Apostila Psicologia e Direito Fadivale
Apostila Psicologia e Direito Fadivale
Apostila Psicologia e Direito Fadivale
UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO
A partir do século XVII, começaram a surgir novas idéias. René Descartes (1596-1650),
por exemplo, filósofo francês, afirmou que os seres humanos, assim como o universo, se
assemelhavam ao mecanismo dos relógios. Assim, prevaleceu – entre os séculos XVII e
XIX – a concepção dos seres humanos como máquinas e o método científico seria a
forma possível de se investigar os “mecanismos” da natureza humana. Descartes
introduziu uma nova abordagem da relação entre a mente e o corpo: a dualidade físico
(res extensa) x psicológico (res cogitans). Depois de Descartes, foi rápido e prolífico o
desenvolvimento da ciência moderna em geral e da psicologia, em particular.
A distinção entre a psicologia moderna e seus antecedentes está menos nos tipos de
perguntas feitas sobre a natureza humana do que nos métodos empregados na busca das
respostas a essas perguntas. O que distingue a filosofia antiga da psicologia
moderna são os métodos e as técnicas utilizadas, que denotam a emergência da
psicologia como um campo de estudo próprio, essencialmente científico.
Ainda tem-se que a psicologia é a disciplina que tem por objeto de estudo a alma, a
consciência ou os eventos característicos da vida animal e humana, nas várias
formas de caracterização de tais eventos, com o fim de determinar sua natureza
específica. Tais eventos podem ser considerados, dependendo da abordagem teórica,
como puramente mentais, ou seja, como fato da consciência, ou como eventos objetivos
ou objetivamente observáveis, como movimentos, comportamentos e respostas físicas.
Em síntese, a psicologia (psico = mente e logos = estudo) moderna pode ser definida
como o estudo científico do comportamento e dos processos mentais.
SENSAÇÃO E PERCEPÇÃO
Afeto é a experiência da emoção observável, expressa pelo sujeito, onde ele a apresenta
através de gestos e palavras. O humor (afeto) é experimentado subjetivamente, pois tem
a ver com a percepção idiossincrática do mundo pelo indivíduo.
Pensamentos e emoções trafegam por uma rua de mão dupla: certos pensamentos
evocam certas emoções e certas emoções evocam certos pensamentos. Os planos
cognitivos e emocionais estão constantemente ligados por essas interações. A falta de
sintonia entre pensamentos e entre pensamento e linguagem, muitas vezes, encontra-se
na origem, manutenção e amplificação de graves perturbações psicológicas.
PERSPECTIVAS TEÓRICAS
reforçado pela conseqüência que produz, no sentido de ter aumentada sua probabilidade
de ocorrência futura em circunstância parecidas.
A lei predominante nas diversas civilizações era a Justiça de Talião, que prescrevia a
máxima “olho por olho, dente por dente, vida por vida”. Ao longo de muitos séculos
ocorreram variações pequenas nesse princípio de aplicação da justiça, cuja meta era a de
infligir ao delinqüente o mesmo mal que ele praticara, restaurando-se deste modo a
ordem e a paz social. Freqüentemente a punição ocorria na forma de penas vigorosas
que beiravam a fúria, com requintes de crueldade e de degradação humana. Assistiu-se a
isso até fins da Idade Média e meados do Iluminismo.
Os séculos XVII e XVIII foram de transição nos modelos de aplicação de penas, que
mesmo severas, não continham a criminalidade. Em fins do século XVIII e início do
XIX, com as reformas institucionais e da sistemática penal, percorridas no período
anterior e defendidas pela jurista e economista italiano Cesare Beccaria (1738-1794) é
que surge a prisão como a conhecemos hoje. O princípio básico passa a ser o de aplicar
uma forma mais humana e digna às penas. No bojo das reformas, constavam os
princípios de legalidade dos crimes e das penas, assim como a proporcionalidade das
penas aos delitos. Beccaria combateu ainda a pena de morte e as infamantes, com o
argumento de que o que combatia o crime não era o rigor, mas a certeza da pena.
Nesse sentido, nota-se que a utilização das ciências médicas e psicológicas pelo
Judiciário visa não só o cumprimento da lei, mas a humanização de sua aplicação, que
são os princípios que regem o Estado de Direito Democrático, onde a ética prescreve
que o bem maior é a vida, o sujeito humano.
Ao final do século XIX, são produzidas reflexões sobre o Direito e a sua função na vida
social, a partir de ciências próximas da Psicologia, como a filosofia. Foi nesse século
que surgiu a necessidade explícita da aplicação da Psicologia ao Direito.
Já no início do século XX havia a consciência de que os juízes não são tão livres em
suas decisões, sendo influenciados por componentes inconscientes. Aqui nota-se a
relação dos saberes da psicologia e a atuação dos atores jurídicos. Anteriormente ao
século XX, eram os próprios juristas que reclamavam a necessidade de um
conhecimento psicológico para poder realizar sua atividade judicial. A preocupação
com a necessidade do conhecimento psicológico na Justiça não é muito recente.
No Brasil, não diferente da história mundial, a prática forense foi iniciada pela
psiquiatria (ou melhor situando, pela medicina legal). A partir do conhecimento do
psicólogo enquanto profissão no país, sua atuação na área jurídica se estendeu do final
dos anos de 1960 aos anos de l980 em atividades nos processos vinculados a Vara de
Menores ou Juizados de Menores, que incluíam casos de adoção, abandono e
ocorrências referentes a crianças e adolescentes. Nesse contexto, o papel do psicólogo
estava mais relacionado a orientações do que a um processo pericial mais específico.
Já a psicologia no Direito estuda a estrutura das normas jurídicas enquanto estímulo que
afetam a conduta humana. As normas jurídicas destinam-se a produzir ou evitar
determinados comportamentos e, nesse sentido, carregam inúmeros conceitos de
natureza psicológica. Nesse aspecto, a psicologia no direito é uma disciplina aplicada e
prática.
E ainda a psicologia para o direito vem auxiliar o direito, junto com outras disciplinas
tais como a medicina legal, a antropologia, a sociologia, a filosofia e outras. Aqui, a
psicologia é convocada a iluminar os fins do direito.
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Alguns psicopatas são menos refinados e não demonstram habilidades para planejar
suas ações, agindo de forma a não se importar com as conseqüências de seus atos nem
mesmo para si. Outros são mais inteligentes e planejam minuciosamente suas ações,
com um alto grau de complexidade.
Juízes e jurados trabalham antes com a realidade dos relatos, e não com a realidade dos
fatos. Julga-se por meio da comparação com referenciais inscritos no social e
modulados por eventos mentais que dominam o funcionamento psicológico de cada
indivíduo. A relação entre sujeito e ambiente social constrói o funcionamento mental,
cognitivo, com seus afetos, crenças e auto-regras.
O entrevistador deve estar atento a fatores que contribuem para comprometer a atenção
e, assim, a entrevista. São eles:
Outro fator importante é a influência das emoções. Uma grande parte dos processos
possui uma a causa psicológica, e não apenas jurídica. Quando se descobre a real
motivação da requerente, fica mais fácil a apuração da verdade.
Todo julgar é relativo e realiza-se dentro de um contexto, para o qual contribuem não
apenas elementos de origem social, mas também os conteúdos intrapsíquicos
(subjetivos, idiossincráticos) de cada participante. Os fenômenos intrapsíquicos (aquilo
que compõem o funcionamento mental, cognitivo, subjetivo de cada indivíduo) possui
conteúdos conscientes e também inconscientes (que o próprio sujeito não conhece, não
discrimina), na forma de esquemas de pensamentos, crenças, pensamentos automáticos,
mecanismos de defesa. Esse conjunto de conteúdos transfere para o julgador o ônus de
buscar o autoconhecimento, para que ele consiga, então, conhecer a maneira como
responde a estímulos que recebe do ambiente. Ele precisa ter a autocrítica, a avaliação
de seu próprio comportamento de julgar.
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PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO
Relato Espontâneo
Aqui, o testemunho será produto da tensão entre entrevistador e entrevistado. Vários são
os riscos associados ao interrogatório. A tensão emocional pode levar o sujeito a
preencher lacunas de seu relato, comprometendo sua precisão. Fatores sociais e
psicológicos combinam-se para influenciar nas respostas. As perguntas têm a função de
estimular a memória e, muitas vezes, isso não acontece de forma satisfatória.
A Formulação de perguntas
Testemunho de Crianças
Confissão
A confissão será sempre a fala do entrevistado confrontada com as provas existentes nos
autos. Confessar um crime é expor-se voluntariamente à respectiva punição, o que leva
a se pensar porque tantos criminosos confessam seus crimes. Acredita-se que isso se dá
porque, para muitos (não para todas as pessoas), o sentimento de culpa é insuportável,
levando o sujeito a preferir a dor da punição à dor psicológica da culpa.
Entretanto, também há a confissão falsa, seja ela por motivos materiais (pagamento, por
exemplo), solidariedade familiar e, nos grupos de grande coesão, por valores morais
(confessar para livrar um companheiro, um líder, etc.). A confissão falsa pode também
estar associada a uma extrema fragilidade emocional: pressionado por evidências
incriminadoras ou sentindo-se pressionada pelo advogado, a pessoa confessa mesmo
não sendo culpada. A tortura também pode levar à confissão falsa.
VITIMOLOGIA
Muitas pessoas buscam o judiciário com a esperança de que o poder decisório do Juiz
resolva seus problemas emocionais. Assim, nem sempre uma demanda judicial é
motivada por questões de reparação, seja ela de natureza econômica ou moral.
Uma das questões da vitimologia é quanto ao que leva a vítima a ser expor a situações
de risco. Uma das possíveis explicações são os ganhos secundários, que constituem
recompensas, reais ou imaginárias. Outra possibilidade é a glorificação do sofrimento.
Certas culturas valorizam o que consideram ato de coragem, destemor, ou mesmo
influência da religião, quando se valoriza a expiação de culpa por meio do sofrimento.
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Como vítima, o indivíduo pode passar a ser admirada e apoiada pelas pessoas, e isso
reforçar tal comportamento.
PERÍCIA PSICOLÓGICA
O termo perícia tem sua raiz no latim peritia, que significa destreza e habilidade ou
peritus, que é indivíduo erudito, capaz, expert. Nossos dicionários definem este como
“...conhecimento, ciência” ou ainda “aquele sabedor ou especialista em determinado
assunto, habilitado para fazer perícia ou aquele que é nomeado judicialmente para
exame ou vistoria”.
Do ponto de vista jurídico, a perícia fica definida como “exame realizado por técnicos
(profissionais de diversas áreas) a serviço da Justiça”. Em geral, são exames
especializados dos quais a autoridade judiciária pode recorrer em inúmera
eventualidades, com o objetivo de fundamentar sua sentença.
Pode ocorrer também a solicitação pelo advogado da requerente, que pretende por meio
de exame pericial, instruir processo judicial, no objetivo de oferecer sustentação jurídica
para que se proceda a abertura do processo.
Uma outra situação prevista na Lei 11.343/2006 estabelece em seu artigo 45 que é
isento de pena o agente que, em razão da dependência ou sob efeito de caso fortuito ou
força maior de droga era, ao tempo da ação ou da omissão, qualquer que tenha sido a
infração penal praticada, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento. Absolvido, o agente poderá, por
determinação judicial, ser encaminhado para tratamento adequado da dependência da
droga.
O exame criminológico, nos termos da nossa legislação penal, tem por finalidade o
conhecimento da personalidade do agente criminal, assim como visa ao planejamento de
medidas reeducativas penais, selecionando as populações dos presídios e pronunciando-
se a respeito do prognóstico das reincidência criminal (provável ou não). Implica na
atuação de uma equipe multidisciplinar, que busca uma visão pluridimensional dos
aspectos básicos da personalidade do infrator e de suas motivações criminosas.
A Lei 7.210/1984 estabelece regras para a execução penal. Em seu artigo 5 preconiza
que “os condenados serão classificados segundo seus antecedentes e sua personalidade,
para orientar a individualização da execução penal.” Ou seja, busca-se o máximo de
personalização (individualização) da pena, que deve ser complementada n o curso do
procedimento executório, em função do exame criminológico. É importante que haja,
portanto, uma triagem, classificação e, então, uma separação, com cada condenado
cumprindo uma pena adequada ao seu perfil criminológico, em locais distintos.
ESTUDO DA VIOLÊNCIA
A violência contra a ética ou contra a moral não perde seu estatuto porque não ocasiona
fraturas em pessoas; ela provoca rupturas na frágil epiderme das crenças, dos valores,
dos princípios, dos fundamentos da convivência social. Assim, pode-se afirmar que a
violência física é o resultado da violência contra a ética e contra a moral. Enfim, todo
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crime constitui um ato de violência contra a humanidade (e não apenas contra aquele
indivíduo em particular) e, assim, deve ser encarado, pois do contrário não se caminha
em direção à convivência pacífica e justa, o que não deve ser visto como utopia.
Quando a agressividade, por outro lado, não está relacionada à proteção de interesses
vitais e legítimos, está desta forma mais próxima do conceito de violência, que traz em
si a idéia de destruição, de investimento destrutivo, quando outras vias de solução
poderiam ser empregadas. A violência contém, assim, a marca da agressão física e/ou
psicológica e moral, ultrapassando o limite do aceitável tanto legal como socialmente.
Sob o ponto de vista psicológico, a agressão pode ser entendida como resposta à
frustração. Na impossibilidade de ver realizado seu desejo, de obter aquilo que é de seu
interesse, o sujeito pode reagir agressivamente de uma forma incontrolável.
A violência na família apresenta muitas faces, dentre elas tem-se o assédio moral, a
violência física, a violência psicológica e a violência contra a criança, contra o
adolescente, contra a mulher, contra o idoso, etc. Ocorrem na forma de ameaças,
xingamentos, humilhações e ofensas morais (assédio moral). A violência contra a
criança e o adolescente constitui o embrião da violência social de maneira geral, pois
envolve o processo de educação e desenvolvimento da personalidade do indivíduo.
Enfim, a violência surge no latrocínio, na briga por motivo fútil, na vingança irrefletida,
não crime passional “por amor”, na agressão física contra conhecidos e desconhecidos,
na condução perigosa do automóvel e mesmo assassina. Muitas vezes, a violência
invade o cotidiano dissimulada de comportamentos meramente acintosos,
desrespeitosos, levando os pacíficos cidadãos de bem a uma evitação a lugares públicos,
passando a viver prisioneiros em sua própria casa. Evitam ir a jogos de futebol, temendo
a violência das torcidas organizadas, evitam a ir a shows de música, temendo a violência
de indivíduos drogados e descontrolados. Porém, mesmo dentro de casa, hoje em dia
não se está plenamente protegido, pois o computador é uma porta para o mundo.
O estudo dos Direitos Humanos interessa a todas as áreas da ciência, porque não se faz
ciência sem afetar direitos. No desenvolvimento científico há a transferência de poder
entre os indivíduos e a criação de aspirações que se atingem pela alteração de relações
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de poder. O Direito, assim como a Psicologia, são ciências que não se constituem como
exceção.
Os direitos sempre nasceram das necessidades de cada povo em seu tempo, e da luta
empreendida pela sociedade para efetivá-los. Assim com a ética, os primeiros registros
de documentos que tinham por objetivo garantir direitos datam da Antigüidade. O
Código de Hamurabi data do ano de 1694 a.C. e os avanços foram se consolidando
lentamente, acompanhando a evolução política, econômica e tecnológica.
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Na psicologia, o ser humano pode ser considerado um ser do desejo, que dirige seus
esforços para a sua auto-realização, incorporando crenças e valores ao logo da vida,
aprendendo por meio do condicionamento e observação de modelos, adaptando e
ajustando seus conhecimentos e suas emoções para lidar com problemas e as demandas
que o ambiente continuamente lhe impõe. Assim, cada indivíduo percebe o mundo à sua
maneira. A percepção, construída ao longo da vida do sujeito (ontogenia), desenhada
pela experiência, pelos esquemas de pensamentos aprendidos, pela discriminação
peculiar dos estímulos do ambiente, vai edificando a visão de mundo de cada indivíduo,
que será confirmada, modificada e ajustada pela sua contínua relação com o ambiente.
Tudo isso ocorre dentro de um contexto em que a pessoa integra um sistema que a afeta
e que, ao mesmo tempo, é afetado por suas ações. Cada indivíduo é único e assim deve
ser percebido e respeitado. O que satisfaz uma pessoa difere daquilo que satisfaz outra.
Isso é o que se chama de subjetividade: tudo aquilo que marca o sujeito como único e
singular.
Todo ser humano está continuamente em busca de satisfazer seus desejos, procurar
alcançar seus objetivos de vida e tem o direito de fazê-lo. Entretanto, essa busca
legítima do indivíduo é limitada, é restringida, regulamentada pela cultura, pelas leis
jurídicas e morais, que estabelecem regras de convivência entre os seres humanos,
firmando harmonia e justiça entre as pessoas e os povos.
Preâmbulo
Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus
direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo,
Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em atos bárbaros que ultrajaram
a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que os homens gozem de liberdade de palavra, de
crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do
homem comum,
Considerando essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo Estado de Direito, para que o homem não
seja compelido, como último recurso, à rebelião contra tirania e a opressão,
Considerando essencial promover o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações,
Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé nos direitos humanos
fundamentais, na dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, e
que decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla,
Considerando que os Estados-Membros se comprometeram a desenvolver, em cooperação com as Nações
Unidas, o respeito universal aos direitos humanos e liberdades fundamentais e a observância desses direitos e
liberdades,
Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da mis alta importância para o pleno
cumprimento desse compromisso,
A presente Declaração Universal dos Diretos Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e
todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta
Declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e,
pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua
observância universais e efetivos, tanto entre os povos dos próprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos
territórios sob sua jurisdição.
Artigo I
Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem
agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade.
Artigo II
Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem
distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem
nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.
Artigo III
Artigo IV
Ninguém será mantido em escravidão ou servidão, a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas
as suas formas.
Artigo V
Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.
Artigo VI
Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecida como pessoa perante a lei.
Artigo VII
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Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a
igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal
discriminação.
Artigo VIII
Toda pessoa tem direito a receber dos tributos nacionais competentes remédio efetivo para os atos que violem os
direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei.
Artigo IX
Artigo X
Toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a uma audiência justa e pública por parte de um tribunal
independente e imparcial, para decidir de seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal
contra ele.
Artigo XI
1. Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de ser presumida inocente até que a sua culpabilidade
tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as
garantias necessárias à sua defesa.
2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não constituíam delito perante o
direito nacional ou internacional. Tampouco será imposta pena mais forte do que aquela que, no momento da prática,
era aplicável ao ato delituoso.
Artigo XII
Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na sua correspondência,
nem a ataques à sua honra e reputação. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou
ataques.
Artigo XIII
1. Toda pessoa tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado.
2. Toda pessoa tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar.
Artigo XIV
1.Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países.
2. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por crimes de direito
comum ou por atos contrários aos propósitos e princípios das Nações Unidas.
Artigo XV
Artigo XVI
1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer retrição de raça, nacionalidade ou religião, têm o direito
de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em relação ao casamento, sua duração e sua
dissolução.
2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos nubentes.
Artigo XVII
Artigo XVIII
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Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de
mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e
pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular.
Artigo XIX
Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência,
ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de
fronteiras.
Artigo XX
Artigo XXI
1. Toda pessoa tem o direito de tomar parte no governo de sue país, diretamente ou por intermédio de
representantes livremente escolhidos.
2. Toda pessoa tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país.
3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta vontade será expressa em eleições periódicas
e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto.
Artigo XXII
Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social e à realização, pelo esforço nacional,
pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos,
sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade.
Artigo XXIII
1.Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à
proteção contra o desemprego.
2. Toda pessoa, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho.
3. Toda pessoa que trabalhe tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à
sua família, uma existência compatível com a dignidade humana, e a que se acrescentarão, se necessário, outros
meios de proteção social.
4. Toda pessoa tem direito a organizar sindicatos e neles ingressar para proteção de seus interesses.
Artigo XXIV
Toda pessoa tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e férias periódicas
remuneradas.
Artigo XXV
1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar,
inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à
segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de
subsistência fora de seu controle.
2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças nascidas dentro
ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social.
Artigo XXVI
1. Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e
fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem
como a instrução superior, esta baseada no mérito.
2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento
do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a
tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações
Unidas em prol da manutenção da paz.
3. Os pais têm prioridade de direito n escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos.
Artigo XXVII
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1. Toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de
participar do processo científico e de seus benefícios.
2. Toda pessoa tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produção
científica, literária ou artística da qual seja autor.
Artigo XVIII
Toda pessoa tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e liberdades estabelecidos na
presente Declaração possam ser plenamente realizados.
Artigo XXIV
1. Toda pessoa tem deveres para com a comunidade, em que o livre e pleno desenvolvimento de sua
personalidade é possível.
2. No exercício de seus direitos e liberdades, toda pessoa estará sujeita apenas às limitações determinadas pela
lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e
de satisfazer às justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática.
3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos propósitos e
princípios das Nações Unidas.
Artigo XXX
Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o reconhecimento a qualquer Estado,
grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição de quaisquer
dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.
É nesse sentido que a Psicologia se apresenta como uma importante ciência para
auxiliar na compreensão do comportamento humano nas relações de família. A análise
do profissional psicólogo pode trazer uma leitura da linguagem verbal e não-verbal
(aquilo que não é dito, mas é importante), consciente e inconsciente dos membros da
família para, assim, compreender o contexto familiar envolvido na questão trazida a
litígio.
Tal síndrome age sobre duas frentes: por um lado, demonstra a condição psicológica
difícil do genitor alienador que utiliza-se de todos os meios, até mesmo ilícitos e
inescrupulosos, para atingir seu intento; por outro lado, o ciclo se fecha quando essa
influência emocional começa a fazer com que a criança modifique seu comportamento,
sentimentos e opinião do outro pai, o alienado da relação.
Nesse processo, ocorre ambivalência de sentimentos; a criança sente que precisa afastar-
se do pai porque a mãe tem opinião sobre ele, mas também se sente culpada por isso.
Aos poucos, porém, essa ambivalência via diminuindo e a própria criança contribui para
o afastamento.
Em curto prazo, a criança para sobreviver nesse contexto aprende a manipular, a mentir
e a ser dissimulada. A médio e longo prazo, os efeitos podem ser depressão crônica,
incapacidade de se adaptar aos ambientes e normas sociais, tendência a isolamento,
comportamento hostil, consumo de álcool e drogas e tentativas de suicídio. Podem
ainda ocorrer também sentimentos incontroláveis de culpa quando a pessoa já for adulta
e constatar que foi cúmplice inconsciente de uma grande injustiça.
tomar medidas mais rígidas, como recorrer ao sistema judicial, que poderá aplicar
punições, como multas, perda da guarda ou mesmo a prisão.
Nos dias de hoje, a legislação ampliou o conceito de família, e, assim, tem-se que
ampliar a idéia de relações e vínculos familiares. A complexidade das relações pode
permitir uma variabilidade maior de relacionamentos da criança com os atuais e novos
membros da família, o que pode lhe proporcionar uma variedade de experiências. Por
isso, não se concebe mais a exclusão e o isolamento das crianças em relação às famílias
de origem, a pretexto de estarem inseridas em novas relações familiares. Quanto mais
vivências a criança puder experimentar, mantendo suas raízes, tanto mais amadurecida
estará para enfrentar as situações cotidianas. Se tiver isolada, a criança não saberá lidar
com as transformações e permanências.
O termo “violência doméstica” inclui aquela praticada por um parceiro íntimo ou por
outro membro da família, em qualquer situação ou forma. O mais comum neste
contexto é a violência do homem contra a mulher. Trata-se de um fenômeno mundial,
que não respeita fronteiras de classe social, etnia, religião, idade ou grau de
escolaridade.
A ONU (Organização das Nações Unidas) tem definido a violência contra a mulher
como “qualquer ato de violência que resulte ou possa resultar em lesão ou sofrimento
físico, sexual ou psicológico para as mulheres, inclusive ameaças de tais atos, coerção
ou privação arbitrária da liberdade, quer ocorra na vida pública ou privada”. A violência
no ambiente doméstico tende a consistir em atos recorrentes, cometidos por pessoas
conhecidas da vítima, e que derivam de conflitos familiares ou conjugais. Não obstante
isso se deve levar em conta o conhecimento específico das dimensões culturais e sociais
de cada cultura, relacionadas com a valorização de gênero.
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A violência pode ser classificada segundo diferentes variáveis: indivíduos que sofrem
violência (mulheres, crianças ou idosos, por exemplo); motivo (político, racial, etc.);
relacionamento entre a vítima e seu agressor (parente, conhecido, cônjuge, etc.). As
classificações mais comuns da violência doméstica têm sido feitas segundo o tipo de
violência e a identidade de suas vítimas. Pode ser, então, física, psicológica ou sexual.
Nesse contexto, a violência doméstica psicológica é a mais comum e ocorre quando a
vítima sofre agressões verbais freqüentes, é ameaçada, submetida a gritos e palavrões.
Na década de 1980, foi se demarcando uma nova atitude da sociedade, com a criação de
instituições femininas de apoio, com as delegacias da mulher, criada no Brasil em 1984.
O trabalho de tais instituições, que objetiva receber queixas específicas de violência de
gênero, trouxe à tona uma realidade oculta, a de que os maus tratos e violência sexual
contra as mulheres ocorriam muito mais freqüentemente do que se imaginava. Isso
trouxe a pública o que era visto como um problema privado (do tipo do dito popular de
que “briga de marido e mulher não se mete a colher”). Uma vez revelada, foi se
convertendo em problema penal, induzindo uma demanda criminalizadora.
Além de conseqüências para saúde mental, há também prejuízos para a saúde física das
mulheres, tais como lesões, gravidez não desejada, problemas ginecológicos, DSTs,
aborto. Também inclui tentativas de suicídio e homicídio.
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VIOLÊNCIA CONJUGAL
Mas, ainda que a vítima tenha consciência do que lhe acontece, é fato corriqueiro que
não deixe o lar e ali continue desfiando uma ladainha de reclamações estéreis quanto ao
seu relacionamento ruim. A vítima crônica constitui um exemplo de pessoa com baixa
auto-estima, insegura e que aprendeu a viver nessa condição. Não acredita ser capaz de
modificar a situação. Além disso, pode haver o ganho secundário, na forma, por
exemplo, de manter controle sobre o agressor, mantendo-o na relação em virtude de
benefícios financeiros, sociais ou outros. O ganho secundário acentua-se quando o
agressor manifesta sentimento de culpa por seus atos violentos e promove momentos de
reconciliação e expiação. Ainda pode-se acrescentar o fato da cultura da submissão
estimulada por crenças religiosas, como a troca de sofrimento no presente, por futuros
benefícios idealizados.
1. Aplica-se à violência doméstica que cause morte, lesão, sofrimento físico (violência física), sexual
(violência sexual), psicológico (violência psicológica), e dano moral (violência moral) ou patrimonial
(violência patrimonial);
1.1.No âmbito da unidade doméstica, onde haja o convívio de pessoas, com ou sem vínculo familiar,
inclusive as esporadicamente agregadas;
1.2.No âmbito da família, formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços
naturais, por afinidade ou por vontade expressa.
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1.3.Em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida,
independentemente de coabitação;
4.Quando a agressão praticada for de pessoa estranha, como por exemplo vizinho, prestador de serviço ou
médico, continuam os velhos TERMOS CIRCUNSTANCIADOS;
7.1. Ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e tomar arepresentação a termo, se apresentada;
7.2. Colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato;
7.3. Remeter no prazo de 48 horas expediente apartado ao juiz com o pedido da ofendida, para a
concessão de medidas protetivas;
7.4. Expedir guia de exame de corpo de delito e exames periciais;
7.5. Ouvir o agressor e testemunhas;
7.6. Ordenar a identificação do agressor e juntar aos autos sua folha de antecedentes;
8. O pedido da ofendida deverá conter: qualificação da ofendida e do agressor, nome e idade dos
dependentes, descrição sucinta do fato e das medidas protetivas solicitadas pela ofendida, e cópia de
todos os documentos disponíveis em posse da ofendida;
Nas Varas de Infância e da Juventude, psicólogo judiciário não realiza perícias, nos
termos da perícia psicológica das Varas de Família e Sucessão. A participação dos
psicólogos assistentes técnicos é relativamente reduzida, mas emitem pareceres que
trazem informações acerca da estrutura familiar, em caráter de diagnóstico situacional.
Isso ocorre porque os processos nessas Varas não transitam em julgado sob aspecto
material; isto é, as sentenças não são definitivas, e o psicólogo deve acompanhar essas
mudanças.
A maior parte das ações que tramitam nas Varas da Infância e da Juventude dispensa a
presença do advogado. Essa medida, por um lado, pode agilizar o processo e reduzir
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despesas com serviços advocatícios, por outro lado pode criar o entrave de impedir a
participação de um profissional da área jurídica para orientar as pessoas.
2) Em uniões homossexuais e guarda dos filhos, uma vez que o Estatuto da Criança e do
Adolescente não traz qualquer restrição quanto a sexualidade dos candidatos.
4) Processo de união homossexual com solicitação de guarda de filhos, uma vez que o
ECA não traz qualquer restrição, seja a sexualidade dos candidatos, seja ao pré-requisito
de uma família constituída pelo casamento. O que geralmente ocorre é que o
preconceito acaba prevalecendo sobre o “bem” da adoção, e com isso muitas crianças
são privadas de ter lar, afeto, carinho, atenção e boa educação. Segundo estudos, não é o
fato de os pais pertencerem ao mesmo sexo que vai determinar a identidade sexual da
criança, nem sua orientação sexual no futuro, visto, inclusive, que a opção homossexual
ocorre geralmente por filhos de casais heterossexuais.
6) Em casos de família substituta, que é aquela que se propõe a trazer para o convívio
doméstico uma criança ou adolescente que, por qualquer circunstância, foi desprovido
da sua família de origem. A legislação prevê três possibilidades de família substituta:
através de tutela, guarda e adoção, o que é regulamentado pelo ECA.
nesta quarta-feira (14 de julho de 2010) projeto de lei ao Legislativo que proíbe
castigos corporais em crianças e adolescentes, como palmadas e beliscões.
A proposta pretende garantir que meninos e meninas cresçam livre de violência física e
psicológica. A sugestão do projeto de lei foi encaminhada ao governo pela Rede Não
Bata, Eduque - formada por instituições e pessoas físicas. Pelo texto, "castigo
corporal" passa a ser definido como "ação de natureza disciplinar ou punitiva com
o uso da força física que resulte em dor ou lesão à criança ou adolescente".
Atualmente, o ECA proíbe maus-tratos, mas não define quais são os casos. Há
necessidade de mais proteção para garantir a convivência familiar adequada e um
ambiente saudável. Medidas que criam um padrão de relacionamento em relação à
agressão física são importantes para que a violência não comece em casa.
Há divergências quanto aos castigos corporais, como prática educativa, serem uma
questão pública ou privada. Há que se demonstrar a partir de quando [o castigo] passa a
ser um excesso e uma questão pública.
Importante ressaltar que, como mostram estudos, práticas educativas parentais que
utilizam a violência, além de implicar em uma questão moral, pode gerar problemas no
desenvolvimento psicológico da criança, levando-a, por exemplo, a aprender
comportamentos violentos ou a adquirir padrões patológicos de ansiedade ou depressão.
Na última década do século XIX, a assistência a alienados em São Paulo foi entregue a
Franco da Rocha, que fez construir, em 1898, O Hospício Colônia de Juqueri. No
Rio de Janeiro, em 1903, a Saúde Pública e a Psiquiatria unem-se na tarefa comum
de sanear a cidade, remover a imundície e os focos de infecção que eram os
cortiços, além dos focos de desordem que eram os sem-trabalho maltrapilhos que
perambulavam pela cidade.
Com a glorificação do trabalho incorporada à ideologia burguesa então emergente, os
ociosos recalcitrantes e os desadaptados à nova ordem foram jogados na categoria
de anti-sociais e duramente reprimidos. A prática psiquiátrica buscava devolver à
comunidade indivíduos tratados e curados, aptos para o trabalho. O trabalho era ao
mesmo tempo meio e fim do tratamento.
Com a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), a doença mental passa a ser vista não
mais como um “sub-produto” do progresso, mas como uma questão relevante para
a economia, uma vez que transtornos psiquiátricos nos trabalhadores causavam
prejuízo na produção industrial. Assim, agora investir no tratamento de doença
mental era algo economicamente importante. A psiquiatria é chamada a dar sua
contribuição como prática assistencial de massa no Brasil a partir de1964.
O período que se seguiu ao movimento militar de 1964 foi o marco divisório entre uma
assistência eminentemente destinada ao doente mental indigente para a cobertura de
atendimento à massa de trabalhadores e seus dependentes. A opção do Estado,
nesse contexto, foi privatista, com a contratação de leitos em hospitais privados.
Houve então uma significante expansão de leitos financiados pelo Governo,
caracterizando uma situação de comercialização da doença mental (DELGADO,
2001).
No período de 1965 a 1970 houve um grande fluxo de doentes para os hospitais da rede
privada. Não havia controle do tempo de internação e a duração média de
permanência era de três meses. Neuróticos e alcoolistas passaram a integrar a
clientela. Uma interpretação para isso era a avidez dos hospitais por mais pacientes
e lucros.
A assistência ao doente mental, ao fim dos primeiros cinco anos da década de 1970,
perde importância que tivera até então, e há uma drástica redução de gastos com a
saúde mental. Isso coincide com a famosa “crise do petróleo” que, na segunda
metade da década de 70, modificou radicalmente o panorama econômico do país.
Em 1979, durante o III Congresso Mineiro de Psiquiatria, a opinião pública foi sacudida
por denúncias da situação de degradação dos pacientes do Hospital-Colônia de
Barbacena, que na ocasião foi comparado pelo italiano Franco Basaglia, presente ao
evento, como um “campo de concentração” (Delgado, 2001).
No Brasil, o Código do Império (início do século XIX) destacava que não se julgaria
criminoso os loucos de todo o gênero, salvo se tivessem lúcidos nesse intervalo e neles
cometessem o crime.
Em abril de 2001, é promulgada, no Brasil, a Lei federal 10.216, que garante os direitos
dos portadores de transtorno mental e redireciona o modelo de atenção à saúde mental.
Repetindo o que acontece nas famílias que abrigam em suas casas um membro com
transtorno psiquiátrico, as famílias de criminosos freqüentemente exibem uma dinâmica
disfuncional e tensa, estando na maioria das vezes desestruturadas, por exemplo, devido
a situação econômica precária, a abuso de álcool e outras drogas, violência ou todos
esses elementos juntos.
Alguns estudos mostram que boa parte dos criminosos apresenta comportamento anti-
social desde a pré-adolescência. Há a constatação de que indivíduos violentos foram
expostos à violência durante sua formação e tendem a repetir os mesmos
comportamentos em algum momento de sua vida. Entretanto, é importante lembrar que
o comportamento violento abrange aspectos biológicos, psicológicos e sociais. Daí a
importância de trabalhos de intervenção preventiva em famílias e comunidades
envolvidas com a violência. No Brasil, não há um trabalho efetivo, da parte do sistema
penal, que busque uma participação dos familiares dos delinqüentes em um processo
interativo. As famílias dos presidiários e jovens em casas de recuperação são pouco ou
nunca procuradas para participar de um plano conjunto de reabilitação ou prevenção de
novas ocorrências criminais.
O papel do profissional da área da saúde mental, como o psicólogo, que atua como
perito nos casos de acusações criminais feitas contra indivíduos com transtornos
mentais ou de personalidade, é de alta complexidade. O profissional precisa examinar o
paciente seguindo princípios da justiça em harmonia e convergência com critérios
técnicos e científicos, para elaborar o correspondente laudo pericial. Nesse sentido, o
perito funciona como um tradutor da linguagem clínica para a jurídica.
Métodos informais
1) o “nada a fazer ou dar um tempo”: deixa-se prá lá e espera que o tempo solucione
o conflito;
2) a acomodação: tentativa através de iniciativa e esforços próprios, sem buscar auxílio
de profissionais;
3) o aconselhamento: busca-se opinião de pessoas mais experientes e respeitadas.
1) Julgamento
2) Arbitragem
Neste método a decisão cabe a um terceiro, o árbitro, escolhido pelas partes. O método
aplica-se quando há “compromisso arbitral” firmado pelos interessados. A arbitragem
distingue-se do julgamento pelo fato de as partes influenciarem diretamente na escolha
do árbitro, escolhido livremente pelos litigantes. Isso se reflete na confiança que detém
sobre determinada matéria e na idoneidade pessoal e profissional. O efeito psicológico é
próximo daquele do julgamento, com a diferença de que são as partes que escolhem o
árbitro. A arbitragem reduz o impacto emocional que o ritual da justiça formal
estabelece, tornando-o mais confortável para os litigantes. Tanto no julgamento, quanto
na arbitragem, o comportamento dos advogados é um fator determinante no clima
emocional entre os litigantes, além de refletir sobre o próprio comportamento.
3) Negociação
4) Conciliação
5) Mediação
PSICOLOGIA E ÉTICA
Dada a grande confusão semântica atual em torno dos termos 'ética' e 'moral', aqui
busca-se verificar a natureza estritamente terminológica, a saber, a questão do uso de
dois termos de grafias distintas - 'ética' e 'moral' - para se referir a um mesmo domínio
de saber e a um mesmo campo de fenômenos.
Num primeiro momento, observa-se a sinonímia original dos termos 'ética' e 'moral', a
partir de suas respectivas raízes etimológicas. Em seguida, algumas nuances de
significação no uso desses termos que se originaram no início do século XIX, ao fim da
Era Moderna, e se revelam no vocabulário ético atual. Por fim, neste texto, será
discutida a preferência atual do termo 'ética' sobre a palavra 'moral'.
A palavra 'ética' provém do adjetivo 'ethike', termo corrente na língua grega, empregado
originariamente para qualificar um determinado tipo de saber. Aristóteles foi o primeiro
a definir com precisão conceitual esse saber, ao empregar a expressão 'ethike
pragmatéia' para designar seja o exercício das excelências humanas ou virtudes morais,
seja o exercício da reflexão crítica e metódica (praktike philosophia) sobre os costumes
(ethea)1. Com o passar do tempo, o adjetivo gradualmente se substantiva e passa a
assinalar uma das três partes da filosofia antiga (logike, ethike, physike).
O adjetivo 'ethike', por sua vez, originara-se do substantivo 'ethos', que constitui uma
transliteração de dois vocábulos gregos: éthos (com eta inicial - hqoV) e êthos (com
epsilom inicial - eqoV). Éthos com eta (ç) inicial designa, em primeiro lugar, a morada
dos homens e dos animais. É o éthos como morada que dá origem à significação do
éthos como costume2, estilo de vida e ação. A metáfora contém a idéia de que o espaço
do mundo torna-se habitável pelo homem por meio do seu éthos. Isto é, mais do que
habitar a physis, a natureza, o homem habita o seu éthos: pois, diferentemente da physis,
o éthos, como espaço construído e incessantemente reconstruído - e tecido pelo logos - é
o seu abrigo protetor mais próprio3.
Êthos com epsilom (å) inicial refere-se primordialmente ao processo genético do hábito
(hexis) como disposição estável para agir, que decorre do exercício dos atos. A partir
daí, passa a significar o caráter pessoal como um padrão relativamente constante de
disposições morais, afetivas, comportamentais e intelectivas de um indivíduo4.
O termo latino mos, de onde provém o termo moral, foi usado (provavelmente por
Cícero) para traduzir o vocábulo ethos, o qual conhece, no mundo latino, quase idêntica
história semântica ao termo grego ethos. Designando originariamente a morada dos
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homens e dos animais, amplia gradualmente seu significado para denotar, do ponto de
vista coletivo, os costumes, e de um ponto de vista individual, o modo de ser - o caráter.
Com a criação da Ética como ciência do ethos no mundo grego - como aplicação do
logos demonstrativo à reflexão crítica sobre os costumes e modos de ser dos homens - a
palavra 'ética' passou a designar, na tradição filosófica, tanto o objeto de estudo de uma
disciplina quanto o estudo do objeto. 'Ética' significa, portanto, tanto a disciplina que
reflete criticamente sobre o saber ético encarnado nos costumes e modos de ser, como
esse próprio saber. O mesmo se verifica com a palavra 'moral', que servirá para designar
tanto o objeto de estudo - a mo- quanto o estudo crítico do objeto - a Filosofia Moral.
Para outros autores, a palavra 'moral' deve ser usada preferencialmente para denotar o
objeto de estudo, enquanto a palavra 'Ética' - ou Filosofia Moral- deveria reservar-se à
disciplina filosófica que busca refletir criticamente da moral.
Esse uso encontra apoio na linguagem corrente. De fato, o termo 'moral' é muitas vezes
usado como substantivo, em suas diversas acepções, para designar âmbitos que
constituem o objeto de estudo da Ética ou da Filosofia Moral: (1) ou um modelo de
conduta socialmente estabelecido em uma sociedade concreta ("a moral vigente"); (2)
ou um conjunto de convicções morais pessoais ("fulano possui uma moral rígida"); (3)
ou tratados sistemáticos sobre as questões morais ("Moral"), sejam doutrinas morais
concretas ("Moral católica" etc.), sejam teorias éticas ("Moral aristotélica" etc., embora
o mais corrente seja "ética aristotélica" etc.); (4) ou uma disposição de espírito
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produzida pelo caráter e atitudes de uma pessoa ou grupo ("estar com o moral alto"
etc.); (5) ou uma dimensão da vida humana pela qual nos vemos obrigados a tomar
decisões ("a moral"). Como adjetivo, em usos que interessam à Ética, o termo moral é
preferencialmente usado em contraposição à "imoral", ou em contraposição à "amoral".
Já o termo 'moralidade' é muitas vezes usado, seja como (a) sinônimo de "moral", no
sentido de uma concepção moral concreta (p. ex. quando dizemos "isso é uma
imoralidade" = "isso não é moralmente correto"), seja como (b) sinônimo de "a moral",
isto é, uma dimensão da vida humana identificável entre outras e não redutível a
nenhuma outra, e que se manifesta no fato de que emitimos juízos morais; (c) ou na
contraposição filosófica de cunho hegeliano entre "moralidade" e "eticidade", já
discutida antes.
No uso dos termos ética e moral, a sinonímia original deve prevalecer como pano de
fundo para as diversas nuances de significação. E isso, antes de mais nada, porque a
idéia de um bem desejado remete sempre a uma certa normatividade, e, por outro lado,
toda normatividade sempre faz referência a uma certa idéia de bem. Em termos gerais,
se quero algo, devo algo; se devo algo, quero algo.
O que não se pode é tratar os termos como antônimos. Tal uso é superficial e
contraditório: é contraditório defender, por exemplo, uma ética sem moral, ou uma
moral sem ética. Enquanto a sinonímia é, em geral, mais adequada: é perfeitamente
legítimo falar, por exemplo, de uma ética universal de Kant ou uma moral das virtudes
de Aristóteles.
Uma separação excessiva no uso dos termos implicaria um uso avaliativo da distinção,
subentendendo, grosso modo, que a ética vale mais que a moral, ou seja, que a aspiração
e o desejo valem mais que o dever e a obrigação. Essa prevalência do termo 'ética' em
relação ao termo 'moral' serviria, finalmente, para expressar aquele novo ethos
denunciado por Gilles Lipovetsky, num livro que se tornou célebre - O crepúsculo do
dever. A ética indolor dos novos tempos democráticos, que poderia ser também
traduzido com outro título: O crepúsculo da moral. A ética indolor dos novos tempos.
Para Lipovestsky - recordemos que trata-se aqui de uma análise sociológica - a era da
moral se apagou para dar lugar à era da ética, que se instalou com todo seu brilho. Fruto
do novo ethos individualista e do narcisismo dos tempos atuais, essa nova ética é
indolor, foge da dor do dever, na medida em que "não ordena nenhum sacrifício maior,
nenhuma separação de si mesmo". A pós-modernidade é, pois, nessa perspectiva,
uma era "pós-moralista", que consagra a saída da forma-dever, de devoção a fins
superiores, transcendentes. Para Lipovetsky, com efeito, apesar da secularização em
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O que parece certo, entretanto, é que não podemos abrir mão das aspirações por uma
vida melhor, dos deveres para com o outro, nem de ética e nem de moral.
Mas então, o que é ética, o que é moral? É a mesma coisa ou há distinções a fazer? Há
muita confusão acerca disso.
Mas, aprofundando a questão, percebemos que ética e moral não são sinônimos. A
ética é parte da filosofia. Considera concepções de fundo, princípios e valores que
orientam pessoas e sociedades. Uma pessoa é ética quando se orienta por princípios e
convicções. Dizemos, então, que tem caráter e boa índole. A moral é parte da vida
concreta. Trata da prática real das pessoas que se expressam por costumes, hábitos e
valores aceitos. Uma pessoa é moral quando age em conformidade com os costumes e
valores estabelecidos que podem ser, eventualmente, questionados pela ética. Uma
pessoa pode ser moral (segue costumes) mas não necessariamente ética (obedece a
princípios).
Embora úteis, essas definições são abstratas porque não mostram o processo como a
ética e a moral, efetivamente, surgem. E aqui os gregos nos podem ajudar. Eles partem
de uma experiência de base, sempre válida, a da morada entendida existencialmente
como o conjunto das relações entre o meio físico e as pessoas. Chamam à morada de
ethos (em grego, com o e longo). Para que a morada seja morada, é preciso organizar o
espaço físico (quartos, sala, cozinha) e o espaço humano (relações entre os moradores
entre si e com seus vizinhos), segundo critérios, valores e princípios, para que tudo flua
e esteja a contento. Isso confere caráter à casa e às pessoas. Os gregos chamam a isso
também de ethos. Nós diríamos ética e caráter ético das pessoas. Ademais, na morada,
os moradores têm costumes, maneiras de organizar as refeições, os encontros, estilos de
relacionamento, tensos e competitivos ou harmoniosos e cooperativos. A isso os gregos
chamavam também de ethos (com o e curto). Nós diríamos moral e a postura moral de
uma pessoa.
Ocorre que esses costumes (moral) formam o caráter (ética) das pessoas. Winnicot,
prolongando Freud, estudou a importância das relações familiares para estabelecer o
caráter das pessoas. Elas serão éticas (terão princípios e valores) se tiverem tido uma
boa moral (relações harmoniosas e inclusivas) em casa.
Os medievais não tinham as sutilezas dos gregos. Usavam a palavra moral (vem de
mos/mores) tanto para os costumes quanto para o caráter. Distinguiam a moral teórica
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Qual é a ética e qual é a moral vigentes hoje? Seria a ética e a moral capitalista. Sua
ética diz: bom é o que permite acumular mais com menos investimento e em menos
tempo possível. Sua moral concreta reza: empregar menos gente possível, pagar menos
salários e impostos e explorar melhor a natureza. Imaginemos como seria uma casa e
uma sociedade (ethos) que tivessem tais costumes (moral/ethos) e produzisse caracteres
(ethos/moral) assim conflitivos. Seria ainda humana e benfazeja à vida? Eis a razão da
grave crise atual.
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