Curso de Vinho
Curso de Vinho
Curso de Vinho
Produo de
Vinho de Qualidade
Aline Marques Bortoletto
Andr Ricardo Alcarde
Camila Carazzato
Jssika Angelotti Mendona
Joo Alexio Scarpare Filho
Produo de
Vinho de Qualidade
Piracicaba
2015
Agradecimentos
Apoio
Fundo de Fomento s Iniciativas de Cultura e Extenso da Pr-reitoria de
Cultura e Extenso Universitria
Diretoria da ESALQ
Comisso de Cultura e Extenso Universitria - CCEx
Servio de Cultura e Extenso Universitria - SVCEx
ndice
Definio e Padres de Identidade e Qualidade
7
10
Cultura da Videira
29
Tcnicas de Vinificao
39
Histrico
Quanto classe
Quanto cor
Quanto ao teor de acares totais (g/L)
Quanto qualidade
Padro de identidade
Rotulagem
Defensivos agrcolas
Resduos
Higiene
Transporte
Engarrafamento
Ciclo de vida da videira
Clima
Fatores edficos
Variedade copa e porta-enxerto
Implantao do vinhedo
Tratos culturais
Colheita
Generalidades em vinho tinto, rosado e branco
Particularidades da vinificao de vinhos tintos
Particularidades da vinificao de vinho rosado ou ros
Particularidades da vinificao de vinho branco
20
22
22
23
24
26
27
27
28
28
28
29
30
32
33
34
35
38
41
49
52
54
58
64
68
68
Vinhos no Brasil
72
Qualidade Sensorial
80
Glossrio
86
89
Produo
Regies produtoras
Classificao de vinhos finos brasileiros
Mercado brasileiro
Cor
Limpidez
Aroma
Sabor
Deteco de defeitos
Definies sensoriais
Bibliografia Consultada
72
73
76
77
81
81
82
83
83
85
Histrico
O vinho uma das bebidas mais
antigas da humanidade, contendo registros de seu consumo nos anos que
antecederam a existncia de Cristo.
Sua presena na histria desempenha grande importncia econmica e
cultural atravs da influncia exercida
sobre variados reinos, imprios, povos e civilizaes da antiguidade at
os dias de hoje.
Os historiadores e os arquelogos
acreditam que o vinho foi descoberto por acaso. A histria conta que
uvas frescas guardadas em uma jarra certo dia no estavam mais doces, elas haviam fermentado, transformando-se em uma bebida alcolica. Porm, mesmo sob a crena da
dificaes benficas para o progresso em busca de uma bebida de qualidade. Hoje possvel encontrar milhares de vincolas ao redor do mundo, produzindo vinhos de tipos variados, produes direcionadas para
pblicos e gostos diversificados, com
ampla faixa de preos. Tamanha
abrangncia acompanha a atual
globalizao da informao, que traz
consigo o intercmbio facilitado de
culturas e a qualificao do profissional do setor.
Dessa forma, o vinho deixa de ser
uma bebida exclusiva e seu consumo
torna-se reflexo de uma poca contempornea, em que os setores
gastronmico e turstico atraem cada
vez mais, pessoas despertadas pelo
desejo de explorar novas experincias e apreciar novos sabores.
Definio e Padres de
Identidade e Qualidade
Para que o vinho produzido possa
ser comercializado, os estabelecimentos produtores, estandardizadores (padronizadores) e engarrafadores devero ser registrados
no Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (MAPA). O registro tem validade em todo o territrio nacional, porm necessria a
anlise e fiscalizao do produto para
garantir os parmetros da produo
de vinho. A classificao dos vinhos
no Brasil foi regulamentada quanto
classe, ao tipo e qualidade.
A legislao brasileira, Lei n 7.678,
de 08 de Novembro de 1988, posteriormente regulamentada pelo Decreto n 8.198, de 20 de Fevereiro de
somente podero ser objeto do comrcio ou entregues ao consumo dentro do territrio nacional depois de prvio exame de laboratrio oficial, devidamente credenciado pelo rgo indicado no regulamento.
1 Os produtos nacionais de que
trata este artigo devero estar acompanhados da respectiva guia de livre trnsito, expedida pelo rgo fiscalizador.
2 A avaliao fsico-qumica e
organolptica ou sensorial dos vinhos
e derivados, para fins de concurso ou
competio pblica, com ou sem divulgao, devero contar com a prvia e expressa autorizao dos produtores eventualmente interessados
em participar, sendo obrigatria a fiscalizao por organismos e servios
especficos do rgo indicado no regulamento, que fixaro as normas e
mtodos a serem empregados.
Art. 3 Vinho a bebida obtida pela
fermentao alcolica do mosto simples de uva s, fresca e madura.
Pargrafo nico. A denominao
vinho privativa do produto a que se
refere este artigo, sendo vedada sua
utilizao para produtos obtidos de
quaisquer outras matrias-primas.
Art. 4 Mosto simples de uva o produto obtido pelo esmagamento ou
prensagem da uva s, fresca e madura, com a presena ou no de suas
partes slidas.
1 Mosto concentrado o produto
11
c) fino;
d) espumante;
e) frisante;
f) gaseificado;
g) licoroso;
h) composto;
II - quanto cor:
a) tinto;
b) rosado, ros ou clarete;
c) branco;
III - quanto ao teor de acar:
a) nature;
b) extra-brut;
c) brut;
d) seco, sec ou dry;
e) meio doce, meio seco ou demisec;
f) suave; e
g) doce.
1 teor de acar e a denominao
para classe sero fixados, para cada
produto, no regulamento desta Lei.
2 As bebidas definidas nesta Lei,
com graduao alcolica expressa
em graus Gay Lussac, tero o seu teor
alcolico expresso em percentual (%)
por volume, razo de um para um
(v/v) a 20oC (vinte graus Celsius).
Art. 9 Vinho de mesa o vinho com
teor alcolico de 8,6% (oito inteiros e
seis dcimos por cento) a 14% (catorze por cento) em volume, podendo
conter at uma atmosfera de presso
a 20oC (vinte graus Celsius).
1 Vinho frisante o vinho com
teor alcolico de 7% (sete por cento)
por cento) em volume, obtido exclusivamente da fermentao dos acares naturais da uva, produzido durante a safra nas zonas de produo, vedada sua elaborao a partir de vinho de mesa.
Art. 11 Champanha (Champagne),
Espumante ou Espumante Natural
o vinho cujo anidrido carbnico provm exclusivamente de uma segunda fermentao alcolica do vinho em
garrafas (mtodo Champenoise/tradicional) ou em grandes recipientes
(mtodo Chaussepied/Charmad),
com uma presso mnima de 4 (quatro) atmosferas a 20oC (vinte graus
Celsius) e com teor alcolico de 10%
(dez por cento) a 13% (treze por cento) em volume.
Art. 12 Vinho moscato espumante
ou Moscatel Espumante o vinho cujo
anidrido carbnico provm da fermentao em recipiente fechado, de mosto ou de mosto conservado de uva
moscatel, com uma presso mnima
de 4 (quatro) atmosferas a 20oC (vinte
graus Celsius), e com um teor alcolico de 7% (sete por cento) a 10% (dez
por cento) em volume, e no mnimo
20 (vinte) gramas de acar remanescente.
Art. 13 Vinho gaseificado o vinho
resultante da introduo de anidrido
carbnico puro, por qualquer processo, devendo apresentar um teor alcolico de 7% (sete por cento) a 14%
13
graus Celsius), obtido pela destilo-retificao de mostos provenientes unicamente de matrias-primas de origem agrcola, de natureza aucarada
ou amilcea, resultante da fermentao alcolica, como tambm o produto da retificao de aguardente ou
destilados alcolicos simples. Na denominao de lcool etlico potvel de
origem agrcola, quando feita referncia matria-prima utilizada, o produto resultante ser exclusivamente
dessa matria-prima.
Art. 18 Conhaque a bebida com
teor alcolico de 36% (trinta e seis por
cento) a 54% (cinqenta e quatro por
cento) em volume, obtido de destilados simples de vinho e/ou aguardente de vinho, envelhecidos ou no.
Art. 19 Brandy ou conhaque fino
a bebida com teor alcolico de 36%
(trinta e seis por cento) a 54%
(cinquenta e quatro por cento) em volume, obtida de destilado alcolico
simples de vinho e/ou aguardente de
vinho, envelhecidos em tonis de carvalho, ou de outra madeira de caractersticas semelhantes, reconhecida
pelo rgo competente, de capacidade mxima de 600 (seiscentos) litros,
por um perodo de 6 (seis) meses.
1 O perodo de envelhecimento
ser composto pela mdia ponderada de partidas com diferentes idades.
2 A denominao conhaque
usada isoladamente, e as denomina-
15
17
19
Quanto classe
Vinho leve: com graduao alcolica
entre 7% e 8,5%, deve ser obtido exclusivamente pela fermentao dos
acares naturais da uva, produzido
durante a safra na regio produtora,
podendo ser fino ou comum, desde
que identificado na rotulagem.
Vinho de mesa: deve possuir graduao alcolica de 8,6% a 14% em volume, podendo conter 1 atmosfera (atm)
de presso a 20oC, com teor de acar
calculado em, no mximo, 3 g/L para
secos e, no mnimo, 3,1 g/L para suaves ou doces. Os vinhos de mesa so
aqueles produzidos a partir de uvas do
grupo das americanas, das espcies
Vitis Iabrusca (Isabel, Bord, Nigara
etc.) e Vitis bourquina (Herbemont e
Jacquez), produzidos para consumo
imediato.
Vinho fino: o vinho de teor alcolico
de 8,6% a 14% em volume, mas que
difere-se do vinho de mesa por ser elaborado a partir de uvas do grupo das
europeias da espcie Vitis vinifera
(Cabernet, Merlot, Riesling, Chardonnay, Gewurztraminer, Moscato, etc.) e
mediante processos tecnolgicos adequados que assegurem a otimizao de
suas caractersticas sensoriais.
Vinho espumante, Espumoso natural
ou Champanha (Champagne): vinho
cujo gs carbnico (bolhas) resultado
unicamente de uma segunda fermentao alcolica do vinho em garrafa (mtodo Champenoise/tradicional) ou em
grandes recipientes (mtodo Charmat).
Com graduao alcolica de 10% a
13% e presso mnima de 4 atm a
20oC. O teor de acar vai de no mximo 7 g/L para brutos, 7,1 a 20 g/L para
secos, 20,1 a 80 g/L para meio doces
e mnimo de 80,1 g/L para doces.
21
MNIMO (% V/V)
MXIMO (% V/V)
Vinho leve
7,0
9,9
Vinho de mesa
8,6
14,0
Vinho licoroso
14,0
18,0
Vinho composto
15,0
18,0
Vinho espumante
10,0
13,0
7,0
10,0
Quanto cor
As cores so definidas em: Tinto; Rosado, Ros ou Clarete e Branco.
MNIMO
MXIMO
Seco
4,0
Meio-seco ou Demi-sec
4,1
25,0
Doce ou Suave
25,1
80,0
MNIMO
MXIMO
Nature
0,3
Extra-brut
3,1
0,8
Brut
8,1
1,5
Seco ou Sec
15,1
20,0
20,1
60,0
Doce
60,1
80,0
MNIMO
MXIMO
Seco ou Dry
20,0
Doce
20,1
80,0
MNIMO
MXIMO
Seco
40,0
Meio-seco o Meio-doce
40,1
80,0
Doce
80,1
100,0
Quanto qualidade
A legislao declara os itens abaixo:
O vinho no poder apresentar alteraes nas suas caractersticas
organolpticas normais.
O vinho no poder ser comercializado se atacado por microrganismos e outros agentes que
provoquem turvaes e transformaes nas suas propriedades biolgicas, tais como azedias e outras alteraes, exceto para destilao.
O vinho e mosto no podero apresentar substncias ou produtos estranhos aos seus constituintes naturais, salvo os previstos nestes padres.
O rendimento do mosto, em relao
matria-prima uva, aps a separao da borra, no poder ser superior a 80%.
Ser proibido adicionar ao mosto
destinado vinificao, qualquer
23
Padro de identidade
Para vinho de mesa
Ingredientes bsicos: uvas frescas, ss
e maduras.
Ingredientes opcionais: sacarose e/ou
mosto de uva para adoamento.
MNIMO
o
MXIMO
lcool etlico a 20 C
7% (v/v)
14% (v/v)
Acidez total
55,0 meq/L
130,0 meq/L
20,0 meq/L
Sulfatos totais
1,0 g/L
0,25 g/L
Cloretos totais
0,20 g/L
lcool metlico
0,35 g/L
MNIMO
MXIMO
lcool etlico a 20 C
14% (v/v)
18% (v/v)
Acidez total
50,0 meq/L
120,0 meq/L
Acidez fixa
30,0 meq/L
20,0 meq/L
Sulfatos totais
1,0 g/L
0,35 g/L
Cloretos totais
0,20 g/L
lcool metlico
0,35 g/L
25
MNIMO
MXIMO
lcool etlico a 20 C
15% (v/v)
20% (v/v)
50,0 meq/L
50,0 meq/L
40,0 meq/L
40,0 meq/L
30,0 meq/L
20,0 meq/L
Sulfatos totais
1,0 g/L
0,35 g/L
Cloretos totais
0,20 g/L
lcool metlico
0,35 g/L
Rotulagem
O rtulo o local onde devem estar
impressos a marca, o volume da embalagem e a designao completa do
produto. No h limitaes especficas para a formao da marca. Ela
deve atender a critrios mercadolgicos e no pode induzir o consumidor a erro sobre a natureza e/ou
origem do produto, nem atribuir qualidade ou caracterstica que o vinho
no possua.
As indicaes relativas rotulagem
so:
Obrigatrias
Nome e marca do vinho
Classe, tipo e natureza do produto
Classificao quanto a cor do vinho
Classificao em relao ao teor de
acar
Teor alcolico
Volume do contedo lquido
Aditivos utilizados, seus cdigos
indicativos e, por extenso, a respectiva classe
Nome e endereo do produtor e do
engarrafador
composta por algarismos que representam a quantidade de produto encontrada na embalagem e pela respectiva unidade de medida ou seu smbolo. Embalagens com contedo lquido menor que 1 litro devem apresentar o volume em mililitros (mL) e as
demais em unidades de litro (L).
A designao o mais importante item da rotulagem, informa a natureza do produto definindo a classe, cor e contedo de acar. Segundo o MAPA, a designao constitui item distinto, destacado das
demais inscries, impressa com
letras em negrito, em cor nica e
contrastante com a do fundo do
rtulo, com tamanho proporcional
ao da embalagem.
O uso do termo tipo em vinhos,
cujas caractersticas correspondam a
produtos clssicos internacionalmente conhecidos, somente admitido se
o produto elaborado com a mesma
tecnologia de origem.
Defensivos Agrcolas
Os resduos de defensivos remanescentes no vinho s podero resultar daqueles autorizados na cultura da
uva, observados os limites estabelecidos pela legislao especfica.
Resduos
A circulao e a comercializao de
borra e/ou bagao s sero permiti-
27
das quando destinadas a estabelecimentos credenciados para efeito de filtragem ou para a produo
de cido tartrico e/ou seus sais,
raes, leo de sementes,
encianina e adubo. Segundo a Legislao, fica permitida a venda ou
doao do bagao de uva ao agricultor, porm a enocianina no poder ser extrada dentro do estabelecimento vinificador.
Higiene
Engarrafamento
29
Cultura da Videira
Ciclo de vida da videira
lizao das reservas de carboidratos,
provocada pela atividade enzimtica,
e pela mobilizao dos acares para
nutrir as pontas de crescimento (gemas), provocando a brotao.
Ncleo Tecnolgico EPAMIG Uva e Vinho
Clima
A interao do meio natural, principalmente o solo, com os diversos elementos meteorolgicos, como a temperatura e umidade do ar, radiao
solar, precipitao pluvial e vento, praticamente definem as potencialidades
das regies para o cultivo da videira.
31
Fatores edficos
A produo de uva pode ser feita
em tipos variados de solo. A profundidade o primeiro fator de interferncia na produtividade e qualidade das
uvas, uma vez que determina o espao disponvel para o crescimento do
sistema radicular. Solos profundos,
com satisfatria disponibilidade
hdrica e fertilidade adequada, so
favorveis ao desenvolvimento de
plantas de altas produes, ao passo
que solos rasos, de baixa fertilidade e
de baixa capacidade de reteno de
gua, no permitem elevadas produtividades, mas os frutos produzidos
nestes locais tendem a ser de melhor
qualidade.
Fabio Vale Scarpare
Figura 3. Vinhedo
33
Implantao de vinhedo
Densidade e disposio das plantas,
sistema de conduo
A densidade de plantio e o sistema
de conduo adotado esto diretamente relacionados com a produo,
qualidade e possibilidade de mecanizao. Vrios fatores influenciam a
tomada de deciso para a escolha de
um sistema de conduo: o objetivo
da produo (qualidade x quantidade); a variedade; as condies do solo
e do clima; a topografia do terreno; o
mtodo de colheita (manual ou mecnico); o custo de instalao e de manuteno dos postes e fios; e a tradio.
O espaamento adotado ditar a
densidade de plantas na rea. Dessa
forma para a escolha do espaamento, diversos fatores devem ser
considerados, tais como: necessidade de mecanizao, vigor das cultivares copa e porta-enxerto, fertilidade
natural do solo e sistema de conduo adotado. A densidade de plantio
influencia diretamente o desenvolvimento da planta, devido a maior competio que se estabelece entre elas
pela luz, gua e nutrientes. O aumento da densidade resulta em maior
competio do sistema radicular, podendo reduzir o vigor da planta e sua
Tratos culturais
Poda de produo
A princpio, a poda de produo
realizada aps o incio da fase de repouso, visando o incio de um novo
ciclo produtivo. Na poda importante
35
esto em contato direto com os cachos e que podem causar danos fsicos nas bagas. Tambm pode ser
realizada com o objetivo de equilibrar a relao rea foliar e nmero
de frutos, melhorando a aerao e
incidncia de raios solares no interior do dossel.
O desnetamento consiste na remoo de brotaes laterais originrias
de gemas prontas, localizadas nas
axilas foliares. Estas brotaes funcionam como rgos vegetativos, competindo pelos carboidratos e nutrientes que poderiam ser direcionados s
brotaes principais e aos frutos. A
eliminao de gavinhas tambm deve
ser realizada, principalmente daquelas situadas prximas ao cacho, que
devem ser eliminadas durante a fase
de pr-florao para favorecer a fixao dos frutos.
Adubao, Irrigao e
Tratamento Fitossanitrio
Outros tratos culturais so necessrios para a produo de uvas
para vinificao, como a realizao de adubao equilibrada, irrigao e tratamento contra pragas
e doenas.
A videira uma planta de sistema
radicular profundo e eficiente na captao de gua. O uso da irrigao durante perodo de maturao das uvas
tem demonstrado menos acmulo de
37
Colheita
A colheita um dos fatores de maior
interferncia na qualidade do vinho.
Geralmente baseada na experincia do viticultor e nas condies climticas especficas de cada regio.
Na colheita de uvas para vinificao
importante que haja o processo de
maturao e sobrematurao dos frutos. O processo de maturao dos frutos iniciado aps a mudana de cor
Tcnicas de Vinificao
A vinificao consiste na realizao
de diversas etapas. So tcnicas e
procedimentos necessrios para obteno da bebida mediante fermentao alcolica do mosto simples de
uvas. O processo direcionado de
acordo com o tipo de produto final que
se deseja obter. Devido grande variedade de uvas disponveis, possvel conduzir mtodos variveis na elaborao da bebida, alm dos padres
39
Transporte
O transporte deve proporcionar que
as uvas cheguem do campo at a vincola em tima qualidade. O esmagamento e deteriorao precoce das
uvas podem ocorrer na ausncia de
cuidados especficos desde a colheita at o transporte. O tempo intermedirio entre a colheita e o transporte
para a vincola deve ser reduzido ao
mximo, assim como a exposio ao
sol e elevadas temperaturas, quando
efetuado durante o dia.
Colheita
A colheita das uvas pode ser realizada de duas maneiras, manual ou
de forma mecnica. A colheita manual permite a seleo dos cachos
com mais cuidado e observao da
qualidade, porm demanda maior
tempo e mo de obra. J a colheita
mecnica uma operao rpida e
de alto rendimento, indicada para as
produes maiores. A forma mecnica pode ser realizada durante a
noite e por isso permite que as uvas
sejam colhidas e transportadas em
temperaturas mais baixas. Esse fato
reduz os nveis de deteriorao do
fruto e retarda a podrido, o que
possibilita maior qualidade das uvas
at a preparao do mosto para fermentao.
41
Desengace
O cacho da uva composto pela
baga e por ramificaes denominadas engaces. Quando no usados
na vinificao, os engaces servem
de adubo para as prximas vinhas e
devem ser devolvidos ao campo
logo aps sua retirada. A introduo
das ramificaes na fermentao da
bebida resulta em grande liberao
de tanino, fenol presente em maior
Legenda:
1 - Bomba;
2 - Recolhendo o filtrado;
3 - Bandeja com suas pinturas;
4 - Estrutura de ao;
5 - Filtro de pano;
6 - Tanque pneumtico com tampo;
7 - Fornecimento Central filtro lquido.
Esmagamento
O esmagamento caracteriza-se
pelo rompimento da pelcula da uva
e com liberao do suco contido na
polpa da baga e o incio do que ser
a fermentao alcolica. A presso
aplicada no processo deve ser leve
o suficiente apenas para romper a
casca das bagas e liberar o mosto.
Presses muito fortes podem dilacerar as ramificaes, amassar as
sementes e as cascas, componentes responsveis pela liberao de
excesso de tanino. Os esmagadores de rolo so recomendveis para
realizar essa etapa, onde a regulao da distncia entre os rolos
permite melhorar a qualidade do esmagamento. Ao final, as uvas com
suas partes lquidas e slidas, so
encaminhadas para tanques de fermentao mediante uso de bombas.
43
Sulfitagem
Aps o transporte das uvas at os
tanques de fermentao, a prxima etapa a sulfitagem, representada pela adio de cido sulfuroso (H2SO3), forma
hidratada do gs dixido de enxofre
(SO2). O cido sulfuroso geralmente
adicionado s uvas recm-esmagadas
e possui efeito bactericida, antioxidante
e conservante de ao seletiva; evita a
proliferao de microrganismos responsveis pela oxidao do vinho (acidificao excessiva da bebida). O dixido
de enxofre pode ser aplicado tambm
diretamente na uva madura horas antes da colheita. Esse procedimento reduz os riscos de proliferao de microrganismos indesejveis desde o incio
do processo de vinificao.
Fermentao alcolica
(ou tumultuosa)
A fermentao alcolica marcada
pela alta atividade das leveduras, fungos unicelulares que, atravs da ao
biolgica, transforma os acares do
mosto (frutose e glicose) em lcool
etlico (etanol) e gs carbnico (CO2).
A levedura utilizada no processo de
vinificao a Saccharomyces cerevisiae, e deve apresentar um timo rendimento (converso de acares em
etanol) e alta produtividade (concluso da fermentao em menor tempo). As vinificaes em tinto podem
ocorrer em temperaturas entre 27oC a
30oC. Porm, durante a vinificao de
vinhos brancos, a fermentao deve
ocorrer em temperaturas mais baixas,
entre 15oC e 18oC. Elevadas temperaturas, acima de 40oC, podem causar
a inativao e morte das leveduras.
45
Atesto
O atesto consiste em preencher os
tanques periodicamente, com vinho
de mesma qualidade, medida que o
nvel do vinho recm-fermentado diminui, devido evaporao ou mudana de temperatura durante a fermentao do mosto. Dependendo do
tamanho do tanque onde se encontra
o vinho recm-fermentado, o atesto
deve ser feito semanalmente para reduzir ao mximo o contato do vinho
com o ar, inibindo a multiplicao de
microrganismos nocivos.
O vinho utilizado no atesto deve ter
da mesma qualidade que aquele que
est nos tanques de fermentao.
Deve estar lmpido e, de preferncia,
estabilizado. Se no tiver esses cuidados, todo recipiente pode ser contaminado por acidificao ou azedamento.
Filtrao do vinho
O papel fundamental da filtrao,
alm da clarificao do vinho, assegurar sua estabilidade fsico-qumica
e microbiolgica. Normalmente os
consumidores preferem vinhos claros
e brilhantes. Por conta desta exigncia comercial, o vinho requer a eliminao de partculas visveis aps a
estabilizao. A filtrao um processo de separao que faz com que as
47
Particularidades da vinificao
de vinhos tintos
Na fermentao alcolica de vinhos
tintos, a macerao das cascas com o
lquido promove a extrao de antocianinas (pigmentos vermelhos) presentes nas cascas das uvas que so
responsveis pela colorao do vinho
tinto. O gs carbnico produzido pela
fermentao faz com que as partes
slidas do mosto flutuem formando
uma camada de cascas na superfcie.
Essa camada de cascas acima do l-
49
nhos. Diversas espcies so utilizadas no mundo todo, porm as principais so o carvalho americano
(Quercus alba) e o carvalho europeu
(Quercus petraea e Quercus robur).
Cada espcie possui potencial diferente de fornecer compostos que contribuiro para o perfil sensorial da bebida, e cabe ao produtor decidir o carvalho ideal para seu vinho.
51
Particularidades da vinificao
de vinho rosado ou ros
Durante o processo de fabricao,
o vinho rosado incorpora a cor proveniente das cascas das uvas tintas, mas
no o suficiente para ser considera-
Rosados Mdios
Para prolongar a extrao de cor
por mais tempo, os rosados mais tonalizados so produzidos por um mdio
perodo (aproximadamente 12 h) do
mosto em contato com as cascas. Os
tons variam de rosa-plido, at rosa e
castanho. Esses vinhos so os mais
produzidos no mundo.
Rosados Intensos
Podem-se produzir rosados como se
fossem quase tintos. O maior contato
das cascas (aproximadamente 24 h)
e a prtica de remontagem garantem
a presena de cor e taninos acentuados. Com tonalidades vermelho-claros, possuem riqueza aromtica, sabores mais intensos e frescor.
53
Particularidades da vinificao
de vinho branco
A presena das cascas da uva durante a fermentao o que determina a diferena entre a produo de
vinhos tintos e brancos. O vinho branco pode ser elaborado tanto com uvas
brancas como com uvas tintas. A colorao contida no vinho provm da
casca, elemento retirado para a vinificao em branco. Contudo, o sabor
e os aromas do produto final sero
diferenciados de acordo com a escolha do produtor.
A casca da uva possui altas concentraes de compostos fenlicos,
antioxidantes que favorecem o processo de produo e dificultam a contaminao. A ausncia da casca em vinhos
brancos ocasiona maior vulnerabilidade oxidao, sendo sua elaborao um processo mais delicado, que necessita de mais intervenes tecnolgicas e no tolera erros de processo.
Operaes pr-fermentativas
Prensagem
A prensagem na pr-fermentao,
processo realizado na produo de vinhos brancos, pode ser aplicada na uva
inteira ou desengaada e esmagada,
com opes de equipamentos variados.
A prensagem da uva inteira permite
trabalhar com baixas presses na extrao do mosto-flor, lquido de alta
qualidade enolgica que corresponde a 50% do mosto total e escorre
livremente como simples resultado do
peso das uvas antes de se aplicar
qualquer presso mecnica com uma
prensa. Aps essa primeira extrao,
a presso aumentada e a prensagem realizada at o esgotamento
da uva (procedimento que ao contrrio da obteno do mosto-flor), que libera substncias de amargor e
adstringncia. Na prensagem da uva
desengaada e esmagada possvel
aplicar nveis de presso maiores, obtendo outros mostos-prensa (extrados
por prensagem, aps a retirada do
mosto-flor). Os mostos obtidos em
presses mais elevadas e classificados de qualidade inferior so normalmente fermentados e engarrafados separadamente.
Clarificao do mosto
necessria a clarificao do mosto, pois atravs dessa etapa que o
vinho branco adquire qualidade sen-
55
Fermentao
O controle da temperatura durante a fermentao permite conferir caractersticas diferentes ao vinho
branco. Mantendo-se a ocorrncia
da fermentao em temperaturas
mais baixas (at 15oC), ocorre a produo de brancos mais frutados e
com vida mais curta. Ao elevar a
temperatura os vinhos tornam-se
mais resistentes. Poucos produtores optam pelo uso de barris de carvalho para a fermentao, onde a
oxigenao promovida pelo barril
reduz o frescor do vinho. Dois mtodos de fermentao so utilizados,
denominados bica aberta e macerao peculiar.
Tcnicas fermentativas - Bica aberta
A extrao do mosto para a produo de vinhos brancos pode ser realizada de diferentes formas. A fermentao conhecida como bica aberta
o processo mais tradicional entre
as opes de vinificao de vinhos
brancos e ocorre quando h separao das partes slidas (cascas e sementes) e lquidas da uva, realizada
atravs da prensagem. Durante o processo poder haver depurao, que
o retardamento da fermentao em
24 a 48 horas, para que haja o depsito das impurezas e partes slidas
que no conseguiram ser anteriormente separadas durante a pren-
57
Particularidades da vinificao
de espumantes
O espumante um vinho que possui maior concentrao de gs CO2
(dixido de carbono) e portanto, promove a percepo de bolhas, provenientes da segunda fermentao
(espumante natural) das uvas ou da
adio realizada artificialmente (espumante gaseificado). Dois mtodos
de produo so utilizados, o mtodo Champenoise, onde a fermentao
secundria do vinho base ocorre
dentro da garrafa; e o mtodo
59
SACAROSE
< 3 g/L
Extra Brut
< 6 g/L
Brut
< 15 g/L
Extra Sec
12 - 20 g/L
Sec
17 - 35 g/L
Semi Sec
33 - 55 g/L
Doce
> 50 g/L
61
63
COLHEITA E RECEPO
CLARIFICAO
FERMENTAO
FILTRAO
ENGARRAFAMENTO
FECHAMENTO (ROLHA)
Engarrafamento de espumantes
O engarrafamento do espumante
requer o uso de garrafas que suportem at seis vezes a presso da bebida. Essas garrafas so chamadas
champanheiras e aps o enchimento recebem a colocao da rolha e
da coroa (conjunto de arames que
protege a rolha de possvel estouro
precoce ao consumo). O dimetro da
rolha destinada ao engarrafamento
de espumantes difere das outras,
variando de 28 a 31 mm e mede
mais do que o dimetro interno do
bico da garrafa (18 mm). Por tal mo-
Particularidades na produo de
vinho licoroso/fortificado
O vinho fortificado caracteriza-se
pelo alto teor alcolico (14 a 18%) e,
normalmente, elevado dulor. Neste processo o vinho recebe adio
de aguardente vnica ou outra bebida destilada, que eleva o teor alcolico e possui tambm a funo
de inibir as leveduras existentes no
mosto, interrompendo o processo de
fermentao, para que parte do acar continue presente na bebida. O
sabor adocicado provm do acar
residual da fermentao das uvas
altamente maduras, o que pode ser
adquirido pela sobrematurao das
uvas (colheita tardia), pela passificao (desidratao das uvas),
ou tambm um processo chamado
de podrido nobre. A podrido nobre ocorre quando o fungo Botrytis
As diversas maneiras de se produzir licorosos que faz do tipo licoroso uma categoria parte do restante dos vinhos, pois cada escolha
feita durante suas etapas de vinificao resulta em produtos nicos.
No Brasil, os poucos licorosos produzidos seguem a tcnica da colheita tardia, e geralmente o mosto fortificado no incio da fermentao quando ainda contm alta concentrao de
acar e pouco teor alcolico.
Sobrematurao ou colheita tardia da
uva
Para a elaborao de vinhos licorosos, a uva tem sua concentrao
de acar potencializada pela desidratao da baga no estgio denominado de sobrematurao. Podese considerar que o incio da sobrematurao seja o momento a partir
do qual a uva atinge seu tamanho e
peso mximos.
A caracterstica gentica do cultivar determina o potencial de acmulo de acar e outros componentes. Outros fatores tambm podem influenciar na maturao, como o caso
do sistema de conduo de nutrientes at a planta, a produtividade do
vinhedo e a temperatura no perodo
de amadurecimento. Altas temperaturas, baixa umidade e boa ventilao so timas condies para a
sobrematurao bem sucedida.
65
estufas de dessecamento e secadores, com o uso de ar quente para diminuir a umidade relativa do ar. Neste caso, o tempo de passificao
reduzido aproximadamente a 1015% do tempo necessrio para a
passificao natural.
Podrido nobre
A podrido nobre a consequncia positiva do aparecimento
de um fungo nas vinhas. O desenvolvimento do fungo Botrytis cinerea
em condies nicas de clima (tempo seco) e na fase final de maturao
das uvas, ocasiona o amolecimento
da casca da uva e a perda de gua.
As bagas murcham e tornam-se ricas em acar, produzindo a chamada podrido nobre. Porm, em condies onde a umidade elevada, o
mesmo fungo manifesta-se na sua
forma destrutiva, chamada podrido
cinzenta, que pode arruinar colheitas completas, reduzindo a qualidade e quantidade da produo.
Para o desenvolvimento do Botrytis
cinerea na sua forma benfica, as
uvas devem estar plenamente maduras, e no podem apresentar ferimentos. Com uma umidade inicial
de 90% durante 24 horas, os esporos
de Botrytis cinerea germinam e o fungo cresce sobre e no interior das
pelculas das bagas. As bagas se-
PESO DE
100 BAGAS
(g)
ACIDEZ
CARES
(g/L)
ACIDEZ
CIDO
218
199
100
(mmol/L)
91
117
341
145
78
GLICEROL
(mmol/L)
CIDO
GLUCNICO
(mmol/L)
(mmol/L)
35
205
41
8807
2872
Podrido
nobre
67
Controle de Qualidade e
Composio do Vinho
Ponto de maturao, colheita e
classificao da uva
O estgio de maturao das uvas
deve ser aferido pelo produtor antes
de realizar a colheita, atravs da verificao dos valores de Brix, cidos,
pH (maturao tecnolgica) e polifenis (maturao fenlica) com o
mosto a 20oC (temperatura referncia).
A medio do teor de slidos solveis,
representado pela concentrao de
acares (glucose e frutose) contido
no suco das uvas, realizada atravs
da escala em graus Brix. A medio
pode ser feita diretamente no vinhedo, com um equipamento chamado
refratmetro ou na vincola com o auxlio de um densmetro, tambm conhecido como mostmetro. Deve-se,
para tanto, colher amostras representativas das uvas (bagas de diferentes
videiras) de todo o vinhedo, colocar o
mosto em uma proveta e efetuar a
medio. Quanto mais acar o mosto contiver, mais denso ele ser, e assim torna-se possvel calcular o teor
alcolico potencial do vinho que ser
produzido. A Tabela 11 apresenta os
principais compostos dos mostos, assim como suas concentraes.
CONCENTRAO (g/L)
gua
700 - 850
Glicdios (acares)
140 - 250
Polissacardios
3-5
lcoois
Polilcoois
cidos Orgnicos
9,0 - 27,0
Polifenis
0,5
Compostos Nitrogenados
4-7
Minerais
0,8 - 2,8
Vitaminas
0,2 - 0,8
corresponder a um aumento de 3
pontos percentuais no teor alcolico
do vinho.
A acidez total do mosto, ao contrrio dos acares, diminui ao longo do
tempo. Sua medio realizada por
mtodo titulomtrico, procedimento
baseado na quantidade necessria de
um reagente bsico de concentrao
conhecida (soluo padro) para neutralizar outro de concentrao desconhecida. A titulao consiste em adicionar controladamente, por intermdio de uma bureta, uma soluo
(titulante) sobre outra soluo (titulado), que normalmente est em um frasco Erlenmeyer at que a reao se
complete. Durante o processo faz-se
reagir um cido com uma base para
que se atinja o ponto de equivalncia (fim da reao). medida que
69
CONCENTRAO (g/L)
gua
750 - 900
Glicdios
0,1 - 5
Polissacardios
2-4
lcoois
69 - 121
Polilcoois
5 - 20
cidos Orgnicos
3 - 20
Polifenis
2-6
Compostos Nitrogenados
3-6
Minerais
0,6 - 2,5
Vitaminas
0,2 - 0,7
71
Vinhos no Brasil
Produo
A produo de vinhos brasileiros
iniciou-se na poca da colonizao.
O Brasil considerado o quinto maior
produtor vitivincola da Amrica do
Sul. A maior parte dos vinhos produzidos no pas classificada como vinhos de mesa (cerca de 80%) e so
produzidos a partir de variedades de
uvas americanas (Vitis lambrusca).
Atualmente, as vincolas brasileiras
contam com grandes investimentos
em inovaes tecnolgicas do processo de vinificao e manejo dos vinhedos.
A obteno de vinhos de melhor
qualidade indica reconhecimento no
mercado nacional e internacional.
Regies produtoras
A rea de produo vitivincola no
Brasil compreende cerca de 83,7 mil
hectares, divididos em trs principais
regies: Rio Grande do Sul, Santa
Catarina e Pernambuco - Bahia. Outras regies vitivincolas possuem
expressividade em seus vinhos, tais
como: Norte e Sul de Minas Gerais,
Norte do Paran e Centro-Oeste.
Rio Grande do Sul
A viticultura tradicional do Rio Grande do Sul representa cerca de 88%
da rea de vinhedos brasileiros e 98%
da uva utilizada para processamento
de vinhos, sucos e derivados. Duas
sub-regies de importncia so destacadas, a Serra Gacha e a Campanha e Serra do Sudeste.
Serra Gacha
a maior e mais importante regio
vincola do Brasil. Compreende cerca
de 85% da produo nacional de vinhos. A Serra Gacha rene as reas
de produo certificadas do pas,
como Denominao de Origem e Indicao de Procedncia. O Vale dos
Vinhedos foi a regio pioneira na Denominao de Origem (D.O.) compreendendo a regio de Bento Gonalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul,
com cerca de 72,45 quilmetros. A regio de Pinto Bandeira conquistou a
Indicao de Procedncia (I.P.) para
73
Santa Catarina
A regio considerada plo emergente da vitivinicultura brasileira de
clima temperado. Possui como principal sub-regio o Planalto Catarinense, zona produtiva com a maior altitude do pas (entre 900 e 1.400 metros
acima do nvel do mar).
Planalto Catarinense
A regio caracterizada pelo solo
basltico que confere complexidade
aos vinhos produzidos. No clima temperado e mido, as temperaturas so
muito baixas, principalmente noite.
Esse fator influencia no calendrio de
colheita e as videiras apresentam desempenho tardio. A colheita ocorre
entre maro e abril. Este plo produtor excluso na viticultura de variedades europeias (Vitis vinifera) para
a produo de vinhos finos. Os primeiros vinhedos da regio foram plantados em 2001, e atualmente atinge a
rea aproximada de 180 hectares.
Entre as principais variedades cultivadas encontram-se as tintas:
Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet
Franc, Pinot Noir e Malbec e as brancas: Chardonnay e Sauvignon Blanc.
Pernambuco e Bahia
A viticultura tropical alcanou evoluo tecnolgica significativa no Brasil devido principalmente s tecnologias que viabilizaram a produo de
75
Vinhos de Mosaico
Esta denominao compreende o
maior volume de vinhos finos brasileiros, produzidos na Serra Gacha.
A produo vitivincola situa-se entre 400 e 800 metros de altitude, em
solos de origem basltica, que formam um mosaico de paisagens, solos e condies particulares para o
cultivo da videira. Deste solo originou a expresso Vinhos de Mosaico. Os Vinhos de Mosaico compreendem os vinhos tranquilos e espumantes.
Vinhos de Altitude
Essa classificao denomina-se
os vinhos produzidos nos planaltos de altitude de Santa Catarina
e Rio Grande do Sul. Os planaltos
so caracterizados por conter solos de origem basltica e com influncia ocenica varivel sobre o
clima. Nessas condies, o ciclo
de produo das videiras mais
longo e o perodo de maturao
das uvas pode alcanar quatro
meses. Os vinhos produzidos possuem carter encorpado, maduro
e normalmente assumem teor alcolico moderado. Os tintos possuem altos teores de taninos. Com
predomnio da produo em tintos
e brancos tranquilos, h expanso
significativa da produo de espumantes finos e de vinhos licorosos.
Vinhos do Pampa
Vinhos produzidos nas regies da
Serra do Sudeste e da Campanha, no
estado do Rio Grande do Sul, sobre
solos de origem grantica ou sedimentar, so denominados vinhos do
Pampa. As regies fazem fronteira
com o Uruguai e a Argentina, apresentando relevo suave ondulado, clima caracterizado por veres quentes
e secos e invernos frios e midos. Os
Vinhos do Pampa assumem definio
de encorpados, maduros, com teor
alcolico relativamente elevado. Com
predominncia na produo de tintos
e brancos tranquilos, apresenta tendncia de crescimento na produo
de espumantes.
Vinhos Tropicais
A regio brasileira do Vale do Rio
So Francisco possui caractersticas
singulares para a classificao de vinhos tropicais. O clima possui variabilidade intra-anual, que indica a regio que, sob condio climtica natural, muda de classe de clima vitcola
em funo da poca do ano na qual a
uva produzida. Essa definio
aplicvel s regies onde possvel
mais de um ciclo vegetativo por ano.
A vantagem sobre esse sistema o
aumento das possibilidades de elaborao de produtos, no que se refere a tipos e estilos. Os vinhos tropicais
predominam em tintos secos tranqui-
los e espumantes tipo moscatel. Contudo algumas vincolas elaboram vinhos com uvas de diferentes regies
e obtm produtos diferenciados pelo
mtodo de assemblage (cortes).
Mercado brasileiro
No Brasil, cerca de 80% do consumo de vinhos com valor de at
R$ 20,00. O grande entrave para o
consumo e crescimento do setor de
vinho o elevado valor dos vinhos no
Brasil. Os impostos em um vinho nacional so calculados em aproximadamente 50% do valor final. O consumo de bebidas alcolicas entre adultos atinge 70% da populao, porm
com baixa frequncia de consumo. O
mercado do vinho brasileiro dividido em dois segmentos principais, sendo vinho de mesa, que representa
69% do volume total (em mdia 217
milhes de litros/ano) e vinhos finos,
com 31% do volume total da produo. A anlise dos perodos evolutivos
da vitivinicultura brasileira indica a caracterizao da produo de vinhos
com qualidade diferenciada ao longo
dos ltimos 120 anos. Trs geraes
de vinhos podem ser descritas:
Vinhos de 1 Gerao (1870-1920):
Implantao da vitivinicultura no
Brasil com vinhos produzidos de
uvas americanas.
Vinhos de 2 Gerao (1930-1960):
Perodo marcado pela diversifica-
77
ternativa para o aumento da competitividade do vinho brasileiro. A alternativa de implementao de indicaes geogrficas tornou-se concreta
no Brasil a partir do advento da Lei
n 9.279 - Lei de Propriedade Industrial, de 14 de maio de 1996 (Brasil,
1996). Pela primeira vez a legislao
brasileira contemplou o reconhecimento das indicaes geogrficas
para seus produtos vitivincolas. De
acordo com o que estabelece a lei
brasileira, considera-se Indicao de
Procedncia (IP) o nome geogrfico
do pas, da cidade, da regio ou da
localidade do seu territrio, que se
tenha tornado conhecido como centro de extrao, produo ou fabricao de determinado produto ou de
prestao de determinado servio.
Contudo, a Denominao de Origem (DO) do nome geogrfico designa produto ou servio cujas qualidades ou caractersticas devem-se exclusiva ou essencialmente ao meio
geogrfico, incluindo os fatores naturais e humanos. Assim, a origem de
um produto se refere amplitude da
influncia que o local de produo
exerce na avaliao de um produto e
utilizada como informao em diversas condies, principalmente para
inferir sobre a qualidade de um produto
ou na deciso de compra do mesmo.
As importaes brasileiras de vinhos europeus dividem-se entre vi-
CHILE
ARGENTINA
ITLIA
FRANA
PORTUGAL
OUTROS
TOTAL
2004
11,2
11,2
7,2
2,8
4,2
2,5
39,2
2005
11,7
12,0
7,1
2,6
5,2
2,4
40,9
2012
30,3
15,6
11,6
5,0
9,8
7,2
79,5
2013
38,0
19,6
14,6
4,5
12,3
9,6
98,6
79
Qualidade Sensorial
Qualidade sensorial refere-se s
propriedades detectadas via sentidos
humanos frente apresentao e degustao de um produto. Viso, tato,
paladar e olfato promovem nossa percepo e determinam a aceitao e
consumo de um determinado produto. Segundo a ISO (Organizao Internacional para Padronizao), a
qualidade de um produto o conjunto das propriedades e das caractersticas que lhe conferem aptido para
satisfazer as necessidades explcitas
e implcitas de uma pessoa.
O vinho um produto que apresenta
composio qumica complexa e consequentemente, caractersticas sensoriais
distintas. A qualidade sensorial do vi-
Cor
A colorao do vinho demonstra
muitas caractersticas sobre o produto. Em tintos e brancos, quanto mais
viva e brilhante for a cor, mais jovem
o vinho. Os vinhos brancos podem ser
classificados como: amarelo-claro,
amarelo-esverdeado, verde-amarelado, amarelo-palha, amarelo-dourado,
dourado e mbar. Os rosados apresentam diversas tonalidades, poden-
Limpidez
A limpidez em um vinho pode ser
definida como a ausncia de partculas em suspenso. A maioria dos vinhos so lmpidos, porm alguns vinhos que permanecem longo perodo
em garrafa podem apresentar decantao de partculas, denominada de
borras. Vinhos que concluem a fermentao na prpria garrafa ou que
no foram filtrados tambm costumam
no ter limpidez. Contudo, a presena de partculas no considerada
defeito da bebida. Por outro lado, vinhos com problemas de processo caracterizam defeitos e podem apresentar partculas em suspenso e elevada turbidez. Nesse caso, o julgamento ser necessariamente negativo. Os
termos utilizados pela AIS (Associao Internacional de Sommeliers)
para descrever a limpidez de um vinho so:
Velado
Considerado sempre um aspecto
negativo. O vinho velado turvo e
opaco, e possui partculas em suspenso. Normalmente so vinhos que
sofreram problemas na fermentao.
81
Abbastanza lmpido
Quando o vinho possui partculas
em suspenso mas que no compromete a qualidade. Geralmente passaram muito tempo na garrafa ou no
foram filtrados.
Lmpido
o vinho que no possui partculas
em suspenso e nenhum depsito no
fundo da garrafa.
Cristalino
Indicativo de qualidade, quando o vinho no apresenta partculas
em suspenso e possui luminosidade muito forte. A maior parte dos
vinhos brancos e rosados, e alguns
tintos, podem ser definidos com esse
termo.
Brilhante
qualidade promovida pelo mximo da luminosidade apresentada
por um vinho. caracterstica que
pode ser encontrada em espumantes, pois a presena do gs carbnico na bebida ajuda a refletir os
raios de luz.
Dicas:
Para analisar a limpidez do vinho, coloque uma
folha de papel branco contra a taa e d preferncia para ambientes mais iluminados.
Aroma
Devido sua composio rica e complexa, o vinho apresenta grande variedade de aromas, formados ao longo do
processo de produo. Estes aromas
so organizados em diferentes grupos,
tais como: floral (violeta, rosa e flor de
laranjeira); especiarias (anis, cravo e
pimenta-preta); frutado (ctricos, frutas
vermelhas, pssego, ma, abacaxi,
melo, banana e frutas secas); herbceo/vegetal (aspargo, azeitona verde e
preta, alcachofra, grama verde ceifada,
pimento, eucalipto e menta); seco
(feno/palha, ch e tabaco); noz (nozes,
amndoa e avel); caramelizado (mel,
acar mascavo, manteiga, chocolate
e melao); amadeirado (defumado, torrada, caf, carvalho, cedro e baunilha);
terroso (cogumelo e rolha mofada); qumico (dixido de enxofre, etanol, cido
actico, fsforo queimado, repolho e
alcatro); microbiolgico (borra, fermento de po, iogurte e chucrute).
A origem dos aromas pode ser
explicada em categorias, sendo os aromas primrios oriundos das diferentes
variedades de uva, os secundrios so
formados durante o processo de fermentao, pela ao da levedura, e os
tercirios so os aromas de evoluo,
Dicas:
Para avaliao olfativa, gire a taa lentamente
para que os aromas do vinho sejam liberados
mais facilmente. O aroma tambm sentido aps
a deglutio. Essa sensao chamada de
retrogosto.
Sabor
Na anlise gustativa, alguns parmetros podem ser analisados. As sensaes bucais de corpo (encorpado), adstringncia, acidez, teor alcolico e equilbrio so perceptveis
quando o vinho colocado em contato com a mucosa bucal e deglutido.
O corpo relacionado estrutura
do vinho. Os tintos, em geral, so mais
estruturados que os brancos e os rosados, pois possuem taninos em sua composio, que atribuem esta caracterstica. Os vinhos com mais corpo so
marcantes e densos. O contrrio do vinho encorpado seria um vinho leve,
chamado de vinho com pouco corpo.
A adstringncia a sensao percebida quando a lngua fica spera e
seca, como quando comemos uma fruta verde. Esta sensao est ligada
Dica:
Logo aps comer, beba um gole de vinho. Isso
far com que as papilas de sua lngua fiquem
limpas e prontas para sentir o sabor da comida
novamente.
Deteco de defeitos
Os vinhos podem apresentar defeitos que so originrios da prpria uva,
ou do processo de produo, engarrafamento e envelhecimento. A rejeio do vinho devido ao defeito sensorial imediata. Neste caso, qualquer pessoa capaz de perceber e
rejeitar a bebida. Dentre os defeitos
mais comuns esto:
Vinho Oxidado
O contato excessivo com o oxignio, seja durante a vinificao ou aps
o engarrafamento, provoca alteraes
83
Definies sensoriais
Vinho branco
Em geral, tendncia para colorao
palha, de tom amarelo ou esverdeado.
Quando envelhecidos por longo perodo, tendem a apresentar cor amarelo-ouro ou branco plido. O aroma
pode ser bastante variado, mas aqueles que ocorrem com mais frequncia
so os de frutas (pssego, ma,
pra, limo, etc.), e florais. Vinhos envelhecidos acima de 2 anos podem
apresentar aromas de nozes (avels,
amndoas), vegetais e especiarias.
No paladar de vinhos brancos o gosto cido predominante e d origem
a sensao de frescor.
Vinho tinto
Apresentam colorao vermelho-violeta ou prpura, intensa. Quando jovem apresenta maior concentrao
de aromas frutados, geralmente de fru-
tas vermelhas, tais como groselha, framboesa, amora e morango. Quando mais
velhos, apresentam aromas de especiarias, flores, castanhas e frutas secas. O
sabor deve ser equilibrado em gosto
cido, gosto adstringente e amargo.
Os vinhos chamados tintos de guarda, com grande potencial de envelhecimento so atualmente apenas 10%
da produo mundial, enquanto os
vinhos jovens, produzidos para serem
consumidos imediatamente, constituem os outros 90%. Uma das razes
para isso que, para que um vinho suporte certo perodo de guarda, ele deve
ter alta concentrao de compostos
fenlicos, o que ocorre em vinhas com
baixa produtividade de uva por planta.
Dentro da vincola, o vinho de guarda
passa por cuidadosos processos de prmacerao baixa temperatura, fermentao temperatura controlada, e acompanhamento contnuo extremamente
cuidadoso. Todos esses fatores agregam maior valor ao produto.
Ros
As principais caractersticas obtidas
so o frescor e os aromas e sabores
de frutas vermelhas (cereja, framboesa, groselha, morango) devido preservao da acidez natural das uvas
frescas, marca inconfundvel dos ross.
Os ross tm sabor e aromas frescos e
servem para serem consumidos no vero e harmonizam com pratos leves.
85
Glossrio
Acidez (sensorial) - sensao de
picncia provocada pelos cidos do
vinho e que resulta em salivao. A
acidez equilibrada agradvel e
considerada atributo de qualidade.
A acidez excessiva considerada
um defeito e resultante de contaminao bacteriana e oxidao dos
constituintes do vinho, com formao do cido actico (aroma e sabor
de vinagre).
87
Bibliografia Consultada
A vindima. Vinhos brasileiros - Tipos
e Estilos. Disponvel em:
www.avindima.com.br/?p=359
Consultado em Janeiro 2015.
AMARANTE, J.O.A. Vinhos e vincolas
do Brasil. So Paulo: Summus
Editora, 1986.
CARDOSO, Antnio Dias. O vinho: da
uva a garrafa. Lisboa: ncora, 2007.
FLASCO. Faculdade
Latinoamericana de Cincias
Sociais. Consumo de bebidas
alcolicas no Brasil. Rio de Janeiro,
2012. Disponvel em:
www.flacso.org.br Consultado em
Janeiro 2015.
GIOVANINI, E. Manual de viticultura.
Porto Alegre: Bookman, 2014. 253p.
89