Direito Das Obrigações II
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Direito Das Obrigações II
RESPONSABILIDADE OBJECTIVA
Responsabilidade Civil
indemnizar que, como sabemos, é exclusivamente legal: encontra-se, por isso, tipificada na
Enquanto excepção à regra geral de imputação dos danos na esfera jurídica onde
ocorrem, a responsabilidade civil consiste no conjunto de factos que dão origem à obrigação
recordar:
regra geral, culpa [art. 483º-2]. A culpa deve ser aqui entendida como um
juízo moral ou de censura da conduta, seja ela praticada com dolo ou mera
subjectiva obrigacional].
imputação:
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Funções:
passagem].
responsabilidade civil.
• Facto
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intenção, nem sequer actuação [contra o que a redacção do art. 483º-1 pode indiciar],
• Acção [art. 483º]: existe um dever genérico de não lesar direitos alheios
suicide].
além dos casos tipificados na lei. Esta doutrina teve influências entre
facto natural, um facto voluntário do agente, ou ainda um facto do próprio lesado [vg
acidentes de trabalho].
2. A ilicitude deve aqui ser entendida enquanto um juízo de desvalor atribuído pela
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“justificação da ilicitude”!].
normativo, em relação à actuação do agente, que poderia e deveria ter agido de outro modo.
As presunções de culpa invertem o ónus da prova [art. 350º-1] e são ilidíveis, nos
termos gerais [art. 350º-2]: as dificuldades de prova inerentes torna mais segura a obtenção
de indemnização, pelo lesado. Para ROMANO MARTINEZ e MENEZES LEITÃO, o disposto nos
objectiva.
correrem bem e ninguém sair lesado. Ao contrário do direito penal, onde, como sabemos, a
tentativa é punível. MENEZES LEITÃO entende que o dano deve ser definido num sentido
fáctico e normativo, enquanto frustração de uma utilidade que era objecto de tutela jurídica.
comportamento deve ser causa dos danos sofridos, existindo um nexo de causalidade entre o
facto e o dano.
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consequência jurídica.
mandato].
passagem].
analógica, art. 11º], taxativos, e só pode ser invocada se existir uma previsão legal específica
responsabilidade civil em geral [arts. 483º ss], exclusive as disposições respeitantes à culpa.
responsabilidade civil: excepção à regra geral de imputação dos danos na esfera jurídica onde
[ressarcibilidade].
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Delimita-se, nestes termos, uma determinada esfera de riscos pela qual deve
• Risco criado: cada pessoa que cria uma situação de perigo deve responder
art. 499º]
ex vi art. 499º]
pode ser obrigacional, vg devedor que falta ao cumprimento da obrigação, sem culpa
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501º]
• Danos causados por instalações de energia eléctrica ou gás [arts. 509º e 510º]
• Legislação avulsa:
o Responsabilidade do produtor
o Embarcações de recreio
o Aeronaves
o Ultraleves
responsabilidade pelo risco, embora seja efectivamente independente de culpa, uma vez que
causados pelo comissário no exercício das suas funções é solidária, uma vez
também culpa sua, caso em que lhe será aplicável o disposto no art. 497º-2
[concorrência de culpas].
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• Relação de comissão:
comissário.
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Nota: no nosso direito, basta que o comissário esteja no exercício das suas funções,
Exemplo: age no exercício das suas funções o operário que deixa cair uma telha ou o
operário que, fumando enquanto trabalha, provoca um incêndio. Do mesmo modo, responde
o Banco pelo empregado bancário que haja burlado os clientes. O comitente responde ainda
pelos actos praticados pelo comissário em desrespeito das instruções: o segurança de uma
discoteca que deliberadamente agride um cliente ou o operário que conduz uma máquina em
• Responsabilidade do comissário:
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sem culpa.
primeira posição.
disposto no art. 507º, uma vez que a responsabilidade pelo risco recai sobre várias pessoas e é
solidária.
vigilando], nada pode exigir em regresso [o nº 3 só opera com culpa do comissário], uma vez
PÚBLICAS. Segundo o disposto no art. 501º, o Estado e demais pessoas colectivas públicas [IP,
EP, Universidade Pública, etc.], quando haja danos causados a terceiro pelos seus órgãos,
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Compreende-se que esta remissão respeite apenas a actos de gestão privada [danos
que poderiam ter sido praticados por particulares, uma vez que foram causados por entidades
• Relação de comissão
§4: DANOS CAUSADOS POR ANIMAIS. Quem utilizar, no seu próprio interesse,
quaisquer animais, responde pelos danos que causarem, desde que resultem do perigo
cumuladas, caso em que o vigilante [vg o tratador] e o utilizador do animal [vg o proprietário]
incommoda]:
utilização de:
Usufrutuário
Comodatário
Simples possuidor
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dos pressupostos da responsabilidade objectiva pelos danos causados por veículos [de
circulação terrestre, seja ela circulação rodoviária ou ferroviária, art. 508º-3: ANTUNES
Com efeito, aquele que tiver a direcção efectiva de qualquer veículo de circulação
terrestre e o utilizar no seu próprio interesse, ainda que por intermédio de comissário,
responde pelos danos provenientes dos riscos próprios do veículo, mesmo que não se encontre
em circulação [art. 503º-1]. Face a esta responsabilidade, a lei obriga à prévia celebração de
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um contrato de seguro de responsabilidade civil automóvel, sem o qual o veículo não pode
circular.
causados por bicicletas e outros veículos não motores, contra o entendimento de ROMANO
o Detentores legítimos
o Proprietário
o Usufrutuário
o Locatário
o Comodatário
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exclui-se nos casos do art. 505º, sem prejuízo do disposto no art. 570º [mantendo-se essa
disposição, portanto]:
Nota: a lei pouco esclarece quanto a concurso de causalidade entre o facto do lesado
[seja ele culposo ou não] e a condução do veículo [respeitando a riscos próprios do mesmo].
Cumpre apreciar:
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Ciclone
Inundação
Animais
motor].
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que atinjam a própria pessoa [lesões, danos morais ou dano morte] e as coisas
495º-2 e 3 e 496º-2.
caso afirmativo, a sua responsabilidade é subjectiva, nos termos gerais [art. 483º-1], pelo que
não estará sujeita a qualquer limite máximo de indemnização [art. 508º, infra], abrangendo
todos os danos sofridos pelo lesado [arts. 562º ss]. Salvo presunção legal de culpa do lesante,
culpa do condutor, nos termos do art. 493º-2. Um assento do STJ afastou esse entendimento,
pelo que o lesado não beneficia com a pretensão da responsabilidade subjectiva do condutor,
uma vez que terá que fazer prova [por vezes verdadeiramente probatio diabolica] a esse
condução de veículos enquanto uma actividade perigosa em três situações [art. 493º-2]:
âmbito: o condutor de veículo por conta de outrem [comissário] responde pelos danos que
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causar, salvo se provar que não houve culpa da sua parte [art. 503º-3, 1ª parte]. Contudo, se
o fizer fora do exercício das suas funções de comissário, responderá nos termos do nº 1, supra
[nº 3, 2ª parte], como se tivesse a direcção efectiva do veículo [no seu interesse próprio] – o
comissário só é responsável pelo risco se conduzir fora do exercício das suas funções,
casos, a responsabilidade pelo risco é atribuída ao comitente, que tem a direcção efectiva do
veículo e o utiliza no seu próprio interesse, ainda que por intermédio do comissário [nº 1].
primeiro não a consiga ilidir, exercer contra ele o direito de regresso [relação interna] pela
Perguntou-se se essa presunção valeria no âmbito das relações externas, maxime para
máximos do art. 508º, infra, que pressupõe não existir culpa do lesante]:
comissário.
perante o lesado. Esta posição foi acolhida e fixada por um assento do STJ.
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O art. 506º regula em termos específicos a colisão de veículos, sem culpa: a lei
relação a um deles:
ambos os veículos.
igualitária de danos.
506º-1].
comissário e outro por um condutor no seu próprio interesse e não sendo provada a culpa de
nenhum deles. Aplicar-se-ia o critério da contribuição causal do risco dos veículos para a
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produção dos danos ou, pelo contrário, presumir-se-ia a culpa do condutor por conta de
outrem? Um assento do STJ fixou a segunda doutrina [no sentido de ANTUNES VARELA e
ALMEIDA COSTA]. Contra este entendimento pronunciou-se MENEZES LEITÃO, que preconiza
antes o recurso ao critério da contribuição causal do risco dos veículos para os danos, nos
estabelece a solidariedade como regra geral do art. 507º-1, mesmo que haja culpa de alguns,
caso em que apenas os culpados respondem, nos termos do art. 497º-2 – vg o locatário que
não fez as devidas revisões ao veículo [507º-2, 2ª parte]. Nas relações internas entre os vários
cada um na utilização do veículo [art. 507º-2, 1ª parte] – aquele que tiver maior interesse na
está sujeita aos limites máximos legais constantes do art. 508º, com as alterações de 2004:
quando não haja culpa do responsável, a indemnização tem como limite máximo o capital
mínimo do seguro obrigatório de responsabilidade civil automóvel [nº 1] – o limite máximo dos
danos cobertos pelo seguro, uma vez que se assiste a uma transferência de risco por parte do
responsável, mas apenas aquela que estará obrigada a pagar a indemnização]. O mesmo se
termos do art. 509º-1, a responsabilidade pelo risco é atribuída a quem tiver a direcção
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força maior: toda a causa exterior independente do funcionamento e utilização da coisa [nº 2]
– factos naturais externos [ciclone que derruba um poste de energia, vg] ou factos do próprio
causados por defeitos dos produtos que ponha em circulação surgiu nos EUA, onde se
Considerando que o ónus da prova da culpa cabe ao lesado, nos termos gerais [art.
[art. 1º].
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vendedor.
oferece a segurança com que legitimamente se pode contar [art. 4º]. Esta
“exclusão”.
para o dano.
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e contratual, em termos tais que supera a tradicional summa divisio entre ambas, segundo
ROMANO MARTINEZ.
comprimento entre 2,5 metros e 24 metros, utilizado como meio de deslocação na água, sem
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aeronave em voo ou por objectos que dela se soltem [art. 10º], ou quando
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§1: NOÇÃO. Há responsabilidade pelo sacrifício sempre que a lei preveja o direito à
indemnização a quem viu os seus direitos sacrificados em resultado de uma actuação lícita
Exemplos:
Responsabilidade extracontratual:
1322º]
Responsabilidade contratual:
responsabilidade pelo sacrifício: se ao autor do sacrifício que os causou ou, pelo contrário, ao
A OBRIGAÇÃO DE INDEMNIZAÇÃO
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Indemnização
§1: NOÇÃO. A indemnização é tratada pelo CC como uma modalidade das obrigações
[arts. 562º ss], cuja fonte consiste na imputação de um dano a outrem e cujo conteúdo se
indemnização, a eliminação do dano sofrido pelo credor, sendo a mesma, por isso, atribuída
mesma pode igualmente ser atribuída em termos equitativos, pelo tribunal [art. 566º-3].
denominada teoria da diferença [art. 566º-2]: tem como medida a diferença entre a situação
patrimonial do lesado na data mais recente que puder ser atendida pelo tribunal e a que teria
nessa data se não existissem danos [situação patrimonial hipotética se não existissem danos].
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o Danos futuros
lesado.
inferior aos danos causados, nos casos de mera culpa e de culpa do lesado,
de indemnização seria apenas o lesado, na medida em que é ele o titular dos direitos ou
interesses que a lei visava proteger. Excluir-se-iam terceiros, mesmo que hajam sofrido
futebol não teria que indemnizar o clube desportivo por danos reflexos, vg.
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MODALIDADES DE OBRIGAÇÕES
Obrigações Naturais
§1: NOÇÃO. As obrigações naturais são obrigações que se fundam num mero dever de
ordem moral ou social, cujo cumprimento não é judicialmente exigível, mas corresponde a
um dever de justiça [art. 402º] – pelo que a esmola não será uma obrigação natural, vg.
A prestação não é judicialmente exigível, pelo que a sua tutela jurídica resume-se à
segundo o art. 403º. Exclui-se a possibilidade de repetição do indevido [art. 476º], salvo se o
devedor não tiver capacidade para realizar a prestação [prestação realizada por incapaz:
arts. 403º e 764º-1]. Não pode ser repetido/devolvido o que foi prestado espontaneamente,
enfim.
coacção, art. 403º-2], já não pode pedir a restituição do que prestou, mesmo que convencido,
Não podem ser convencionadas livremente pelas partes, sob pena de equivaler a uma
§2: REGIME LEGAL. A lei manda aplicar às obrigações naturais o regime das
obrigações civis em tudo o que não se relacione com a realização coactiva da prestação,
regime ser diferente das restantes por não se permitir a sua execução, segundo MENEZES
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jurídicas, na medida em que não existe qualquer vínculo jurídico por meio do qual uma
pessoa fique adstrita para com outra à realização de uma prestação [art. 397º]. Reconduz a
Prestações
direito do credor.
o Positivo: facere
• Material
• Jurídico
• Fungíveis: a realização da prestação pode ser substituída por outrem que não
de execução específica.
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• Natureza da prestação
• Interesse do credor
prejudica o credor.
1].
934º]
vg locação]
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transportador].
a actuar com a diligência necessária para que esse resultado seja obtido [vg
prestação médica].
o Obrigações genéricas
o Obrigações alternativas
peso ou medida de coisas dentro de um género, mas não está ainda concretamente
determinado quais os espécimes daquele género que vão servir para o cumprimento da
obrigação. Exemplo:
[maçãs] e à quantidade [dez quilos], mas ainda não estão concretizadas quais
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As obrigações genéricas são comuns nas negociações sobre coisas fungíveis [art. 207º].
pintor, vg.
ao devedor [art. 539º], embora possa eventualmente caber ao credor ou a terceiro [art.
542º], excepcionalmente.
os espécimes, maxime aqueles de pior qualidade. O BGB obriga o devedor a entregar uma
coisa de classe e qualidade média, pelo que MENEZES CORDEIRO invoca o regime da
integração dos negócios jurídicos, com base na boa fé, defendendo a mesma solução [art.
art. 400º: a determinação da prestação deve ser realizada segundo juízos de equidade.
Uma vez que, nas obrigações genéricas, a transferência da propriedade não pode
coloca o problema do risco do perecimento da coisa que, nos termos gerais, corre por conta
do proprietário [art. 796º]. Com efeito, um direito a uma quantidade de coisas a escolher de
certo género é um direito de crédito, e não um direito real. Regra geral, a transferência da
específica, não se exigindo que essa concentração seja conhecida de ambas as partes. A lei
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correria por conta do devedor. Com efeito, a concentração ocorre normalmente mediante a
entrega pelo devedor [art. 408º-2 – princípio da entrega], devendo ser determinada até ao
embora cabendo a escolha ao devedor [art. 541º] – o risco do perecimento corre por conta do
credor:
a ser irrevogável. Essa escolha concentra imediatamente a obrigação, desde que declarada ao
devedor ou a ambas as partes. Se o credor não fizer a escolha dentro do prazo estabelecido, é
ao devedor que a escolha passa a competir [art. 542º-2], passando a ser aplicáveis as
mera realização de um delas que, por escolha, vier a ser designada [art. 543º]. Exemplo:
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embora também possa competir ao credor ou a terceiro [art. 549º]. O benefício da escolha é
uma vez que o art. 408º-2 não exceptua o regime das obrigações alternativas. Aqui, é a
designação do devedor, conhecida da outra parte, que determina a prestação devida [art.
543º-1 e 548º], exonerando-se o devedor quando designar a prestação que vai realizar e esta
for conhecida da outra parte. A posterior revogação da escolha, pelo devedor, credor ou
terceiro, não é possível após o conhecimento dessa designação, sob pena de incumprimento
Se alguma das partes não realizar a escolha no tempo devido, a lei devolve essa
faculdade à outra parte [art. 542º-2 e 548º e 549º]: remete-se a faculdade de escolha para a
contraparte.
sendo-lhe devolvida.
execução, uma vez que na fase declarativa o credor não tem o direito a uma
delas em alternativa.
prestação e parte de outra [art. 544º], salvo consentimento do credor, em face do princípio
da indivisibilidade.
[art. 545º]: como a propriedade ainda não se transmitiu, o risco sobre qualquer dos objectos
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escolha.
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• Aquelas em que só existe uma prestação, mas que pode ser escolhida a sua
prestações em alternativa.
§8: OBRIGAÇÕES PECUNIÁRIAS. Obrigações pecuniárias são aquelas que têm dinheiro
por objecto, visando proporcionar ao credor o valor que as respectivas espécies monetárias
vez que este pode não ficar determinado no momento em que a obrigação é constituída,
embora deva ser determinável, sob pena de nulidade do negócio jurídico, o devedor é,
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[art. 511º].
um determinado facto futuro e incerto, vg promessa pública [art. 459º], ou pela ligação entre
portador.
€ 300 cada.
• Pluralidade mista
e F € 300 cada.
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A regra geral é a das obrigações conjuntas ou parciárias [art. 786º-3]: cada um dos
devedores só está vinculado a prestar ao credor ou credores a sua parte na prestação e cada
um dos credores só pode exigir do devedor ou devedores a parte que lhe cabe:
credor:
526º].
prestação integral.
satisfazer aos outros a parte que lhes cabe no crédito comum [art.
533º].
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apenas a um deles
No silêncio da lei [vs art. 497º, vg], e na ausência de estipulação, aplica-se a regra
geral da conjunção aos casos de pluralidade de sujeitos na relação obrigacional [art. 513º].
PLURALIDADE PASSIVA
estipulação de solidariedade ou quando esta resulte da lei [aplicando-se o regime dos arts.
não fica inibido de exigir a prestação dos obrigados que sobejarem [art. 536º], não
responsabilidade dos restantes obrigados é, por isso, admissível, sendo a prestação exigível
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aos demais devedores. O credor deve pagar-lhes o valor correspondente à parte do devedor
Se a prestação for impossível por facto imputável a apenas um dos devedores, este
responde por impossibilidade culposa [art. 801º-1], enquanto que os restantes vêem extinta a
PLURALIDADE ACTIVA
refere que qualquer um deles tem o direito de exigir a prestação por inteiro, mas que o
cumpre perante todos os credores, enfim [art. 538º]. A citação judicial do devedor por um
MARTINEZ e MENEZES CORDEIRO. A solução, neste caso, pauta-se pela aplicação analógica
do disposto no art. 536º: os restantes credores só podem exigir a prestação do devedor se lhe
O CONTRATO
Negócios Jurídicos
Por parte entende-se, nesta sede, o titular de um interesse, e não uma pessoa
individualmente considerada. Esta acepção, por isso, implica que duas ou mais pessoas
constituam uma única parte, desde que ligadas por um interesse comum. Nos contratos, por
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
CORDEIRO critica aquilo a que apelida de verdadeira “jurisprudência dos interesses”, já que
os intervenientes num negócio jurídico unilateral podem ter interesses diversos, sem prejuízo
interesses.
mas integralmente concordantes entre si, de onde resulta uma estipulação unitária de
efeitos jurídicos.
Modalidades de Contratos
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salvo casos excepcionais, o simples consenso das partes deve ser operativo em relação à
Direito Civil:
declarações de vontade.
o Ad substantiam
o Ad probationem
podem ser:
o Razões:
De ponderação: doação
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De publicidade: penhor
coisa, excepto tratando-se de penhor de coisas [art. 669º], cuja tradição tem efeito
constitutivo [VAZ SERRA, MOTA PINTO, ALMEIDA COSTA, MENEZES CORDEIRO e CARVALHO
VARELA.
MENEZES LEITÃO defende que quando a lei exige imperativamente a tradição para a
constituição do contrato [vg arts. 669º e 947º-2 – “só produz efeitos” e “só pode ser feita”],
esta não pode ser dispensada pelas partes. O mesmo se verifica nos restantes casos [arts.
1129º, 1142º e 1185º], já que a exigência da tradição tem a utilidade de não permitir que a
execução do contrato ocorra numa fase posterior à da declaração negocial [contra MENEZES
§3: QUANTO AOS EFEITOS. Quanto aos efeitos, os contratos podem ser:
e de obrigações
real.
Cumpre atender ao disposto no art. 408º-1, que determina que a transmissão dos
direitos reais sobre coisas ocorre por mero efeito do contrato [regra geral – quoad effectum]:
para tal, as coisas têm que ser presentes, determinadas e autónomas de outras coisas [art.
e direito real]: a transmissão do direito real não depende de qualquer acto posterior, como a
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
tradição da coisa ou o registo. Nestes termos, o adquirente da coisa é seu proprietário desde
Indiciámos já algumas excepções a esta regra, que ora cumpre apreciar [art. 408º-2] –
541º.
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
transmissão do direito real pode ser diferida mediante acordo de termo [art. 796º-2] ou
celebração do contrato de compra e venda, vg, podendo aliená-la de imediato, mesmo que
esta ainda não lhe tenha sido entregue ou que o preço ainda não tenha sido pago [na
totalidade] – cfr. art. 408º-1. O vendedor, esse, tem o direito de crédito de cobrar o preço:
quando não tenha qualquer preferência no pagamento, concorre com todos os credores
comuns do comprador sobre o património deste [art. 604º-2]. Acresce o facto de que o
vendedor não pode resolver o contrato por incumprimento da outra parte a partir do
886º]. Esta realidade é ilustrada pelos inconvenientes e riscos da compra e venda a crédito
propriedade da coisa até ao cumprimento total ou parcial das obrigações da outra parte, ou
[art. 409º - pactum reservati domini]. Neste caso, a transmissão da propriedade é diferida
dependendo a transferência desse facto futuro e incerto [o pagamento]. Esta convenção pode
ser celebrada em relação a quaisquer bens, sendo que quando respeite a bens imóveis ou
oponível a terceiros [art. 409º-2]. Tratando-se de uma coisa móvel não sujeita a registo, a
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
propriedade no vendedor até ao pagamento impede outros credores de executarem o bem [vs
art. 604º-2]. Verificado o incumprimento definitivo por parte do comprador, o vendedor pode
resolver o contrato, já que ainda não transmitiu a propriedade da coisa [cfr. arts. 801º-2 e
886º].
Em caso de venda a prestações em que haja tradição da coisa, o vendedor não pode
resolver o contrato se o comprador faltar ao pagamento de uma única prestação que não
exceda 1/8 do preço [inferior à oitava parte do preço]. Pode, sim, resolver o contrato se o
na quantia total em dívida, ou a apenas uma, superior à oitava parte do preço [art. 934º].
Esta norma data de 1966 [versão originária do CC]: o legislador concebia já o consumidor
comprador seria, nestes termos, um adquirente condicional [arts. 273º, 274º e 796º-3, 2ª
parte].
MENEZES LEITÃO considera inaceitável que o vendedor suporte o risco pela perda ou
deterioração da coisa [art. 796º-3, 2ª parte], mesmo após entrega ao comprado, conforme a
solução supra propugna. A partir da tradição, é o comprador quem está investido nos poderes
apenas assegura a recuperação do bem, em caso de não pagamento do preço. O risco deve,
por isso, correr por conta de quem beneficia do direito: por conta do comprador, enfim, e a
seria equiparável a uma condição resolutiva, já que a propriedade seria logo transmitida para
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dos efeitos do negócio jurídico, com eficácia retroactiva, sendo a propriedade “recuperada”
MENEZES LEITÃO dirige uma vez mais críticas a esta teoria: este entendimento
entraria em contradição com o disposto nos arts. 409º-1 e 304º-3: “é lícito ao alienante
preço, pode o vendedor, não obstante a prescrição, exigir a restituição da coisa quando o
de propriedade enquanto uma condição, seja ela suspensiva ou resolutiva, já que a condição
é a cláusula acessória do negócio jurídico que determina a subordinação dos seus efeitos a um
acontecimento futuro e incerto [art. 270º]. Trata-se, sim, de uma alteração da ordem de
Em conclusão, MENEZES LEITÃO considera que uma vez que o negócio translativo já
foi celebrado, o comprador já tem uma expectativa jurídica de aquisição do bem. A natureza
ROMANO MARTINEZ entende que sempre que tenha havido entrega da coisa, o risco
• O princípio do cumprimento
• O perecimento da coisa por causa não imputável ao alienante corre por conta
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
[art. 886º].
devedores [art. 879º b) e c), vg]. Emergem para ambas as partes direitos e
O contrato-promessa unilateral [assim apelidado pelo art. 411º] seria, segundo este
declarações de ambas as partes], ainda que monovinculante [apenas uma das partes se
vincula a prestar].
a celebrar o contrato definitivo. A declaração negocial não pode ser vista como uma
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
denominado sinalagma genético [nexo final]. Como consequência lógica deste nexo final, as
prestações surgem interdependentes e uma não deve ser executada sem a outra.
com B entregar uma mala com cocaína num local público, em troca de uma
equilíbrio contratual.
são sinalagmáticos.
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como certas.
contratos:
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total ou parcialmente típicos. Assumem-se como contratos atípicos, já que não correspondem
contratos típicos distintos, enquanto que a outra realiza uma única contra-
prestação comum.
prédio.
Para estes tipos de contratos [1. e 2.], GALVÃO TELLES propõe a aplicação da teoria
considera que esta será a solução tendencial para os dois tipos de contratos em apreço, de
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manutenção do veículo.
Para estes tipos de contratos [3. e 4.], GALVÃO TELLES propõe a aplicação da teoria
considera que esta é a teoria que tendencialmente se aplicará aos dois tipos de contratos em
atípicos que devem obedecer à Parte Geral do Direito das Obrigações. Perante lacunas de
regime, a integração deveria ser feita com recurso à analogia. MENEZES LEITÃO considera
que esta teoria merece um afastamento liminar, já que a integral atipicidade dos contratos
caso a caso, entre as duas primeiras teorias apresentadas por GALVÃO TELLES.
supra §9, na união de contratos não existe um contrato apenas, já que os vários elementos
unidos entre si. Cada contrato mantém a sua autonomia e pode ser individualizado em face
do conjunto.
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
Com efeito, uma das partes no subcontrato terá que ser parte noutro negócio
negócio base tem necessariamente que ser um contrato duradouro e celebrado sem intuitu
personae. O intermediário é parte nos dois contratos, pelo que não se desvincula da
convenção base, passando a coexistir duas relações jurídicas distintas: a do contrato principal
e a do subcontrato.
é titular, bem como a substituição deste no cumprimento da actividade a que estava adstrito.
Exemplos:
CONTRATOS PRELIMINARES
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
com a figura da contratação mitigada, conforme configurada por MENEZES CORDEIRO nos
contratos]
Ainda que não haja qualquer vinculação, as partes respondem por culpa in
contrahendo nos termos do art. 227º, por violação de deveres de lealdade, informação e
segurança.
Contrato-Promessa
§1: NOÇÃO. Por contrato-promessa entende-se toda a convenção pela qual alguém se
obriga a celebrar um novo contrato [art. 410º-1]. Essa convenção tem como objecto uma
contrato definitivo], ainda que seja uma convenção autónoma deste. Como consequência
lógica, o contrato-promessa tem, regra geral, eficácia meramente obrigacional, ainda que o
jurídico, embora não queiram ou não possam realizá-lo naquele momento [maxime tratando-
se de um contrato de compra e venda de bem imóvel, cuja escritura pública não possa ser
imediatamente efectuada].
54
Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
está sujeito ao mesmo regime do contrato definitivo, por extensão. Exemplifiquemos: se a lei
proíbe a venda a filhos e netos [art. 877º], é lógico que também proíba a celebração de um
Este princípio obedece, todavia, a duas importantes excepções [art. 410º-1, 2ª parte]:
forma.
que se vincula(m).
de construção.
• Quanto a disposições que, pela sua razão de ser, não devam considerar-se
extensíveis ao contrato-promessa:
55
Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
1a].
promessa:
O contrato-promessa unilateral [assim apelidado pelo art. 411º] seria, segundo este
declarações de ambas as partes], ainda que monovinculante [apenas uma das partes se
vincula a prestar]. O termo “unilateral” poderia induzir o discente em erro, fazendo-o crer
tratar-se de um negócio jurídico unilateral, nos mesmos termos dos arts. 457º ss: assim não o
Contra este entendimento, MENEZES LEITÃO considera não existir qualquer sinalagma
no contrato-promessa unilateral, já que a declaração negocial não pode ser vista como uma
obrigação, nem pode ser exigida. Só existiria um sinalagma perfeito no caso de contrato-
56
Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
podem exigir da contraparte essa mesma celebração. Propõe, assim, a seguinte classificação:
• Contratos-promessa unilaterais
• Contratos-promessa bilaterais
Com o devido respeito, sustentaremos aqui a primeira das posições [da autoria de
confusão terminológica.
de contrato definitivo para o qual a lei exija documento autêntico ou particular, só vale se
A maior parte das promessas monovinculantes [art. 411º] são remuneradas, maxime
sujeito a que a contraparte, que não se vinculou, possa exercer o direito de exigir a
esse vínculo seja eficaz, pode o tribunal fixá-lo [art. 411º]. MENEZES LEITÃO considera
existir, aqui, um sinalagma imperfeito, já que a parte que se vincula fica obrigada a celebrar
pela parte que assume a obrigação de contratar [pela parte que se vincula, enfim], segundo
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
bivinculante que foi apenas assinado por um dos promitentes. Pergunta-se: poderá o mesmo
diferentes:
monovinculante:
GALVÃO TELLES.
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
MENEZES CORDEIRO adopta uma posição conciliadora: dada a diferente natureza dos
contrato definitivo], a situação só poderia ser de invalidade total, pelo que apenas a
aplicação conjunta dos dois preceitos em causa [arts. 292º e 293º] aliados à boa fé na
integração de lacunas das declarações negociais [art. 239º], em ordem a encontrar a solução
Um assento do STJ datado de 1989 [numa altura em que os assentos eram fonte de
direito, art. 2º] pretendeu solucionar a querela doutrinária em questão, determinando que:
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
conversão.
que respeite à constituição ou transmissão de direito real sobre edifício ou fracção autónoma
Está patente, neste âmbito, a distinção entre forma [art. 410º-2], através da qual se
mesmo artigo, das quais depende a validade plena do negócio jurídico, justificam-se para
invalidade. Essa invalidade só poderá ser invocada pelo promitente adquirente, a menos que
seja provocada por sua culpa exclusiva: trata-se, enfim, de uma invalidade mista.
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
• Registo da promessa
real].
§2: EFEITOS. Caso seja atribuída, pelas partes, eficácia real ao contrato-promessa, o
direito à celebração do contrato definitivo prevalecerá sobre todos os direitos reais que não
§4: CUMPRIMENTO DA PROMESSA COM EFICÁCIA REAL. A lei é omissa quanto à forma
uma alienação do bem imóvel ou móvel sujeito a registo a terceiros, pelo que a doutrina
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
terceiro.
Face às críticas endereçadas por MENEZES LEITÃO a cada uma das propostas
Incumprimento do Contrato-Promessa
§1: MEIOS DE DEFESA. Ao contrato-promessa que seja incumprido por uma das partes
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
Cada um destes meios que fazem valer a posição do promitente fiel serão estudados
Responsabilidade Obrigacional
promitente faltoso presume-se nos termos do art. 799º, aplicando-se os arts. 798º ss.
apenas de mora, art. 808º], pelo que se remete o estudo deste instituto para o âmbito do
Execução Específica
prestação de facto jurídico, incoercível, o devedor não pode ser coagido pela força a emitir a
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
Por outras palavras, a execução específica consiste na emissão, pelo tribunal, de uma
simples mora.
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
cláusula penal [nº 2] – presunção ilidível, nos termos gerais [art. 350º-
da declaração omitida.
assumida:
com a sua constituição por sentença judicial nos seguintes casos [nº1,
2ª parte]:
da prestação de trabalho].
pode apenas gerar indemnização por responsabilidade contratual [arts. 798º ss], nos termos
gerais.
[vs nº 2].
65
Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
em depósito a sua prestação, no prazo que lhe for fixado pelo tribunal [nº 5 e
[veja-se o caso do dealer de droga que exige a entrega da mala com a quantia
vg].
Sinal
preponderante, já que o seu regime suscita inúmeros problemas dogmáticos quanto à matéria
Por sinal [art. 442º] entende-se a cláusula acessória dos contratos onerosos mediante
a qual uma das partes entrega à outra, por ocasião da celebração do contrato, determinada
coisa fungível.
§2: REGIME GERAL. Esta cláusula acessória tem uma utilidade prática inquestionável,
uma vez que fixa as consequências do incumprimento do contrato oneroso na qual é aposta:
a outra parte tem o direito de fazer sua a coisa entregue [art. 442º-2, 1ª
66
Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
parte.
for integralmente cumprido enquanto tal, a coisa entregue como sinal será
devido como preço, vg] ou restituída em singelo, se essa imputação não for
recebera o sinal [art. 473º-1] – facto não imputável a nenhuma das partes.
Este regime [art. 442º-1 e 2, 1ª parte] aplica-se a qualquer contrato oneroso no qual
as partes estipulem sinal: face a estes traços gerais, MENEZES LEITÃO classifica o sinal
enquanto uma datio rei com função confirmatória-penal, que se aproxima da cláusula penal
[art. 810º - embora não consista no pagamento a posteriori de uma quantia pecuniária, como
na cláusula penal] e pressupõe a entrega prévia de uma coisa fungível [contrato real quoad
Ainda assim, a realização de uma datio rei por uma das partes aquando da celebração
do contrato não presume, nos termos gerais, a constituição de sinal [art. 440º]: a datio rei é
datio rei nunca se poderia qualificar como antecipação do cumprimento da prestação, uma
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
que todas as quantias em dinheiro [datio pecuniae] entregues nesta sede, pelo promitente-
Esta presunção é ilidível nos termos gerais [art. 350º-2], valendo a quantia, nesse
devida. Se a obrigação não se chegar a constituir, a quantia deve ser restituída em singelo,
sob pena de enriquecimento sem causa de quem a haja recebido [art. 473º-2, condictio ob
causam finitam].
promessa.
recebido a coisa a que se refere o contrato prometido mediante tradição, tem o direito de:
adquirente não pode, por isso, recorrer aos outros mecanismos de defesa perante o
incumprimento do contrato-promessa.
desvalorização das quantias em dinheiro e correlativa valorização dos bens imóveis. A demora
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
bem imóvel, sujeito a escritura pública e a outras formalidades, levava a que deixasse de
haver uma correspondência económica entre o preço estipulado para o contrato definitivo e o
proprio sensu do promitente faltoso, uma vez que, à data da alienação da coisa a terceiros,
ele era ainda o verdadeiro e único titular do direito de propriedade, ainda que a ratio legis do
preceito seja reconduzida a esse instituto, por MENEZES LEITÃO, e não ao ressarcimento dos
danos. Está em causa, tão-só, uma forma de obstar às vantagens auferidas pela não execução
do contrato-promessa.
uma vez que a celebração do contrato definitivo seria uma mera formalização de uma
contrato-promessa.
Por outro lado, a exigência do aumento do valor da coisa/direito pressupõe ter sido
constituído sinal, uma vez que a tradição sem sinal seria um acto de mera tolerância
TELLES. Com efeito, o disposto no art. 442º-2, 2ª parte consiste numa disposição excepcional,
69
Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
prévia. Se, diferentemente, não tivesse havido qualquer estipulação de sinal, o promitente-
comprador:
reintegração da sua esfera jurídica com o dano resultante do incumprimento, pelo que seria
A redacção é infeliz, uma vez que dir-se-ia que o promitente fiel teria sempre a
havendo sinal, presume-se que as partes efectuaram uma estipulação contrária à execução
número anterior [art. 442º-2, 1ª e 2ª parte], o contraente não faltoso pode requerer a
parte consagrou-se expressamente a solução defendida por MENEZES CORDEIRO, pelo autor
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
faltoso, paralise o direito ao aumento do valor da coisa/direito [art. 442º-2, 2ªparte], uma
vez que o cumprimento da obrigação em falta representaria uma excepção [situação jurídica
MENEZES LEITÃO é favorável a esta solução, uma vez que reconduz a figura do
supra §4].
Discutível é a expressão legal “salvo o disposto no art. 808º” [art. 442º-3, 2ª parte]. O
art. 808º refere os casos em que a mora se converte em incumprimento definitivo [seja por
perda do interesse do credor ou por desrespeito pelo prazo razoavelmente fixado pelo credor
antes consistindo numa forma de purgação da mora [evitar que a mora se converta em
incumprimento definitivo].
considerou que o novo regime legal [art. 442º-3, 2ª parte] havia acrescentado ao art. 808º
aumento do valor da coisa/direito]. Por seu lado, JANUÁRIO GOMES considerou exigível a
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
caso não o fizesse, a mora transferir-se-ia em incumprimento definitivo, nos termos gerais
[art. 808º].
promessa, pelo que dela não poderão ser extraídas conclusões sobre o regime
simples mora no cumprimento. Por outro lado, cominar tais sanções à simples
art. 811º-1].
72
Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
promessa].
Perda do sinal
Incumprimento definitivo
• Perda do sinal
em caso de não cumprimento. A parte não poderá reclamar outras indemnizações para além
daquelas supra elencadas, com uma nuance: se o contraente faltoso [o alienante] não cumprir
sempre pedir uma indemnização pelos danos causados, nos termos gerais da responsabilidade
73
Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
MENEZES CORDEIRO e GALVÃO TELLES consideram que o sinal assume uma função
Direito de Retenção
§1: NOÇÃO. O promitente que obteve a tradição da coisa tem direito de retenção,
nos termos do art. 755º f). Com efeito, dispõe a referida alínea:
[…]
obteve a tradição da coisa a que se refere o contrato prometido, sobre essa coisa, pelo
crédito resultante do não cumprimento imputável à outra parte, nos termos do art. 442º”.
promitente fiel que tenha recebido a coisa em tradição executá-la com preferência aos
demais credores do devedor [art. 759º-1], prevalecendo mesmo sobre hipoteca, ainda que
registada anteriormente [art. 759º-2 e art. 5º-2 CR Predial] – direito crédito oponível inter
partes e direito real de garantia oponível erga omnes que lhe permite conservar a coisa na
sua posse.
Uma interpretação literal dos preceitos poderia tornar mais forte a pretensão do
constituição de sinal [veja-se a referência a “nos termos do art. 442º”, supra §1, e o que
supra foi dito quanto aos actos de mera tolerância, quando haja tradição sem sinal].
74
Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
coisa/direito, se o credor optar por essa alternativa [art. 442º-2, 2ª parte, supra], e não à
798º ss]. Também não respeita ao direito à restituição do sinal em dobro, uma vez que esse
direito ocorre haja ou não tradição da coisa [não pressupõe a conexão directa com a coisa,
enfim].
Pacto de Preferência
[arts. 414º ss]: a convenção pela qual alguém [obrigado à preferência] assume a obrigação de
uma figura mais geral do que a preferência na venda, já que o art. 423º admite obrigações de
preferência em relação a outros contratos onerosos que não tenham cariz intuitu personae. O
obrigado à preferência não se obriga a contratar com o preferente: antes a escolhê-lo como
à preferência não se obrigue a contratar, mas apenas a escolher alguém como contraente.
obrigação de escolher outrem como contraente, nas mesmas condições negociadas com
“acompanhar”, enfim.
É um contrato unilateral, já que apenas uma das partes assume uma obrigação,
Havendo preferências recíprocas, temos ainda dois pactos, ainda que num mesmo
documento. Se uma das partes assiná-lo, a sua vinculação é válida, sem necessidade de
redução ou de conversão.
75
Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
§2: FORMA. O art. 415º remete para o regime do contrato-promessa, quanto à forma
do pacto de preferência [art. 410º-2]. Nestes termos, se, para a celebração do contrato
preferível for exigido documento autêntico ou particular, exige-se que o pacto de preferência
conste de documento particular. Em qualquer outro caso, vinga a liberdade de forma, nos
termos gerais [art. 219º]. Todavia, apenas terá que ser assinado pelo obrigado à preferência,
Não se aplica, contudo, o regime do art. 410º-3: a remissão legal do art. 415º não tem
§3: EFICÁCIA REAL. Nos termos gerais, a estipulação do pacto de preferência atribui
A lei admite, contudo, que ao direito de preferência seja atribuída eficácia real [art.
• Inscrição no registo
Não se confunda esta figura com a das preferências legais: essas têm sempre eficácia
real [podem sempre ser opostas ao terceiro adquirente], já que é a própria lei que concede a
de gozo. Exemplos:
Com efeito, segundo o art. 422º o direito convencional de preferência [art. 421º] não
prevalece contra os direitos legais de preferência, uma vez que as partes não podem,
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
preferência, mas também um direito real de aquisição, oponível erga omnes, mesmo a
denominada acção de preferência [art. 1410º]: extensível a qualquer titular de direitos reais
• Prazo: 6 meses
Caso as partes simulem o preço, nos termos dos arts. 240º ss, cumpre apreciar duas
hipóteses:
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
forma restritiva.
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
lugar ao contrato.
pagamento.
Face a esta norma, perguntou-se se a comunicação para preferência teria que conter
79
Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
comunicação, sob pena de o obrigado não ter que exercer o seu direito à
LEITÃO.
possa optar por contratar com o obrigado, em igualdade de condições com um terceiro
[recorde-se a noção supra §1]: nestes termos, se a comunicação não indicar o nome de
condições comunicadas. Conclui-se: o titular do direito da preferência não tem que exercer o
seu direito se, na comunicação, não for indicado o nome do terceiro [MENEZES LEITÃO].
pelo que, se voltarem atrás com a sua decisão, praticam um facto ilícito: preenchidos os
Quando tal não suceda, essas declarações valem como promessas de contratar, o que
contratual, nos termos gerais dos arts. 798º ss: não pode, contudo, reclamar a coisa contra o
terceiro adquirente, uma vez que os direitos de crédito não prevalecem sobre os direitos
reais.
80
Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
celebrou um contrato de natureza diferente do contrato preferível, pelo que não há qualquer
incumprimento.
manutenção da preferência:
§1: NOÇÃO. O contrato a favor de terceiro, previsto nos arts. 443º ss, pode ser
definido como o contrato em que uma das partes [o promitente] se compromete perante
81
Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
Exemplos:
• Seguro de vida
prestação [art. 443º-1], embora possa consistir numa liberação de uma obrigação, cessão de
o promissário quem determina essa atribuição patrimonial, a realizar pelo promitente, desde
que relacionada com um interesse digno de protecção legal [nº 1]. Por desejo do promissário
assiste-se, por isso, a uma atribuição patrimonial indirecta entre este e o terceiro, que é
promissário.
uma dívida de C.
do promissário]
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
§2: REGIME GERAL. O regime geral do contrato a favor de terceiro é aquele que é
contratos em relação a terceiros [art. 406º-2], uma vez que faz nascer automaticamente um
direito para o terceiro, surgindo independentemente da aceitação deste [art. 444º-1] – teoria
que o deve comunicar ao promissário [arts. 447º-1], extinguindo-se o direito por ele
cumprimento da sua obrigação [art. 444º-2], uma vez que acordou com o promitente a
aqui apenas uma única posição jurídica objectiva que permite a aquisição da prestação: o
dívida [art. 444º-3] é um contrato a favor de terceiro impróprio, uma vez que o promitente e
de uma dívida que o promissário tem para terceiro. Não há, aqui, qualquer adstrição a uma
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
excepção ao regime do art. 444º-1, uma vez que o terceiro não pode exigir o cumprimento da
quando o terceiro morreu, ainda não era titular de qualquer direito [art.
451º-1].
Paradoxo? A lei serviu-se de presunções, a ilidir nos termos gerais: o direito só é atribuído
do terceiro.
for vivo [art. 448º]: quer o direito já tenha sido adquirido pelo terceiro, quer a aquisição se
verifique após a sua morte. Exemplo: o promissário designa, em vida, outro beneficiário para
designar outrem para adquirir os direitos ou assumir as obrigações resultantes desse contrato
[art. 452º-1], é admitida uma dissociação subjectiva entre a pessoa que celebra o contrato e
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
pois, retroactiva.
subsistência do contraente originário no contrato, pelo que se não for efectuada a nomeação
nos termos legais, o contrato irá produzir os seus efeitos em relação ao contraente originário
[art. 455º-2]. Estipulação em contrário é, contudo, admitida, caso em que a não verificação
• Forma: escrita
• Sendo exigida ratificação, deve ser outorgada por escrito [art. 454º-1], se
A sua celebração em nome próprio está sujeita a uma condição resolutiva, e a sua
celebração em nome alheio está sujeita a uma condição suspensiva: a eficaz nomeação do
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
Cessão de Créditos
§1: NOÇÃO. A cessão de créditos consiste numa forma de transmissão de crédito que
opera por virtude de um negócio jurídico, normalmente um contrato celebrado entre o credor
colaboração deste para que a cessão venha a ocorrer, uma vez que, para o devedor, é
indiferente realizar a prestação perante um ou outro. A cessão de créditos tem, contudo, que
lhe ser notificada [art. 577º-1]. Em suma, transmite-se o direito de crédito do credor/cedente
para o terceiro cessionário, sendo que o último ocupa a posição jurídica do primeiro.
Modalidades:
• Legal
• Convencional
• Judicial
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
VARELA.
VARELA.
PINTO].
580º-2].
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
credor que o crédito não seria objecto de cessão [art. 577º] – pactum
de nulidade da cessão.
pessoa do credor:
advogados.
cumpre distinguir:
686º ss].
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
Notificação
que lhe era lícito invocar contra o cedente [art. 585º]: prazo da
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
caso: quando o crédito seja cedido a mais do que uma pessoa [art.
razões de segurança.
Sub-rogação
§1: NOÇÃO. A sub-rogação [arts. 589º ss] consiste na situação que se verifica quando,
cumprida uma obrigação por terceiro, o crédito respectivo não se extingue, mas antes se
transmite por efeito desse cumprimento para o terceiro que realiza a prestação em lugar do
Enquanto que a cessão tem por base um negócio jurídico, a sub-rogação resulta de
um acto não negocial, o cumprimento, sendo a medida deste que determina a medida da sub-
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
futuras.
obrigação.
Exemplo: A deve € 100 a B. B declara expressamente que C fica sub-rogado nos seus
rogado:
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
[art. 591º]:
devedor, não fazendo sentido que fique com dois créditos após a sub-
sub-rogação].
prestação.
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
art. 593º:
Contra, ANTUNES VARELA: o art. 585º apenas pode ser aplicável aos
qualquer excepção.
Assunção de Dívida
e encontra-se prevista nos arts. 595º ss: transmissão singular de uma dívida através de
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
Nota: suscita-se, neste âmbito, o seguinte problema – apesar da não ratificação pelo
credor, o negócio celebrado entre as partes pode valer como promessa de liberação
[assunção de cumprimento], nos termos do art. 444º-3? A doutrina alemã considera existir
uma regra interpretativa de que qualquer assunção de dívida não ratificada vale como
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
MENEZES LEITÃO], com base nos arts. 239º [vontade presumível das partes] e 293º
• Assunção cumulativa:
o Regime:
um, indistintamente.
os arts. 512ºss:
sentido
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
credor.
pessoais do primeiro:
impossibilidade e ineficácia.
ou incapacidade do antigo
devedor, compensação.
• Assunção liberatória:
assim exonerado.
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supra.
as partes de a distratarem.
o Regime:
• Consentimento do credor
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
e novo devedor.
sua vontade.
celebrado ou a celebrar.
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
credor, originalmente de MENZEL, veio a ser sustentada por MENEZES LEITÃO, no âmbito da
Nestes termos, a assunção de dívidas corresponde como que a uma delegação, hoje
feita através de um contrato que envolve três pessoas: o delegante, o delegado e o credor
situação jurídica mais vasta que engloba direitos, deveres, faculdades, poderes, ónus e
negócios jurídicos em bloco, sem quebrar as ligações existentes entre as diversas situações
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
permanece inalterada.
jurídica já atribuída a uma delas, sem que esta perca a titularidade dessa
relação contratual.
é um negócio abstracto.
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
prestações recíprocas
assunção de dívidas.
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
[art. 280º-1].
contratual transmitida
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
respectivas obrigações.
MENEZES LEITÃO, na esteira de MOSSA, LARENZ e entre nós, MOTA PINTO, ANTUNES
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
§1: GENERALIDADES. A extinção das obrigações verifica-se quando o negócio que lhes
o Revogação
o Resolução
o Denúncia
o Caducidade
o Oposição à renovação
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
excepto se tenha sido criada uma situação em benefício de terceiro ou quando o acto esteja
de um negócio jurídico unilateral [vs revogação], pelo que a decisão não está sujeita ao
acordo da contraparte.
fundamento legal ou convencional [cláusulas resolutivas] para tal [art. 432º-1]. Se esse
ou pela justa causa [art. 1140º], maxime por meras razões de conveniência justificada do
comodante, no comodato.
Está, contudo, excluído o direito de resolução nos casos em que não haja
possibilidade de restituir o que se houver recebido [art. 432º-2], sob pena de enriquecimento
contrato [art. 433º], aplicando-se o art. 289º: relação de liquidação, na qual se visa colocar as
partes na situação em que estariam se o contrato não tivesse sido celebrado [art. 290º].
Contudo, sublinhe-se que a resolução pode não ter eficácia retroactiva, contrariamente à
regra geral, se contrariar a vontade das partes ou a finalidade da resolução [art. 434º] – nos
negócio [art. 291º], a resolução não pode, em caso algum, prejudicar terceiros [art. 435º-1].
ao tribunal [solução alemã, vs francesa], nos termos do art. 436º-1, excepto o disposto no art.
1047º.
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
de resolução um prazo razoável para que o exerça, sob pena de caducidade [art. 436º-2].
negócio unilateral, pelo que se baseia unicamente na declaração de uma das partes.
partes não estipulam um prazo fixo de vigência. A denúncia é admitida a todo o tempo, de
nunc].
oposição à renovação permite que as partes convencionem que o contrato vigore por períodos
É de exercício livre, não é retroactiva mas só pode ser exercida até à renovação do
contrato.
Prescrição
este não ter sido exercido durante um determinado lapso de tempo [art. 304º-1]. Trata-se de
106
Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
uma excepção, na medida em que permite ao seu titular paralisar eficazmente um direito da
contraparte.
Não se confunda com a caducidade ou o não uso [art. 298º]. Quando um direito deva
ser exercido num lapso de tempo, a situação é qualificável de caducidade, a não ser que a lei
refira expressamente a prescrição. Quanto ao não uso, constitui uma causa de extinção
Assim, sempre que não exista um prazo especial de exercício, seja ele legal ou
convencional [caducidade], e não se esteja perante um direito real de gozo [não uso], ou
§3: REGIME LEGAL. O regime legal da prescrição é imperativo [art. 300º], pelo que
são nulos os negócios jurídicos destinados a modificar os prazos legais. Carece de invocação
[art. 303º] por aquele a quem aproveita, não resultando automaticamente do decurso do
prazo. Caso o devedor não invoque a prescrição quando demandado judicialmente pelo
A prescrição é renunciável, mas apenas uma vez decorrido o prazo prescricional [art.
302º-1].
107
Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
Além do devedor, a prescrição pode ser invocada pelos seus credores e quaisquer
uma vez que nem o devedor, nem qualquer outra pessoa, está em
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
• Definitiva:
1], liberando o devedor da prestação e correndo o risco por conta do credor, que perde o seu
direito de crédito.
do que for possível, devendo ser proporcionalmente reduzida a prestação da contraparte [art.
Se, em virtude do facto que tornou impossível a prestação, o devedor adquiriu algum
direito sobre certa coisa, em substituição do objecto da prestação, pode o credor exigir a
prestação dessa coisa [art. 794º: commodum de representação]. Esta figura destina-se a
prestação [vg seguro ou subsídio] – o devedor não sofre prejuízos, uma vez que ficou
conduta a que o devedor se vinculou ainda for possível de realizar, mas há perda do interesse
do credor ou satisfação do mesmo por outra via, não há qualquer impossibilidade [MENEZES
LEITÃO], uma vez que a acção abstracta de prestar se mantém como possível. No entanto,
devedor exonera-se da mesma e o risco corre por conta do credor [art. 790º-1].
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
interdependência de prestações impede que uma possa ser realizada sem que a outra o seja
também].
Por força do sinalagma, a impossibilidade afecta ambas as partes, pelo que o credor
restituição nos termos previstos para o enriquecimento sem causa, com fundamento no
finitam [arts. 473º-2 e 795º-1]. A impossibilidade de uma das prestações extingue todo o
contrato, por caducidade, e o risco é distribuído por ambas as partes através da extinção
recíproca das suas obrigações. Não haverá lugar à extinção do direito do credor à
Se a prestação se tornar impossível por causa imputável ao credor, este não fica
realização do interesse do credor por outra via [supra §2], o devedor deve ser exonerado e,
por outro lado, compensado pelas despesas que haja efectuado, segundo MENEZES LEITÃO
[com recurso à aplicação analógica do art. 1227º, e não do regime da gestão de negócios,
também específica quanto a contratos reais de alienação. A regra geral [brocardo res perit
domino] é a de que o risco pelo perecimento ou deterioração da coisa cabe ao que for
proprietário dela, no momento em que tal evento se verifica [art. 796º-1]: o devedor fica
exonerado da sua obrigação, mas o credor, por conta do qual corre o risco, continua onerado
com a sua contraprestação. Com efeito, o risco é associado ao proveito que se retira da coisa,
propriedade e, consequentemente, do risco, dá-se por mero efeito do contrato. Se, porém, o
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ou da separação.
coisa – vg A vende um quadro mas entrega-o apenas um mês mais tarde, para exibi-lo numa
exposição [art. 796º-2]; se o mesmo vier a ser destruído, em virtude de incêndio na galeria,
vg, é A, o vendedor, que suporta o risco. A ressalva quanto ao disposto no art. 807º [art. 796º-
[art. 1307º-1].
alienante.
111
Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
• Princípio da boa fé: não é lícito a uma das partes exigir da outra o
No âmbito do art. 437º deparamo-nos com uma concepção objectiva deste instituto,
celebração do contrato. Quando, todavia, contrapomos essa disposição ao teor do art. 252º-2,
acerca do erro sobre a base do negócio e da remissão para o regime da alteração das
circunstâncias, não podemos deixar de concluir por uma concepção subjectiva do mesmo
rejeitam este entendimento, pondo em causa a remissão do art. 252º-2 para o regime da
alteração das circunstâncias, antes reconduzindo a questão para um problema de erro, nos
seguintes requisitos:
112
Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
legislativas inesperadas.
que não haja limites quanto aos riscos assumidos pelas partes.
§3: MORA DA PARTE LESADA. O art. 438º nega à parte lesada o direito à resolução ou
uma inversão do risco da prestação [art. 807º]. Nestes termos, se o devedor, por causa que
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
lhe é imputável, não cumprir na data aprazada, entende-se que assume o risco de verificação
Ressalve-se o regime previsto no art. 830º-3, 2ª parte, que estabelece que, na acção
resolução] nos termos do art. 437º, ainda que a alteração das circunstâncias seja posterior à
cumpre colmatar. Tal é fundamento bastante para a resolução do contrato, nos termos do
Optando-se pela resolução do contrato, aplicam-se as regras desta [art. 439º]: efeito
retroactivo, com a ressalva face aos contratos de execução continuada ou periódica [sem que
Todavia, entende MENEZES LEITÃO que a resolução não tem que ser requerida em
juízo [contra ALMEIDA COSTA], com base no disposto no art. 436º-1, ex vi art. 439º, bastando
vontade das partes no contrato e a eficácia concreta da alteração na esfera da parte lesada.
Cumprimento
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de uma só vez.
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
• Princípio da concretização:
cumprimento].
[art. 764º]
menos que a própria prestação consista num acto de disposição [art. 764º]. A prestação
poderá, assim, ser realizada pelo devedor incapaz [vg prestações de facto material como a
pintura de uma casa ou prestações de facto negativo como a não construção de um muro].
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
genéricas e alternativas]. Nestes casos, deve o cumprimento ser realizado pelo representante
do incapaz, nos termos gerais, sob pena de anulação [arts. 125º e 139º]. O credor pode opor-
se ao pedido de anulação se o devedor não tiver tido prejuízo com o cumprimento [exceptio
Sendo a prestação realizada por terceiro, esta consistirá sempre num acto de
disposição, uma vez que o terceiro não se encontra vinculado à sua realização por um negócio
Quanto ao credor, este deve ser sempre capaz, sob pena de destruir o objecto da
prestação ou de não tirar qualquer proveito com o cumprimento. Se a prestação for realizada
a credor incapaz, o seu representante legal poderá requerer a sua anulação, e a realização de
nova prestação pelo devedor [nº2]. Do mesmo modo, pode o devedor opor-se ao pedido de
§4: DISPONIBILIDADE DA COISA. O devedor tem que ser titular da coisa dada em
Nestes termos, se o credor, de boa fé, receber a prestação da coisa que o devedor
não possa alhear, pode impugnar o cumprimento [art. 765º-1], seja alheia a coisa, ou própria
de que o devedor não possa dispor. Compreende-se esta solução: de outro modo, o credor
estaria sempre sujeito à possibilidade de ver a coisa reivindicada pelo seu legítimo
anteriormente realizada.
com a realização da prestação pelo devedor ou pelo credor. Todavia, admite-se que a
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
embora não se possa opor à sua realização por terceiro, sob pena
768º-2 e 592º].
o A obrigação extingue-se
o O devedor libera-se
o Eventualmente:
vai adquirir.
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
para o devedor.
119
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cumprimento da obrigação
prestação
doutrina distingue:
120
Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
o tempo.
o Regra geral, as obrigações são puras, uma vez que não têm prazo
certo estipulado.
da lei, casos há em que a obrigação não pode ser tida como pura,
• Quando o credor não use a faculdade que lhe foi concedida, deve o
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
constitui um benefício. A parte a quem é atribuído o benefício do prazo pode renunciar a ele,
podendo realizar a prestação antes do fim do prazo ou exigi-la a todo o tempo, consoante
Sendo assim, eis a quem pode competir o benefício do prazo [art. 779º]:
imediato da obrigação [arts. 780º e 781º], uma vez que foi posta
do cumprimento
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
§7: LUGAR DO CUMPRIMENTO. As regras que regulam o lugar onde deve ser realizada
a prestação são supletivas [arts. 772ºss], cedendo perante estipulação contrária das partes e
disposições especiais, previstas ao longo do CC [vg art. 885º- o lugar do pagamento do preço é
• Obrigações de colocação:
813º].
• Obrigações de entrega:
• Obrigações de envio:
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
resultado da mesma.
1ª parte], seja por convenção expressa ou tácita [art. 217º]. Exemplo: resulta da própria
natureza da prestação que o lugar do cumprimento da prestação de pintar uma casa seja
Na falta de convenção das partes, a regra geral é que o cumprimento seja realizado
Se, por outro lado, a obrigação tiver por objecto a entrega de uma coisa móvel, a
regra é a de que a obrigação seja cumprida no lugar onde a coisa se encontrava ao tempo da
conclusão do negócio, seja essa coisa determinada [art. 773º-1] ou genérica [nº2]. Ainda
assim, a obrigação é de colocação, uma vez que o credor deve ainda deslocar-se.
deve ser cumprida no domicílio que o credor tiver ao tempo do cumprimento [art. 774º] –
do local de cumprimento, sempre que a parte lesada sofra prejuízos com essa alteração:
124
Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
contraprestação.
à obrigação, a obrigação não se considera extinta, devendo a prestação ser realizada noutro
legal consagrada no art. 776º. Se, ainda assim, permanecer alguma lacuna
do art. 239º.
prestada não chegue para as extinguir a todas, ao devedor cabe a faculdade de imputação do
cumprimento, i.e., a escolha das dívidas a que o cumprimento se refere [art. 783º-1]. Esta
parte].
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
Caso o devedor não efectue a designação, cabe aplicação das regras supletivas do art.
devedor, uma vez que o cumprimento constitui um facto extintivo do direito do credor que
deve ser demonstrado pela parte contra quem o crédito é invocado [art. 342º-2].
Todavia, o cumprimento não pode ser provado mediante prova testemunhal [art.
395º], pelo que se recomenda que o autor do cumprimento exija do credor uma declaração
escrita [quitação ou recibo, quando conste de documento avulso] de que recebeu a prestação
presuntivas].
cumprimento, a nossa lei consagrou expressamente [art. 762º-1] a teoria da realização real da
prestação, defendida por LARENZ, nos termos da qual será suficiente, para o cumprimento, a
prestação devida.
Rejeita-se, assim, qualquer carácter negocial ao cumprimento, uma vez que se trata
de um simples acto devido, de cariz real ou material. Refere GALVÃO TELLES que no
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
cumprimento não se inova, mas somente se executa: acto real de liquidação, que não exige
[arts. 837ºss] consiste numa causa de extinção das obrigações através da prestação de coisa
diversa da que era devida, ainda que de valor superior, com assentimento do credor.
está vinculado, pelo que não cabe exoneração, nos termos do art.
originariamente vinculado.
art. 408º-1].
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
activa, respectivamente.
por um dos condevedores determina a extinção da obrigação para com os restantes. O mesmo
se diga quanto à solidariedade activa [extinção da obrigação do devedor para com todos os
credores].
Se a dívida a extinguir não existia, cabe a repetição do indevido, nos termos gerais
obrigacional primitiva continua a subsistir, salvo verificação de facto extintivo autónomo [vg
prescrição]. Se a causa de invalidade for imputável ao credor [vg simulação, dolo ou coacção]
execução de uma prestação diversa da devida, para que o credor proceda à realização do
valor dela e, com isso, obtenha a satisfação do seu crédito [através da transformação em
do cumprimento da dívida].
128
Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
• Dação em cumprimento:
exoneração do devedor.
Conclui-se: a datio pro solvendo consiste num mandato conferido pelo devedor ao
credor para proceder à liquidação da prestação realizada. Não poderá ser revogado pelo
coisa de extinguir a obrigação através do depósito judicial da coisa devida, sempre que não
possa realizar a prestação com segurança por qualquer motivo relacionado com a pessoa do
Com efeito, não é justo que, nestes casos, o devedor fique indefinidamente vinculado
ao cumprimento. Considera-se que o credor não presta a colaboração necessária para esse
pecuniária]:
129
Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
credor:
credor
consignatário
130
Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
846º].
a qual, quando duas pessoas estejam reciprocamente obrigadas a entregar coisas fungíveis da
parcialmente, pela dispensa de ambas de realizar as suas prestações [ficando “quites”: € 500
- € 500 = 0] ou pela dedução a uma das prestações daquela devida pela contraparte [arts.
ambos os devedores.
o Cada uma das partes tem que possuir um crédito contra a outra
ser invocados créditos sobre outras pessoas, ainda que ligadas por
449º].
género:
mesma mercadoria.
131
Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
coactiva da prestação.
• Créditos impenhoráveis
BGB, exigindo-se, como condição de eficácia da compensação, uma declaração da parte que a
pretende [art. 848º], contrariamente, pois, aos sistemas francês, italiano e espanhol:
compensação automática, que opera de direito [ope legis] e sem necessidade de qualquer
carece de ser invocada por uma das partes, mediante declaração judicial ou extrajudicial. No
entanto, uma vez feita essa declaração, os créditos consideram-se extintos desde o momento
relevante para a extinção da obrigação. Assim, se após essa data um dos créditos for cedido a
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
853º-2, a contrario].
A declaração de compensação é ineficaz se for feita sob condição ou termo [art. 848º-
necessário que se trate de créditos recíprocos, exigíveis ou que tenham por objecto
prestações homogéneas. Também é admitida face a créditos por factos ilícitos dolosos, do
Estado ou de outras pessoas colectivas públicas, mas não face a créditos impenhoráveis [art.
obrigações através da constituição de uma nova obrigação, que substitui a primeira [arts.
857º ss]. Constitui-se, assim, um novo vínculo, embora o facto jurídico que desencadeia a
extinção da obrigação antiga seja simultaneamente o facto jurídico que constitui a nova
obrigação. Dessa extinção resulta uma dependência da causa jurídica do facto extintivo em
relação ao facto constitutivo da nova obrigação, e vice versa: por outras palavras, a antiga
obrigação só se extingue porque veio a ser constituída uma nova, e a nova obrigação só se
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
antigo.
pelo credor.
• Pressupostos comuns:
859º]:
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
860º-2].
relativas à obrigação antiga [art. 861º], uma vez que a garantia é sempre concedida tendo em
atenção uma concreta obrigação. As garantias poderão ser reservadas para a nova obrigação,
acontece na transmissão das obrigações [transmissão das excepções, arts. 585º e 598º]. Aqui,
respeitavam. Será admissível, uma vez mais, quando expressamente estipulado pelas partes.
dívidas. Com efeito, a não consagração da novação, aquando dos trabalhos preparatórios do
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
direito de crédito, pelo credor, contra o devedor, com o acordo deste, determinando a
extinção da dívida sem a realização da prestação [arts. 863º ss]. Por outras palavras, a
remissão consiste no acordo entre o credor e o devedor pelo qual o credor prescinde de
efeitos práticos.
• Razões de amizade.
se visou extinguir.
obrigação.
• Contrato entre credor e devedor pelo qual aquele abdica de receber deste
a prestação devida:
ela responder.
136
Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
[novação].
relação às restantes.
o Regime da solidariedade:
137
Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
865º-2].
crédito.
§6: CONFUSÃO. A confusão é a última causa de extinção das obrigações regulada pelo
consequência da reunião, na mesma pessoa, das qualidades de credor e devedor. Com efeito,
a obrigação pressupõe a alteridade dos sujeitos que estão na posição de credor e de devedor,
pelo que quando essa alteridade não se verifica, deixa de haver necessidade jurídica de
manter a obrigação.
Exemplos:
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
• Não há alteridade se uma sociedade vir a ser objecto de fusão com outra,
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
crédito [vg sinal, cláusula penal e obrigações de juros], bem como de todas as garantias que
privilégio e direito de retenção], quer as garantias sejam prestadas pelo devedor ou por
terceiro.
relação a terceiro [art. 873º-1], mas não quanto às garantias prestadas por terceiros [a
extinção das garantias mantém-se], por razões de tutela da confiança [art. 873º-2].
distinguir:
• Regime da solidariedade:
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
causa não imputável ao devedor quando o próprio objecto do cumprimento seja impossível
Com efeito, não se pode cumprir aquilo que é, per se, impossível.
cumprimento determina a nulidade do negócio jurídico, nos termos do art. 401º-1, sem mais.
relativamente à pessoa do devedor [nº3], uma vez que não se trata de uma hipótese de
impossibilidade, mas sim de incumprimento. Por outro lado, também não é nulo o negócio
que as partes celebraram na expectativa de a prestação vir a ser possível [nº2] – vg venda de
bens futuros.
Por outras palavras, e reformulando, é nulo o negócio jurídico cuja prestação seja
das coisas [vg inexistência – compra e venda de cavalo que havia perecido
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
lei].
negocial.
mas antes o seu incumprimento [cfr. exemplo da venda de cavalo que perece depois de
vez que a impossibilidade originária tem maior relevância em sede da Teoria Geral do Direito
Civil.
• Imputável ao credor
• Imputável a terceiro
• Não imputável
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
Segundo o commodum de representação [art. 794º], o credor é tutelado por duas vias
alternativas:
• O credor exige que o devedor lhe preste a coisa cujo direito adquiriu por
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
seguinte distinção:
Risco da prestação: é regra geral suportado pelo credor, com a reserva dos
Risco da coisa [art. 796º]: cfr. supra, contratos reais e âmbito do art. 408º.
§9: MORA DO CREDOR. Há mora do credor quando este não aceita a prestação ou não
colabora na aceitação da mesma [arts. 813º ss]. Ainda que lhe seja imputável, tal não
A obrigação mantém-se e assiste-se a uma inversão do risco [art. 815º], com direito
Prazo admonitório.
§1: NÃO CUMPRIMENTO. O devedor [solvens] terá que realizar a prestação nos
seguintes termos:
Nos termos impostos pela boa fé [art. 762º-2], sem que a sua actuação cause
prejuízos ao credor.
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
não realize qualquer prestação, estar-se-á perante uma situação de não cumprimento do
dever obrigacional.
As regras constantes dos arts. 798ºss [não cumprimento culposo] são aplicáveis, em
prestações. Com efeito, nestes casos o não cumprimento reconduz-se normalmente apenas a
periódica ou continuada. Nesses casos, cumpre aferir se houve ou não uma quebra na relação
Em caso de não cumprimento culposo [arts. 798º ss] presume-se a culpa do devedor,
ainda que apreciada nos termos gerais – em abstracto, pela diligência do bom pai de família
princípio da culpa, uma vez que a responsabilidade civil é, em regra, subjectiva [arts. 483º-2
contrato, vg. A natureza unitária da responsabilidade civil, enquanto um todo, tem tido ecos
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
civil comuns a ambas as responsabilidades [arts. 483º ss]. A consequência é comum: obrigação
laedere, ainda que com concretizações especiais que, como em todas as relações de
especialidade, não pretendem afastar as regras gerais nem advêm de criação doutrinária ou
jurisprudencial:
civil as situações em que não existe um direito primário de crédito, por meio do qual alguém
primária, através da acção de cumprimento, mas instituem deveres que constituem um plus
essas fontes de obrigações não se enquadrarem em previsões legais, não podem ser uma
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
válido, vg].
Segurança e protecção
contratual.
arrendamento].
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
Sendo que supra concluímos que a distinção não é indispensável, não podemos,
responsabilidade civil [art. 483º-1], através da violação de deveres de protecção que não se
perímetro contratual. Ressalve-se as diferenças de regime [vg art. 500º vs art. 800º].
idêntica. A inclusão de deveres desse tipo seria desnecessária, segundo ROMANO MARTINEZ,
já que os deveres acessórios do contrato decorrem das regras gerais da responsabilidade civil.
Fundar a responsabilidade por violação de direitos absolutos no negócio jurídico criaria uma
extra-contratual.
148
Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
Esta teoria, apesar das críticas supra, é coerente com a relação de interacção entre
obrigação, mesmo que por actividades laterais, provocando prejuízos na pessoa e no restante
produtor o DL que a consagra aplica as regras delituais, o mesmo critério pode ser
responsabilidade extra-contratual.
gás].
demais].
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
o Custos contratuais
o Lucros cessantes
usá-la
Quando se assista simultaneamente a danos extra rem e circa rem, o credor tem
contratual e obrigacional]. Todavia, as regras que regem a indemnização são comuns às duas
responsabilidades [art. 562º ss], ainda que o fundamento de direito seja diverso. Ainda assim,
segundo ROMANO MARTINEZ. Levada ao limite, o filho do dono da obra não poderia
150
Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
Para evitar que o lesado seja menos protegido na hipótese de ter celebrado um
opção]. ROMANO MARTINEZ conclui pela superação da rigidez dos conceitos jurídicos da
Conclusão:
absolutos] quando:
existente.
o Exemplos:
o motor, vg.
o Não basta que o prejuízo tenha sido causado por um facto ilícito
aquiliano.
devedor, o credor pode reagir executando os bens do seu património ou de terceiro garante.
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
ss.
• Exija uma sanção pecuniária compulsória [art. 829º-A], caso se trate de uma
§3: EXCEPÇÃO DE NÃO CUMPRIMENTO. Uma das partes pode recusar a sua prestação
se a contraparte não tiver cumprido [arts. 428º ss], em casos de mora ou de cumprimento
defeituoso.
Pressupõe:
não cumprimento.
cumprimento defeituoso da prestação de uma das partes permite que a contraparte resolva o
152
Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
contrato [art. 801º] – condição resolutiva tácita, uma vez que se pressupõe que as partes,
incumprimento:
798ºss].
• Mora do devedor
• Incumprimento definitivo
153
Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
• Cumprimento defeituoso
§2: MORA DO DEVEDOR. Se o devedor, por causa que lhe é imputável, não efectuou o
cumprimento na data do vencimento, podendo realizá-lo mais tarde [porque é ainda possível
ou porque continua a satisfazer o interesse do credor, que ainda subsiste, arts. 804º-2 e 808º-
1], encontrar-se-á numa situação de mora: falta temporária de cumprimento [arts. 804ºss].
Não haverá mora solvendi se a causa do retardamento não for imputável ao devedor:
799º-1].
A mora tem início com o vencimento da prestação, o qual pode advir [art. 805º]:
2b].
Enquanto o crédito for ilíquido, o devedor não se constitui em mora [art. 805º-3],
Segundo ROMANO MARTINEZ, a mora deve ser qualificada como uma falta temporal
do cumprimento, e não como um defeito temporal do cumprimento, expressão que poderá ser
[retardamento da prestação] mas, enquanto houver essa mora, não se poderá falar em
154
Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
A mora pode respeitar tanto à prestação principal, como às prestações acessórias [vg
• Dever de indemnizar o credor, nos termos gerais [arts. 804º-1 e 562º ss]:
garantia real].
deveria entregar.
indemnização moratória.
que a prestação não tenha sido cumprida e já não possa vir a sê-lo posteriormente.
155
Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
dano e nexo de causalidade adequada], o devedor terá que indemnizar o credor por não ter
obrigacional
e de execução específica.
admonitório.
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
radicem]
o Funções da indemnização:
preço.
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
o Possibilidade de:
não efectuou.
subsídio ou seguro].
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
§4: CUMPRIMENTO DEFEITUOSO. Ainda que o legislador tenha sido omisso quanto a
este tipo de inadimplemento [salvo breve referência no art.799º-1 e indícios no art. 798º -
Por outras palavras, se o credor não fica satisfeito, o devedor não é liberado da sua
exige o remanescente]
substituição]
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
consagrada na lei
prestação.
pelo devedor.
• O defeito é relevante:
– art. 762º-2.
definitivo ou de mora.
160
Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
preço].
efectuada tardiamente [arts. 804º ss] e quando a falta de quantidade não afecte a totalidade
interesse do credor].
defeituoso, poder-se-ia defender que este seria um tipo de incumprimento parcial, seja ele
Não segundo ROMANO MARTINEZ, uma vez que a satisfação parcial do interesse do credor
nem sempre se verifica e, mesmo que tal suceda, os meios de que dispõe o credor [exigência
da eliminação dos defeitos, vg] excedem os meios legalmente previstos para as hipóteses de
definitivo parcial e a mora parcial pressupõem que o credor só haja aceite uma parte da
cumprimento defeituoso.
mora:
tal ordem que o credor não tenha qualquer interesse na prestação recebida e
tarde.
alguns contratos [vg quanto à compra e venda - arts. 905º ss e 913º ss - e empreitada - arts.
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sensu
• Se o defeito não for eliminável, o credor pode exigir que a prestação seja
substituída.
pode invocar a excepção do não cumprimento [arts. 428º ss] e recusar a sua
• Para além disso, o credor tem o direito à indemnização por todos os danos
pode ser agravada por facto de outrem, seja por culpa in eligendo, in instruendo ou in
vigilando.
imputável a terceiro, a quem encarregara e executar a prestação a que estava adstrito [art.
800º, sem culpa]. Mesmo tendo o devedor agido com diligência, in eligendo, in instruendo ou
in vigilando do auxiliar, é responsável pela actuação deste, uma vez que o devedor retira
benefícios da actuação de terceiros e deve suportar os prejuízos inerentes [ubi commoda ibi
incommoda]. Por fim, o credor deverá ficar em situação idêntica à que estaria se a prestação
tivesse sido cumprida, na totalidade, pelo devedor, tendo o direito de exigir um cumprimento
diligente deste.
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Direito das Obrigações II - Lara Geraldes @ FDL
o Liberdade contratual
agravamento.
parque de estacionamento].
• Cláusula penal:
Garantia Geral
coercibilidade.
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A garantia geral incide sobre todos os bens que integram o património do devedor,
responsabilidade, nos termos do art. 602º]. Contrapõe-se, assim, às garantias especiais, que
incidem sobre bens certos e determinados do património do devedor. A garantia geral não
penhora [art. 601º], i.e., aqueles que constam dos arts. 821º ss CPC.
Importa ainda aferir a que título o devedor detém os bens no seu património: se for
proprietário, os bens respondem na totalidade; se for titular de um direito real menor [vg
usufrutuário] ou de um direito pessoal de gozo [vg arrendatário] cumpre apreciar caso a caso:
para saldar todas as dívidas, proceder-se-á ao rateio [art. 604º]: os vários credores,
através do património do devedor [aquele a quem era devida maior quantia irá receber uma
garantias de cumprimento, ditas especiais, que têm, na verdade, uma eficácia meramente
obrigacional, pelo que apenas produzem efeitos inter partes. Estas garantias são aparentes
porque nada acrescentam à garantia geral, nem podem ser apostas por um dos credores aos
Exemplos:
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• Negative pledge
• Declaração de nulidade
• Impugnação pauliana
• Arresto
permite que o credor exerça contra terceiros direitos do devedor [arts. 606º ss].
§3: IMPUGNAÇÃO PAULIANA. Através da impugnação pauliana [arts. 610º ss] o credor
pelo devedor para o prejudicar. Destes actos excluem-se aqueles de natureza pessoal [vg
Esta acção desvia-se do princípio geral da responsabilidade patrimonial, uma vez que
destrói a barreira que se interpõe entre o direito de execução dos credores e os bens
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gratuita
§4: ARRESTO. O arresto [arts. 619º ss] designa a apreensão judicial de bens do
§1: NOÇÃO. A cessão de bens aos credores é um contrato mediante o qual o devedor
devedor.
§2: REGIME. A cessão de bens não é oponível aos credores com créditos anteriores à
celebração do negócio, que não tenham nela participado [art. 833º]. Esta figura não funciona,
pois, como uma garantia especial [cfr. infra], na medida em que os credores cessionários não
adquirem qualquer preferência sobre os bens cedidos em caso de concurso com outros
distinguir:
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credores [art. 832º-2]; se a cessão não tiver sido registada, o direito desses
Os credores relativamente aos quais a cessão de bens seja oponível não podem
executar a parte do património do devedor que tenha sido cedida [art. 833º, 2ª parte].
Não há, contudo, qualquer transferência da propriedade dos bens, mas sim a
especificidades.
Feita a liquidação, o devedor fica liberado das suas dívidas perante os credores
[art. 835º]. Se, diversamente, for insuficiente o produto recebido, os créditos mantêm-se na
Garantias Especiais
§1: GARANTIAS ESPECIAIS. Através das garantias especiais, a lei permite que o
credor, por via negocial, se coloque numa situação privilegiada em relação aos demais
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é havido como penhor [arts. 623º-1 e 666º-2], facto que justifica a qualificação da caução em
• Fiança:
alheia.
o Características da fiança:
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• Declaração expressa
principal
• Subfiança ou abonação:
630º].
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• Retrofiança:
• Mandato de crédito:
[art. 629º-1], e o fizer exigindo que seja realizado por sua conta,
nome próprio.
mandatário [mutuante].
to de crédito tem como fonte directa a lei e não a vontade das partes
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[art. 629º-2].
• Seguro de crédito:
obrigação.
• Aval:
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São mais eficientes que as garantias pessoais na medida em que reduzem o risco, uma
vez que o credor é pago, preferencialmente, pelo valor de determinados bens. Todavia, são
As garantias reais associam-se normalmente aos direitos reais de garantia. Por vezes,
todavia, o titular exerce um poder directo e absoluto sobre determinada coisa corpórea [vg
na hipoteca], uma vez que lhe é conferido o direito de requerer a sua venda judicial.
Para mais, só se podem qualificar como direitos reais as garantias que incidam sobre
coisas e não aquelas que recaiam sobre direitos [vg penhor de direitos, arts. 679º ss].
sujeitos a registo.
com a dação pro solvendo [art. 840º-1], uma vez que confere ao
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• Penhor:
• Hipoteca:
Legal
Judicial
Voluntária
o Recai sobre direitos reais que não a propriedade [vg usufruto, direito
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o Não há direitos sobre direitos, pelo que a hipoteca terá por objecto
integrantes do bem.
• Privilégios creditórios:
atribuição.
• Direito de retenção:
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