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O

FE

Fred, o Estranho, um rapaz de 11 anos, com um Q.I.


acima da mdia, que conta a sua estranha vida (a famlia,
a escola, os amigos, os amores), com palavras
e desenhos, enquanto reflete sobre tudo o que o rodeia.
O seu grande desafio viver uma vida normal, sem
sobressaltos, e chega a fingir que estpido para no ser
incomodado pelos que fingem ser inteligentes. Mas isso
no tarefa fcil para um Estranho. Pois no?

Ilustrao de Carlos J. Campos

IMAGINAO SEM LIMITES E HUMOR, MUITO HUMOR


INTELIGENTE, NO LIVRO MAIS ESTRANHO E DIVERTIDO DO ANO.

Oo

A
RT

lvaro Magalhes

lvaro Magalhes

Ilustrao de Carlos J. Campos

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Oo

Ficha Tcnica
Ttulo

O Estranho
Autor

lvaro Magalhes
Ilustrao

Carlos J. Campos
Editora

Porto Editora
Este livro respeita as regras do
Acordo Ortogrfico da Lngua Portuguesa.

Livro promocional de distribuio gratuita.

E eu que sou o
Estranho?
Viva! Eu sou o Frederico, que era o nome
do meu av, o Fred para a famlia e para
os amigos (e para vocs tambm). Mas
sou mais conhecido por Estranho. Sendo
eu um rapaz como outro qualquer, apenas
com um Q.I. acima da mdia, isso , no
mnimo, estranho, no?
Sim, tenho as minhas manias, ou eu no seria eu, mas outro
qualquer, com outras manias: dou-me com pouca gente,
gosto de estar s para escrever poemas ou histrias
malucas e inventar coisas que no h e que me fazem falta;
e tudo isso , para a maioria das pessoas, bastante
estranho. Dizem que sei coisas de mais para algum com
o meu tamanho.

Tambm verdade que me acontecem coisas estranhas,


como isso de nascer numa ambulncia, a meio da ponte,
a meio da noite, (s a ambulncia era uma ambulncia
inteira), quando a minha me ia a meio do caminho
do hospital.

Eu estava a sonhar, e a gostar


daquele sonho, quando, de
repente, algum acendeu as
luzes e ligou o som. Abri os
olhos, muito assustado,
e a primeira coisa que vi foi um
homem fardado. No gostei. Era
apenas um paramdico do INEM,
mas sabia l eu. Vejam isto: vinha de um lugar silencioso
e sossegado, da barriga da minha me, e pensei que tinha
chegado a um mundo em guerra, tambm porque o raio da
sirene no se calava.
5

Ainda hoje me encolho todo e tapo os ouvidos quando ouo


uma sirene; e mantenho uma m ideia de quem usa uma
farda, seja a farda que for. Essas pessoas pertencem a uma
organizao qualquer, seja a Polcia, os Escuteiros da Areosa
ou o McDonalds.

Bem, j perceberam que l acabei por nascer. Ainda tentei


resistir e regressar barriga da minha me, mas a coisa
estava lanada.
6

O homem da farda (no disse que no so de fiar?) j tinha


cortado o cordo umbilical. Ainda hoje, quando respiro fundo,
o mundo me cheira a ambulncia e hospital. Mas tambm
ser isso razo para me chamarem Estranho? No.
O problema este; parece que usamos apenas 1 por cento
das capacidades do nosso crebro. Esto a ver? Andamos
sempre com uma nota de cem euros no bolso e no
conseguimos gastar mais do que um euro.

E eu, pelos vistos, uso, 1,01%. Nada de mais, pois no?


Mas chega para me chamarem Estranho.
7

E no pensem que me orgulho disso, de usar um pouco mais


de massa cinzenta. Pelo contrrio, fao tudo o que posso
para passar despercebido. O truque adaptao. Foi assim,
adaptando-se, que a nossa espcie sobreviveu desde h
quatro milhes de anos; e tambm no tenho outra hiptese,
pois no tenho outra casa, outra rua, outra cidade, outro
planeta onde viver.
Mas chego a fingir que sou estpido para no ser
incomodado pelos que fingem ser inteligentes.

Sabes, a Terra redonda


e anda volta do Sol.

Ai, sim?!

O problema que nem sempre me consigo controlar. E ento


as pessoas dizem ou pensam: Este rapaz estranho! Foi
o que disse a minha me, no dia em que viu o caderno das
minhas invenes para o sculo XXI, mais outro com poemas
e histrias malucas. Estranho? estranhssimo, disse
o meu pai. E a minha irm:

Estranhssimo?

ESTRANHO!

Da casa, a alcunha passou para a rua e da rua para a escola


e da escola para todo o lado. Agora, sou, justa ou
injustamente, o Estranho. As alcunhas no se escolhem,
caem-nos em cima. Pior ainda: no tm prazo de durao.
Algumas, as piores, colam-se a ns para sempre, como uma
cicatriz ou uma tatuagem. O meu pai tem um amigo a quem
os colegas ainda chamam Sete Olhinhos, apesar de, agora,
at usar lentes de contacto.
Digo-vos:
uma alcunha
pode durar
uma vida
inteira,

e continuar.

10

Estranho Eu que deveria ser a regra, o exemplo,


o normal, e os outros a exceo, mas no, o que conta
o ponto de vista deles, que so muitos mais.

assim que as coisas so. E agora, vamos a isto. A minha


histria vai avanar, mas no contem com grandes feitos,
uma histria como outra qualquer, s que um bocadinho
mais estranha, pois ento;
ou no seria a histria
de um Estranho.

11

A histria
do rapaz-amijoa
Os dias podem ser maus

, foleiros

pssimos

, do pior

, ou ento bons

, fixes

, memorveis

assim-assim
uma porcaria

,
,
,

, ou ento nada disso, que quando

no acontece nada e at parece que no houve dia. E o que a


vinha, pareceu-me ser um dia mau, com tendncia a piorar
a meio da tarde, quando chegasse escola.

12

Um dia mau conhece-se pelo clima (de dia mau), pelo cheiro
(a dia mau), que vem de todos os lados, at da cozinha,
a tripas com feijo para o almoo, essa coisa incomvel
e detestvel. Santo Deus, no sabem que preciso de uma
alimentao mais saudvel?
Mas um dia mau, ou que para l caminha, dizia eu, pode ser
um dia bom para certas coisas, como ficar em casa
a inventar histrias. Por isso, estendi-me na cama com
o caderno de linhas que tem um gato azul na capa,
e escrevi e desenhei .

13

Era engraado, o rapaz-amijoa. Um rapaz normal, com


cabea, boca, nariz, olhos, pescoo e duas pernas, tudo
normal, mas tambm com uma concha. Quando queria
esconder-se do mundo, fechava-se na concha e ficava
l dentro, muito sossegado. A verdade que chega uma
altura em que todos precisamos de nos esconder do mundo
(e, s vezes, de vez). E onde est a nossa concha? Pois ,
em lado nenhum. Falta-nos isso. Somos imperfeitos, talvez.
E agora vem a parte triste: esto preparados? Um dia,
os pais do rapaz-amijoa levaram-no a ver o mar e
abandonaram-no na praia, numa altura em que ele no
estava a olhar.

E l ficou ele, sozinho, a imaginar um mundo de rapazes-ostra,


raparigas-amijoa, homens e mulheres-mexilho. Comeou
a correr a fama que havia naquela praia uma amijoa-gigante
e chegaram pescadores de todos os lados, procura dela.
E tanto se falou daquilo que, por fim, j se dizia que ela era
do tamanho de uma casa, ou maior ainda; mas no, era
apenas do tamanho de um rapaz.

Tanto andaram naquilo, os pescadores, mais os caadores de


coisas estranhas, os jornalistas da televiso e os curiosos,
que acabaram por apanhar o rapaz-amijoa, no fundo de uma
gruta, a descansar, com a concha bem fechadinha.
16

CONTINUA

O
FE

Fred, o Estranho, um rapaz de 11 anos, com um Q.I.


acima da mdia, que conta a sua estranha vida (a famlia,
a escola, os amigos, os amores), com palavras
e desenhos, enquanto reflete sobre tudo o que o rodeia.
O seu grande desafio viver uma vida normal, sem
sobressaltos, e chega a fingir que estpido para no ser
incomodado pelos que fingem ser inteligentes. Mas isso
no tarefa fcil para um Estranho. Pois no?

Ilustrao de Carlos J. Campos

IMAGINAO SEM LIMITES E HUMOR, MUITO HUMOR


INTELIGENTE, NO LIVRO MAIS ESTRANHO E DIVERTIDO DO ANO.

Oo

A
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lvaro Magalhes

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