocao de centrais com um afastamento entre elas de cerca de 87 metros, o que perfaz uma extenso de 350 metros na direco dominante da propagao das ondas.
16 O fluxo de energia varia com o quadrado da altura da onda, pelo que este valor corresponde a uma onda com uma altura dupla da onda mdia, que na costa portuguesa vale cerca de 1,5 metros. 17 Dispositivos de dimenso muito inferior ao comprimento de onda. Na prtica estima-se que estes dispositivos sejam circulares e tenham um dimetro de cerca de 15 metros.
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No caso do Pelamis cada central tem um comprimento que pode atingir 120 metros e uma potncia instalada de 0,75 MW. Dado disporem de uma amarrao flexvel, estes sistemas tm que estar suficientemente afastados uns dos outros, da ordem de 200 metros. Nestas condies podero instalar-se 5 centrais e 3,75 MW por quilmetro paralelo costa, pelo que sero necessrias 5 linhas de dispositivos para atingir uma potncia de cerca de 18,75 MW por quilmetro paralelo costa. Essas 5 linhas ocuparo cerca de 1 km na direco perpendicular costa. Conclui-se, assim, que os parques de energia das ondas podero ter uma largura entre 15 m e 1 km, dependendo da tecnologia a utilizar. O comprimento dos parques depende do impacto sobre a navegao, nomeadamente a pesqueira. Sabendo que as embarcaes de pesca se deslocam a uma velocidade de cerca de 5 ns18, e tomando como base que o parque fica interdito navegao e que no ser desejvel que uma embarcao pesqueira perca mais do que 15 minutos a contornar o parque, somos levados a concluir que dever haver um corredor de navegao cada 4,5 km. Desta forma, um parque de 100 MW, que dever ter um comprimento de 5 km, no levantar uma dificuldade muito significativa navegao pesqueira. Um parque de 100 MW ter, assim, um comprimento de 5 km e uma largura entre 15 m e 1 km.
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5.2. Rudo
O impacte ambiental associado ao rudo muitas vezes negligenciado mas pode ser considervel. Por exemplo a central piloto de 75 kW de CAO da ilha de Islay produzia, num dia calmo, rudo audvel a cerca de 200 m (Ross, 1995)19. de esperar que num dia de mar agitado o rudo natural das ondas
19 Uma situao semelhante ocorreu tambm na central LIMPET, sendo ultrapassada com proteces sonoras adequadas.
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e do vento seja semelhante ao rudo proveniente do funcionamento de uma central de energia das ondas do tipo de CAO, desde que sejam utilizados sistemas adequados de supresso de rudo. No que diz respeito aos sistemas afastados da costa o impacte sobre o homem nulo. Como o som se propaga at distncias maiores debaixo de gua, o rudo provocado pelos dispositivos de extraco de energia das ondas pode, no entanto, influenciar os sistemas de navegao e comunicao de certos animais marinhos, particularmente cetceos (Thorpe, 1999; WaveNet, 2003). Este problema merece um estudo mais rigoroso, embora parea improvvel a sua influncia negativa numa escala relevante (note-se que o problema de interferncia com a comunicao no caso dos golfinhos pouco provvel, pois a frequncia associada particularmente elevada quando comparada com a emitida pelos dispositivos). Mesmo que a influncia nos sistemas de navegao e comunicao dos animais no seja significativa, especial ateno deve ser dada para evitar que a instalao de parques de dispositivos constitua uma barreira fsica para os percursos migratrios das espcies, o que alis acaba por ser salvaguardado por motivos de projecto e instalao, devido s distncias impostas entre os dispositivos.
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extraco e movimentos de terras (casos dos dispositivos costeiros); processamento de materiais; produo e transporte de componentes; construo e modo operatrio do dispositivo; desmantelamento; tratamento dos resduos resultantes.
Em termos de emisses de poluentes as fases mais crticas so aquelas que envolvem um maior consumo energtico, como o fabrico das componentes do dispositivo, estando no extremo oposto as aces que envolvem o transporte de materiais. Prev-se ainda que todas as fases sejam (pelo menos) uma ordem de grandeza inferior de fabrico das componentes do dispositivo no que diz respeito s necessidades energticas. Fases como a do desmantelamento20 e do tratamento dos resduos resultantes (reciclagem de materiais, etc.) so ainda negligenciadas, dada a fase prematura em que a tecnologia se encontra. De qualquer forma a magnitude das emisses em todas estas fases praticamente nula quando comparada com as opes convencionais para a produo de energia elctrica, e uma anlise do ciclo de vida destes sistemas (WaveNet, 2003) traduz claramente os benefcios destas tecnologias. Para concluir note-se que todos estes impactes ambientais no so equacionados pela legislao actual, pelo que a confirmar-se a viabilidade econmica dos dispositivos de extraco de energia das ondas devem ser tomadas aces cleres no plano jurdico. As Tabelas apresentadas em 5.4 procuram esquematizar e resumir a informao do Captulo 5, servindo de ponto de partida para o estudo dos impactes ambientais de um qualquer dispositivo especfico.
20 Estima-se um tempo de vida tpico de 60 anos para um dispositivo de converso de energia das ondas, valor que pode ser comparado com o de alguns navios comerciais.
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Construo e Instalao:
Tabela 5.4.1 Impactes ambientais associados construo e instalao de dispositivos de converso de energia das ondas
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Operao e Manuteno:
Tabela 5.4.2 Impactes ambientais associados operao e manuteno de dispositivos de converso de energia das ondas
22 A maior interaco das ondas com a costa faz-se nas tempestades, situao em que os sistemas devero estar desligados, pelo que o seu efeito pouco significativo.
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Desmantelamento:
Tabela 5.4.3 Impactes ambientais associados ao desmantelamento de dispositivos de converso de energia das ondas
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7. tanto quanto possvel estimar, na fase actual de desenvolvimento da energia das ondas, os impactes ambientais associados s tecnologias de converso de energia das ondas so pequenos, pelo que tambm se poder considerar ser pequeno o risco inerente a uma atitude flexvel numa fase inicial (e pontual) da implementao destes dispositivos.
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6. Barreiras ao desenvolvimento
Existindo um potencial energtico reconhecido e considerado extremamente atractivo, o leitor pode, numa primeira anlise, estranhar o facto de as tecnologias de converso de energia das ondas no terem ainda atingido, semelhana da sua congnere elica, um patamar de comercializao generalizada23. As barreiras ao desenvolvimento destas tecnologias so de diferentes tipos, podendo ser englobadas genericamente em quatro categorias: a. b. c. d. tcnicas; conflitos de interesses; administrativas e legais; financeiras.
No que diz respeito s barreiras tcnicas estas prendem-se com caractersticas inerentes ao prprio recurso energtico, sendo as mais relevantes (CRES, 2002): irregularidade da amplitude, fase e direco das ondas, sendo um desafio acrescido tentar maximizar a captura de energia numa banda de frequncias da onda incidente; os esforos estruturais a que os dispositivos esto sujeitos, que em condies extremas de tempestades podem atingir cargas cem vezes superiores s mdias; o prprio mecanismo inerente aos geradores elctricos, que exigem uma frequncia muito superior da onda incidente;
Os desafios tecnolgicos so ultrapassveis, sendo que a questo mais relevante prende-se com o custo associado a essas solues, pois numa economia de mercado este parmetro dominante. Uma outra categoria de barreiras ao desenvolvimento de dispositivos de converso de energia das ondas prende-se com os possveis conflitos de interesses, pois as zonas de implementao destas tecnologias podem ter outros usos. Dentro desta categoria podemos ainda definir dois tipos de conflitos: os levantados por sobreposio de usos e os levantados por proibio ou restrio de utilizao da rea. Desta forma temos: 1. reas passveis de sobreposio de usos: Zonas Zonas Zonas Zonas de de de de pesca; extraco de materiais; recreio e lazer; interesse arqueolgico.
2. reas de acesso restrito ou interdito: Zonas que intersectem rotas martimas importantes; Campos de treino militar;
23 Uma explicao possvel prende-se com o facto de, contrariamente ao caso da energia elica, no ter existido a convergncia para uma nica tecnologia.
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Zonas nas imediaes de outras estruturas relevantes, costeiras ou afastadas da costa (pontes, portos, plataformas petrolferas, parques elicos offshore, ...); Zonas de passagem de cabos submarinos ou oleodutos; Reservas naturais.
Em 1. a questo das pescas a que assume maior relevncia (no caso dos dispositivos afastados da costa), pelo que devem ser tomadas algumas medidas preventivas, por exemplo estabelecendo um dilogo aberto com as entidades ou comunidades envolvidas antes de concretizado o projecto, tendo em ateno as diferentes artes de pesca praticadas e a sua rea de actividade (Brito e Melo, 2004). Na costa Portuguesa a profundidade de instalao de parques offshore de energia das ondas est, em geral, suficientemente longe da costa para no interferir com a pesca artesanal e suficientemente perto da costa para no atingir as 6 milhas, distncia a partir da qual permitida a actividade da pesca industrial. Por exemplo no faz qualquer sentido colocar um ou vrios dispositivos de converso de energia das ondas em zonas j identificadas como reas de pesca ou em viveiros naturais. Uma consulta a vrias entidades deve ser efectuada nesta ptica. Ser necessrio delimitar as reas onde se encontram os dispositivos, o que alarga as zonas de excluso e aumenta a probabilidade de outras actividades serem afectadas. Por outro lado a influncia nas zonas de recreio e lazer pode ser benfica, em particular no caso dos dispositivos offshore. Neste caso criada uma zona a jusante destes que, em princpio, mais abrigada, principalmente em termos de agitao martima, o que pode favorecer diversas actividades (windsurf, navegao de embarcaes de pequeno porte). Finalmente em 2. o principal efeito prende-se com a influncia na navegao, uma vez mais particularmente relevante para os dispositivos afastados da costa. Estes podem representar um perigo para a navegao pelo facto do bordo livre (distncia entre o nvel da gua e a parte superior da cobertura do dispositivo) ser pequeno, o que pode dificultar a sua deteco (visual e por radar), problema que no se coloca se os dispositivos forem submersos. Esta questo, que pode assumir propores maiores no caso de parques de dispositivos, pode ser contornada atravs de um controlo rigoroso das cartas nuticas e uma correcta sinalizao. Deve-se salientar que, num certo sentido, um parque de energia das ondas poder at aumentar a segurana navegao se forem criadas infra-estruturas de fiscalizao e interveno. tambm conveniente referir que deve ser evitada a colocao de dispositivos na zona de acesso aos portos. Um ltimo comentrio para as restantes categorias de barreiras ao desenvolvimento: as administrativas prendem-se com questes relacionadas com o licenciamento nada gil, que envolve muitos ministrios e institutos pblicos, e que torna o domnio do aproveitamento da energia das ondas pouco atractivo ao investimento, enquanto as legais dizem respeito aos detalhes do acesso rede elctrica, restries no fornecimento de energia e tarifrio de compra de electricidade. Finalmente as barreiras financeiras esto relacionadas no s com a tarifa de venda da electricidade mas tambm com estratgias de apoio a projectos, como fundos ou emprstimos especiais para projectos de inovao tecnolgica. O desenvolvimento de esquemas de apoio fundamental numa fase em que a tecnologia ainda est em demonstrao.
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7. Concluses
extremamente difcil antever o potencial de uma tecnologia numa fase inicial de desenvolvimento. Para ilustrar essa dificuldade basta lembrar que em 1943 a revista Popular Mechanics anunciava que o computador do futuro poderia pesar menos que 1 tonelada e em 1983 Bill Gates anunciava que 256 kBytes seriam suficientes para qualquer computador pessoal. Uma percentagem muito expressiva da energia elctrica consumida no Pas, que pode atingir os 20%, poder vir a ser produzida atravs das ondas do mar, caso se venha a concretizar o baixo impacte ambiental e a viabilidade tecnolgica e econmica das centrais de extraco deste tipo de energia. Para tal ser necessrio instalar cerca de 45 parques de centrais de energia das ondas, perfazendo uma potncia instalada da ordem de 4500 MW, a que corresponder um investimento total na gama dos 4500 milhes de Euros. Os parques devero vir a ser instalados sensivelmente paralelos costa, a uma distncia desta de cerca de 5 milhas, em guas entre os 50 e 80 metros de profundidade. Dependendo do tipo de tecnologia de extraco de energia das ondas a utilizar, a potncia de cada central pode oscilar entre 0,5 e 5 MW e cada parque de 100 MW poder ter cerca de 5 km de comprimento e entre 15 m e um 1 km de largura. O impacte negativo que estes parques tecnolgicos podem causar dever ser relativamente pequeno, a diversos nveis. Em termos ambientais o impacte directo quase nulo, uma vez que a tecnologia em causa no utiliza substncias nocivas. Em termos visuais, as estruturas, em geral pouco salientes da linha de gua, ficaro instaladas a uma distncia j considervel da costa e fora do alcance da vista a partir de terra. As centrais sero instaladas fora dos canais de acesso a portos ou a pesqueiros e muito aqum das rotas de alto mar, pelo que no causaro impacto negativo significativo sobre a navegao. Estaro, ainda, suficientemente longe de terra para no interferirem com a pesca artesanal e, em geral, aqum das 6 milhas, distncia a partir da qual se processa a pesca por arrasto. A opo por sistemas costeiros ser feita em situaes que permitam a sua integrao em obras de proteco costeira, caso em que o principal impacto estar na obra e no no prprio dispositivo. Apesar de no existir ainda experincia industrial significativa nesta rea, h quatro tecnologias distintas de extraco de energia das ondas com prottipos a serem (ou em vias de serem) testados no mar: a Coluna da gua Oscilante (CAO), o Pelamis, o Wave Dragon e o Archimedes Wave Swing (AWS). A Central de Coluna de gua Oscilante o sistema mais investigado, tendo sido construdas vrias centrais a nvel mundial. Tipicamente a CAO um sistema costeiro (embora tambm possa ser instalado ao largo) que particularmente adequado para a integrao em estruturas de proteco costeira. Presentemente existem duas centrais piloto deste tipo, uma na Esccia, a Central LIMPET, e a Central do Pico nos Aores. Os restantes dispositivos so sistemas offshore, completamente submersos ou semi-submersos. Existem outras tecnologias em desenvolvimento, mas numa fase menos avanada. Podemos apontar para um perodo de dois a trs anos como o tempo necessrio para obtermos mais informao quanto avaliao da viabilidade tecnolgica e econmica destas tecnologias e seu impacte ambiental em resultado directo dos ensaios no mar dos prottipos mencionados.
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Com a CAO do Pico, o AWS e o Pelamis, so trs os sistemas que podem vir a ser testados nas guas portuguesas ainda em 2004, em resultado do estabelecimento de um consrcio entre empresas, instituies de investigao e o Centro de Energia das Ondas para recuperarem a central do Pico, com apoio do PRIME, e do envolvimento da ENERSIS nas tecnologias AWS (Holandesa) e Pelamis (Escocesa). Portugal apresenta condies particularmente favorveis para o aproveitamento da energia das ondas, sobretudo numa fase inicial de desenvolvimento desta tecnologia: recurso energtico mdioalto, guas relativamente profundas a pouca distncia da costa, portos e estaleiros navais perto dos possveis locais de instalao dos parques de energia das ondas e rede elctrica de transporte junto costa. Acresce ainda a estas condies uma tarifa de remunerao da energia elctrica produzida atravs das ondas particularmente favorvel. Por ltimo, o pas tem conhecimentos tcnico-cientficos muito significativos nesta rea, resultante duma actividade de investigao no IST e no INETI com mais de vinte e cinco anos de existncia, da construo da central do Pico, num processo que envolveu diversas empresas nacionais, e da participao no projecto e construo das centrais LIMPET e AWS. Tendo em conta o elevado grau de importao de energia pelo pas e a necessidade de reduo de emisso de gases com efeitos de estufa, a vantagem estratgica que uma explorao equilibrada de recursos endgenos e renovveis em grande escala traz, incontestvel. A esta, e no caso da energia das ondas, soma-se ainda a oportunidade de criao de emprego e o elevado potencial de exportao a nvel mundial. Finalmente, pelo meio que ir explorar, o desenvolvimento da energia das ondas permitir desenvolver tecnologia com aplicaes na explorao de recursos ocenicos que o futuro venha a revelar de interesse. Para que os mencionados impactes positivos resultantes do aproveitamento da energia das ondas se concretizem necessrio que o Pas defina uma estratgia nacional articulando empresas, instituies de investigao e a administrao pblica de modo a: 1. Atrair e desenvolver projectos credveis; 2. Desenvolver capacidade nacional de investigao, avaliao, projecto, fabrico, instalao e operao deste tipo de sistemas; 3. Criar legislao adequada e procedimentos expeditos de financiamento e licenciamento de parques de energia das ondas; 4. Criar procedimentos de insero de empresas nacionais no desenvolvimento e de proteco de propriedade industrial entretanto desenvolvida. Temos, assim, um desafio inteligncia nacional, com diversas componentes. Se s empresas se pede que invistam e arrisquem parte do seu capital em projectos que a prazo podero contribuir para a criao de riqueza de que sero as primeiras beneficirias, ao Estado pede-se apoio para esse esforo e uma partilha do risco. Este risco tem duas componentes: um risco financeiro e um risco ambiental. Para uma aposta justa, ambos devem estar balizados, mas importante que se compreenda que ambos devem ser assumidos.
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8. Referncias
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Figura 3.2.10 - Vistas da central LIMPET (cortesia Wavegen) Figura 3.2.11 - Anteviso artstica da Energetech OWC (cortesia Energetech) Figura 3.2.12 - Imagem gerada por computador do sistema de CAO da Energetech em Port Kembla (cortesia Energetech) Figura 3.3.1 Figura 3.3.2 Figura 3.3.3 Figura 3.3.4 Figura 3.4.1 Figura 3.4.2 Figura 3.4.3 Figura 3.4.4 Figura 3.4.5 Figura 3.4.6 Figura 3.4.7 Figura 3.4.8 Figura 3.4.9 Anteviso artstica do OSPREY Modelo do OSPREY com a incluso do aerogerador para aproveitamento elico Anteviso artstica do molhe da foz do Douro Desenho esquemtico da CEO Douro Princpio de funcionamento do AWS Central piloto do AWS em guas portuguesas (cortesia AWS BV) Perspectiva da central piloto do AWS em construo (cortesia AWS BV) Central piloto do AWS no porto de Leixes (cortesia AWS BV) Anteviso artstica do AWS da prxima gerao (cortesia AWS BV) Anteviso artstica do AWS da prxima gerao (cortesia AWS BV) Detalhe das juntas flexveis do Pelamis (cortesia OPD Ltd) Detalhe das juntas flexveis do Pelamis (cortesia OPD Ltd) Detalhe e vista lateral do mdulo de converso de energia do Pelamis (cortesia OPD Ltd)
Figura 3.4.10 - Detalhe e vista lateral do mdulo de converso de energia do Pelamis (cortesia OPD Ltd) Figura 3.4.11 - Esquema do sistema de fixao do Pelamis (cortesia OPD Ltd) Figura 3.4.12 - Anteviso artstica de um parque de Pelamis (cortesia OPD Ltd) Figura 3.4.13 - Lanamento do primeiro Pelamis escala 1:1 (cortesia OPD Ltd)
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Figura 3.4.14a - Princpio de funcionamento do Wave Dragon (cortesia Wave Dragon ApS) Figura 3.4.14b - Wave Dragon visto de um dos reflectores (cortesia Wave Dragon ApS) Figura 3.4.15 - Wave Dragon em funcionamento (cortesia Wave Dragon ApS) Figura 3.4.16 - Anteviso artstica do Migthy Whale Figura 3.4.17 - Migthy Whale pronto para o lanamento ao mar (Maro de 1998) Figura 3.4.18 - Migthy Whale pronto para o lanamento ao mar (Maro de 1998)
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Listagem de tabelas
Tabela 2.1.1 -
Tabela 2.2.1 Pontos fortes e pontos fracos do caso Portugus (PNEO, 2004)
Tabela 4.1.1 -
Investimento por unidade de potncia instalada obtido atravs do mtodo da anuidade e sua comparao com os valores de referncia para projectos tpicos de energia elica e de energia mini-hdrica
Tabela 4.1.2 -
Investimento por unidade de potncia instalada obtido atravs do mtodo da anuidade para projectos de energia das ondas para a tarifa actual, correspondente a tecnologia em fase inicial de desenvolvimento, e tarifa para tecnologia madura
Tabela 4.2.1
valores de referncia por quilmetro de aproveitamento de energia das ondas. Os valores em Euros foram calculados admitindo um investimento por unidade de potncia instalada e uma tarifa correspondentes a uma tecnologia madura
Tabela 4.3.1 - custo e potncia instalada de algumas das centrais piloto construdas.
Tabela 4.3.2 - valores de potncia a instalar e subsdio acumulado para se atingir condies de viabilidade econmica comparvel aos projectos de energia elica mais caros (tarifa de 0,09 /kWh) e potncia a instalar para recuperar o subsdio acumulado
Tabela 5.4.1 -
Impactes ambientais associados construo e instalao de dispositivos de converso de energia das ondas
Tabela 5.4.2 -
Impactes ambientais associados operao e manuteno de dispositivos de converso de energia das ondas
Tabela 5.4.3 -
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info:
Instituto do Ambiente
Rua da Murgueira, 9/9A, Zambujal Ap. 7585, 2611-865 Amadora Tel: 21 472 82 00 | Fax: 21 471 90 74
email: geral@iambiente.pt www.iambiente.pt