Determinação Da Entalpia de Vaporização de Líquidos
Determinação Da Entalpia de Vaporização de Líquidos
Determinação Da Entalpia de Vaporização de Líquidos
INTRODUO
Quando um lquido colocado em um recipiente fechado e sob
vcuo, suas molculas escapam da fase lquida para a fase gasosa at
que se atinja um equilbrio a uma dada temperatura. Esse equilbrio
dinmico, com molculas passando do estado vapor ao estado lquido
e vice-versa. A presso de vapor definida como a presso exercida
por esse vapor em equilbrio com o lquido a essa dada temperatura.1
A presso de vapor e a temperatura so diretamente proporcionais
de modo que, com o aumento da temperatura, h maior quantidade
de energia disponvel para romper as foras que sustentam as molculas unidas no estado lquido. Como consequncia, haver maior
quantidade de vapor no recipiente, que se traduz no aumento da
presso de vapor.
A relao de dependncia entre a presso de vapor e a temperatura
pode ser representada por meio da Equao de Clausius-Clapeyron (1):
(1)
onde pvap representa a presso de vapor do composto, p0 a presso
padro, vapH, a entalpia de vaporizao, R a constante dos gases
ideais e T a temperatura absoluta do sistema.
A entalpia de vaporizao corresponde ao calor de vaporizao
presso constante e tem valor sempre positivo, visto que uma mudana
de fase do estado lquido para vapor requer fornecimento de energia
(o processo endotrmico). O valor de DvapH permite avaliar a intensidade das interaes atrativas existentes no lquido. Tal mudana
implica em aumento significativo da distncia mdia molecular e do
grau de desordem, com consequente aumento da entropia do sistema.
A diferena entre a entropia da fase de vapor e a entropia da fase
lquida caracteriza a entropia de vaporizao (vapS).1,2
Inmeros lquidos orgnicos apresentam entropia-padro de
vaporizao (aumento da entropia na passagem do estado lquido ao
de vapor no ponto de ebulio normal do lquido, DvapSo), de aproxi*e-mail: osantin@uem.br
logP = b + c.t
(3)
(6)
(7)
(8)
(9)
(9a)
(4)
em que a, b, c, e so parmetros a serem determinados experimentalmente, com a temperatura ainda na escala Celsius.
Victor Regnault (1810-1878), estudioso das propriedades trmicas
dos gases, introduziu novo valor de referncia para escala de temperatura em Celsius, e modificou a Equao de Biot para
logP = a + ba + cb
(2)
483
(5)
depende
(9b)
com n = 1/.
c) Para outras substncias, em que = aT - b, tal que
(9c)
484
Gerola et al.
(10)
Quim. Nova
Q = R(B + C logP)
(12)
(13)
(14)
(15)
A(a+t) = T
(16)
podemos escrever
(17)
(27)
(28)
(20)
(26)
485
L = V (P,T=constantes)
(21)
Pequenas alteraes de presso e temperatura conduzem a pequenas alteraes nos potenciais qumicos, idnticas para as duas fases
L + dL = V + dV
(29)
o que implica em dL = dV
A partir da Equao de Gibbs-Duhem, pode-se ento escrever,
VLdP - SLdT = VVdP - SVdT
(23)
(23a)
(23b)
(24)
(30a)
(30b)
(25)
(31)
(32)
486
Gerola et al.
Quim. Nova
(37)
(Equao de Clausius-Clapeyron)
(38)
PARTE EXPERIMENTAL
(33a)
(33b)
(34a)
UV = HV (PV)V
(34b)
Logo,
Ea,V Ea,C = HV (PV)V HC
(35a)
(35b)
(36a)
Foram utilizados os seguintes lquidos orgnicos, com suas procedncias: lcool etlico absoluto (Dinmica), acetona PA (Nuclear),
ter etlico PA (Chemco) e hexano PA (Nuclear). Uma vez que a
purificao requer custos e condies nem sempre disponveis nas
escolas brasileiras, resolvemos utilizar os materiais na condio em
que foram adquiridos.
Para a montagem do arranjo experimental foram utilizados um
manmetro de mercrio convencional, um termmetro, um barmetro, uma chapa de aquecimento com agitao magntica, um bquer
de 1 L, suporte universal, garras metlicas, mangueiras (de preferncia
de silicone, menos suscetvel de reagir com os vapores orgnicos),
um erlenmeyer de segurana posicionado aps o manmetro, uma
bomba de vcuo com controle nas sadas de vcuo e presso, um
frasco Dewar (garrafa trmica), um dedo frio e um isoteniscpio
(neste caso constitudo apenas por um tubo de vidro fechado em um
dos lados, dobrado em formato de U).
A Figura 3 mostra um diagrama do arranjo experimental usado no
laboratrio. A sada do isoteniscpio comunica-se com uma juno
em T com sadas simultneas para um manmetro e uma bomba
de vcuo. A torneira A (opcional) permite isolar o manmetro do
resto do circuito e deve permanecer aberta durante a execuo das
medidas. Por segurana, a sada do manmetro para a atmosfera
conectada a uma mangueira com extremidade presa e inserida em
um erlenmeyer contendo um pouco de algodo. Desse modo, caso
acidentalmente ocorra aumento brusco de presso no circuito, evita-se
o derramamento de mercrio para o ambiente do laboratrio.
No percurso entre o isoteniscpio e a bomba de vcuo instala-se ainda
um sifo de segurana (dedo frio) que pode ser resfriado com nitrognio
lquido ou, na falta deste, misturas refrigerantes, tais como acetona/
lcool com gelo seco,16 no interior de um frasco de Dewar. Esse recurso
impede que vapores orgnicos alcancem o interior da bomba. Cuidados
extras devem ser tomados com relao possibilidade de entupimento
no dedo frio pela condensao de quantidades excessivas do composto.
O sistema deve ser cuidadosamente montado, evitando-se o
contato das borrachas de conexo com o bquer aquecido e com
a chapa trmica. Outro cuidado importante a ser tomado com as
etapas de suco/compresso de ar no sistema, que devem sempre
ser conduzidas de modo suave a fim de se evitar variaes bruscas
de presso no circuito manmetro/isoteniscpio.
(36b)
(36c)
(36d)
487
Tabela 1. Valores de presso de vapor obtidos em diversas temperaturas, para os quatro compostos orgnicos estudados
ter etlico
Acetona
Etanol
n-Hexano
T/K
p/mmHg
T/K
p/mmHg
T/K
p/mmHg
T/K
p/mmHg
298,5
539,2
309,6
474,9
325,2
329,0
302,0
303,1
301,2
595,9
313,5
542,9
329,5
403,0
309,3
476,8
312,0
880,1
315,5
603,0
331,3
457,1
313,0
574,2
A homogeneizao da temperatura do banho obtida graas agitao. Deve-se ento tomar especial cuidado em se evitar o contato da
barra magntica do agitador com a base do termmetro e do isoteniscpio.
Lquidos orgnicos so capazes de dissolver os gases atmosfricos em quantidade significativa. Desse modo, antes de se executar
o experimento importante que estes sejam removidos. Para tanto,
introduz-se certo volume de lquido no isoteniscpio, tomando-se o
cuidado de deixar uma pequena bolha de ar (~3 mm de dimetro) no
lado fechado do mesmo. O volume de lquido acrescentado deve ser tal
que o menisco do lado aberto fique de 3 a 4 cm abaixo do menisco do
lado fechado, que contm a pequena bolha de ar. A seguir, conecta-se
o isoteniscpio no circuito, mantendo-o ainda fora do banho. Com
o sifo frio montado e refrigerado, abre-se totalmente a vlvula de
escape do circuito de suco da bomba de vcuo e a mesma ligada.
Nessa condio, a vlvula de escape lentamente fechada (at produzir uma diferena de altura dos meniscos de 10 a 15 cm); observa-se
um aumento de volume da bolha provocado pela reduo da presso
aplicada sobre este com a incorporao de vapor do composto. A
seguir, inclinando-se adequadamente o tubo isoteniscpio, aplicam-se
pequenos golpes no mesmo de modo a estourar a bolha, permitindo
que simultaneamente parte do vapor escape pela extremidade aberta
do tubo mantendo-se, no entanto, uma pequena bolha na extremidade fechada. O processo deve ser repetido inmeras vezes, sempre
deixando uma pequena bolha remanescente que a todo momento ir
aumentar de volume com o processo de succo. Neste processo a
bolha ir se enriquecer de vapor do lquido orgnico diminuindo o
teor de ar na mesma, at sua eliminao. Recomenda-se aplicar os
golpes em um ritmo constante, evitando interrupes.
A determinao dos valores da presso de vapor do lquido-problema feita em diversas temperaturas, a partir do valor ambiente, sempre
com o isoteniscpio mantido no interior do banho e sob agitao.
Aps o sistema alcanar equilbrio trmico, faz-se ajuste da
presso do sistema por meio da vlvula de escape da bomba de vcuo, buscando igualar a altura dos dois meniscos no isoteniscpio.
Alcanada esta condio, a presso pode ser lida no manmetro.
Em seguida, aumenta-se a temperatura do banho por cerca de 3
o
C, aguarda-se o equilbrio trmico do sistema, faz-se novamente o
ajuste da presso buscando o nivelamento dos meniscos e efetua-se
a leitura do manmetro. Este processo pode ser repetido at que se
alcance a temperatura normal de ebulio do lquido nas condies do
ambiente, ocasio em que a presso no lado fechado do isoteniscpio
equivale presso atmosfrica local. A partir desse ponto, aumentos
de temperatura faro com que a presso de vapor do lquido supere
a presso atmosfrica, de tal modo que a igualdade de altura dos meniscos somente ser conseguida usando-se o sistema de compresso
da bomba de vcuo. A partir desse ponto repete-se o ciclo de medidas
agora usando compresso de ar.
RESULTADOS E DISCUSSO
A Tabela 1 contm os valores de presso de vapor obtidos para
quatro compostos orgnicos em diversas temperaturas.
314,5
943,9
323,6
805,9
333,9
522,2
317,6
637,8
317,5
1064,2
325,9
870,0
337,2
595,9
327,0
801,9
328,1
955,0
344,0
800,3
330,0
910,5
330,0
1013,9
347,0
873,9
335,5
1024,5
351,0
1030,7
337,0
1033,8
352,0
1058,9
338,9
1090,1
Os dois primeiros compostos tm ponto de ebulio mais prximos da temperatura ambiente e sua alta volatilidade dificulta seu
manuseio no sistema montado, da o fato de terem sido coletados
menos pontos para os mesmos.
Conforme discutido anteriormente, a presso do vapor do lquidoproblema determinada a partir da igualdade na altura dos meniscos
do ramo aberto e fechado (vapor puro) do isoteniscpio. A partir dos
valores de presso de vapor Pvap de uma das substncias (no caso a
acetona), obtidos para cada temperatura elaborou-se o grfico da
Figura 4, que corresponde aos valores do logaritmo da presso em
funo do recproco da temperatura absoluta.
DvapHlit/kJ mol-1*
D(%)
cc
28,00,4
31,70,4
41,20,4
27,10,4
28,9
31,2
41,4
31,5
3,1
-1,6
0,5
-14
0,9994
0,9990
0,9966
0,9685
488
Gerola et al.
Quim. Nova
Tabela 3. Valores de temperatura de ebulio normal (Teb) e entropias de vaporizao para as quatro substncias examinadas
Amostra
Teb, exp/K
Teb, lit/K*
D(%)
ter etlico
307,6
307,7
<0,1
Acetona
322,0
329,2
2,2
Etanol
343,5
351,5
2,3
Hexano
325,2
342,2
5,0
*Lide, 1996 (valores calculados a partir dos valores de DvapHlit da tabela anterior).
(39)
D(%)
91,01,2
96,41,4
117,02,6
79,23,6
93,9
94,8
117,9
92,1
3,1
-1,7
-0,8
14