Pata Negra 2 PDF
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Orientador de Dissertao:
Prof. Doutor Emlio Salgueiro
2012
Dissertao
de
Mestrado
realizada
sob
AGRADECIMENTOS
Antes de mais gostaria de comear por agradecer ao professor Emlio Salgueiro por
me ter acolhido e orientado no seu Seminrio de Dissertao. Ao longo de um processo nem
sempre contnuo e decorrido dentro do esperado tenho a agradecer a sua disponibilidade,
apoio e compreenso permitindo-me evoluir, certamente, a nvel pessoal e profissional. Muito
obrigado por tudo!
Quero agradecer tambm ao Conselho de Administrao do Hospital pela permisso
da recolha de dados para a presente investigao, ao Dr. Pedro Pires, Dr. Paula Zaragoza e
Dr. Vera Ramos, bem como restante equipa da Unidade de Pedopsiquiatria, pela
disponibilidade e apoio prestados durante o perodo de estgio acadmico e na concretizao
deste estudo. Dirijo um agradecimento especial Dr. Ins Figueiredo pela simpatia, amizade,
apoio e orientao ao longo de todo este meu percurso inicial na prtica da psicologia clnica.
professora Teresa Lopo pela sua disponibilidade e partilha de conhecimentos sobre
a prova As Aventuras de Pata-Negra (Corman, 2001).
Dr. Clara Castilho pelo seu exemplo, amizade e apoio ao longo da minha vida,
nunca se esquecendo de mim e estando presente sempre que preciso.
A toda a minha famlia, em particular ao meu pai, ao meu irmo e tia Rosalina.
Agradeo tambm aos meus amigos que me acompanharam neste trajecto acadmico.
Por ltimo, mas no menos importante, quero deixar um agradecimento especial aos
pais e s crianas que se disponibilizaram para participar neste estudo, pela partilha de
conhecimentos que proporcionaram, sem os quais este projecto no seria possvel.
Dedico esta tese ao meu pai e tia Rosalina pelo precioso apoio ao longo da minha
vida mas, tambm, a todas as pessoas que nunca esquecerei, me, madrinha, av, Maria.
III
IV
A criana modela-se.
Ajuda-a a modelar-se oferecendo-lhe tudo quanto tenhas de mais autntico dentro de ti.
Oferece-te a ti prprio como modelo.
Faz de modelo, no s com o teu corpo de Homem, mas tambm com o que resta da tua
espontaneidade infantil para o Amor.
Homens capazes de Amor so aqueles que foram crianas ou que se reconciliaram com a
criana que foram.
Se amas a criana que em ti existe, ento podes amar as crianas.
()
VI
RESUMO
VII
ABSTRACT
Child depression was recognized only from the second half of the twentieth century.
However, it is observed that the literature gives less importance to the study of childhood
depression compared with depression in adolescence and adulthood. Considering the
importance of the family context to the development and maintenance of depressive disorder
in children, the main goal of the present study is to identify and describe the perception of
family relations in children diagnosed with a depressive organization, in mother and father, to
contribute for a better understanding of family functioning of these children. This study
assessed five children diagnosed with depression with ages between seven and ten years old,
three children were males and two were females and their parental figures. We used the Case
Study method multiple, exploratory and the following instruments: Non-thematic Drawing,
Human Figure Drawing (Machover, 1978), Family Drawing (Corman, 2003), Childrens
Depression Inventory (Marujo, 1995), Family Relations Test, Childrens Version (Bene,
1985), Family Relations Test, Married Couples Version (Bene, 1976), PN Test (Corman,
2001) and also two semi-structured interviews, one for parents and one for children. The
results suggest the perception of a dependent relationship with a depressed or phallic mother
figure allied to a father figure dismissed from their parental function or depressed, both
blamed, perceived as punitive and less available for the childs emotional needs, resulting in
failure of narcissic confirmation, not allowing the child to feel valued in the experience of
individuation and autonomy.
VIII
NDICE
Introduo.............................................................................................................................. 1
Enquadramento Terico ......................................................................................................... 2
1. O Modelo Bio-Ecolgico do Desenvolvimento Humano ............................................... 2
2. O Perodo de Latncia ................................................................................................... 3
3. A Depresso na Criana ............................................................................................... 4
4. As Famlias de Crianas com Depresso ..................................................................... 13
5. Objectivo .................................................................................................................... 17
Mtodo ................................................................................................................................ 18
1. Delineamento.............................................................................................................. 18
2. Participantes ............................................................................................................... 18
3. Procedimento .............................................................................................................. 19
4. Instrumentos ............................................................................................................... 21
4.1.Desenho Livre ......................................................................................................... 22
4.2.Desenho da Figura Humana .................................................................................... 22
4.3.Desenho da Famlia ................................................................................................. 23
4.4.Inventrio de Depresso para Crianas .................................................................... 24
4.5.Teste de Relaes Familiares, Verso Crianas ....................................................... 25
4.6.Teste de Relaes Familiares, Verso Casais ........................................................... 26
4.7.As Aventuras de Pata-Negra ................................................................................... 27
Resultados ........................................................................................................................... 28
1. Sntese do Estudo de Caso 1 Tom (10 anos e 5 meses) e do Estudo de Caso 2 Isabel
(7 anos e 3 meses) ....................................................................................................... 28
2. Sntese do Estudo de Caso 3 Joo (9 anos e 6 meses) ............................................... 36
3. Sntese do Estudo de Caso 4 Mariana (9 anos e 9 meses) ......................................... 42
4. Sntese do Estudo de Caso 5 Gabriel (10 anos e 4 meses) ......................................... 47
IX
Discusso ............................................................................................................................. 52
Concluso ............................................................................................................................ 60
Referncias Bibliogrficas ................................................................................................... 61
Anexos................................................................................................................................. 71
Anexo A: Pedido de Autorizao para Recolha de Dados ................................................. 72
Anexo B: Projecto de Investigao ................................................................................... 74
Anexo C: Consentimento Informado ................................................................................ 85
Anexo D: Autorizao para Recolha de Dados ................................................................. 87
Anexo E: Guio de Entrevista dos Pais ............................................................................. 88
Anexo F: Classificao Social Internacional de Graffard .................................................. 94
Anexo G: Itens do Instrumento Teste de Relaes Familiares, Verso Casais (Bene, 1976)
......................................................................................................................................... 98
Anexo H: Guio de Entrevista da Criana ....................................................................... 101
Anexo I: Itens da Forma para Crianas em Idade Escolar do Teste de Relaes Familiares,
Verso Crianas (Bene, 1985) ........................................................................................ 105
Anexo J: Inventrio de Depresso para Crianas ............................................................. 109
Anexo K: Contedo Manifesto e Latente dos Cartes do PN Segundo Chabert (1982) e
Corman (2001) ............................................................................................................... 106
Anexo L: Estudo de Caso 1 Tom (10 anos e 5 meses) ................................................ 119
Anexo M: Estudo de Caso 2 Isabel (7 anos e 3 meses) ................................................. 159
Anexo N: Teste de Relaes Familiares, Verso Casais Pais do Tom e Isabel ............ 198
Anexo O: Estudo de Caso 3 Joo (9 anos e 6 meses) .................................................... 212
Anexo P: Estudo de Caso 4 Mariana (9 anos e 9 meses)............................................... 271
Anexo Q: Estudo de Caso 5 Gabriel (10 anos e 4 meses) ............................................. 329
Anexo R: Tabela de Resultados ...................................................................................... 381
INTRODUO
E no sero todas estas linhas tortas, sobre as quais ns caminhamos, as linhas com que se
possa construir o espao para se continuar o sonho?
Maria Jos Vidigal (2005)
ENQUADRAMENTO TERICO
2. O Perodo de Latncia
nascimento aos 5,5/6 anos, no qual prevalece a escolha do objecto sexual infantil. durante
este perodo que a criana se desenvolve em conformidade com os trs primeiros estdios
psicossexuais do desenvolvimento humano definidos por Freud oral, anal, flico; e, um
segundo perodo iniciado na puberdade atravs da renncia ao primeiro objecto de amor, isto
, ao objecto edipiano, e a escolha de um novo objecto de amor, que marcar o incio da
sexualidade adulta (Ferreira, 2002; Sprinthall & Collins, 2008).
Situado entre os dois perodos descritos anteriormente, mais concretamente, entre o
estdio flico e a puberdade, o perodo de latncia, tambm denominado de estdio de
latncia, idade escolar (da entrada na escola), idade da razo ou terceira e ltima infncia,
inicia-se com a dissoluo do complexo de dipo (atravs da proibio do incesto) e a
formao do Superego, sendo constitudo por crianas dos 5,5/6 anos at entrada na
puberdade (Bornstein, 1975; Coimbra de Matos, 2003; Denis, 2004; Edwards, 1999; Ferreira,
2002; Golse, 2005; Hagelin, 1980; Laplanche & Pontalis, 1985; Richaudeau, 1979). Tal como
o prprio nome indica, durante a latncia a libido, a sexualidade encontra-se latente, ou seja,
apesar de presente no se manifesta (Nabais & Guerreiro, 2005).
Durante o perodo de latncia surgem importantes alteraes a nvel biolgico,
psicolgico e social na vida da criana. Biologicamente, o aparelho genital externo sofre uma
paragem at puberdade. No entanto, a produo de excitao sexual mantm-se, formando
energia psquica sem a existncia de um objecto sexual pr-definido, o que gera sentimentos
de desprazer e frustrao na criana. Deste modo, so accionados os mecanismos de defesa
necessrios, de forma a limitar a aco das pulses sexuais e incestuosas. Atravs do processo
de sublimao, estas pulses so reenviadas para objectivos no sexuais (aprendizagem e
aquisies intelectuais), recalcadas e expressas atravs de formaes reactivas como a
vergonha, aspiraes estticas e morais ou, ainda, integradas nos traos de carcter do
indivduo (Bornstein, 1975; Ferreira, 2002; Freud, 1905/1981; Gueniche, 2005; Richaudeau,
1979). Verifica-se, assim, uma abstinncia total ou parcial da actividade sexual infantil,
agora sob o controlo da instncia super-egica reprimindo o passado, considerado perigoso
pela moralidade da censura actual (Ferreira, 2002, p. 225). Devido aco exercida pelo
3
Superego, o ego torna-se resiliente, malevel e educvel (Kramer & Rudolph, 1991, p. 319).
Richaudeau (1979) acrescenta, ainda, que embora se observem ainda algumas manifestaes
sexuais (masturbao, curiosidade) doravante marcadas por uma forte culpabilidade, a
sexualidade no sofre nova reorganizao (p. 155). Quanto ao plano social, este encontra-se
marcado pelo incio da escolarizao e pelas exigncias educativas introduzidas nesta fase do
desenvolvimento que pressupem uma socializao acrescida criana (Denis, 2004).
Posto isto, tal como Ferreira (2002) indica latncia significa esforo de consolidao
do Eu infantil a luta pela maturidade, pela coerncia e coeso do mundo interior (p. 218).
A autora adianta, tambm que, para alcanar de modo favorvel esta maturidade necessrio
que o desenvolvimento intelectual e afectivo da criana tenha ocorrido de forma harmoniosa.
Esta considerao remete-nos para a importncia desempenhada pelos factores intrapsquicos,
em conjugao com a qualidade das relaes familiares no funcionamento psquico
harmonioso da criana: o equilbrio das instncias psquicas, sempre em elaborao, deve ser
sustentado por relaes adequadas a personagens familiares, capazes de se ajustarem ao
aparecimento de mecanismos de defesa ou sintomas frequentemente desconcertantes,
irritantes ou angustiantes (Denis, 2004, p. 529).
Como refere Coimbra de Matos (2003) quando surgem falhas no desenvolvimento
natural durante o perodo anterior latncia, atravs da invaso de problemticas de
conhecimento/identidade sexual no resolvidos na segunda infncia (dos 3 aos 6 anos) a
latncia no estabelecida. Como resultado verifica-se a permanncia agora anormal
porque extempornea de pensamentos, fantasias, dvidas e conflitos cerca da sexualidade,
assim como de uma imaturidade afectiva e relacional. A latncia no verificada a avidez de
saber insatisfeita (Coimbra de Matos, 2003, p. 110). Segundo Teresa Ferreira (2002) nestes
casos o funcionamento depressivo parece ser o diagnstico mais comum (Ferreira, 2002).
Alexandre (1993) destaca as perturbaes do pensamento como o motivo principal de pedidos
de consulta, devido a um excesso ou insuficincia do recalcamento, associando-se
directamente a uma depresso primria organizada na insuficincia da funo contentora da
me, na generalidade dos casos.
3. A Depresso na Criana
Antes de mais, importa salientar que a depresso a que este estudo reporta distingue-se
de um sintoma episdico de tristeza/luto face a um acontecimento recente de perda ou crise
familiar, visto tratar-se de um processo adaptativo e no patolgico (Coimbra de Matos, 2007;
Ferreira, 2002; Freud, 1917/1974).
4
Posto isto, Freud (1917/1974) foi quem definiu pela primeira vez as caractersticas da
melancolia atravs da publicao da obra Luto e Melancolia em 1917. Apesar do trabalho de
luto apresentar sintomas semelhantes melancolia pela perda de interesse pelo mundo
externo na medida em que este no evoca esse algum , a mesma perda da capacidade de
adoptar um novo objecto de amor (o que significaria substitu-lo) e o mesmo afastamento de
toda e qualquer actividade que no esteja ligada a pensamentos sobre ele (p. 250) difere
desta no sentido em que representa uma reaco adaptada e transitria perda de um objecto
importante, dando lugar ao desinvestimento afectivo nesse objecto e investimento em novos
objectos. Na melancolia, por outro lado, assiste-se a um empobrecimento no s no mundo
externo como no mundo interno do sujeito pela diminuio acentuada da auto-estima (com
auto-censuras e castigos), retirando valor ao Eu. Ao contrrio do trabalho de luto, a
melancolia comporta caractersticas inconscientes pois o sujeito embora possa saber quem
perdeu, desconhece o que perdeu com esse algum. Assim, a perda do objecto transforma-se
na perda do Eu atravs do mecanismo de introjeco ambivalente do objecto perdido, onde a
severidade do superego (de origem precoce, oral, formado na relao com o imago materno)
dirige-se ao Eu do sujeito (atravs da clivagem) pretendendo atingir o objecto de amor
introjectado. Objecto e sujeito, realidade externa/interna so confundidas face extrema
dependncia marcada por uma relao de objecto de tipo narcsica, funcional. Assim, instalase o sentimento de culpa, os castigos e a auto-punio (associado falta de apetite e de sono)
podendo culminar em suicdio (Coimbra de Matos, 2007; Ferreira, 2002; Freud, 1917/1974).
A melancolia (ou depresso major), depresso mais profunda e ligada psicose
destaca-se, assim, da depressividade (ou depresso basal) pelo grau de severidade acentuado
marcado pelo estabelecimento de uma relao fusional com o objecto. Desta forma, a
depressividade caracteriza-se por uma forte dependncia emocional ao objecto, investindo
inconscientemente na relao com este e idealizando-o (como defesa tomada de conscincia
da malignidade do objecto e falha narcsica), no suportando a separao, o que impede o
sujeito de realizar o trabalho de luto face perda (real ou imaginria) do objecto (Coimbra de
Matos, 2002, 2007, 2011). Sujeito e objecto esto mal diferenciados mas no confundidos
como na psicose, realizando-se a introjeco do bom e mau objecto. Verifica-se uma forte
necessidade de suporte, apoio, constituindo uma relao objectal anacltica com falhas graves
de confirmao e valorizao narcsica (Coimbra de Matos, 2007, 2011; Ferreira, 2002).
Simultaneamente, para Coimbra de Matos (2007) o depressivo exprime o desejo de se separar
do objecto primrio, permanecendo num impasse entre a evoluo edipiana e a regresso oral,
salientando-se a falta de solidez na organizao anal. Teresa Ferreira (2002) conclui que a
caracterstica primordial presente em todas as formas de depresso a inconsistncia do
5
depressivas (p. 250). Deste modo, nas depresses de crianas muito novas sobressai a apatia,
o desinvestimento e a inibio (atravs de uma tomada de conscincia menor e dos recursos
defensivos empregues para reprimir os afectos negativos), enquanto nas depresses de
crianas em final de latncia e sobretudo na adolescncia a expresso da tristeza aumenta,
assemelhando-se progressivamente aos traos observados na depresso dos adultos
(Gueniche, 2005; Palacio-Espasa, 2004). Assim, os critrios de diagnstico de depresso
utilizados para os adultos no devem ser aplicados no diagnstico desta patologia nas crianas
(Palacio-Espasa, 2004; Pedinielli & Bernoussi, 2006). Posto isto, o diagnstico feito com
recurso entrevista clnica e s provas projectivas no mbito da avaliao psicolgica e
atravs da anlise da transferncia e contra-transferncia experienciadas na relao de objecto
que a criana estabelece com o terapeuta. Com frequncia so crianas que no manifestam
sinais de tristeza aparente, todavia, fazem-nos sentir interiormente a sua tristeza pela nossa
identificao ao seu sofrimento interno. H que ressalvar que da mesma maneira que a
depresso no deve ser considerada equivalente tristeza manifesta, no se deve associar
todos os sinais de tristeza ao diagnstico de depresso (Ferreira, 2002; Marcelli, 2005;
Palacio-Espasa, 2004; Palacio-Espasa & Dufour, 2002).
Entre as principais caractersticas experienciadas na relao teraputica com a criana
deprimida situam-se de uma ou outra forma: Avidez relacional, associada ao desejo de
incorporao, intenso, violento, ligado insatisfao oral (Ferreira, 2002; Klein, 1987). Esta
avidez pode expressar-se atravs de fantasias de comer sem fim ou no controlo dos impulsos
orais que conduz anorexia; Sentimento de vazio vivenciado na angstia de perda do amor do
objecto ou ausncia de ligaes afectivas significativas, na falha narcsica; Solido manifesta
na vivncia de impossibilidade de estabelecer laos afectivos com o outro; Sensao de a
criana se encontrar perdida resultante da falha da construo identitria pela ausncia de
modelos de identificao consistentes; Fragilidade do Eu dominada pela vivncia de uma
baixa auto-estima e insegurana interior que impedem a mobilizao dos recursos internos
necessrios para assegurar a sua proteco; e, por ltimo, dependncia afectiva pela
submisso vontade do outro sobre o qual projectado o poder, sendo idealizado e temido,
necessitando do suporte do objecto, da relao anacltica para atenuar a insegurana interior e
assegurar a sua prpria sobrevivncia (Ferreira, 2002; Gueniche, 2005; Strecht, 2001).
Na opinio de Cmara (2005) as crianas deprimidas tendem a manifestar-se apticas,
sem curiosidade e inibidas na explorao que exercem sobre o meio pois toda a sua
caminhada marcada pela insegurana, pelo medo, pela vivncia antecipatria do falhar (p.
55). Esta vivncia de medo transferida para a relao de objecto face possibilidade de uma
nova ruptura, desistncia, insucesso na relao podendo revelar uma atitude de indiferena
aparente, inibio relacional e/ou provocao hostil do adulto (Ferreira, 2002).
Ao nvel manifesto estas crianas tendem a apresentar caractersticas distintivas no
olhar, discurso e actividades como o jogo ou desenho. Citando Teresa Ferreira (2002) o
desejo do encontro l-se no olhar (p. 312). Assim, observa-se um olhar fugidio e apelativo,
ou um olhar de frente mas distncia pelo medo do outro ou, ainda, um olhar intenso, vido,
sedutor seguido de uma retirada defensiva. Este olhar vido procura no outro uma leitura
compreensiva e afectuosa da sua existncia (uma pessoa), um sofrimento (um interior) e uma
sada para esse sofrimento (uma relao). Quanto ao discurso pode ser fluente ou pobre,
lacnico com contedos que remetem para os afectos depressivos: no sou bom, ningum
gosta de mim, preferia morrer ou para a omnipotncia como defesa manaca desses
afectos: sou o mais forte de todos simbolizando o vazio, a vivncia de perda do amor do
objecto (Ferreira, 2002; Strecht, 1998, 2001). O jogo/desenho pode ser marcado pela
exuberncia de aco, pela reduo da mentalizao ou pela inibio motora, atravs da
atitude de desistncia que domina o Eu: no sei, no consigo, fao sempre mal, entre
outros (Cmara, 2005; Ferreira, 2002; Marcelli, 2005; Palacio-Espasa, 2004).
Posto isto, entre as principais defesas utilizadas por estas crianas situam-se a
tendncia ao agir, pela reduo da mentalizao do sofrimento psquico, a denegao, a
idealizao, a defesa manaca e a inibio, atravs da procura de aconflitualidade,
expressando-se geralmente num fraco rendimento escolar, intelectual e social (Cmara, 2005;
Ferreira, 2002; Strecht, 1998, 2001). Nas crianas mais pequenas destaca-se o recurso s
modalidades antidepressivas na ordem da mania como a instabilidade psicomotora,
comportamentos de oposio como os amuos, clera, raiva, a tendncia para a exaltao da
auto-estima (e.g., sou muito forte, sou grande), manifestaes hetero ou auto-agressivas e
no final da latncia pode-se assistir a perturbaes do comportamento como o roubo, a
mentira e a fuga, o que permite reprimir e negar os afectos depressivos e, assim, impedir a
elaborao da posio depressiva (Gueniche, 2005; Klein, 1986; Lustin, 2004; Marcelli, 2005;
Palacio-Espasa, 2004; Santos, 2000; Strecht, 1998).
A classificao do DSM-IV-TR (American Psychiatric Association [APA], 2002)
distingue trs formas clnicas de perturbaes depressivas: a depresso major, a distimia e a
perturbao depressiva sem outra especificao.
Na depresso major os requisitos clnicos (cinco ou mais) devem estar presentes
durante pelo menos duas semanas, quase todos os dias. Pelo menos um dos sintomas : 1)
humor depressivo e/ou irritvel durante a maioria do dia (descrio subjectiva ou observada
por outros) ou 2) perda de interesse ou de prazer na maioria das actividades (descrio
9
subjectiva ou observada por outros). Adicionalmente, a criana deve apresentar pelo menos
quatro dos seguintes sintomas (ou trs caso tenha preenchido os dois critrios anteriores): 3)
perda ou aumento do apetite e do peso; 4) insnia ou hipersnia; 5) lentificao ou agitao
psicomotora; 6) fadiga ou perda de energia; 7) sentimentos de desvalorizao ou de
culpabilidade; 8) diminuio da capacidade de pensamento, concentrao ou aumento de
indeciso; 9) desejo de preferir estar morto ou ideias de suicdio.
No caso da distimia, sintomaticamente semelhante depresso major, mas com menos
intensidade, os sintomas devem ser crnicos pelo menos durante um ano, com humor
depressivo e/ou irritvel presente durante a maior parte do dia, quase todos os dias. Assim,
deve apresentar pelo menos dois dos seguintes sintomas: 1) perda ou aumento do apetite; 2)
insnia ou hipersnia; 3) fadiga ou pouca energia; 4) baixa auto-estima; 5) dificuldades de
concentrao ou na tomada de decises; 6) sentimentos de falta de esperana.
Por fim, na perturbao depressiva sem outra especificao situam-se os casos de
crianas com caractersticas depressivas que no preenchem os critrios para as perturbaes
depressivas acima referidas (major e distmica).
Relativamente classificao psicodinmica ter-se- em conta o estudo realizado pela
Equipa 2 do Centro de Sade Mental Infantil e Juvenil de Lisboa no ano de 1988 com 40
crianas deprimidas, no qual se apurou os ncleos da patologia depressiva com vista a uma
interveno teraputica mais precisa. Estes ncleos depressivos constituem-se como modelos
conflituais associados a cada etapa do desenvolvimento e resultam da evoluo do narcisismo
na criana em ligao com as experincias traumticas vivenciadas no meio externo. Mais
tarde, podem evoluir para uma integrao reparadora ou persistir como pontos de fixao aos
quais se regressa no caso de as experincias traumticas antigas se repetirem e facilitarem a
ruptura defensiva interna. Posto isto, nas linhas seguintes sero descritos em pormenor os trs
ncleos depressivos pr-genitais (oral, anal e flico) e, ainda, algumas consideraes sobre o
ncleo depressivo edipiano onde se pode organizar a depresso neurtica e a evoluo
depressiva relativa crise da latncia (Ferreira, 2002).
O ncleo depressivo precoce relaciona-se com a fase oral e, como tal, remete para a
relao precoce com o imago materno, caracterizando-se por um apelo fusional na relao
com o outro (atitude de seduo), olhar vido, instabilidade interna ou externalizada pela
procura vida de um bom objecto, inibio e receio da prpria agressividade, fragilidade e
dependncia do Eu, confuso sujeito/objecto manifesta numa linguagem nem sempre clara,
falha na noo dos limites entre fantasia/realidade, nos limites do agir, do tempo e do espao
(Ferreira, 2002).
10
deve procurar criar uma relao emptica com a criana, oferecendo-se como modelo
contnuo, contentor e afectuoso de forma a restaurar o narcisismo ferido da criana,
fortalecendo o Eu fragilizado e/ou aliviando o impacto do superego punitivo e rgido
(Ferreira, 2002; Strecht, 1998). Aparentemente, no so descritos benefcios clnicos na
administrao de psicotrpicos na depresso infantil, que ao serem utilizados poderiam at
surtir efeitos adversos aos resultados esperados (Ferreira, 2002; Palacio-Espasa, 2004).
Todavia, na opinio de Marcelli (2005) a prescrio de antidepressivos numa posologia de
dose correcta e controlada recomendada no caso de depresses mais graves resistentes
psicoterapia e s reestruturaes de vida.
Em suma, pode-se depreender que para alguns autores a depresso na criana
associada a uma reaco afectiva a acontecimentos exteriores nos quais sobressai a separao
ou perda do amor do objecto (Bowlby, 1990; Coimbra de Matos, 2002, 2007; Ferreira, 2002;
Spitz, 2004). Ainda assim, na opinio de Klein (1986) atravs da teoria da posio depressiva,
a depresso resulta do desenvolvimento maturativo no qual domina o processo fantasmtico.
onde os membros so interdependentes e, deste modo, as mudanas que ocorrem numa parte
da famlia repercutem-se nas restantes. Como sistema aberto (i.e. sujeito s influncias
externas) a famlia est sujeita continuidade e mudana (Schaffer, 1996). Teresa
Goldschmidt (2003) ressalva a importncia da capacidade que a famlia tem para investir
afectivamente nos seus elementos, em particular nas crianas, centrando-se nas suas
necessidades e no nas necessidades das figuras parentais.
Compreende-se facilmente, assim, que a sade mental de uma criana e a sua
capacidade para resistir a tenses e conflitos provm do espao virtual promotor do
desenvolvimento que os pais constroem na relao com o/a filho/a (Salgueiro, 1995). Assim,
mesmo que uma criana se fragilize muito na sua insero escolar, se tiver uma boa base de
apoio familiar, estar mais apta a ultrapass-la do que se essa falha for concomitante ou
secundria a uma dificuldade familiar (Strecht, 2001, p. 132).
No que concerne, mais especificamente, s famlias de crianas com depresso
segundo Sander e McCarty (2005) na gnese da depresso na infncia actuam mltiplos
factores de ordem parental e familiar, tais como: clima familiar; interaces pais-criana; tipo
de vinculao existente; psicopatologia parental (viz., depresso parental); estilo cognitivo
parental. E, ainda, o temperamento da criana e a maneira como esta lida com o ambiente
familiar podendo condicionar a sua resilincia (Cyrulnik, 2003) ou tornar a criana mais
vulnervel depresso. Variveis como stress, conflito conjugal e suporte social interagem de
forma determinante com os factores mencionados anteriormente.
Nas linhas seguintes sero analisados estes factores de forma mais detalhada,
atendendo aos diversos autores que se dedicaram ao estudo terico e/ou emprico da
etiopatogenia familiar na depresso da criana.
Coimbra de Matos (2002) reitera a existncia de uma constelao familiar
depressgena composta pelo desequilbrio entre o feminino e o masculino, entre as figuras
parentais, com um objecto parental dominador e actuante, geralmente tambm tirnico
(vulgarmente associado me) e o outro demitido da sua funo parental (comummente
ligado ao pai que pode estar deprimido). O autor assinala que a condio patognica encontrase na relao privilegiada, situao totalitria que a criana experiencia com o objecto
dominante da dade parental, atravs do controlo materno precoce e continuado (que pode ser
desempenhado pela figura paterna e no materna) perante a demisso da outra figura. Posto
isto, conclui que criana s lhe resta a obedincia, submisso e progressiva desistncia e
adaptao depressiva; e/ou a revolta amordaada. Ulteriormente, poder chegar (ou no)
revoluo e libertao (p. 445). A tendncia para a presena de uma figura materna
14
Jones et al., 2006; Marcelli, 1995; Schwartz et al., 1998). A este propsito Gullone, Ollendick
e King (2006) analisaram o papel da representao da vinculao em 326 crianas e
observaram que uma representao da vinculao que indique disfuno correlaciona-se aos
sintomas depressivos.
A partir de um estudo longitudinal Mezulis, Hyde e Abramson (2006) obtiveram uma
correlao entre o temperamento negativo da criana, eventos de vida negativos e
vulnerabilidade para a depresso, atravs do estilo cognitivo, agravado pelos comportamentos
maternos de feedback negativo face criana e expresso de zanga.
Vrios autores (Ferreira, 2002; Gueniche, 2005; Hughes & Asarnow, 2011; Marcelli,
2005; Schwartz et al., 1998; Strecht, 1998) assinalam a importncia da existncia de uma
patologia familiar que geralmente se traduz em ncleos depressivos num ou em ambos os
pais, com destaque para a figura materna que atravs da relao precoce com a criana
permite a introjeco do seu sofrimento psquico pela criana. No mbito da patologia
parental intervm tambm os mecanismos biolgicos na ordem de uma maior predisposio
gentica para a depresso nas crianas filhas de pais deprimidos, com risco acrescido no caso
de ambos os pais se encontrarem deprimidos. A interaco das mes deprimidas com os filhos
descrita como tendencialmente disfuncional pela presena de sentimentos negativos como a
tristeza, irritabilidade e hostilidade dirigidos aos filhos. Tratam-se de mes mais intrusivas,
menos positivas, mais conflituosas, mais punitivas (tm pouca tolerncia ao comportamento
dos filhos e so mais crticas) e apresentam dificuldades em resolver conflitos ou adoptar um
estilo parental democrtico recorrendo com frequncia ao isolamento e evitamento dos
conflitos ou superproteco dos filhos. Estimulam menos os filhos e promovem uma
vinculao insegura, predominando a vinculao insegura-evitante. O tipo de vinculao
desorganizada parece sobressair no caso de depresses maternas mais graves (Carvalho et al.,
2006; Garber et al., 2009; Goodman & Gotlib, 1999; Hughes, Hedtke & Kendall, 2008; Stark
et al., 2012). Num estudo longitudinal com uma amostra de 83 pais de crianas com idades
inferiores a 18 meses conduzido por Gartstein e Bateman (2008) verificou-se uma correlao
entre maiores nveis de depresso materna, de afectos negativos da criana e de sintomas
depressivos na criana. A investigao longitudinal de Lau, Rijsdijk, Gregory, McGuffin e
Eley (2007) obteve resultados semelhantes aos observados no estudo anterior, ao verificar
uma associao entre a depresso materna, estilo cognitivo negativo da criana e a ocorrncia
de sintomas depressivos na infncia, agravados face a eventos de vida negativos. A depresso
materna pode tambm contribuir para um agravamento dos conflitos entre o casal parental e,
assim, afectar a interaco do pai com os filhos, nomeadamente atravs da superproteco
materna e de um baixo envolvimento paterno com os filhos (Carvalho et al., 2006).
16
5. Objectivo
17
MTODO
1. Delineamento
De modo a responder questo de investigao qual a percepo das relaes
familiares em crianas com funcionamento depressivo, na me e no pai? Optou-se pela
utilizao do mtodo de Estudo de Caso mltiplo, exploratrio, com metodologia qualitativa
por se colocar a questo o qu? sem que sejam delineadas a priori uma teoria e hipteses
precisas, visto que o objectivo principal desenvolver hipteses que possam ser testadas em
pesquisas confirmatrias. Esta metodologia aborda fenmenos contemporneos a partir do seu
contexto real, onde as variveis so dificilmente manipulveis pelo experimentador (Yin,
1984). Assim, os Estudos de Caso so generalizveis a proposies tericas e no a
populaes ou universos (Yin, 1984, p. 21), ou seja, pressupe-se a generalizao analtica
com vista a corroborar, fortalecer ou refutar uma teoria e no a generalizao estatstica.
Perante a utilizao de mltiplas fontes de evidncia e a representao dos fenmenos atravs
da perspectiva do prprio sujeito, este mtodo permite, ainda, descries e anlises mais
intensivas dos fenmenos (Shaughnessy, Zechmeister & Zechmeister, 2006; Stake, 2005;
Stark & Torrance, 2005).
2. Participantes
Esta investigao constituda por cinco crianas diagnosticadas com depresso pelos
psiclogos e pedopsiquiatras da Unidade de Pedopsiquiatria do Servio de Pediatria de um
hospital situado na Pennsula de Setbal e os respectivos pais. Trs crianas pertencem ao
sexo masculino e duas ao sexo feminino. Segundo a terminologia psicanaltica de Freud
(1905/1981) estas crianas encontram-se no perodo de latncia, com idades compreendidas
entre os 87 e os 125 meses, isto , entre os 7 anos e 3 meses e os 10 anos e 5 meses (M=113,4
meses). Com excepo da menina mais nova que frequenta o 1 Ano de escolaridade, todas as
outras crianas frequentam o 4 Ano do 1 Ciclo do Ensino Bsico (no final do ano lectivo
todas transitaram de ano, sem registarem reprovaes nos anos lectivos anteriores). Nos casos
em estudo todas as famlias residem na Pennsula de Setbal e os progenitores so casados,
encontrando-se apenas uma famlia reconstruda com descendncia de uma relao anterior,
sendo que as restantes famlias so de tipo nuclear e todas as crianas tm apenas um(a)
irmo/irm. Dois casos, o Tom e a Isabel so irmos, perfazendo uma famlia nuclear
completa em estudo. A idade das mes varia entre os 37 e os 39 anos (M=38.5) e a dos pais
18
entre 38 e 46 anos (M=41.25). Quanto s habilitaes literrias das mes, uma tem Mestrado
(encontrando-se a realizar o Doutoramento), duas tm o Ensino Secundrio concludo e uma
tem o Ensino Secundrio incompleto (6 Ano). Dos pais, um tem o Mestrado e os restantes
tm o Ensino Secundrio incompleto (9 Ano, 8 Ano e 5 Ano), sendo que o pai com menos
habilitaes o nico progenitor que se encontra desempregado. As famlias em estudo
distribuem-se da seguinte forma quanto classe social a que pertencem: Caso do Joo
Classe I (Alta); Casos do Tom, Isabel e Gabriel Classe III (Mdia); Caso da Mariana
Classe IV (Mdia Baixa).
3. Procedimento
que este facto possa condicionar os resultados obtidos funcionando como varivel parasita,
optou-se pela adaptao s necessidades especficas de cada criana (e.g., tempo que
despendem na aplicao de cada prova), disponibilidade horria dos pais e da prpria
investigadora e existncia de gabinetes disponveis para cada sesso.
Assim, a recolha dos dados teve incio atravs de uma sesso com ambos os pais (Caso
do Tom, Isabel e Gabriel) ou com apenas a me (Caso do Joo e Mariana) apresentando-se o
consentimento informado, no qual se explicou o mbito da investigao, o nmero de
encontros necessrios recolha dos dados e os cuidados ticos implicados (e.g., carcter
voluntrio de participao, confidencialidade, proteco dos dados). Na primeira sesso com
o pai presente foi-lhe igualmente apresentado o consentimento informado, sendo importante
ressalvar que todas as crianas obtiveram o devido consentimento por escrito das figuras
parentais. Com ambos os pais presentes realizou-se uma entrevista semi-directiva (Anexo E)
com o objectivo de recolher os dados necessrios elaborao da anamnese da criana,
genograma familiar e, ainda, para a Classificao Social Internacional de Graffard (Gomes
Pedro, 1985) (Anexo F). Procedeu-se passagem da prova Teste de Relaes Familiares,
Verso Casais (Bene, 1976) (Anexo G) a cada figura parental individualmente.
A primeira sesso com a criana iniciou-se com uma entrevista semi-directiva (Anexo
H) com o intuito de recolher informaes associadas histria e percepo familiar da criana
como, tambm, permitir que esta se expressasse de forma espontnea, favorecendo, assim, a
criao de uma relao de aliana com a observadora, de modo a facilitar a passagem das
provas projectivas que se seguiram.
Nos Casos do Tom, Isabel e Mariana, em seguida, administraram-se os testes
Desenho Livre e Desenho da Figura Humana (Machover, 1978). Na segunda sesso
procedeu-se aplicao dos instrumentos Desenho da Famlia (Corman, 2003), Teste de
Relaes Familiares, Verso Crianas (Bene, 1985) (Anexo I) e Inventrio de Depresso
para Crianas (Marujo, 1995) (Anexo J).
No caso do Gabriel aps a aplicao do Desenho Livre utilizou-se o Inventrio de
Depresso para Crianas (Marujo, 1995). Na segunda sesso aplicou-se o Desenho da
Figura Humana (Machover, 1978) e o Teste de Relaes Familiares, Verso Crianas (Bene,
1985). O Desenho da Famlia (Corman, 2003) aplicou-se na ltima sesso.
Na segunda sesso de recolha de dados com o Joo aplicou-se o Desenho Livre, na
terceira sesso o Desenho da Famlia (Corman, 2003). A quarta sesso iniciou-se com a
passagem do instrumento Teste de Relaes Familiares, Verso Crianas (Bene, 1985),
seguiu-se o Desenho da Figura Humana (Machover, 1978) e o Inventrio de Depresso para
Crianas (Marujo, 1995).
20
4. Instrumentos
Este instrumento da autoria de Maria Kovacs (2004) tambm designado por CDI
(Childrens Depression Inventory) uma escala que pretende avaliar a gravidade dos
sintomas de depresso em crianas e adolescentes, dos 7 aos 15 anos de idade, no tendo
como objectivo o diagnstico de depresso. Trata-se, assim, de uma adaptao do teste BDI
(Beck Depression Inventory, Beck, Steer & Brown, 1996) amplamente utilizado na
autodescrio de sintomas depressivos em adultos. O CDI compreende sintomas ligados
caracterizao da depresso nas reas da cognio, afecto e comportamento: tristeza,
pessimismo, sentimentos de insucesso, insatisfao, culpa, auto-imagem baixa, suicdio,
indeciso, fatigabilidade, dificuldades escolares, anedonia, problemas de sono e de
alimentao (Kovacs, 2004; Marujo, 1995).
No presente estudo recorreu-se adaptao portuguesa da prova da autoria de Helena
Marujo (1995) aps a devida autorizao da autora. A escala contm 27 itens e pressupe o
preenchimento pela prpria criana ou por figuras relevantes na sua vida como a me, o pai
ou professor(a) atravs da escolha entre quatro opes de resposta por item com valores entre
0 e 3 pontos (total mximo de 81 pontos), sendo que zero corresponde opo que representa
a menor intensidade e frequncia e trs a mais elevada e, portanto, de depresso (e.g., Item 1:
Nunca me sinto triste, s vezes sinto-me triste, Sinto-me quase sempre triste, Sinto-me
sempre triste), tendo como referncia as duas ltimas semanas da criana/adolescente.
Assim, esta adaptao difere da verso original de Kovacs (2004) composta por apenas trs
opes de resposta por item, com valores entre 0 e 2 pontos (total mximo de 54 pontos).
Para a definio de caso deprimido e caso no deprimido frequente utilizar-se
um ponto de corte de 19 nas verses internacionais da prova, incluindo a verso de Kovacs
(2004). Contudo, na adaptao portuguesa optou-se por recorrer ao critrio estatstico
associado mdia (22.06) e desvio-padro (11.68). Assim, constituram-se quatro grupos com
as seguintes caractersticas (Marujo, 1995): Grupo 1 no deprimidos: resultados inferiores
mdia, menos um desvio-padro (valores inferiores a x-s=10.38); Grupo 2: resultados
inferiores mdia, sem se distanciarem dela mais do que um desvio-padro (valores entre
10.38 e 22.05); Grupo 3: resultados superiores mdia, sem se distanciarem dela mais do que
um desvio-padro (valores entre 22.07 e 33.74); Grupo 4 deprimidos: resultados
superiores mdia, mais um desvio-padro (valores superiores a x+s=33.74).
No que concerne s caractersticas psicomtricas do teste, segundo dados obtidos em
diversas investigaes, o teste fivel, obtendo um coeficiente Alfa de Cronbach de 0,86
quanto ao valor de consistncia interna no estudo original. Verifica-se, ainda, a existncia de
24
27
RESULTADOS
1. Sntese do Estudo de Caso 1 Tom (10 anos e 5 meses) e do Estudo de Caso 2
Isabel (7 anos e 3 meses)
de ela comear a choramingar mas eu digo que ela no tem motivos revela o pai e acrescenta
que de manh a me tenta acordar os filhos chamando-os vrias vezes at ficar irritada, mas
estes no obedecem acho que a me cede demais. Com o pai levantam-se logo. A Isabel no
consegue ficar sozinha numa diviso da casa, seguindo sempre a me, mesmo que a me a
tente tranquilizar dizendo-lhe que no viro ladres. Se for algum de quem ela goste a nossa
casa um choro. Porque tem pena que as pessoas se vo embora, confessa o pai.
Em beb o sono da Isabel era agitado, sendo difcil adormecer. No entanto,
adormecia facilmente no meu colo indica o pai. Nunca teve problemas ao nvel do
desenvolvimento psico-motor e lingustico associados prematuridade, comeando a andar e
a falar mais cedo que o irmo e sem dificuldades. Durante as refeies demora, por vezes,
duas horas para comer. Segundo o pai comigo come tudo, com a me mais difcil mas
quando eu repreendo a me tenta arranjar uma desculpa para a defender.
At aos cinco meses a me cuidou da Isabel e o Tom ficou com a av materna. Aps
este perodo ficou aos cuidados da av materna at aos seis anos, no frequentando a creche.
Na entrada para a escola registou uma boa adaptao. A professora refere que um pouco
lenta, embora j saiba ler. bem comportada e d-se bem com os colegas.
Na famlia alargada desconhecem-se casos de doena psiquitrica. Contudo, a me
revela que em pequena era muito tmida, muito reservada, parecida com o Tom. No recreio
no ia ter com os outros meninos. Por seu lado, o pai confessa que sempre fui uma pessoa
com dificuldades na escola e, por esse motivo, aos dez anos foi seguido em psicologia.
Os pais apresentam um aspecto fsico investido e cuidado e estabeleceram um contacto
adequado e expressivo. Revelaram interesse e entusiasmo em partilhar as suas vivncias e em
participar na investigao. Ambos mantiveram contacto ocular, ainda que, tenha observado
um olhar muito triste e vazio na me, o sentimento de culpabilizao, a necessidade de
prolongar as respostas s questes quando pareciam terminadas, verbalizando at ao momento
em que eu formulava uma nova questo, numa tentativa de preencher o espao vazio. A me
pareceu-me uma pessoa mais negativa que o pai, o qual pareceu assumir-se como a figura que
tenta equilibrar as situaes de forma mais positiva.
A figura materna apresenta uma auto-estima baixa ligada a uma vivncia depressiva
com afectos na linha da insegurana, inferioridade e culpabilizao na relao com os outros,
sobretudo, na relao com os filhos devido percepo de disponibilizar pouco tempo para a
famlia em detrimento da vida profissional. Sente-se desvalorizada e insegura em especial na
relao com os elementos exteriores famlia biolgica. Assim, parece ainda muito
dependente e pouco autonomizada do espao relacional com a sua figura materna e da prpria
famlia de origem. Utiliza como principais defesas a idealizao e a negao, permitindo-lhe
31
sentindo a me como uma pessoa pouco tolerante, insegura e com irritabilidade emocional,
transmitindo pouco afecto e erotizao relao. Exprime o desejo de a proteger.
Quanto relao me/Tom a figura materna percepciona esta relao de forma
dependente e idealizada, providenciando proteco e cuidado ao Tom, mas tambm sente
que o filho se preocupa com a me. Sente-o inibido na interaco que estabelece com a me.
Na percepo do Tom observa-se a presena de fantasias edipianas numa relao fortemente
idealizada, negando os aspectos negativos e a expresso agressiva, o que dificulta o processo
de separao emocional da figura materna pelo elevado grau de dependncia que mantm.
Sente que a me centra a sua ateno nele, seguindo-se a irm e, por ltimo, surge o pai com
pouca indulgncia materna. Revela o desejo de autonomizao desta figura. Na prova PN
sobressai a vivncia de desproteco, carncia e a funo de apoio representada de forma
precria, necessitando a prpria me de um auxiliador na sua funo materna e de conteno.
A interaco pai/Tom percepcionada pelo pai de forma idealizada e correspondida.
Sente que o filho pouco tolerante frustrao, achando-o deprimido e passivo. Para os
pais o Tom percepciona o pai como uma figura punitiva temendo a repreenso dos seus
erros. Na percepo do Tom destaca-se uma forte idealizao da relao, demonstrando o
desejo de aproximao e ateno do pai. Surge uma dependncia emocional do Tom face ao
pai que no supera a relao dependente que mantm com a me. Contudo, sente o pai como
uma personagem com pouca pacincia e agressivo.
A relao me/Isabel caracterizada pela figura materna como dependente e
idealizada, ainda que desperte afectos agressivos na me, sentindo-se irritada face s condutas
da filha. Os pais sentem a necessidade da Isabel agradar me: est sempre a dizer que gosta
muito da me. Quer ajud-la. A me sente-se culpada pela percepo de projectar na filha os
seus prprios medos internos, no conseguindo representar um modelo de conteno e
segurana para a filha. Na percepo da Isabel sobressai o desejo de agradar me, a procura
da sua proteco e indulgncia e, ainda, uma forte idealizao e dependncia emocional com
esta figura, o que dificulta o processo de separao. Ainda assim, a Isabel percepciona alguns
afectos negativos recebidos pela me (no TRF). A me sentida como uma figura chateada,
triste, aleijada e relativamente dependente, centrando apenas a sua ateno nos filhos.
A relao pai/Isabel idealizada e correspondida por parte da figura paterna. Sente
que a filha estabelece consigo um contacto fcil e sedutor, mas tambm que muito reservada
e receosa face atitude firme do estilo parental do pai. Segundo os pais a Isabel estabelece
apenas com o pai um discurso imaturo para a idade, ainda que, o pai a repreenda. Por parte da
Isabel esta relao pouco valorizada projectando sentimentos de insegurana e desproteco
33
na relao com a figura paterna. Ainda assim, na prova PN o imago paterno associado
funo de alimentar e ao nascimento, realizando uma inverso dos papis parentais.
A relao fraterna percepcionada pelos pais atravs de uma relao prxima, ainda
que, marcada pela rivalidade fraterna onde a me faz uma identificao projectiva com a
relao que mantinha com o seu irmo (tio materno do Tom e Isabel). Sentem que o Tom
mais dependente da proteco materna e tende a proteger a irm enquanto a Isabel menos
dependente, defendendo-se sozinha e sendo mais astuta. Para o Tom a relao com a irm
marcada por sentimentos de inferioridade face a esta figura e pela rivalidade fraterna
transmitindo o desejo de obter a ateno/proteco exclusiva dos pais, sobretudo da me. Na
percepo da Isabel destaca-se a vivncia de rivalidade fraterna, sentindo-se tambm
protegida pelo irmo (pode remeter para a defesa pela formao reactiva no Tom).
Quanto relao do Tom com outros familiares os pais focam-se na interaco com o
av materno marcada por uma atitude submissa e passiva por parte do av e uma conduta de
provocao e desafio da autoridade do av no Tom.
Na relao da Isabel com outros familiares ou adultos sobressai a percepo parental
de um contacto fcil, sedutor, a necessidade de agradar e uma forte angstia de separao
mesmo de adultos com os quais no tem contacto frequente: agarra-se muito s colegas da
me, mesmo no as conhecendo, elas estranham. A Isabel percepciona o av materno como
uma figura autoritria e punitiva.
A relao com a famlia de origem da me percepcionada por esta de forma
idealizada, transmitindo pouco autonomia emocional sobretudo em relao av materna
com a qual mantm uma relao excessivamente prxima e dependente, sendo a mais
satisfatoriamente correspondida a minha me a minha melhor amiga. Ao av materno so
associadas caractersticas dependentes dos cuidados da me, podendo representar uma forma
de desvalorizao desta figura. A relao com o tio materno associa-se rivalidade fraterna e
carncia de apoio e desvalorizao por parte desta figura face me. A me sente-se
desvalorizada na relao com a tia materna. Ambos os pais consideram que a av materna
permissiva para o Tom e a Isabel, estimulando pouco a autonomia dos netos.
Na relao com a famlia de origem paterna a me sente-se pouco valorizada
sobretudo na relao com a tia paterna atribuindo-lhe sentimentos de incompetncia e
fraqueza e com a av paterna, da qual apenas recebe afectos agressivos, no se sentido aceite.
O pai projecta uma elevada dependncia emocional face av paterna, remetendo para
dificuldades no precesso de autonomizao desta figura. Expressa, ainda, o desejo de a
proteger. Contudo, a av paterna percepcionada de forma rgida, autoritria,
emocionalmente independente, exigindo receber mais afecto do que aquele que disponibiliza
34
famlia. Na relao com o tio paterno apresenta um elevado grau de envolvimento afectivo,
dependendo muito desta figura. Todavia, sente-se desvalorizado. A relao com a tia paterna
(esposa do irmo) e com os primos gmeos (sobrinhos do pai) idealizada e pouco
correspondida.
Posto isto, numa famlia onde as figuras parentais demonstram uma relao
emocionalmente dependente e uma fraca autonomizao das famlias de origem, sobretudo a
me na relao que estabelece com a av materna, sobressai uma figura materna
aparentemente deprimida e permissiva e uma figura paterna que assume uma funo parental
mais firme e contentora. Os dois abortos espontneos da me e a prematuridade da Isabel
podem associar-se vivncia depressiva materna. Assim, na presena da me (e da av
materna) os filhos tendem a manifestar uma conduta mais imatura marcada pelas dificuldades
de separao, no observada na relao com o pai. O Tom e a Isabel parecem ter introjectado
a depresso materna atravs da interaco precoce com esta figura experienciando
dificuldades de separao e autonomizao do espao materno face falha de
confirmao/valorizao narcsica, receando a perda do amor do objecto. Ainda assim, ambos
os pais parecem sentir-se culpabilizados pelo forte envolvimento no mundo laboral e pela
projeco nos filhos das suas prprias dificuldades: no caso do pai, relacionadas com o fraco
desempenho escolar e, no caso da me, associadas aos prprios medos e ansiedade, inibio e
isolamento social na infncia e conscincia da precariedade da funo continente. A forte
rivalidade fraterna e o sentimento de inferioridade face irm no Tom podem ligar-se ao
sentimento de abandono experienciado durante a situao de prematuridade da Isabel e a
projeco da distino forte/fraco pelos pais, onde o Tom representa a parte fraca, passiva,
sem recursos para se defender e a irm o lado mais forte, capaz de se defender (provavelmente
tambm foi mais apoiada e protegida pelos pais devido prematuridade).
Aparentemente o Tom no ultrapassou o conflito edipiano pois ainda que expresse o
desejo de separao da figura materna regista-se uma relao dependente, idealizada e pouco
frustrante com esta figura marcada por uma vivncia carencial, desprotegida e de precariedade
dos suportes com culpabilidade onde a agressividade dirigida a si, remetendo para a falha
narcsica e angstia depressiva, dificultando o processo de separao/individuao. Esta
dificuldade de crescer encontra-se tambm implcita no sintoma de encoprese que simboliza a
problemtica de guardar e reter o imago materno e simultaneamente agredi-lo e autonomizarse. Posto isto, o Tom parece apresentar um ncleo depressivo primrio (anal) (Ferreira,
2002), o que contraria os resultados obtidos no CDI que indicam um nvel intermdio de
depresso e, portanto, no classificado no grupo de sujeitos deprimidos e no grupo de sujeitos
no deprimidos (pode explicar-se pela aco dos mecanismos de defesa durante o teste).
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narcsica no atingi o que o meu pai quis. Actualmente os avs paternos encontram-se em
processo de divrcio e o pai no est a lidar bem com esse facto.
Posto isto, na famlia assiste-se a uma relao prxima com uma figura materna flica,
dominante que contrasta com uma figura paterna passiva com afectos que transmitem a
vivncia de um sofrimento depressivo. Ambos os pais revelam uma fraca autonomizao
emocional das suas figuras parentais, transferindo para a relao com o Joo os modelos de
identificao interiorizados na relao com estas figuras assentes em relaes pouco
afectuosas, autoritrias, punitivas e inseguras, projectando, assim, as suas prprias falhas
narcsicas e a vivncia de culpa na relao com o Joo. Assim, verifica-se um forte
envolvimento parental nas questes de ordem racional valorizando a carreira profissional e as
competncias acadmicas do Joo em detrimento dos afectos, repercutindo-se no
empobrecimento da relao conjugal e na relao pais-filho. A ausncia de valorizao
narcsica do Joo por ambos os pais experienciada inconscientemente como uma falha, uma
castrao no lhe permitindo autonomizar-se emocionalmente da relao com o materno, com
risco de perda do amor do objecto. Este facto aliado identificao com um pai
aparentemente deprimido e tambm castrado pode reenviar para a angstia depressiva no
Joo. Torna-se importante mencionar a distino fraco/forte entre o Joo e a irm projectada
pelos pais, onde o Joo figura como o elemento fraco, inseguro, sem recursos internos para se
defender e a irm o elemento forte e seguro resultando na acentuada vivncia de rivalidade
fraterna e inferioridade no Joo.
Aparentemente o conflito edipiano no se encontra completamente ultrapassado no
Joo. Apesar de realizar uma diferenciao adequada dos sexos, papis parentais e geraes, a
integrao do Superego e demonstrar uma identificao figura paterna e, por vezes,
projectar o desejo de autonomizao da figura materna atravs da agressividade que lhe
dirigida, rivaliza com o pai e demonstra dificuldades na elaborao dos sentimentos de
solido face excluso do casal parental. Este facto aliado ausncia de valorizao narcsica
por ambos os pais e identificao figura paterna deprimida resulta num vivido de castrao e
falhas identitrias onde sobressai o sofrimento depressivo marcado pela angstia de perda do
amor do objecto, de desamparo, afectos ligados morte, baixa auto-estima, insegurana, falha
narcsica acentuada, culpabilidade atravs da introjeco da agressividade e dificuldades de
mentalizao (instabilidade psicomotora, somatizaes). Neste contexto, parece afigurar-se
uma depresso flica (Ferreira, 2002), o que contrasta com o resultado obtido no CDI que
associa o Joo ao nvel intermdio de depresso, no passvel de classificao como caso
depressivo e caso no depressivo, o que pode remeter para a aco de mecanismos
defensivos durante o teste.
41
so como um pndulo. Interrompe os colegas que tem volta. Durante as explicaes parece
no ouvir () comete erros nos exerccios por falta de ateno () no consegue acabar as
coisas que comea, o seu trabalho escolar fraco, sujo e confuso. Considera que a
dificuldade em realizar as actividades escolares da Mariana no se deve falta de capacidades
mas sim, de concentrao e ateno no consegue concentrar-se ou estar atenta durante
muito tempo, parece desorientada, desmotivada. Por alterao de residncia a Mariana
ingressou noutra escola no 3 Ano mantendo a conduta distrada e irrequieta, sendo retirada
das actividades extra-curriculares para ter mais tempo para estudar, passando a ficar com a
me todas as tardes a insistir para que faa os trabalhos-de-casa. No entanto, a me refere que
no ano passado era pior porque a professora escrevia muitos recados na caderneta e a
Mariana ficava muito triste e nervosa com isso. No 4 Ano a Mariana mantm as
dificuldades de aprendizagem devido falta de concentrao/ateno e uma auto-confiana
baixa, levando-a a no participar nas aulas, mesmo quando solicitada, refere a professora.
A gravidez da Mariana foi planeada. Nasceu de parto eutcico, a termo, sem
complicaes peri ou neonatais. A me recorda-a como uma beb muito amorosa e nada
rabugenta, no chorava muito. Em beb dormia bem, contudo actualmente, tem um sono
muito agitado e fala durante o sono. Adormece sem dificuldades e acorda bem-disposta.
Comeou a dormir sozinha aos dois anos. No se registaram intercorrncias no
desenvolvimento psicomotor, lingustico e no controlo esfincteriano. Quando deixou de ser
amamentada e iniciou a diversificao alimentar comeou a demonstrar pouco apetite come
de tudo mas faz grandes birras mesa, fica duas horas sentada a comer. Na escola chegam a
ter de lhe dar a comida boca para ela se despachar, indica a me. A Mariana ficou com a
me at aos trs meses de idade, sendo entregue aos cuidados de uma ama at ingressar na
creche aos trs anos e posteriormente na pr-primria, havendo sempre relatos de que era uma
criana muito mexida embora no mal-educada nem agressiva, sempre foi muito meiga.
A me apresenta um aspecto fsico envelhecido para a sua idade, a face encontra-se
um pouco estragada. Colaborou com interesse no estudo. Estabeleceu contacto ocular,
evidenciando-se um olhar triste e uma expresso abatida e cansada. Tambm no pai a face
encontra-se um pouco envelhecida para a idade. Inicialmente estabeleceu um contacto mais
reservado, tornando-se mais descontrado no decorrer da sesso. Mantm contacto ocular.
A auto-estima da figura materna apresenta-se baixa e dominada por sentimentos de
inferioridade, culpabilizao e irritabilidade. Sente dificuldades na resoluo dos conflitos e
surge como um dos elementos mais dependentes e que carece de maior proteco. Observa-se
um grau elevado de neuroticismo marcado pela negao dos afectos negativos, inibindo,
assim, a expresso agressiva sobre os elementos da famlia mas, tambm, dos afectos
43
o materno. Esta vivncia associa-se a uma falha narcsica acentuada e angstia depressiva.
A me , ainda, sentida como uma figura dependente com quem rivaliza pela ateno do pai.
O pai idealiza a relao pai/Mariana e percepciona uma atitude sedutora e de
rivalidade pela sua ateno na filha: ela no pode ver o pai a agarrar-se a ningum.
Seguindo-se me, a Mariana sentida como uma figura emocionalmente dependente,
carecendo de proteco. Para a Mariana a relao com o pai idealizada e dominada por
afectos erotizados. O pai a figura que assegura a funo de apoio e proteco, todavia, no
proporciona a conteno necessria para que as angstias da Mariana sejam ultrapassadas.
Sente a relao menos valorizada por parte do pai, percepcionando-o como uma figura
punitiva e pouco disponvel, considerando o seu desejo de ateno.
A me percepciona a relao me/irmo de forma idealizada, prxima e carinhosa.
Todavia, sente a relao menos valorizada por parte do irmo. A me sente-se culpabilizada e
associa ao irmo dificuldades na adaptao social e na gesto dos conflitos com os outros
caracterizando-o, ainda, como preguioso. A relao pai/irmo idealizada pelo pai
semelhana do observado na interaco com as restantes figuras. Surge como um dos
elementos mais dependentes e que necessita de maior proteco.
A relao fraterna percepcionada pelos pais de forma afectiva contudo, marcada pela
rivalidade fraterna por parte da Mariana. Na percepo da Mariana destaca-se uma forte
rivalidade fraterna intensificada pela vivncia carencial na relao com o materno e pelo
desejo de uma aproximao exclusiva a esta figura.
A relao da Mariana com outros familiares ou adultos percepcionada pelos pais
atravs de uma conduta carente e marcada pela necessidade de agradar e de ateno constante.
Por seu lado, a Mariana tende a idealizar as relaes destacando-se a tia e av paternas
sentidas como figuras afectuosas embora, tambm punitivas. A av percepcionada, ainda,
como uma figura dependente, com quem a Mariana rivaliza pela ateno do pai.
A relao com a famlia de origem materna, nomeadamente com o av materno
experienciada pela me de forma prxima, carinhosa e correspondida. O av materno
percepcionado como uma figura que mantm uma dependncia emocional face me,
necessitando da sua proteco. Contudo, a me parece sentir-se culpabilizada nesta relao.
Na relao com o tio materno a me sente-se desvalorizada.
A relao com a famlia de origem paterna, designadamente com a av paterna
sentida pela me de forma menos valorizada por parte da av, associando-lhe tendncias
punitivas, ainda que se sinta apoiada por esta figura. Surge como um dos elementos da famlia
mais dependentes e que necessitam de maior proteco. Na percepo da relao do pai com a
av paterna transparece a idealizao, sentido esta figura como punitiva ainda que
45
emocionalmente dependente do pai. A relao com a tia paterna tambm idealizada, todavia
a menos significativa do ponto de vista do envolvimento emocional, associando sentimentos
de fraqueza/incompetncia a esta figura.
Posto isto, sobressai na famlia a problemtica da depresso materna que tende a
afectar a qualidade das relaes familiares, com nfase na relao conjugal e na relao
me/Mariana. Assim, numa fase precoce do desenvolvimento a Mariana parece ter-se
identificado depresso da me atravs da falha de confirmao narcsica primria que a
fizesse sentir valorizada na experincia de individuao e autonomia, pelo risco de perda do
amor do objecto organizando, deste modo, o falso-self manifesto atravs da avidez relacional,
contacto fcil e sedutor e pela necessidade marcada de agradar, como tentativa de colmatar a
falha narcsica. A me realiza, ainda, uma distino importante entre a Mariana e o irmo,
projectando a parte boa no irmo e a parte maligna na Mariana, o que permite acentuar o
sentimento de insegurana, culpa, carncia, abandono e rivalidade fraterna na Mariana. Ainda
que o pai surja como a figura que assegura a funo de apoio e proteco no proporciona a
conteno necessria para que as angstias da Mariana sejam ultrapassadas. Outros factores
como as sucessivas ausncias do pai por motivos de trabalho resultando num menor apoio
famlia e, em concreto, me da Mariana e no assegurar da sua funo parental, o falecimento
da av e tia maternas da Mariana e as dificuldades econmicas ligadas ao desemprego do pai
contribuem para acentuar o sofrimento depressivo na me e na Mariana.
Verifica-se uma forte angstia depressiva na Mariana marcada pela carncia afectiva e
falha narcsica acentuadas, sentimento de desvalorizao, insegurana, excluso, abandono e
desproteco na relao com as figuras parentais, sobretudo na relao com a figura materna
onde se observam aspectos fbicos e agressivos num contexto regressivo, acompanhado de
culpabilidade pelo retorno da agressividade/punio sobre si. Quanto ao conflito edipiano,
ainda que, expresse o desejo de autonomizao a Mariana parece encontrar-se, ainda, ao nvel
da relao dual, rivalizando com o pai e demonstrando dificuldades de separao na relao
com o materno pelo desejo de uma aproximao exclusiva a esta figura no renunciando,
assim, relao com o primeiro objecto. A Mariana parece organizar-se segundo o ncleo
depressivo precoce (oral) (Ferreira, 2002). Estes resultados contrastam com o resultado
apurado no CDI que remete para um nvel intermdio de sintomas depressivos, logo, no
passveis de classificar como caso depressivo e caso no depressivo, o que pode ser
explicado pela aco dos mecanismos de defesa.
46
Gosta de chupa-chupas de coca-cola e de gomas, mas algumas coloca-as apenas na boca sem
as engolir. Para a me sempre que insistimos um circo em casa ele chora, berra, grita, nem
sequer prova e o Gabriel acrescenta de imediato no provo porque sei que no bom.
No come na escola porque no gosta da comida. Quando vai a festas de aniversrio
leva o prprio lanche e nas situaes em que janta em casa de amigos fazem-lhe uma comida
especial. Recusa-se a ir para qualquer lado onde saiba que tem que comer fora de casa ou
comida diferente na escola gozam comigo, sou o menino da sopa passada, refere o Gabriel.
A gravidez do Gabriel foi planeada e o parto eutcico, a termo, sem registo de
complicaes peri ou neonatais. Aps o nascimento a me sentiu-se bem mas por volta dos
dois meses senti um aumento de stress e preocupao devido s faltas de ar do Gabriel. A
me recorda o filho como um beb bem-disposto, muito dorminhoco. Segundo a me, o
Gabriel sempre dormiu bem apesar de at aos sete anos adormecer na cama dos pais e s
depois ia para a prpria cama. Ainda hoje, pede ao pai para o colocar na cama com a me
quando se levantar. O desenvolvimento psicomotor e o controlo esfincteriano ocorreram
dentro dos parmetros normais. Ao nvel lingustico substitui as consoantes b por p at
actualidade. O Gabriel ficou ao cuidado da av paterna at ingressar no infantrio aos cinco
anos, registando uma boa adaptao at ao momento em que recusa alimentar-se na escola:
foi um caos, dava-se mal com os colegas, roubavam-lhe o lanche. Sempre foi muito
irrequieto, tem que ficar sentado ao p da professora. muito reguila, mas muito bom
aluno indica a me, acrescentando tambm que o Gabriel apesar de no bater nos colegas
provoca-os, acabando por chegar todo negro a casa. Ele quer tudo maneira dele. Segundo
a me o Gabriel faz birras quando contrariado, respondendo mal muito nervoso. A me
ajuda-o a estudar eu estudo sempre com a minha me, digo que estou cansado mas acabo por
estudar. Eu no consigo estudar sozinho, estudo mal, estou entretido com outras coisas. Ela
acha que melhor eu estudar com ela para no ter ms notas, refere o Gabriel.
A me do Gabriel apresenta um aspecto fsico jovial face sua idade, harmnica,
bonita e aparenta uma atitude descontrada e simptica. Estabelece um contacto adequado e
verbaliza de forma fluente e espontnea. Manteve contacto ocular, apresentando uma postura
muito rica e expressiva. O pai do Gabriel apresenta um aspecto fsico cuidado e adaptado
idade. Estabelece um contacto adequado verbalizando de modo espontneo e fluente,
transmitindo simpatia. Apresenta uma postura rica e expressiva, mantendo contacto ocular.
A auto-estima da figura materna apresenta-se baixa e dominada por sentimentos de
inferioridade, culpabilizao e irritabilidade emocional. Recorre defesa pela negao dos
afectos negativos inibindo, assim, a expresso agressiva sobre os elementos da famlia.
Revela, ainda, uma percepo negativa e insegura sobre a famlia.
48
49
pela figura paterna que simultaneamente percepcionada como punitiva. Ainda assim, o pai
parece constituir-se como uma figura protectora e o modelo de identificao do Gabriel.
Quanto relao me/irmo sentida pela me como fortemente desvalorizada e
insegura atravs da percepo de falta de apoio, uma atitude punitiva e agressiva por parte do
irmo, sendo marcada por conflitos acentuados associados a uma dificuldade na sua gesto
por ambas as partes, com irritabilidade emocional no irmo e dificuldade no controlo dos
impulsos agressivos por parte da me. A relao pai/irmo sentida pelo pai como
correspondida e satisfatria, apesar de sentir que esta figura deveria prestar mais apoio e
proteco famlia.
Na relao fraterna sobressai para os pais a rivalidade. Desvalorizam o irmo,
sentindo-o provocativo e pouco tolerante para o Gabriel. O Gabriel sente-se desvalorizado por
parte do irmo, rivalizando com este face ao desejo de ocupar um lugar prximo e
privilegiado na relao com a figura materna, obtendo a sua proteco exclusiva.
Quanto relao do Gabriel com outros familiares para os pais a av paterna uma
segunda me mantendo uma relao muito prxima, assim como, com o tio paterno de 40
anos. Como os avs maternos no lhe fazem todas as vontades gosta de estar com eles na
quantidade certa.
No mbito da famlia de origem da me sobressai a percepo de uma relao com a
av materna marcada por um forte envolvimento emocional positivo correspondido com
sentimento de dependncia mtua, idealizao da relao e desejo de proteco desta figura.
A relao com o av materno sentida de forma desvalorizada com conflitos associados a
sentimentos de insegurana, falta de apoio e punio dirigidos me, ainda assim, so
percepcionadas dificuldades na gesto destes conflitos e no controlo dos impulsos agressivos
por parte da me. A relao com a tia materna tambm sentida como desvalorizada por parte
desta figura. Observam-se conflitos relativos dificuldade na sua gesto por ambas as partes
manifesta atravs de irritabilidade emocional, dificuldades de adaptao social e uma atitude
punitiva na tia paterna, assim como, dificuldade no controlo dos impulsos agressivos na me,
podendo remeter para rivalidade fraterna.
Na relao com a famlia de origem do pai sobressai a vivncia de uma relao com a
av paterna negativa, insegura e conflituosa, sentindo-se desvalorizado e pouco
apoiado/protegido por esta figura. Com o tio paterno de 40 anos a relao percepcionada de
forma satisfatria. Ainda assim, o pai sente dificuldades na gesto dos conflitos por parte
desta figura e um conflito na relao que pode associar-se rivalidade fraterna.
Posto isto, sobressai uma organizao familiar onde as figuras parentais apresentam
conflitos acentuados na ordem da dependncia e falhas de valorizao narcsica na relao
50
com as suas famlias de origem, culminando nos consumos de droga como um substituto
simblico do objecto de amor perdido. A me surge como uma figura dominadora e flica,
identificando-se ao matriarcado da sua famlia de origem contrastando com uma figura
paterna submetida ao matriarcado familiar demitido-se da sua funo parental, o que aliado ao
deslocamento e tentativa de reparao da relao com o irmo do Gabriel por parte da me
resulta numa relao dependente, idealizada e pouco frustrante com o Gabriel, no o
valorizando narcisicamente. Assim, o Gabriel experiencia a separao do imago materno
como uma possibilidade de perda do amor do objecto, permanecendo dependente do poder
flico materno. A clivagem entre um filho bom associado ao Gabriel e um filho problemtico
ligado ao irmo permite acentuar a forte relao de dependncia na relao me/Gabriel.
Apesar de o Gabriel manifestar o desejo de autonomizao da figura materna,
sobressai a representao do desejo de uma aproximao exclusiva a esta figura e a rivalidade
face figura paterna, o que permite auferir dificuldades na resoluo do conflito edipiano e no
processo de separao/individuao. A instncia superegica parece integrada e a
agressividade projectada , em seguida, recalcada de forma a controlar a sua expresso,
desencadeando tambm culpabilidade pelo retorno da agressividade sobre si. Observa-se uma
falha narcsica marcada, uma vivncia carencial e desprotegida, de abandono e solido face ao
confronto com a angstia de separao e depressiva recorrendo s defesas antidepressivas na
linha da recusa manaca haver sol (PN) para lidar com este conflito. Deste modo, parece
afigurar-se uma depresso primria (anal) (Ferreira, 2002) contrariando os resultados obtidos
no CDI que situavam o Gabriel no grupo intermdio de sintomas depressivos e, assim, no
enquadrado como caso deprimido e caso no deprimido. Coloca-se em hiptese a
interferncia de mecanismos de defesa como a negao durante a realizao deste
instrumento.
51
DISCUSSO
Dufour, 2002; Santos, 2000; Strecht, 1998, 2001; Vogel, 2012) os sintomas que conduzem
estas crianas consulta de psicologia/pedopsiquiatria so variados: ansiedade, medos, baixa
auto-estima, somatizaes (cefaleias), dificuldades alimentares (anorexia selectiva),
dificuldades de concentrao, hiperactividade, dificuldades escolares, destacando-se as
dificuldades de aprendizagem/escolares como a queixa mais frequentemente assinalada, o que
pode estar associado falha na capacidade precedente de interiorizar bons objectos capazes
de amar e proteger (Strecht, 1998, p. 199). Na Unidade de Pedopsiquiatria todos os casos
beneficiam de consultas teraputicas com os pais e de consultas teraputicas com as crianas,
em dois casos (Tom e Isabel) de frequncia semanal e, em trs casos (Joo, Mariana e
Gabriel) de frequncia quinzenal. O perodo de acompanhamento das crianas varia entre os
dois meses e os oito meses e meio. A prescrio de psicotrpicos regista-se apenas em dois
casos, o Joo e a Mariana, tratando-se das crianas que tendem a manifestar uma conduta
mais agida e marcada por uma expresso acentuada de afectos na linha depressiva.
No que concerne ao agregado familiar todos os progenitores so casados, encontrandose apenas uma famlia reconstruda com descendncia de uma relao anterior, sendo que as
restantes famlias so de tipo nuclear e todas as crianas tm apenas um(a) irmo/irm. Dois
casos, o Tom e a Isabel so irmos, perfazendo uma famlia nuclear completa em estudo. A
idade das mes varia entre os 37 e os 39 anos e a dos pais entre 38 e 46 anos. No caso dos
irmos/irms a idade varia entre os 5 e os 18 anos de idade. Relativamente classe social
segundo a Classificao Social Internacional de Graffard (Gomes Pedro, 1985) observa-se a
predominncia da Classe III (Mdia), seguindo-se a Classe I (Alta) e a Classe IV (Mdia
Baixa), com um caso cada. A nica figura parental (paterna) que se encontra desempregada
pertence a esta ltima classe social. Na anlise da anamnese das famlias sobressai a hiptese
de organizao depressiva em trs figuras parentais: nas mes do Tom/Isabel e Mariana e no
pai do Joo; e, ainda, um forte investimento na vida profissional, com ausncias frequentes
nestes mesmos casos. Verifica-se tambm a ocorrncia de perdas por falecimento importantes
para a famlia com destaque para os avs paternos/maternos e uma tia materna por suicdio
(caso da Mariana). H, ainda, a assinalar outros dados como a possibilidade da presena de
patologias psiquitricas na famlia para alm de depresso nas figuras parentais (anorexia
nervosa e dislexia maternas, dificuldades escolares paternas, depresso numa tia paterna), dois
abortos espontneos e a prematuridade de uma criana includa no estudo (Isabel), extoxicodependncia nos pais do Gabriel e Hepatite C na me desta criana.
No mbito da auto-estima materna sobressaem duas tendncias distintas: as mes com
hiptese de organizao depressiva apresentam uma auto-estima baixa, insegura, marcada por
sentimentos de inferioridade, desvalorizao, culpabilizao, irritabilidade emocional, forte
53
irritabilidade,
culpabilizao,
dependncia,
carncia
de
proteco,
Para
pai
do
Joo
filho
identifica-se
consigo
no
sentimento
de
revela o desejo de autonomizao e a Isabel exprime o desejo de agradar me, tal como,
observado pelos pais.
semelhana da percepo das figuras paternas, o Joo e o Gabriel sentem-se pouco
valorizados e correspondidos por parte dos pais face aos seus desejos e a Mariana projecta
afectos erotizados na relao com o pai. O Tom tambm manifesta o desejo de aproximao
e ateno por parte do pai. Os pais tendem a assegurar uma funo importante de apoio e
proteco a estas crianas, todavia, observam-se sentimentos de insegurana associados
percepo destes pais como figuras punitivas e pouco disponveis.
Quanto relao fraterna sobressai a rivalidade intensificada face vivncia carencial
na relao com o materno e pelo desejo de obter a ateno/proteco exclusiva dos pais,
sobretudo da figura materna. Ainda que a Isabel se sinta protegida pelo Tom, este
experiencia sentimentos de inferioridade face irm, semelhana do Joo que tambm
percepciona uma relao prxima e afectiva com a irm, o que pode remeter para uma defesa
pela formao reactiva no Tom e no Joo. Por outro lado, o Gabriel sente-se desvalorizado
pelo irmo. Estes dados correspondem aos observados pelos pais. Aparentemente os meninos
atribuem uma menor relevncia relao com outros elementos da famlia visto que apenas as
meninas se referiram relao com estas figuras. Assim, a Isabel percepciona o av materno
como uma figura punitiva e autoritria, paralelamente, a Mariana atribui estas caractersticas
av e tia paternas, ainda que, tambm as sinta como afectuosas. Na percepo dos pais
importa destacar o contacto fcil, sedutor, marcado pela necessidade de agradar e forte
angstia de separao na Isabel semelhana dos pais da Mariana que observam uma conduta
carente, a necessidade de agradar e de ateno constante na relao da filha com outras
figuras significantes.
Posto isto, nestas famlias sobressai uma relao emocionalmente dependente e uma
fraca autonomizao das famlias de origem por parte das figuras parentais, sobretudo na
relao que estabelecem com as suas figuras maternas transferindo para a relao com os
filhos os modelos de identificao interiorizados na relao com estas figuras, projectando,
assim, as suas prprias falhas narcsicas. Gera-se o sentimento de culpa tambm aliado ao
forte investimento no mundo laboral observado nos casos do Tom, Isabel e Joo, o que
resulta num empobrecimento das interaces familiares. Outros factores como o falecimento
de figuras significativas aos elementos da famlia e as dificuldades econmicas ligadas ao
desemprego de um dos progenitores (pai da Mariana) parecem acentuar as problemticas no
sistema familiar e contribuir, assim, para o agravamento da depresso infantil, tal como
sugerem Carvalho et al. (2006), Ferreira (2002), Gueniche (2005), Marcelli (2005) e Schwartz
et al. (1998). Como referido anteriormente, em duas famlias (Tom/Isabel e Mariana)
57
CONCLUSO
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Strecht, P. (2001). Interiores. Uma ajuda aos pais sobre a vida emocional dos filhos. Lisboa:
Assrio & Alvim.
Yin, R. K. (1984). Case study research: design and methods. Beverly Hills, CA: Sage.
70
ANEXOS
71
Exmo. Senhor,
73
PROJECTO DE INVESTIGAO
Instituto Superior de Psicologia Aplicada
Mestrado Integrado em Psicologia rea de Psicologia Clnica
INTRODUO
74
Depresso na Criana
Actualmente a depresso na Criana vista como uma realidade, todavia, s a partir
da segunda metade do sculo XX obteve o devido reconhecimento (Cmara, 2005). Cmara
(2005) caracteriza a depresso na criana como um estado resultante de uma decepo
precoce na relao primria, originando sucessivas decepes posteriores. O vazio criado na
criana remete-a para a procura da aconflitualidade, da regresso. Cmara (2005) indica ainda
que uma criana em sofrimento, que vive em constante conflito interno e na busca
incessante de confirmao e valorizao narcsica. No se sente amada pelo que e as suas
aspiraes so sentidas como inteis ou reprovveis porque no reforadas positivamente (p.
75
Relaes Familiares
Quanto ao contexto familiar para Schaffer (1996) a famlia o primeiro e o mais
importante contexto para o crescimento fsico e psicolgico (p. 204). O processo de
socializao ocorre primeiramente no mbito das famlias e visa adaptar a criana s
caractersticas da sociedade em que est inserida. Como sistema, a famlia organiza-se como
um todo, assim, no se pode tentar compreend-la pelo somatrio das suas partes. A famlia
integra subsistemas inter-relacionados e governados por regras definidas: os membros
familiares e as interaces que estabelecem entre si, gerando-se um padro de influncia
circular onde as mudanas que ocorrem numa parte da famlia repercutem-se nas restantes.
Como sistema aberto, a famlia est sujeita continuidade e mudana (Schaffer, 1996).
Eley (2007) obteve resultados semelhantes aos observados no estudo anterior, ao verificar
uma associao entre a depresso materna, estilo cognitivo negativo da criana e a ocorrncia
de sintomas depressivos na infncia, agravados face a eventos de vida negativos. Num estudo
longitudinal ODonnell, Moreau, Cardemil e Pollastri (2010) observaram que os estilos
parental e cognitivo actuam como moderadores na relao entre o conflito inter-parental e a
depresso na infncia. Por fim, Mezulis, Hyde e Abramson (2006) atravs de um estudo
longitudinal obtiveram uma correlao entre o temperamento negativo da criana, eventos de
vida negativos e vulnerabilidade para a depresso, atravs do estilo cognitivo, agravado pelos
comportamentos maternos de feedback negativo face criana e expresso de zanga.
Problema
Tal como referem Jewell e Beyers (2008) facilmente se compreende que os efeitos da
interaco de variveis do ambiente familiar para distinguir e prever psicopatologia na
infncia so complexos e exigem maior ateno (p. 88). Assim, o presente estudo prope-se
estudar esta temtica que tem sido menos abordada na literatura comparativamente com a
depresso na adolescncia e adultcia; no se observam estudos significativos que procurem
conhecer o funcionamento familiar da populao que este estudo se prope estudar e, mais
raramente, de forma abrangente e integrada, isto , articulando numa mesma investigao os
sentimentos e emoes familiares, tipo de alianas, coeso, vinculao, entre outros
fenmenos familiares; o tipo de abordagem utilizada para compreender e analisar o fenmeno
em causa inovador, usando simultaneamente o Modelo Bio-ecolgico do Desenvolvimento
Humano (Bronfenbrenner & Morris, 2006) e a teoria psicanaltica; inova tambm na temtica
que se prope estudar face ao contexto scio-cultural em que se insere, Portugal; o tipo de
metodologia utilizada destaca-se da restante literatura por no se encontrarem estudos de tipo
qualitativo, incluindo o mtodo de Estudo de Caso e raramente se utiliza o instrumento Teste
de Relaes Familiares, Verso Crianas (Bene, 1985) combinado com a prova Teste de
Relaes Familiares, Verso Casais (Bene, 1976).
Objectivos
O objectivo principal do presente estudo identificar e descrever as percepes das
relaes familiares em crianas com funcionamento depressivo e nos respectivos pais.
Em cada famlia, comparam-se as percepes familiares da criana, da me e do pai,
de modo a analisar as semelhanas e as diferenas existentes.
77
Por fim, elabora-se uma comparao geral dos resultados obtidos em cada uma das
famlias com os das restantes famlias, de forma a aceder a uma leitura compreensiva das
percepes familiares presentes nas famlias de crianas com funcionamento depressivo.
Ao caracterizar as relaes familiares de crianas com organizao depressiva,
segundo as percepes da criana, da me e do pai numa perspectiva psicodinmica e bioecolgica, espera-se contribuir para o conhecimento dos factores familiares implicados na
depresso da infncia, permitindo, deste modo, o desenvolvimento de resultados em dois
nveis distintos, ainda que, complementares prtica clnica: a preveno e a interveno. No
que concerne ao contributo desta investigao para a preveno dos casos de depresso na
infncia, pretende-se enriquecer os conhecimentos dos tcnicos que interagem frequentemente
com crianas e/ou famlias face a determinados padres de relacionamento ou interaco
familiar susceptveis ao desenvolvimento deste tipo de funcionamento psicolgico, de modo a
que se possa intervir atempadamente, apoiando as famlias nas dificuldades encontradas. Ao
nvel da interveno espera-se contribuir para o desenvolvimento de uma interveno
psicoteraputica (individual e/ou familiar) mais centrada e atenta s necessidades especficas
das crianas com depresso e das suas prprias famlias, nomeadamente das figuras parentais.
MTODO
Delineamento
De modo a responder questo de investigao quais as percepes das relaes
familiares em crianas com diagnstico de depresso e respectivas figuras parentais? Optouse pela utilizao do mtodo de Estudo de Caso mltiplo, exploratrio, com metodologia
qualitativa por se colocar a questo o qu? sem que sejam delineadas a priori uma teoria e
hipteses precisas, visto que o objectivo principal desenvolver hipteses que possam ser
testadas em pesquisas confirmatrias. Esta metodologia aborda fenmenos contemporneos a
partir do seu contexto real, onde as variveis so dificilmente manipulveis pelo
experimentador (Yin, 1984). Assim, os Estudos de Caso so generalizveis a proposies
tericas e no a populaes ou universos (Yin, 1984, p. 21), ou seja, pressupe-se a
generalizao analtica com vista a corroborar, fortalecer ou refutar uma teoria e no a
generalizao estatstica. Perante a utilizao de mltiplas fontes de evidncia e a
representao dos fenmenos atravs da perspectiva do prprio sujeito, este mtodo permite,
ainda, descries e anlises mais intensivas dos fenmenos (Shaughnessy, Zechmeister &
Zechmeister, 2006; Stark & Torrance, 2005).
78
Participantes
Esta investigao constituda por cinco crianas identificadas com funcionamento
depressivo pelos psiclogos da Unidade de Pedopsiquiatria (Servio de Pediatria) do Hospital
e os respectivos pais. Pretendem-se crianas do sexo feminino e masculino. Estas crianas
devem frequentar a escola primria e encontrar-se no perodo de Latncia, com idades
compreendidas entre os 7 e os 10 anos.
Procedimento
Inicialmente ser enviado o consentimento informado ao Presidente do Conselho de
Administrao do Hospital e Direco do Servio de Pediatria deste hospital.
Em seguida, sero identificadas cinco crianas avaliadas e diagnosticadas com um
funcionamento depressivo pelos tcnicos (Psiclogos) da Unidade de Pedopsiquiatria
(Servio de Pediatria) do Hospital.
A recolha dos dados ter incio atravs de uma sesso com ambos os pais, previamente
marcada para a mesma hora em que a criana ter consulta de Pedopsiquiatria/Psicologia.
Num primeiro momento ser apresentado o consentimento informado aos pais, no qual se
explicar sumariamente o mbito da investigao, o nmero de encontros necessrios
recolha dos dados e os cuidados ticos implicados (e.g., carcter voluntrio de participao,
confidencialidade, proteco dos dados). Apenas as crianas que obtiverem o devido
consentimento por escrito dos pais participaro nesta investigao. Em seguida, ser realizada
uma entrevista semi-directiva aos pais com o objectivo de recolher os dados necessrios
elaborao da anamnese da criana, genograma familiar e, ainda, para a classificao social
internacional de Graffard (durao relativa de 40 minutos). Com apenas um dos pais presente
na sala, realizar-se- a passagem da prova Teste de Relaes Familiares, Verso Casais
(Bene, 1976).
Aps a consulta de Pedopsiquiatria/Psicologia da criana ser realizada a primeira
sesso apenas com a criana. Esta sesso iniciar-se- com uma entrevista semi-directiva
(durao aproximada de 30 minutos) com o intuito de recolher informaes associadas
histria e percepo familiar da criana como, tambm, permitir que esta se expresse de forma
espontnea, favorecendo, assim, a criao de uma relao de aliana com a observadora, de
modo a facilitar a passagem das provas projectivas que se seguem. Assim, sero
administrados os testes Desenho Livre e Desenho da Figura Humana (Machover, 1978).
Na sesso seguinte ser aplicada a prova Teste de Relaes Familiares, Verso Casais
(Bene, 1976) figura parental que no realizou esta prova, enquanto a criana se encontra na
79
Instrumentos
Desenho Livre
80
criana para descrever o que desenhou (e.g., quem so as pessoas que desenhou e o que esto
a fazer) e contar uma histria alusiva ao desenho.
Deste modo, a partir da instruo Desenha uma famlia inventada por ti a criana
convidada a criar e a projectar livremente as suas tendncias inconscientes e conscientes,
revelando os sentimentos experienciados perante os elementos da sua famlia. Trata-se, pois,
de uma prova de personalidade onde so projectados os conflitos, afectos, sentimentos,
desejos, medos e identificaes da criana.
Aps a realizao do desenho so colocadas algumas questes criana como a
atribuio de um nome, idade e papel ocupado na famlia por cada personagem desenhada, a
81
descrio do que se encontram a fazer e, ainda, a histria sobre a famlia desenhada. Segue-se
um inqurito denominado por Corman (2003) como mtodo das Preferncias-Identificaes,
no qual so questionadas as preferncias ou averses associadas s personagens representadas
e ao prprio desenho na sua globalidade (e.g., Quem o mais simptico? Porqu?; Quem o
menos simptico? Porqu?; Quem o mais feliz? Porqu?; Quem o menos feliz? Porqu?;
Quem manda mais? Porqu?; Quem manda menos? Porqu?; Se tivesses que escolher uma
pessoa desta famlia, quem que preferias ser? Porqu?; Se fossem todos dar um passeio de
carro mas no houvesse lugar para uma pessoa, quem ficaria em casa? Porqu?; Se algum
no se tivesse comportado bem quem seria? Que castigo teria? quem que o dava?; Se
pudesses mudar alguma coisa no teu desenho o que que mudarias? Porqu?).
Este instrumento da autoria de Kovacs (2004) uma escala que pretende avaliar os
sintomas de depresso em crianas e adolescentes, dos 7 aos 15 anos de idade. Na presente
investigao recorre-se adaptao portuguesa da prova da autoria de Helena Marujo (1995).
Assim, a escala contm 27 itens e pressupe o preenchimento pela prpria criana ou por
figuras relevantes na sua vida como o caso da me, pai, professor(a) e outros educadores ou
cuidadores, atravs do tipo de resposta de 0 a 3 pontos (e.g., Item 1: Nunca me sinto triste,
s vezes sinto-me triste, Sinto-me quase sempre triste, Sinto-me sempre triste) tendo como
referncia as duas ltimas semanas da criana/adolescente.
No que concerne s caractersticas psicomtricas do teste, segundo dados obtidos em
diversas investigaes, o teste fivel, obtendo um coeficiente Alfa de Cronbach de 0,86
quanto ao valor de consistncia interna no estudo original (Kovacs, 2004). Verifica-se, ainda,
a existncia de evidncia emprica sobre os valores de validade concorrente, de critrio e de
constructo da prova (Kovacs, 2004).
projectiva que visa medir os sentimentos da criana avaliada face aos membros da sua famlia
e a percepo que a criana tem dos sentimentos dos elementos da famlia relativamente
prpria. Mais concretamente, este instrumento permite avaliar as vertentes positivas (leves/de
ternura Esta pessoa da minha famlia merece um presente bonito; fortes/erotizadas Esta
pessoa da minha famlia gosta de me dar beijinhos) e negativas (leves/de rejeio Esta
82
pessoa da minha famlia nunca est satisfeita; fortes/agressivas s vezes apetecia-me matar
esta pessoa da minha famlia) dos sentimentos emitidos e recebidos pela criana face aos
elementos da famlia, a superproteco materna A minha me preocupa-se que esta pessoa
da famlia possa ser atropelada e, por fim, a superindulgncia parental (paterna Esta a
pessoa da minha famlia de quem o pai gosta mais e materna A me d ateno demais a
esta pessoa da minha famlia). A verso para crianas do teste contm duas formas
compostas por itens distintos: a forma para crianas mais novas (em idade pr-escolar) e a
forma para crianas mais velhas (em idade escolar) utilizando-se na presente investigao a
ltima forma. Assim sendo, esta forma composta por 86 itens, contendo cada item uma frase
que dada criana para a fazer corresponder a um dado membro familiar. Quanto s
caractersticas psicomtricas o teste discrimina as diferenas significativas nas relaes
familiares entre crianas provenientes de diferentes populaes e os mecanismos
psicodinmicos de defesa destacados assumem particular importncia em crianas gravemente
perturbadas (Bene, 1985).
descrev-lo como uma tcnica projectiva utilizada na avaliao dos sentimentos que um
indivduo casado tem sobre o cnjuge e filhos, assim como, destes elementos perante o
prprio indivduo, segundo a sua percepo. Deste modo, contribui de forma determinante
para a compreenso das interaces emocionais da famlia nuclear. Os autores referem que
esta tcnica pode, ainda, ser utilizada em adultos que tenham pelo menos duas pessoas
prximas a actuar como familiares (e.g., pais solteiros com dois filhos).
As dimenses discriminadas no teste so as seguintes: Sentimentos positivos (leves/de
ternura Esta pessoa da minha famlia merece ser feliz; fortes/erotizados Eu gosto de ser
beijado por esta pessoa da minha famlia) e sentimentos negativos (leves/de rejeio Esta
pessoa da minha famlia, por vezes, tem mau feitio e fortes/agressivos s vezes sinto que
odeio esta pessoa da minha famlia) emitidos e recebidos pelo sujeito em relao aos
elementos da famlia, sentimentos de proteco s vezes preocupo-me que esta pessoa da
famlia possa adoecer e, finalmente, atribuio de incompetncia ou fraqueza Esta pessoa
da minha famlia no consegue lidar bem com dificuldades. A prova constituda por 78
itens, contendo cada item uma frase que dada ao sujeito para a fazer corresponder a um dado
membro familiar (Bene, 1976).
83
A tcnica projectiva PN, da autoria de Louis Corman (2001) foi desenvolvida com o
intuito de avaliar a personalidade e os conflitos inerentes ao funcionamento mental infantil a
partir da abordagem psicanaltica, em crianas com idades compreendidas entre os 4 anos e os
10 anos de idade. Trata-se de um prova composta por um carto designado de Frontispcio, o
qual introduz a prova, o carto Fada que a conclui e, ainda, 17 cartes contendo imagens
figurativas de um porco e da sua famlia, a preto e branco. Perante as solicitaes manifestas e
latentes contidas em cada carto, a criana convidada a escolher os cartes que prefere e a
narrar uma histria inventada por si, dispondo a ordem de sucesso de cada imagem. Este
procedimento permitir que a criana em situao de avaliao projecte a sua realidade
interna, defesas e registos de conflitualizao subjacentes ao seu funcionamento psquico.
Cada carto pode reactivar sucessiva ou simultaneamente vrios registos de conflitualizao
na mesma criana (Boekholt, 2000).
RESULTADOS
Aps a recolha dos dados proceder-se- anlise e descrio qualitativa dos contedos
constantes nas entrevistas semi-directivas realizada com os pais e com a criana, de modo a
formular a anamnese da criana, genograma familiar, classificao social internacional de
Graffard e aceder s percepes familiares da criana, da me e do pai. Em seguida, sero
avaliadas as provas aplicadas criana e respectivas figuras parentais: nas provas do Desenho
Livre, Desenho da Figura Humana (Machover, 1978) e Desenho da Famlia (Corman, 2003)
sero analisadas as modalidades de desenho utilizadas durante a realizao da prova,
atendendo fase de desenvolvimento em que a criana se encontra. O Inventrio de
Depresso para Crianas (Marujo, 1995) ser analisado do ponto de vista quantitativo.
Quanto s provas Teste de Relaes Familiares, Verso Crianas (Bene, 1985), Teste de
Relaes Familiares, Verso Casais (Bene, 1976) e As Aventuras de Pata-Negra (Corman,
2001) sero cotados os procedimentos alusivos s respostas em cada uma das provas e
avaliado o seu valor qualitativo. Estes resultados sero integrados aos resultados obtidos nas
entrevistas semi-directivas, de modo a aceder a uma leitura compreensiva das percepes
familiares presentes em cada uma das famlias de crianas com organizao depressiva
constantes na presente investigao.
84
85
Por fim, a ltima sesso ser realizada unicamente com a criana, de forma, a que se
proceda passagem de uma prova projectiva infantil (aproximadamente 60 minutos de
durao).
O local de realizao destes encontros ser numa sala da Unidade de Pedopsiquiatria.
Deste modo, solicitamos a sua colaborao e do seu filho(a), pois para que esta investigao
se realize necessitamos de contar com a presena de participantes disponveis. A vossa
participao reveste-se da maior importncia para ns.
H que referir ainda, que a sua participao e a da criana tm um carcter
completamente voluntrio, podendo desistir do estudo a qualquer momento sem qualquer tipo
de penalizao para ambos. Se no pretender que faam parte deste estudo pode desistir agora
ou como referido anteriormente, em qualquer outra altura.
Ao aceitar participar nesta investigao garantimos-lhe total confidencialidade e a
devida proteco dos dados que sero guardados num local seguro, apenas acessvel aos
investigadores do estudo, destinando-se apenas a fins de investigao.
S as crianas que obtiverem o presente documento assinado pelos pais participaro
no estudo.
Se sentir necessidade de esclarecer alguma informao, por favor, entre em contacto
connosco atravs do seguinte endereo electrnico:
Margarida Neves:
E-mail: margarida.pereiraneves@gmail.com
_______________________________________________
86
87
Identificao da Criana
Idade: ________________________
Naturalidade: ____________________
Nacionalidade: __________________
Motivo(s):___________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Quem so os elementos que compem o agregado familiar (elementos que vivem na mesma
casa)?
(Constituio do genograma familiar)
88
Me
Idade: ________
Naturalidade: ____________________
Estado Civil: ___________________
Pai
Idade: ________
Naturalidade: ____________________
Estado Civil: ___________________
Irmo()
Gnero: ___________________
Idade: ________
Naturalidade: ____________________
Estado Civil: ___________________
Irmo()
Gnero: ___________________
Idade: ________
Naturalidade: ____________________
Estado Civil: ___________________
Irmo()
Gnero: ___________________
Idade: ________
Naturalidade: ____________________
Estado Civil: ___________________
Irmo()
Gnero: ___________________
Idade: ________
Naturalidade: ____________________
Estado Civil: ___________________
Gnero: ______________
Gnero: ______________
Naturalidade: ____________________
Estado Civil: ___________________
Nacionalidade: ____________________
Habilitaes Literrias: _______________
Relaes Familiares
Qual a situao familiar actual (apoios sociais e/ou familiares, existncia de doenas fsicas
e/ou psicolgicas, problemas sociais, econmicos, exposio a fontes de stress, entre outros)?
91
92
93
1. A profisso;
2. Nvel de instruo;
3. Fontes de rendimento familiar;
4. Conforto do alojamento;
5. Aspecto do bairro habitado.
Numa primeira fase, dever atribuir-se a cada famlia observada uma pontuao para
cada um dos cinco critrios enumerados e, numa segunda fase, obter-se- com a soma destas
pontuaes o escalo que a famlia ocupa na sociedade.
1. A PROFISSO
2.
NVEL DE INSTRUO
95
4. CONFORTO DO ALOJAMENTO
Grupo 1.: Casas ou andares luxuosos e muito grandes, oferecendo aos seus moradores o
mximo conforto.
Grupo 2.: Categoria intermdia casas ou andares que sem serem to luxuosas como as da
categoria precedente so, no obstante, espaosos e confortveis.
Grupo 3.: Casas ou andares modestos, bem construdos e em bom estado de conservao,
bem iluminadas e arejadas, com cozinha e casa de banho.
Grupo 4.: Categoria intermdia entre 3 e 5.
Grupo 5.: Alojamentos imprprios para uma vida decente, choas, barracas ou andares
desprovidos de todo o conforto, ventilao, iluminao ou tambm aqueles onde moram
demasiadas pessoas em promiscuidade.
Grupo 1.: Bairro residencial elegante, onde o valor do terreno ou os alugueres so elevados.
Grupo 2.: Bairro residencial bom, de ruas largas com casas confortveis e bem conservadas.
Grupo 3.: Ruas comerciais ou estreitas e antigas, com casas de aspecto geral menos
confortvel.
96
Grupo 4.: Bairro operrio, populoso, mal arejado ou bairro em que o valor do terreno est
diminudo como consequncia da proximidade de oficinas, fbricas, estaes de caminho-deferro, etc.
Grupo 5.: Bairros de lata.
CLASSIFICAO SOCIAL
A soma total dos pontos obtidos na classificao dos cinco critrios d-nos uma
pontuao final que corresponde classe social, conforme a classificao que se segue:
Classe 1
Classe II
Classe III
Classe lV
Classe V
Sentimentos de proteco
Identificao da Criana
Nome:_____________________________________ Idade:______________
Interesses/Actividades
Frequentas alguma actividade desportiva ou cultural (dana, teatro, msica, etc.)? Qual?
Amigos
101
Escola
102
Famlia
Como que os teus pais se do um com o outro? O que pensas/sentes com isso?
Dormes com algum ou partilhas o quarto com algum? Se sim, com quem?
103
Fantasias/Sonhos/Medos
104
108
CDI
Nome____________________________________
Sexo_____________________________________
Data de Nascimento_________________________
Escola____________________________________
Ano de Escolaridade_________________________
Data da Aplicao___________________________
Exemplo:
109
Lembra-te que deves escolher as frases que melhor mostram os teus sentimentos e
ideias das ltimas duas semanas.
1.
2.
3.
4.
Tudo me d alegria.
H muitas coisas que me alegram.
Tenho poucas coisas que me alegrem.
Nada me d alegria.
5.
6.
7.
Detesto-me.
H muitas coisas em mim de que no gosto.
H s algumas coisas em mim de que eu no gosto.
Gosto muito de mim.
8.
9.
No penso em matar-me.
Penso s vezes em matar-me mas nunca o farei.
Penso muito em matar-me e sei que sou capaz de o fazer.
Quero matar-me.
10.
111
11.
12.
13.
14.
15.
112
16.
17.
18.
19.
20.
No me sinto s.
De vez em quando sinto-me s.
Sinto-me quase sempre muito s.
Sinto-me sempre muito s.
113
21.
22.
23.
24.
25.
114
26.
27.
115
1. Bebedouro
Contedo Manifesto A cena passa-se no interior. No primeiro plano, PN urina no
bebedouro maior de dois bebedouros. No segundo plano, os dois porcos e os dois leites esto
deitados em lados diferentes de uma barreira.
Contedo Latente Expresso da agressividade para com os imagos parentais.
2. Beijo
Contedo Manifesto No primeiro plano, proximidade de dois porcos. Em segundo
plano, encontra-se um leito atrs de um muro.
Contedo Latente Problemtica edipiana.
3. Batalha
Contedo Manifesto O PN e um dos leites brancos mordem-se. O terceiro leito
afasta-se. Em segundo plano, situa-se o casal de porcos.
Contedo Latente Tema sdico oral de rivalidade fraterna. Agressividade e
sentimentos de culpabilidade que lhe esto associados.
4. Carroa
Contedo Manifesto PN deitado na palha. Dentro de um balo um homem coloca
um leito na carroa enquanto dois porcos e dois leites observam a cena.
Contedo Latente Angstia de separao e/ou para a agressividade nas relaes
familiares.
5. Cabra
Contedo Manifesto PN mama numa cabra.
Contedo Latente Relao com um substituto materno.
6. Partida
Contedo Manifesto Um leito numa estrada em contexto campestre.
Contedo Latente Relao de dependncia e angstia de separao.
116
7. Hesitao
Contedo Manifesto esquerda, o porco com a mancha negra amamenta um leito
branco. direita, o porco branco e um leito branco bebem no bebedouro. PN est ao meio.
Contedo Latente Tema de ambivalncia, rivalidade fraterna ou de excluso.
Conflito entre regresso e maturao no contexto de escolha do objecto privilegiado.
8. Ganso
Contedo Manifesto esquerda, um ganso apanha a cauda de um leito. direita,
outro leito meio escondido por detrs de um muro.
Contedo Latente Relao de agressividade versus castrao.
9. Brincadeiras Sujas
Contedo Manifesto Dois leites divertem-se na gua suja. Um deles atira gua para
a cara de um porco. O terceiro leito fica de fora da brincadeira.
Contedo Latente Agressividade face a um imago parental num contexto anal.
10. Noite
Contedo Manifesto Cena interior. Um estbulo iluminado pela lua dividido em
duas partes por um tabique de tbuas: de um lado, dois porcos juntos, do outro lado, dois
leites deitados e um terceiro em p encostado ao tabique.
Contedo Latente Curiosidade sexual e fantasmas da cena primitiva.
11. Ninhada
Contedo Manifesto Trs recm-nascidos mamam na porca que bebe o contedo do
bebedouro cheio por um dos caseiros. Ao fundo, outro caseiro agarra em palha. No primeiro
plano, por detrs de uma vedao encontram-se trs leites, com PN ao centro.
Contedo Latente Tema do nascimento e das relaes precoces com o imago
materno, possivelmente num contexto de rivalidade fraterna.
12. Sonho Me
Contedo Manifesto PN est deitado. No balo encontra-se o porco com a pata
negra.
Contedo Latente Relao com o imago materno.
117
14. Mamada 1
Contedo Manifesto PN est a mamar no porco com a pata negra.
Contedo Latente Aproximao com o imago materno num contexto de relao
privilegiada.
15. Mamada 2
Contedo Manifesto Em primeiro plano, PN est a mamar no porco com a pata
negra. No segundo plano, dois outros leites.
Contedo Latente Aproximao com o imago materno num contexto de rivalidade
fraterna.
16. Buraco
Contedo Manifesto PN num buraco com gua noite.
Contedo Latente Receio da separao num contexto de perigo. Solido, excluso
e/ou punio.
118
O Tom, de dez anos e cinco meses frequenta o 4 Ano do 1 Ciclo do Ensino Bsico.
uma criana que apresenta um desenvolvimento estato-ponderal adequado ao grupo etrio e
gnero a que pertence. Apresenta um aspecto fsico harmnico, cuidado e limpo, com
vesturio adaptado idade. Estabeleceu um contacto inibido com a observadora,
transparecendo uma postura corporal pouco expressiva e um olhar triste. Evitou manter
contacto ocular com a observadora. Verbalizou pouco e, quando o fez, foi maioritariamente
atravs de monosslabos, num tom de voz baixo. Observou-se uma dificuldade particular na
articulao do fonema /r/. Colaborou nas provas aplicadas, mantendo uma conduta estvel,
controlada e concentrada, sem a presena de indcios de ansiedade face situao de
observao/avaliao. Na ltima sesso (nica vez em que a me o acompanhou por estar de
frias), aps me despedir do Tom e o conduzir sala de espera onde se encontrava a me, o
Tom sentou-se ao seu lado e abraou-a fortemente.
Atravs da consulta num hospital localizado na Grande Lisboa foi encaminhado para a
Unidade de pedopsiquiatria por ansiedade, dificuldades de aprendizagem e queixas de
cefaleias, principalmente quando no quer ir escola e, por vezes, nos dias em que tem jogos
de futebol. acompanhado em consultas teraputicas de frequncia semanal com a psicloga
da Unidade h oito meses e meio, beneficiando, ainda, de interveno familiar.
O Tom vive com os pais e com a irm de sete anos, a Isabel, tambm presente nesta
investigao. O pai de quarenta e seis anos chefe de oficina mecnica e a me com trinta e
nove anos chefe de seco de um hipermercado, mais precisamente, coordenadora do
servio de caixas (tem horrio por turnos, com dois dias de folga rotativos). No final de 2008,
quando o Tom tinha sete anos, a famlia mudou-se para a casa de frias dos avs paternos, na
Pennsula de Setbal, no entanto, o Tom e a Isabel mantm a mesma escola na antiga rea de
residncia, na Grande Lisboa. Devido aos empregos, os pais dispem de pouco tempo para a
famlia, sendo apoiados pelos avs maternos do Tom e da Isabel. Deste modo, quem assume
a funo de levar as crianas escola a av materna quando a me no est de folga e o av
materno vai busc-los escola e acompanha-os s consultas na Unidade. Como o pai trabalha,
por vezes, ao Sbado o Tom e a Isabel ficam com os avs maternos e, mesmo ao Domingo,
quando no esto com o pai, ficam com os avs. Posto isto, o dia-a-dia do Tom distribui-se
da seguinte forma: entra na escola s nove horas, almoa no ATL onde permanece at s
dezoito e trinta/dezanove horas, hora em que o av o vai buscar. Janta nos avs. Os pais
chegam a casa dos avs por volta das vinte horas ou dorme nos avs. Frequenta o futebol duas
vezes por semana e tem os escuteiros ao sbado. Anteriormente tambm tinha aulas de
119
natao mas o Tom deixou de querer ir, queixando-se de dores de barriga e de cabea. De
manh acordava a chorar para no ir tarde natao. Os pais no compreendem esta
desistncia.
O Tom muito ligado me, solicitando muito o seu apoio (e.g., para vestir). Com o
pai gosta de brincar. Como figura disciplinadora na famlia, com o pai o Tom obedece logo
primeira ordem, enquanto com a me dificilmente obedece. Com a irm protector, pois
segundo os pais o Tom um corao doce para a irm, no se lhe pode ralhar porque ela
pequena, diz ele, no entanto, avanam ela mais spera para o Tom. Quanto aos avs,
referem que a av materna permissiva, estimulando pouco a autonomia dos netos. Com
cerca de um ano, por vezes, passou a dormir em casa dos avs e tem o hbito de passar frias
com estes, correndo tudo bem. Na famlia alargada dos pais do Tom desconhecem-se casos
de doena psiquitrica. Contudo, a me revela que em pequena era muito tmida, muito
reservada, parecida com o Tom. No recreio no ia ter com os outros meninos. Por seu lado,
o pai confessa que sempre fui uma pessoa com dificuldades na escola e, por esse motivo,
aos dez anos foi seguido em psicologia. Como nunca gostou de ir escola fazia chantagem
com a me: no ia escola se no tivesse um carrinho. O av paterno faleceu um ano antes do
Tom nascer, com 65 anos, por Cirrose devido ao alcoolismo e a av paterna tem epilepsia.
Nas sesses de recolha de dados com os pais, observou-se que apresentam um aspecto
fsico investido, cuidado e limpo, com vesturio adaptado ao seu grupo etrio. Estabeleceram
um contacto adequado com a observadora, utilizando linguagem rica e espontnea. Senti que
ambos eram pessoas simples e muito expressivas, revelando interesse e entusiasmo em
partilharem comigo as suas vivncias e em participar na investigao. Verbalizaram de modo
equilibrado, transmitindo os pontos de vista prprios, por vezes, discordantes. Ambos
mantiveram contacto ocular comigo, ainda que, tenha observado um olhar muito triste e vazio
na me, o sentimento de culpabilizao, a necessidade de prolongar as respostas s questes
quando pareciam terminadas, verbalizando at ao momento em que eu formulava uma nova
questo, numa tentativa de preencher o espao vazio. A me pareceu-me uma pessoa
significativamente mais negativa que o pai, o qual pareceu assumir-se como a figura que tenta
equilibrar as situaes de forma mais positiva e sem atribuir grande importncia a factos
menos pertinentes.
Quando os questionei sobre a relao de casal o pai respondeu-me de imediato que era
conflituosa e especificou espontaneamente o que queria dizer com esta resposta. A partir
deste momento a me comeou a chorar intensamente, tentando-se controlar, embora, sem
efeito. Assim, prossegui a entrevista com o pai at a me se recompor (passei frente a
questo seguinte relativa relao da me com a famlia de origem). Durante a passagem da
120
prova TRF me, destaca-se ainda o comentrio que fez quando reflectia a colocao do
carto 45 Esta pessoa da famlia aprecia a minha companhia: neste momento sinto-me
tmida e isolada no meu mundo, que no sei bem quem aprecia a minha companhia.
A irm do Tom nasceu de parto prematuro s vinte e oito semanas com 795g,
permanecendo dois meses e meio no hospital e a me quinze dias internada. Na altura, o
Tom tinha trs anos e ficou aos cuidados dos avs maternos durante o tempo de
internamento da me. Contudo, enquanto a irm permaneceu no hospital os pais passavam o
dia com ela, estando com o Tom apenas noite. Os pais reconhecem a existncia de um
ambiente emocional pesado em relao ao estado de sade da filha, sentindo muita
preocupao e ansiedade. Na altura no notaram alteraes no Tom mas nota-se agora. No
transmite aquilo que sente, reservado nas emoes. Como exemplo, este fim-de-semana
ficou com a av e cortou demonstrao de afecto durante a despedida, referem os pais,
admitindo, ainda, que no estariam eventualmente atentos aos sinais do Tom.
Desde o nascimento at aos seis meses e meio o Tom ficou aos cuidados da me. A
partir desse momento at aos cinco anos ficou com a av materna. Aos cinco anos integra um
jardim-de-infncia onde chorou em silncio durante a primeira semana no momento da
separao da famlia. Com seis anos inicia o 1 Ano mantendo-se as dificuldades de separao
da me e da av materna. O Tom insiste que no quer ir para a escola e pede av para
esperar pela professora com ele. Depois de a professora chegar fica bem na escola. Com o pai
dirige-se logo para a aula sem se despedir. Contudo, registou uma boa adaptao e
aprendizagem at Abril de 2008 parece que agora no capaz de fazer o que antes fazia.
Em Maro do mesmo ano a me foi operada s varizes, ficando em casa com a filha quinze
dias. O Tom comentava pois a menina fica em casa contigo. Assim, o Tom comeou a
no querer ir escola, chorando e dizendo no me deixes l. Quando antes os pais sentiam
que fazia os trabalhos-de-casa com entusiasmo, passou a adiar e a desinteressar-se. Sente
dificuldades na memorizao de informao.
Pouco tempo aps a operao da me, no final do 1 Ano, um colega empurrou o
Tom na escola e este abriu o lbio, tendo indicao mdica para no brincar nos prximos
quinze dias. No entanto, o Tom levou muito a srio a indicao, mantendo-se parte no
recreio. Terminados os quinze dias continuou a no ir brincar com medo de se voltar a aleijar,
at que o pai teve uma conversa com ele e, assim, voltou a brincar. Actualmente tem amigos
na escola e um amigo preferencial (menino com dificuldades de aprendizagem). Sempre foi
uma criana muito tmida, reservada e com dificuldades em defender-se dos pares, deixandose agredir at por crianas mais novas.
121
Segundo os pais uma criana que est sempre espera da indicao dos pais, no
tem iniciativa nem opinio sobre alguma coisa que se lhe pergunte, ficando espera da
opinio do adulto, muito insegura e muito infantil, pouco autnoma em comparao com os
colegas e acrescentam no futebol no defende uma bola, tem muito medo de errar e de no
conseguir fazer as coisas, inibindo-se, o que prejudica muito a aprendizagem na escola.
Quando se sente frustrado desabafa s vezes eu no valho nada. Contudo, os pais
consideram que no uma criana que se queixe ou chore, sendo pouco reactivo dor (e.g.,
queimaduras), assim, quando se aleija apenas olha para os pais. Em casa, no existem
cuidados com a exposio da nudez na famlia. Desta forma, ainda que por vezes, o Tom
tome banho sozinho, noutras a me d-lhe banho em conjunto com a irm.
Com a entrada para o jardim-de-infncia e escola o Tom deixou de ir casa-de-banho
com receio de no conseguir fazer a sua higiene sozinho, desenvolvendo encoprese diria (a
partir dos cinco anos). Uma vez na sanita, no conseguia ficar sentado durante todo o
momento da evacuao, sentando-se e levantando-se. Em Maio de 2008 frequentou um
acampamento sem casa-de-banho onde tentou no evacuar, resultando num episdio de
encoprese. Assim, por indicao do pediatra fez um calendrio para a encoprese e desde essa
altura registaram-se quatro episdios de encoprese. Nas frias seguintes com a diminuio da
ansiedade melhorou. Actualmente j no apresenta este sintoma.
No 2 Ano de escolaridade iniciou apoio pedaggico, contudo, sem resultados
significativos, a me pediu professora para que o filho ficasse retido nesse ano. O Tom
esforou-se muito no final do ano e a professora sentiu que devia transitar para o 3 Ano.
Num relatrio escolar do 3 Ano possvel ler que o Tom relaciona-se bem com os adultos
(professora e auxiliares) e com os colegas, embora seja tmido e discreto. Precisa de ser
constantemente valorizado pelo seu trabalho para ganhar auto-estima e confiana. Gosta de
participar nas actividades escolares () possui um ritmo de trabalho lento o que prejudica a
concluso das tarefas, continuando a precisar muito da ajuda da professora. No 4 Ano
regista-se que continua a demorar muito tempo a executar as tarefas e destacam-se as
dificuldades nos domnios de portugus, matemtica e estudo-do-meio.
Anteriormente gravidez do Tom, a me sofreu dois abortos espontneos aos dois
meses de gestao, com um ano de intervalo entre as trs gestaes (incluindo do Tom). A
gravidez foi planeada, ainda que a me se tenha sentido muito ansiosa e receosa devido aos
abortos anteriores. Para a av materna a me passou a sua ansiedade para o filho. A gravidez
ocorreu sem intercorrncias fsicas, com excepo de dor citica no final da gestao. Para a
me o sexo do beb era indiferente, j o pai tinha preferncia por uma menina. O Tom
nasceu s trinta e seis semanas, de parto eutcico. O pai cortou o cordo umbilical. Aps o
122
nascimento do Tom, a me teve apoio da av materna, ainda que pouco, uma vez que a av
cuidava da neta. A me nega a possibilidade de ter sofrido uma depresso ps-parto.
No que concerne ao desenvolvimento do Tom, durante o primeiro ano de vida
recordado como um beb calmo e reservado, no se dando com todas as pessoas. No chorava
muito e aos dois meses j dormia a noite toda era comer e dormir, por vezes, era preciso
acord-lo para comer. Para adormecer gostava de mexer no nariz do adulto. Ficou no quarto
dos pais at aos trs anos. A partir dos sete anos, com a mudana de casa comeou a partilhar
o quarto com a irm, dormindo bem. Desde esta idade passou tambm a dormir com um
boneco, semelhana da irm. O Tom comeou a andar aos treze/catorze meses e a dizer as
primeiras palavras com oito/nove meses (mam, pap, d,). O controlo dos esfncteres
uretrais diurno e nocturno ocorreu aos dois anos e seis meses. No caso dos esfncteres anais,
apesar de no se sentar na sanita continuadamente, em casa pede me e av para lhe
limparem o rabinho (actualmente recusam-se a faz-lo por indicao da psicloga). Contudo,
com a entrada no jardim-de-infncia aos cinco anos desenvolve encoprese secundria. O
Tom foi amamentado at aos seis meses e meio e usou chucha at aos trs anos. A
diversificao alimentar implementou-se sem registo de problemas.
Habitualmente o Tom gosta de jogar Playstation, computador, ver tourada e futebol
(chora quando o Benfica perde). Brinca com carrinhos imitando a profisso do pai
(mecnico). Gosta tambm de ajudar a famlia nas tarefas domsticas, esperando
reconhecimento (e.g., ajudar o av materno no quintal).
123
Identificao da Criana
Nome: Tom
Gnero: Masculino
Nacionalidade: Portuguesa
Quem so os elementos que compem o agregado familiar (elementos que vivem na mesma
casa)?
(Constituio do genograma familiar)
1999
73
40
46
63
62
41
39
38
38
11
10
124
Me
Idade: 39 Anos
Nacionalidade: Portuguesa
Pai
Idade: 46 Anos
Nacionalidade: Portuguesa
Irmo()
Gnero: Feminino
Idade: 7 Anos
Nacionalidade: Portuguesa
Relaes Familiares
Qual a situao familiar actual (apoios sociais e/ou familiares, existncia de doenas fsicas
e/ou psicolgicas, problemas sociais, econmicos, exposio a fontes de stress, entre outros)?
A av materna a segunda me deles e o av materno quem os traz s consultas.
Ao domingo ficam com os avs ou com o pai. O pai s vezes trabalha ao sbado. Sentem
stress na famlia mais pela falta de tempo. Como chefe de seco a me assume uma grande
responsabilidade profissional e, como tal, sente que pode penalizar a famlia.
quando perde fica muito desanimado. No responde aos outros colegas quando o chamam
ateno e defende-se pouco, acrescenta a me. Nem com os primos, mesmo se o estiverem a
aleijar. A irm tambm se lhe bater ele no se defende.
127
Identificao da Criana
Nome: Tom
Interesses/Actividades
Frequentas alguma actividade desportiva ou cultural (dana, teatro, msica, etc.)? Qual?
Jogo futebol (treina na escola do Benfica, o pai do Sporting). Escuteiros (?) vou aos
encontros dos escuteiros. Natao.
Amigos
129
Escola
Famlia
130
Como que os teus pais se do um com o outro? O que pensas/sentes com isso?
Bem. s vezes h uma discusso. (?) No penso muito nisso.
Dormes com algum ou partilhas o quarto com algum? Se sim, com quem?
Dorme no mesmo quarto que a irm, num beliche.
Fantasias/Sonhos/Medos
131
Desenho Livre
132
Inqurito
2) Histria
Era uma vez o pirata das Carabas estava a viajar e depois quando viu no mapa estava
no oeste, mas o tesouro no norte. S havia era areia por volta. Mas ele s via a areia
do oeste. Passados dias e noites chegou a uma ilha e viu uma palmeira uma
palmeira e depois viu uma cruz no cho, escavou, escavou e depois voltou para a sua
terra que era o Brasil com o tesouro. E depois no queria partilhar com ningum e ele
foi para o seu castelo que estava cheio de entrevistas, ele depois noite pensou,
pensou e depois disse: eu no posso ficar com o tesouro todo, vou partilhar e
partilhou. E depois quando foi dar a todos fizeram uma grande festa.
Anlise da prova
O Tom apresenta lateralidade direita e exerce uma presso adequada no lpis, embora
desenhe com alguma rapidez. No Desenho Livre acima enunciado observam-se transparncias
nas rvores pelo preenchimento de cor dado areia. As transparncias so prprias da fase de
Realismo Intelectual (i.e., crianas dos 4 aos 7 anos, aproximadamente) e, por isso, menos
esperadas na idade do Tom segundo Luquet (1984). O desenho retrata uma cena marinha
com um barco (pode remeter para o fenmeno do nascimento atravs da gua, contedo
regressivo associado vida intra-uterina e o barco, associado ao feminino, ao materno) e
representa simbolicamente a descoberta de um tesouro cheio de ouro numa ilha (smbolo
feminino) sob um poderoso sol (smbolo masculino). No barco, ainda que deriva sobre um
mar com elementos marinhos ligados vida, peixes e algas, destaca-se a ausncia do desenho
de uma figura humana, podendo enunciar dificuldades na projeco da auto-imagem corporal.
A narrativa evoca o conflito associado ao desejo de manter uma relao exclusiva, dual com o
imago materno e a sua resoluo e possibilidade de crescimento atravs da partilha que
indicia o acesso triangulao edipiana.
133
1 Desenho
Inqurito
E uma m recordao?
Quando ele morreu.
2 Desenho
136
Inqurito
E uma m recordao?
Ela toda a chorar quando era beb.
Anlise da prova
Desenho da Famlia
139
Inqurito
1) Quem so essas pessoas que desenhas-te, como se chamam e que idade tm? (da
esquerda para a direita)
O pai, Francisco, 18 anos;
A me, Madalena, 29 anos;
O filho, Nuno, 18 anos. No pode ser 18, tem 10 anos.
140
6) Se tivesses que escolher uma pessoa desta famlia, quem que preferias ser?
Porqu?
O filho. Porque ele est na moda.
7) Se fossem todos dar um passeio de carro mas no houvesse lugar para uma
pessoa, quem ficaria em casa? Porqu?
A me. Por causa que ela tinha que arrumar as coisas.
9) Se pudesses mudar alguma coisa no teu desenho o que que mudarias? Porqu?
Nada. Porque acho que eles esto fixes.
Anlise da prova
Sem realizar comentrios verbais ao longo da prova, o Tom desenhou as figuras com
rapidez, sem demonstrar cuidado no modo como pintava as figuras (especialmente a figura
que representa a me). Enquanto desenhava fez algumas expresses faciais particulares, como
tiques, especialmente ao nvel da boca.
Posto isto, ao observar o desenho sobressai a excluso do filho do casal parental. A
me surge como a personagem menos investida e valorizada (pouco cuidado ao pintar,
ausncia de pormenores, sem ps) e o filho como o mais investido (recurso utilizao de
mais cores e pintadas com mais cuidado, olhos permanecem brancos ao contrrio das
restantes figuras, pormenores nas calas e camisola). A figura materna parece triste e
semelhana das figuras do Desenho da Figura Humana, todas as figuras assemelham-se a
espantalhos, bonecos pouco firmes (o filho particularmente parece que vai cair), com os olhos
vazios e sem pupilas, os dedos das mos em nmero insuficiente face ao contexto real o que
pode associar-se imaturidade ou pouco cuidado no desenho das figuras. O roxo escolhido
para preencher a pele das figuras faz com que paream doentes, sem vida, desfalecidas.
No inqurito que acompanha o desenho surgem aspectos ligados desvalorizao e
rivalidade com o imago paterno e uma relao prxima, idealizada e pouco frustrante com a
me porque ela d-lhe tudo o que ele quer, dificultando, assim, o processo de
separao/individuao. Contudo, a resposta stima questo indicia o acesso triangulao
141
edipiana ao ser capaz de se separar da me para estar com o pai. A diferena de geraes
parece integrada, apesar de inicialmente o Tom colocar o filho ao mesmo nvel etrio do pai
(por via da desvalorizao e rivalidade com esta figura), recua e concede maior poder ao pai
(ainda que apenas oito anos os separe). Do ponto de vista grfico, no se verificam variaes
entre as figuras a este nvel, com o filho a surgir do mesmo tamanho que os pais. Por seu
turno, a diferenciao sexual parece suficientemente integrada atravs do traado dos cabelos
e da evocao de esteretipos tipicamente ligados separao dos papis sexuais pela
referncia me que arruma, o que pode tambm associar-se importncia que o Tom
atribui ordem (formao reactiva). Por fim, ainda que o Tom no tenha representado a
famlia real de forma directa, importa, ainda, salientar a ausncia da irm no desenho atravs
do mecanismo de defesa negao, o que pode remeter para uma problemtica na linha da
rivalidade fraterna.
Anlise inter-individual
O Tom obteve um total de 17 pontos, resultado este que o situa no Grupo 2 quanto
gravidade dos sintomas de depresso apurados no teste. Classifica-se, assim, num nvel
intermdio de sintomas de depresso, ainda que, inferior mdia e, portanto, fora do Grupo 1
(sujeitos no deprimidos) e do Grupo 4 (sujeitos deprimidos).
Anlise intra-individual
Intensidade do Item
Perfil de Itens
3
2
1
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27
Itens
142
A partir da anlise do grfico acima representado verifica-se que a maioria dos itens
distribui-se na intensidade menor (14 itens) e mdia-inferior (11 itens). Sobressaem, desta
forma, os itens associados a uma preocupao excessiva, problemas de sono, isolamento
social, pessimismo, baixa auto-estima, tristeza e sentimentos de insucesso.
Atendendo distribuio dos itens no grfico parece afigurar-se uma conflitualizao
entre a expresso fantasmtica e a defesa que aliada tendncia para a interiorizao do
comportamento (inibio) observada no Tom no contexto da recolha de dados, podem
sugerir a interferncia de mecanismos de defesa como a negao nos resultados do teste.
26
Tom
Pai
21
Me
19
Irm
21
143
30
25
20
15
10
5
0
Ningum
Tom
Pai
Me
Irm
10
9
8
7
6
Positivos
Negativos
4
3
2
1
0
Ningum
Tom
Pai
Me
Irm
144
12
10
8
Positivos
Negativos
4
2
0
Ningum
Tom
Pai
Me
Irm
Figura 3 Nmero de itens positivos e negativos sentidos como recebidos por cada membro
da famlia.
145
Quanto aos afectos positivos e negativos sentidos como recebidos por cada elemento
da famlia (Figura 3) semelhana do observado na figura anterior, destaca-se uma forte
idealizao das figuras parentais, desta feita sem qualquer tipo de afecto negativo atribudo a
ambas as figuras. Entre os afectos positivos fortes destacam-se esta pessoa da famlia gosta
de estar na cama comigo me, o que pode remeter para fantasias edipianas e, ainda, gosta
de me dar beijinhos, gosta de me ajudar quando estou a tomar banho e gosta de me fazer
ccegas ligados ao pai, como forma de investimento numa nova relao de objecto. No que
concerne ao prprio Tom apenas contm um afecto positivo, no se auto-atribuindo qualquer
tipo de afecto negativo. Assim, os afectos negativos foram apenas atribudos irm (relao
ambivalente) e personagem Ningum. Na irm este facto pode ter um valor na linha da
rivalidade fraterna e no sentimento de inferioridade do Tom face a esta figura: faz-me uma
cara zangada, nem sempre me ajuda quando estou em apuros, ralha comigo e fica
zangada comigo. No Ningum reenvia para uma forte negao dos afectos negativos.
10
Emitidos Positivos
Recebidos Positivos
Emitidos Negativos
-5
Recebidos Negativos
-10
-15
Ningum
Tom
Pai
Me
Irm
ambivalente e pela diferena de um item destacam-se os afectos negativos emitidos face aos
afectos negativos recebidos. Quanto ao prprio Tom sobressaem os afectos negativos
emitidos, o que pode reenviar para uma auto-estima insegura e culpabilizada. Na figura do
Ningum surgem os afectos negativos essencialmente de cariz forte e alguns afectos positivos
rejeitados e negados como forma de defesa.
Tabela 2 Nmero de itens associados a sentimentos de dependncia (superproteco
materna e superindulgncia paterna/materna).
Ningum
Tom
Pai
Me
Irm
Superproteco
materna
0
6
1
0
8
Superindulgncia
Paterna
Materna
0
0
5
5
0
1
3
0
4
3
Total de
Dependncia
0
16
2
3
15
147
As Aventuras de Pata-Negra
1 Etapa Frontispcio
PN:
Porque tem a pata negra.
Menina.
1 Ano. No, para a uns 10 anos.
Dois porquinhos:
So primos do PN.
Menino, 5 anos (da esquerda).
Menino, 5 anos (da direita).
So irmos, tipo gmeos.
Porcos Grandes:
Em cima pai, 20 anos.
Em baixo me, 22 anos.
148
Quanto ao PN o Tom projecta por um lado, uma idade prxima da sua, o que refora
a identificao com o heri da histria mas, por outro, realiza uma inverso de sexos em
comparao ao seu, identificando-se a uma menina, o que pode remeter para conflitos
edipianos e uma tendncia para o evitamento dos conflitos.
Nos dois porquinhos assinala-se a representao de dois primos do PN, no
identificando uma relao de tipo fraterno face ao PN o que pode remeter para o desejo de ser
filho nico e assim obter a ateno/proteco exclusiva dos pais, sobretudo da me, anulando
a rivalidade fraterna.
Os porcos grandes foram identificados de forma adequada aos pais, com a me a
destacar-se pela maior maturidade projectada.
2 Etapa Os Temas
Brincadeiras Sujas
Era uma vez quatro porcos que estavam na lama a brincar. A me deles estava c
fora para no ficar suja, mas os trs filhos nos saltos dos porcos sujaram a me toda.
Quando o dono viu os porcos teve-lhes de molhar com a mangueira.
Nesta resposta o Tom acede ao contedo latente do carto que remete para a
agressividade face a um imago parental num contexto de analidade. Iniciando-se por uma
situao ldica, a figura materna a escolhida como alvo da agressividade, podendo associarse ao desejo de separao na relao com esta figura, ainda que os porquinhos pequenos
surjam de forma annima, evitando identificar-se ao responsvel do acto agressivo. Introduz
uma personagem na histria que no figura na imagem o dono podendo remeter para uma
figura superegica que coloca em cena a defesa pela formao reactiva.
Cabra
Era uma vez um porco negro, pata negra que pensava que a sua me era uma cabra e
por isso foi mamar numa cabra. Quando a me viu chateou-se e levou o filho para o seu
curral. Quando o dono chegou viu que uma cabra estava dentro do curral, tirou a cabra e
meteu-a na sua quinta.
Na resposta ao presente carto que reenvia para a relao com um substituto materno
encontra-se subjacente o sentimento de culpabilidade no Tom, no permitindo a substituio
materna, a separao deste imago, face ao receio da retaliao materna. A introduo da
149
Bebedouro
Era uma vez trs porcos pequenos e o pai e a me estavam a dormir no palheiro. Os
porcos pequeninos estavam junto a eles que era a casa dos porcos. Os filhos estavam sempre
a comer. Quando o dono chegou viu que a tigela j estava vazia, meteu-lhes mais os pais
levantaram-se e foram comer com eles.
Buraco
Era uma vez um porco pata negra que caiu num buraco cheio de lama e no
conseguia sair de l. Por isso o dono viu que faltava-lhe um porco, o da pata negra e o dono
disse: falta-me um porco e o dono foi na sua carrinha procurar o porco. Num instante
passou num buraco e pensou que era um porco, mas era um pato, passou noutro que tinha
sido um co. Passou num, viu o porco, meteu-o dentro da carrinha e levou-o para a sua casa.
Num carto que apela ao receio da separao num contexto de perigo, o Tom
introduz uma figura na histria que no se observa na imagem evitando, desta forma, o
confronto (punitivo) com as figuras parentais face transgresso da relao desencadeada
pela separao. Em todo o caso, o desenlace da histria d-se atravs do apoio desta figura,
no conseguindo socorrer-se de forma autnoma.
150
Acrescentou os cartes:
Ninhada
Era uma vez trs porquinhos. A me dos porquinhos ficou grvida e teve mais quatro
filhos. Os outros filhos estavam l junto da me, a me comia, os outros quatro bebiam o leite
e os outros trs comiam tambm. Os donos dos porcos meteram palha e comida, gua para a
me e os seus filhos para ficarem confortveis.
Num carto que remete para o tema do nascimento e da rivalidade fraterna o Tom no
aborda o conflito da rivalidade fraterna, optando por o evitar apegando-se ao contedo
manifesto do carto, ainda que acrescente um porco recm-nascido histria que no figura
no carto.
Pequena Escada
Era uma vez o porco PN queria comer ervas em cima de uma rvore. A me
experimentou na primeira vez caiu, na segunda vez caiu, terceira vez subiu, viu que tava
ervas e comeu, comeu, comeu, o PN. Quando acabou de comer as ervas queria sair, no
conseguia. O dono dos porcos encostou a me a uma rvore, o filho s cavalitas e levou o seu
filho PN para o curral e a sua me numa carrinha grande. Ficou juntamente com os seus
filhos e o porco PN junto com os seus irmos e os seus primos. O filho PN gostou muito deste
dia.
Num carto que remete para a funo de holding de uma das figuras parentais, o Tom
projecta uma vez mais, a problemtica oral podendo reenviar para um vivido de carncia na
relao com o materno. A funo de apoio associada ao materno, ainda que, se represente de
forma precria pelas sucessivas quedas at conseguir auxiliar o filho e introduo do dono
dos porcos na histria como auxiliador da funo materna.
151
3 Etapa Preferncias-identificaes
Cabra
A1) Porque o porco PN enganou-se na me. O PN.
Pequena Escada
A2) Porque nunca vi um porco a subir s cavalitas de uma me. O PN.
Ganso
A3) Gosto porque nunca vi um pssaro ( menina) a atacar um porco. O primo
(porquinho do lado esquerdo no frontispcio).
Ninhada
A4) Os senhores estavam a tratar dos filhos da porca e dos trs tambm. O senhor.
Batalha
A5) Porque a me no est desinteressada, ai, est muito interessada com os filhos e
nunca vi um porco a correr desta maneira. O pai.
Ainda que reforce o que disse no incio da frase com est muito interessada o Tom
sente que refere o contrrio e, por isso, tenta negar a vivncia da desproteco materna. A
agressividade num contexto de rivalidade fraterna no evocada, evitando-a.
152
Noite
nA1) Porque esto a separar os filhos da me.
Os filhos e a me todos juntos. O PN.
Num carto que apela para a curiosidade sexual e para os fantasmas da cena primitiva,
o Tom revela-se sensvel ao sentimento de excluso e separao da relao de dependncia
com o materno.
Mamada 2
nA2) Por causa que os outros querem mamar mas o outro no deixa (o PN).
Todos a mamar na me. O PN.
Face relao com a me num contexto de rivalidade fraterna o Tom tenta anular
essa rivalidade, ainda que se identifique ao PN.
Hesitao
nA3) Por causa que o PN queria estar a comer e o pai no estava a deixar.
O PN a comer a comida tambm junto dos outros filhos e da sua me. O pai.
Beijo
nA4) Porque l eles no tinham comida para eles comerem.
Metia uma coisa de comida para os porcos pequenos e para os grandes. O PN.
Assiste-se a uma perseverao do tema oral de tipo carencial num carto que apela
problemtica edipiana, no abordando este conflito.
Bebedouro
nA5) O PN estava a fazer coc na comida dos outros.
153
Partida
nA6) O filho perdeu-se, o PN.
Que todos encontrassem o PN. O PN.
Carroa
nA7) Por causa que estavam a levar os porcos para outra quinta e eles no gostavam,
a me, o pai, o PN estavam todos a ser levados.
A me e o pai e os seus filhos ficaram na mesma quinta. O pai.
Num carto que evoca a angstia de separao este conflito evitado, mantendo a
agressividade nas relaes familiares reprimida.
Buraco
nA8) Por causa que o filho est perdido e caiu num buraco, o PN.
O porco juntamente com os outros. O PN.
Brincadeiras Sujas
nA9) Os filhos esto a sujar a me e a me no quer.
Os porcos no sujarem a me com os saltos deles. O PN (est fora da lama).
154
Mamada 1
nA10) Porque a me no deixava os outros comerem, s deixava o PN.
Todos a comerem. O PN.
Num carto que remete para uma relao privilegiada com o materno introduz os
outros (irmos) na frase negando a aproximao exclusiva me e a rivalidade fraterna.
Sonho Me
nA11) Porque a me estava a ver o seu filho a dormir e estava a levar com o cheiro
do seu filho.
O filho no deitar cheiro para a me. O PN.
Num carto que remete para a relao com a imagem materna a fico sugerida pelo
balo no reconhecida, remetendo para imaturidade no Tom. A problemtica inscreve-se
na projeco de agressividade face me.
Sonho Pai
nA12) O pai estava a deitar cheiro para o filho.
O pai no deitar cheiro para o filho. O PN.
Num carto que remete para a relao com a imagem paterna a fico sugerida pelo
balo no reconhecida, remetendo para a presena de imaturidade no Tom. A problemtica
inscreve-se na projeco de agressividade do pai para o filho.
4 Etapa Questes Dirigidas
Beijo
No.
Noite
No.
155
6) Carto Fada:
Desejo 1: Que a sua famlia corra bem.
Desejo 2: O seu dono deia muita comida.
Desejo 3: E pedia que no deixasse de dar comida.
156
Preferncias-identificaes
Cartes
Os Temas
Preferncias
Identificaes
Aceite (A)/No
Agradvel
Assumida
Aceite (nA)
(A)/No
(A)/No
Agradvel (nA)
Assumida (nA)
Total
Bebedouro
nA
nA
1A
Beijo
nA
nA
1A
Batalha
nA
nA
1A
Carroa
nA
nA
nA
3nA
Cabra
3A
Partida
nA
nA
1A
Hesitao
nA
nA
nA
3nA
Ganso
nA
nA
1A
Brincadeiras
nA
2A
Noite
nA
nA
1A
Ninhada
nA
nA
1A
Sonho Me
nA
nA
1A
Sonho Pai
nA
nA
1A
Mamada 1
nA
nA
1A
Mamada 2
nA
nA
1A
Buraco
nA
2A
Pequena
nA
2A
Sujas
Escada
158
A Isabel tem sete anos e trs meses e frequenta o 1 Ano do 1 Ciclo do Ensino Bsico.
Apresenta um desenvolvimento estato-ponderal adaptado sua idade e gnero, contudo, de
um modo global traduz uma imaturidade que a faz parecer mais nova. Trata-se de uma criana
harmnica, com aspecto fsico investido, cuidado e com vesturio limpo e adaptado ao grupo
etrio. Estabeleceu um contacto inibido com a observadora, todavia registou-se um crescente
estado de vontade e maior disponibilidade para a relao e verbalizao no decorrer das
sesses. Verbaliza, por vezes, com espontaneidade, utilizando um tom de voz baixo e
pronunciando as palavras de forma imatura para a idade. Estabeleceu contacto ocular e no seu
olhar transpareceu o sentimento de tristeza. Manteve um comportamento estvel, controlado e
concentrado nas provas realizadas. Por vezes, empoleirou-se na cadeira, permanecendo sobre
a mesa da secretria a observar o que eu escrevia. A Isabel indicou aceitar bem a separao
face me, no momento em que se dirigiu comigo para a sala de consulta (chegou sempre na
companhia da me).
Pela prematuridade a Isabel seguida na consulta de desenvolvimento de um hospital
da Grande Lisboa. Na sequncia deste tipo de consultas, a me manifestou a sua preocupao
relativamente ansiedade e medos (de animais, ladres, palhaos, deitar-se sozinha,
acidentes, do perigo, etc.) da filha, sendo encaminhada para a consulta de psicologia daquele
hospital. No entanto, foi reencaminhada para a Unidade de Pedopsiquiatria devido sua rea
de residncia. Deste modo, h cerca de dois meses que a Isabel iniciou o acompanhamento em
consultas teraputicas de psicologia de frequncia semanal beneficiando, tambm, de
consultas familiares junto dos pais.
Tal como descrito na Anamnese do Tom, a Isabel vive com os pais e com o irmo.
Segundo o pai a Isabel tem uma maneira mais doce de falar com a me. Comigo ela
diferente, o que eu pedir para fazer ela faz e com a me no. Quando chego a casa ouo a voz
dela mais alta do que quando estou em casa. A Isabel e o Tom apreciam a companhia um do
outro, no entanto, ela defende-se em relao ao irmo. Por vezes, a Isabel dorme em casa do
tio paterno (padrinho do Tom) e fica bem, tal como em casa dos avs maternos. Contudo
recusa-se a ficar em casa da av paterna. Para o pai sempre foi uma criana muito reservada e
se for algum de quem ela goste a nossa casa um choro. Porque tem pena que as pessoas se
vo embora.
Segundo o pai, a Isabel sente dificuldades em dormir porque como a prpria diz
tenho medo de ladres quando me vou deitar. Tenho medo que eles me levem. Depois de
adormecer a noite corre bem. No entanto, como o pai refere quando est comigo digo que
159
est na hora de deitar e ela l vai, sem protesto. Depois eu deito-os e at lhe digo que vou
fechar a porta do quarto. Fica com uma luz acesa e quando s vezes volto ao quarto para v-la
est a pensar de olhos abertos: diz que no tem sono e no consegue dormir. Agora quando foi
com a trovoada eu deitei-me na cama de cima e eles na de baixo. Contudo, quando a me
est em casa fica com a Isabel at a filha adormecer. Caso contrrio, a Isabel chama a me ao
quarto e se a me no vai ela pede um copo de gua, mas no chora. Comigo ela no chama,
mas j houve perodos de ela comear a choramingar mas eu digo que ela no tem motivos.
O pai acrescenta tambm que quando a me est a passar-a-ferro ela vai para o nosso quarto
para estar mais perto. De manh a me tenta acord-los, chamando-os vrias vezes at ficar
irritada, mas os filhos ficam na cama sem se levantarem acho que a me cede demais,
confessa o pai. Com o pai levantam-se logo, sem haver problemas.
Para os pais estes comportamentos de medo e ansiedade da Isabel agravaram-se h
cerca de um ano quando o carro do av materno foi assaltado e a Isabel encontrava-se com o
av quando este descobriu o carro aberto, ainda que a Isabel no tivesse visto os ladres. O
medo de ces tambm se agravou nessa altura como a me tambm tem medo isso no ajuda.
Ela trepa por cima da me desesperadamente com medo de ces, revela o pai. Na opinio da
me, recentemente a filha deu um passo em frente nos medos ao aproximar-se e brincar
com uma cadela que o tio materno adquiriu h pouco tempo, andando entusiasmada. A
Isabel no consegue ficar sozinha numa diviso da casa, seguindo a me para a casa-debanho, cozinha e qualquer outra diviso, mesmo que a me lhe pea para ficar na diviso
anterior e a tente tranquilizar dizendo-lhe que no viro ladres.
A Gravidez da Isabel foi planeada no primeiro filho eu at gostava de ter tido uma
menina e depois no aconteceu e tentmos novamente, indica o pai. No se tratou de uma
gravidez complicada e, apesar de a me se sentir preocupada, na sua sade nada justificava
aparentemente a prematuridade da Isabel (nasceu s vinte e oito semanas de gestao com
795g, cerca de trs meses antes da data prevista, por Cesariana). Aps o nascimento a Isabel
sofreu uma infeco por adenovrus, sem registo de sequelas. Permaneceu dois meses e meio
na incubadora e a me quinze dias internada, ainda que apenas tenha contactado com a filha
passados oito dias do nascimento. Durante o internamento da Isabel os pais passavam o dia no
hospital at s vinte e duas horas durante a noite ela s conseguia estar bem ao colo. Quando
saiu do hospital tinha 1,5kg. O Tom parece que ficou ao abandono, ficava com a av
materna, partilha o pai.
Em beb o sono da Isabel era agitado, sendo difcil adormecer. No entanto,
adormecia facilmente no meu colo indica o pai. Demorou um ms at regular o sono. Nunca
teve problemas ao nvel do desenvolvimento psico-motor e lingustico associados
160
prematuridade, comeando a andar e a falar mais cedo que o irmo (o pai no sabe precisar o
momento) e sem dificuldades. Ao nvel do comportamento alimentar no esquisita, mas
lenta e demora, por vezes, duas horas para comer. Para o pai comigo come tudo, com a me
mais difcil mas quando eu repreendo a me tenta arranjar uma desculpa para a defender.
Nos primeiros tempos em casa, a me cuidou sozinha da Isabel at aos cinco meses
enquanto o Tom ficava, por vezes, com a av materna. Segundo o pai esse perodo foi
crtico para a me, eu sempre fui mais animador. Em seguida, a Isabel ficou aos cuidados da
av materna at aos seis anos, no frequentando a creche. Com a entrada na escola aos seis
anos, registou uma boa adaptao. A professora refere que um pouco lenta, embora j leia
com alguma calma, gosta de pintar, bem comportada e d-se bem com os colegas.
161
Identificao da Criana
Nome: Isabel
Gnero: Feminino
Nacionalidade: Portuguesa
Quem so os elementos que compem o agregado familiar (elementos que vivem na mesma
casa)?
(Constituio do genograma familiar)
1999
73
40
46
63
62
41
39
38
38
11
10
162
Me
Idade: 39 Anos
Nacionalidade: Portuguesa
Pai
Idade: 46 Anos
Nacionalidade: Portuguesa
Irmo()
Gnero: Masculino
Idade: 10 Anos
Nacionalidade: Portuguesa
Habilitaes Literrias:_______________
Relaes Familiares
Qual a situao familiar actual (apoios sociais e/ou familiares, existncia de doenas fsicas
e/ou psicolgicas, problemas sociais, econmicos, exposio a fontes de stress, entre outros)?
A av materna a segunda me deles e o av materno quem os traz s consultas.
Ao domingo ficam com os avs ou com o pai. O pai s vezes trabalha ao sbado. Sentem
stress na famlia mais pela falta de tempo. Como chefe de seco a me assume uma grande
responsabilidade profissional e, como tal, sente que pode penalizar a famlia.
assim e ela continua. A me acha que pelo tom de voz que o pai utiliza eles ficam receosos. A
me acha que tem a ver com a educao que o pai recebeu.
pouco flexvel, muito ligada igreja, sacrificando-se muito em vez de viver mais a vida. A
relao da av paterna com o irmo do pai no diverge tanto. muito individualista. A
relao da me com a sua famlia mais carinhosa, h mais contacto e afecto. Quando vai
para o hospital no diz nada a ningum e depois queixa-se que no lhe ligam, s sabem
depois de ter alta. muito fechada. Sentem que afasta os outros. muito activa, at se for
preciso faz obras numa casa sozinha, corta o prprio cabelo, renova as coisas. No vem
comer quase nunca a casa deles, mas se eles no vo l chateia-se. Como a av paterna faz
diferena entre o tio do Tom e o pai, no entram tanto em conflito, desculpa mais o tio
paterno do Tom.
166
Identificao da Criana
Nome: Isabel
Interesses/Actividades
Frequentas alguma actividade desportiva ou cultural (dana, teatro, msica, etc.)? Qual?
Ando na natao e gosto de l andar.
Amigos
Escola
Famlia
168
Como que os teus pais se do um com o outro? O que pensas/sentes com isso?
s vezes discutem, outras vezes no. (?) Sinto que estou triste.
Dormes com algum ou partilhas o quarto com algum? Se sim, com quem?
Partilho o quarto com o mano. Adormeo com a me no meu quarto e depois a me
vai para o quarto dela. Fao isto todos os dias.
Fantasias/Sonhos/Medos
169
Desenho Livre
170
Inqurito
2) Histria
Era uma vez uma borboleta que estava a ver as flores, rvore e a formiga e o sol
tambm. As flores ficaram felizes e as formigas e a rvore.
Anlise da prova
171
1 Desenho
Inqurito
E uma m recordao?
De nos ver tristes.
173
25) Quando que diz que se divertiu muito? No dia de estar feliz com os colegas, a
divertir-se.
26) Quer casar?
27) Com que idade?
28) Que gnero de homem quer casar?
29) Quais so os seus trs principais projectos/sonhos? No sei.
30) Com quem se parece? Comigo.
31) Gostarias de te parecer com ele/a?
32) Se pudesses, mudarias alguma coisa no teu desenho? No.
2 Desenho
174
Inqurito
E uma m recordao?
De lhe tirarem o peluche.
Anlise da prova
feminina tambm est assegurada. Na primeira figura observa-se uma clara identificao com
o imago materno, projectando-o de forma chateada, triste e aleijada, segundo a resposta a
trs questes do inqurito. No caso da segunda figura, retratada de forma imatura e
dependente da relao dual com o imago materno. Ambas as narrativas so restritas,
descritivas e assentes no factual e concreto, sem recurso ao simblico.
Desenho da Famlia
Inqurito
1) Quem so essas pessoas que desenhas-te, como se chamam e que idade tm? (da
esquerda para a direita)
Lua, 19 anos, irm;
Sol, 20 anos, irmo.
6) Se tivesses que escolher uma pessoa desta famlia, quem que preferias ser?
Porqu?
A Lua. Porque gosto da Lua. (?) Porque gosto de brincar com a Lua.
7) Se fossem todos dar um passeio de carro mas no houvesse lugar para uma
pessoa, quem ficaria em casa? Porqu?
O Sol. Porque ele quis.
9) Se pudesses mudar alguma coisa no teu desenho o que que mudarias? Porqu?
No.
178
Anlise da prova
Anlise inter-individual
179
Anlise intra-individual
Intensidade do Item
Perfil de Itens
3
2
1
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27
Itens
Na anlise do grfico acima representado sobressai, desde logo, uma forte defesa face
ao instrumento, em especial at ao item dezassete da prova, registando-se apenas a
intensidade mnima de sintomas depressivos. Na intensidade intermdia surgem os problemas
com a alimentao e isolamento social.
Face ao diagnstico clnico de depresso e a uma maior tendncia para a interiorizao
do comportamento (inibio) observada na Isabel, coloca-se a hiptese da menor incidncia
de sintomas depressivos apurados no instrumento resultar da emergncia de mecanismos de
defesa como a negao durante a realizao da prova. H que assinalar que devido s
dificuldades que a criana revelou na leitura dos itens durante a passagem do instrumento este
foi o nico caso em que a investigadora procedeu leitura dos itens, ainda que, a criana
registasse as suas respostas na folha. Este ltimo facto pode tambm ter condicionado os
resultados obtidos devido ao maior contributo e proximidade da investigadora com a criana e
com as suas respostas no teste.
21
Isabel
180
Pai
Me
12
Irmo
13
Av
Materna
Av
Materno
Av Paterna
9
8
7
6
5
4
Positivos
Negativos
2
1
0
A avaliao dos afectos positivos e negativos emitidos pela Isabel face aos diferentes
elementos da famlia (Figura 2) permite destacar uma forte idealizao da figura materna,
com todos os itens atribudos positivos e a ausncia de afectos negativos. O pai, por outro
lado, surge como a figura menos investida a nvel emocional, com a atribuio de apenas um
item positivo leve ajuda sempre os outros tambm colocado na figura materna. Esta
distribuio pode remeter para uma forte dependncia com a figura materna gostava que esta
pessoa da famlia estivesse sempre ao p de mim pouco permevel ao investimento numa
relao de objecto de tipo edipiano e autonomia emocional da Isabel. Na relao com o
irmo, com a prpria Isabel e de certa forma tambm na relao com os avs destacam-se
sentimentos ambivalentes, com destaque para uma auto-estima insegura por parte da Isabel
queixa-se demais e nunca est satisfeita e o irmo que apresenta um maior nmero de
182
itens negativos que podem reenviar para a rivalidade fraterna fico farto desta pessoa da
famlia, consegue fazer-me sentir muito irritado(a), ainda que tambm estabelea uma
relao dependente com esta figura gostava de poder dormir na mesma cama com esta
pessoa da famlia. O Ningum utilizado sobretudo para a negao dos afectos negativos
no colocados nos elementos da famlia.
9
8
7
6
5
4
Positivos
Negativos
2
1
0
Figura 3 Nmero de itens positivos e negativos sentidos como recebidos por cada membro
da famlia.
A partir da anlise dos itens positivos e negativos sentidos como recebidos pelos
elementos da famlia (Figura 3) destaca-se uma idealizao do pai, da av materna e da av
paterna pelo nmero elevado de afectos positivos face aos afectos negativos (no caso das avs
os afectos negativos so inexistentes). Contudo, a relao com o pai surge afectada por
sentimentos de insegurana e desproteco nem sempre me ajuda quando estou em apuros.
Na relao com a me apesar da maior incidncia dos afectos positivos de cariz dependente
gosta de me dar beijinhos, gosta de me ajudar quando estou a tomar banho e gosta de
estar na cama comigo vislumbram-se afectos negativos leves ralha comigo e fica zangada
comigo. Com o av materno sobressaem os afectos negativos recebidos numa linha
autoritria faz-me uma cara zangada e castiga-me muito. A relao com o irmo
percepcionada de forma ambivalente e quanto prpria Isabel no foram atribudos quaisquer
itens. Na figura Ningum so remetidas as defesas dos afectos positivos fortes e negativos
leves/fortes.
183
6
4
2
0
Emitidos Positivos
-2
Recebidos Positivos
-4
Emitidos Negativos
-6
Recebidos Negativos
-8
-10
184
Ningum
Isabel
Pai
Me
Irmo
Av Materna
Av Materno
Av Paterna
Superproteco
materna
0
7
0
1
5
0
0
0
Superindulgncia
Paterna
Materna
0
0
4
4
0
0
1
0
4
5
0
0
0
0
0
0
Total de
Dependncia
0
15
0
2
14
0
0
0
185
Na relao com a figura materna sobressai o desejo de agradar me, a procura da sua
proteco e indulgncia e, ainda, uma forte idealizao e dependncia emocional com esta
figura, o que dificulta o processo de separao atravs do investimento numa relao objectal
de tipo edipiano e a consequente autonomizao da Isabel. Ainda assim, a Isabel percepciona
alguns afectos negativos recebidos desta figura. A me sentida como uma figura
relativamente dependente pela preocupao de se magoar, centrando apenas a sua ateno nos
filhos.
A relao com o irmo vista de forma ambivalente com sentimentos que reenviam
para a rivalidade fraterna, mas tambm na linha dependente. semelhana da Isabel o irmo
tambm surge como um elemento emocionalmente dependente dos pais.
Na relao com a av materna surge uma relao equilibrada quanto aos afectos
positivos emitidos e recebidos, com a Isabel a emitir tambm afectos negativos que no so
recebidos por parte da av.
Com o av materno surge uma discrepncia entre os afectos positivos emitidos e
recebidos, destacando-se os primeiros e os afectos negativos emitidos e recebidos, com
destaque para os segundos. Deste modo, esta figura percepcionada como autoritria.
Por fim, com a av paterna observa-se um maior investimento na relao por parte da
Isabel ao nvel dos afectos positivos, mas tambm dos afectos negativos que no so sentidos
como recebidos a partir da av.
As Aventuras de Pata-Negra
1 Etapa Frontispcio
PN:
Porque tem uma pata que preta;
Um menino;
19 Anos.
Dois porquinhos:
Irmos;
Esquerda - Uma menina, 11 anos.
Direita - E um menino, 12 anos.
186
Porcos grandes:
Pais;
Em Cima me, 11 anos.
Em Baixo pai, 14 anos.
Sonho Pai
Era uma vez a me que foi ver o filho a dormir e tava a deitar fumo e a me tava
dentro do fumo.
Num carto associado relao com o imago paterno, a Isabel mantm a tendncia da
inverso de papis e sexos na figura paterna e materna verificada no frontispcio o que aliado
ao no reconhecimento da fico sugerida pelo balo traduz imaturidade no seu
funcionamento.
Beijo
Depois a filha e o filho foram abraar e a e o outro filho estava atrs do muro a vlos.
Num carto que remete para a temtica edipiana a diferena de geraes retratada na
imagem no reconhecida, deslocando a relao parental e de tipo edipiano para uma relao
fraterna.
187
Mamada 1
Depois o pai estava a olhar para o filho e a pata negra estava a mamar no pai.
Num carto que apela relao privilegiada com a figura materna, a Isabel mantm a
inverso de papis parentais, representando o pai como a figura com a funo alimentar.
Partida
Depois a filha foi andar a correr.
Hesitao
E depois a pata negra, o pai, a filha e a me foram beber gua e esta foi passear o
outro filho que faltava (aponta para o carto Partida).
Num carto que remete para a escolha do objecto privilegiado a Isabel no aborda este
conflito. Reagindo ao contedo latente do carto precedente a Isabel no permite a solido e a
separao face figura materna.
Batalha
Depois o PN, o filho e a filha estavam a brincar guerra e os pais estavam a comer e
a olhar ao mesmo tempo.
A Isabel acede ao contedo latente do carto que reenvia para a rivalidade fraterna.
Assim, ao referir-se a brincar guerra defende-se da projeco de agressividade macia na
relao fraterna tentando transmitir-lhe uma faceta ldica.
Mamada 2
Depois o porco e o PN e o pai estava a mamar outra vez.
Sonho Me
Depois o pai foi ver o filho a dormir e estava dentro de uma bolha de fumo, o pai.
Cabra
Depois passou uma cabra, estava a comer e o PN foi mamar nela.
Num carto cujo contedo simblico remete para a relao com um substituto
materno, a Isabel defende-se atravs de um discurso restrito e assente no contedo manifesto
do carto.
Acrescentou:
Buraco
Era uma vez estava de noite e o PN caiu para a gua e depois comeou a gritar para
os pais e os pais no ouviram.
Num contexto depressivo marcado pela sensibilidade ao tom preto do carto pela
referncia noite a vivncia de perigo acentua-se atravs da desproteco parental.
Ganso
Depois a filha estava a correr e depois acho que uma gaivota puxou o rabo e ela
comeou a chorar e o outro filho estava a olhar a sair detrs do muro.
Noite
Tava de noite e depois o pai e a me estavam a comer e os filhos estavam a comer
deste lado, estava um porto e os filhos estavam deste lado. O PN ou outro porco estava
deste lado e a irm ou outro porco estavam a dormir. O pai e a me estavam a comer e ele
est a ver (o PN).
Bebedouro
Depois a me e o pai estavam a dormir e o PN estava ao p deles e depois foi a correr
ao p dos irmos para comer e depois aleijou-se na pata negra, na comida dos pais.
Ninhada
Depois os senhores tavam a dar comida ao porco, o senhor estava sentado a fazer e o
outro estava a dar. Depois os filhos estavam a ver e descobriram que o pai teve mais trs
filhos bebs.
A inverso dos papis e sexos parentais acentua-se nesta histria pela representao de
uma figura paterna que alimenta e, simultaneamente, que concebe filhos atravs do
nascimento. A rivalidade fraterna no abordada.
Pequena Escada
Depois eles ficaram felizes e a me, o PN foi para cima da me e foi para cima da
rvore e depois ficaram todos felizes.
190
3 Etapa Preferncias-identificaes
Cabra
A1) Porque giro.
(?) Porque a cabra estava a comer e o porco pensou que era a me ou o pai. A cabra.
Refere-se relao com um substituto materno, ainda que faa referncia indefinio
ao nvel dos papis parentais.
Sonho Pai
A2) Porque ele, o filho estava a dormir e depois o pai dentro de uma bola de sabo. A
me, que esta a me. Parecia que era o pai mas era a me, o pai tem estas coisas (aponta
para o carto Sonho Me, para as tetas). O PN.
Sonho Me
A3) Porque o pai tem uma bola na barriga e est dentro de uma bolha. O PN.
Mamada 2
A4) Porque esto a brincar todos com o pai. A irm (est a olhar mais perto do meio).
Mamada 1
A5) Porque a PN est a mamar no pai. O pai.
191
Partida
A6) Porque uma floresta e a irm foi passear. A irm.
Pequena Escada
A7) Porque a me a pegar no filho. O PN.
A relao com uma figura parental num contexto de holding associado figura
materna.
Hesitao
A8) Porque so, o PN est a comer, a irm tinha chegado e estava a beber gua e o
irmo estava a mamar no pai. A me.
Beijo
A9) Porque o PN e o irmo esto a dar um abrao e a irm estava a ver atrs do
muro. A irm.
Noite
A10) Porque a me e o filho, a me e o pai esto a comer, o filho a olhar e a irm e
o outro esto a dormir. A irm.
192
Descreve um contexto oral num carto que apela para a curiosidade sexual e fantasmas
da cena primitiva.
Ganso
A11) Porque uma gaivota a puxar o rabo da irm e ela est a chorar e o irmo est
a ver. A irm.
Observa-se o acesso ao contedo latente do carto que remete para uma inter-relao
de tipo agressivo.
Ninhada
A12) Porque o pai com filhotes bebs. A irm.
Bebedouro
A13) Porque os pais esto a dormir e o PN foi para a cama dos irmos. O PN.
Buraco
A14) O PN caiu na gua e depois gritou me e o pai e os irmos. O PN.
Carroa
A15) Porque to a levar os porcos para a carroa para levarem-nos e o PN est a
dormir.
(?) Uns no sei quem so que j foram buscar outros. A irm ( a primeira que est a
olhar para a carroa).
193
Brincadeiras Sujas
nA1) Porque eles andam a atirar tinta uns para os outros.
Tarem limpos. A irm (a que est a atirar lama).
Ainda que o aspecto agressivo do carto seja reconhecido pela Isabel, na sua resposta
no figura uma imagem parental alvo dessa agressividade defendendo-se, assim, deste tipo de
projeco. No final opta pela formao reactiva, ainda que se identifique com a personagem
que atira a lama.
Batalha
nA2) Porque eles, os filhos esto guerra.
Que eles fossem brincar apanhada, ou s escondidas, ou s corridas, a qualquer
coisa sem ser brincar luta. A irm, porque ela a nica que no est a fazer, est a fugir da
confuso.
Bebedouro
No.
Beijo
A darem beijinhos.
194
6) Carto Fada:
Desejo 1: Foi curar a pata.
Desejo 2: No pensar que vai ter que ir ao mdico.
Desejo 3: O outro tar sempre feliz e brincar com os amigos.
195
Preferncias-identificaes
Cartes
Os Temas
Preferncias
Identificaes
Aceite (A)/No
Agradvel
Assumida
Aceite (nA)
(A)/No
(A)/No
Agradvel (nA)
Assumida (nA)
Total
Bebedouro
nA
2A
Beijo
nA
2A
Batalha
nA
nA
1A
Carroa
nA
nA
1A
Cabra
nA
2A
Partida
nA
2A
Hesitao
nA
2A
Ganso
nA
nA
1A
Brincadeiras
nA
nA
nA
3nA
Noite
nA
nA
1A
Ninhada
nA
nA
1A
Sonho Me
3A
Sonho Pai
3A
Mamada 1
nA
2A
Mamada 2
nA
2A
Buraco
nA
2A
Pequena
nA
2A
Sujas
Escada
196
197
Me
Tabela 1 Nmero de itens emitidos e recebidos positivos/negativos (leves/fortes) atribudos
aos membros da famlia.
Emitidos
Emitidos
Recebidos
Recebidos
Total de
Positivos
Negativos
Positivos
Negativos
Envolvimento
Leves Fortes Leves Fortes Leves Fortes Leves Fortes
Ningum
15
Me
Pai
24
Tom
21
Isabel
21
Av
Materno
Av
Materna
Tio Materno
16
30
16
Tia Materna
Tio Paterno
Tia Paterna
11
Av Paterna
Tom e a Isabel com a maioria de afectos numa linha erotizada associados aos filhos. Em
seguida surgem os restantes elementos da famlia situando-se na ltima posio a prpria me
e a tia materna, registando apenas afectos positivos de tipo leve. No Ningum so colocados
os afectos positivos fortes e negativos rejeitados e negados.
30
25
20
15
10
5
0
199
16
14
12
10
8
Positivos
Negativos
4
2
0
200
14
12
10
8
Positivos
Negativos
4
2
0
Figura 3 Nmero de itens positivos e negativos sentidos como recebidos por cada membro
da famlia.
A observao da Figura 3 permite destacar uma vez mais, um forte envolvimento
emocional da me com a av materna, desta feita com um afecto negativo percepcionado
como recebido fica zangada comigo (durante a colocao deste item ao pai e av materna
comenta por coisas que eu digo) colocando-se numa posio inferiorizada e culpabilizada
face prpria me. Contudo a relao com esta figura, assim como com o Tom, Isabel e av
materno volta a ser sentida de forma idealizada, negando os afectos negativos colocados na
figura Ningum. A relao com o pai e com o tio materno apresenta-se ambivalente. Os itens
nem sempre faz o que eu gostaria que fizesse, nem sempre me ajuda quando preciso,
resmunga comigo e fica zangado comigo associam-se relao com o pai, podendo dar
conta de dificuldades em lidar com os problemas da relao conjugal, sentimentos de
insegurana, inferioridade e culpabilidade e gosta de gozar comigo, nem sempre me ajuda
quando preciso surgem ligados ao tio materno, podendo remeter tambm para sentimentos de
insegurana e desvalorizao na relao com esta figura. Com a tia paterna e av paterna
destacam-se os afectos negativos recebidos diz coisas s para magoar os meus sentimentos
no caso da primeira e no precisa do meu amor e no gosta de mim no caso da av
paterna, parecendo sentir-se pouco aceite e valorizada na relao com estas figuras. Quanto
prpria me, tia materna e tio paterno no se registam quaisquer afectos recebidos, surgindo
uma indefinio dos afectos esperados por parte destas pessoas.
201
15
10
5
Emitidos Positivos
Recebidos Positivos
Emitidos Negativos
Recebidos Negativos
-5
-10
202
0
2
4
3
3
4
3
2
1
1
1
1
Atribuio de
Incompetncia ou
Fraqueza
0
2
2
0
0
0
0
0
0
0
2
0
Pai
Tabela 1 Nmero de itens emitidos e recebidos positivos/negativos (leves/fortes) atribudos
aos membros da famlia.
Emitidos
Emitidos
Recebidos
Recebidos
Total de
Positivos
Negativos
Positivos
Negativos
Envolvimento
Leves Fortes Leves Fortes Leves Fortes Leves Fortes
Ningum
25
Pai
Me
20
Tom
22
Isabel
22
Av Paterna
34
Tio Paterno
21
Tia Paterna
17
Primo
Gmeo
Primo
Gmeo
18
18
rejeio), do Tom e da Isabel (apenas com afectos positivos, obtendo o maior nmero de
afectos erotizados entre os vrios elementos, sobressaindo a Isabel), tio paterno e s depois
surge a me (ambos com afectos de rejeio semelhana da av paterna).
35
30
25
20
15
10
5
0
206
16
14
12
10
8
Positivos
Negativos
4
2
0
207
12
10
8
6
Positivos
4
Negativos
2
0
Figura 3 Nmero de itens positivos e negativos sentidos como recebidos por cada membro
da famlia.
A anlise dos afectos sentidos como recebidos (Figura 3) permite destacar um forte
mecanismo defensivo na linha da idealizao de todas as figuras da famlia, excepto o prprio
pai (no obteve itens), a me e a av paterna. Com a me sente uma relao ambivalente,
registando-se a presena de afectos negativos como fica ressentida comigo, resmunga
comigo e fica zangada comigo parecendo transmitir a ideia de uma pessoa pouco tolerante
e com irritabilidade emocional. A me situa-se entre os trs elementos (tio paterno e tia
paterna) dos quais o pai recebe menos afectos erotizados, o que pode associar-se percepo
de uma relao pouco erotizada e afectuosa por parte da me. Por outro lado, dos filhos Tom
e Isabel sente que recebe mais afectos positivos fortes, nomeadamente da filha onde se
destaca o item referente a gosta de me beijar apenas atribudo a esta, podendo traduzir um
contacto sedutor com o pai por parte da Isabel. Com a av paterna apesar de sentir que quer
mesmo o meu amor, muito carinhosa comigo e ama-me muito (afectos erotizados que
traduzem uma forte dependncia emocional ao materno) percepciona-a como uma pessoa
ressentida, nem sempre faz o que eu gostaria que fizesse, resmunga e fica zangada,
ligando-a a uma figura austera e punitiva. O tio paterno registou um afecto negativo
resmunga comigo. Na personagem Ningum so remetidos, uma vez mais, os afectos
negados, inibindo a projeco de agressividade nos elementos da famlia.
208
20
15
10
5
Emitidos Positivos
Recebidos Positivos
Emitidos Negativos
-5
Recebidos Negativos
-10
-15
209
0
1
2
1
1
3
0
0
0
Atribuio de
Incompetncia ou
Fraqueza
5
0
0
0
0
0
0
0
0
A relao com a filha Isabel idealizada e correspondida. Sente que a filha estabelece
um contacto fcil e sedutor com o pai.
Com a av paterna assiste-se projeco de um forte envolvimento que pode traduzir
uma dependncia emocional elevada face a esta figura e dificuldades no precesso de
autonomizao do espao materno. Expressa, assim, o desejo elevado de proteger esta figura.
A av paterna , ainda, percepcionada de forma austera e autoritria.
A relao com o tio paterno apresenta um elevado grau de envolvimento afectivo,
dependendo ainda muito desta figura a nvel emocional, ainda que emita e receba afectos
negativos. O pai parece sentir-se desvalorizado emitindo mais afectos positivos do que
aqueles que recebe do tio paterno (irmo do pai).
A relao com a tia paterna apresenta-se pouco significativa face relao que
mantm com os restantes elementos da famlia. Contudo, surge de forma idealizada e pouco
correspondida quanto ao maior nmero de afectos positivos emitidos pelo pai.
Com os primos gmeos a relao idealizada e pouco correspondida, assinalando-se
um maior nmero de afectos positivos emitidos pelo pai.
211
O Joo encontra-se com nove anos e seis meses e frequenta o 4 Ano do 1 Ciclo do
Ensino Bsico. Trata-se de uma criana com idade aparente coincidente com a idade real.
Apresenta um aspecto cuidado e investido, vestindo-se de acordo com o gnero e idade.
Utiliza culos. O Joo pareceu-me uma criana frgil, ansiosa, insegura, perfeccionista,
hipermatura com um olhar triste, evitando, por vezes, manter contacto ocular. No entanto,
estabelece um bom contacto com a observadora, verbalizando com fluncia e espontaneidade,
ainda que sobressaia a necessidade marcada de preencher o espao, o vazio sentido no
silncio e nas folhas de desenho. Utiliza um vocabulrio muito rico, denotando um bom nvel
cognitivo. Durante a realizao das provas faz diversos comentrios verbais com cariz de
auto-desvalorizao est um bocado mal pintado, indeciso ou que expressam a necessidade
de apoio por parte da observadora, queixando-se de dores num brao enquanto preenchia o
Desenho de Famlia. Manifestou tambm a carncia de apoio e ateno por parte dos pais o
meu pai est sempre a trabalhar, quase s chega a casa hora do jantar () a minha me
trabalha muito em casa, a minha me est sempre no computador, faz reunies no Skype e no
podemos incomodar e, ainda, rivalidade fraterna o meu quarto mais pequeno que o quarto
da minha irm. Durante a passagem das provas revelou, tambm, alguma confuso e
lentificao do pensamento.
Com o evoluir das sesses apresentou um comportamento mais agitado, pouco
controlado e disperso, revelando-se, por vezes, cansado. No entanto, manteve-se atento nas
provas propostas e no que lhe era dito, respondendo adequadamente.
Durante a entrevista com os pais o Joo que se encontrava sozinho numa sala ao lado,
sentiu a necessidade de bater porta e entrar, podendo remeter para ansiedade de separao.
Os pais demonstraram-se pouco receptivos a este comportamento do filho, revirando os olhos
e pedindo-lhe que continuasse os desenhos (principalmente a me), pelo que o Joo aceitou
sair da sala de entrevista.
Contra-transferencialmente senti uma angstia muito forte no Joo. Senti-o muito
triste e em desassossego permanente.
A pedido da professora da escola o Joo foi encaminhado pelo mdico de famlia do
Centro de Sade de referncia Unidade de Pedopsiquiatria com queixas de hiperactividade,
dfice de ateno, dificuldades escolares e baixa auto-estima. acompanhado em consultas
teraputicas de psicologia de frequncia quinzenal h cerca de oito meses, beneficiando,
ainda,
de
interveno
familiar
com
os
pais
em
consultas
de
pedopsiquiatria.
Aproximadamente quinze dias antes do incio da recolha dos dados para a presente
212
investigao foi medicado com Concerta 18mg Comprimidos, parando a medicao cerca de
dois meses e meio depois (no incio do Vero).
O Joo vive com a irm de cinco anos e com os pais, ambos fisioterapeutas e com
Mestrado na rea (a me encontra-se a fazer o Doutoramento e trabalha num hospital
peditrico. O pai professor universitrio). A relao do Joo com os pais descrita pela me
como boa, apesar de nunca ter gostado de contacto fsico, no uma criana que pea
mimos. Quanto relao do Joo com a irm a me assinala que quando eu estava grvida
ele no se interessava muito pela beb, no a queria em casa. Mas assim que ela nasceu
adorou-a e acrescenta que o Joo revela-se muito protector, muito responsvel e integra-a
na escola. No que designa a relao do Joo com outros adultos os pais reconhecem como
sendo sempre muito boa, porm, com outras crianas, apesar de ter amigos preferenciais no
convida ningum da escola para a festa de anos, apenas os filhos dos amigos dos pais e os
avs. Foi diagnosticada depresso tia paterna do Joo, enquanto na famlia alargada da me
desconhecem-se casos de patologia psiquitrica. Aparentemente a me tem dislexia, segundo
a prpria.
A me do Joo encontra-se fisicamente investida e cuidada, com vesturio adequado
sua faixa etria e gnero. Concordou participar no estudo contudo, pediu para ter acesso aos
resultados no final da investigao. Inicialmente, ao ler o consentimento informado mostrouse reactiva investigao quanto temtica do diagnstico do filho, criticando o facto de
considerar que o problema do filho no corresponde a qualquer um dos sintomas descritos na
folha, parecendo irritada e desconfiada com esse facto. Eu pergunto-lhe quais so ento os
sintomas que o filho apresenta. A me indica-me que o filho tem dificuldade em concentrarse numa tarefa, em concluir uma tarefa. Tem falta de motivao tambm. Eu explico-lhe que
esse tipo de sintomas enquadram-se no pretendido para o estudo e a me continua a insistir
que no o que eu tenho escrito no consentimento informado o meu filho no tem
instabilidade, no agressivo, nem inibido com problemas escolares, do sono, alimentares,
ou estes que tem aqui!. Respondo-lhe que no precisa de ter todos esses, pode at apresentar
apenas um, so sintomas alargados. A me confessa-me que no tem a ver com o que tenho
escrito porque os pais consultaram o DSM-IV e o comportamento/sintomas do filho insere-se
num diagnstico de hiperactividade com dfice de ateno. Neste momento, senti que
estabeleceu um contacto reservado comigo, sem me olhar nos olhos. Com o evoluir da sesso
este contacto tornou-se mais disponvel e adequado, verbalizando com maior espontaneidade.
Apresenta um vocabulrio rico, utilizando termos tcnicos empregues na rea da sade
mental. Mais adiante, enquanto acompanhava o Joo para uma sesso do presente estudo, nas
213
tem medo, medo de no ser bom de no ser suficientemente bom e de nos desiludir. Sozinho,
em consulta com a psicloga o Joo desabafa os meus pais so ptimos, comigo que so
problemas, as vezes fico triste, podia ser uma pessoa melhor, queria ser um bocado melhor e,
ainda, os pais dizem-me: melhor teres cuidado, no te lembras da ltima vez? Por favor
hoje faz-nos sentir bem. Penso que os meus pais vo ficar tristes ou no vo. Mas, no o
suficiente para eu me esforar. uma grande preocupao o 5 Ano, se eu no fizer nada irei
chumbar o 5 Ano, vai ser desconfortvel. Tambm no sei porque me distraio, mas no me
compreendo.
Num relatrio escolar do 3 Ano pode-se ler o Joo um aluno que desde o primeiro
ano de escolaridade tem demonstrado um aproveitamento positivo mas aqum do seu
potencial. A rea da lngua portuguesa aquela em que o aluno revelou mais dificuldades
inicialmente. Desenvolveu as competncias de leitura e de escrita, mostrando dificuldades no
que concerne ortografia e caligrafia, embora registe melhorias. Este processo tem sido mais
lento uma vez que nos dois primeiros anos de escolaridade o aluno fez uma grande resistncia
aos trabalhos de consolidao da escrita () uma criana que tem revelado alguma
ambiguidade pois, por um lado, tem uma grande capacidade de auto-anlise e de compreenso
dos seus intuitos e aces mas, que por outro, demonstra uma grande imaturidade quando se
depara com situaes de frustrao. No que concerne relao com os pares revela
sentimentos de inferioridade e de no-aceitao; contrariamente aos seus desejos, no
consegue liderar as brincadeiras, o que tenta compensar fazendo as diabruras que os colegas
pedem que faa por eles. Quando confrontado com os seus actos diz que no queria ter feito
mas que lhe tinham dito para o fazer (este comportamento tem-se verificado cada vez menos).
frequente encontrar o Joo a acompanhar crianas que so de algum modo mais frgeis,
podendo assim liderar e evitar confrontar-se com situaes de frustrao () , na minha
opinio, uma criana com uma auto-estima frgil que necessita de aumentar os seus tempos de
concentrao para que a avaliao dos seus trabalhos faa justia ao esforo que o aluno tem
feito. Em consultas com a psicloga o Joo revela que gozado pelos colegas por chorar
muito nas aulas.
Segundo a informao presente no relatrio escolar do 4 Ano as dificuldades de
concentrao nas tarefas propostas mantm-se, ficando muitas vezes por concluir. Esta
situao faz com que o Joo se sinta mais frustrado, agravando o desenvolvimento e aplicao
dos seus conhecimentos. Deste modo, a professora assinala: premente que o Joo consiga
realizar os seus trabalhos no tempo estipulado para que nem a sua auto-estima, nem o seu
sucesso escolar fiquem comprometidos.
216
A gravidez do Joo no foi planeada, embora tivesse sido muito desejada. Durante a
gravidez a me sentiu-se muito ansiosa, tendo contraces desde as dezoito semanas. O Joo
nasceu de parto eutcico, a termo (com trinta e nove semanas). Pesava 3,950kg e media 50cm.
Aps o nascimento do filho a me sentia-se muito bem, era um beb com muitas
competncias. Assim, a me recorda o filho no primeiro ano de vida como uma criana com
elevada competncia motora, muito observador e com muito interesse pelo meio, muito
consciente mesmo do perigo, no se magoa. Para o pai o Joo muito curioso, activo,
muito participativo com adultos. Facilmente era o centro das atenes, causava espanto pelo
seu interesse elevado para a mdia.
No que concerne aos aspectos do desenvolvimento, em beb o Joo no fazia sestas
durante o dia e, mais tarde, nunca conseguiu dormir no jardim-de-infncia. Os pais queixamse que sempre dormiu pouco e que nunca tem sono, ainda que, desde os oito anos que dorme
aproximadamente nove horas dirias, acordando bem-disposto e com energia. Comeou a
dormir em quarto prprio a partir dos quatro meses. Porm, quando a irm nasceu passaram a
partilhar o quarto (quando o Joo tinha cerca de quatro anos). Voltou a dormir sozinho h um
ano. Comeou a gatinhar com cerca de oito meses e a andar sem apoio aos dez meses. As
primeiras palavras do Joo foram proferidas aps os dezoito meses. O controlo esfincteriano
diurno ocorreu aos vinte e oito meses embora, por vezes, j manifestasse a preocupao de
acordar durante a noite para ir casa-de-banho. Contudo, o controlo dos esfncteres nocturno
consuma-se aos trs anos de idade. Ao nvel alimentar os pais queixam-se de uma m
alimentao. Nunca usou chucha nem levou nada boca.
Aps o nascimento, a me teve o apoio da av materna do Joo que cuidou do neto
enquanto a me tinha aulas na faculdade e estudava. Ficou aos cuidados desta av at aos trs
anos, idade a partir da qual ingressou no jardim-de-infncia e desenvolveu variadas
somatizaes (acima referidas).
217
Identificao da Criana
Nome: Joo
Gnero: Masculino
Nacionalidade: Portuguesa
Quem so os elementos que compem o agregado familiar (elementos que vivem na mesma
casa)?
(Constituio do genograma familiar)
68
41
64
39
60
38
58
37
218
30
30
Me
Idade: 37 Anos
Nacionalidade: Portuguesa
Profisso: Fisioterapeuta
Pai
Idade: 38 Anos
Nacionalidade: Portuguesa
Irmo()
Gnero: Feminino
Idade: 5 Anos
Nacionalidade: Portuguesa
Relaes Familiares
Qual a situao familiar actual (apoios sociais e/ou familiares, existncia de doenas fsicas
e/ou psicolgicas, problemas sociais, econmicos, exposio a fontes de stress, entre outros)?
Os pais encontram-se muito envolvidos na profisso, ocupando muito o seu tempo.
Sentem que tm muita dificuldade com a situao do Joo pois transferem para ele o stress
que sentem, vm nele um espelho das suas incapacidades e fraquezas. Por isso existe stress
na relao com ele, no conseguindo implementar estratgias para sair da situao. Com a
Maria (irm do Joo) no sentem isso. As questes monetrias no os afectam tanto pois
investem e organizam-se bem. A me acha que o filho tem dislexia, apesar de ter realizado
vrios testes e no acusar. A professora diz que ele s vezes d erros e outras vezes no. O
Joo confronta a me dizendo-lhe que ela tambm comete erros a escrever, como se fosse por
influncia da me. O Joo manipula pelo interesse.
avs com a situao, testa-os (diz-lhes que um diz uma coisa e o outro diz outra). A me do
Joo encara a situao com estranheza e tenta-se pr parte.
222
12
Me
Pai
28
223
Joo
33
Irm
31
Av
Materno
Av
Materna
17
31
35
30
25
20
15
10
5
0
Ningum
Me
Pai
Joo
Irm
Av
Materno
Av
Materna
224
16
14
12
10
Positivos
Negativos
6
4
2
0
Ningum
Me
Pai
Joo
Irm
Av
Av
Materno Materna
emocional do espao materno por parte da irm. Na relao com a av materna so emitidos
mais afectos negativos que positivos, parecendo expressar o desejo de obter maior autonomia
emocional face a esta figura, ainda que se sinta muito ligada e dependente sinto-me muito
prximo(a) desta pessoa e estou disposto(a) a fazer tudo por esta pessoa, sendo uma
relao um pouco ambivalente. A relao com o av materno dominada por afectos
positivos e negativos, assim como, a prpria auto-estima da me, que se revesta ainda de
culpabilizao queixa-se demais. No Ningum so colocados apenas os afectos agressivos
negados e recusados de se expressarem nos elementos da famlia.
12
10
8
Positivos
Negativos
4
2
0
Ningum
Me
Pai
Joo
Irm
Av
Av
Materno Materna
Figura 3 Nmero de itens positivos e negativos sentidos como recebidos por cada membro
da famlia.
Na anlise dos afectos recebidos destaca-se uma relao mais prxima com os filhos
Joo e a irm, encontrando-se, no entanto, idealizada. Os afectos negativos leves como nem
sempre faz o que eu gostaria que fizesse, resmunga comigo e faz-me sentir frustrado(a)
surgem ligados ao Joo, o que pode associar-se ao desejo de transgresso do espao materno,
ainda, que se sinta muito ligado e dependente desta relao, pois alm da me e do pai, o Joo
obteve o item gosta de estar sozinho comigo. Com a irm, apesar de uma maior atribuio
de afectos positivos fortes, so associados os itens negativos leves: faz coisas nas minhas
costas e resmunga comigo, podendo remeter para a necessidade de separao emocional
face me. O pai a figura que se segue ao nvel do maior envolvimento emocional e alm
226
dos afectos erotizados associados e partilhados por outros elementos da famlia, destaca-se o
afecto agressivo apenas relativo ao pai diz coisas s para magoar os meus sentimentos o que
traduz insegurana na relao e dificuldades na resoluo dos conflitos conjugais. Segue-se a
relao sentida como ambivalente com a av materna marcada por um ligeiro avano dos
afectos positivos como quer mesmo o meu amor (apenas atribudo av materna e aos
filhos Joo e irm) e quer estar sempre ao p de mim (apenas atribudo av materna), o
que pode remeter para o desejo de prolongar a relao de dependncia com a filha por parte
da av materna. Contudo, os afectos negativos faz-me sentir sem valor, faz-me sentir
intil, faz coisas nas minhas costas, fica zangada comigo e faz-me sentir frustrado(a)
traduzem a vivncia de uma relao autoritria, punitiva, insegura e desvalorizada por parte
da av materna. Com o av materno a relao idealizada. Na auto-estima da me surge uma
maioria de afectos positivos, ainda que, se culpabilize nem sempre faz o que eu gostaria que
fizesse. No Ningum figuram as defesas dos afectos negativos recusados de se expressarem
nos elementos da famlia.
15
10
5
Emitidos Positivos
Recebidos Positivos
Emitidos Negativos
Recebidos Negativos
-5
-10
no entanto, com o pai sente que os afectos negativos recebidos superam os afectos negativos
emitidos. Na relao ambivalente com a av materna os afectos positivos recebidos superam o
nmero de afectos positivos emitidos, por outro lado, os afectos negativos emitidos acentuamse face aos afectos negativos recebidos, o que pode antever o desejo de separao e maior
autonomia emocional desta figura. Com o av materno observa-se uma correspondncia nos
afectos positivos, nos afectos negativos apenas se registam os emitidos. Na auto-estima da
me sobressaem os afectos positivos face aos negativos. No Ningum so colocados os
afectos negativos rejeitados, negando sobretudo a expresso da agressividade recebida pelos
elementos da famlia.
Tabela 2 Nmero de itens associados a sentimentos de proteco e atribuio de
incompetncia ou fraqueza.
Sentimentos
de Proteco
Ningum
Me
Pai
Joo
Irm
Av Materno
Av Materna
0
4
3
5
4
3
3
Atribuio de
Incompetncia ou
Fraqueza
1
1
2
3
0
0
0
228
Ainda que surja espao para a expresso das pulses agressivas face aos elementos da
famlia, a utilizao da figura Ningum permitiu a defesa pela negao/recusa sobretudo dos
afectos negativos fortes/agressivos.
Na auto-estima da me ainda que sobressaiam os sentimentos positivos, observa-se a
vivncia de culpabilizao possivelmente na relao com o filho Joo.
Com o pai a relao representada de forma idealizada quanto aos afectos emitidos
pela me face ao destaque dos afectos de amor sobre os afectos de dio. No entanto, considera
que recebe um maior nmero de afectos negativos do pai face aos afectos negativos que lhe
envia. Desta forma, coloca-se em hiptese conflitos na relao de casal associados a um
vivido de insegurana na relao e dificuldades na gesto e resoluo destes conflitos. O pai
surge, ainda, ligado a sentimentos de incompetncia/fraqueza que remetem para dificuldades
na adaptao social e para a insuficincia de auxlio famlia.
A relao com o Joo reveste-se de um forte envolvimento emocional e encontra-se
idealizada. Alm dos afectos que traduzem uma forte ligao e dependncia materna da parte
do Joo, surgem afectos de rejeio que podem associar-se ao desejo de transgresso do
espao materno. Contudo, o Joo afigura-se como o elemento da famlia que carece de maior
proteco dada a elevada atribuio de sentimentos de incompetncia/fraqueza associados a
dificuldades em lidar com as adversidades e na adaptao social.
Com a irm a relao igualmente associada a um forte envolvimento emocional e
idealizada. No entanto, os afectos negativos de cariz leve podem remeter para a necessidade
de separao emocional do espao materno por parte da irm.
A relao com o av materno reveste-se de um fraco envolvimento emocional, ainda
que surja idealizada quanto aos afectos positivos recebidos por parte desta figura.
A relao com a av materna traduz um forte envolvimento emocional sentindo-se
muito ligada e dependente desta figura que, por sua vez, parece transmitir o desejo de
prolongar a relao de dependncia com a me. No entanto, uma relao marcada por
conflito atravs da presena de ambivalncia e sentimentos de dio na linha da rejeio e
agressivos, sobretudo emitidos pela me, o que pode remeter para o desejo de separao e
maior autonomia emocional desta relao sentida como autoritria, punitiva, insegura e
depreciativa por parte da av materna.
229
23
Pai
Me
19
Joo
12
Irm
11
230
25
20
15
10
0
Ningum
Pai
Me
Joo
Irm
7
6
5
4
Positivos
Negativos
3
2
1
0
Ningum
Pai
Me
Joo
Irm
12
10
8
Positivos
Negativos
4
2
0
Ningum
Pai
Me
Joo
Irm
Figura 3 Nmero de itens positivos e negativos sentidos como recebidos por cada membro
da famlia.
232
Observando os itens positivos e negativos sentidos como recebidos por parte dos
elementos da famlia (Figura 3) verifica-se uma relao ambivalente com a me, ainda que se
destaquem os afectos positivos recebidos como gosta de me abraar e ama-me muito que
traduzem cumplicidade e carinho na relao conjugal. Contudo, a presena dos afectos
negativos leves fica ressentida comigo, nem sempre me ajuda quando preciso, resmunga
comigo e fica zangada comigo pode remeter para conflitos na relao de casal associados
ao sentimento de insegurana na relao e a percepo da me como uma figura dominante e
punitiva face ao pai. Na relao com o Joo acentuam-se os afectos positivos fortes recebidos
quer mesmo o meu amor, gosta de estar sozinha comigo e quer estar sempre ao p de
mim representando-o como uma figura que o valoriza e investe na relao com o pai. Na
relao com a irm surgem apenas dois afectos positivos fortes que remetem para a erotizao
da relao por parte desta figura: gosta de me beijar e muito carinhosa comigo. No
Ningum figuram os afectos sobretudo de cariz negativo forte negados de se expressarem nos
elementos da famlia, apresentando um elevado grau de defesa.
8
6
4
2
Emitidos Positivos
Recebidos Positivos
-2
Emitidos Negativos
-4
Recebidos Negativos
-6
-8
-10
-12
Ningum
Pai
Me
Joo
Irm
emitidos face aos recebidos. Com o Joo o nmero de afectos negativos emitidos e recebidos
equivalente, enquanto na irm apenas se registam os afectos negativos emitidos pelo pai. Na
auto-estima do pai figuram apenas os afectos negativos que remetem para uma baixa autoestima. No Ningum destacam-se os afectos negativos recusados bloqueando, assim, a
expresso da agressividade sobre os elementos da famlia.
Tabela 2 Nmero de itens associados a sentimentos de proteco e atribuio de
incompetncia ou fraqueza.
Sentimentos
de Proteco
Ningum
Pai
Me
Joo
Irm
3
0
1
0
1
Atribuio de
Incompetncia ou
Fraqueza
2
1
0
1
1
234
235
Identificao da Criana
Nome: Joo
Interesses/Actividades
Frequentas alguma actividade desportiva ou cultural (dana, teatro, msica, etc.)? Qual?
Karat (duas vezes por semana).
J andei na natao (saiu porque asmtico), escuteiros e catequese.
Amigos
236
Escola
237
Famlia
Como que os teus pais se do um com o outro? O que pensas/sentes com isso?
Do-se bem. Todos os dias chegam a casa e cumprimentam-se. Mas de vez em quando
chateiam-se um bocadinho. Sinto coisas boas, ainda bem que tenho uns pais que se do bem
comigo e com eles prprios.
Dormes com algum ou partilhas o quarto com algum? Se sim, com quem?
Antes partilhava com a mana. A tartaruga est no quarto.
238
Fantasias/Sonhos/Medos
Desenho Livre
Inqurito
Aps a instruo para realizar um desenho o Joo fez o seguinte comentrio: eu no
sei bem o que vou desenhar quase nunca costumo desenhar.
240
2) Histria
Era uma vez no Vero ao p das ilhas Fiji havia uma ilha com ilhas, tinha um rapaz
filho do chefe que via o o mar, os pssaros e os tubares que andavam por a e as
barreiras de coral. Um dia foi com o pai procura de outras terras habitadas para ver
se conseguia comercializar e depois voltar para o seu pas sem ningum saber de onde
que ele era. Depois ele foi mas, o filho queria ir com ele mas, o chefe no deixava.
Depois durante a noite, a noite antes da partida, o barco j estava feito, no mar
atracado. Durante a noite construiu uma espcie de cave com uma porta transparente
que conseguia ver, feita de resina pura. Uma vez estava a andar, partiu e tambm tinha
uma conduta para respirar e passou l o tempo e viu tudo o que estava aqui e tambm
tinha na jangada. O barco era assim desta mesa at ali (exemplifica com as mos).
Depois tinha um buraco para ele ver o que estava a acontecer na parte de fora. Depois
eles notaram que o barco estava um bocado mais pesado e comearam a investigar
para ver o que acontecia e atiraram umas lanas gua, olharam para baixo e viram as
coisas normalmente. O rapaz conseguiu montar a cabina. Entretanto olharam para trs
e para a frente. Olharam o buraco de respirar e ver, o pai olhou para a popa e viu e
como o mido tambm estava a olhar ao mesmo tempo viram o olho um do outro e
assustaram-se. Atracaram numa ilha deserta e logo depois o pai viu que o mido
estava dentro do barco e o pai disse para ele nunca mais voltar a fazer aquilo e ele ir
para casa, mas no, continuaram a sua viagem, foram para outro stio para no
perderem a oportunidade, alis o filho disse que viu coisas muito bonitas l de baixo, o
pai espreitou e at gostou tambm. Depois o pai perguntou onde est a comida e as
coisas que vo comercializar e o filho diz: porque me deste ouvidos, bolas! Porqu?
Agora iremos passar dias e dias sem comer e iremos falecer!. Agora o barco j est
na areia, assim depois comercializaram, eles comeram, dormiram l e passaram pela
ilha e comeram mais ou menos hora do almoo. O problema que depois de terem
comido o filho que no gostava de estar na cabina vomitou e depois o pai olhou e
perguntou: ests bem?. No, no estou. Ah ainda bem que ali a ilha. Vamos
meter ns no podemos estar sempre a tirar coisas da ilha. Armas no barco suspensas
para se protegerem (termina a histria e continua a falar enquanto se afasta da mesa e
se aproxima dos carrinhos de brincar).
241
Anlise da prova
Durante o Desenho Livre o Joo realiza uma presso adequada no lpis e revela-se
muito meticuloso, com muito cuidado e ateno ao pormenor. Todavia, exprime sentimentos
de pessimismo (e.g., isto no est a sair muito bem), insegurana e auto-exigncia (e.g.,
no consigo desenhar muito bem peixes), nos comentrios verbais. Pede-me a borracha e
apaga muitas vezes o desenho (e.g., tubaro, mar, alforreca). Revela uma necessidade
marcada de preencher o vazio da folha e o silncio, atravs da sucessiva verbalizao
espontnea e pedidos de apoio sobre o que deve desenhar a seguir. Por vezes, manifestou uma
atitude mais pensativa (com lentificao do pensamento) e indecisa quanto ao que desenhar,
evidenciando-se alguma confuso do pensamento durante a narrativa. No final, demonstrou
uma grande resistncia em deixar de falar, acabando por sair da secretria e dirigir-se para a
pista dos carros enquanto narrava a histria (pareceu-me um movimento inconsciente pela
maneira subtil como o Joo se dirigiu para a pista). S terminou a histria quando eu
perguntei pela segunda vez se a histria terminou. Demormos 30 minutos nesta prova,
acabando por ocupar a sesso por completo.
Aps a instruo do Desenho Livre o Joo fez o seguinte comentrio: eu no sei bem
o que vou desenhar quase nunca costumo desenhar, o que pode remeter para uma defesa
na relao com o outro para se proteger da crtica e no elevar muito as expectativas da
investigadora face ao seu desempenho na prova.
No plano grfico o Joo faz um desenho adequado para a idade, correspondente
etapa do Realismo Visual (Luquet, 1984). Trata-se de um desenho simbolicamente investido e
rico em termos grafo-perceptivos, com movimento. Num cenrio marinho (regressivo) como
pano de fundo observam-se alguns elementos de cariz agressivo (tubaro, peixe comido por
um papagaio-do-mar, caranguejo).
O contedo da narrativa afasta-se do contexto do desenho, dando lugar a uma viagem
onde exprime o desejo de se aproximar do imago paterno, de crescer, de se autonomizar,
mudar e modificar as relaes com os outros voltar para o seu pas sem ningum saber de
onde que ele era, mas ainda tem reservas e sente-se culpabilizado porque me deste
ouvidos, bolas! Porqu? Agora iremos passar dias e dias sem comer e iremos falecer! () o
problema que depois de terem comido o filho que no gostava de estar na cabina vomitou e
depois o pai olhou e perguntou: ests bem? e o filho: no, no estou. A culpabilidade
(superego) surge, assim, associada curiosidade e explorao do exterior e ao desejo de
transgresso na relao de dependncia com o materno. O pai chefe associado a uma
figura de poder, superegica, hierarquizando a relao com este. Observa-se tambm o desejo
242
de agradar ao pai alis o filho disse que viu coisas muito bonitas l de baixo, o pai espreitou
e at gostou tambm. Na narrativa sobressai um discurso, por vezes, confuso e, ainda, a
dificuldade de mentalizar, recorrendo ao agir o barco era assim desta mesa at ali
(exemplifica com as mos). A narrativa termina com armas no barco suspensas para se
protegerem, as dificuldades internas no esto ultrapassadas, preciso ficar atento e
prevenido.
1 Desenho
243
Inqurito
Aps a instruo para que realizasse um desenho de uma pessoa o Joo comenta: no
sou l muito bom a desenhar pessoas. Posso desenhar uma pessoa qualquer, mesmo que no
exista? (podes) Ento posso desenhar um Alien?
E uma m recordao?
Um dia em que j ia caindo do penhasco abaixo, foi passar umas frias Amrica e ia caindo
do Grand Canyon.
3) casado/a? Sim.
4) Tem filhos? Sim.
5) Rapazes ou raparigas? Um rapaz e uma rapariga.
6) Qual o seu trabalho? Antes trabalhava no banco, depois foi trabalhar para uma
fbrica e agora taxista e tambm est na guerra do ultramar.
7) Se ainda estuda, em que ano est?
8) Qual o seu maior desejo? que quando ele morrer todos continuem a ter uma vida
boa, que a famlia dele permanea at ao fim do mundo.
9) saudvel? Sim.
10) Tem bom aspecto? Sim.
11) Qual a parte do seu corpo que est mais bem feita?...no sei. So mais as mos,
apesar de ter quatro dedos. Todos os bonecos tm quatro dedos. Mas imagina que tem
cinco dedos em cada mo.
12) E qual a menos bem feita? Eu no sei, esta parte do tronco (direita).
13) feliz? .
14) Quais so os seus aborrecimentos? No tem nenhum. difcil eu no gosto muito
das pessoas tristes. que o mundo acabe antes que ele morra. Eu tambm penso isso.
Pode acabar em 2012.
15) O que o/a faz zangar? Quando sabe que as pessoas ou stio que as pessoas que ele
mais gosta est a ter problemas por causa dele mesmo.
16) Quais so as suas manias? Tem a mania de ser o mais esperto.
17) Quais so os seus trs piores defeitos? um bocadinho resmungo, s isso.
18) Quais so as suas melhores qualidades? No sei. fazer as pessoas muito felizes.
19) Tem muitos amigos? Tem.
20) Mais velhos ou mais novos? Uns mais velhos, outros mais novos. Muitos amigos
foram com ele para Lisboa.
21) O que que dizem dele/a? Que ele muito simptico, mas tambm um bocadinho
resmungo.
22) Ele/a gosta da famlia? Gosta.
23) E da escola?
24) Sai muito com os amigos? No os deve encontrar muito, mas d-se bem com eles.
25) Quando que diz que se divertiu muito? Quando era criana e partiu para uma nova
cidade, divertiu-se a brincar com os amigos durante a viagem e a chegar a Lisboa.
26) Quer casar?
27) Com que idade?
245
2 Desenho
246
Inqurito
Aps a instruo para que realizasse um desenho de uma pessoa do sexo oposto ao
desenhado no primeiro desenho o Joo comenta: desta vez vou mudar o sonho. Em vez de ir
lua vai ser andar de pnei, que o que eu gostava quando era pequeno () eu no sei
desenhar pessoas, muito difcil desenhar pessoas.
E uma m recordao?
Soube que houve uma exploso perto de casa de um parente seu, do seu primo.
6) Qual o seu trabalho? recepcionista, quero dizer, ela trabalha numa empresa.
7) Se ainda estuda, em que ano est?
8) Qual o seu maior desejo? ... dar uma volta ao mundo.
9) saudvel? .
10) Tem bom aspecto? Sim.
11) Qual a parte do seu corpo que est mais bem feita? ...As mos.
12) E qual a menos bem feita? O resto! S as mos esto bem feitas, a cabea, tronco e
membros esto todos horrveis.
13) feliz? , muito feliz.
14) Quais so os seus aborrecimentos? que as pessoas a chateiem.
15) O que o/a faz zangar? As pessoas fazerem coisas ms, so um bocado mal-educadas.
16) Quais so as suas manias? De ser muito bonita.
17) Quais so os seus trs piores defeitos? de ser teimosa.
18) Quais so as suas melhores qualidades? De ser muito paciente.
19) Tem muitos amigos? Sim.
20) Mais velhos ou mais novos? Muitos da sua idade, mais velhos tambm.
21) O que que dizem dele/a? Que um bocado teimosa e muito vaidosa, mas que
muito paciente, que conseguiu no sei quanto tempo para apanhar um sapo.
22) Ele/a gosta da famlia? Sim.
23) E da escola?
24) Sai muito com os amigos? Sim.
25) Quando que diz que se divertiu muito? Um dia quando os amigos construram
uma grande casa numa rvore e logo a seguir quando foram pescar pescaram o peixe
mais grande que j tinham visto na aldeia.
26) Quer casar?
27) Com que idade?
28) Que gnero de homem quer casar?
29) Quais so os seus trs principais projectos/sonhos? O primeiro que eu tive foi andar
de pnei, o outro ser a pessoa mais paciente do mundo, o terceiro foi nunca morrer.
30) Com quem se parece? De facto com ningum.
31) Gostarias de te parecer com ele/a? No.
32) Se pudesses, mudarias alguma coisa no teu desenho? Sim alterava o corpo, fiz
muito, e os ps.
248
Anlise da prova
Aps a instruo do Desenho da Figura Humana o Joo comenta: no sou l muito
bom a desenhar pessoas. Posso desenhar uma pessoa qualquer, mesmo que no exista?
(podes) Ento posso desenhar um Alien? (defende-se pela recusa) e no segundo desenho: eu
no sei desenhar pessoas, muito difcil desenhar pessoas, o que aliado ao empobrecimento
do nvel grfico e investimento observado nesta prova em comparao com o Desenho Livre,
tal como, s respostas ao inqurito das figuras como Gostarias de te parecer com ele/a?
hum... no sei no, no apetece, estou muito bem como estou e antes trabalhava no
banco, depois foi trabalhar para uma fbrica e agora taxista e tambm est na guerra do
ultramar, teve a trabalhar, foi hospedeira de um hotel, depois foi bancria e agora
recepcionista quero dizer agora empresria de uma empresa podem antever dificuldades
em se projectar atravs da figura desenhada, em lhe atribuir uma identidade, em suma, ao
nvel da auto-imagem corporal. Durante a realizao do primeiro desenho o Joo manifestase, ainda, inseguro e auto-exigente est um bocado mal pintado, o que tambm se
manifestou na fase de inqurito das duas figuras s as mos esto bem feitas, a cabea,
tronco e membros esto todos horrveis.
Quanto ao grafismo, verifica-se um maior investimento na primeira figura em
detrimento da segunda, atravs da utilizao das cores, propores mais adequadas, traado
do cabelo e detalhes nos sapatos. Ainda assim, a diferenciao de sexos encontra-se
assegurada (apenas pelas diferenas no cabelo), tal como a identificao sexual ao masculino.
O contorno anguloso das figuras sugere um maior controlo das emoes e expresso
agressiva. So figuras de aparncia rgida, imvel e assustada, apesar do sorriso pouco
expressivo. Ainda que tenha desenhado apenas quatro dedos em cada mo, na fase de
inqurito da primeira figura corrige este facto Qual a parte do seu corpo que est mais bem
feita? ...no sei. So mais as mos, apesar de ter quatro dedos. Todos os bonecos tm quatro
dedos. Mas imagina que tem cinco dedos em cada mo, o que pode traduzir-se como um
menor investimento nos desenhos.
No que concerne fase de inqurito surge uma deslocao da prpria
necessidade/desejo de mudana, de crescer e autonomizar-se da relao dependente que
mantm com a figura materna para a revoluo do 25 de Abril, com recurso
intelectualizao. Este ltimo mecanismo de defesa manifesta-se tambm na frase Um dia
em que j ia caindo do penhasco abaixo, foi passar umas frias Amrica e ia caindo do
Grand Canyon que pode remeter para a angstia de desamparo, de perda de objecto e de
aniquilamento depressivo. Utiliza defesas na linha da negao da realidade objectiva est a
249
dizer ol muito feliz, difcil eu no gosto muito das pessoas tristes, afectos depressivos
ligados morte, receio da separao e perda de objecto o terceiro (projecto/sonho) foi nunca
morrer, que o mundo acabe antes que ele morra. Eu tambm penso isso. Pode acabar em
2012, quando ele morrer todos continuem a ter uma vida boa, que a famlia dele permanea
at ao fim do mundo. A culpabilidade tambm marca presena na resposta seguinte: quando
sabe que as pessoas ou stio que as pessoas que ele mais gosta est a ter problemas por causa
dele mesmo. Ao desejar ser a pessoa mais paciente do mundo pode significar que no se
sente suficientemente forte para suportar as dificuldades experienciadas.
Desenho da Famlia
Inqurito
Aps a instruo para a realizao do desenho o Joo questiona-me Fao um pai, um
filho e uma me ou uma rvore genealgica? (o que que te parece melhor?) No sei. Vou
fazer uma rvore genealgica.
250
1) Quem so essas pessoas que desenhas-te, como se chamam e que idade tm? (da
esquerda para a direita)
A famlia Moto, no Carandao, como indica estes lpis.
1 Fila: - Andr, 9 anos, filho do Andr e da sua mulher;
- Cludia, 2 meses, irm do Joo e filha do Raul e da Maria;
- Joo, 8 anos, irmo da Cludia e filho do Raul e da Maria;
- Ins, 1 ano, filha do Rui e mulher do Raul.
2 Fila: - Mulher do Andr, 36 anos;
- Andr, no Andr irmo da Maria, 36 anos;
- Maria, 35 anos;
- Raul, 33 anos, casado com Maria;
- Irmo do Raul, que o Rui, 36 anos;
- Casada com o Rui, 35 anos.
3 Fila: - Nuno, 63 anos, irmo da Emlia;
- Emlia, 62 anos;
- Casado com a Emlia, 2 anos mais novo, 60 anos.
4 Fila: - Sei l, Joo, 83 anos, irmo da Maria da Conceio;
- Maria da Conceio, 91 anos, mulher do Egas Moniz;
- Pai da Emlia, Egas Moniz, a nica coisa que me lembrei, at pode ser 93
anos.
5 Fila: - Sofia, 133 anos, me da Maria da Conceio;
- Marido da Sofia, Oslavaco, era de outro pas, 134 anos.
6 Fila; - Irmo da Mnica, 163 anos, Duarte;
- Mnica, 154 anos;
- Eduardo, 154 anos, marido da Mnica.
7 Fila: - Matilde, 183 anos;
- Marido da Matilde, Mrio, 185 anos.
Comenta: Eu tenho um livro igual quele l em casa, que diz Juan Mir
6) Se tivesses que escolher uma pessoa desta famlia, quem que preferias ser?
Porqu?
O Andr, 9 anos. Porque eu gosto de pregar algumas partidas, mas tambm deve ter
outras mais coisas, ser mais no consigo! Ter mais personalidades, porque no
l muito mais novo nem mais velho, consegue subir pedregulhos como eu! E no cair!
Principalmente se tiver uma coisa no topo.
7) Se fossem todos dar um passeio de carro mas no houvesse lugar para uma
pessoa, quem ficaria em casa? Porqu?
252
Este (3 Fila direita, casado com a Emlia). Devia de ser uma das bisavs que era
muito velhinha e tinha que tratar bem da outra (4 Fila, direita, pai da Emlia, Egas
Moniz).
9) Se pudesses mudar alguma coisa no teu desenho o que que mudarias? Porqu?
Devia meter olhos e bocas nos bonecos. No tenho pacincia para fazer assim
(gesticula na mesa).
Anlise da prova
Na fase de inqurito expressa o desejo de ser pequeno (Quem o mais feliz? Porqu?
O beb, brinca com uma das coisinhas e por isso fica feliz), dificuldades de separao e de
perda do objecto ligadas morte (Quem o menos feliz? Porqu? No sei. Eu acho que um
destes dos bisavs, so velhinhos, j t perto do fim, deve estar um pouco infeliz), recusa dos
aspectos negativos (Quem o menos simptico? Porqu? No sei. Acho que no h, difcil.
Ok este aqui, est a fazer partidas aos outros). Aparentemente o Joo identifica-se com o
elemento Andr, de 9 anos, um menino que tal como o Joo gosta de pregar algumas partidas
aos outros, segundo o prprio, o que pode remeter para um vivido de culpa. Neste contexto, a
personagem que representa a me do Andr que o Joo identificou espontaneamente como
egosta pode associar-se ao imago materno. Observa-se, ainda, o recurso a mecanismos de
defesa na linha do evitamento, optando por um dos elementos da famlia alargada para ficar
em casa na stima questo e formao reactiva ao colocar o Andr de castigo pelo pai em
actividades de limpeza e arrumao. No final, surgem, uma vez mais, sentimentos de
insegurana e auto-exigncia relacionados com o desempenho no desenho.
Anlise inter-individual
Anlise intra-individual
Intensidade do Item
Perfil de Itens
3
2
1
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27
Itens
254
21
Joo
Pai
16
Me
18
Irm
30
30
25
20
15
10
5
0
Ningum
Joo
Pai
Me
Irm
9
8
7
6
5
Positivos
Negativos
3
2
1
0
Ningum
Joo
Pai
Me
Irm
Atendendo anlise dos afectos positivos e negativos emitidos pelo Joo (Figura 2)
sobressai um forte envolvimento emocional com a irm marcado por uma relao
256
ambivalente, contudo os afectos positivos como gosto que esta pessoa da famlia me d
beijinhos, gostava que esta pessoa da famlia estivesse sempre ao p de mim e gosto de
abraar esta pessoa da famlia destacam-se face aos afectos negativos como apetece-me
bater nesta pessoa da famlia, fico farto desta pessoa da famlia e quero fazer coisas s
para chatear esta pessoa da famlia, o que pode reenviar para uma relao prxima e
afectuosa, contudo, marcada pela rivalidade fraterna. A relao com o pai encontra-se
idealizada e a relao com a me apesar da prevalncia de afectos positivos surge ligada aos
afectos negativos no tem muita pacincia e fica zangada demais, podendo associar-se ao
vivido de uma figura materna punitiva e autoritria. A auto-estima do Joo representa-se de
forma ambivalente e em conflito, com apenas mais um item de afectos positivos face aos
negativos. Assim, foram atribudos afectos positivos leves que traduzem defesas manacas
muito alegre e muito divertida (itens apenas atribudos ao Joo) e afectos negativos
associados a sentimentos de inferioridade e culpabilizao irrita-se muito depressa, queixase demais e fica chateada sem ter razo para isso. Na figura Ningum foram colocados os
afectos positivos fortes, mas sobretudo os afectos negativos de forma a negar a expresso da
agressividade e erotizao sobre os elementos da famlia. Neste ltimo grupo de afectos
situam-se os itens gostava de poder dormir na mesma cama com esta pessoa da famlia,
gostasse mais de mim do que dos outros e quando me casar gostava que fosse com uma
pessoa parecida com esta pessoa da famlia, o que pode remeter para o desejo de
autonomizao do Joo e possvel superao do complexo edipiano.
12
10
8
Positivos
Negativos
4
2
0
Ningum
Joo
Pai
Me
Irm
Figura 3 Nmero de itens positivos e negativos sentidos como recebidos por cada membro
da famlia.
257
Na anlise dos afectos positivos/negativos recebidos pelo Joo face aos elementos da
famlia (Figura 3) sobressai novamente um forte envolvimento emocional com a irm, desta
vez de forma relativamente idealizada face ao nmero elevado de afectos positivos atribudos
a esta figura em detrimento dos afectos negativos. Entre os afectos positivos sobressaem os
erotizados como gosta de me dar beijinhos, gosta de me abraar, gosta de estar na cama
comigo e quer estar sempre ao p de mim. Nos afectos negativos surgem os itens faz-me
uma cara zangada, manda-me embora, fica zangada comigo e bate-me muito, podendo
remeter para a percepo de rivalidade fraterna com a irm, mas tambm para o sentimento de
inferioridade na relao com esta. A relao com a figuras parentais apresenta-se ambivalente,
com a me a obter um maior nmero de afectos positivos face aos negativos com destaque
para o afecto positivo erotizado gosta de me dar beijinhos apenas atribudo me e irm.
O pai, por sua vez, obteve um nmero superior de afectos negativos face aos afectos
positivos. Assim, foram atribudos os mesmos itens negativos a estas duas figuras, tais como,
faz-me uma cara zangada, no brinca comigo quando eu gostaria que brincasse, ralha
comigo, fica zangada comigo e est muito ocupada para ter tempo para mim, o que pode
remeter para a representao da relao com estas figuras numa linha autoritria e pouco
disponveis para as necessidades do Joo. O Joo utiliza a figura Ningum para a atribuio
dos afectos positivos fortes e negativos negados e recusados de serem associados aos
elementos da famlia. Os afectos erotizados negados foram gosta de me ajudar quando estou
a tomar banho e gosta mais de mim do que dos outros ligando-se ao desejo de
autonomizao e possvel acesso resoluo do complexo edipiano.
12
10
8
6
4
Emitidos Positivos
Recebidos Positivos
Emitidos Negativos
-2
Recebidos Negativos
-4
-6
-8
-10
Ningum
Joo
Pai
Me
Irm
Ningum
Joo
Pai
Me
Irm
Superproteco
materna
0
6
5
3
8
Superindulgncia
Paterna
Materna
0
0
5
4
1
4
5
0
5
5
Total de
Dependncia
0
15
10
8
18
As Aventuras de Pata-Negra
1 Etapa Frontispcio
PN:
Porque tem uma pata preta.
No seimacho.
Leito de 11 meses.
260
Dois porquinhos:
So os seus irmos.
Esquerda menina.
Direita menino.
Todos tm a mesma idade. O PN o mais velho, a seguir a irm, o irmo segue-se.
Porcos grandes:
Pais.
Em baixo me, 16 anos.
Em cima pai, 16 anos.
Os porcos vivem um bocado menos. Devem ser um bocado mais velhos com 16 anos,
devem ser tipo os ces.
Ninhada
A me teve trs filhotes... no sei ai isto muito confuso! Estes aqui acho que so os
trs irmos. O PN estava no nascimento dos seus outros trs irmos e foi s isto.
(?) A seguir eles cresceram um bocadinho. No sei se isto s os irmos do PN
261
Pequena Escada
O PN queria apanhar umas mas e ento pediu ao pai para se empoleirar na rvore
para apanhar mas, no bolotas. Depois ele apanhou as bolotas.
Num carto que reenvia para a funo de holding de uma das figuras parentais o Joo
associa-a ao pai, revelando uma funo de apoio slida. A identificao ao imago paterno
parece afigurar-se.
Noite
Era uma vez naquela noite o PN viu que ningum estava acordado e saiu do celeiro.
Buraco
E depois andou a passear durante a noite e perdeu-se e depois encontrou o caminho
de volta.
Batalha
Depois eles os dois comearam a brincar, o PN e os seus irmos. Depois comearam
luta, o PN e o seu irmo mais novo, depois fizeram as pazes.
262
Brincadeiras Sujas
E o PN e os seus irmos foram brincar para a lama e sem querer o PN atirou um
bocadinho de lama para a cara da me.
Perante um contexto anal que apela agressividade face a uma figura parental o Joo
acede ao contedo latente do carto, optando por dirigir o acto agressivo me, demonstrando
o desejo de separao do primeiro objecto de amor. O recurso a um contexto ldico e s
expresses sem querer e atirou um bocadinho reenviam para a interiorizao dos
interditos superegicos.
Bebedouro
Depois o PN a meio da noite quis fazer coc e fez no stio da comida, coc no
(?) Eu no disse coc no
O Joo reconhece a expresso de agressividade sobre as figuras parentais atribuindolhe uma dimenso anal, ainda que tente negar a representao agressiva por fora dos
mecanismos defensivos ligados ao superego.
Acrescentou:
Sonho Me
O PN sonhou com a me disse que gostava muito, muito dele e deu-lhe um beijinho.
263
Num carto que traduz a relao com o imago materno o Joo projecta o desejo de
uma relao prxima e afectiva com o filho por parte me. A capacidade de diferenciar o sexo
e os papis parentais parece, assim, integrada.
Sonho Pai
E com o pai sonhou que ia buscar mas e bolotas com ele e... deu-lhe um beijinho.
Num carto que apela para a relao com o imago paterno o Joo projecta uma relao
afectiva onde partilha uma actividade com o pai e se identifica funo paterna, neste caso de
obter comida.
3 Etapa Preferncias-identificaes
Bebedouro
A1) Porque o PN est a fazer coc, acho engraado. O irmo mais novo.
Ainda que reconhea o contedo latente do carto que remete para a agressividade
face s figuras parentais e lhe associe uma dimenso anal no se identifica com o PN,
remetendo para uma defesa na ordem da formao reactiva.
Ganso
A2) Porque est a ser mordido no rabo por um ganso (?) um dos irmos, a irm.
O ganso acho que macho. No, acho que fmea. O que est a ver, PN.
Brincadeiras Sujas
A3) Porque atirou lama para a cara do pai. O que est a atirar lama, PN.
narrativa do carto na etapa precedente onde a me figurava como a figura parental receptora
da pulso agressiva.
Batalha
A4) Porque os irmos andam luta, a morder um ao outro. O PN.
Partida
A5) giro que o PN esteja a passear pelo campo, a ir. O PN.
Pequena Escada
A6) Porque o pai est a ajudar o PN a ir buscar as bolotas. O PN.
Buraco
A7) Porque giro quando o PN anda noite a ver as coisas.
(?) Est a passear pela noite escura. O PN.
Mais uma vez, num carto que apela solido, desta vez, num contexto de perigo o
Joo revela-se defensivo e nega as dificuldades experienciadas ao nvel da angstia de
separao e face ao confronto com a angstia depressiva, qual se revela sensvel noite
escura.
Noite
A8) Porque o PN est a ver o que est l fora.
(?) A lua. O PN.
265
Sonho Pai
A9) Porque gosto de ver que o PN gosta muito do pai e de sonhar com ele. O PN.
Sonho Me
A10) Porque gosto... o PN gosta muito da me e at sonha com ela. O PN.
Beijo
nA1) Porque um bocadinho piegas nesta parte do beijinho.
Em vez deles estarem a dar um beijinho deviam estar a comer erva, a passear. O
porquinho que est aqui a ver, PN.
Num carto que remete para a problemtica edipiana o Joo acede ao contedo
simblico, ainda que, desvalorize a proximidade libidinal entre as figuras parentais e defendase recorrendo ao evitamento e deslocamento do conflito para a esfera do fazer deviam estar a
comer erva, a passear podendo sentir-se excludo da relao de casal.
Mamada 1
nA2) Porque o porco est a mamar.
A me podia estar a dar festinhas ao filho. Uma das ervinhas.
Esta resposta traduz uma defesa face problemtica oral atravs do deslocamento para
o contacto libidinal na relao privilegiada com o materno.
266
Mamada 2
nA3) A mesma coisa, por causa do porco a mamar (ri-se).
A me estar a fazer festinhas ao PN e depois os irmos iam a correr para tambm
terem festinhas. O irmo mais novo.
semelhana da resposta ao carto anterior, a relao com o materno, neste caso, num
contexto de rivalidade fraterna deslocada da temtica oral para o contacto libidinal.
Cabra
nA4) Esta acho um bocado esquisito, um porco estar a mamar de uma cabra.
A cabra podia ser professora dele. Uma ervinha.
Hesitao
nA5) Porque est outra vez um porco a mamar e podia estar a beber gua.
Este estivesse a beber gua, o irmo mais novo. O PN.
Carroa
nA6) Porque o PN est a sonhar que os seus outros trs irmos esto a ser levados.
Os porcos, os irmos mais novinhos estivessem a morder o homem. O PN.
O Joo acede ao contedo latente do carto e encena a agressividade face aos irmos
numa aluso rivalidade fraterna. Por fora da censura superegica tenta reprimir este desejo
com a possibilidade de os irmos se defenderem e escaparem ao homem que os quer afastar
da famlia.
Ninhada
nA7) um bocado confusa, no sei se aqueles so os outros trs irmos e baralha-me
um bocado.
267
Gostaria que em vez de serem aqueles trs irmos fossem os trs irmos antigos a
nascerem, o PN e os dois irmos. O PN.
Noite
Sim, acho que isto aqui uma ovelha, a sombra de uma ovelha.
5 Etapa Questes de Sntese
268
6) Carto Fada:
Desejo 1: Que tivesse uma longa vida.
Desejo 2: Trs filhos.
Desejo 3: E que a sua patinha negra desse-lhe muita, muita sorte.
Preferncias-identificaes
Cartes
Os Temas
Preferncias
Identificaes
Aceite (A)/No
Agradvel
Assumida
Aceite (nA)
(A)/No
(A)/No
Agradvel (nA)
Assumida (nA)
Total
Bebedouro
nA
2A
Beijo
nA
nA
1A
Batalha
3A
Carroa
nA
nA
1A
Cabra
nA
nA
nA
3nA
Partida
nA
2A
Hesitao
nA
nA
1A
Ganso
nA
2A
Brincadeiras
3A
Noite
3A
Ninhada
nA
2A
Sujas
269
Sonho Me
nA
2A
Sonho Pai
nA
2A
Mamada 1
nA
nA
nA
3nA
Mamada 2
nA
nA
nA
3nA
Buraco
3A
Pequena
3A
Escada
O Joo colaborou na prova Pata Negra, revelando alguma insegurana e indeciso nas
respostas dadas. Realizou comentrios verbais ricos e adicionais prova. Manifestou sentir-se
cansado a partir, sensivelmente, do meio da prova, aumentando o comportamento de
irrequietude na 5 Etapa Questes de sntese, onde se levantou da cadeira e comeou a
vaguear pela sala observando-a atentamente, continuando a responder-me s questes
colocadas.
Atravs da tabela que resume o modo de expresso das temticas inerentes prova
pode-se observar uma maior censura dos temas ligados oralidade (Cabra, Mamada 1,
Mamada 2 e Hesitao), agressividade (Hesitao e Carroa) e triangulao edipiana (Beijo),
podendo remeter para dificuldades na elaborao destes conflitos. Assim, entre os
mecanismos de defesa utilizados ao longo da prova destacam-se o evitamento, formao
reactiva, negao, racionalizao, sobreinvestimento da realidade perceptiva e recusa.
Aparentemente o conflito edipiano no se encontra completamente ultrapassado.
Apesar de realizar uma diferenciao adequada dos sexos, papis parentais e geraes e
demonstrar uma identificao figura paterna e, por vezes, projectar o desejo de separao da
figura materna atravs da agressividade que lhe dirigida, rivaliza com o pai e demonstra
dificuldades na elaborao dos sentimentos de solido face excluso do casal parental. Desta
forma, no contexto da angstia de separao surge o sentimento de culpabilidade e uma
vivncia depressiva. No entanto, revela a integrao do Superego.
A relao com a figura materna representada de forma afectiva.
A figura paterna assegura uma funo de apoio slida, permitindo a identificao do
filho e uma relao afectiva com este.
Na relao com os irmos sobressai a presena de rivalidade fraterna acentuada,
representando a supresso dos irmos mais novos de forma a ocupar o seu lugar privilegiado e
exclusivo junto da figura materna.
270
A Mariana de nove anos e nove meses uma menina que se encontra no 4 Ano do 1
Ciclo do Ensino Bsico. Apresenta um desenvolvimento estato-ponderal adequado sua idade
e gnero e um aspecto fsico cuidado e investido. Estabeleceu um contacto fcil, revelando
uma atitude muito interessada e colaborante ao longo das provas administradas, ainda que, por
vezes, manifeste uma conduta agitada e necessite de apoio da observadora. Demonstrou a
necessidade de agradar e constituir uma relao com a observadora atravs de elogios e de
sucessivas perguntas relativas ao contexto pessoal. Muito comunicativa e expressiva,
verbalizou com frequncia de forma espontnea. Manteve contacto ocular, aparentando um
olhar triste. Demonstrou uma auto-confiana baixa, ansiedade de separao de ambos os pais
e a necessidade de ateno e mimo constantes por parte destes. Durante a entrevista aos pais
comeou a chorar quando a me respondeu questo sobre falecimentos, separaes ou
divrcios na famlia, queixando-se de dores de barriga (acalmou-se quando passou do colo da
me para o colo do pai recusou sentar-se numa cadeira durante toda a entrevista). Na
terceira e ltima sesso conta-me que se constipou, tem tosse e cortou-se num dedo, o que
pode remeter para a necessidade de ser cuidada. Transparece, ainda, alguma imaturidade na
sua conduta atravs de risos frequentes e da utilizao de linguagem abebezada.
Na sequncia de um ano de interveno psicolgica no Centro de Sade sem
resultados aparentes, foi encaminhada para a Unidade de Pedopsiquiatria pelo Mdico de
Famlia, com queixas de dificuldades de concentrao e aprendizagem na escola.
Actualmente beneficia de consultas teraputicas de frequncia quinzenal em psicologia
h aproximadamente sete meses, assim como de interveno familiar junto dos pais com a
pedopsiquiatra da Unidade. Desde h cerca de nove meses que a Mariana toma
psicofrmacos: durante os primeiros cinco meses -lhe administrado Risperdal soluo oral
(Risperidona) 0,5ml (neste momento a me tambm seguida em consultas de psiquiatria e
medicada com um antidepressivo e ansioltico), seguindo-se um perodo de cerca de trs
meses de Risperdal soluo oral 0,25ml e, por fim, no dia em que se inicia a recolha dos
dados associados a esta investigao, retoma a dose de 0,5ml de Risperdal por cerca de um
ms (interrompe a medicao no Vero para avaliao da sua situao. Sem reconhecer as
melhorias na conduta da Mariana mencionadas pela psicloga, a me pede novamente a
medicao para a filha por a sentir muito agitada).
A Mariana vive com os pais e o irmo de dezassete anos, com os quais mantm uma
boa relao. A me descreve-a como uma criana muito socivel que se d bem com todas as
pessoas, incluindo os colegas da escola, fazendo amigos com facilidade. No entanto, refere
271
que o Joaquim (irmo) muito diferente da Mariana, sempre foi muito mais calmo e
organizado. Sempre gostou de ter o quarto arrumado, mesmo quando os amigos iam brincar l
a casa. A me sente que a filha muito ciumenta e rivaliza com o irmo pela ateno da me.
Faz birras, pede muito mimo e tenta sempre agradar aos outros, culpabilizando-se tambm
com frequncia. Em comparao com o comportamento na escola, para a me, em casa a
Mariana uma criana muito mais calma que acata as regras.
At h cerca de um ano, a me era costureira, tendo abdicado desta profisso para se
tornar proprietria de um caf em conjunto com a sogra tenho muito mais tempo agora para
estar com ela (Mariana), refere. Contudo, a me considera que se sente muito nervosa desde
que deu incio ao emprego no caf, tendo dificuldades em dormir (pede para ser acompanhada
em consultas de psicologia/psiquiatria e medicada com o antidepressivo Triticum AC). A
av materna da Mariana faleceu com Alzheimer h cerca de trs anos e a tia materna
suicidou-se quando a Mariana tinha oito/nove meses. O pai da Mariana viveu trs anos em
Frana (entre os cinco e os oito anos da filha) devido ao trabalho, sentindo-se culpado com
esta ausncia. No que concerne relao do casal, a me tem por hbito dormir no sof da
sala enquanto o pai dorme na cama do casal.
Fisicamente a me da Mariana apresenta um aspecto envelhecido face sua idade. A
face encontra-se um pouco estragada, com rugas. Apresentou-se com vesturio limpo e
cuidado, adequado sua idade e gnero. Estabeleceu um contacto adequado, aceitando
colaborar no presente estudo com aparente interesse. Manteve contacto ocular, evidenciandose um olhar triste, um ar abatido e cansado na sua expresso facial. Ainda assim, verbalizou
de forma espontnea com a observadora.
O pai da Mariana um senhor que se apresentou fisicamente cuidado e investido, com
vesturio adequado sua faixa etria e gnero. A face encontra-se um pouco envelhecida
considerando a sua idade. Inicialmente estabeleceu um contacto mais reservado, passando a
sentir-se mais descontrado e verbalizando com mais espontaneidade no decorrer da sesso.
Mantm contacto ocular.
Ambos os pais colaboraram ao longo da entrevista. A me respondeu maioritariamente
s questes, embora o pai tambm transmitisse a sua opinio espontaneamente e, outras vezes,
solicitado por mim. Senti que os dois conversaram muito abertamente sobre os principais
problemas que afectam a famlia, mostrando-se interessados em partilhar comigo a sua
vivncia familiar.
A Mariana ficou aos cuidados da me at aos trs meses de idade, altura a partir da
qual foi entregue aos cuidados de uma ama (at aos trs anos). Assim, com trs anos
ingressou na creche e posteriormente na pr-primria, havendo sempre relatos de que a
272
Mariana era uma criana muito mexida embora, no mal-educada nem agressiva, sempre
foi muito meiga.
Aos seis anos ingressou no ensino primrio onde ficou na mesma escola at terminar o
2 Ano de escolaridade. Segundo a professora do 2 Ano a Mariana uma criana meiga mas
com um excesso de actividade motriz () levanta-se (), mexe-se constantemente na
cadeira, senta-se sobre um p. Quando est sentada correctamente os ps so como um
pndulo. Interrompe os colegas que tem volta. Durante as explicaes parece no ouvir ()
comete erros nos exerccios por falta de ateno () no consegue acabar as coisas que
comea, o seu trabalho escolar fraco, sujo e confuso. Considera que a dificuldade em
realizar as actividades escolares da Mariana no se deve falta de capacidades mas sim, de
concentrao e ateno no consegue concentrar-se ou estar atenta durante muito tempo,
parece desorientada, desmotivada, acrescenta.
A partir do 3 Ano a Mariana ingressou noutra escola por motivos de alterao de
residncia. A me indica que a filha se adaptou bem nova escola, fazendo amigas. Porm,
durante o primeiro e o segundo perodos registou um comportamento melhor
comparativamente com o terceiro perodo, no qual a professora considera que a Mariana se
encontra mais distrada e irrequieta, tendo sido retirada das actividades extra-curriculares para
ter mais tempo para estudar. Deste modo, a me passou a ficar com a Mariana todas as tardes,
insistindo para que faa os trabalhos-de-casa, dizendo-lhe s vais brincar depois dos
trabalhos. No entanto, refere que no ano passado era pior porque a professora escrevia
muitos recados na caderneta e a Mariana ficava muito triste e nervosa com isso.
Actualmente, no 4 Ano, segundo a professora a Mariana mantm as dificuldades de
aprendizagem devido falta de concentrao/ateno e uma auto-confiana baixa, levando-a a
no participar nas aulas, mesmo quando solicitada. Em portugus a Mariana regrediu
apresentando uma leitura silbica nos casos de leitura. Escreve com muitos erros ortogrficos
e apresenta frases no aceitveis e de difcil compreenso. No caso de Matemtica
apresenta dificuldades em memorizar, compreender e consolidar os contedos. Assim
sendo, considera benfica a integrao na equipa de educao especial obtendo apoio
especializado a partir do 5 Ano de escolaridade.
Segundo a me, a gravidez da Mariana foi planeada, sem registo de intercorrncias.
Nasceu de parto eutcico, a termo, sem complicaes peri ou neonatais.
A me recorda a Mariana no primeiro ano de vida como uma beb muito amorosa e
nada rabugenta, no chorava muito. Em beb dormia bem, contudo actualmente, apresenta
um sono muito agitado, mexendo-se com muita frequncia na cama e falando durante o sono.
Adormece sem dificuldades e acorda bem-disposta (dorme cerca de nove horas dirias).
273
Comeou a dormir sozinha em quarto prprio com cerca de dois anos de idade e a andar com
um ano e dois meses. Apesar de no se recordar do momento em que a Mariana comeou a
falar, para a me ocorreu dentro dos parmetros normais. Quanto ao controlo esfincteriano, a
Mariana deixou de utilizar fraldas com cerca de trs anos de idade. Por fim, at deixar de ser
amamentada e iniciar a diversificao alimentar a Mariana no apresentava dificuldades no
comportamento alimentar. A partir deste momento comeou a demonstrar pouco apetite
come de tudo mas faz grandes birras mesa, fica duas horas sentada a comer. Na escola
chegam a ter de lhe dar a comida boca para ela se despachar, indica a me.
Recentemente a Mariana foi submetida a uma avaliao psicolgica por parte da
psicloga que a acompanha, segundo a qual, os resultados obtidos no teste WISC-III no
revelam comprometimento a nvel cognitivo que justifique as dificuldades de aprendizagem
referidas, sugerindo a hiptese de uma perturbao emocional na base destas dificuldades.
274
Identificao da Criana
Nome: Mariana
Gnero: Feminino
Nacionalidade: Portuguesa
A me no sabe se a filha vai passar para o 5 Ano. Pediu filha para dar o mximo
que pode e esforar-se durante os dezoito dias que faltam para terminar a escola.
Quem so os elementos que compem o agregado familiar (elementos que vivem na mesma
casa)?
(Constituio do genograma familiar)
2008
72
70
2002
46
51
42
39
17
275
Me
Idade: 39 Anos
Nacionalidade: Portuguesa
Pai
Idade: 42 Anos
Nacionalidade: Portuguesa
Profisso: Carpinteiro.
Irmo()
Gnero: Masculino
Idade: 17 Anos
Nacionalidade: Portuguesa
276
Relaes Familiares
Qual a situao familiar actual (apoios sociais e/ou familiares, existncia de doenas fsicas
e/ou psicolgicas, problemas sociais, econmicos, exposio a fontes de stress, entre outros)?
A me est com um esgotamento o que est a afectar a famlia. Dificuldades
econmicas com o desemprego do pai.
278
21
Me
Pai
15
Irmo
11
Mariana
13
Av Paterna
11
Av
Materno
11
279
25
20
15
10
0
Ningum
Me
Pai
Irmo
Mariana
Av
Paterna
Av
Materno
280
10
9
8
7
6
5
Positivos
Negativos
3
2
1
0
Ningum
Me
Pai
Irmo
Mariana
Av
Paterna
Av
Materno
7
6
5
4
Positivos
3
Negativos
2
1
0
Ningum
Me
Pai
Irmo
Mariana
Av
Paterna
Av
Materno
Figura 3 Nmero de itens positivos e negativos sentidos como recebidos por cada membro
da famlia.
A anlise dos afectos positivos e negativos recebidos por parte dos elementos da
famlia (Figura 3) permite destacar uma forte projeco de afectos negativos sobre o pai como
fica ressentida comigo, nem sempre faz o que eu gostaria que fizesse, faz coisas nas
minhas costas, nem sempre me ajuda quando preciso, faz-me sentir frustrado(a), diz
coisas s para magoar os meus sentimentos e faz-me sentir sem valor remetendo para
conflitos na relao de casal associados dificuldade na resoluo dos problemas, falta de
confiana na relao, percepo da desvalorizao da relao e falta de compreenso das
necessidades da me por parte do pai verificando-se, tambm, uma tendncia paranide no
funcionamento psicolgico da me. Com a Mariana, o av materno e o irmo a relao
encontra-se idealizada, projectando apenas afectos positivos sobressaindo os afectos
erotizados com maior incidncia na Mariana gosta de me beijar, gosta de estar sozinha
comigo e ama-me muito que transmitem uma relao de forte dependncia emocional da
filha com a me e, ainda, os afectos erotizados muito carinhosa comigo e quer estar
282
8
6
4
2
0
Emitidos Positivos
-2
Recebidos Positivos
-4
Emitidos Negativos
-6
Recebidos Negativos
-8
-10
verifica-se uma correspondncia neste tipo de afectos. Contudo, na relao com o pai
sobressaem os afectos negativos recebidos face aos emitidos, o que acentua a vivncia de uma
relao desvalorizada e pouco correspondida face aos afectos da me por parte do pai. Na
auto-estima da me destacam-se os afectos negativos emitidos, revelando uma auto-estima
baixa. Na figura Ningum so colocadas as defesas principalmente associadas aos afectos
negativos inibindo, assim, a expresso da agressividade sobre os elementos da famlia.
0
2
1
1
2
2
2
Atribuio de
Incompetncia ou
Fraqueza
0
1
3
1
0
0
0
284
Mariana surge como uma das figuras mais dependentes e que carecem de maior proteco na
famlia.
Com a av paterna assiste-se a uma relao sentida como menos valorizada por parte
da av uma vez que a me emite um nmero significativo de afectos positivos face aos
recebidos desta figura. A av paterna percepcionada como uma figura com tendncias
punitivas face me, ainda que se sinta apoiada por esta figura. Surge como um dos
elementos da famlia mais dependentes e que necessitam de proteco.
A relao com o av materno sentida de forma prxima, carinhosa e valorizada por
parte do av, recebendo mais afectos positivos do que aqueles que emite, ainda que a
diferena seja pouco significativa. Assim, o av materno percepcionado como uma figura
que mantm uma dependncia emocional face me, necessitando da sua proteco. Contudo,
a me parece sentir-se culpabilizada nesta relao.
30
Pai
Me
26
Irmo
16
Mariana
21
Av Paterna
21
Av
Materno
Tia Paterna
14
12
286
facto de ao filho no dar abraos, mas fazerem mais coisas de homens) e relacionados com
crticas presena de determinados cartes.
Analisando a Tabela 1 observa-se que alm dos elementos que constituem a famlia
nuclear: o pai, a me, o irmo e a Mariana, o pai decidiu incluir trs membros da famlia
alargada: a av paterna, o av materno e a tia paterna. Sobressai um elevado grau de
neuroticismo no pai atravs da negao/recusa dos afectos negativos colocados na figura
Ningum, inibindo a expresso da agressividade sobre os elementos da famlia.
30
25
20
15
10
5
0
287
16
14
12
10
8
Positivos
Negativos
4
2
0
Avaliando os afectos positivos e negativos emitidos pelo pai da Mariana aos elementos
da famlia (Figura 2) verifica-se um forte mecanismo defensivo na linha da negao dos
afectos negativos recorrendo figura Ningum bloqueando, assim, a expresso agressiva
sobre os elementos da famlia, tornando-os figuras idealizadas. A me foi a nica figura qual
o pai atribuiu afectos negativos irrita-se muito depressa, fica chateada sem ter razo para
isso e fica zangada demais que traduzem a percepo de irritabilidade na me, dificuldades
em lidar com os conflitos por parte desta e, ainda, insegurana na relao de casal. As figuras
s quais o pai associa afectos positivos fortes so a me (todos os afectos deste tipo, oito), o
irmo, a Mariana e a av paterna (estes trs ltimos com os mesmos afectos, cinco).
288
14
12
10
8
Positivos
Negativos
4
2
0
Figura 3 Nmero de itens positivos e negativos sentidos como recebidos por cada membro
da famlia.
289
15
10
5
Emitidos Positivos
Recebidos Positivos
-5
Emitidos Negativos
Recebidos Negativos
-10
-15
0
3
5
4
4
290
Atribuio de
Incompetncia ou
Fraqueza
1
2
1
0
0
Av Paterna
Av Materno
Tia Paterna
4
3
3
0
0
1
292
Identificao da Criana
Nome: Mariana
Interesses/Actividades
Frequentas alguma actividade desportiva ou cultural (dana, teatro, msica, etc.)? Qual?
No ando em nada. Jogo futebol com os meninos e meninas sou como o pai, gosto de
futebol.
Amigos
293
Escola
Famlia
Como que os teus pais se do um com o outro? O que pensas/sentes com isso?
Penso que eles esto ptimos. Zangam-se de vez em quando mas agora no se esto a
zangar. Mas de vez em quando, quando o pai chega a casa a me comea logo a gritar e eu
no consigo dormir.
Dormes com algum ou partilhas o quarto com algum? Se sim, com quem?
Durmo sozinha. O meu pai construiu uma parede para separar o meu quarto para o
do mano, quando era muito pequenina.
sozinha, mas ela agora tem a cadela para a proteger, ela no deixa entrar ningum, s o
mano, o primo
Fantasias/Sonhos/Medos
296
Desenho Livre
Inqurito
297
2) Histria
Era uma vez uma caveira que apareceu ao p de flores e era alrgico, ele no sabia que
era alrgico. E ele tinha uma parede to branca, to branca que decidiu desenhar
coraes, quatro coraes em cada canto. Depois viu que l dentro dos coraes, no
meio no tinha nada, ele depois lembrou-se que gostava de uma pessoa e depois
resolveu escrever no meio Margarida s querida. Depois lembrou-se que faltava uma
coisa, mas o qu, depois o seu esprito disse: falta-te desenhar no meio de dois
coraes, em cima e depois desenhou a dizer a toda a gente que alrgico a cores.
A parte que eu mais gosto de dizer a histria porque assim estou sempre a falar.
Anlise da prova
Esta prova realizou-se no mbito da primeira sesso e, como tal, constituiu o primeiro
contacto de avaliao psicolgica com a Mariana. Todavia, ao longo da prova a Mariana
revelou o desejo de me agradar, demonstrando-se, desta forma, insegura e com contacto
superficial. Esta transferncia positiva com a investigadora pode-se traduzir no desejo de
estabelecer uma relao dual na linha do cuidar, como uma forma de carncia: chamas-te
Margarida certo? que eu quero desenhar aqui uma coisa e tu no podes ver () para ti!
Quais so as tuas cores preferidas? () quantos anos tens? () Em que ano que ests do
curso? () s de que clube? Do Benfica, Sporting? Tens cara de ser do Sporting, Porto. A
Mariana expressou, ainda, a necessidade de apoio marcada por parte da investigadora e fez
algumas crticas negativas ao modo como desenhou determinados atributos: depois vou fazer
uma coisa que aprendi com o meu padrinho. Sabes o que isto ? Uma caveira (ri-se) Eu no
sabia desenhar caveiras! No est l muito perfeita. Depois com um lpis pintava um dente, s
um dente a dizer que ele estava amarelo () igual a uma flor! Ele alrgico a flores, v, vou
p-lo a pensar.
A nvel grfico trata-se de um desenho imaturo para a idade e sem simbolismo, com
elementos dispersos e sem ligao entre si, recorrendo escrita para exprimir o que deseja. O
desenho da caveira pode ser entendido como uma forma de colagem e adaptao ao social
visto que actualmente este elemento ganhou alguma fama entre as crianas e adolescentes. A
narrativa assenta no concreto e factual, descrevendo apenas os elementos desenhados.
Sobressai, no entanto, a sensibilidade ao tom branco tinha uma parede to branca, to
branca e ao vazio do silncio a parte que eu mais gosto de dizer a histria porque assim
estou sempre a falar e da folha no meio no tinha nada () faltava uma coisa, mas o qu,
298
depois o seu esprito disse: falta-te desenhar no meio de dois coraes, em cima, o que
reenvia para questes ligadas a dificuldades ao nvel da falha narcsica.
1 Desenho
Inqurito
299
E uma m recordao?
Nenhuma.
1) O que que ele/ela est a fazer? Nada. Est parada. Est a jogar ao jogo 1,2,3
Macaquinho do Chins.
2) Que idade tem? 24 Anos.
3) casado/a? Sim.
4) Tem filhos? Sim.
5) Rapazes ou raparigas? Raparigas, duas.
6) Qual o seu trabalho? Cabeleireira.
7) Se ainda estuda, em que ano est? No.
8) Qual o seu maior desejo? Ir Serra da Estrela.
9) saudvel? Sim.
10) Tem bom aspecto? Sim.
11) Qual a parte do seu corpo que est mais bem feita? O cabelo e a camisola.
12) E qual a menos bem feita? A cabea, o pescoo, a boca, os olhos, nariz.
13) feliz? Sim.
300
No final do inqurito comeou a queixar-se de fome (era hora do almoo) e comentou que se
calhar os pais foram comer e deixaram-na ali comigo. A sesso terminou neste momento.
301
2 Desenho
Inqurito
302
E uma m recordao?
quando a sua av morreu.
Anlise da prova
quando eu era pequenina e o que ela mais gostou foi ter ficado com a casa da av, mas tinha
pena porque a av tinha falecido.
No plano grfico o desenho encontra-se adaptado ao grupo etrio da Mariana, com
excepo da legenda que identifica a figura, caracterstica da fase de Realismo Intelectual
(Luquet, 1984). Por seu turno, a narrativa pobre do ponto de vista simblico, assenta num
discurso descritivo, factual e concreto.
No final do inqurito relativo ao primeiro Desenho da Figura Humana a Mariana
comenta que sente fome e que se calhar os pais foram comer e deixaram-na ali comigo, o que
pode remeter para a angstia de abandono e de perda do objecto. Terminou-se a sesso neste
momento.
Quanto ao segundo Desenho da Figura Humana, na fase de inqurito a Mariana
apresentou uma conduta agitada atravs dos movimentos repetitivos de balanceamento da
cadeira, queixou-se de sono e pediu-me para ir brincar com uma pista de carrinhos. Realizou
um desenho adequado idade, investido, com o pormenor do traado de uma gravata, como
smbolo sexual masculino e, semelhana do primeiro Desenho da Figura Humana, uns
botes, que podem remeter para a dependncia materna. Este tipo de relao dual e
dependente com o materno encontra-se tambm presente atravs das dificuldades em crescer,
autonomizar-se perdeu as chaves porque esqueceu-se de dar me, depois foi dar me e
queixou-se. As chaves surgem assim aqui como um representante de poder, de
responsabilidade, autonomia e crescimento. Na sequncia do desejo de transgresso da
relao com o materno e de curiosidade face ao meio externo desencadeia-se um vivido de
culpa e de carncia afectiva acentuada pela necessidade de fazer bolos, ainda que exclua a
figura materna. Assim, parece projectar sentimentos agressivos face ao imago materno o que
o/a faz zangar? A sua me. Todavia, as dificuldades de separao e de internalizao da
relao com o materno subsistem conta-me uma boa recordao que tenha. O seu anel que a
me lhe deu para se lembrar todos os dias. A resposta quais so os seus aborrecimentos?
Quando ele quer fazer uma coisa e no pode reenvia para intolerncia frustrao.
No geral, surge a representao de uma imagem corporal ambivalente, entre um
adolescente de 13 anos que utiliza gravata e deseja sair de casa, mas que frequenta um
parque de diverses para crianas e necessita de manter uma relao dependente com a me.
A histria deste desenho apresenta-se mais simbolizada, ainda que, assente no factual. A
figura associada pela Mariana figura paterna quais so os seus trs principais
projectos/sonhos? Agora que vem elas... quer ser carpinteiro e com quem se parece? Com
o meu pai, com o seu pai. A diferenciao de sexos parece integrada.
305
Desenho da Famlia
Inqurito
1) Quem so essas pessoas que desenhas-te, como se chamam e que idade tm? (da
esquerda para a direita)
Famlia Loureno.
Margarida, 13 Anos, filha;
Diogo, 12 Anos, filho;
Luna, me, 49 Anos;
Pai, Lus, 42 Anos.
306
6) Se tivesses que escolher uma pessoa desta famlia, quem que preferias ser?
Porqu?
A me. Porque adulta e eu gosto de ser adulta, posso lavar a loia, posso trabalhar e
ganhar dinheiro e essas coisas todas.
7) Se fossem todos dar um passeio de carro mas no houvesse lugar para uma
pessoa, quem ficaria em casa? Porqu?
A me ou o pai.
(?) A me que fica a limpar a casa.
307
9) Se pudesses mudar alguma coisa no teu desenho o que que mudarias? Porqu?
O escorrega. Porque est mal desenhado e devia ser da porta vinha um tubo que eles
vinham a descer, a descer e vinham ter piscina.
Anlise da prova
Anlise inter-individual
Anlise intra-individual
Intensidade do Item
Perfil de Itens
3
2
1
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27
Itens
29
Mariana
10
Pai
26
Me
20
Irmo
Tia Paterna
17
Tio Paterno
12
Prima
Primo
10
Av
Materno
Av Paterna
12
20
310
30
25
20
15
10
5
0
311
12
10
8
6
Positivos
4
Negativos
2
0
esta pessoa da famlia gostasse mais de mim do que dos outros e quando me casar gostava
que fosse com uma pessoa parecida com esta pessoa da famlia, reforando a sua autonomia.
12
10
8
6
Positivos
4
Negativos
2
0
Figura 3 Nmero de itens positivos e negativos sentidos como recebidos por cada membro
da famlia.
A avaliao dos afectos positivos e negativos recebidos pela Mariana (Figura 3) revela
uma forte defesa pela negao dos afectos negativos atravs do recurso figura Ningum, o
que permite a idealizao da relao com os elementos da famlia. As figuras que traduzem
um maior envolvimento emocional ao nvel dos afectos recebidos, o pai, a av paterna, a me
e a tia paterna, so tambm aquelas com afectos negativos atribudos e maior expresso nos
afectos positivos de cariz erotizado. Posto isto, quanto aos afectos negativos o pai a figura
que se destaca com os seguintes itens faz-me uma cara zangada, ralha comigo e est
muito ocupada para ter tempo para mim que podem remeter para a percepo de uma figura
punitiva e pouco disponvel para a Mariana, tendo em conta o seu desejo de ateno. Segue-se
a me com dois afectos ralha comigo e fica zangada comigo denotando a percepo de
uma figura punitiva, tal como a tia paterna e a av paterna que obtiveram o item ralha
comigo, semelhana do pai e da me. Nos afectos erotizados o pai a figura que se salienta
atravs dos itens gosta de me dar beijinhos, gosta de me abraar, gosta de me dar
festinhas, gosta de me fazer ccegas e quer estar sempre ao p de mim remetendo para a
percepo de fantasias edipianas na relao com o pai. me, tia e av paterna foram
atribudos os itens gosta de me abraar e gosta de me fazer ccegas reenviando para uma
313
relao composta por momentos de troca de afectos com estas figuras. av paterna a
Mariana associou, ainda, o item gosta de me ajudar quando estou a tomar banho remetendo
para dificuldades no processo de autonomia. Por outro lado, a negao dos afectos erotizados
gosta de estar na cama comigo e gosta mais de mim do que dos outros remete para o
desejo de autonomizao.
15
10
5
Emitidos Positivos
Recebidos Positivos
-5
Emitidos Negativos
Recebidos Negativos
-10
-15
314
Ningum
Mariana
Pai
Me
Irmo
Tia Paterna
Tio Paterno
Prima
Primo
Av Materno
Av Paterna
Superproteco
materna
0
8
2
2
2
2
2
2
2
2
2
Superindulgncia
Paterna
Materna
0
0
5
5
1
1
3
1
2
0
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
2
1
Total de
Dependncia
0
18
4
6
4
4
4
4
4
4
5
A Tabela 2 permite a anlise dos itens associados aos sentimentos que traduzem
dependncia. Posto isto, verifica-se uma tendncia bastante regressiva no funcionamento da
Mariana atravs de uma forte auto-valorizao alcanada atravs dos itens de dependncia
que concentra sobre si, revelando uma atitude egocntrica, o desejo de proteco da me e de
ateno por parte de ambos os pais. Desta forma, rivaliza com a me, o irmo e a av paterna
pela ateno do pai. As figuras com as quais se identifica, a me e a av paterna seguem esta
tendncia dependente.
concerne aos afectos recebidos a relao sentida como menos valorizada por parte do pai,
percepcionando-o como uma figura punitiva e menos disponvel, tendo em conta o desejo de
ateno da Mariana.
Com a me sobressai uma relao forte ao nvel do envolvimento emocional,
idealizada e com trocas de afectos. Contudo, a me sentida como uma figura punitiva, com
irritabilidade emocional e dependente com quem rivaliza pela ateno do pai.
A relao com o irmo idealizada, ainda que se afigure como o envolvimento
emocional menos significativo onde a rivalidade pouco acentuada, com excepo da disputa
pela ateno do pai.
A relao com a tia paterna surge como uma das mais destacadas face ao
envolvimento emocional, sendo percepcionada de forma idealizada e composta por trocas de
afectos ainda que, por vezes, a tia seja sentida como uma figura punitiva.
A relao com o tio paterno idealizada manifestando-se de forma pouco significativa
ao nvel do envolvimento emocional.
Com a prima assiste-se a uma relao idealizada e pouco significativa quanto ao
envolvimento emocional.
Na relao com o primo surge a defesa pela idealizao, ainda que, a relao se
apresente como pouco significativa a nvel emocional.
Com o av materno a relao idealizada, contudo, pouco significativa do ponto de
vista do envolvimento emocional.
A relao com a av paterna alm de idealizada figura como uma das que mais se
destaca do ponto de vista do envolvimento emocional, suportando tambm as dificuldades de
autonomizao da Mariana. Esta figura representa-se de forma punitiva e dependente, com
quem a Mariana rivaliza pela ateno do pai, ainda que, percepcione trocas de afecto na
relao.
As Aventuras de Pata-Negra
1 Etapa Frontispcio
PN:
Porque tem a pata negra, seno tivesse no era Pata Negra. Se tivesse a mancha na barriga
era o barrigo negra. Seno tivesse nada era o porquinho.
Jesus deve-me estar a castigar porque estou sempre a ficar doente
316
Tenho que ver melhor (aproxima carto). Tem cara de homem (compara com outro porco sem
pata negra). 4 Anos.
Dois porquinhos:
Esquerda menina, 3 anos.
Depende da cauda.
Direita um homem, 4 anos.
So irmos do Pata Negra.
Deve ter levado com uma coisa para ser Pata Negra, coitado
Porcos grandes:
Em cima pai, 42 anos.
Em baixo me, 39 anos.
Pequena Escada
Era uma vez uma famlia que tinha trs filhos e um chamava-se Pata Negra. Um dia o
pai e o filho e o PN quiseram ir busca de mas. O pai disse: vamos trepar s rvores.
Mas o PN como esperto disse que no conseguimos trepar, tinha que o pai ficar em baixo e
o PN em cima, depois o PN comeou a escalar, a escalar e viu um ninho de pssaros, um
esquilo e um pica-pau.
Num carto que remete para a funo de holding numa das figuras parentais, o pai a
figura escolhida, abdicando do primeiro objecto, a me. Esta relao com a figura paterna
pode associar-se transgresso na relao com o materno e possibilidade de novas
descobertas, de crescimento mas, tambm, a uma capacidade de apoio pouco slida na me.
Bebedouro
Quando chegou a noite estavam todos a dormir mas o PN tinha vontade de ir casa
de banho e foi pronto, a casa de banho era aqui (aponta no carto). E alevantou o seu irmo.
Depois ele foi dormir mas ficou com fome e ele foi comer e depois ele foi acordar a me e o
pai para porem comer porque ele tinha comido tudo e depois quando os porquinhos
alevantaram-se cheiraram e foram comer. O PN tinha fome e no ficou com nada. Depois o
PN foi dormir.
Sonho Me
Ele sonhou que a me lhe estava a dizer meu menino no te portes mal, deixa comer
para a tua irm, para o teu irmo. Depois o PN acordou assustado porque a voz da me era
assustadora.
318
Num carto que remete para a relao com o imago materno a Mariana projecta uma
vivncia de culpa num contexto carencial. Sobressai, ainda, o sentimento de insegurana e
medo na relao com a figura materna, a um nvel arcaico a voz da me era assustadora.
Sonho Pai
Depois o beb, o PN adormeceu. E depois sonhou com o pai a dizer-lhe cuidado com
a gua, cuidado com a gua e o beb disse mas a gua no faz mal e o pai disse tem
tubares! e o beb acordou a chorar.
Hesitao
Quando era de manh foram todos para o relvado. Estavam todos com sede. Como o
pai ocupava quase o stio que eles bebiam gua o PN no podia beber gua e a porquinha
podia beber. E ele (PN) disse grande injustia, ela pode beber e eu no!.
Ganso
Depois a irm foi correr pelo campo, o irmo foi vigiar a irm porque o pai e a me
pediram. O PN ficou a rebolar na relva. Depois o irmo viu a irm ser mordida por um
ganso o que isto?. Depois o irmo viu a irm a chorar e foi dizer aos pais.
Ganso: menino. As meninas no mordem as meninas.
319
Partida
O PN chateou-se porque ningum brincava com ele e foi seguir o caminho at uma
casa. Os pais foram procura dele e encontraram. Depois trouxeram pelo mesmo caminho,
mas apanharam umas mazinhas.
Batalha
Depois o PN zangou-se com o irmo e depois o PN comeou a morder a perna do
irmo e o irmo a morder a orelha do PN e depois a irm foi a correr at aos pais, os pais
estavam a fazer exerccio fsico. E depois eles treinaram, foram a correr ao p-coxinho, mas
a me no conseguia ir ao p-coxinho e o pai foi ao p-coxinho para os meninos pararem a
luta.
Noite
Quando chegou a noite o PN, aqui no se v muito bem mas eu estou a dizer, o PN
no conseguiu dormir e fugiu de casa, mas levou uma mochila com comer. Ele foi a correr!
Buraco
Depois o PN foi a correr to rpido que caiu numa poa de lama, gritou socorro,
socorro, socorro trs vezes, at a lua olhou e deu a luz mais forte.
320
A narrativa reenvia para uma forte angstia depressiva e de separao face ao exterior
fobognico intensificada com o recurso repetio e procura de apoio num objecto
inanimado, a lua.
Ninhada
E ele chegou a casa. Depois viu que a me dele, dele e dela teve mais trs
irmozinhos e os homens estavam a pr gua e feno e eles ficaram tristes porque j tinham
mais irmos e no tinham ateno.
A Mariana recorre defesa pela idealizao para evitar deparar-se com a angstia
depressiva. Suprime a falta de ateno, avidez relacional e sentimento de desproteco
materna atravs do deslocamento para a relao fraterna e nos objectos (anulando a rivalidade
fraterna).
Acrescentou:
Carroa
Este o mais difcil. O PN sonhou que tinham posto por engano quatro porquinhos
dentro da carroa onde eles pensaram que eram cabras, est ali uma cabrinha, e o PN
sonhou que tinha um pesadelo e a famlia ficou triste porque pensava que ele tinha-se ido
embora, que eles tinham-no posto por engano.
Mamada 2
Depois o PN ficou to contente que quis ficar ao p da me, depois os irmos viramno que foram a correr a rebolar pela relva, depois o PN achou uma graa e rebolou pela
321
relva e tinha cado numa poa de lama. Quando chegou a casa estava todo sujo que teve que
ir tomar um banho.
Pequena Escada
A1) No sei, porque mais engraado. O PN.
Esta resposta, ainda que defensiva pela utilizao da recusa, surgindo como o carto
preferido remete para a importncia de se sentir apoiada e valorizada pelas figuras parentais.
Bebedouro
A2) Porque (ri-se e aponta) est a fazer chichi, engraado. O PN.
Noite
A3) Porque est s escuras e engraado e queria ser o PN.
Revela-se sensvel tonalidade escura do carto, podendo associar-se angstia
depressiva contudo, negada engraado.
Buraco
A4) Porque ele caiu numa poa de lama e engraado. O PN.
322
Mamada 2
A5) Porque este felicidade, porque eles estavam a rebolar. O PN.
Batalha
A6) Porque eles andaram luta, a puxarem. O PN.
Partida
A7) Porque ele vai-se embora. O PN.
Hesitao
A8) Porque ele no bebe. O PN.
Sonho Me
A9) Porque ele est a sonhar com a me porque a me est a reclamar. O PN.
Esta resposta a um carto que apela relao com o materno remete para uma figura
punitiva.
Sonho Pai
A10) engraado, o pai est a reclamar. O PN.
Num carto associado relao com a figura paterna surge um pai punitivo, ainda que
se defenda desta vivncia pelo recurso negao engraado.
323
Ganso
A11) Porque ele est a morder. Eu queria ser o ganso.
A Mariana identifica-se com a figura que representa o forte, o agressor, optando por
controlar a situao de forma a no reconhecer a impotncia e a depresso que esta poderia
despoletar.
Beijo
A12) Porque ele est a vigiar eles enquanto eles esto a (imita o gesto de beijar). O
PN.
Ainda que reconhea a dimenso libidinal da cena, no atribui uma identidade aos
personagens, evitando ou no acedendo problemtica edipiana que o carto simboliza.
Tambm o recurso ao agir pode remeter para uma defesa pelo evitamento da verbalizao do
conflito ou para dificuldades de simbolizao.
Ninhada
A13) Porque eles esto amuados porque a me teve trs filhos e eles esto a tratar
deles. O PN.
Cabra
nA1) Porque ele est a beber leite de cabra e ele no bebe leite de cabra.
Mudava a imagem toda para pr mais alegre. Ningum.
Carroa
nA2) Porque ele est a sonhar com uma coisa m.
324
Brincadeiras Sujas
nA3) Porque ele est na lama e mandou lama para o pai.
O petrleo, que lama. Queria ser mais limpo. O PN.
Acede ao contedo latente do carto que reenvia para a expresso agressiva face a uma
figura parental optando, neste caso, pelo pai, no renunciando relao dual com o primeiro
objecto, a me. De forma a bloquear a expresso agressiva recorre defesa pela formao
reactiva.
Mamada 1
nA4) No sei, porque est muito vazia, no tem muita histria para contar.
Mais alegre, com mais pessoas e pensamentos. O PN.
Noite
No.
5 Etapa Questes de Sntese
6) Carto Fada:
Desejo 1: Melhorar a pata.
Desejo 2: Ser feliz, ter uma namorada.
Desejo 3: Ter filhos. E viver feliz para sempre.
Preferncias-identificaes
Cartes
Os Temas
Preferncias
Identificaes
Aceite (A)/No
Agradvel
Assumida
Aceite (nA)
(A)/No
(A)/No
Agradvel (nA)
Assumida (nA)
Total
Bebedouro
3A
Beijo
nA
2A
Batalha
3A
326
Carroa
nA
nA
1A
Cabra
nA
nA
nA
3nA
Partida
3A
Hesitao
3A
Ganso
nA
2A
Brincadeiras
nA
nA
1A
Noite
3A
Ninhada
3A
Sonho Me
3A
Sonho Pai
3A
Mamada 1
nA
nA
1A
Mamada 2
nA
2A
Buraco
3A
Pequena
3A
Sujas
Escada
328
O Gabriel um menino de dez anos e quatro meses que frequenta o 4 Ano do 1 Ciclo
do Ensino Bsico. Apresenta um desenvolvimento estato-ponderal adaptado ao seu grupo
etrio. Trata-se de uma criana bonita e harmnica, apresentando-se fisicamente cuidado,
investido e limpo. Geralmente traz um bon na cabea, que retira quando se senta junto
secretria. Estabelece um contacto inibido com a observadora, ainda que no decorrer das
sesses revele sentir-se mais vontade, conversando com espontaneidade. Mantm um
comportamento estvel e controlado, no evidenciando sinais de ansiedade ou dificuldades de
concentrao/ateno. No final da segunda sesso queixa-se e mostra-me uma ferida no p, o
que pode remeter para a necessidade de ser cuidado.
Atravs da consulta hospitalar de pneumologia peditrica (tem asma e rinite) foi
encaminhado para a Unidade de Pedopsiquiatria por dificuldades alimentares com anorexia
selectiva. Iniciou as consultas teraputicas de frequncia quinzenal com a psicloga da
Unidade h cerca de dois meses, beneficiando tambm de interveno familiar.
O Gabriel vive com os pais e com o meio-irmo (da parte da me) de dezoito anos. O
pai carpinteiro e a me assistente administrativa. Ambos os pais so ex-toxicodependentes
tendo-se conhecido num programa de desintoxicao que frequentaram. A me deixou de
consumir pelo meio-irmo do Gabriel quando este tinha cinco anos (at ento esta criana
esteve maioritariamente ao cuidado da av materna) e cortou a ligao que mantinha com o
ex-companheiro e pai do meio-irmo do Gabriel, tambm na altura toxicodependente
(continua a consumir at actualidade), conhecendo o actual companheiro. At ao momento o
Gabriel desconhece o passado toxicodependente dos pais. Segundo a psicloga, o meio-irmo
do Gabriel muito problemtico (isola-se passando muito tempo no quarto ou com a
namorada, toca guitarra elctrica) e a me culpabiliza-se por este comportamento devido ao
seu afastamento e consumos de droga durante a infncia do filho. Desta forma, desenvolveu
uma forte ligao com o Gabriel na tentativa de compensar e reparar a relao com o filho
mais velho. A psicloga acrescenta, ainda, que o Gabriel mantm uma relao de forte
rivalidade com o meio-irmo. Segundo a me o Gabriel faz birras quando contrariado,
respondendo mal, muito nervoso. A me tem Hepatite C e, segundo a prpria, teve
anorexia nervosa por volta dos vinte anos.
A me do Gabriel uma mulher que apresenta um aspecto fsico jovial face sua
idade, tratando-se de uma pessoa aparentemente descontrada e simptica. harmnica e
bonita, encontrando-se cuidada e com vesturio adequado. Estabelece um contacto adequado
com a observadora, predispondo-se, desde o incio, a participar na investigao com
329
volta dos dois meses senti um aumento de stress e preocupao devido s faltas de ar do
Gabriel. Durante a primeira infncia a me teve o apoio da av paterna do Gabriel,
recordando o filho como um beb bem-disposto, muito dorminhoco.
Segundo a me, o Gabriel sempre dormiu bem, apesar de at cerca dos sete anos de
idade adormecer na cama dos pais e s depois ia para a prpria cama. Neste momento no se
registam problemas a este nvel.
O desenvolvimento psico-motor e o controlo esfincteriano desencadearam-se dentro
dos parmetros normais. Porm, ao nvel lingustico assinala-se a substituio da consoante
b por p, at actualidade.
O Gabriel ficou ao cuidado da av paterna at aos cinco anos, idade a partir da qual
ingressa no infantrio com boa adaptao at ao momento em que recusa alimentar-se na
escola (almoa todos os dias em casa desta av). Aos seis anos inicia a escola foi um caos,
dava-se mal com os colegas, roubavam-lhe o lanche. Sempre foi muito irrequieto, tem que
ficar sentado ao p da professora. muito reguila, mas muito bom aluno indica a me,
acrescentando tambm que o Gabriel apesar de no bater nos colegas, provoca-os, acabando
por chegar todo negro a casa. Ele quer tudo maneira dele. Tem dificuldades a portugus
porque escreve com muitos erros ortogrficos. A me envolve-se muito no processo educativo
do Gabriel, insistindo e acompanhando-o no estudo eu estudo sempre com a minha me,
digo que estou cansado mas acabo por estudar. Eu no consigo estudar sozinho, estudo mal,
estou entretido com outras coisas. Ela acha que melhor eu estudar com ela para no ter ms
notas, refere o Gabriel.
331
Identificao da Criana
Nome: Gabriel
Gnero: Masculino
Nacionalidade: Portuguesa
Muito inteligente, mas preguioso, mais erros a portugus. Pai: acho que tem dfice
de ateno. Me desvaloriza mais este aspecto e compara com o filho mais velho, irmo do
Gabriel.
Quem so os elementos que compem o agregado familiar (elementos que vivem na mesma
casa)?
(Constituio do genograma familiar)
1979
70
46
65
64
40
32
39
39
13
10
18
332
Me
Idade: 39 Anos
Nacionalidade: Portuguesa
Pai
Idade: 39 Anos
Nacionalidade: Portuguesa
Profisso: Carpinteiro
Irmo()
Gnero: Masculino
Idade: 18 Anos
Nacionalidade: Portuguesa
Relaes Familiares
Qual a situao familiar actual (apoios sociais e/ou familiares, existncia de doenas fsicas
e/ou psicolgicas, problemas sociais, econmicos, exposio a fontes de stress, entre outros)?
Podamos ter mais dinheiro. Vivemos como a maioria das pessoas, no falta nada,
sem extravagncias. O ano passado, durante dois anos o pai esteve desempregado aps doze
anos de estar na mesma empresa, depois esteve em stios no certos e agora tem que faltar ao
trabalho por causa de problemas no ouvido esquerdo com os cristais do ouvido (anda h um
ano e tal assim). Dificultando o dinheiro em casa. Stressava com isto e a mulher tambm
sentia isso, afectando todos. A mulher sente que tem de dar muita fora ao marido e sobra
pouco para ela. Problemas do pai no trabalho com o patro, uma pessoa difcil o patro.
334
336
18
Me
Pai
16
Irmo
16
Gabriel
14
Av
Materna
Av
Materno
Tia Materna
18
15
11
337
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
Ningum
Me
Pai
Irmo
Gabriel
Av
Av
Tia
Materna Materno Materna
9
8
7
6
5
4
Positivos
Negativos
2
1
0
339
9
8
7
6
5
4
Positivos
Negativos
2
1
0
Figura 3 Nmero de itens positivos e negativos sentidos como recebidos por cada membro
da famlia.
Avaliando os afectos positivos e negativos recebidos pela me do Gabriel (Figura 3)
destaca-se uma forte negao dos afectos negativos dirigidos aos elementos da famlia atravs
da utilizao da figura Ningum reprimindo, assim, a expresso de agressividade nos
elementos da famlia o que, por sua vez, permite idealizar as relaes com a av materna, o
Gabriel e o pai, tratando-se das nicas figuras a obter afectos positivos erotizados. Deste
modo, os afectos gosta de me beijar e quer mesmo o meu amor surgem associados ao pai,
os afectos gosta de me abraar e quer estar sempre ao p de mim ligam-se apenas ao
Gabriel, podendo traduzir o desejo de proteco e de conservar a dependncia do Gabriel face
me, o item ama-me muito foi atribudo av materna podendo remeter para a percepo
de uma relao dependente da av com a me. Os itens gosta de estar sozinha comigo e
muito carinhosa comigo associam-se a estas trs figuras e traduzem uma forte ligao
afectiva com a me. Ao pai foram, ainda, atribudos dois afectos negativos de rejeio nem
sempre faz o que eu gostaria que fizesse e nem sempre me ajuda quando preciso
reenviando para conflitos e insegurana na relao de casal. Na relao com o irmo, a tia
materna e o av materno (relao ambivalente) os afectos negativos sobressaem face aos
afectos positivos, antevendo, conflitos na relao com estas figuras. Posto isto, foram
atribudos os itens resmunga comigo e fica zangada comigo a estas trs figuras podendo
senti-las como punitivas, o item nem sempre me ajuda quando preciso ao irmo e ao av
340
materno associando-se vivncia de insegurana na relao com estas figuras e nem sempre
faz o que eu gostaria que fizesse ao av materno e tia materna. A atribuio dos itens
gosta de gozar comigo, faz-me sentir frustrado(a) e malcriada para mim ao irmo
refora a ideia de insegurana na relao com este elemento da famlia.
10
8
6
4
2
Emitidos Positivos
Recebidos Positivos
-2
Emitidos Negativos
-4
Recebidos Negativos
-6
-8
341
0
0
0
1
2
2
0
1
Atribuio de
Incompetncia ou
Fraqueza
0
0
0
2
0
0
1
3
15
Pai
11
343
Me
22
Gabriel
Irmo
Av Paterna
Tio Paterno
40 Anos
Tio Paterno
46 Anos
25
20
15
10
0
Ningum
Pai
Me
Gabriel
Irmo
Av
Paterna
Tio
Paterno
40 Anos
Tio
Paterno
46 Anos
344
8
7
6
5
4
3
Positivos
Negativos
1
0
observa-se o afecto agressivo apetece-me bater nesta pessoa da famlia podendo remeter
para a rivalidade fraterna. A relao com o filho Gabriel marcada apenas por afectos
positivos como estou disposto(a) a fazer tudo por esta pessoa da famlia. Na relao com a
av paterna surge apenas um afecto negativo desmancha-prazeres remetendo para
conflitos na relao com esta figura. A auto-estima do pai apresenta-se baixa pela
superioridade dos afectos negativos face aos positivos. Assim, nos afectos negativos
encontram-se: demasiado picuinhas, irrita-se muito depressa, tem mau feitio, queixase demais, fica zangada demais e d-me a volta ao juzo que traduzem sentimentos de
inferioridade, culpabilizao e irritabilidade emocional. Entre os afectos positivos destaca-se
o afecto forte gosto de estar sozinho(a) com esta pessoa da famlia que remete para o desejo
de autonomizao. No Ningum figuram sobretudo as defesas na linha da negao dos afectos
agressivos inibindo, deste modo, a projeco da agressividade dirigida aos elementos da
famlia.
9
8
7
6
5
4
3
Positivos
Negativos
1
0
Figura 3 Nmero de itens positivos e negativos sentidos como recebidos por cada membro
da famlia.
Gabriel sobressai como a figura que obteve um maior nmero de afectos positivos erotizados
gosta de me beijar, gosta de me abraar, quer mesmo o meu amor, ama-me muito,
quer estar sempre ao p de mim remetendo para a percepo de uma relao prxima e
possivelmente constituindo-se como o modelo de identificao sexual masculino para o filho.
A relao com a me surge de forma ambivalente, ainda que os afectos positivos como gosta
de estar sozinha comigo e muito carinhosa comigo sobressaiam face aos negativos fica
ressentida comigo, gosta de gozar comigo, resmunga comigo e fica zangada comigo
reenviando, todavia, para a percepo de uma figura punitiva. A relao com o irmo e o tio
paterno de 40 anos surgem de forma positiva, com os itens aprecia-me muito e aprecia a
minha companhia associados ao irmo e gosta mais de mim do que dos outros atribudo ao
tio paterno, sentindo a sua relao com estas figuras muito valorizada por parte destes
elementos da famlia. Para o irmo pode representar, ainda, um modelo de identificao
sexual masculino significativo. Por outro lado, a relao com a av paterna surge dominada
pelos afectos negativos nem sempre me ajuda quando preciso e faz-me sentir sem valor
remetendo para uma relao insegura e desvalorizada por parte desta figura. Assim, a autoestima do pai apresenta-se mais uma vez baixa e dominada por sentimentos de culpabilizao
atravs do item negativo nem sempre faz o que eu gostaria que fizesse.
8
6
4
2
0
-2
Emitidos Positivos
-4
Recebidos Positivos
-6
Emitidos Negativos
-8
Recebidos Negativos
-10
347
0
2
1
2
0
0
0
Atribuio de
Incompetncia ou
Fraqueza
0
2
0
0
1
1
1
torna-se significativa e pode contrariar a ausncia de envolvimento emocional com esta figura
atravs do recurso a uma forte represso emocional durante a prova.
Identificao da Criana
Nome: Gabriel
Interesses/Actividades
Frequentas alguma actividade desportiva ou cultural (dana, teatro, msica, etc.)? Qual?
Fiz Karat e natao. Vou voltar para a natao.
Amigos
Escola
Famlia
351
Como que os teus pais se do um com o outro? O que pensas/sentes com isso?
So amigos. Sinto que se do bem.
Dormes com algum ou partilhas o quarto com algum? Se sim, com quem?
Antes o meu quarto e do meu irmo era uma sala, agora o meu irmo est na sala e
eu no outro lado (dividiram a sala ao meio).
Fantasias/Sonhos/Medos
353
Desenho Livre
Inqurito
2) Histria
Era uma vez uma cidade que polua muito. Havia muitas fbricas e muito trnsito e
com esse trnsito havia muitos acidentes. Um dia a fbrica principal estava cheia e
teve que deitar lixo pelo cano mas o cano estava ligado ao esgo ah, a um rio e esse
354
rio ia dar ao mar. O mar ficou todo poludo: peixes mortos, aves doentes, muitos
animais com doenas. Um dia veio um inspector cidade ver como que estava tudo,
mas ele no ficou contente. Viu tanta poluio que decidiu ir falar com o presidente:
senhor presidente j viu o que fez sua cidade, est toda poluda. Voc devia parar
as fbricas e devia fazer mais ruas. O senhor presidente j sabia que aquilo estava a
piorar e disse-lhe assim: como que pode fazer isso? Sem termos dinheiro? o
inspector disse logo: pea dinheiro aos outros pases que eles ajudam. Acha?,
responde o senhor presidente. Claro que sim. Ento o presidente l foi fazer isso.
Quando ele chegou Amrica foi falar com o presidente americano: senhor
presidente empresta-nos dinheiro para construir novas estradas, tapar as fbricas e
arranjar novas fbricas para tirar lixo do mar?. Talvez, voc precisa de quanto?.
No sei, muito dinheiro, venha viajar comigo para ver como est a nossa cidade.
Quando eles chegaram l passados dois dias o presidente ficou espantado com aquela
cidade e respondeu: a cidade est mesmo muito poluda, est cheia de acidentes, s
tem uma estrada principal, est sempre a deitar resduos, voc precisa mesmo de muito
dinheiro. Ento todos os presidentes do mundo emprestaram a mesma quantia de
dinheiro para arranjarem aquela cidade. Muitas pessoas e de outras nacionalidades
tambm ajudaram. Primeiro taparam as fbricas e mandaram vir uns 500 barcos para
tirarem os resduos do mar, depois tiveram a construir uma estrada nova (acrescenta
no desenho). E depois de tudo isso feito comevamos a ver outra vez o sol e foi assim
que uma cidade super poluda tornou-se numa cidade super limpa.
Anlise da prova
1 Desenho
356
Inqurito
E uma m recordao?
No vai ver alguns amigos porque no vo para a escola que ele vai.
358
2 Desenho
Inqurito
359
E uma m recordao?
Quando o irmo morreu.
18) Quais so as suas melhores qualidades? Faz os trabalhos de casa, amiga e chega
cedo escola.
19) Tem muitos amigos? Sim.
20) Mais velhos ou mais novos? Mais novos.
21) O que que dizem dele/a? Dizem coisas boas dela.
22) Ele/a gosta da famlia? Sim.
23) E da escola? Tambm.
24) Sai muito com os amigos? Sim.
25) Quando que diz que se divertiu muito? Quando saiu com os amigos.
26) Quer casar? Sim.
27) Com que idade? 20 e tal. 25.
28) Que gnero de homem quer casar? Com um homem bonito.
29) Quais so os seus trs principais projectos/sonhos? Quer ter uma boa casa, emprego
e quer ser mdica.
30) Com quem se parece? Com a me.
31) Gostarias de te parecer com ele/a? No.
32) Se pudesses, mudarias alguma coisa no teu desenho? No.
Anlise da prova
362
Inqurito
1) Quem so essas pessoas que desenhas-te, como se chamam e que idade tm? (da
esquerda para a direita)
Andr, 10 anos, filho;
Lusa, 38 anos, me;
Afonso, 15 anos, filho;
Francisco, 40 anos, pai este parece-se mesmo com o meu pai, mas t mesmo quase
igual ao meu pai.
6) Se tivesses que escolher uma pessoa desta famlia, quem que preferias ser?
Porqu?
Andr. Porque ele tem a mesma idade que eu, brinca com a famlia, est no mesmo
ano que eu.
7) Se fossem todos dar um passeio de carro mas no houvesse lugar para uma
pessoa, quem ficaria em casa? Porqu?
Era o pai ou a me. Mas se o Afonso no quisesse ir ficava em casa. (conta-me que
quando vo de frias ele e o irmo levam muitas bagagens em cima). Se quisesse
podia ficar (acrescenta o sol ao desenho).
9) Se pudesses mudar alguma coisa no teu desenho o que que mudarias? Porqu?
No mudava nada. Porque o desenho est bem feito.
Anlise da prova
olha a minha me quando estamos a comer pe sempre nas notcias, revelando-se, uma vez
mais, sensvel questo dos acidentes de viao e possveis danos da resultantes, como a
morte.
Quanto ao grafismo, o desenho apresenta-se investido e cuidado, contudo contm
alguns aspectos pouco esperados face idade do Gabriel como a ausncia de pescoo nas
figuras e quatro dedos nas mos direitas das figuras, com excepo da figura que representa o
filho mais novo que apresenta os dedos completos. A figura mais investida aparenta ser o pai
pelo maior nmero de detalhes como o cinto, os sapatos mais pormenorizados e diferentes das
restantes figuras, maior cuidado no traado da cara, na barba e cabelo, seguindo-se o filho
mais novo que semelhana do pai apresenta um aspecto mais harmonioso que a me e o
filho mais velho (figura menos investida). O sorriso da me, ainda que mais acentuado pelo
lpis surge como o mais superficial, j o do pai atribui-lhe um aspecto mais descontrado e
natural. O filho mais novo aparenta sentir-se triste, apesar do sorriso tnue. Importa, ainda,
salientar o posicionamento das figuras, onde a me se situa no meio dos dois filhos e o pai ao
lado do irmo mais velho. semelhana do primeiro Desenho da Figura Humana o Gabriel
desenha elementos, neste caso nas camisolas, que podem remeter para a personalidade de
cada figura. A diferenciao sexual e de geraes encontram-se integradas, assim como, o
conceito de famlia.
No questionrio destaca-se a defesa pela recusa dos afectos negativos, bloqueando a
expresso da agressividade face aos elementos da famlia. A figura na qual o Gabriel se
identifica, o Andr comporta simultaneamente os aspectos positivos e negativos da famlia
(ambivalncia na identidade), sentindo dificuldade em separar-se do ambiente familiar.
Observa-se uma forte rivalidade fraterna, com a projeco de agressividade no irmo mais
velho e a me a figura dominante da famlia, idealizada e pouco frustrante para os filhos
porque mais amiga, faz as vontades ao Andr e ao Afonso. O pai pouco abordado,
parecendo esquecido.
Anlise inter-individual
Anlise intra-individual
Intensidade do Item
Perfil de Itens
3
2
1
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27
Itens
33
Gabriel
Pai
24
Me
28
Irmo
366
35
30
25
20
15
10
5
0
Ningum
Gabriel
Pai
Me
Irmo
367
16
14
12
10
Positivos
Negativos
6
4
2
0
Ningum
Gabriel
Pai
Me
Irmo
Na anlise dos afectos positivos e negativos emitidos pelo Gabriel (Figura 2) sobressai
um forte mecanismo defensivo atravs da atribuio sobretudo dos afectos de cariz negativo
na figura Ningum, o que permite bloquear a expresso de agressividade sobre os elementos
da famlia e idealizar as relaes com estas figuras. A colocao no Ningum dos itens
gostava de poder dormir na mesma cama com esta pessoa da famlia e gostava que esta
pessoa da famlia gostasse mais de mim do que dos outros reenvia para o desejo de
autonomizao no Gabriel. Posto isto, no plano dos afectos emitidos a figura que mais se
destaca o pai obtendo tambm um maior nmero de afectos positivos erotizados nos quais se
destaca a atribuio do item quando me casar gostava que fosse com uma pessoa parecida
com esta pessoa da famlia apenas associado ao pai, o que pode remeter para o sentimento de
admirao do pai, podendo constituir-se como um modelo de identificao para o filho. O
afecto negativo emitido pelo Gabriel ao pai e me foi chata, sendo a me a figura que se
segue no mbito do maior nmero de afectos emitidos pelo Gabriel, registando os mesmos
afectos erotizados que o pai, com excepo do item supramencionado. Com o irmo sobressai
o afecto positivo gosto de abraar esta pessoa da famlia associando-se a uma relao
carinhosa, ainda assim, os afectos negativos tem mau feitio e no tem muita pacincia
permitem antever conflitos nesta relao que podem ligar-se rivalidade fraterna. A autoestima do Gabriel apresenta-se positiva.
368
14
12
10
8
Positivos
Negativos
6
4
2
0
Ningum
Gabriel
Pai
Me
Irmo
Figura 3 Nmero de itens positivos e negativos sentidos como recebidos por cada membro
da famlia.
369
15
10
5
Emitidos Positivos
Recebidos Positivos
Emitidos Negativos
Recebidos Negativos
-5
-10
-15
Ningum
Gabriel
Pai
Me
Irmo
370
Ningum
Gabriel
Pai
Me
Irmo
Superproteco
materna
0
7
3
3
6
Superindulgncia
Paterna
Materna
0
1
4
4
1
1
3
0
2
0
Total de
Dependncia
1
15
5
6
8
O recurso figura Ningum foi utilizado para a colocao dos afectos negados
sobretudo de cariz negativo reprimindo, assim, a agressividade dirigida aos elementos da
famlia. Observa-se um elevado grau de neuroticismo no funcionamento psquico do Gabriel.
A recusa/negao dos afectos erotizados pode reenviar para o desejo de autonomizao.
A auto-estima do Gabriel apresenta-se de forma positiva, ainda que o nmero elevado
de itens de dependncia concentrado sobre si reenvie para uma atitude egocntrica e
regressiva, assim como, para o desejo de proteco materna e de ateno por parte de ambos
os pais.
Com o pai a relao surge de forma idealizada e observa-se um forte investimento
positivo do Gabriel nesta relao, ainda que no se sinta correspondido, podendo sentir-se
pouco valorizado pela figura paterna que simultaneamente percepcionada como punitiva.
Ainda assim, o pai parece constituir-se como o modelo de identificao do Gabriel.
A relao com a me idealizada e percepcionada como fortemente investida por
parte da figura materna, podendo associar-se ao desejo de manter uma forte dependncia
371
emocional com o Gabriel. Ainda assim, a me sentida como punitiva. O Gabriel rivaliza
com esta pela ateno/proteco do pai.
A relao com o irmo sentida como desvalorizada por parte desta figura,
rivalizando com o irmo pela proteco materna.
As Aventuras de Pata-Negra
1 Etapa Frontispcio
PN:
Porque tem a pata negra. Menino. Tem 4 Anos.
Dois porquinhos:
Irmos, 2 meninos. Esquerda 2 Anos; Direita 3 Anos.
Porcos Grandes:
Em cima pai, 6 Anos.
Em baixo me, 8 Anos.
Sonho Pai
Era o Pata Negra que estava a sonhar com o pai. Ia buscar o filho que estava a ser
apanhado pelo caador, mais nada.
(?) Conseguiu salv-lo.
372
Num carto que reenvia para a relao com o imago paterno o Gabriel projecta uma
situao de perigo na qual o pai intervm como protector, podendo idealizar a figura paterna.
Sonho Me
Era o Pata Negra a sonhar com a me. E ele descobriu no seu sonho que a me
que lhe fez a pata negra porque ela tambm tinha uma mancha negra.
Ganso
Isto o PN? que a pata negra pode estar do outro lado. Este o irmo o de 2
anos. O irmo dele estava a brincar com o outro irmo de 3 anos, quando veio um grande
pato e ento o porquinho pequenino tentou fugir mas o pato pegou-lhe na cauda. Quando o
irmo de 3 anos viu isto foi logo morder-lhe e o pato aleijado fugiu logo. J t tudo.
Batalha
O PN est a fazer uma briga com o irmo de 3 anos e o irmo de 2 anos estava l no
meio deles, fugiu logo para o p dos pais e foi dizer aos pais. Os pais quando viram aquilo
foram logo a correr para o meio deles e separaram-nos. O irmo do meio ficou coxo, e o PN
ficou sem ver de um lado e ficou com a orelha toda inchada. T tudo.
373
Ganso
A1) Porque engraado. O porquinho de 3 anos (o que est a ver).
Pequena Escada
A2) Porque o PN est a aprender a escalar, a subir uma rvore. Gostava de ser o
esquilinho.
No aborda o contedo latente do carto que remete para a funo de holding de uma
das figuras parentais e evita identificar-se ao heri da histria recusando, possivelmente, o
carcter transgressor que a cena veicula.
Batalha
A3) Porque andam briga e os pais vo resolv-la. O pai.
Bebedouro
A4) Porque ele est a fazer chichi para a comida. O PN.
Mamada 2
A5) Gosto do PN primeiro que os irmos porque o PN est a beber o leite da me e os
irmos ficaram cheios de inveja. O PN.
Brincadeiras Sujas
A6) Porque tens os porquinhos na gua e sem querer sujaram o pai e ele ficou super
irritado. Aqui no consigo bem ver quem o PN porque esta gua est toda preta. O que
est a atirar a gua, PN.
Ninhada
A7) Porque a me do PN tem mais porquinhos e os homens esto a aconcheg-la. Um
porquinho pequenino, tanto faz, so todos iguais.
Num carto que reenvia para o fenmeno do nascimento num contexto de rivalidade
fraterna, o Gabriel faz uma identificao regressiva com um dos irmos mais pequenos, o que
permite anular a reaco agressiva (rivalidade fraterna) e projectar, assim, o desejo de uma
aproximao exclusiva figura materna.
Beijo
A8) Porque o pai a beijar a me do PN. O PN.
O Gabriel acede ao contedo latente do carto que remete para o conflito edipiano.
375
Sonho Me
A9) Porque o PN est a sonhar com a me. O PN.
Sonho Pai
A10) Porque o PN est a sonhar com o pai. Pai, para no repetir.
Reconhece o simbolismo do carto que remete para a relao com o imago paterno,
optando por se identificar a esta figura.
Cabra
A11) O PN est a beber leite de uma cabra em vez de beber leite da sua me e ele
pensava que era a sua me. O PN.
O Gabriel acede ao conflito imposto simbolicamente pelo carto que reenvia para a
relao com um substituto materno.
Mamada 1
A12) A me est a dar leite ao PN. O PN.
O Gabriel revela-se sensvel aos cartes de fundo negro, o que pode associar-se ao
experienciar da angstia depressiva.
Noite
nA1) Porque se v mal, no se percebe o que est ali fora.
Punha-a de dia. O sol. (?) A lua ento (afasta logo o carto aps responder-me a cada
uma destas questes).
376
Num carto onde o contedo latente remete para a curiosidade sexual e fantasmas da
cena primitiva o Gabriel no reconhece ou evita confrontar-se com esta temtica sobressaindo
a forte reaco tonalidade preta do carto, o que se associa angstia depressiva procurando
evitar e negar esta vivncia atravs de modalidades antidepressivas como o sol (no figura no
carto), lua (fonte de luz) e afastando rapidamente o carto.
Buraco
nA2) O PN no v nada e est preso, no consegue sair.
Mudava o PN conseguisse sair e haver sol. O PN j salvo.
Num carto que reenvia para a temtica da solido num contexto de perigo o Gabriel
revela-se, uma vez mais, hipersensvel ao tom preto do carto, o que pode traduzir um
equivalente de afecto depressivo, recorrendo s defesas antidepressivas na linha da recusa
manaca haver sol para lidar com este conflito.
Hesitao
nA3) O PN no sabe para onde ir, se ir para a me beber leite ou ir para o pai comer.
Que todos fizessem a mesma coisa juntos. A me.
Partida
nA4) Porque o PN est perdido.
Que ele soubesse o caminho de volta. Uma rvore.
Carroa
nA5) Porque o PN est a sonhar que est a ser separado dos pais.
O PN conseguisse fugir. O senhor, estes porquinhos aqui (dentro da carroa) no
gostava
377
Noite
Parece que vejo uma ovelha aqui e depois a me a dormir e depois v-se o PN a
olhar.
5 Etapa Questes de Sntese
6) Carto Fada:
Desejo 1: Queria que o pai se zangasse menos.
Desejo 2: Queria que os irmos obedecessem a ele.
Desejo 3: Queria ter mais trs desejos, tou a brincar. Gostava que a me desse mais
miminhos a ele do que aos outros.
Na Vila Moleza (desenhos animados) ele pede sempre mais trs desejos quando
aparece a fada e assim tem sempre mais desejos.
Preferncias-identificaes
Cartes
Os Temas
Preferncias
Identificaes
Aceite (A)/No
Agradvel
Assumida
Aceite (nA)
(A)/No
(A)/No
Agradvel (nA)
Assumida (nA)
Total
Bebedouro
nA
2A
Beijo
nA
2A
Batalha
nA
2A
Carroa
nA
nA
nA
3nA
Cabra
nA
2A
Partida
nA
nA
nA
3nA
Hesitao
nA
nA
nA
3nA
Ganso
nA
2A
Brincadeiras
nA
nA
1A
Noite
nA
nA
nA
3nA
Ninhada
nA
nA
1A
Sonho Me
3A
Sonho Pai
nA
2A
Mamada 1
nA
2A
Mamada 2
nA
2A
Buraco
nA
nA
1A
Sujas
379
Pequena
nA
nA
1A
Escada
Durante a passagem da prova Pata Negra o Gabriel manifestou uma conduta estvel,
controlada e concentrada, com excepo da fase final da prova, mais precisamente na 5 Etapa
intitulada Questes de Sntese, na qual, manifestou um comportamento mais agitado,
balanceando a cadeira.
Perante a anlise dos resultados constantes na tabela verifica-se uma maior censura
dos cartes associados s temticas do tema edipiano (Ninhada e Noite), rivalidade fraterna
(Carroa, Hesitao e Ninhada) e ligados vivncia de abandono e solido face ao confronto
com a angstia de separao e depressiva (Partida, Buraco e Carroa) podendo remeter para
dificuldades na resoluo destas problemticas. Os mecanismos defensivos que se destacam
so a negao, recalcamento, evitamento, formao reactiva, idealizao e recusa manaca.
A representao do desejo de uma aproximao exclusiva figura materna e a
rivalidade face figura paterna permitem auferir dificuldades na resoluo do conflito
edipiano. Todavia, a instncia superegica encontra-se integrada e a agressividade projectada
, em seguida, recalcada de forma a controlar a sua expresso, desencadeando tambm
culpabilidade pelo retorno da agressividade sobre si (no contexto da rivalidade fraterna).
Aparentemente a diferenciao de geraes e sexos parece assegurada. O Gabriel revela-se
sensvel aos cartes de fundo negro, o que pode associar-se ao experienciar da angstia
depressiva recorrendo s defesas antidepressivas na linha da recusa manaca haver sol para
lidar com este conflito. A temtica de abandono e solido face ao confronto com a angstia de
separao revela-se tambm difcil de experienciar para o Gabriel, no se identificando ao
personagem da histria de forma a evitar o confronto com esta angstia.
A figura materna representada de forma idealizada e pouco frustrante, identificandose com a me. Surge como a figura dominante na famlia.
A figura paterna percepcionada como uma figura protectora.
Na relao com os irmos destaca-se a rivalidade fraterna sobretudo face ao desejo de
ocupar um lugar prximo e privilegiado na relao com a figura materna.
380
Caso
Gnero
Idade
Ano de
Contacto
Escolaridade
Tom
Masculino
10 Anos
4 Ano
- Inibido;
e5
Meses
Isabel
Feminino
7 Anos e
1 Ano
3 Meses
- Imaturo;
- Inibido;
- Com o evoluir das sesses maior
disponibilidade para a relao e
verbalizao;
- Verbaliza, por vezes,
espontaneamente. Utiliza um tom de
voz baixo, pronunciando as palavras de
forma imatura para a idade;
- Mantm contacto ocular, olhar triste;
- Conduta estvel, controlada e
concentrada.
Joo
Masculino
9 Anos e
4 Ano
6 Meses
- Frgil;
- Ansioso;
- Inseguro;
- Perfeccionista;
- Hipermaturo;
- Olhar triste, evita manter contacto
ocular;
- Necessidade de preencher vazio;
- Bom contacto;
- Verbaliza com fluncia e
381
Feminino
9 Anos e
4 Ano
9 Meses
- Demasiado fcil;
- Sedutor;
- Necessidade de agradar;
- Comunicativa e expressiva, verbalizou
espontaneamente;
- Manteve contacto ocular, olhar triste e
vido;
- Auto-estima baixa;
- Insegurana;
- Ansiedade de separao dos pais;
- Necessidade de ateno, apoio,
cuidado e afecto constantes;
- Conduta agitada;
- Imaturidade: risos frequentes e
linguagem tpica de beb.
Gabriel
Masculino
10 Anos
4 Ano
e4
- Inibido;
- No decorrer das sesses maior
Meses
vontade;
- Verbaliza espontaneamente;
- Conduta estvel, controlada e
concentrada;
- Necessidade de ser cuidado.
382
Perodo
Caso
Tom
Origem
Motivo do
Acompanhamento
de Trata
Psicotrpi
do Pedido
Pedido/Sintomas
/Frequncia
-mento
-cos
No
Hospital
da Grande
Lisboa
- Ansiedade;
- Consultas
8 Meses
- Dificuldades de
teraputicas de
e 15 dias.
aprendizagem;
frequncia
- Cefaleias;
semanal;
- Teve encoprese
- Consultas
secundria.
teraputicas com os
pais.
Isabel
Consulta
- Ansiedade;
- Consultas
- Medos:
teraputicas de
Psicologia
Animais, ladres,
frequncia
de
palhaos, deitar-
semanal;
se sozinha,
- Consultas
acidentes, do
teraputicas com os
perigo.
pais.
de
Hospital
da Grande
Lisboa
Joo
Mdico de - Hiperactividade;
- Consultas
Famlia do - Dfice de
teraputicas de
Centro de
ateno;
frequncia
- Dificuldades
quinzenal;
escolares;
- Consultas
- Baixa auto-
teraputicas com os
estima;
pais.
Sade
2 Meses
No
8 Meses
Concerta
18mg
Comprimidos
- Somatizaes:
broncoespasmos
asma no
alrgica,
problemas de pele
(estrfulos),
estereotipias
faciais.
Mariana
Mdico de - Dificuldades de
- Consultas
Famlia do concentrao e
teraputicas de
383
7 Meses
Risperdal
soluo oral
Centro de
Sade
aprendizagem na
frequncia
escola.
quinzenal;
- Consultas
teraputicas com os
pais.
Gabriel
Consulta
- Dificuldades
- Consultas
hospitalar
alimentares com
teraputicas de
de
anorexia
frequncia
pneumolo
selectiva;
quinzenal;
- Tem asma e
- Consultas
rinite.
teraputicas com os
-gia
peditrica
2 Meses
No
pais.
Caso
Tom
Agregado
Classe
Familiar/Idades
Social
- Me, 39 Anos;
Classe
- Pai, 46 Anos;
III
- Tom, 10
Isabel
(Mdia)
Anos;
- Isabel, 7 Anos.
gravidez do Tom;
- A Isabel nasceu prematura;
- Me possivelmente deprimida;
- Pai foi seguido em psicologia na infncia por
dificuldades escolares.
Joo
- Me, 37 Anos;
Classe I
- Pai, 38 Anos;
(Alta)
- Joo, 9 Anos;
- Irm, 5 Anos.
Mariana
- Me, 39 Anos;
Classe
- Pai, 42 Anos;
IV
- Irmo, 17
(Mdia
Anos;
Baixa)
- Mariana, 9
8/9 meses;
384
Anos.
Gabriel
- Me, 39 Anos;
Classe
- Pai, 39 Anos;
III
- Meio-Irmo,
(Mdia)
- Os pais so ex-toxicodependentes;
- A me deixou de consumir pelo meio-irmo do
Gabriel quando este tinha 5 anos;
18 Anos (da
parte da me);
- Gabriel, 10
Anos.
isolando-se;
- A me tem Hepatite C;
- A me teve anorexia nervosa aos 20 anos;
- O av paterno faleceu aos 7 anos do pai.
Figura Materna
Caso
Tom
Isabel
Auto-estima
Relao Conjugal
- Baixa;
- Insegurana;
- Sentimentos de inferioridade;
- Culpabilizao;
famlia biolgica;
origem;
emitidos;
Joo;
- Sente-se desvalorizada;
385
elementos da famlia;
Mariana
- Baixa;
- Sentimentos de Inferioridade;
dirigida ao pai;
- Culpabilizao;
- Irritabilidade;
sentimentos e necessidades;
conflitos;
- Forte dependncia;
problemas;
- Carncia de proteco;
- Tendncia paranide no
- Diminuda disponibilidade
- Dependente do pai.
386
Gabriel
- Baixa;
- Sentimentos de inferioridade;
do pai;
- Culpabilizao;
- Irritabilidade emocional;
- Defesas: negao;
famlia.
Figura Materna
Relao da
Caso
Relao Me/Criana
Relao
Relao
Criana com
Me/Irmo
Fraterna
Outras Figuras
Relevantes
Tom
Isabel
- Dependente;
Pais:
Pais:
- Idealizada;
- Prxima;
- Relao com o
- Providencia proteco
- Rivalidade
av materno:
e cuidado;
fraterna;
atitude submissa
- Tom: preocupa-se
- Tom: mais
e passiva do
dependente da
av, provocao
proteco
e desafio da
materna e
autoridade do
tende a
av no Tom.
- Dependente;
proteger a
Pais:
- Idealizada;
irm;
- Contacto fcil;
- Desperta afectos
agressivos na me e
dependente,
- Necessidade de
irritabilidade;
defende-se
agradar;
sozinha, mais
- Forte angstia
astuta.
de separao
filha, no representando
mesmo de
um modelo de
adultos com os
conteno e segurana
quais no tem
387
para a Isabel;
contacto
- Pais: Necessidade da
frequente.
- Idealizada;
- Idealizada;
Pais:
Pais:
- Culpabilizada;
- Forte
- Rivalidade
- Avs paternos
- Carncia de afecto na
envolvimento
fraterna no
e maternos:
relao;
emocional;
Joo;
atitude
- Forte ligao e
- Afectos
- O Joo apoia
desafiante;
e protege a
- Tio materno:
parte do Joo;
remeter para a
irm.
figura masculina
- Afectos de rejeio do
necessidade de
de referncia
Joo associados ao
separao
para o Joo,
desejo de transgresso
emocional do
embora no
do espao materno;
espao materno
mantenham um
- Joo: elemento da
contacto
frequente.
maior proteco.
Elevada atribuio de
sentimentos de
incompetncia/fraqueza
ligados a dificuldades
em lidar com as
adversidades e na
adaptao social.
Mariana
- Idealizada;
- Idealizada;
Pais:
Pais:
- Prxima;
- Prxima;
- Afectiva;
- Carente;
- Culpabilizada;
- Carinhosa;
- Rivalidade
- Necessidade de
- No tem pacincia;
- Sente-se menos
fraterna por
agradar e de
- A me est doente;
valorizada por
parte da
ateno
- Mariana: estabelece
parte do irmo.
Mariana.
constante.
- Culpabilizao;
emocional consigo.
- Irmo:
dificuldades na
dependentes e que
adaptao social e
388
carecem de maior
na gesto dos
proteco na famlia.
conflitos com os
outros.
Preguioso.
Gabriel
- Satisfatria;
- Fortemente
Pais:
Pais:
- Correspondida;
desvalorizada e
- Rivalidade
- Av paterna:
- Culpabilizada;
insegura;
fraterna;
uma segunda
- Forte dependncia
- Irmo: falta de
- Irmo:
me;
emocional entre me e
apoio me.
provocativo e
- Av e tio de 40
filho;
Atitude punitiva e
pouco
anos paternos:
- Desejo de proteger o
agressiva;
tolerante para
muito prxima;
Gabriel.
- Conflitos
o Gabriel.
- Avs
acentuados
maternos: no
associados a uma
dificuldade na sua
as vontades
gosta de estar
as partes, com
com eles na
irritabilidade
quantidade
emocional no
certa.
irmo e
dificuldade no
controlo dos
impulsos
agressivos por
parte da me.
Figura Materna
Caso
Tom
- Idealizada;
- Sente-se pouco
valorizada;
Isabel
tio): atribui-lhe
sentimentos de
389
incompetncia/fraqueza;
- Av paterna: apenas
recebe afectos
agressivos da av, no
da tia;
se sente aceite.
Mariana
Av paterna: menos
av. A av sentida
culpabilizada;
Gabriel
Figura Paterna
Caso
Tom
Auto-estima
Relao Conjugal
- Sente-se desvalorizado;
elementos da famlia;
Isabel
- Baixa;
- Insegurana;
- Sente-se desvalorizado;
- Sentimentos de inferioridade;
- Irritabilidade;
associados ao sentimento de
- Culpabilizao;
problemas;
familiar.
Mariana
- Positiva;
- Idealizada;
Gabriel
- Baixa;
- Sentimentos de inferioridade;
- Prxima;
- Culpabilizao;
- Carinhosa;
- Irritabilidade emocional;
- Desajustamento social;
- Forte dependncia;
- Carece de proteco;
figuras parentais;
autonomia emocional;
- Defesa: negao.
Figura Paterna
Relao da
Caso
Relao Pai/Criana
Relao
Relao
Criana com
Pai/Irmo
Fraterna
Outras Figuras
Relevantes
Tom
- Idealizada;
Pais:
Pais:
- Correspondida;
- Prxima;
- Relao com o
- Rivalidade
av materno:
frustrao,
fraterna;
atitude submissa
deprimido e passivo.
- Tom: mais
e passiva do
dependente da
av, provocao
proteco
e desafio da
materna e tende
autoridade do
erros.
a proteger a
av no Tom.
392
Isabel
Joo
Mariana
- Idealizada;
irm;
Pais:
- Correspondida;
- Isabel: menos
- Contacto fcil;
dependente,
- Sedutor;
defende-se
- Necessidade de
Muito reservada e
sozinha, mais
agradar;
astuta.
- Forte angstia
de separao
do pai;
mesmo de
- Pais: a Isabel
adultos com os
quais no tem
o pai um discurso
contacto
frequente.
- Prxima;
- Pouco
Pais:
Pais:
- Idealizada;
envolvimento
- Rivalidade
- Avs paternos
- Culpabilizao;
afectivo;
- Dificuldades em lidar
- Afectos
- O Joo apoia e
atitude
com os conflitos;
erotizados;
protege a irm.
desafiante;
- Pai: autoritrio e
- Dependncia
- Tio materno:
afectiva.
figura masculina
- Joo: valoriza e
de referncia
para o Joo,
o pai, identificando-se
embora no
mantenham um
sentimento de
contacto
incompetncia/fraqueza.
frequente.
- Idealizada;
- Idealizada;
Pais:
Pais:
- Mariana: atitude
- Irmo:
- Afectiva;
- Carente;
sedutora e de rivalidade
dependente.
- Rivalidade
- Necessidade de
Necessita de
fraterna por
agradar e de
Emocionalmente
proteco.
parte da
ateno
Mariana.
constante.
dependente. Carece de
proteco.
Gabriel
- Idealizada;
- Correspondida; Pais:
Pais:
- Culpabilizao;
- Satisfatria;
- Av paterna:
393
- Rivalidade
- Irmo: deveria
fraterna;
uma segunda
parte do Gabriel
prestar mais
- Irmo:
me;
podendo constituir-se
apoio e
provocativo e
- Av e tio de 40
como o modelo de
proteco
pouco tolerante
anos paternos:
identificao sexual
famlia.
para o Gabriel.
muito prxima;
- Avs
- Gabriel: forte
maternos: no
dependncia. Carece de
proteco.
as vontades
gosta de estar
com eles na
quantidade
certa.
Figura Paterna
Relao com
Caso
a Famlia de
Origem
Materna
Tom
Isabel
- Pais: av
permissiva
para os netos,
estimula
pouco a
autonomia.
Joo
Mariana
Gabriel
Criana
Caso
Tom
Auto-estima
Relao Me/Criana
- Insegura;
- Fantasias edipianas;
- Culpabilizada;
- Forte idealizao;
- Emocionalmente dependente
- Mecanismos de defesa:
idealizao, evitamento,
recalcamento, negao e
- Desproteco;
formao reactiva.
- Carncia;
- Funo de apoio precria, necessitando a
prpria me de um auxiliador na sua funo
materna e de conteno.
Isabel
- Insegura;
me;
- Mecanismos de defesa:
deslocamento, idealizao,
evitamento e recusa.
Joo
- Baixa;
- Sentimentos de inferioridade;
- Pessimismo;
- Insegurana;
- Indeciso;
- Auto-exigncia;
- Culpabilizao;
- Dependente e carente da
proteco/apoio/ateno
parental, com poucos recursos
internos para se defender;
- Mecanismos de defesa:
mania, evitamento, formao
reactiva, negao,
racionalizao,
intelectualizao,
sobreinvestimento da realidade
perceptiva e recusa. Grau
acentuado de neuroticismo.
Mariana
- Baixa;
- Culpa;
- Sentimentos de inferioridade;
- Carncia;
- Culpabilizao;
- Abandono;
- Insegurana;
egocntrica e dependente
procurando valorizar-se atravs regressivo que pode remeter para a relao prdo forte desejo de proteco
de ambos os pais;
- Angstia depressiva;
- Grau considervel de
ateno do pai.
neuroticismo;
- Mecanismos de defesa:
idealizao, recusa manaca,
negao, evitamento, formao
reactiva e recusa.
396
Gabriel
- Baixa;
- Idealizada;
- Tristeza;
- Pouco frustrante;
- Culpa;
- Atitude egocntrica e
acentuado de proteco
Gabriel;
de ambos os pais;
- Elevado grau de
ateno/proteco do pai.
neuroticismo;
- Defesas: negao,
recalcamento, evitamento,
formao reactiva, idealizao
e recusa manaca.
Criana
Relao da
Criana
Caso
Relao Pai/Criana
Relao Fraterna
com
Outras
Figuras
Relevantes
Tom
- Forte idealizao;
- Sentimentos de
do pai;
- Rivalidade fraterna,
Isabel
obter a ateno/proteco
sobretudo da me.
- Rivalidade fraterna;
- Av
- Insegurana;
materno:
- Desproteco;
irmo.
autoritrio e
punitivo.
- Prxima;
- Afectuosa;
desejos;
- Sentimento de
proteco parental,
da proteco materna.
sobretudo da figura
materna.
Mariana
- Idealizada;
- Idealizada;
- Afectos erotizados;
- Tia e av
paternas:
afectuosas e
me.
Av
paterna:
dependente,
com quem
rivaliza pela
ateno do
pai.
Gabriel
- Idealizada;
- Sente-se desvalorizado
relao;
- No se sente correspondido,
ao desejo de ocupar um
lugar prximo e
figura paterna;
398
Caso
Tom
Organizao Familiar
Figuras parentais:
- Relao emocionalmente dependente e uma fraca autonomizao das famlias
de origem, sobretudo a me na relao que estabelece com a av materna;
- Figura materna aparentemente deprimida e permissiva;
- Figura paterna assume uma funo parental mais firme e contentora;
- Culpabilizao pelo forte envolvimento no mundo laboral e pela projeco nos
filhos das suas prprias dificuldades;
Tom/Isabel:
- Na presena da me (e da av materna) manifestam uma conduta mais imatura
marcada pelas dificuldades de separao no observada na relao com o pai;
Isabel
Joo
Figuras parentais:
- Figura materna flica, dominante;
- Figura paterna passiva com afectos que transmitem a vivncia de um sofrimento
depressivo;
- Fraca autonomizao emocional das suas figuras parentais, transferindo para a
relao com o Joo os modelos de identificao interiorizados na relao com
estas figuras assentes em relaes pouco afectuosas, autoritrias, punitivas e
inseguras, projectando, assim, as suas prprias falhas narcsicas e a vivncia de
culpa na relao com o Joo;
- Forte envolvimento nas questes de ordem racional valorizando a carreira
profissional e as competncias acadmicas do Joo em detrimento dos afectos,
repercutindo-se no empobrecimento da relao conjugal e na relao pais-filho;
Joo:
399
Gabriel
Figuras parentais:
- Conflitos acentuados na ordem da dependncia e falhas de valorizao narcsica
na relao com as suas famlias de origem, culminando nos consumos de droga
como um substituto simblico do objecto de amor perdido;
400
Conflito Edipiano
Aceita a
Caso
Resoluo
Diferena
Diferena
Sexual
de
Superego
Triangula
Excluso
-o
do Casal
Geraes
Tom
No
Parental
Reconhece Reconhece
Integrado
Acede
No
No
Reconhece
No
Integrado
No acede
No
ultrapassado
parcial
reconhece
Reconhece Reconhece
Integrado
Acede
No
Reconhece Reconhece
Integrado
Acede
No
Reconhece Reconhece
Integrado
Acede
No
ultrapassado
Isabel
-mente
Joo
Parcialmente
ultrapassado
Mariana
No
ultrapassado
Gabriel
No
ultrapassado
401
Conceito
Caso
de
Ncleo
Problemticas da Criana
CDI
Depressivo
Grupo 2
Ncleo
(nvel
depressivo
intermdio de
primrio
sintomas de
(anal)
depresso)
Famlia
Tom
Grupo 1
Ncleo
(sujeitos no
depressivo
desta figura;
deprimidos)
precoce
(oral)
Grupo 2
Ncleo
(nvel
depressivo
intermdio de
flico
sintomas de
depresso)
Grupo 3
Ncleo
(nvel
depressivo
intermdio de
precoce
sintomas de
(oral)
depresso)
Grupo 2
Ncleo
(nvel
depressivo
intermdio de
primrio
sintomas de
(anal)
depresso)
materna;
- Sobressai o desejo de uma
paterna;
- Dificuldades no processo de
403
separao/individuao;
- Culpabilidade pelo retorno da
agressividade sobre si;
- Falha narcsica marcada, vivncia
carencial e desprotegida, de abandono
e solido face ao confronto com a
angstia de separao e depressiva
recorrendo s defesas antidepressivas
na linha da recusa manaca para lidar
com este conflito.
404