Conversa de Bois Do Livro Sagarana
Conversa de Bois Do Livro Sagarana
Conversa de Bois Do Livro Sagarana
Conversa de Bois é um conto, no qual toda uma problemática da relação Homem - Natureza -
Animal está presente, com a filosofia animal e a bestialidade humana trabalhadas conj
untamente.
As reflexões sobre o poder e a fraqueza centralizam-se em Conversa de Bois, conto
narrado em terceira pessoa, narrado por Manuel Timborna, que é entrevistado pelo a
utor, que pede para recriar a história:
- Só se eu tiver licença de recontar diferente, enfeitado e acrescentado ponto e pou
co...
- Feito! Eu acho que assim até fica mais merecido, que não seja .
Manuel Tiborna diz que sim, que inclusive poderia contar um caso de que sabia. O
narrador diz que ouvirá a história, mas desde que possa contá-la depois modificando e
acrescentando detalhes, com o que Tiborna concorda.
E então Manuel Timborna começa a contar um caso acontecido que se deu , procurando demo
nstrar que boi fala o tempo todo . Ele fala de um tempo em que os animais conversav
am entre si e imagina se isto até hoje acontece, se transformam em heróis, questiona
ndo o saber dos homens com o seu suposto não saber.
O cenário do conto é uma estrada do interior de Minas Gerais.
Conversa de Bois está inserido entre aqueles que compõem o primeiro livro do autor,
Guimarães Rosa: é o penúltimo entre os nove contos que se encontram em Sagarana. A mar
ca roseana de contador de "causos" aparece logo no primeiro parágrafo: Que já houve
um tempo em que eles conversavam, entre si e com os homens, é certo e discutível, po
is que bem comprovado nos livros das fadas carochas (...).
Neste conto, os bois e os homens cruzam-se como num contraste que se prolonga até
o fim. Guimarães Rosa apresenta alternadamente os diálogos dos homens e os diálogos dos
bois, revelando-se aqui uma espécie de filosofia bovina , uma síntese do que pensam sobr
a vida e sobre os homens. Neste conto, os bois são verdadeiros personagens, possu
idores de capacidades intelectuais quase iguais às dos homens. Os bois não possuem h
umanidade, não agem, pensam e falam como os homens, à maneira das fábulas e histórias d
ochinha, mas sim como nós podemos imaginar, com o recurso da intuição, que eles o fari
am se realmente pudessem.
O homem, no conto, tem seus problemas, suas revoltas contra ele próprio, em oposição a
o boi, que carrega o jugo de e na sua vida e que, à noitinha, resmunga, discutindo
sua vida, filosofando sobre o círculo nascimento-crescimento-morte.
Em Conversa de bois, o boi não é apenas ícone da natureza, ele torna-se personagem ati
vo. E passa nesse momento, a formar com o menino Tiãozinho um só personagem, metade
humano metade animal. A parte homem do ser antropomórfico e hibrido, o menino human
o , não possui o dom da palavra. A palavra surge na consciência dos bois. Ao menino, c
abe apenas o desejo de vingança e a vergonha imposta pela atitude pecaminosa da mãe.
Personagens
Tiãozinho - Menino-guia. Odiava o Agenor carreiro, pois o malvado vivia fazendo ca
rinho na mãe de Tiãozinho, mesmo quando o pai do menino ainda estava vivo, entrevado
em cima de um jirau.
Agenor Soronho - Carreiro. Mandava em Tiãozinho como se fosse pai dele.
Januário - Pai de Tiãozinho.
Buscapé, Namorado, Capitão, Brabagato, Dansador, Brilhante, Realejo e Canindé - protag
onistas bovinos da história, que vão na sua marcha lenta, carregando o peso pesado do
carro-de-bois, carregado de rapaduras e um defunto.
Resumo do conto
O autor produz uma história valorizando quatro elementos importantes da paisagem d
o interior de Minas. O carro, puxado por bois, vai cortando o sertão, levando rapa
dura e um defunto o pai de Tiãozinho (cego e entrevado, já de anos, no jirau) para o
arraial. Os bois, enquanto arrastam o carro, vão conversando, emitindo opinião sobr
e muitas coisas, principalmente sobre os homens.
Buscapé e Namorado são os bois da guia, os dois que vão bem à frente do carro. Capitão e B
rabagato são os bois que vão mais atrás.
O pai de Tiãozinho, Januário, vivia, há muitos anos, entrevado e cego em cima de um ji
rau. A mãe de Tião não tinha mais paciência de cuidar do enfermo. Guardava seus carinhos
para Soronho carreiro. De noite, enquanto todos dormiam, Tiãozinho ouvia os soluços
do pai, um choro doído, sem consolo.
Tiãozinho odeia Agenor Soronho. Mesmo quando o pai estava vivo, o carreiro tinha a
utorização para xingar, bater de cabresto, de vara de marmelo, de pau... Que seria d
ele agora, com o pai morto? Tiãozinho tentava fazer tudo direito: capinava, tirava
leite, buscava os bois no pasto, guiava-os no carro de boi. Quando crescer, qua
ndo ficar homem, vai ensinar ao seu Agenor Soronho... Ah, isso vai!... Há de tirar
desforra boa, que Deus é grande!....
O caminhar cadenciado e monótono levou Agenor Soronho ao sono. O perigo era iminen
te. Se caísse, as rodas do carro de boi passariam por cima dele. Na frente dos boi
s, Tiãozinho andava meio acordado, meio dormindo. Nesse quase estupor, o pensament
o coincidia com a fala dos bois. Era como se o menino fosse boi também. Os bois en
tendiam o pensamento dele: falava em vingança, em morte do carreiro. De repente, m
eio inconsciente, Tiãozinho deu um grito, os bois saltaram, todos a um tempo, para
frente, e Agenor Soronho caiu. Uma das rodas do carro passou por cima do pescoço
dele, quase o degolando. Estava morto. Agora, com dois defuntos, a caminhada fic
ou mais alegre.