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Texto I - Conceitos e Fundamentos Da Sociologia

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CONCEITO E FUNDAMENTOS DA SOCIOLOGIA

Profa. Mariluce Santiago


1
CONTEXTO HISTÓRICO DA SOCIOLOGIA

O
Século XVIII representou um marco significativo para a sociedade
moderna e conseqüentemente para a formação e o desenvolvimento
da Sociologia. As profundas transformações na esfera social,
política, econômica e cultural que vieram no bojo da Revolução Industrial, e
que se aceleraram por todo este período, representaram sérios problemas para
o convívio dos homens em sociedade.

O que foi a Revolução Industrial?

O termo Revolução Industrial é usado para caracterizar uma fase


da história em que o trabalho manual é substituído por máquinas.
Até então, o trabalho era braçal, com ferramentas manuais e
produção em pequena escala.
O que possibilitou a produção industrial foi, em síntese, a energia
a vapor. Máquinas a vapor, movidas pelo carvão, possibilitaram
grande avanço tecnológico, com ganhos na produção em escala
cada vez maior.

O que resultou dessa mudança?


 Surgimento de novas e poderosas indústrias e maiores lucros.
 Mudanças sociais, novos costumes.
 Deslocamento das pessoas do campo para as cidades.
Daí o nome Revolução, pois a vida das pessoas foi profundamente alterada. Infelizmente, junto
com o desenvolvimento por ela trazido, veio também a exploração dos operários, vida urbana
desordenada, doenças, jornadas de trabalho massacrantes, entre outros.
A Inglaterra foi pioneira na Revolução Industrial. Suas minas de carvão, sua frota naval, bem
como sua excelente rede ferroviária, deram aos ingleses a dianteira neste novo mundo movido
a vapor.

Os fatos que serviram como pano de fundo para a formação da Sociologia


podem ser assim resumidos:

1. Burguesia X Sociedade: quando a burguesia ganhou espaço político,


estabeleceu como projeto contribuir para a formação de uma sociedade
fincada nos princípios de Igualdade e Liberdade. Porém, esses
princípios foram logo substituídos por uma forma conservadora de

Profa. Mariluce Santiago


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administrar, utilizando-se da ideologia e dos instrumentos de repressão
do Estado para assegurar a sua dominação.

IDEOLOGIA – conjunto de idéias que dissimulam a realidade, porque mostram as coisas


de forma apenas parcial ou distorcida em relação ao que realmente são.

O que a ideologia tenta esconder?


O domínio de uma classe social sobre outra, por exemplo. Seu objetivo seria evitar um
conflito aberto entre opressores e oprimidos.

COTRIM, 2006

2. A formação dos Monopólios: o desenvolvimento do capitalismo pôs em


cheque um dos seus princípios fundamentais: a livre concorrência, negada
pelo surgimento dos monopólios e oligopólios. Formaram-se grandes
conglomerados econômicos, que regulavam os mercados, determinando o que
produzir, quando produzir e para quem ofertar.

Em Fo co
Monopólio: uma grande empresa que domina sozinha o fornecimento de determinado
produto, isto é, ausência de concorrência.

Oligopólio: um pequeno número de grandes empresas se une para controlar o mercado,


ditando as normas sobre produtos e serviços..

3. As guerras: as potências emergentes entram em conflitos para garantir


maior participação na exploração dos países do novo mundo.

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4. A organização dos trabalhadores: No modo de produção feudal, os
trabalhadores eram responsáveis por todo o processo de fabricação do
produto, desde a seleção da matéria-prima até o produto final. A Revolução
Industrial representou uma significativa mudança para os trabalhadores,
separando-os dos meios de produção, agora na mão dos donos da fábrica. Ao
trabalhador restava vender sua força de trabalho em troca de salário. Porém,
eram submetidos à jornada de trabalho massacrante, em alguns casos
superiores a 15 horas por dia, em fábricas que nem janelas possuíam,
contribuindo para a disseminação de doenças,  que colocavam em risco a vida
dos trabalhadores. Não tinham descanso semanal, sem falar em férias ou outro
tipo de benefício. Essa rotina de trabalho levou muitos trabalhadores a se
revoltarem contra as máquinas e as fabricas, fazendo eclodir diversos
movimentos operários que lutavam por melhores condições de trabalho.

Em Fo co
Dois Movimentos que marcaram a época:

Ludita - (1811) – Depois da Revolução Industrial iniciada na Inglaterra, os trabalhadores eram


submetidos a condições degradantes de trabalho. E ainda havia a exigência de produzir em
grande escala, para aumentar o lucro dos donos das indústrias. Como os operários não tinham
especialização, os patrões os substituíam por maquinas, que produziam mais em menos
tempo. Isso revolta os operários, que reunidos em grupos, passam a invadir as fábricas e
quebrar as máquinas industriais, responsabilizando-as pela diminuição de ofertas de emprego.
Esse movimento ficou conhecido como Ludismo ou Ludita devido supor-se que um dos seus
organizadores tenha sido um operário de nome Ned Ludd. Os manifestantes não tiveram vida
fácil, visto que sofreram uma violenta repressão, muitos foram condenados à prisão, outros
tanto à deportação e até mesmo à morte por enforcamento.

Cartista (1830) – movimento popular que reivindicava reformas trabalhistas, diminuição da


jornada de trabalho, regulamentação do trabalho feminino, extinção do trabalho infantil,
descanso semanal e salário mínimo; e direitos políticos, visto que o trabalhador não podia
votar. Recebeu este nome porque os operários escreviam cartas para os políticos cobrando
direitos e benefícios. O cartismo desapareceu sem lograr praticamente nada exceto a lei que
limitou a jornada de trabalho em 10 horas.

5. As revoluções socialistas: a resposta aos abusos do capitalismo industrial


e a situação de abandono dos trabalhadores frente aos patrões deu lugar ao
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desenvolvimento das primeiras teorias socialistas que tentavam fazer frente a
esta situação. Nascem os primeiros socialistas. Estes denunciavam a
exploração e a miséria sofridas pelos operários, criticavam o sistema capitalista
baseado na propriedade privada, a competitividade e a ânsia ilimitada de
beneficio somente para os patrões. Planejavam substituir o capitalismo por um
sistema de organização social, baseado na produção de forma coletiva e
distribuição de renda igualmente repartida.
Todos esses acontecimentos abalaram profundamente a confiança na
sociedade burguesa como sendo capaz de construir as bases para uma
sociedade justa, com oportunidades iguais para todos.
A sociedade, quando da ascensão da burguesia ao poder e da Revolução
Industrial, pensava que a vida deveria ser melhor para a maioria da população
da Inglaterra, berço da industrialização. Contavam que os avanços científicos e
tecnológicos que alavancaram o desenvolvimento da burguesia gerassem
oportunidades, maior acesso aos bens de consumo, liberação gradativa de
costumes, ampliação da oferta de educação. No entanto, o que se viu crescer
foram as mazelas sociais: miséria, fome, doenças, exclusão social,
desigualdade, entre outros.
O que realmente ocorreu foi apenas a mudança do foco da exploração, que
antes estava a cargo do senhor feudal e agora se concentrava no industrial
burguês. Assim é que, desde o início da industrialização na Inglaterra a
população, em sua maioria vinda do campo, tornou-se objeto de exploração
pela nova elite burguesa que enriqueceu com o comércio em larga escala, a
produção industrial, a acumulação financeira. O capitalismo, que substituiu o
sistema feudal, não trouxe tantas vantagens à maioria da sociedade, mas
somente os poucos proprietários dos meios de produção. O salário pago aos
trabalhadores não correspondia às suas necessidades básicas, além da
exploração do trabalho infantil e das mulheres.

O que foi o Feudalismo?

O feudalismo é um sistema econômico, político e social típico de sociedades


agrárias, caracterizado pela propriedade da terra, nas mãos do senhor
feudal, que cedia aos vassalos, ou servos, em troca de serviços e impostos.

Profa. Mariluce Santiago


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Marx (1988) destacou em um dos vários trechos sobre o trabalho das crianças
na época da Revolução:

[...] milhares de braços tornaram-se de súbito necessários. [...] Procuravam-se


principalmente pelos pequenos e ágeis. [...] Muitos, milhares desses pequenos seres
infelizes, de sete a treze ou quatorze anos foram despachados para o norte. O costume era
o mestre (o ladrão de crianças) vesti-los, alimentá-los e alojá-los na casa de aprendizes
junto à fábrica. Foram designados supervisores para lhes vigiar o trabalho. [...] Os lucros dos
fabricantes eram enormes, mais isso apenas aguçava-lhes a voracidade lupina. Começaram
então a prática do trabalho noturno, revezando, sem solução de continuidade, a turma do dia
pelo da noite. O grupo diurno ia se estender nas camas ainda quentes que o grupo noturno
ainda
Como acabara
vimos, parade deixar,
fazer e vice
frente e versa.
a essa Todo mundo
situação, diz em Lancashire
os trabalhadores que as camas
organizaram-
nunca esfriam.
se, criando os sindicatos para, coletivamente, reivindicar seus direitos
trabalhistas e sociais. Manifestações diversas foram freqüentes na Inglaterra e
na França. Essa sociedade em efervescência, marcada por profundas
transformações na economia, por uma nova ordem política, pelas
reivindicações dos trabalhadores assalariados, por uma crença na razão
instrumental e experimental como fundamento para o desenvolvimento das
ciências e por conseqüência, da produção e das sociedades capitalistas, gerou
os ambientes propícios para pensadores procurarem caminhos, por vezes
divergentes, para uma reflexão sobre a realidade social, na tentativa de
entender e explicar seus fundamentos.
Assim, Tomazzi (2000), afirma que

(...) no século XIX, a consolidação do sistema capitalista na Europa irá fornecer os


elementos que servirão de base para o surgimento da Sociologia como ciência particular.

Ao mesmo tempo em que novas fontes de energia, como eletricidade e


petróleo, alteram os processos produtivos e as relações de trabalho, elas
também tornam mais latentes as contradições entre burguesia e operariado: de
um lado a concentração de riqueza cada vez maior e de outro, o aumento da
miséria e do desemprego.
Essa contradição criou o clima perfeito para o surgimento de novas idéias e
teorias, defendidas por estudiosos com visões bem diferentes do mesmo
fenômeno.

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No início desse século, o pensamento de Saint-Simon (1760-1830), de G.W.E. Hegel
(1770 – 1830) e de David Ricardo (1772-1823), entre outros, será o elo para que
Augusto Comte (1798-1857) e Karl Marx (1818-1883) desenvolvam suas reflexões
sobre a sociedade, de maneiras radicalmente diferentes.
Tomazi (2000)

Esses dois estudiosos focaram suas lentes para um mesmo ponto: a


compreensão objetiva ou cientifica dos fenômenos sociais, só que com
pensamentos e métodos diferenciados, para não dizer, opostos. Grosso modo,
podemos afirmar que um olhava sob a ótica dos operários e outro sob a ótica
da burguesia. Este assunto será melhor detalhado ao longo do texto.
A Sociologia tem como objeto a analise do homem, não individualmente, mas
como parte de uma sociedade, por isso também se preocupa com o meio e
suas interações sociais.
Coube ao filósofo francês Augusto Comte, na primeira metade do século XIX,
estudar a sociedade de forma objetiva, baseando-se nas ciências naturais: é o
início da Sociologia como ciência.
A Sociologia surge no bojo de uma series de outras mudanças que estavam
afetando o homem moderno. Nesse período, surgem contribuições importantes
sobre a política, a economia, o direito, que incentivam novos estudos nas
diversas áreas. Mas a sociedade e suas contradições, o individuo e suas
relações com o meio, ainda era pouco estudado, compreendido. É com este
papel que se formula a base para a Sociologia, como veremos a seguir.

ORIGEM E IMPORTÂNCIA DA SOCIOLOGIA

A
Sociologia nasceu da contradição: por um lado foi considerada uma
ferramenta a serviço dos interesses dos grupos dominantes, uma
forma de fazer o homem aceitar e acomodar-se às mudanças e
valores burgueses. Por outro lado, representou a expressão dos movimentos

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revolucionários, que encontraram nos seus pressupostos a maneira de
comunicar e defender suas idéias e valores mais progressistas.
Portanto, a Sociologia pode ser entendida como a expressão ideário moderno.
Sua origem se dá num contexto histórico, a desagregação da sociedade feudal
e da consolidação da civilização capitalista.
Por sua visão contraditória, teve seu período “negro” nas escolas e
universidades da América do Sul, incluindo o Brasil na época da ditadura,
sendo acusada de ser “revolucionária” e um disfarce para o “comunismo”.
Apenas em 2006 ela tem seu retorno autorizado nas escolas do nosso País.
Mas, como podemos conceituar a sociologia?
Historicamente, a Sociologia é o estudo objetivo das relações que se
estabelecem, conscientes ou inconscientemente, entre pessoas que vivem
numa comunidade ou num grupo social, ou entre grupos sociais diferentes que
vivem no seio de uma sociedade mais ampla. Em outras palavras, é uma
ferramenta produzida para investigar e explicar a vida social. É resultado da
tentativa de compreender as situações e as contradições sociais que se
formaram no seio da sociedade capitalista.

2.1 A ORIGEM

Algumas das questões que fazem parte da preocupação dos sociólogos


contemporâneos, na verdade, não são assim tão novas. Questões do tipo o
que predomina na vida em sociedade? O homem? O grupo? Por que o
homem busca a vida em sociedade? Esses questionamentos estão
presentes no nosso imaginário desde que passamos a olhar o mundo e a
reconhecer que não estávamos mais sozinhos. Porém, somente a partir do
estreitamento das contradições da sociedade capitalista, principalmente por
ocasião da Revolução Industrial, como vimos antes, é que se voltou mais
atentamente o foco para o homem e suas relações. Veja que a vida do homem
em sociedade foi profundamente alterada. As transformações estavam por todo
lado: economia, família, quadro político, o poder se desenhando na mão da
burguesia, enfim, o homem estava no centro do mundo, sentindo-se capaz e
impotente ao mesmo. Capaz de sonhar em construir um mundo novo, mas
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impotente com as condições efetivas de mudança, visto que nem tudo estava
assim tão bom para a maioria da população. Então, não é difícil imaginar como
essas mudanças estavam afetando as pessoas, deixando-as receosas e
inseguras com a nova ordem que se estabelecia e começaram a pensar mais
drasticamente sobre como seria o futuro das pessoas, da sociedade e das
instituições. Assim, a tentativa de encontrar uma resposta para esta questão é
que deu o pontapé inicial para as chamadas ciências sociais, da qual a
sociologia faz parte.
Como vimos, a Sociologia tem sua base formada no século XIX, a partir das
grandes transformações econômicas, sócio-culturais e políticas, resultado da
revolução industrial em franca expansão, particularmente na Europa.
Não foram poucos os pensadores que se dedicaram a entender os graves
problemas que surgiram em conseqüências dessas transformações e propor
soluções. No centro das preocupações dos intelectuais da época estavam as
condições degradantes de trabalho, a exploração da mão de obra infantil, a
violência, a miséria, as condições de higiene e saúde. Também as estruturas
de poder que se formavam, privilegiando a burguesia emergente e
desconsiderando os anseios e preocupações da grande massa dos
trabalhadores, abandonados a própria sorte.
É neste cenário, entre os séculos XVIII e XIX, que nasce a Sociologia. O
primeiro a usar o termo Sociologia foi Augusto Comte (1798-1857), para
designar um corpo de idéias voltado a compreender o social com tanta
objetividade ou positividade quanto a matemática ou a física. A preocupação de
Comte era estudar o universo, não o físico, mas o universo social, usando a
base das ciências naturais: física, matemática e biologia. Por isso, ele ter
chegado ao nome de Física Social, mas acabou adotando o termo Sociologia.

As múltiplas controvérsias entre os sociólogos praticamente desaparecem quando se trata


de determinar a “paternidade” da sua disciplina. Quase todos eles concordam que a
Sociologia começa com a obra de Augusto Comte (1798 – 1857). Além de cunhar o
nome da nova ciência, foi de Comte a primeira tentativa de definir-lhe o objeto, seus
métodos e problemas fundamentais; bem como a primeira tentativa de determinar-
lhe a posição no conjunto das ciências.

(GALLIANO, 1981, p.30)

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No momento em que Comte concebe a disciplina Sociologia era patente a
contradição no seio da Sociedade: de um lado a burguesia, seu poder e
privilégios; de outro lado, a grande massa, o povo, explorado e sem poder, mas
que estava dando os primeiros passos para organizar-se politicamente, por
meio de Sindicatos e Associações de Classe.
Então, a discussão fundamental que se apresentava para a Sociologia era a
seguinte: como fazer essa sociedade dividida, em conflito, complexa, em
expansão e dinâmica, aceitar os valores e a ordem que a burguesia queria
estabelecer?
A resposta que Comte buscou foi tentar encontrar princípios unificadores, que
fossem considerados objetivos e universais. Para isso a Sociologia teria que se
livrar de concepções dogmáticas, religiosas e de idéias pré-concebidas,
passando a elaborar um sistema de conhecimentos baseado em fatos. Para
Comte,

Não pode haver qualquer conhecimento real senão aquele baseado em fatos
observáveis.

Mas como fazer as classes sociais em conflito aceitar a Sociologia como algo
que fosse bom para as duas? O caminho que Comte utilizou para fazer com
que a sociologia parecesse legítima foi postular a lei dos três estados, na
qual o conhecimento está sujeito, em sua evolução, a passar por três
estados diferentes. Segundo Cotrim (2006), os três estados podem ser assim
definidos:

Estado Teológico ou Fictício – estágio que representaria o ponto de partida da inteligência humana,
no qual os fenômenos do mundo são vistos como produzidos por seres sobrenaturais, religião e Deus.

Estado Metafísico ou abstrato – estágio em que a influência dos seres sobrenaturais do estágio
anterior é substituída pela ação de forças consideradas como representantes dos seres do mundo.

Estado Científico ou Positivo – estágio definitivo da evolução racional da humanidade em que, pelo
uso combinado do raciocínio e da observação, o ser humano passou a entender os fenômenos do
mundo.

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O que realmente Comte queria representar com a Lei dos Três Estados é que o
progresso seria natural, mas antes que ele chegasse a todos, seria necessário
acumular conhecimento, sendo este necessário e útil para melhorar a vida das
pessoas. Vamos tentar entender um pouco mais Comte e suas idéias,
conhecidas como Positivismo.

Em Fo co
Augusto Comte
Isidore Auguste Marie François Xavier Comte (Montpellier, 19 de Janeiro de 1798 — Paris, 5 de
Setembro de 1857) foi um filósofo francês e o pai da Sociologia.

Filho de pais católicos e monarquistas fervorosos, Comte, que rejeitou as convicções dos pais
ainda bem jovem, foi aluno brilhante, dos estudos básicos aos superiores, na Escola Politécnica
de Paris. Nesse período, seu melhor amigo foi Henri de Saint-Simon (1760-1825), expoente do
socialismo utópico, com quem viria a romper mais tarde por questões ideológicas. Comte
trabalhava intensamente na criação de uma "filosofia positiva" quando sofreu um colapso
nervoso, em 1826. Recuperado, mergulhou na redação do Curso de Filosofia Positiva, que lhe
tomou doze anos. Em 1842, por divergências com os superiores, perdeu o emprego de
pesquisador na Politécnica e começou a ser ajudado por admiradores, como o pensador inglês
John Stuart Mill (1806-1873). No mesmo ano, Comte se separou de Caroline Massin, após
dezessete anos de casamento. Em 1845, apaixonou-se por Clotilde de Vaux, que morreria de
tuberculose no ano seguinte. Clotilde seria idealizada por Comte como a expressão perfeita da
humanidade. O filósofo, que dedicou os anos seguintes a escrever Sistema de Política Positiva,
morreu de câncer em 1857, em Paris.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Auguste_Comte

Augusto Comte e o positivismo

Positivismo foi o nome dado por Comte para a sua teoria, que se fundamenta
pela crença nos valores burgueses, na sua promessa de progresso para todos,
tomando por base o processo de industrialização e o avanço da ciência. Surge
no meio do caos social resultante da transição do período feudal para o
capitalista. Tentava justificar as contradições presentes no decorrer do
desenvolvimento capitalista. Afinal, o capitalismo apresentava dois lados da
mesma moeda: avanços eram conquistados, mas também destruições eram
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verificadas, causando sérios problemas sociais, decorrentes da exploração da
mão-de-obra humana pelos donos das indústrias. Houve também uma série de
revoltas e movimentos, tais quais o Cartismo e o Ludismo, gerando um
verdadeiro caos social, como já abordamos antes.

O QUE FOI O POSITIVISMO

O positivismo é uma corrente filosófica formulada por Augusto Comte, na


primeira metade do século XIX. As bases do Positivismo estão fundamentadas
na crença da razão como ferramenta para análise da realidade e do homem e o
seu meio. Comte defendia a positividade das ciências, baseada na observação,
experimentação, clareza, exatidão. Assim, deixaria de lado as especulações
sobre questões sobrenaturais, teológicas ou metafísicas. As ciências positivas
são as chamadas ciências exatas, como matemática, física, biologia, química.
E nesse grupo, Comte queria integrar a sua recém criada Sociologia. A idéia
era que a Sociologia pudesse ser objetiva na compreensão dos fenômenos
sociais, da realidade, baseando seus estudos em dados estatísticos. Ou seja, a
nova ciência positiva deveria substituir as explicações teológicas, filosóficas e
de senso comum usadas até então para explicar a realidade.
Para o POSITIVISMO, ou Sistema Positivo, o homem deve pensar, agir
cientificamente, isto é, adotar uma forma metódica, lógica, racional para o
indivíduo resolver suas necessidades sociais, políticas, culturais, econômicas,
tecnológicas e até religiosa, a partir dos fatos concretos, com base na análise
experimental, objetiva. A inspiração para o Positivismo Comte foi buscar nas
ciências da natureza, em pleno desenvolvimento na época, afinal estávamos
no tempo de Darwin, Newton e suas teorias revolucionárias.

A própria sociedade foi concebida como um organismo constituído de partes integradas


e coesas que funcionavam harmonicamente, segundo um modelo físico ou mecânico.
Por isso o positivismo foi chamado também de organicismo.
Podemos apontar, portanto, como primeiro princípio teórico dessa escola a tentativa de
constituir seu objeto, pautar seus métodos e elaborar seus conceitos à luz das ciências
naturais, procurando dessa maneira chegar à mesma objetividade e ao mesmo êxito nas
formas de controle sobre os fenômenos estudados.
Profa. Mariluce Santiago
12 COSTA, 1997
Para Comte, o caminho pelo qual a sociedade estava passando era um
caminho natural: caminhou do estágio primitivo ao industrial-tecnológico, ou em
outras palavras do estágio feudal para o estágio capitalista. Nesse último
estágio a ciência seria a única capaz de responder ou atender as novas
demandas da sociedade cada vez mais complexa, não mais os estágios
anteriores teológico e o metafísico.
A defesa de Comte é que a sociedade se desenvolve numa ordem natural,
invariável e cabe ao homem apenas aceitar e adaptar-se. O que está implícito
é a submissão que o homem deveria submeter-se aos rumos que a sociedade
capitalista estava tomando, resignado e acomodado. Era importante o homem
aceitar o desenvolvimento como uma conseqüência das leis naturais, físicas,
além de sua própria vontade, pois isto iria facilitar sobremaneira a consolidação
da ordem vigente e dos interesses do poder hegemônico. Tanto que ele
apresentava como natural a concentração de renda nas mãos de alguns
poucos, enquanto outros precisavam aceitar suas condições de operários,
miséria e fome.
O que Comte estava tentando justificar com sua teoria? A dominação
capitalista. E o que estava tentando evitar? A revolta da grande massa contra
essa dominação. O Positivismo influenciou bastante os rumos da nova
sociedade, inclusive em outros países, como o próprio Brasil. O lema da
bandeira brasileira esta pautada nos princípios defendidos por Comte. Ele dizia
“amor como princípio e ordem como base; progresso como objetivo”, e na
nossa bandeira está resumido em “Ordem e Progresso”.

Ordem e Progresso

A preocupação maior do Positivismo é manter a ordem social e não permitir


espaço para a organização dos trabalhadores ou para movimentos
revolucionários que pudessem fazer frente ao poder dominante. Essa teoria
positiva defende a ORDEM para atingir o PROGRESSO, buscando fazer os

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indivíduos ajustarem ao modelo vigente, evitando questionamento e posteriores
conflitos.
Na lógica dessa teoria os termos Ordem e Progresso seguem o seguinte
argumento: se há progresso, o mesmo não ocorre de tal forma que não haja o
seu oposto. Nesse processo tem-se aquilo que permanece (ou que é
duradouro), que é estático, e aquilo que está em movimento, isto é, dinâmico.
Esses dois elementos fazem parte da teoria positivista, na sua maneira de
perceber as coisas e a sociedade:

Estático – as instituições sociais como a família, a religião, o Estado, a


Educação, a economia, as quais são fundamentais para manter a sociedade
equilibrada, isto é, ordenada.
Dinâmico – é tudo aquilo que se modifica constantemente ou freqüentemente
– o que pode ser compreendido tudo aquilo da parte das relações sociais, das
mudanças e transformações que englobam a sociedade. A sociedade
industrial, por exemplo, é fruto de mudanças provocadas ao longo do tempo.
Conforme Ferreira (2003),

a dinâmica, por seu lado, deveria voltar seu interesse para o progresso evolutivo da
sociedade, objetivando determinar suas leis e seu percurso sucessivo e inalterável

Uma influência da biologia que busca analisar o fenômeno da vida sob a ótica
da evolução linear. Essa idéia de Estática e de Dinâmica está também
diretamente relacionada à física de Newton (1643-1727), cientista cuja teoria
torna-se paradigma da modernidade até o início do século XX, para o
desenvolvimento das ciências naturais e humanas.
A evolução da sociedade, nos três estágios, é uma lei natural, mas não
prescindia da necessidade de manutenção da ordem: no campo estático está a
garantia do equilíbrio, mesmo sabendo-se da mudança em seu devido tempo e
em sua devida ordem.
O pensamento positivista nasceu em função da necessidade de responder
objetivamente às demandas trazidas com a nova ordem industrial-capitalista. A
preocupação central de Comte era em como manter essa nova ordem sem que
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a humanidade perdesse o rumo das coisas, isto é, sem que o individualismo
colocasse em risco a própria existência social. È uma filosofia conservadora,
formulada com o objetivo claro de manter o equilíbrio da sociedade capitalista,
abalada pelos conflitos sociais já descritos anteriormente.
Quais as vantagens desse sistema de pensamento que influencia até hoje
o mundo? Quais as conseqüências do positivismo para a sociedade?

O positivismo, segundo cientistas sociais das correntes marxistas, é


conservador, determinista e autoritário, não considera as contradições sociais
geradas pelo sistema capitalista. Em nome da ordem e do progresso tais
contradições são interpretadas pelos positivistas como desvio e devem ser
corrigidas por meio de medidas necessárias à manutenção do status quo.

Influências positivistas

As bases teóricas do positivismo, elaborado por Comte, deram origem a outras


correntes de pensamento sociológicos – funcionalismo no século XIX
(Durkheim), sistêmica no século XX (Parsons), com ampla aplicabilidade nas
ciências sociais, organizações, educação, entre outras. As pesquisas ditas
objetivas, pautadas na estatística e quantificação dos dados, ganham força no
século XX. Medir os comportamentos individuais e sociais, as inteligências
constituem o método por excelência para diagnosticar problemas. A
objetividade pretendida com base na razão instrumental é a referência
paradigmática e pragmática para a maior produtividade de bens materiais,
simbólicos – culturais e educacionais.
Na área de saúde, temos no exemplo do filme O Óleo de Lorenzo, o confronto
entre os pais desse menino (que sofre de uma doença degenerativa conhecida
como adrenoleucodistrofia) de um lado, e, do outro, os médicos. Estes se
baseiam nas pesquisas realizadas até então, cujos resultados não garantiam a
cura da doença. Os médicos não conheciam alternativas e pretendiam-se aos
parâmetros terapêuticos conhecidos. Para os pais do menino, não havia
alternativa a não ser lutar, procurando meios para encontrar a cura da doença.
Essa História se tornou bastante conhecida pela capacidade com que os pais
do Lorenzo conseguiram enfrentar o problema, utilizando métodos de pesquisa
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experimentais, paralelo à orientação dos médicos. A partir de então, as
crianças diagnosticadas no início da doença, podem ser curadas com o óleo
descoberto pelos seus pais.
A influência positivista no Brasil se fez presente desde a Proclamação da
República (1889) cujo ideário é expresso na nossa bandeira com o lema
ORDEM E PROGRESSO. Na Política, a postura positivista é empregada pelos
regimes políticos, inclusive nas ditaduras, quando, em nome da ORDEM, os
militares, no Brasil a partir de 1964, perseguiam, torturaram, mataram e fizeram
desaparecer várias pessoas ligadas aos movimentos sociais de esquerda,
encaradas como subversivas e perigosas.
Na sociedade e nas empresas em geral, o positivismo se faz presente pela
utilização de métodos racionais, técnicas e instrumentos para quantificar dados
e informações em nome da produtividade, eficiência e eficácia dos resultados
pretendidos. Na atualidade, entretanto, novas abordagens são adotadas, com
ênfase na teoria das inteligências múltiplas e a valorização da emoção e
afetividade para maior efetividade das ações humanas em suas múltiplas
manifestações.

2.2 A IMPORTÂNCIA DA SOCIOLOGIA

O homem, enquanto indivíduo, é objeto de estudo da Psicologia. Porém, o


homem e suas interações sociais é objeto de estudo da Sociologia.
Mas, não é simples entender como ocorrem essas interações, como afetamos
e somos afetados pelo outro, pelo meio. Compreender a vida e os fatos sociais
é um desafio, que pode ficar mais claro com o estudo da Sociologia.
Na medida em que a sociedade vai se tornando mais complexa, os problemas
se multiplicam, a Sociologia pode contribuir com estudos que ajudem encontrar
alternativas de solução.
A metodologia varia conforme a concepção teórica e o objeto e finalidade da
pesquisa. Pode-se utilizar em uma mesma investigação levantamentos
estatísticos (aspectos qualitativos) e análise qualitativa, (observações,
entrevistas, relatos orais, documentos históricos, entre outros).

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Alguns conceitos tais como socialização, interação, contato social, ideologia,
cultura e instituições sociais, competição, conflito social, mudança e mobilidade
social, são fundamentais nas análises sociológicas.
A sociologia tende a se configurar como uma ciência que estimula o senso
crítico e a reflexão sobre a vida social.

SOCIOLOGIA: DEFINIÇÃO, OBJETOS E MÉTODOS

V
amos iniciar este tópico afirmando que a Sociologia é o estudo do
indivíduo em sociedade, sua interação com outro e com as
instituições. Em termos gerais, podemos dizer que todos somos
sociólogos, na medida em que nos preocupamos em analisar nosso
comportamento, nossas interações, nossas experiências em sociedade. No
entanto, a Sociologia propriamente dita, aprofunda-se muito mais nesse
estudo, buscando uma sistematização dessas preocupações do senso comum.
O seu alcance vai além das nossas percepções individuais. Ela ganha o status
de Ciência, mais precisamente de Ciência Social. Abrange, portanto, o estudo
dos grupos sociais da divisão da sociedade em camadas sociais, da mobilidade
social, dos processos de cooperação, competição e conflito na sociedade etc.;
a Sociologia é a ciência social que estuda os fatos sociais. A Sociologia, em
síntese,

[...] é uma tentativa de compreender o ser humano. Concentra-se em nossa vida


social. [...] examina a interação social, os padrões sociais (por exemplo, papéis,
classes, cultura, poder, conflito) e a socialização em processo.

CHARON, 2004

Como vimos no histórico da Sociologia, as ciências sociais se


desenvolvem a partir da industrialização e do avanço do capitalismo. Mas,
afinal, o que se entende por ciências sociais?

Profa. Mariluce Santiago


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Para respondermos a pergunta acima é importante compreendemos o
significado do termo ciência.
O conhecimento científico foi sendo construído aos poucos, na medida em que
os homens foram buscando saber as causas dos fenômenos, isto é, forma
tentando encontrar respostas para as questões que os intriga – a vida, a
natureza, as sociedades.
Existem basicamente quatro tipos de conhecimentos: senso comum, o
religioso, o filosófico e o científico. O religioso baseia-se na fé, no dogma e tem
como objeto um ser superior, que transcende a possibilidade de verificação
pela ciência. O filosófico busca, por meio da razão, explicações sobre a origem
da vida, do universo, do homem e analisa criticamente os valores propostos e
vivenciados em cada cultura. O filósofo tem como objeto de análise qualquer
fenômeno, qualquer realidade.
A ciência desenvolveu-se tendo como ponto de partida o senso comum.
Johann (2001, p.22) define: “O senso comum é uma forma de conhecer que faz
parte do universo mental e da prática cotidiana da maioria das pessoas”.
A ciência é, conforme LAKATOS (1999),

Uma sistematização de conhecimento, um conjunto de proposições logicamente correlacionadas


sobre o comportamento de certos fenômenos que se deseja estudar. [...]

A ciência é todo um conjunto de atitudes e de atividades racionais dirigidas ao


sistemático conhecimento com objeto limitado, capaz de ser submetido à
verificação.
Racionalidade, sistematização, delimitação do objeto e verificação são
procedimentos do conhecimento científico. A ciência procura responder com
precisão e comprovação as questões/problemas levantados sobre os
fenômenos da natureza e humanos.
Quanto às ciências sociais, a lógica é a mesma. Procura-se estudar
cientificamente a sociedade a partir da delimitação de um objeto, da
sistematização e da busca de comprovação. Entretanto, os fenômenos
humanos têm uma especificidade em relação à natureza. A complexidade do

Profa. Mariluce Santiago


18
objeto de estudo deve-se aos valores culturais, políticos, sociais, éticos,
econômicos encarnados nesse objeto.
A questão da neutralidade científica proposta pelos positivistas e funcionalistas
nos dois últimos séculos perde sua força, também em relação às chamadas
ciências da natureza, quando se trata de analisar a aplicação dos resultados
das pesquisas nas sociedades.
Na sociedade contemporânea, o saber e as investigações tornam-se tão
complexos que exigem a atividade interdisciplinar e o intercâmbio entre
cientistas de todo o mundo, na busca de soluções para problemas cruciais,
como as doenças AIDS, entre outras.
Na visão de Edgard Morin,

“... já não se pode compreender a sociedade só do ponto de vista social e histórico,


seja na visão clássica de pendor positivista reducionista, seja na apenas cultural”.
Destaca as interconexões: indivíduo –sociedade - espécie; cérebro – cultura - espírito;
razão - afetividade - pulsão.

(apud Demo 2002)

Embora haja escolhas pessoais embutidas nas interações sociais, elas


correspondem quase sempre a circunstâncias sociais. As questões que
envolvem a teia de relações existentes entre os indivíduos na vida coletiva
configuram, portanto, o objeto e estudo da sociologia.

OS TEÓRICOS CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA

C
omo vimos Augusto Comte (1798-1857) é considerado o pai da
Sociologia. Foi ele quem pela primeira vez cunhou essa palavra, em
1839, no seu Curso de Filosofia Positiva. Mas, outros teóricos
também foram fundamentais para a consolidação da Sociologia como ciência.
Entre eles, Emile Durkheim (1858-1917), Karl Marx (1818-1883) e Max Weber
(1864-1920).

Profa. Mariluce Santiago


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Durkheim e os Fatos Sociais

Durkheim formulou as primeiras orientações para a Sociologia e demonstrou


que os fatos sociais têm características próprias, que os distinguem dos que
são estudados pelas outras ciências. Para ele, a Sociologia é o estudo dos
fatos sociais.
O que seria o fato social, na visão durkeiniana?
Vamos imaginar que você estivesse perdido no espaço, como aquela
personagem de um programa humorístico na passa na televisão atualmente. E
depois de um tempo, retornasse à terra. O que você encontraria? Uma
sociedade estruturada, com leis, normas, valores e costumes que regulam a
vida das pessoas. O que você deveria fazer? Adaptar-se a essa sociedade,
sem querer mudar o que você já encontrou formado, estruturado.
Para Durkheim, os fatos sociais são o modo de pensar, sentir e agir de um
grupo social. Então, os fatos sociais seriam exatamente os valores, os
costumes, as normas que já encontramos presente em qualquer sociedade
logo ao nascer, nos são impostos e temos apenas que seguir e obedecer.
Então, Durkheim é mais um dos teóricos que tentam justificar a situação
vigente, ou seja, a exploração do capital sobre a massa da população. Na sua
maneira de explicar as coisas, a sociedade prevalece sobre o indivíduo, pois a
sociedade tem suas normas gerais: leis, línguas, valores, costumes, e o
homem apenas precisa adaptar-se a elas. E como que dizer que a situação
daquela época, ou mesmo de hoje, deve ser internalizada pelo indivíduo, sem
conflito ou tentativa de mudança.
É a sociedade, vista como entidade autônoma e não feita do conjunto dos
indivíduos, que controla e organiza os comportamentos individuais. O indivíduo
aprende a seguir normas e regras que não foram criadas por ele, essas regras
orientam e condicionam sua ação e prescrevem punições para quem não
obedecer as imposições estabelecidas.
Para Durkheim é possível o sociólogo, o pesquisador ser objetivo e neutro nas
análises feita a cerca dos fatos sociais e da própria sociedade. Basta que ele
descreva a realidade social, sem deixar que suas impressões, interesses,
valores, interfiram na observação dos fatos.

Profa. Mariluce Santiago


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Weber e a ação social

Enquanto Durkheim defendia a idéia de que a sociedade devia prevalecer


sobre o indivíduo, para o sociólogo alemão Max Weber (1864-1920) a
preocupação da sociologia devia voltar-se para os indivíduos e suas ações.
Então, a sociedade precisava ser analisada a partir do conjunto de ações
individuais, considerando que uma ação individual é orientada pela ação dos
outros.
Vamos tentar explicar melhor: quando queremos fazer parte de um
determinado grupo, temos nossas ações individuais, mas procuramos verificar
como o grupo age e então, para buscar a aceitação, passamos a agir como
aquele grupo.
Por isso, Weber define como objeto da sociologia a ação social. O que é uma
ação social? Para Weber é qualquer ação que o indivíduo faz orientando-se
pela ação de outros.
Então, podemos perguntar toda ação é social? Não. Para Weber, só existe
ação social, quando o indivíduo tenta comunicar-se com o outro, a partir de
suas ações com os demais.
Weber dá um interessante exemplo. Imaginemos dois ciclistas que andam na
mesma rodovia em sentidos opostos. O simples choque entre eles não é uma
ação social. Mas a tentativa de se desviarem um do outro já pode ser
considerada uma ação social, uma vez que o ato de desviar-se para um lado já
indica para o outro a intenção de evitar o choque, esperando uma ação
semelhante como resposta. Estabelece-se, assim, uma relação significativa
entre ambos.
A partir dessa definição, Weber afirmará que podemos pensar em diferentes
tipos de ação social, agrupando-as de acordo com o modo pelo qual os
indivíduos orientam suas ações. Assim, ele estabelece quatro tipos de ação
social:
1. Ação tradicional: aquela determinada por um costume ou um hábito
arraigado.
2. Ação afetiva: aquela determinada por afetos ou estados sentimentais.

Profa. Mariluce Santiago


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3. Racional com relação a valores: determinada pela crença consciente num
valor considerado importante, independentemente do êxito desse valor na
realidade.
4. Racional com relação a fins: determinada pelo cálculo racional que coloca
fins e organiza os meios necessários.

Marx e as classes sociais

As idéias liberais consideravam os homens, por natureza, iguais política e


juridicamente. Liberdade e justiça eram direitos inalienáveis de todo cidadão.
Marx, por sua vez, proclama a inexistência de tal igualdade natural e observa
que o liberalismo vê os homens como átomos, como se estivessem livres das
evidentes desigualdades estabelecidas pela sociedade. Segundo Marx, as
desigualdades sociais observadas no seu tempo eram provocadas pelas
relações de produção do sistema capitalista, que dividem os homens em
proprietários e não-proprietários dos meios de produção. As desigualdades são
base da formação das classes sociais.
As relações entre os homens se caracterizam por relações de oposição,
antagonismo, exploração e complementaridade entre as classes sociais. Marx
identificou relações de exploração da classe dos proprietários – a burguesia –
sobre a dos trabalhadores – o proletariado. Isso porque a posse dos meios de
produção, sob a forma legal de propriedade privada, faz com que os
trabalhadores, a fim de assegurar a sobrevivência, tenham de vender sua força
de trabalho ao empresário capitalista, o qual se apropria do trabalho de seus
operários.
Essas mesmas relações são também de oposição e antagonismo, na medida
em que os interesses de classe são inconciliáveis. O capitalista deseja
preservar seu direito à propriedade dos meios de produção e à dos produtos e
à máxima exploração do trabalho do operário, seja reduzindo os salários, seja
ampliando a jornada de trabalho. O trabalhador, por sua vez, procura diminuir a
exploração ao lutar por menor jornada de trabalho, melhores salários e
participação nos lucros.
Por outro lado, as relações entre as classes são complementares, pois uma só
existe em relação à outra. Só existem proprietários porque há uma massa de
Profa. Mariluce Santiago
22
despossuídos cuja única propriedade é sua força de trabalho, que precisam
vender para assegurar a sobrevivência. As classes sociais são, pois, apesar de
sua oposição intrínseca, complementares e interdependentes.
A história do homem é, segundo Marx, a história da luta de classes, da luta
constante entre interesses opostos, embora esse conflito nem sempre se
manifeste socialmente sob a forma de guerra declarada. As divergências,
oposições e antagonismos de classes estão subjacentes a toda relação social,
nos mais diversos níveis da sociedade, em todos os tempos, desde o
surgimento da propriedade privada.

SOCIOLOGIA APLICADA À ADMINISTRAÇÃO

U
ma Ponte entre a Sociologia e a Administração. Nas margens do rio
São Francisco, em pleno agreste, geólogos de uma fábrica de
refratários situada no Sul do país, descobriram uma importante jazida
de magnesita.
Inicialmente, foram construídas próximo a um vilarejo, instalações industriais
simples com o fim de extrair e dar uma primeira queima no minério antes de
embarcá-lo. Com isso, surgiram oportunidades de trabalho, que passaram a
ser uma verdadeira salvação para aqueles sertanejos sujeitos a uma vida de
subemprego crônico na atividade pecuária extensiva ou na agricultura
marginal.
Para as minas foi enviado um gerente sulista com sua capacidade de direção e
organização já demonstrada, mas sua administração foi tão falha que nem ele
sabia qual a razão de tantos erros. Seu substituto foi ainda mais bem
selecionado, mas teve a mesma sorte do antecessor. Foram então mandados
dois gerentes, um administrativo e outro técnico, porém o pouco que
conseguiram produzir era irregular e de baixa qualidade. Um geólogo,
contratado para estudar o problema da qualidade do minério, ao chegar,
encontrou ambos bêbados e completamente entregues ao desânimo por não
terem conseguido fazer pessoas ávidas por emprego virem a ser produtivas.

Profa. Mariluce Santiago


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Aconteceu que, sendo natural do sertão de um Estado do Nordeste, o geólogo
percebeu que o não-entendimento dos valores e costumes dos habitantes da
região impedia o relacionamento satisfatório administração-empregados, não
obstante os trabalhadores estarem interessados no serviço. Assim, coisas
simples como o apito para iniciar e terminar a jornada diária não tinha o menor
significado para aqueles sertanejos que nunca tiveram hora para o trabalho.
Por outro lado, esperavam que o gerente, tal qual faziam os donos de
fazendas, os atendesse em seus problemas financeiros, de saúde e até
familiares. Depois que os gerentes compreenderam tais aspectos peculiares e
sem alterar a estrutura organizacional, foram feitas adaptações nas práticas
administrativas, por exemplo, o número de horas de trabalho por dia deixou de
ser fixo, pois o apito somente soava no caso de tudo estar efetivamente em
condições para o início da jornada ou no fim do turno, se a descarga do forno
tivesse sido completada. Com essa e outras medidas, as minas tornaram-se
produtivas.
Este caso mostra as diferenças de comportamentos relacionados ao
desempenho de tarefas, que foram provocadas pela diversidade nos costumes
de duas regiões. Não basta, pois, ao administrador conhecer técnicas de
planejamento, de estruturação e outros assuntos relativos à organização do
trabalho. É preciso, também, entender as pessoas, a principal matéria-prima
com que lida diariamente, não só como indivíduos que são, mas principalmente
como grupo, já que os serviços são levados a efeito coletivamente.
Para isso, a Sociologia pode fornecer um amplo conjunto de conhecimentos, os
quais precisam ser “traduzidos” para o administrador em razão deste não ser
um cientista e sim um profissional desejoso de saber como enfrentar as
dificuldades que lhe surgem no dia-a-dia das empresas. Isso exige uma ponte
ligando a Sociologia como ciência à Administração como prática e,
naturalmente, com pilares sólidos em ambas as margens.

Profa. Mariluce Santiago


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REFERÊNCIAS

CHARON, Joel M. Sociologia. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 2004

COSTA, Cristina. Sociologia: Introdução á ciência da sociedade. São Paulo:


Moderna, 1997.

FERREIRA, Delson. Manual de Sociologia. 2° ed. São Paulo: Atlas, 2003.

GALLIANO, Guilherme. Introdução à Sociologia. São Paulo: Harbra, 1986.

MARX, Karl. O Capital. São Paulo. Edipro, 1988.

TOMAZI, Nelson Dacio. Iniciação à Sociologia. 2ª ed. São Paulo: Atual, 2000.

Profa. Mariluce Santiago


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