Mecanica Classica UFES
Mecanica Classica UFES
Mecanica Classica UFES
Fsica
Licenciatura
Fsica | Mecnica Clssica
ste livro foi concebido com base em anos de experincia em novas formulaes e desenvolvimento
de aulas ministradas nos cursos de Mecnica Clssica
para alunos de Fsica proferidos pelo Prof. Dr. Marco
Antnio dos Santos, que o atual (2012) coordenador
do curso de Fsica da UFES. Com base nesse trabalho
de pesquisa e didtico, o Prof. Dr. Marco Antnio dos
Santos me convidou para participar da elaborao
deste livro tendo como base suas anotaes e resumos. Ressalto que a abordagem utilizada aqui diferenciada e muito singular, trazendo novos elementos
ao fascinante mundo da Mecnica Clssica.
A1
UNIVERSIDADE F E D E R A L D O E S P R I TO S A N TO
Ncleo de Educao Aberta e a Distncia
mecnica clssica
Marco Antnio dos Santos
Marcos Tadeu D'Azeredo Orlando
Vitria
2012
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Reitor
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Prof. Dr. Carlos Augusto Cardoso Passos
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Prof. Dr. Carlos Augusto Cardoso Passos
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Editorao
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Capa
Thiers Ferreira
Inclui bibliografia.
ISBN:
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escrito, da Coordenao Acadmica do Curso de Licenciatura em Fsica, na modalidade a distncia.
a cinemtic
a da partcu
la e
a cinemtic
a do slido
ca
ni
c
e
m
9
3
ana
ni
to
new
mecnica na
formulao Lag
ra
ngiana
mecnica na
formulao Hamiltoniana
78
97
a cinemtica da partcula e
a cinemtica do slido
1.
A Cinemtica da Partcula
O problema fundamental da Mecnica Clssica se resume em descrever o movimento de um sistema (corpo, partcula ou sistema de
partculas) sujeito a determinadas condies (foras, potenciais, vnculos, etc.). Mais especificamente, no formalismo newtoniano, dado
uma partcula sujeita a determinada fora, descrever seu movimento.
Ou, inversamente, dada uma partcula se movimentando de determinada maneira, descrever as foras que atuam sobre ela. Esta relao,
entre foras e movimento, caracteriza o formalismo de Newton da
Mecnica Clssica, com a grandeza vetorial fora desempenhando
um papel fundamental, enquanto que em outros formalismos, como
os de Lagrange e Hamilton, as grandezas necessrias para a descrio do movimento so basicamente as energias, cintica e potencial.
Esta caracterstica faz com que o formalismo Newtoniano seja um
formalismo vetorial, sendo as grandezas vetoriais posio, velocidade, acelerao e fora fundamentais para esta descrio. Por isso
o formalismo de Newton muitas vezes chamado de formalismo
vetorial, e sua mecnica tambm chamada de Mecnica Vetorial,
enquanto que os outros formalismos, que se baseiam em grandezas
escalares como energia e coordenadas so tambm conhecidos como
Mecnica Analtica. Neste curso iremos tratar inicialmente do for-
eq. 1
Exemplos
1) Um tubo metlico, retilneo e oco, encontra-se girando sobre uma
mesa com velocidade angular constante e igual a w. No interior do
tubo, uma formiga caminha com velocidade constante, em relao ao
tubo, de mdulo v, na direo paralela ao eixo de simetria do tubo e
no sentido contrrio ao ponto em que passa o eixo em torno do qual
o tubo gira, que vamos tomar como origem de um sistema de coordenadas polar. Calcule a trajetria da formiga neste sistema polar supondo que no instante inicial a formiga passava pela origem e o tubo
passava pelo eixo polar, ou seja, em = 0.
Soluo:
Chamando de r a coordenada polar radial da formiga, podemos escrever que, de acordo com a condio inicial, r = vt. Tambm de
acordo com a condio inicial podemos escrever que a coordenada
angular polar pode ser descrita por = wt. Tomando t em ambas
as relaes e igualando os valores temos
r v = rw
=
v w
Esta a equao de uma espiral, em coordenadas polares, usualmente conhecida como espiral de Arquimedes.
2) Diz-se que uma partcula est animada de movimento central se a
reta suporte de sua acelerao passar constantemente por um ponto
fixo, que usualmente chamado centro do movimento. So centrais,
por exemplo, os movimentos dos planetas em torno do Sol, assim
como so tambm centrais os movimentos dos eltrons no tomo clssico de Bohr. Queremos demonstrar uma propriedade muito importante
dos campos centrais que a de que todo movimento central plano.
Soluo:
Considere a figura abaixo
v
Mo = r x v
10
h
-t
e =1vo
(1)
t
0
=-
vo
(e-t - 1)
11
2.
Clculo Motorial
M0 = i = 1 ri x ci
eq. 2
MP = i = 1 ri x ci
n
MQ = i = 1 ri x ci
12
= MP + (P - Q) x i = 1 ci = MP + (P - Q) x c
MQ = MP + c x (Q - P)
eq. 3
Ai
ri
ri
MP
Q
P
MQ
Figura 1
13
regresso matemtica, ou seja, o campo vetorial formado pelas velocidades associadas aos pontos de um corpo rgido em movimento.
Neste caso as coordenadas ligadas so, naturalmente, as velocidades
(vA) associadas a cada ponto do corpo, e a coordenada livre o vetor
velocidade de rotao do corpo, w. E este fato de as velocidades dos
pontos de um slido se constituirem em um campo motorial, que faz
a cinemtica do slido se tornar um assunto muito mais simples que
seria caso no houvesse esta propriedade. Temos ento
vA = vB + w x (A - B)
eq. 4
i = 1 ri x pi
n
LQ = i = 1 ri x pi
L0 =
eq. 5
eq. 6
onde agora a soma das foras que faz o papel de coordenada livre.
Embora seja um mero exerccio chegar s eq. 5 e 6, no existe um
caminho to simples para mostrar que a eq.4 vlida. Para chegar
a ela usaremos um teorema do Clculo Motorial, que no julgamos
conveniente demonstrar aqui, chamado de teorema discriminador (a
demonstrao deste teorema, embora no seja complicada, pode ser
encontrada no livro Mecnica Vetorial, de L. P. M. Maia). A fim de
usar este resultado na prxima seo, vamos enunci-lo aqui:
14
3.
A Cinemtica do Slido
Translao
O movimento puramente translacional aquele em que o vetor que
liga dois pontos quaisquer do corpo rgido permanece eqipolente a
um vetor fixo no referencial a partir do qual o movimento do corpo
estudado. Portanto, podemos escrever que, para quaisquer A e B
pertencentes ao slido em movimento translacional, temos:
A - B = constante no tempo.
Observe que o movimento de translao de um slido no implica
em trajetrias retilneas para os pontos deste. O movimento da cadeira de uma roda-gigante um exemplo clssico de um movimento
de translao em que os pontos do slido no descrevem um trajetria retilnea (e nem mesmo circular!).
fcil perceber ento que basta a descrio do movimento de
UM ponto do slido para que o movimento de todo o slido esteja
15
rAB
A
rB
rA
0
Figura 2
rB = rA + rAB
onde sabemos que rAB um vetor constante no tempo. Podemos ento derivar ambos os membros em relao ao tempo e obter (uma
vez que a derivada temporal de rA vA)
vA = vB
Que por sua vez, tambm derivada em relao ao tempo fornece
aA = aB , q.e.d.
16
Rotao
O movimento puramente rotacional aquele em que dois pontos do
slido encontram-se em repouso em relao ao referencial em que
este observado. Estes dois pontos determinam uma reta, , chamada de eixo de rotao. Podemos mostrar que todos os pontos do
slido que se encontram sobre o eixo de rotao possuem, tambm,
velocidade nula no referencial em pauta. Para se convencer disto,
observe a figura 3, onde os pontos A e B so os pontos em repouso
e que, por isso, definem a reta :
B
S
A
R
Figura 3
onde P representa um ponto qualquer da reta e um escalar adequado a P e constante no tempo. Derivando em relao ao tempo
esta equao temos:
- A = (B - A) + ( - A)
17
x
Figura 4
Percebe-se, por esta definio, que a velocidade angular informa a respeito da rapidez com que o slido gira em torno do
eixo. Tambm bastante intuitivo perceber que as velocidades de
cada ponto do corpo so to maiores quanto maior for a velocidade angular, mas que para uma mesma velocidade angular a velocidade de cada ponto to maior quanto maior a distncia do
ponto ao eixo de rotao. Tais informaes podem ser obtidas com
mais exatido por uma investigao matemtica muito simples a
respeito de w e vP , a velocidade de cada ponto P do corpo. Tal
investigao tambm nos revelar uma propriedade muito importante a respeito da Cinemtica do Slido.
Vamos escolher ainda um slido em rotao em torno de um eixo
que coincida com o eixo z do sistema cartesiano, como na figura anterior, apenas explicitando agora dois dos pontos do sistema S que
definem , os pontos A e B na figura 5, e vamos usar tambm o sistema de coordenadas cilndricas (, , z):
18
z
C
B
r
A
0
y
p
Figura 5
eq. 7
eq. 8
que confere com aquilo que nossa intuio previa. Podemos, entretanto, ir mais alm se definirmos o vetor velocidade de rotao,
como usualmente se faz, como um vetor que possui como mdulo a
velocidade angular w, a direo dada pelo eixo de rotao e o sen-
19
A Regra do Parafuso
Figura 6
eq. 9
20
eq. 10
que a prpria eq.4 acima. Ento, pelo menos para o caso do movimento de rotao pura, acabamos de demonstrar que o campo
das velocidades de um slido um campo motorial, cuja coordenada livre a velocidade de rotao. O que tambm verdade para
o movimento de translao pura, uma vez que neste caso w = 0 e
ento a eq.10 se resume a vP = vQ.
Mas o que afirmar a respeito do movimento mais geral de um slido, que no nem bem uma translao nem bem uma rotao? Poderamos compreend-lo como alguma combinao dos dois? A resposta
a esta questo foi dada por Euler em 1752, mais de um sculo antes do
trabalho de Clifford, e portanto, sem a facilidade do Clculo Motorial e
que vai ser aqui chamada de Teorema de Euler, que resolve de maneira
definitiva a questo central da Cinemtica do Corpo Rgido:
Teorema de Euler: O movimento mais geral possvel de um sistema
rgido pode sempre ser pensado como constitudo, em cada data t, pela
superposio de dois movimentos rgidos simples: um de translao e
outro de rotao. O movimento de translao poder ser caracterizado,
na data t, em geral, por uma qualquer dentre uma infinidade de possveis velocidades, enquanto que o movimento de rotao caracterizado, na data t, por uma, e somente uma, velocidade de rotao.
Demonstrao: Sejam A e B dois pontos quaisquer de um corpo
rgido. Podemos afirmar ento que
A - B = cte. (A-B)2 = cte
21
eq. 11
22
4.
O Problema Cinemtico da
Mudana de Referenciais
Para encerrar a discusso a respeito da Cinemtica vamos tratar
do importante problema de relacionar a cinemtica da partcula do
ponto de vista de dois referenciais que se movimentam, um relativo
ao outro. Ou seja, vamos tratar da questo especfica de, sabendo
quais so as grandezas cinemticas, posio, velocidade e acelerao de uma partcula, do ponto de vista de um referencial, como
ficam relacionadas estas com aquelas, posio, velocidade e acelerao da mesma partcula, do ponto de vista de um outro referencial
(ou corpo rgido) que se move em relao ao primeiro de forma conhecida (quer dizer, do qual conhecemos a velocidade de um de seus
pontos e sua velocidade de rotao).
Como preliminar da questo acima vamos analisar como mudam
as derivadas temporais de vetores, derivadas estas vistas de um ou de
outro referencial. Vamos chamar de R um referencial inicial e de R
um referencial que se mova em relao ao primeiro de maneira conhecida. fcil perceber que, por exemplo, um vetor que constante
no referencial R, para um observador que se movimente junto com
este referencial (imagine o vetor que liga dois pontos do referencial
R), no parecer constante do ponto de vista de outro observador no
referencial R, visto que o corpo de R se move em relao a R. Usaremos a seguinte notao em nossa anlise: d/dt (ou um ponto sobre
um vetor) ser usada para designar a derivada temporal relativa a R
e /t para designar a derivada temporal medida por um observador
em R. Mostraremos agora que, para um vetor genrico g vale a seguinte relao:
dg g
=
+wxg
dt
t
eq. 12
23
S
x
z
A
0
y
Figura 7
eq. 13
eq. 14
eq. 15
24
R
x
0
R0
R
y
25
eq. 16
eq. 17
Esta a relao entre a velocidade da partcula, vista do referencial R, e a velocidade da partcula, vista do referencial R, uma
vez que se sabe que R se move em relao a R de acordo com as
coordenadas (VO, w), ligada e livre, respectivamente do slido S
que representa R. A soma do primeiro com o terceiro termo do lado
direito desta equao normalmente chamada de velocidade de
transporte, Vtr, pois a velocidade que a partcula teria, relativa ao
referencial R, ainda que estivesse em repouso no referencial R, ou
seja, apenas transportada por este.
Finalmente, tomando a derivada temporal em relao ao referencial R, desta ltima equao, obteremos uma relao envolvendo as
aceleraes vistas dos dois referenciais:
V = V O + v + w r + w r
26
eq. 18
27
Soluo:
V
y
Vtr
y
Figura 9
eq. i
(Na figura esto representadas as velocidades de transporte e relativa, que somadas fornecem a velocidade relativa ao referencial
fixo.) No h a menor dificuldade em exprimir esta velocidade no
sistema ligado a R, uma vez que se percebe facilmente da figura a
validade das relaes
x = cosx + siny = coswtx + sinwty
y = -sinx + cosy = -sinwtx + coswty
eq. ii
28
5) O mbolo do sistema mecnico representado na figura 10 funciona conjugado com uma manivela (na extremidade da haste associada ao mbolo existe um pino que desliza ao longo de um
sulco retilneo existente na manivela). O mbulo executa um movimento de vaivm, em relao ao plano da figura, imprimindo,
assim, um movimento oscilatria manivela, que numa data genrica t faz um ngulo com o eixo Ox (que paralelo haste do
mbolo e fixo no plano ) e a sua velocidade angular vale w. Os
sistemas cartesianos Oxyz e Oxyz indicados na figura SAP so
solidrios manivela e ao plano , respectivamente. Sabendo que
igual a a distncia da haste do mbolo ao eixo Ox calcule, na
posio genrica , a norma: 1) da velocidade v com que a extremidade da haste est se movendo relativamente manivela; 2) da
velocidade V do mbolo em relao ao plano ; 3) da acelerao
de Coriolis, acor, da extremidade da haste do sistema mbolo-haste,
caso sejam utilizados os dois seguintes referenciais: um, R, solidrio manivela, e outro, R, solidrio ao plano .
x
y
Vtr
V
Figura 10
Soluo:
No sistema Oxyz temos que, mantendo coerncia com a notao adotada neste texto, a primeira parte da questo est respondida assim:
v = xx
v = - xcotx v = |wcotcsc|
= xsin
29
A segunda parte tambm de simples soluo, desde que lembremos que em nossa notao, V0 = 0, w = wz e r = xx = cscx , e
portanto, w r = w cscy. Ento a eq. 17 nos diz que:
V = VO + v + w r = -wcotcscx + wcscy
O clculo da acelerao de Coriolis imediato:
acor = 2w v = 2wz (-wcotcscx ) = -2w2cotcscy
6) Composio de velocidade angular
Vamos analisar a seguinte questo ilustrada na figura 11: se numa
data t a velocidade angular de um slido relativa a um referencial R1
dada por w1 , e na mesma data a velocidade angular do referencial
R1 em relao a outro referencial R2 w12 , qual ser, nesta data, a
velocidade angular do slido referente a R2?
B
A
S
R2
R1
Figura11
Soluo
Sejam t e ddt as derivadas temporais relativas a R1 e R2 , respectivamente. Sejam os pontos A e B do slido, e em nossa notao fica
claro que podemos escrever
t (A - B) = vA - vB = w1 (A - B) i
ddt (A - B) = VA - VB = w2 (A - B) ii
30
Por outro lado, a frmula de Poison, eq. 12, nos garante que
ddt (A - B) = t (A - B) + w12 (A - B) iii
Usando os resultados i e ii em iii temos:
w2 (A - B) = w1 (A - B) + w12 (A - B) (w2 - w1 - w12) (A - B) = 0
A nica soluo para esta condio ento
w2 = w1 + w12
31
Exerccios
1) Aos pontos P1 e P2 de uma haste rgida e retilnea esto ligados
dois pinos que podem deslizar ao longo de dois sulcos retilneos e
mutuamente perpendiculares, conforme indicado na figura abaixo.
Sabendo que na data t a haste forma com o sulco inferior um ngulo
igual a e que o ponto P1 est ento se movendo com uma velocidade de norma igual a v1, calcule qual ser, na mesma data t, a
norma da velocidade do ponto P2.
P2
P1
32
v0
H
P
V
T
N
0
4) A reta representada na figura paralela ao eixo das abscissas Ox do sistema de eixos cartesianos Oxy e a sua distncia
a esse eixo constante e igual a h, enquanto que a reta gira
com velocidade angular w = cte em torno da origem cartesiana O,
mantendo-se sempre no plano xOy. Considere o ponto I de interseo das retas e e calcule em funo do ngulo indicado na
figura: 1) a velocidade escalar com que o ponto I percorre a reta
; 2) a velocidade escalar com que o ponto I percorre a reta ; 3)
a acelerao tangencial com que o ponto I percorre a reta ; 4) a
acelerao tangencial com que o ponto I percorre a reta .
33
com uma velocidade constante v0, da esquerda para a direita, permanecendo, porm, sempre a uma mesma altura h acima do solo.
Sabendo que o bloco B e o extremo livre do fio se mantm num
mesmo plano, calcule a velocidade do bloco numa data genrica
t e o intervalo de tempo transcorrido desde o instante inicial ( instante da partida) at o instante em que o bloco B atingiu a polia P.
Vo
h
C
D
7) A, B e C so trs pontos no colineares pertencentes a um sistema rgido S. Sabendo que em cada data t tem-se que vA = vB =
34
vC, onde vA, vB e vC so as velocidades dos pontos A, B e C, respectivamente, correspondentes data t, demonstre que o sistema
rgido S est animado de movimento puramente translacional.
8) O comprimento do raio da esfera fixa representada na figura vale
R, enquanto que o da esfera menor e que rola sobre ela vale r. No instante em que o segmento de reta OC forma com a vertical um ngulo
igual a a velocidade angular da esfera mvel vale w. Sabendo que
a esfera mvel rola sem deslizar, calcule a velocidade do seu centro,
no instante mencionado. (Todas as velocidades so relativas ao referencial onde a esfera maior fixa, e ambas as esferas so rgidas.)
r
C
9) Na figura est representada uma seo plana e vertical de um hemisfrio, de raio R, cavado na rocha, e no interior do qual rola, sem
deslizar, uma esfera rgida, de raio r < R. A seo representada contm os centros O e C do hemisfrio e da esfera rolante. Numa data
genrica t a velocidade angular da esfera mvel igual a w e o segmento de reta OC que une os pontos O e C forma com a vertical um
ngulo . Calcule: 1) a velocidade escalar do centro C da esfera rolante, na data t; 2) o valor de na data t. ( Todas as velocidades mencionadas so relativas a um referencial solidrio rocha.)
O
R
O
35
DT
36
37
y
x
O
38
mecnica newtoniana
2
Fsica | Mecnica Clssica
39
1.
As Leis de Newton
40
se pode duvidar ou fraquejar ante o reconhecimento da natureza vetorial de determinadas grandezas como posio, velocidade, acelerao e fora, apenas para citar algumas. E no h empecilhos para
tratar com elas, quer dizer, manipular, calcular, etc. Tambm os conceitos e as operaes do Clculo Diferencial e Integral so mais familiares e mais maduros. Torna-se mais fcil entender que a velocidade
de uma partcula S pode ser definida e compreendida como uma
DERIVADA da funo posio em relao ao tempo. Ento, esta releitura torna-se obrigatria, ao menos do ponto de vista matemtico.
Do ponto de vista fsico, porm, existem questes fundamentais
que precisam ser mais bem discutidas, a fim de que se adquira uma
compreenso mais slida da Mecnica de Newton. E entre elas, sem
sombra de dvida, est a questo do referencial. Via de regra, o estudante que est cursando esta disciplina, j ao final de seu Curso de
Graduao, compreende muito mal a questo do referencial. E no se
pode culpar ao estudante, quando mesmo os professores e os livros
texto fazem um tratamento deficiente e obscuro desta questo. Ento,
por exemplo, ao ser colocado para analisar uma situao que envolve
a presena da fora centrfuga, o estudante penetra em uma nuvem
de raciocnios pouco claros e imprecisos para decifrar o enigma. H
uma fora fictcia no problema? O que mesmo uma fora fictcia?
Ela existe? mesmo uma fora? Mas se ela tem o mesmo mdulo e
sentido contrrio fora centrpeta, a soma das duas zero? Ento
o corpo se encontra em M. R. U., e no em uma curva? Elas formam
um par ao e reao? Imagine-se dormir com um barulho desses.
Podemos dizer que a confuso a respeito da questo do referencial
foi plantada mesmo no livro magistral de Isaac Newton, Philosophiae
Naturalis Principia Mathematica, publicado em Londres em 1687.
Ali Newton solucionou o problema do movimento que perturbava a
mente humana por cerca de 2000 anos, desde Aristteles, pelo menos. De forma genial, Newton formulou uma teoria matematicamente
consistente (para isso Newton desenvolveu o Clculo Diferencial) e
que resolveu de forma aparentemente definitiva a questo do movimento, chegando inclusive, magistralmente, correta descrio do
movimento dos planetas e dos corpos celestes em geral. Havia, entretanto, um pressuposto na construo terica de Newton, que embora
no leve necessariamente a nenhuma incorreo nesta teoria, necessita de uma discusso mais profunda, a fim de desfazer a confuso
41
42
que tal definio j fosse subentendida, esta pode ser vista como uma
definio da inrcia, sendo por isso a primeira lei frequentemente
chamada de lei da inrcia. Galileu j havia compreendido que os
corpos possuem esta propriedade, como se pode ver desta passagem
retirada de seu livro Discorsi Intorno a Due Nuove Scienze, de 1638:
Imagine uma partcula qualquer lanada sobre um plano horizontal, sem atrito; se o plano for ilimitado, a partcula se mover sobre
ele com movimento uniforme e perptuo.
importante notar que a primeira lei tambm pode ser enunciada
em sua forma mais moderna como a lei da conservao do momentum:
constante o momentum de uma partcula, a no ser que seja
diferente de zero a soma das foras que atuam sobre ela.
A segunda lei de Newton, ou o princpio do momentum linear,
como tambm chamada, pode ser assim enunciada ( e de fato assim
o foi por Newton em seu Principia):
Lei II A soma das foras que atuam sobre uma partcula igual
derivada temporal do seu momentum linear.
F=
eq. 1
Debruado sobre o trabalho experimental e matemtico de Galileu, Newton relacionou de forma concisa a fora com a acelerao,
conforme podemos ver matematicamente, escrevendo o momentum
linear como o produto da massa pela velocidade:
F=
dp d(mv) dm
dv
=
=
v+m
dt
dt
dt
dt
F = ma
eq. 2
que a forma mais comum em que encontramos a segunda lei escrita. Enfatizando, foi Galileu Galilei quem, cerca de um sculo
antes de Newton e aps uma criteriosa investigao experimental
descobriu que a fora estaria relacionada com a acelerao e no
com a velocidade como at ento se cria, desde a poca de Aris-
43
44
cia uma reao que atua em OUTRO corpo, portanto, este par de
foras NUNCA age sobre UM corpo apenas. Como um exemplo
simples de como se faz com facilidade muita confuso com este
fato vamos analisar a situao de um livro em repouso sobre uma
mesa, conforme ilustrado na figura abaixo.
Figura1
45
2.
O Movimento e o Referencial
46
torcida, e em seguida enchido com gua e mantido em repouso juntamente com a gua e, em seguida, pela ao brusca de uma fora
for posto a girar no sentido oposto ao inicial, enquanto a corda for
se desenrolando por si mesma o balde continuar por algum tempo
o seu movimento, mas a superfcie da gua a princpio se manter
plana, como era antes do balde comear a girar;mas, aps o balde ir
gradualmente comunicando o seu movimento gua, ela comear
a girar sensivelmente e ir se afastando pouco a pouco do centro
e elevando-se nas bordas do balde, formando uma figura cncava
( como eu verifiquei), e, quanto mais rpido for se tornando o seu
movimento, mais alto a gua ir se elevando, at que, finalmente,
realizando suas revolues no mesmo tempo que o balde, ela ficar
em repouso relativamente a ele.Essa ascenso da gua mostra o seu
esforo para se afastar do eixo do seu movimento, e o movimento circular verdadeiro e absoluto da gua, o qual aqui diretamente contrrio ao relativo, torna-se conhecido e pode ser medido atravs de
tal esforo. No incio, quando o movimento relativo da gua no balde
era mximi, ele np produzia nenhum esforo para afastar do seu
eixo: a gua no mostrava tendncia alguma para se dirigir para a
circunferncia, nem qualquer ascenso sobre a parede do balde, mas,
permanecia com sua superfcie plana, e, portanto, o seu movimento
circular verdadeiro no havia ainda sido iniciado. Mas, em seguida,
quando o movimento relativo da gua havia diminudo, a ascenso
sobre a parede do balde provava o seu esforo de se afastar do eixo de
rotao; e esse esforo mostrava o movimento circular real da gua
crescendo continuamente at atingir o seu maior valor, quando, ento, a gua estava em repouso relativamente ao balde. E, portanto
tal esforo no depende de qualquer translao da gua em relao
aos corpos locais, nem pode o verdadeiro movimento ser definido por
uma tal translao. Existe um nico movimento circular real de um
corpo, correspondente a um determinado esforo de afastamento de
seu eixo de movimento, mas, movimentos relativos, correspondentes
a um mesmo corpo, so inumerveis, conforme as vrias relaes
que ele mantenha com os corpos externos, e, semelhantemente a outras relaes, so, em conjunto, destitudos de qualquer efeito real.
(Newton Principia, p.10-11)
Esta concepo, aliada primeira lei, fez com que por muito tempo
prevalecesse a idia de que as leis de Newton s seriam vlidas relativas a certo tipo de referencial. Este seria o espao absoluto ou qual-
47
48
eq. 3
49
Vamos nos reportar figura 8 do Mdulo anterior, da qual derivamos a equao 18, e por conseqncia a equao 3 acima. Considere
que o referencial R seja um referencial inercial, ou seja, considere
que se possa escrever
mA = Fint
como nos garante a segunda lei de Newton e vamos chamar de foras inerciais os quatro termos restantes no lado direito da equao
3, ou seja,
-mAO - mw (w r) - mw r - 2mw v = Finer
Podemos ento escrever
F = ma
eq. 4
Ou seja, esta equao, que bastante semelhante com a que estabelece a segunda lei de Newton, vale em um referencial QUALQUER,
e no apenas nos inerciais. S que agora, diferente da eq.2, temos
que F = Fint + Finer, ou seja, as foras esto divididas em duas
categorias, as foras de interao, que j conhecamos, e as foras
inerciais, que so apenas quatro, as assim chamadas:
E = -mAO Fora de Einstein
C = -mw (w r) Fora Centrfuga
E* = -mw r Fora de Euler
C* = -2mw v Fora de Coriolis
Em resumo, a equao 4 a segunda lei de Newton generalizada,
pois pode ser aplicada em QUALQUER referencial, para descrever
QUALQUER movimento. Ocorre que, caso o referencial em uso seja
inercial, esta se reduz equao 2, a segunda lei de Newton usual
na literatura. O que nossa descrio tem de diferencial da descrio
inercial que as foras que entram na equao de movimento so
as foras de interao MAIS as foras inerciais, que so no mximo
quatro, dependendo do movimento que o referencial em questo
possua em relao a um referencial inercial. Veremos logo adiante
exemplos de situaes onde estas quatro foras ocorrem.
50
O formalismo que estamos estudando, entretanto, ainda o formalismo newtoniano. Apenas abrimos mo de uma hiptese (a da
existncia de um espao absoluto) que leva a limitaes e interpretaes confusas em prol de um outro argumento (a de que todo movimento relativo) que torna a teoria mais clara, ampla e concordante
com pontos de vista mais modernos. Enquanto a velha teoria de
Newton leva a uma Fsica invariante ante transformaes de Galileu ( transformaes que levam de um referencial inercial a outro,
que se move com velocidade constante em relao ao primeiro ) essa
nova teoria Newtoniana leva a uma Fsica invariante ante uma
transformao mais geral que a transformao de Galileu (a Fsica
a mesma em qualquer referencial). Por exemplo, esta interpretao
est de acordo com um postulado fundamental da Teoria da Relatividade Geral, o Princpio da Equivalncia. Desta forma, resta compreender melhor os tipos de fora que existem na Natureza, dentro
de nossa realidade Clssica (no-quntica e no-relativstica). o
que procuraremos fazer na ltima parte deste Mdulo.
3.
Conforme vimos anteriormente, as foras do formalismo newtoniano mais geral podem ser agrupadas em duas categorias, quanto
sua natureza: as foras de interao e as foras inerciais. Enquanto
que as foras de interao possuem uma grande diversidade de tipos
e natureza as foras inerciais so apenas quatro. Por essa razo, faremos uma anlise mais detalhada de situaes que ilustrem o mecanismo das foras inerciais, at porque algumas delas so pouco
familiares mesmo ao estudante neste nvel de Curso.
Foras de Interao
Basicamente, podemos separar as foras de interao em dois grandes grupos: as foras de contato e as foras de ao distncia. Como
foras de contato mais comuns temos as foras empurrar ou puxar
seja atravs de cordas, hastes, molas, superfcies, meios (viscosos),
etc. A cada uma delas cabe experincia (como j dissemos anteriormente) a descrio mais detalhada de sua forma de ao. As foras de atrito, por exemplo, dependem da natureza atmico-molecular
51
Peso
F=G
quando comeou a se desenvolver a agricultura. A contagem do tempo e das estaes eram problemas importantes, que
se baseavam principalmente nestes movimentos. Eram muitas as teorias que
tratavam de explicar tais movimentos, a
maioria delas de cunho mstico ou religioso. A importncia deste conhecimento
ficou muito maior na poca de Newton,
celestes eram de grande utilidade. Ao descobrir que as mesmas leis que regem o
movimento de uma ma ao cair de uma
rvore tambm regem os movimentos dos
planetas, Newton decifrou um grande
enigma para a Humanidade.
52
r2
onde G uma constante universal, m1 e m2 so os valores das massas dos corpos e r a distncia entre eles. Esta fora tem a direo
da reta que liga os dois corpos e SEMPRE atrativa. Newton mostrou que esta fora, que ocorre entre corpos como um pssaro e um
elefante, a mesma que ocorre entre a Terra e a Lua, ou entre um
planeta e o Sol (1). Observe o que ocorre se calculamos o valor desta
fora quando um dos corpos o planeta Terra e o outro uma mesa,
por exemplo, situada no nvel do solo. Teremos:
m1m2
F=G
mTm
R2
Foras de Contato
Sempre que uma partcula se encontra em contato com uma superfcie, ela sofre uma interao com a superfcie que possui duas
componentes distintas: uma componente perpendicular (ou normal) superfcie, que depende de quanto a partcula empurra a
superfcie, e outra componente que tangente superfcie, que depende da natureza do atrito entre a partcula e a superfcie. A assim
chamada fora normal uma reao (3a lei!) fora que a partcula
imprime sobre a superfcie.
53
Por outro lado, sempre que a partcula faz uma fora tangente superfcie no sentido de deslizar sobre esta, a superfcie reage (3a lei!) fazendo sobre a partcula uma fora de mesmo mdulo e sentido oposto
quele do movimento, e que chamada de fora de atrito. Verificase experimentalmente que o mdulo da fora de atrito diretamente
proporcional fora normal, e tal proporcionalidade representada
por uma constante que depende da natureza das superfcies em contato. Em mdulo esta fora pode ser representada assim:
Fatr = N
Esta constante de proporcionalidade, chamada de coeficiente de
atrito, possui dois valores distintos, o que se verifica experimentalmente: e, que o valor do coeficiente de atrito esttico, refere-se
situao de iminncia de movimento, antes que o corpo se movimente, e c , que o valor do coeficiente de atrito cintico, que
refere-se situao em que o movimento est ocorrendo.
Foras Elsticas
As molas (ideais) produzem um tipo de fora especial, chamada
fora elstica, do seguinte tipo: quando uma mola se encontra deslocada de sua posio natural, esta exerce uma fora na direo de
seu comprimento, porm no sentido oposto sua deformao, que
proporcional ao comprimento deformado (comprimido ou alongado). A constante de proporcionalidade caracterstica de cada
mola, e chamada de constante elstica. Temos
F = -kx ,
onde o sinal negativo serve para indicar a oposio ao deslocamento, e k a constante elstica.
Cordas
As cordas s produzem foras quando tensionadas, e estas foras
tm sempre a direo da prpria corda. Em geral lidamos com cordas inextensveis e de massa desprezveis, aproximao vlida num
curso inicial como o nosso, a fim de evitar dificuldades como um
comprimento varivel, ou ter que tratar do movimento da corda.
54
55
eq. i
o
A
R
x
P
x
dv
dv dx
dv
=
=
v
dt
dx dt
dx
-x = mv + c
eq. ii
56
Soluo
Como o movimento supostamente unidimensional vamos escolher apenas um eixo de coordenadas Ox ligado Terra, suposta ela
o referencial inercial em questo. Agiro ento apenas foras de interao sobre o projtil, e como esto excludas as foras de atrito
apenas o peso P ser levado em conta. De acordo com a segunda lei
de Newton (eq.1, F = p Fx= m) e a conveno de sinais estabelecida na figura abaixo podemos escrever que:
-P = m
Donde, tento em conta que
x
A
R
O
P = GMm/x2
dv
dv dx
dv
x=v=
=
=
v
dt
dx dt
dx
vdv = -GM
R+h
R
dx
x2
57
atrito entre ela e as paredes do tnel, e sabendo que a fora de atrao gravitacional exercida pela Terra sobre uma partcula situada num
ponto no exterior superfcie terrestre dirigida para o centro da
Terra e proporcional distncia desse centro partcula, e sabendo,
mais, que o comprimento do tnel igual a 2A: 1) ache a equao de
movimento da esferazinha (escolha como data inicial, t = 0, a data em
que a esferazinha foi abandonada numa das extremidades do tnel);
2) demonstre que o tempo gasto pela esferazinha para ir de uma outra extremidade do tnel no depende do seu comprimento.
Soluo
1) Na figura abaixo est indicado o sistema de eixos cartesianos escolhido, ligado Terra, suposta o referencial inercial em questo: origem
coincidente com o centro da Terra, eixos Ox e Oy respectivamente
perpendicular e paralelo ao tnel. As foras de interao em ao so
apenas a fora de atrao gravitacional f e a fora de reao vincular
normal n exercida pelas paredes do tnel. Tendo em conta ento a segunda lei de Newton (eq.1, F = p Fy = m ) podemos escrever:
-fsin = my
eq. i
n
x
Representando por r a distncia do centro da Terra (origem cartesiana O) ao ponto onde est a esferazinha na data genrica t, e
por y a ordenada desse ponto, podemos escrever, tendo em conta a
figura e a informao fornecida no enunciado da questo de que f
proporcional a r, que:
sin = y / r
f = r
58
fsin = y
( = cte > 0)
y + w2y = 0
eq. ii
Onde usamos
m = w2
Esta a equao de movimento da esferazinha.
2) A eq.ii uma equao diferencial de segunda ordem cuja soluo
geral da forma
y = c1eiwt + c2e-iwt
Com as condies iniciais fornecidas (y(0) = A e y (0) = 0) podemos determinar as constantes arbitrrias desta soluo geral e colocar a soluo no formato final
y = Acoswt
Esta soluo nos mostra que a esferazinha se move no tnel com
movimento peridico, de perodo = 2w. Consequentemente, para
ir de um extremo do tnel at o outro, gastar um tempo T = , ou
seja, um tempo:
T = /w = m/
59
o fio deve exercer sobre o bloco, para manter constante a sua velocidade, funo do ngulo . Pois bem: o problema que proponho
calcular para qual valor de mnima a norma da trao exercida
sobre o bloco e qual o valor dessa norma mnima.
Soluo
Na figura esto representadas as foras (de interao) que atuam
sobre o bloco. Tais foras so: o peso P, exercida pela Terra; a trao T exercida pelo fio, e a reao vincular exercida pelo plano de
apoio, que j representamos, como usual, decomposta em duas: a
normal N e a tangencial (fora de atrito) A. [Escolhemos um sistema
de eixos cartesianos Oxy solidrio Terra, suposta um referencial
inercial, sendo Ox horizontal e Oy vertical e dirigido de baixo para
cima.] Queremos obter T como funo de a fim de poder calcular
para qual valor de tem-se T = mnimo.
T
N
A
O
x
P
Fx = 0
Tcos - A = 0
Fy = 0
Tsin + N - P = 0
60
x
P
x
61
Foras Inerciais
Enquanto que as foras de interao so determinadas exclusivamente
pela experincia, as foras inerciais so definidas pelo estado de movimento do referencial em que se esteja relativo a um referencial inercial. Por exemplo, a fora inercial que existe em um referencial que
se encontra acelerado em relao a um referencial inercial com acelerao AO, mas em movimento puramente translacional (ou seja, w =
0) ser apenas a fora de Einstein, conforme definida anteriormente.
Outra caracterstica muito interessante das foras inerciais que estas
so de apenas quatro tipos. Quer dizer, o pior que pode acontecer, ou o
que a mais infeliz das escolhas de referencial pode acarretar, adicionar quatro foras extras quelas consideradas por um observador em
um referencial inercial. Mas em geral, apenas uma ou duas das quatro
possveis adicionada. Vamos estudar detalhadamente:
Fora de Einstein
N
T
A
P
Figura 2a
62
N
E
Figura 2b
63
ele conclui que nula a soma das foras que agem sobre ela. Ele
conclui ento, que E=-T, portanto,
E = -mA
A fora de Einstein uma fora muito familiar a todos ns, certamente a fora inercial mais presente nossa experincia cotidiana.
Ao viajar em qualquer veculo que possua uma acelerao maior,
como um avio, ou uma motocicleta, at mesmo automveis ou nibus, todos sentimos a necessidade de se segurar quando de uma freada ou acelerao mais brusca. E no parece adequado supor que
esta seja uma fora fictcia, uma vez que sentimos na prpria pele
as conseqncias destes empurres ou puxes, se no nos seguramos
a fim de anul-los. esta a fora que na Teoria da Relatividade Geral
se afirma ser equivalente fora peso.
Fora Centrfuga
Figura 3a
Figura 3b
64
65
Fora de Euler
Suponha agora que o disco girante representado na figura 3 b sofra uma acelerao angular . Tal situao est representada na
figura 4. Vejamos como ficam as anlises de nossos dois observadores nesta nova configurao.
A observadora ligada Terra, que estamos supondo como um referencial inercial, observa a esfera com movimento circular acelerado,
sujeita s mesma foras de interao P e N que atuavam na situao
anterior, e que da mesma forma se anulam. Porm sujeita a outra fora
resultante da ao das molas, R. Tambm observa, por outro lado,
que alm da acelerao centrpeta, que ela pode escrever como AN =
-w2RN , onde N o unitrio segundo a normal trajetria, apontando
para fora da curva, a esfera tambm possui uma acelerao tangencial
dada por AT = RT onde T o unitrio tangente trajetria. Ou seja,
ela escreve a seguinte equao de movimento para a esfera:
R = mA
RT = mR
RN = -mw2R
Figura 4
O observador ligado ao disco nota, entretanto, que a esfera permanece parada em relao a ele. Sabe ento que alm das foras de
interao P e N que se cancelam na direo vertical, e da fora inercial C , a fora centrfuga, que cancela a ao das molas na direo
radial, existe uma segunda fora inercial, que cancela a fora tangencial exercida pelas molas, e esta fora E*, chamada fora de Euler
deve ento ser tal que
E* = -mw r
66
Fora de Coriolis
A quarta e ltima fora inercial que iremos analisar a nica que depende de a partcula estar se movimentando em relao ao observador
no-inercial, pois possui em sua expresso a velocidade v, relativa ao
referencial no inercial. Nossa anlise, embora mais qualitativa, fornecer um caminho para compreender como esta fora age. Para isto
considere um disco circular e horizontal, mais uma vez, girando com
velocidade w e agora com uma pequena esfera de massa que lanada, a partir do centro do disco, com uma velocidade horizontal V0
em direo a um ponto A na borda disco. Desprezando quaisquer irregularidades ou atritos que possam perturbar o movimento da esfera,
vamos analis-lo do ponto de vista de nossos observadores.
A observadora ligada ao referencial inercial observa a esfera sendo
lanada a partir do centro do disco com velocidade V0 (figura 5 a)
que no se altera ( a soma das foras que agem sobre a esfera, P e N,
nula!) at que ela, aps percorrer uma trajetria retilnea enquanto
o disco gira sob ela, alcana um ponto B diferente de A (figura 5 b).
V0
Figura 5a
Figura 5b
67
v0
Figura 6a
B
Figura 6b
O observador no considera que seu referencial esteja se movendo, mas sim o cenrio externo se encontra girando com velocidade angular w* = -w. E de seu ponto de vista a esfera descreve
a estranha curva mostrada na figura 6 b at atingir o ponto B. Ele
percebe que uma fora muda a direo da velocidade a cada ponto
da trajetria. Sabemos que neste referencial no existe a fora de
Einstein (no h acelerao de nenhum ponto do disco em relao
ao solo), nem a fora de Euler (a velocidade de rotao constante).
Enquanto que a fora centrfuga existe, mas tem a direo radial em
cada ponto, a nica fora responsvel pela mudana de direo da
partcula a fora de Coriolis, que como sabemos da forma
C* = -2mw v
Realmente, esta fora perpendicular trajetria da esfera em cada
ponto de sua trajetria a responsvel pela estranha trajetria observada naquele referencial (figura 7).
68
* = -
v
C
Figura 7
A fora de Coriolis tem sua manifestao mais evidente e popular relacionada a uma caracterstica que envolve o movimento de
grandes massas de ar em nossa atmosfera. sabido que os ciclones e
todos os grandes deslocamentos de ar da atmosfera que ocorrem no
hemisfrio Norte do planeta possuem vorticidade orientada no sentido anti-horrio, ao contrrio do que ocorre no hemisfrio Sul, onde
o sentido do giro o dos ponteiros do relgio. Presume-se que este
seja um efeito notvel da fora de Coriolis, originada no fato de a
Terra ser um referencial dotado de velocidade angular. O mesmo fato
justifica os pequenos desvios na verticalidade dos objetos em queda
prximos superfcie do planeta. Ao cair os objetos tm sua trajetria desviada da vertical por uma pequena deflexo, que difcil de
ser medida devido presena, em geral, de vrios fatores perturbadores da experincia tais como a presena de ventos, a resistncia do
ar e etc. Para se ter uma idia, fcil calcular qual seria a deflexo
sofrida para uma queda de 100m de altura na regio do Equador terrestre (onde a deflexo mxima): seria de cerca de 2cm!
Exemplo
6. Uma pequena esfera metlica pode se mover sem atrito no interior de um tubo cilndrico, de seo reta uniforme, que gira com
velocidade angular constante, w, em torno de um eixo vertical, ,
fixo em relao Terra, suposta um referencial inercial. Sabendo
que o tubo forma com a vertical do lugar um ngulo , calcule em
que ponto do interior do tubo a esfera poder ficar em equilbrio,
relativamente ao prprio tubo.
69
Soluo
Visando a obter uma mais profunda compreenso das leis da Mecnica, vamos resolver o problema do ponto de vista de um observador
inercial e do ponto de vista de um observador no-inercial.
O sistema cartesiano OXY, indicado na figura acima , por hiptese, solidrio Terra (suposta,
ela mesma, um referencial inercial) e tal que o eixo OY coincide com o eixo em torno do
qual o tubo gira. Na figura esto representadas as foras que
atuam sobre a esferazinha, suposta j estar na posio em que
fica em equilbrio relativamente
ao tubo. Como o referencial utilizado (a prpria Terra) , por hiptese, inercial, sobre a esferazinha
atuaro apenas foras de interao, as quais so apenas o prprio peso P da esferazinha e a
fora T exercida pelo tubo.
Sob a ao dessas foras a esferazinha est se movendo, com
uma acelerao A (relativa
70
C sin - Pcos = 0
Ay = 0 Fy = 0
71
Exerccios
1) O carro representado na figura est percorrendo uma estrada
retilnea e horizontal, movendo-se com uma acelerao constante
A dirigida da esquerda para a direita. Fixo ao carro existe uma
rampa cujas retas de mximo declive pertencem a planos verticais paralelos ao eixo da estrada. Uma pessoa que viajava no
carro observou que uma esfera homognea sendo abandonada
sobre a rampa permanecia imvel em relao rampa. Calcule o
ngulo que a rampa forma com a horizontal.
2) A figura abaixo , supostamente, a reproduo de uma fotografia de um trecho de uma estrada, e a situao que foi fixada
na fotografia a seguinte: o automvel da esquerda estava percorrendo um trecho horizontal, o do centro estava passando no
ponto mais baixo de uma depresso e o da direita estava passando no ponto mais alto de uma elevao.
Sabendo que os carros eram idnticos e estavam igualmente carregados e com a mesma velocidade, e supondo momentaneamente
desprezveis os atritos, calcule qual dos carros estava exercendo
sobre a estrada a fora de norma maior.
72
= cte
Sabendo que x > 0 e que x = =cte, onde a componente, em
relao ao eixo Ox, da velocidade da partcula, calcule a resultante
das foras que atuam sobre ela num ponto genrico de sua trajetria.
5) O corpo C, de pequenas dimenses, representado na figura ao
lado, escorrega sem atrito, a partir de uma altura h, sobre uma superfcie cujo ponto mais baixo tem tangente horizontal.
C
73
74
8) Na figura est representada uma esfera metlica, de massa m, ligada a uma das extremidades de uma mola cuja outra extremidade
est presa a um suporte fixo. A esfera apia-se sobre uma rampa
plana que forma com a horizontal um ngulo igual a . Inicialmente
o sistema estava em equilbrio, mas num certo instante a esfera foi
deslocada ao longo da reta de mximo declive da rampa e abandonada numa nova posio e, em consequncia, passou a oscilar. Supondo irrelevantes os possveis atritos, assim como a massa da mola:
1) prove que o movimento da esfera peridico; 2) calcule o perodo
do movimento da esfera. Constante da mola = k.
9) O carro representado na figura est percorrendo uma estrada retilnea e horizontal, movendo-se com uma acelerao constante A
dirigida da esquerda para a direita. O observado que viaja no carro
observa que o fio de um pndulo simples que existe no carro, e que
est em equilbrio (relativamente ao carro), forma com a vertical um
ngulo = 30. Sabendo que g = 9,81 m/s2 e que o carro est animado de movimento puramente translacional, em relao Terra,
suposta, ela mesma, um referencial inercial, calcule a norma de A.
75
76
77
mecnica na
formulao Lagrangiana
78
1.
A Mecnica Lagrangiana
79
as teorias de Lagrange (Joseph-Louis Lagrange,1736-1813) e de Hamilton (Willian Rowan Hamilton, 1805-1865), respectivamente conhecidas como teorias lagrangiana e hamiltoniana. No Mdulo atual
trataremos exclusivamente do formalismo lagrangiano, reservando
o prximo para o formalismo hamiltoniano.
Evidente que o fato de lidar apenas com escalares no a nica
caracterstica que distingue os formalismos analticos do formalismo
vetorial ou newtoniano. Cada formalismo possui caractersticas peculiares que o tornam mais adequados que os outros dependendo das
situaes ou interesses em jogo. Por exemplo, para sistemas cujo movimento possua restries, ou vnculos conforme veremos adiante, o
formalismo lagrangiano pode ser prefervel ao newtoniano, e mesmo
ao hamiltoniano. Mas no existe uma prevalncia absoluta de um formalismo sobre o outro. No h um formalismo melhor que outro,
mas situaes nas quais um mais adequado que o outro. Entretanto,
neste Curso faremos uma abordagem muito introdutria a estes novos
formalismos, de maneira que no caberia aqui uma discusso mais
aprofundada a respeito de mritos e quais seriam dos vrios formalismos da Mecnica Clssica. Nos contentarmos em compreender de
forma mais geral como so e como se aplicam os formalismos analticos em situaes simples e ilustrativas da Mecnica Clssica.
Embora as equaes de Lagrange, aquelas que fornecem as equaes de movimento dentro do formalismo lagrangiano e que se
constituem no equivalente segunda lei de Newton, possam ser derivadas a partir das prprias leis de Newton, e a equivalncia das
duas abordagens se torne ento mais evidente, vamos apresent-las
como um postulado. Na verdade estas equaes podem ser derivadas de forma completamente independente das equaes de Newton,
surgindo como conseqncia direta de um princpio mais geral e
fundamental chamado de Princpio da Mnima Ao, mas vamos insistir em apresent-las diretamente na forma de um postulado. Antes, porm, vamos definir alguns ingredientes fundamentais, como
por exemplo, o que vem a ser uma coordenada generalizada.
Considere como exemplo uma partcula que se move sobre um
plano horizontal. Para descrever sua posio podemos utilizar um
sistema de coordenadas cartesianas, duas neste caso, x e y. Ou um
sistema de coordenadas polares, r e . De qualquer forma, o nmero
de coordenadas necessrias para descrever a posio e, portanto, o
movimento da partcula dois. Dizemos que o sistema (partcula
80
qi
t2
t1
qi
Figura 1
81
qi
t
Em toda esta exposio estaremos supondo que a fsica se observa a partir de um referencial inercial, supondo que a extenso
para um referencial qualquer seja imediata e natural, apenas mais
trabalhosa dependendo da situao particular.
Vamos ento definir uma funo escalar, a lagrangiana L, em termos da energia cintica e da energia potencial da partcula, expressas estas em funo das coordenadas e velocidades generalizadas e
possivelmente o tempo. Temos ento:
L=T-V
com T = T (q,q ) e V = V (q,t) (usaremos sempre que no for motivo
de confuso a notao abreviada (q, q ) sem os ndices is supondo implcita sua presena). Portanto, a lagrangiana pode ser escrita como
L = L (q, q ,t)
Em muitas situaes importantes e comuns a energia cintica depender apenas das velocidades e a energia potencial apenas das coordenadas, de forma que a lagrangiana ser funo apenas das coordenadas e
velocidades generalizadas, como veremos em nossos exemplos.
As equaes de movimento podem ento ser postuladas como
d L
L
=
dt qi
qi
i = 1,...,n
eq. 1
82
83
84
Lagrange:
d L
L
=
qi
dt qi
dt
x
L
d L
L
= m ;
= m ;
= V / y = Fy m = Fy
dt
y
L
d L
L
= m ;
= mz ;
= V / z = Fz mz = Fz
dt
z
Figura 2
Newton:
F = ma
Usando a coordenada x representada na figura temos
x = - k/m x
85
Lagrange:
d L
L
=
qi
dt qi
T = m2 ; V = kx2
L = m2 - kx2
L
d L
L
= m ;
= m ;
= - kx m = - kx
dt
x
Figura 3
Ou seja,
-TN + 0T = -mv2/R N + RT
=0
T = m v2/r
86
dt
E temos finalmente mR2 = 0, que nos informa apenas que a velocidade angular constante, sem qualquer meno fora de vnculo F.
IV) Seja o sistema conhecido como mquina de Atwood , um sistema com vnculo holnomo, que vamos analisar primeiramente do
ponto de vista newtoniano, conforme ilustrado na figura 2:
m
P
87
88
a1 =
(M - m)
g
(M + m)
T=
2Mm
g
(M + m)
Lagrange:
A lagrangiana deve ser escrita em termos de uma s coordenada,
uma vez que o vnculo deve ser usado para expressar uma delas em
funo da outra. Escolhendo coordenadas cartesianas como definidas anteriormente, o vnculo usado para expressar
x2 = cte - x1
Assim escrevemos
T = (m 21 + M 22 ) = (m + M) 21
V = mgx1 + Mgx2 = mgx1 + Mg (cte - x1) = (m - M)gx1
Note que devido forma das equaes de Lagrange, um termo aditivo constante nunca contribui s equaes de movimento, o que nos
fez abandonar um termo constante na energia potencial acima. Temos
L = (m + M) 21 - (m - M)gx1
e
L
d
= (m + M)1
1
dt
L
= (m + M)1
1
L
= (M - m)g
x1
(m + M)1 = (M - m)g
ou seja,
a1 =
(M - m)
(M + m)
que coincide com o resultado anterior. Observe que nenhuma meno foi feita fora interna que a corda mantm sobre as massas (a
fora de vnculo), apenas se considera o vnculo para a contagem
dos graus de liberdade, e somente a fora externa, quer dizer, a
energia potencial externa , do ambiente onde est inserido o sistema vinculado, entra na lagrangiana.
89
V) Neste exemplo vamos analisar uma situao que envolve vnculos dependentes do tempo (so chamados renomos, enquanto que
aqueles que no envolvem o tempo, so esclernomos). Considere
uma pequena esfera metlica que se movimenta sem atrito no interior de um tubo de seo reta interna uniforme, numa regio livre da
fora gravitacional. O tubo gira com velocidade angular constante
(w) em torno de um eixo perpendicular a este.
Newton:
Vamos fazer primeiramente a anlise newtoniana da situao.
Para isso vamos considerar como horizontal o plano onde o tubo
se movimenta, e usar coordenadas polares para descrever o movimento da esfera. Como no h atrito com a parede do tubo, a esfera
s pode sofrer fora perpendicular ao tubo, portanto na direo do
unitrio tangente ao raio vetor desta.
Sabemos que a acelerao no sistema polar possui a forma (ide
Apndice)
a = (r - r 2) r + (2r + r )
Como a fora sobre a esfera apenas a fora exercida pelo tubo
F = Ft , temos que
mr - mr2 = 0
Ft = 2m + mr
Como
= 0 , temos finalmente
r = rw2
Ft = 2mw
Lagrange:
Como o vnculo se expressa como = w = const. a coordenada
deve ser substituda por wt e a lagrangiana ser funo apenas da
coordenada radial. Temos:
T = m (2 + r22) = m (2 + r2w2) ; V = 0
L = m (2 + r2w2)
L
d
= m ;
dt
90
L
L
= mr ;
= mrw2 ;
Ou seja,
r = rw2
Note que a fora de vnculo no aparece no formalismo lagrangiano. A soluo desta equao, do tipo r(t) = ewt mostra que a
partcula se afasta do eixo de rotao devido fora centrfuga, do
ponto de vista de um observador ligado ao tubo e, portanto, no
inercial. Alguns autores confundem esta anlise e creditam fora
centrpeta este movimento (a fora centrpeta, caso existisse aqui,
levaria a esfera para o centro, e nunca para fora dele!)
VI) Este um bom exemplo de como uma situao que poderia ser
( na verdade ) bastante complicada para se resolver dentro do formalismo newtoniano pode ter uma soluo simples no formalismo
de Lagrange. Deixaremos ao estudante o desafio de resolver pelo
formalismo newtoniano o sistema representado na figura abaixo,
que poderamos bem chamar de mquina envenenada de Atwood:
x2
x1
m2
m1
x3
m3
Figura 7
91
permite que uma dessas coordenadas se expresse em termos da outra. Ficamos com a segunda opo. Derivando em relao ao tempo
este vnculo obtemos x1 = -2, e podemos escrever
T = (m1 21 + m2 22 + m3 23 ) = (m1 + m2) 22 + m3 23
E para a energia potencial gravitacional e da mola, usando o vnculo e desprezando termos constantes que no contribuem para as
equaes de Lagrange, temos conforme a figura:
V = -g(m1x1 + m2x2 + m3 x3) + k/2 (x3 - x2- l)2 = -(m2 - m1)gx2 - m3gx3 + k/2 (x3 - x2- l)2
92
3) Observaes Importantes
Lagrangianas Equivalentes
Interessante notar que um sistema mecnico no possui uma lagrangiana nica, mas uma infinidade de lagrangianas equivalentes, no
sentido que geram as mesmas e corretas equaes de movimento. Isto
se deve ao fato facilmente demonstrvel que uma lagrangiana que
difere de outra pela adio de um termo que seja a derivada total de
QUALQUER funo diferencivel das coordenadas e do tempo, gera
as mesmas equaes de movimento:
pk =
L
dqk
eq. i
L
dqk
eq. i
Embora seja uma grandeza fundamental no formalismo hamiltoniano que estudaremos a seguir, mesmo aqui no formalismo lagrangiano esta se revela uma grandeza particularmente importante quando
se estudam as propriedades de simetria e as leis de conservao a elas
associadas (aqui o formalismo lagrangiano se revela especialmente
adequado). Observe para isto o que ocorre quando uma determinada
coordenada generalizada, qj, por exemplo, no aparece explicitamente
na lagrangiana. Neste caso ela chamada de coordenada cclica e a
equao de Lagrange relacionada a ela torna-se simplesmente
d
dt
L
= 0
qj
93
Ou seja,
pj = constante
Note que a ausncia da coordenada na lagrangiana implica em
que a descrio do sistema no muda se variarmos esta coordenada,
ou seja, existe uma simetria do sistema relativa a mudanas nesta
coordenada. E o resultado acima afirma que, associada a esta simetria, existe uma lei de conservao, a conservao do momento
conjugado coordenada cclica. Este um rico ponto de estudo na
Mecnica lagrangiana, que infelizmente no teremos oportunidade
de explorar neste Curso. Vejamos pelo menos um exemplo desta propriedade. Se uma partcula no espao est sob ao de um campo de
foras plano, por exemplo, as foras s agem em um plano vertical,
a energia potencial no ir conter a coordenada fora do plano. A lagrangiana abaixo ilustra este sistema:
L = m(x2 + 2 + 2) - V(x, z)
Neste caso, o momento conjugado coordenada y ser
py = L/ = m
que uma constante do movimento.
94
Exerccios
1) Escreva a lagrangiana de uma partcula sujeita a um campo central, isto , a um potencial que depende apenas da distncia da partcula a um ponto O, que pode (e deve) ser tomado como origem do
sistema de coordenadas usado para descrever o movimento. Neste
caso, se voc utilizar, por exemplo, coordenadas esfricas, a energia
potencial poder ser escrita simplesmente como V = V (r). Resolva
este problema de duas maneiras: uma usando coordenadas cartesianas e outra usando coordenadas esfricas (use apndice). Qual dos
sistemas lhe parece mais adequado, e por qu?
2) Considere o sistema de duas partculas de massas idnticas presas s extremidades de uma haste de comprimento l, rgida e de
massa desprezvel, vinculadas a se moverem nos sulcos representados na figura. Escreva a lagrangiana deste sistema de duas partculas usando como coordenada generalizada o ngulo que a haste
forma com a horizontal. Despreze possveis atritos. Use as equaes
de Lagrange para obter a equao de movimento do sistema.
y
95
4) Considere um pndulo duplo e encontre a lagrangiana e as equaes de movimento, aps uma escolha adequada das coordenas generalizadas (conforme sugerido na figura).
l1
(x1, y1)
m1
2
l2
m2
(x2, y2)
m+M 2
m 2
+
r + - gr (M - mcos)
2
2
96
mecnica na
formulao Hamiltoniana
4
Fsica | Mecnica Clssica
97
1.
A Mecnica Hamiltoniana
98
L
qn
eq. 1
99
lugar de uma funo L (q, q , t), a lagrangiana, temos aqui uma outra
funo, H (q, p, t), a hamiltoniana, que traz informao sobre a fsica que envolve o sistema e nos informa como, atravs das equaes
de Hamilton, o sistema ser movido. Esta funo definida por
n
H (q, p, t) = i = 1 piqi - L (q, p, t)
eq. 2
eq. 3
eq. 4
eq. 5
H
pi
pi = -
H
qi
i = 1, ..., n.
eq. 6
E ainda,
L
H
=t
t
100
eq. 7
101
2) Observaes Importantes
Coordenadas cclicas
A primeira delas se refere questo das simetrias, que tambm
neste formalismo levam de maneira bastante clara s leis de conservao. Basta notar que a ausncia de uma coordenada na hamiltoniana, qk , por exemplo, leva imediatamente conservao do
momento cannico associado, pois a equao de Hamilton correspondente nos informa que
k = -
L
qk
eq. 8
{f, g}
i=1
f g - f g
qi pi pi qi
eq. 9
eq. 10
eq. 11
G
dG
= {G, H} +
t
dt
eq. 12
Ou seja,
Esta relao bastante geral e vale para qualquer funo no espao de fase. Em particular, para os qs e ps evidente que
102
qi = {qi, H}
i = {pi, H}
eq. 13
eq. 14
{qi, pk} = ik
onde
103
Tais transformaes, que so muito importantes no estudo de simetrias deste formalismo, so chamadas de transformaes cannicas, e
merecem um captulo parte num curso normal de Mecnica Analtica.
3) Exemplos
Como j informamos, vamos, na medida do possvel, aproveitar os
exemplos tratados no Mdulo anterior a fim de j partir de uma lagrangiana e aplicar o formalismo hamiltoniano.
I) Vamos considerar a partcula de massa m sujeita a uma fora
conservativa F do primeiro exemplo do Mdulo anterior. Queremos chegar s equaes de movimento pelo formalismo hamiltoniano. Partimos da lagrangiana
L = m(x2 + 2 + 2) -V(x, y, z)
Temos os momenta cannicos e as velocidades expressas atravs deles:
L
= m = px/m
L
py =
= m = py/m
px =
pz =
L
= m = pz/m
p 2x
p 2z
p 2y
+
+
+ V (x, y, z)
2m 2m 2m
104
x = - V/x
y = - V/y
z = - V/z
J conhecemos sua lagrangiana L = m2 - kx2, e fcil extrair o momento cannico associado a x e da, a velocidade :
px = L/ = m = pxm
A hamiltoniana
H = px - m2 + kx2
Substituindo a velocidade calculada anteriormente temos:
H=
p 2x
1
+ kx2
2m 2
105
px
m
x = -kx
x
-kx
=
m
m
m = -kx
106
m
P
As equaes cannicas so
p1
m +M
1 = (M - m)g
1 =
107
O momento cannico
pr = L/r = m
De onde extramos a velocidade
= prm
A hamiltoniana corresponde a
p2
H = pr - 1 m2 - 1 mr2w2 = r - 1 mr2w2
2
2
2m 2
108
x2
x1
m2
m1
x3
m3
Os momentos cannicos so
p2 =
L
= (m1 + m2)2
2
p3 =
L
= m33
3
p22
p23
+
- (m2 + m1)gx2 - m3gx3 + k/2 (x3 + x2 + l)2
2 (m1 + m2)
2m3
109
As equaes de movimento so
p2
= H =
p2 (m1 + m2)
2 = - H = (m2 + m1)g + k(x3 + x2 - l)
x3
e
p2
3 = H =
p2 (m1 + m2)
2 = - H = m3g - k(x3 + x2 - l)
x2
110
Exerccios
1) Escreva a hamiltoniana de uma partcula sujeita a um campo
central, usando para isso coordenadas esfricas. Escreva tambm
as equaes cannicas.
2) Considere o sistema de duas partculas de massas idnticas presas
s extremidades de uma haste de comprimento l, rgida e de massa
desprezvel, vinculadas a se moverem em sulcos perpendiculares,
conforme exerccio 2 do mdulo anterior. Escreva a hamiltoniana
deste sistema de duas partculas usando como coordenada generalizada o ngulo que a haste forma com a horizontal. Despreze possveis atritos. Use as equaes de Hamilton para obter as equaes
cannicas de movimento do sistema.
3) Considere o pndulo simples do exerccio 3 do mdulo anterior.
Escreva a hamiltoniana e as equaes de Hamilton do sistema.
4) Seja a conta do exerccio 5 do mdulo anterior, cuja lagrangiana
fornecida ali. Encontre sua hamiltoniana e as equaes de Hamilton.
5) Considere a mquina de Atwood oscilante e sua lagrangiana fornecida no exerccio 6 do mdulo anterior. Escreva sua hamiltoniana
e as equaes de Hamilton do sistema.
111
Mdulo I
1) |v2| = |v1|cot
2) r = be
3) 1) aT = g(1 - (v0 / v)2)
2) aN = g x v0 /v
3) = v3/ gv0
4) 1) wh/cos2
2) wh x tan/cos
3) 2w2 h x sin/(cos)3
4) w2h x (1 + sin2) / (cos)3
5) vB = v02t / ((H - h)2 + v02 t2) e t = 3H2 - 2Hh / v0
6) vA = 3/2 x vC
vB = 2 x vC
vD = 5/4 x vC
7) Demonstrao
8) vC = wr
9) 1) vC = wr
2) = vC/R-r = wr/R-r
10) vC = vR/R-r
11) wDG = 7rot/dia e cos = 2 7/7
12) 1) wb
2) v2 + w2b2
3) Zero
4) b w4 + 2
5) 2wv
6) w4b2 + 2b2 + 4w2v2 + 4wbv
112
Mdulo II
1) Arc tanA/g
2) O do centro.
3) N = m[g+v2 (R+h)]
4) F = - m22 / y3 x y
5) Demonstrar
6) 1) mx + x = 0
my + y = -mg
2) = m/ x ln(1 + v0senmg)
7) 1) x = Acoswt, sendo w2 = k/m e a data inicial, t = 0, tal que x
(0) = A e (0) = 0;
3) v = -wAsenwt
8) 2) = 2 mk
9) A = 5,5ms2
10) O movimento peridico, com = 2 mk.
11) No, a pedra ao cair no segue rigorosamente a vertical do lugar: proporo que cai vai se desviando para o leste.
113
12) O ngulo que o fio forma com a vertical do lugar (e no do vago!) o mesmo que a rampa forma com a horizontal.
Mdulo III
1) L = m(2 + 2+ 2) - V( (x2 + y2 + z2))
L = m(2 + r2 2 + r22sen2) - V(r)
O sistema esfrico simplifica a forma das equaes de movimento
e possui uma coordenada cclica.
2) L = ml22 - mglsen ; + g/l cos = 0
3) L = ml2 2 + mglcos ; + g/l sen = 0, tomando o ponto mais
baixo como origem.
(m1 + m2) 2 2 m2 2 2
l 11 +
l + m2l1l212cos(1- 2)
2 2 2
2
+ (m1 + m2)gl1cos1 + m2gl2cos2
4) L =
Mdulo IV
p2
p2
1
1) H = pr + p + p - L = 2m p 2r + r2 + r2sen2 + V (r)
p
p
p
= - H = mr , = H = 2 , = H = 2 2
mr
mr
sen
p
pr
p
2
p2
p2
dV , = - H = p cotg , = - H = 0
r = - H = 3 +
3
2
mr sen dr
pr rm
mr2sen2
p2
2) H = p - L = 2ml2 + mglsen
p
ml2
= -mglcos
=
114
p2
3) H = 2ml 2 - mglcos
p
ml2
= -mglsen
=
p2
p2
p2
115
116
Sistema de Coordenadas
Apesar de a Mecnica de Newton ser uma teoria vetorial e os
vetores serem de natureza matemtica bastante adequados para
descrever muitas grandezas e teorias na Fsica, no apenas na Mecnica Clssica, no momento conclusivo de realizar clculos temos que, invariavelmente, projetar os vetores em algum sistema
de coordenadas adequado. Neste apndice faremos uma anlise de
como se expressam as principais grandezas cinemticas nos mais
usuais sistemas de coordenadas, que so os sistemas cartesianos,
polares, cilndricos e esfricos. Vamos tambm estudar como se
traduzem os vetores de um sistema de coordenadas cartesianas
para outro daqueles sistemas citados acima.
117
1.
Coordenadas Cartesianas
z
r
x
Figura 1
r = xx + yy + z
Eq.A1
Aqui as funes escalares x = x(t), y = y(t) e z = z(t) so as coordenadas cartesianas do ponto P e os vetores constantes x , y e so
os unitrios segundo os eixos Ox, Oy e Oz, respectivamente.
Os vetores velocidade v e acelerao a, so definidos em relao ao
vetor r como v = r e a = r respectivamente, e se escrevem ento como
v = x + y +
a = x + yy+ z
Eq.A2
Eq.A3
118
2.
Coordenadas Polares
Figura 2
r /
119
Eq.A5
Eq.A6
Ou seja, o vetor velocidade em coordenadas polares possui componentes radiais e tangenciais dadas por
vr =
v = r
Eq.A9
120
3.
Coordenadas Cilndricas
z
y
x
Figura 3
r=
v=
a=
r
0
r - r2
2 + r
Cilndricas
r=
r
z
v =
- 2
a = 2 +
z
121
a = ( - 2) + (2+ ) + z z
Eq.A13
122
4.
Coordenadas Esfricas
x3
er
e
e
x2
Figura 4
123
r
= ;
= -r ;
= 0 ;
r
= sin
= sin
= -sinr - cos
Eq.A15
+ rsin
Eq.A16
124
Escrevendo separadamente as componentes, os vetores velocidade e acelerao so escritos em coordenadas esfricas com
vr = r
v = r
v = rsin
Eq.A18
ar = r - r 2 - r2sen2
a= 2r + r -- r2sincos
a = rsin + 2rsin + 2r cos
Eq.A19
125
126
Relaes entre
Campos Vetoriais
Quando o teorema discriminador nos informa que as velocidades
dos pontos de um slido, em sua condio mais geral, constituem
um campo motorial, podemos imediatamente escrever que
vA = vB + g (A - B)
eq.12
Quer dizer, o mximo que podemos afirmar que h uma relao como a 12, com uma coordenada livre sem relao imediata
127
eq.a
(A - B) vA - vB = g
(A - B)
Suponha agora o movimento deste corpo sendo visto por um observador em um referencial que se move, no mesmo instante, com
velocidade igual a vB em relao ao referencial inicial. Vamos usar
com para especificar as grandezas neste novo referencial. Ento,
como vB' = 0 , o movimento do slido de rotao pura, pois existe
um ponto fixo ( fcil mostrar, na Cinemtica do Slido, que se em
um determinado instante existe um ponto fixo, no movimento do
slido, ento existir um eixo instantneo de rotao, e o movimento, naquele instante, de rotao pura em torno deste eixo). E
ento sabemos que a eq.10 nos permite escrever
v A' = v B' + w
eq.b
(A - B) vA' - vB' = w (A - B)
128
Referncias
So muitas e variadas as fontes de estudo existentes a respeito da
Mecnica Clssica. Seria uma temeridade tentar montar uma lista
das melhores ou mais adequadas para tal estudo. Vamos nos ater
aqui a citar apenas duas referncias excelentes para o estudante
que pretenda fazer uma leitura mais detalhada e aprofundada do
tema, por duas e boas razes: primeiro, so de autores nacionais,
professores experientes e dedicados ao ensino da Mecnica por
dcadas a fio, e nas melhores Universidades brasileiras. Segundo:
foram as principais fontes de inspirao, consulta e referncia ao
construir este texto. Fomos, inclusive, buscar ali boa parte do material de exemplos e exerccios utilizados aqui. Estas duas grandes
obras so o livro do Prof. (falecido) da UFRJ, L. P. M. Maia, Mecnica Vetorial,editado pela Editora da Universidade Federal do
Rio de Janeiro, 1984, e o livro do Prof. Nivaldo A. Lemos, da UFF,
Mecnica Analtica, editado pela Editora Livraria da Fsica, 2004.
As referncias neles contidas so, nos parece, suficientes para os
propsitos de um Curso de Graduao em Fsica.
129
130
131
132
www.neaad.ufes.br
(27) 4009 2208