Sempre Há Uma Luz... A Viagem de Um Roqueiro Ao Além. Sérgio Lúis.
Sempre Há Uma Luz... A Viagem de Um Roqueiro Ao Além. Sérgio Lúis.
Sempre Há Uma Luz... A Viagem de Um Roqueiro Ao Além. Sérgio Lúis.
Agradecimentos
A Deus, a Jesus e à Espiritualidade (ou Espírito Santo), sem os quais nada é
possível;
Em especial, aos espíritos: Francisco e Luiz Sérgio, que assistiram Ruggeri
Rubens nesta obra.
Ao Editor José Carlos (e toda Equipe DPL).
Ao Espírito Ruggeri pelas horas de intercâmbio. Com ele aprendi um pouco
mais sobre amar. (Algum dia, quem sabe, caro
amigo, o mundo passará a ser nosso!)...
Às artistas Fátima Sena e Juliana Morosowiski, pelas magnificas pinturas, c
edidas gentilmente para esta obra.
Do Autor
Ao leitor que nos prestigia e conosco, igualmente, haure energias para con
tinuar a caminhada;
A todos que direta ou indiretamente, têm contribuído na divulgação dos livr
os e da Doutrina Espírita.
Deus é fantastico, nos permitindo conhecer as pessoas, não por estarem sob
um pálio, mas por sua essência.
O Apóstolo João, na Epístola, Cap. 4, 2-3, nos adverte que não devemos acr
editar em todos os espíritos, perscrutando se vêm de Deus.
O que se pode deduzir logicamente de tal assertiva?
Primeiro, que existem Espíritos! Segundo, que eles sempre nos trazem algu
ma mensagem, notícia ou revelação, manifestando-se independente de local,
pessoa, classe
social ou crença religiosa. Terceiro, não se pode tomar a mensagem apostolar
ao pé-da-letra, pois na verdade, todos os espíritos vêm de Deus! . .sejam e
les superiores
ou inferiores. Somos filhos de um mesmo Pai, criados simples e ignorantes
, logo, todos viemos de Deus. Quarto, alguns deles podem estar eivados de
embuste, maledicência
e aparente bondade, nada produzindo de bom, razão pela qual o Apóstolo nos
advertiu contra esses, em particular.
Como médiuns e por dever Cristão de caridade, no mínimo, devemos recebe-l
os, ouvi-los e, se necessário for, tentar reencaminhá -lo na senda da com
preensão de suas
reais situações, com preces e esclarecimentos. (E não é isso que se faz nas
reuniões mediúnicas sérias?)
Sempre eles nos trazem alguma coisa a ser aprendida, seja quando retratam
a pureza angélica, seja quando mostram aberta e honestamente, como chega
ram até esse grau
de entendimento e evolução.
Aqueles que não partilham desse entendimento, no mínimo, deveriam rever s
uas posições ao julgar uma mensagem, pois a todo instante o Cristo nos te
m concitado a exercitarmos
o perdão, misericórdia e a piedade, como forma de elevação.
Há, decerto, os que só desejam palavras de rara beleza dos bons Espíritos.
Mas os Espíritos sofredores têm muito o que nos ensinar, sim! Nos mostram
que foram ao
campo de batalha da vida e, por erros ou ignorância, desceram aos tormento
s conscienciais. Como nada é absoluto (Só o Creador), por misericórdia, en
fim, conseguiram
divisar algum dia, um pouco do sol que nasce para todos... e só não enxerg
a quem não quer! E isso não é maravilhoso? Sinal de que nenhuma ovelha do
Pai se perderá...!
Está lá no Cap. 28: seria injusto colocar os sofredores e arrependidos na c
ategoria dos maus espíritos. Podem alguns ter sido maus, mas a partir do mo
mento em que
reconhecem suas faltas e as lamentam; são apenas infelizes, alguns até mes
mo começam a gozar de uma felicidade relativa. (E.S.E*)
Quem poderá contradizer que a Doutrina Espírita, principalmente, o próprio
Evangelho Segundo o Espiritismo e O Céu e o Inferno, não tiveram a partic
ipação de espíritos
sofredores? Confiramos, nesse último compêndio... nada menos que 3 a 4 ca
pítulos com depoimentos dessa classe de Espíritos, de riquíssimo valor mo
ral, pois que visam
a nos alertar a não cometer os mesmos erros.
A mediunidade não implica necessariamente relações habituais com Espíritos
Superiores; é simples aptidão para servir de instrumento mais ou menos út
il aos Espíritos
em geral. E o bom médium não é aquele que se comunica facilmente, mas aq
uele que é simpático aos bons Espíritos (Cap. 24 os bons não tem necessi
dade de médicos
E.S.E)
Todavia, o leitor (em maioria) tem provado o contrário! Tanto que nos per
mitiu chegar a uma 2 edição. Recebemos inúmeras cartas/e-mails, onde as p
essoas que leram
esta obra afirmam que encontraram no contexto redenção, misericórdia, espera
nça, caridade, fé... luz.
Gostaria de reiterar o brado que expressei na 1a edição, não como forma d
e esvaziar os bancos das salas de cursos mediúnicos, pois quem não conhec
e a mediunidade,
precisa conhecê-la. Mas que não se dê maior valor ao academismo, onde as
pessoas se tornam vazias mesmo aprendendo, estimulando em maior grau a
inteligência. E
preciso lembrar que os principais objetivos a serem atingidos são: caridade
, disciplina e amor, e somente os conquistaremos com o labor ativo no bem.
Portanto, deixamos os quartos de estudo, não significa abandoná-los, pois o p
róprio Kardec nos disse: ... instruí-vos, mas antes, ressaltou com propriedad
e: Espíritas,
amai-vos.., caindo no mundo semeando todo o bem que pudermos, pois é lá que
está o infortúnio, dor, miséria., lá é que está o mal a ser curado, que é
a ignorância!
E deixamos que os sãos, que não precisam de médico, continuem a sonhar c
om dias melhores.
Que ninguém se iluda! Jamais seremos bons, fortes e renovados se não tomar
mos o arado e a charrua evangélica para arar.
Os que têm suas qualidades, habilidades e inteligência, que as utilizem em
qualquer ramo de atividades que exerçam... contanto que ajam!
A Espiritualidade espera que cada um se predisponha. Eis o alerta incessante
.
Sinceramente.
Sérgio Luís
Sumário
Prefácio 13
O fim, foi por onde comecei 17
O livro dos meus dias 23
A Estação dos Jasmins 29
No reino underground 39
O teatro de marionetes 45
Algo me dizia: se entregar era uma covardia! 55
E quando tudo parecia perdido 65
O passado ensinando o presente 83
A dor maior: não saber sentí-la! 91
Renascido das cinzas 1o1
De volta ao império 111
As nossas vidas serão para sempre 119
O caminho? Só há um 131
O amor.., você e algo mais 137
Prefácio
Algum dia, eu falei que iria escrever um livro quando tivesse mais idade. A
s circunstâncias me fizeram mudar de idéia, e
muitos me ajudaram nisso. Não reparem, a gente sempre pode mudar nossos
rumos.
R.R.
Naqueles instantes fatídicos, se antes via aqueles a quem amava, deixei de
vê-los. Meus olhos ceifaram-se e eu me sentia cada vez mais só. Seria mais
uma noite de
sono, à custa de drogas que me inebriavam o corpo, drogas que nunca me
tornaram mais feliz, mas sim, dependente do carinho daqueles que me ama
vam verdadeiramente.
Adormecido, entreguei-me aos braços de Morfeu,
O silêncio se fez e nada mais pude enxergar do quarto onde me encontrava.
Tudo parecia calmo, mas em meu íntimo, uma fiel sensação de intranqüilida
de, inquietação e medo.
As dores haviam cessado. Lógico, iria dormir! pensava.
O enfermeiro aplicou algum calmante Calculei. Certamente, era o seu efeito.
Shangri-la, Xanadu, Canaã, Éden... tudo é verdade! Epor que não? Eu estou n
um paraíso, onde se vive, se trabalha, se
respira, pois todos se respeitam. O preço: boa-vontade, caridade, tolerância,
paciência, reforma interior. Mas, ainda
não é o céu... esse é mais longe.
Alguns se questionam: Como pode um devasso alcançar o paraíso? Meus ami
gos, o paraíso estará onde nos sentirmos felizes., e eu não sou um devas
so. Cometi alguns
erros, que
algum dia os resgatareL
Há quem imagine que devamos resgatar tudo pela dor. Percebi que não posso
carregar opeso da cruz, daqueles que
sentem, no masoquismo, a razão de suas trajetórias. Eu prefiro resgatar me
us débitos pelo amor que estou aprendendo
a sentir
R.R.
Sem que me desse conta do espaço ou do tempo avançado, eis que recordo
terem me levado a um lugarzinho aconchegante, parecido com um pequeno s
ítio em meio a densa
camada de nuvens escuras. Um lugar bastante arborizado, que me fez lembra
r Brasília e suas avenidas largas. Contava com uma casa avarandada, típic
a de fazendolas,
ladeada por imensos e fartos jardins. Em frente à mesma, uma única fonte
jorrava água límpida em abundância.
Estava péssimo, tonto, com náuseas constantes e muita febre. Parecera hav
er acordado de um pesadelo.
Inúmeras pessoas trajadas com vestimentas de fino tecido, mas de muita si
mplicidade, iam e vinham. Algumas, ou quase todas
que me olhavam surpresas, sorriam ou aplaudiam, parecendo me conhecere
m.
Oi, Ruggeri, tudo legal? disse-me uma linda jovenzinha de cabelos longos,
estou muito feliz por você estar de volta. Espero que goste da estadia. E
nviou-me
uma beijoca.
Olhei-a atônito, apesar de estranhos, me pareciam familiares, exalavam fel
icidade e eu não me sentia assim. Em contrário, encontrava-me conturbado,
cheio de dúvidas,
além da horrível sensação de degradação fisica.
Me conhecem devido à fama! É só isso... Imaginei.
À medida que ingressávamos mais naquele lugar, pude notar que estava envol
to numa espécie de cúpula, interligada a aparelhos, por onde respirava-se
ar puro, coisa
que há muito não o fazia muito bem. Era um casulo maleável, moldava o meu
corpo em toda a sua extensão, o qual sequer o sentia direito, por encontra
r-me entorpecido.
Recordei-me de um filme do Jonh Travolta, o menino da bolha.
Finalmente, à porta da sede do lugar, três pessoas sorridentes, vieram nos
receber, pois além de mim, encapsulado, havia os que me trouxeram.
Um deles, o que me pareceu ser o mais maduro, aproximou-se:
Bom dia, Ruggeri!
O homem não me era estranho. Alto, cabelos grisalhos, usava bigode à ita
liana. Um outro, mais moço, também usando um bigodinho, demonstrava bast
ante simpatia. Esse
eu não o vira antes; atinava que já o conhecia. Mas, de onde? Dentre eles
, uma senhora muito bonita, aparentando um 5o anos, tez limpa, quase sem r
ugas, contemplava-me
com lágrimas no rosto.
O baixinho, mais moço, veio até mim e disse:
Salve! Quanta satisfação em vê-lo. Nós o esperávamos ansiosos. Fico muito f
eliz. Meu ídolo está aqui. Mais tarde, certamente, pedirei um autógrafo a v
ocê. brincou.
Os que estavam em derredor bateram palmas. Confesso que não os entendi. Eu
era um doente, não estava nos palcos, sequer podia cantar para eles, aque
la patota de
gente feliz. Impotente estava, apesar de tanto calor humano. Chorei.
O mais velho deles arrematou:
Figlio mio, que Deus te abençoe! Sabemos que tuas lágrimas são de incompr
eensão. Talvez não entendas o que se passa contigo, a doença, a perda da v
ida, a falta
dos familiares e amigos,
dos amores... talvez, sequer calcules a importância que tens para nós e par
a muitos. Quiseste o amor. Procuraste. Mas, ele sempre esteve contigo, sem
que fosse necessário
ir até os confins do mundo para encontrá-lo. Quanto pedimos por ti. O
homem choramingava comigo. Arrematou: Pensas: quem sou eu? Quem são es
ses que me acolhem?
Que lugar mais maluco de gente simpática...! Mas, todos somos amigos, irm
ãos, filhos de Deus. Do Deus que distribuiu
o amor pelo universo, que depositou a semente dessa virtude em cada um de
nós. Por isso, incessantemente, O buscamos. Queremos ser iguais a Ele qu
e nos criou: o
amor. Sinta-te em casa figlio, este é o teu lar! Só pedimos que não te deix
es arrastar por pensamentos negativos de degradação, desamparo ou de autofl
agelação.
Isso já passou! Doravante, é seguir em frente, continuando a tarefa que foi c
restada pela própria inércia, diante da vida que te sorria. Aproveita a oport
unidade
para prosseguir, sem olhar para trás. E quando menos esperar, verás que o am
or se instalou em ti. O amor não está nas pessoas, não está restrito ao cora
ção ou ao
desejo, não se confunde com o sentimento entre criaturas, que é limitado. É a
mplo, genérico, universal, divisível, tolerante, paciente, supera a tudo e a
todas as
situações adversas, perdoa, tudo crê, tudo faz, tudo suporta... lembra de tu
as letras? Tu o disseste através de tuas canções. Só não soubeste como prati
cá-lo, como
senti-lo em sua inteireza.
A essa altura da explanação eujá estava perdido em copiosas lágrimas, perp
lexo diante das palavras daquele homem tão bonito. De sua boca parecia jor
rar luz; igualmente
do seu peito. E eu só pude chorar.
Não desgastes tuas energias, que estão escassas, com aflições. Tudo o que c
onseguires reunir, doravante, será de vital importância ao teu restabelecime
nto. Urge,
por agora, que compreendas que és necessitado de cuidados, de refazimento
e para isso estamos aqui. Dispõe de todos nós. Não calculas o quanto foste
ajudado. Não
te preocupes com teus pais, amigos, protestos... isso ficou no mundo.
Repousa. A estrada à tua frente é novo caminho à redenção das lições esquec
idas. Se antes buscavas a melhoria do teu povo, numa luta desigual contra a
injustiça
e a tola vaidade dos poderes da terra, em diante, terás que arregimentar
novos amigos, pela compreensão de que só poderemos mudar o mundo através
da concórdia, da
retidão de sentimentos, do esclarecimento e da reforma interior. Nisso,
estaremos sempre unidos. Formamos uma imensa legião de afinizados com o
bem. Oramos muito
por ti, Ruggeri. Tens muitos amigos, dado à tua limpidez de expressão, si
nceridade e determinação. Teu idealismo é também o nosso, muito embora tr
abalhemos com outras
armas, mas hoje, por mercê Daquele que nos assiste, podemos compartilhar o
reencontro neste oásis de paz. Estás na Estação dos Jasmins, ao norte do
Rio de Janeiro.
Chamo-me Donato. Este aqui é o Luiz Sérgio, e esta é a adorável Amália.
O baixinho interveio apertando-me a mão.
Muito prazer, cara, sou seu fã! De vez em quando, tento dedilhar em minh
a viola algumas de suas canções. Já prometi a mim mesmo e aos amigos que
faria um curso,
para executar bem o meu instrumento, só que não me restou tempo ainda. Há
sempre muito trabalho a fazer. Eu chego lá!
Sorri para ele. Sujeito espirituoso.
Amália apresentou-me àqueles que me trouxeram.
Ruggeri, este é Saulo, o instrutor da pequena expedição que o trouxe. Raul
, é especialista em desligamentos. Suas e Caio o ajudaram como auxiliares.
Esta é Luzia,
técnica em anestesiologista fluídica, que o manteve mais ou menos livre do
sofrimento. Pisquei-lhe o olho e ela retribuiu-me com um cálido sorriso.
Ingressamos todos na casa. Donato me olhava enternecido. Quem seria ele?
imaginava.
Curioso, apesar de pequena vista de fora, seu interior assemelhava-se a imen
so hospital, cheio de corredores, salas, luzes e muita gente transitando. Ve
io à mente
um filme a que assistira há tempos. Tinha uma casa assim. Era grande por
fora, mas quem nela entrava parecia haver ingressado em outras dimensões.
Mais adiante, Suas e Caio transpuseram-me para uma maca, conectando mais
alguns tubos a um aparelho tipo hospitalar, que in fiou-
com um gás tênue e inodoro. Deduzi ser oxigênio puro. Enquanto isso, Amál
ia preparava uma banheira, similar às de hidromassagem, entornando líquid
os de diversas
cores, que escorriam por pequeninas tubulações, até se misturarem, quando o
líquido, então, tornava-se violáceo.
Por favor, tragam-no. Coloquem-no na man-jedoura, levemente, assim chamo
u Amália o repositório onde eu iria ficar, solicitando aos que operaciona
lizavam com
ela. Senti um pouco de medo, embora, aos poucos, me enchesse de confianç
a. Não acreditava que eles pudessem me fazer qualquer mal. Depositaram-m
e lentamente, e à
medida que fui submergindo, a gelidez da seiva me
causou inquietação, pelo contato do líquido com o plasma tênue da bolha e
, por conseguinte, minha pele. Destarte a sensação de desconforto, quando
Amália abriu uma
pequena torneirinha, deixando escoar o que me pareceu éter, por incolor e de
cheiro forte, o que era até então desagradável, foi substituído por indizív
el sensação
de paz.
Adormeci, então, mas conservava a consciência. Sabia que estava vivo. Afi
nal, eu estava pensando. Idêntica sensação quando se dorme após um farto
almoço, pesado,
profundo, mas é como se estivesse acordado.
Num torpor indefinível, fui mantido armazenado na bolha por longo perío
do, parecendo estar dormindo, mas percebendo os movimentos dos transeun
tes do lugar que, mesmo
sem vê-los, ouvia-lhes
os murmúrios ao longe e os sons do ambiente.
Despertei, tendo à frente alguns dos que me receberam naquele lugar.
Bom dia, meu filho! Como te sentes? inquiriu-me Donato, transmitindo-me
paz. Similarmente, seguiam-no em idênticos gestos, Amália e Luiz Sérgio.
Oi, chapa! Tudo legal? Lembra-se de nós? Somos os astronautas...! falou o
rapaz de menor estatura.
Amália acariciou-me a fronte por sobre a fibra da bolha. Chamou uma enfer
meira e pediu que me fizesse uma espécie de limpeza.
Após me retirar pacientemente do envoltório, eu me encontrava recoberto
por um muco tênue, semelhante aos que se vêem nos
bebês, após os partos. Quis esboçar algum questionamento, embora não pude
sse, face a um tubo inserto na cavidade bucal, quando Luiz Sérgio atalhou
-me:
Ah, não, não! Ainda é cedo para falar algo. Primeiro, necessitamos levá-lo
a um especialista no assunto. Você ainda traz seqüelas de sua estadia terren
a.
Estadia terrena? indaguei mentalmente.
Parecendo ler os meus pensamentos, Donato me tirou dúvidas.
Ruggeri, é preciso que saibas de tudo como aconteceu. Há oito meses terre
nos atrás, chegaste a esta Estação que nada mais é do que um posto de eme
rgência avançado.
Em tuas indagações mentais percebi tua apreensão e questionamentos. Não se
turbe o teu íntimo. Aos poucos tudo será esclarecido.
Por que me transferiram de hospital? Será que a conta não foi paga? Posso r
eclamar junto a meus parentes. Papai pode fazê-lo...! Indaguei, tentando m
e expressar
com os órgãos da fala.
Calma! Tudo a seu tempo. As impressões da doença e do desgaste fisico ai
nda lhe inibem as possibilidades de movimentação normal.
Amália, prosseguiu:
Meu querido, aqui tivemos a honra de recebê-lo. Na realidade você foi tran
sferido, não só de hospital, mas de plano de vida. A Estação dos Jasmins nã
o é na Terra,
e sim no plano espiritual, ou seja, do outro lado da vida, como falam os enc
arnados.
Senti um choque! Então eu já partira do mundo e não soubera?! Comecei a
inquietar-me e me debater na cama em que me acondicionaram. Amália, pe
rcebendo-me o desespero,
colocou a mão direita, que mais parecia uma pluma de algodão, sobre minha
fronte, trazendo-me paz. Aos poucos fui relaxando. Sejá havia feito a pass
agem, não haveria
motivos para inconformações.
Obrigado. Você é um doce.
Você também! respondeu-me.
Estava confuso quanto àquele tipo de comunicação. Eles me ouviam o pensa
mento, muito embora os visse falar.
Seriam extraterrestres? Calculei.
Ruggeri, hora de fazer um pequeno passeio. Disse-me Luiz.
Colocaram-me em uma cadeira que não tinha rodas, mas que deslizava. Coisa
semelhante só vira em filmes de ficção científica.
Luiz Sérgio empurrava a cadeira, ladeado por Donato. Conversava abertamen
te, mostrando-me as belezas daquele oásis de paz. Vi muitos jovens e cria
nças brincando;
até mesmo animais. Era belo!
Adorava crianças.
Mais adiante, chegamos a um lugarzinho fantástico. Um campo de flores da
s mais variadas cores, exalava perfumes desconhecidos que me preenchiam
a alma, e o vento
cálido percorria levemente por todo o lugar. Um carinho da natureza! Dava pa
ra perceber que eu tinha corpo, eu o via e a brisa o tocava.
- Vê como é bela misericórdia de Deus, meu filho? Expressou-se Donato,
enquanto eu me detinha em imaginar se estaria mesmo morto.
Ei, amigo, não pense bobagens, ok? Tem muita coisa bela aqui para se ver.
Se pensas que está morto, como ser inteligente que é, comece a pensar: por
que será
que estou aqui, vendo essas coisas, se estivesse realmente morto? Acalme-se
! Você agora está no lugar de Sócrates. Naquela época, na Grécia, ele prete
ndia chegar
ao outro lado da vida, para poder provar aos outros aquilo que ele pregava.
alertou-me, Luiz Sérgio.
Como percebera que podia conversar com ambos pelo pensamento, pois não h
avia sido retirado o tubo que me impedia de gesticular a mandíbula, cont
inuei em minhas divagações
interrogativas.
Quer dizer que realmente, estou no além?
Está. Só precisa refazer-se e acreditar que suas capacidades e aptidões não
foram perdidas, pelo fato do trespasse de uma dimensão para outra.
Como assim?
O que fazia antes de vir para cá? questionou-me.
Cantava, dançava, compunha, fazia rockandroll... amava...
E por que acredita que não pode mais fazer isso?
Vocês disseram sutilmente que morri.., isso é tudo?
Creio que não, Ruggeri. Se fosse tudo, não estaríamos com você aqui. Exist
em milhares de pessoas que partem da terra todos os dias, enquanto inúmero
s nela reingressam.
Dentre esses milhares ou milhões, existem aqueles que acreditam que são al
guma coisa ou querem ser. Ao contrário, você quis deixar de ser alguma coi
sa. Se permitiu
cair no vazio da incerteza, da descrença, do abandono de si mesmo, Niilica
mente* ...coisas que sempre combateu na vida terrena. Já pensou o que acha
riam de você
agora, vendo-o neste estado, porque você mesmo assim o quer? O que perceb
emos, amigo, é que por auto-piedade, crê ser um derrotado, a pior pessoa
do mundo, um falido,
um marginalizado, sem crédito para que o amem...
Confesso que fiquei indignado com a explanação do homenzinho. Quem seria
ele para dizer o que fui e o que não fui, ou que poderia deixar de ser? E
ra dono de mim,
tinha o meu próprio caminho, não aceitava que me dissessem o que deveria s
aber, porque eu era eu.
Filho. Até quando vai se deixar conduzir pelas torrentes do orgulho destr
uidor? Quanto lutamos por você! Quanto procurei alertá -lo Agora, tem a op
ortunidade de
refazer-se para a vida, dando continuidade aos projetos dantes abandonados.
Eu não pedi para que ninguém me socorresse! Nem sei nem quem você é..
. não preciso de ninguém, ouviram? Não preciso de ninguém! Deixem-me e
m paz! Quero minha
família de volta, meu filho, meus amigos e parentes... minha vida !
Descontrolei-me por completo. Enervei-me a ponto de tudo à minha volta
transformar-se em ambiente fumegante e nevoento. Aqueles que antes me l
adeavam, não mais os
vi. Onde foram todos? E a estância, por que desapareceu? Amália, onde esta
ria?
Ingressei numa espécie de turbilhão, similar ao centro de um furacão, onde
tudo era um caos desconcertante.
Fiquei estonteado e perdi a noção de tempo e espaço.
Donato? Luiz... Amália, Luzia, onde vocês estão? Vociferei desesperado,
pois o tubo já não estava mais em minha boca.
* N.M. Nililcainente: palavra derivada de Niilismo. Niilismo Doutrina se
gundo a qual nada existe de absoluto. Descrença absoluta. Redução ao nada
. Aniquilamento
total.
Minha voz ecoou e, então, pude sentir que alguém se aproximava à minha re
taguarda; passos pesados, entrecortados por risadas medonhas.
Olhem só quem está de volta., não acredito! O chefe vai adorar saber disso.
Volvendo-me, para saber quem eram os emissores das gargalhadas estentóricas
, divisei seres estranhos, esfarrapados, de carantonhas terríficas, alguns
até desfigurados.
Monstruosos! Um calafrio percorreu minha espinha. Comecei a perceber que
readquirira algumas de minhas funções fisicas, antes inertes. Não pude
me mover como pretendia.
Na verdade, a vontade era correr dali, mas só consegui me arrastar, deficien
temente.
Onde vai o nosso ídolo? Disse um dos macabros seres.
- Quem são vocês? O que querem de mim?... deixem-me em paz! manifestei-
me meio tatibitate.
Calma, cara! Não vamos te fazer mal. Só queremos curtir rock, saca? Você
vai fazer um show para nós e de graça, entendeu? falou-me o mais imponent
e deles.
Se querem curtir rock, procurem algum metaleiro, pois eu
não canto heavy-metal.
Não se preocupe, cara, você faz o show e nós te liberamos.
intercedeu um deles que se assemelhava a um cadáver mumificado.
Saiam daqui! Me deixem em paz!
Muito engraçado, cara! Você foge de nós, nos abandona por aqueles emplum
adinhos da luz e agora que está aqui de volta, demonstrando que nos ador
a também, quer fugir
novamente? Nem pensar! Você é nosso!
Não sou de ninguém! Quero que me libertem já! . . .tenho vontade própria
e não dependo de vocês para nada!
É isso que você não percebe, meu! Teu orgulho é nosso alimento. Bem que p
recisas de nós. Se não fosse por nossa turma, você estaria numa fuma agor
a. arrematou
o mais degradante deles.
Mais uma vez estava confuso. Por que num momento estava em ambiente de tr
anqüilidade, de imorredoura paz e, noutro instante, via-me atado àquele l
ugar infernal,
escuro,
lodoso e frio, habitado por criaturas bestiais?
Fui conduzido por eles a uma metrópole tenebrosa, assemelhada a uma cidad
e, com casas, apartamentos, tudo de uma agitação desconcertante. Mulheres
, crianças, velhos,
rapazes, se debatiam numa babel sem limites. Orgias diversas em plena rua
, bebedeiras, inúmeros pares em conjunção amorosa, verdadeira Broadway do
s infernos. Para
minha surpresa, chegamos a um teatro muito grande, iluminado por tochas e
cercado de fumarolas que exalavam um odor fétido. No frontispício, eis que
estava escrito
o meu nome: Grande show com Ruggeri e sua banda. Que loucura! Estaria m
esmo ficando louco? Ora, num lugar que era um paraíso; noutro momento,
num covil só descrito
em narrativas dantescas. Rompera os limites da insanidade.
Inúmeras pessoas estavam à frente da construção negra, e
quando me viram bateram palmas, agitando pedaços de paus. Outros, com lu
mes acesos, uivavam numa coreografia impressionante, i guisa de selvagen
s. Alguns se drogavam,
outros brigavam entre si.
Meu Deus!, pensei Em que fui me meter?! Tirai-me lesse pesadelo...!
No reino underground
Quando somos pequenos, temos medo do escuro, de bruxas,
do lobisomem, de fantasmas. Devíamos ter medo de nós
mesmos, pois somos nós que nos projetamos para baixo.
A nossa vontade é uma terrível arma. Mal direcionada, provoca a destruição
. Bem orientada, torna-se uma fonte inesgotável de criação e benfazeja. Do
ravante, escolho
a segunda opção. Todos temos esse direito; o de escolha.
R.R.
Levaram-me e fui obrigado a cantar para uma multidão que, mais parecendo to
rcida futebolística, atirava-me toda sorte de objetos, frutos e até lama. T
oda vez que
tentava dizer-lhes de minha indignação, algum malfeitor me cutucava, amea
çando atin ‘-me com um porrete cravejado de saliências pontiagudas.
Se falardes alguma coisa além de ant panco com isso! Esbravejava o ai z e
m tom in
Já exausto, um presumível cice:
resolveu silenciar.
Caros amigos! Conforme havia prometido, trouxe aqui o nosso ídolo Rugger
i Rubens. Viram? Promessa é dívida e nessas plagas, aquilo que prometo l
evo a cabo. Gostaram
do show? Querem mais...? bem, deixemos para a semana que vem. O cara, co
mo vêem, não passa muito bem. Parece que a estadia lá na casa do Cordeir
o não foi lá essas
coisas. Viram, bem que os avisei? Pois bem, teremos hoje mais uma surpres
a. Traremos, daqui a algumas horas, um grupo metaleiro. É uma banda de ar
raso e vai estremecer
tudo por aqui! Além disso, conforme também prometi, virão grupos de vicia
dos, dos quais vossas senhorias poderão se banquetear.
À medida que aquele homem grotesco ia falando, eu tentava delinear o que r
ealmente estava acontecendo. Que estava morto, disso eujá soubera. Deixara
a terra e
o mundo dos vivos. Mas, se o mundo dos vivos não era ali, qual a necessida
de daquele mestre de cerimônias prometer a vinda de terrenos, ou seja, viv
os para
aquela festa? Isso significava que os supostos vivos da terra poderiam fre
qüentar também aquele lugar. Se o podiam, como isso se daria? Minhas elucu
brações foram
interrompidas por um sujeito alto e feio, vestido com uma espécie de pele
de animal, lembrando um Pitecantropus desses que vemos em livros de Histór
ia geral.
Diz aí, cara...! - cumprimentou-me com uma voz roufenha.
Eu te trouxe uma dose de tranquilão. Experimenta só!
Saía daqui! Deixe-me em paz! Retruquei alterado, empurrando-o. Estava e
njoado e passava mal com o cheiro acre do lugar.
O mestre de cerimônias, ao ver a cena, determinou que me retirassem do pa
lco e me levassem ao que parecia ser um camarim.
Lá chegando, quase desmaiei de susto ao encontrar um famoso vocalista de
uma banda paulista.
Ruggeri! O que você está fazendo aqui, rapaz? Pensei que você tivesse ido
com os caras do Cordeiro.
Cordeiro? inquiri.
Sim. Foi o que me disseram aqui. Isso gerou uma indignação geral na moçada
. Veja lá o que você apronta! Eles têm leis severas. Por pouca coisa te co
nfinariam numa
furna-prisão. Lá o sofrimento é grande!
Mas, o que você está me dizendo? Que história é essa de furna? E o que faz
aqui?
Venho sempre. Aqui é meu reduto, somos livres, gosto das badernas que ap
rontamos. Além do mais, me adoram, assim como a você. Às vezes sinto até
certa inveja, mas
não me importo. Tenho os meus ifis também. Quanto às furnas, são lugares
de sofrimento onde eles encarceram os recalcitrantes e nervosinhhos. Cuid
ado para não provocar
a ira de Sodom.
- Você não lembra? Vinha aqui de vez em quando...?! Antes de você bater as
botas, ele prometeu à galera que o traria para
fazer um show.
Ele é dono desse lugar horrendo?
É o próprio deus daqui. Foi aquele que anunciou o seu show agora há pouco.
Tudo passa por sua mãos. Ele promete, ele cumpre! É idolatrado por todos,
tem leis justas
e as promove através de fiéis servidores. Isso aqui é o underground, meu c
aro, o submundo!
Pensei que fosse o inferno!
Que inferno? Isso aqui é um paraíso! Não percebeu ainda? Temos tudo de qu
e precisamos: fama, luxo, mulheres, bebidas, drogas, sexo... tudo! Aqui nã
o há limites.
Cara, eujá saí disso...!
Você é um iludido! Tenta se iludir. Pertence a Sodom! Todos os que amam
o vício pertencem a ele.
Não pertenço a ninguém! Bradei revoltado.
Pertence sim...! bem mais do que você pensa. É tanto que voltou para cá. Difi
cil se libertar dos grilhões, amigo, muito dificil...
Eu sei que posso me libertar, farei de tudo.
Advirto-o: muito cuidado. Por mim, fico de bico calado. Mas, esse lugar te
m ouvidos e olhos.., muito cuidado!
Me fala mais alguma coisa sobre isso aqui.
É bom que você veja com os seus próprios olhos. Mais tarde virá uma banda
de metaleiros da crosta, que faz muito sucesso no Brasil e no mundo. É ro
ck, meu velho,
do bom e do melhor...!
E o que isso tem demais? Também fazíamos rock e tenho certeza que da me
lhor qualidade.
Há gosto ‘prá tudo! Aqui, valem os gostos e Sodom tenta supri-los a todos.
Como gozo de certa liberdade e não preciso ser vigiado, vou te levar para
conhecer a
cidade.
Já vi parte dela...
Sodom? Quem é esse sujeito?
Nem tudo, nem tudo...
O conhecido vocalista, a quem chamarei de Rodes, me levara pelos arrabalde
s da cidade fantasmagórica, um reino de toda sorte de desajustes, violênci
a, droga e o
sexo sem precedentes. Fui conduzido numa espécie de veículo muito pareci
do com as motocas da terra, e o meu colega possuía uma.
Num certo ponto do trajeto, paramos defronte a uma boate parcamente ilumi
nada por archotes medievais. Na entrada, brutamontes escuros faziam a tri
agem daqueles que
poderiam nela ingressar. Não diferenciava em nada dos inferninhos, tão co
stumeiramente conhecidos e freqüentados. Perguntei-lhe:
Que lugar é esse?
- Você não percebeu ainda? Essa é uma cópia da X.., famosa boate do Rio de
Janeiro. Aqui freqüenta a alta roda da society, filhinhos-depapai, dondocas
, atores,
GLS.., figuras importantes, entende Cara?
Mas, isso aqui não chega nem aos pés do que é a tal boate a que se refere.
Lógico! Estamos no outro lado da vida, sacou?
Afinal, você ainda é vivo?
Claro, bicho! Só que à noite a gente dá uma passeadinha, entende? A gente é
livre prá ir aonde quiser, daí rola o que sentirmos vontade. Se gosto de be
bidas, vou
aos bares, se quero um free-base, procuro a galera esperta. Se amo o sexo ô
... o sexo! , venho a essa cidade maravilhosa, saca?
Me leva embora daqui. Estou me sentindo mal.
IJé, SÓ por que passou um tempinho com os caras do Cordeirojá virou santo
, é?
Se fosse santo, acredito, não estaria aqui.
Sem me dar conta direito do lugar, fiquei apalermado quando vi ao meu lado
pessoas conhecidíssimas do meio artístico. Todos me felicitavam por estar
naquela. Alguns
até se assustaram: Puxa cara, você não havia moi-rido?, diziam, até parec
endo que não estavam mortos. Outros me ofereciam bebidas, cigarros e até d
rogas de
variadas espécies, muitas das quais sequer conhecia. Recusei tudo! Minha vo
ntade era sair dali. Não me saíam da mente o sorriso de Amália, a tagarelic
e do Luiz e
o olhar aconchegante de Donato.
Rodes, me vendo apreensivo e disperso, levou-me para fora.
Não se assuste, cara. Você parece que viu fantasma! Para alguns deles, voc
ê é um. Relaxa! Arrematou gargalhando.
Em que confusão me metera! Um lugar estarrecedor, pessoas degradantes. Al
go fizera para merecer aquilo. Não podia crer que, existindo Deus, pudess
e Ele permitir
tal coisa. Mas o que eu estava dizendo a mim mesmo? Quando em vida atire
i-me a desvarios parecidos... o que pensar agora? Quedei-me decepcionado
. Chorei.
Antes de estar ali, apesar de ter noção pelas leituras, não tinha a certeza e
xata de que as coisas seriam assim. Os livros que li, os comentários que ouvi
de amigos
que acreditavam no além-vida, tudo me parecia algo distante da realidade, p
referindo acatar tais conhecimentos como meras conjecturas filosóficas.
Ô Ruggeri, vai dar uma de maricas agora, vai? Chorando, meu?! O que voc
ê acha que a turma vai pensar de mim, estando ao seu lado? debochou.
Eu só quero sair dessa. Me leva embora!
Está bem, está bem... seja feita a vossa vontade, majestade! ironizou mais
uma vez.
Saímos. Mais adiante ele me levou a lugar, essen-cialmente,
de homossexuais.
Creio que você, agora, vai se sentir em casa. Gracejou Rodes, chacoteando.
Que você pensa estar fazendo? Acha que sou palhaço? Por que não respeita
minhas limitações?
Ué! Você não buscava a tal liberdade de ser quem era? O que tem vir a um
lugar com que se afiniza?
Sem muitos argumentos, calei-me. No fundo ele tinha razão. Concordei em e
ntrar com ele para conhecer o ambiente.
Tão grande foi a minha decepção ao ver gente que eu conhecia lá, naquele lu
gar. E o que é pior, muitos deles assumindo formas teratóides*.
* N.M Teratóide - Semelhante a monstro.
Mas, isso aqui é uma espécie de baile à fantasia? Perguntei a Rodes, que ca
iu no soalho rolando de tanto rir.
Só você para me alegrar, Ruggeri. Claro que não, amigo! Essas são as form
as que queremos ter por aqui. Como eu te disse
aqui somos quem queremos ser.
Existem monstros aqui! Isso é algum filme, sonho ou pesadelo?
Não esquenta! Não é pesadelo não. Somos nós, mesmo! Você acha que somo
s tão bonitos quanto parecemos? Já experimentou se olhar no espelho?
Ante a pergunta dele, senti vontade de ver como estava. Fui conduzido até
um banheiro, onde tudo era ornado com objetos e imagens eróticas. Chegan
do ao espelho,
me coloquei defronte a ele, vagarosamente, temendo encontrar mais uma de
cepção.
Confesso que fiquei enojado de minha imagem. Horrivelmente maltrapilho,
nariz deformado, veias sanguinolentas à mostra, caquético, cabeça embalo
nada, cabelos em
desalinho, olheiras profundas e corpo cadavérico, senti pena de mim mesmo
.
Viu só, cara? Aqui somos quem somos. Só que você não se
controla ainda, mas vai aprender. Eu já consegui, portanto, dou a mim a for
ma que quiser. Basta não ter pena de si, encarar de frente que você é algué
m que pode
ser muito feliz, saca? Na verdade, eu sou este aqui... olha!
Fiquei observando-o e, após alguns minutos ele metamorfoseara o corpo. A
ssistindo à transformação de Rodes, vomitei de nojo. Ele se transmudara
em um mitológico
fauno, predominando em si a sensualidade.
Desmaiei, tamanho o meu estado de debilidade.
O teatro de marionetes
Foi uma música! No auge de minha acidez de jovem
irreverente, ela foi um dos meios de criticar o sistema. Hoje, não critico n
ada! Me calo e prefiro só observar Aprende-se
muito com isso.
tudo era verídico.
Qual não seria a minha felicidade, se viesse a ter convicção, naqueles mome
ntos, de que tudo aquilo não passara da mais lídima ilusão?!
Fui colocado num cubículo escuro e úmido, cujo bolor era insuportável. Falt
ando-me ar, respirava com dificuldade. Bati à porta e gritei por socorro. A
lguém do lado
de fora, disse para me calar ou iria sofrer represálias. Reiterei minha súpl
ica e, por fim, resolveram abrir aporta. Fui recebido por um homem muito bru
to, que
me esmurrou a face por vezes.
Calai-te! Quem pensais que sois? Aqui não és melhor do que um verme. Cala
i-te! Obedecerás a Sodom. A ele deveis deferência e farás o que ele vos m
andar. És escravo,
e escravos não têm direito! Entendestes?
Diante da reação inusitada do assecla de Sodom, achei prudente não revidar
ou falar mais nada. Fui conduzido para o que seria o show esperado da noi
te. Tive novas
surpresas. A banda que iria
tocar para os infernais, era a mesma famosa entre os vivos.
Fazem sucesso na terra e aqui? Meu Deus! Pensei. Senti medo, pois quan
do estava na Estação dos Jasmins liam os meus pensamentos. Temia que o f
izessem ali também.
Falar ou pensar em Deus naquelas paragens era motivo de escárnio.
Você tem sorte, cara, muita sorte! intrometeu-se o burlesco soldado de So
dom Não é todo mundo que recolhido pelos agentes do Cordeiro, tem a regal
ia de escapar
de lá, ficando impune por estas bandas, entendeu cara?
Meditei sobre o termo que ele disse: escapar? Quem escaparia do Cordeiro
e quem seria o Cordeiro?
Posso fazer uma pergunta?
O que é? . . .Desembucha!
Quem é o Cordeiro e por que alguém escaparia dele, como você falou?
Levei outra bofetada e o brutamontes me segurou pelas vestes, explicando-
me em sussurro:
Não se pode falar Nele aqui, compreendeu? Mas, eu vou dizer para você. O
Cordeiro é o tal Jesus. arrematou cuspindo de lado.
Por que o temem? Não faz sentido. Jesus foi exemplo de bem-viver. Qual a
razão pela qual alguém fugiria de sua proteção?
Melhor que eu tivesse ficado calado. O ser grotesco esmurrou -m mais vezes
.
Insolente! Quem és para falar em bem-aventuranças? Achais que estamos
aqui vivendo para o bem? Não queremos viver no bem, queremos o prazer t
otal! Somos donos
dos nossos destinos, entendeu? Tu mesmo fugistes dele. Deveis saber o porq
uê! Como ousais me perguntar? Sabeis a resposta. Preferistes estar aqui, n
ão foi? A opção
foi tua!... tua! Berrou.
Iria me bater mais, não fosse a interferência de Rodes que se aproximou sin
alizando para o meu agressor que, parecendo respeitá -lo afastou-se.
Rodes reergueu-me e saímos para distante dali.
O que diabos pensa estar fazendo, mano? Sabes quem é ele? perguntou-me.
Ora, vá às favas!
Revoltado, levantei-me e chutei tudo o que encontrei pela frente. Desesperad
o, chorei feito criança contrariada.
Após muito tempo e com as vestes ensopadas de lágrimas, deitado no chão da
sacada, visualizei as malditas plantas murchas e os vasos espalhados pelo
local. Peguei
uma delas e premi-a, manchando minhas mãos com sua contextura gosmenta
.
Eu não quero mais ficar aqui... murmurei, quero ir embora! Desejo ir para
a Estação dos Jasmins. Quero paz, compreensão, carinho, serenidade., por fa
vor, Deus,
não me abandone!!!
Após alguns minutos de silêncio interminável, a voz de minha mente voltou
a falar comigo.
Ele nunca o abandonou; você sim.
Acho que tem razão., O abandonei.
E sua vontade, ainda está firme?
Sim, quero ir embora!
Quer?
Desejo ardentemente.
Peça a Deus...
Ele não vai me escutar. Sou um farrapo! Quem escutaria um viciado derrot
ado?
Então mentia quando me disse que tinha a vontade firme,.
Não, não, não menti! Por favor.., falo a verdade!
A pior mentira é aquela em que mentimos para nós mesmo.
O que quer dizer com isso?
Que você se sente um farrapo e essa é a sua verdade, momentânea.
Estou começando a entender você. Se eu me sentisse um bravo, talvez saís
se daqui, não é mesmo?
Não é bem isso. Deus não quer guerreiros e sim, mansos e pacíficos., por i
sso mandou-nos Jesus, o exemplo...
Jesus, um grande avatar,. o maior deles,, não era um guerreiro, nem líder po
lítico... quem Ele era então?
O exemplo! De amor, mansuetude, quietude, paz, sinceridade, verdade, ben
eficência, poder que não macula, que não mata e não fere, que não dissimu
la, que ameniza,
que pacifica,,, que é luz!
Sempre há uma luz?
Sim, há sempre uma luz... tanto é que os insetos a procuram. Parei de dial
ogar com o que parecia ser minha mente e pus-me
a meditar.
Insetos., insetos buscam a luz. Ela está sempre no mesmo lugar, na fonte e a
tinge distâncias, o inseto é quem a busca... buscá-la!. Acho que sei o que v
ocê quer
dizer, agora. Devo buscar a luz, tal como os insetos?
Isso! Fez progressos. Só que depende de você., há uma opção dentre três:
procurar a luz como guerreiro ou como inseto, ou simplesmente, não procurá
-la. O que
prefere?
No momento, creio estar mais para inseto do que para guerreiro. Estes são f
ortes, poderosos, arrogantes, garbosos, mas...
Os insetos também são fortes e poderosos. Já imaginou o que uma formig
a do seu tamanho faria no mundo dos homens?
Gargalhei, descompromissadamente; a situação parecia uma brincadeira de c
riança.
Você me faz rir.
- Isso lhe faz bem?
Sim, sim... enorme bem. Ultimamente não tenho podido rir.
Que tal começar a pensar assim doravante: ser um inseto
sorridente!
Gracejei abertamente:
Um inseto sorridente? Acha que levo jeito? Posso tentar...
Tentar ou querer?
Tentar...? Não, não., bem...: querer!
Decida-se! O inseto sorridente tem asas, pode voar e realiza a vontade de
Deus. O guerreiro, com sua armadura cumpriria essa vontade? Poderia ele voa
r ou realizar
a vontade de Deus? O
que lhe parece mais viável?
Ser o inseto, é lógico!
Ainda quer ser um inseto?
Envolvi-me. O que minha mente me dizia era coerente. Buscava a saída, mas
tudo me levava a crer que a escapada estava na minha força de decisão. A
quele eco mental
não me dizia o que fazer, mas me conduzia a raciocinar para tanto. Era uma
questão de
decisão.
Você ainda está ai? Indaguei.
Mais progressos. Agora já me trata como a pessoa. Claro, estou aqui. Já se
decidiu?
Senti um desejo.
E qual é?
Se você é você, quero vê-lo.
Quer mesmo me ver?
- Quero!
Senti firmeza! Além de mim, gostaria de ver mais alguém neste momento,
ou seja, alguém que queira muito bem?
Meu filho!
No momento isso não é possível; ele ainda está encarnado. Pense em outra
pessoa.
Fui buscar no meu íntimo alguém que me trouxera felicidade, ultimamente.
Viajei no espaço dos meus sentimentos e decidi.
Quero ver Amália e seu sorriso. É linda!
Ela está muito ocupada, neste instante. Se incomodaria de pensar em outra
pessoa?
Sem pestanejar, disse-lhe:
Conhece-a? Bom, então eu quero ver aquele sujeito de ontem; apesar de mei
o esquisito, percebi algo de bom nele. Pareceu -me um cara legal.
Ok! Você o desejou...
Gelei e tremi feito animal acuado. Estava num mundo diferente, utópico em
princípio, para mim de ficção. Julgava-o mundo do faz-de-conta. Tudo me
era novo, absurdo,
fantástico! Conversara com o que julgava ser a minha própria projeção ínt
ima. O que poderia resultar disso? Mil e uma dúvidas assombraram-me, mas
eu tinha que experimentar!
Necessitava fugir dali.
Fiquei estático, vagueando com os olhos irrequietamente, a fim de detectar
alguma presença. Tão absorto, na ânsia de ver o meu amigo oculto, sem que
notasse, eis
que ele surgiu às minhas costas, dando-me um tapinha. Era o mesmo homem q
ue vira na noite anterior.
Você! Não acredito!
Como tem passado, São Tomé? disse-me.
Você estava aqui o tempo todo?
Sim.
Por que não o vi?
Deus está em toda em parte, nem por isso O vê. Embora não sendo Deus, m
as tendo-O descoberto em mim, eis que posso estar onde quero e me é perm
itido. Jesus nos
disse: o espírito sopra onde quer. Se não me vistes, foi porque não o quise
stes, ou não vos colocastes em condições para tanto, mas a partir do moment
o em que
teve vontade, e isso vos foi permitido, viu-me.
Quem é você? Sinto que o conheço.
Só descubro a charada, quando me deres o teu autógrafo. Sou seu fli!
A voz, a impostação, os trejeitos ao falar, a solicitude e o carinho... só pod
ia mesmo ser o:
.. .Luiz Sérgio! Você está horrível! Por que está assim? É uma fantasia? a
garrei-o em desespero.
E como acha que estou vendo você? Não me parece nenhuma alegoria da Beij
a-Flor. brincou.
Ergui-o do chão, efusivamente, beijando-lhe a face por diversas vezes. Note
i que não se indignou.
Você é um cara estranho aleguei.
Por não ter rejeitado você?
Sim. Normalmente as pessoas, principalmente aquelas que não conheço bem
, teriam me criticado, me empurrado ou me olhado de outra maneira. Sabe
como é, né... ?!
O preconceito?
Sim.., o preconceito.
Precisamos conversar muito, não é Ruggeri?
Luiz, como faço para sair daqui?
Já destes um primeiro passo, amigo. Agora é ter paciência. O inseto com as
as, recorda-se?
Isso é filosofia, meu. Preciso de realidade. Algo palpável, entende?
-A melhor filosofia é aquela que compreendemos, pelo exercício prático de
seus postulados.
Ainda assim, ressoa como filosofia.
Só não saístes daqui ainda, porque pensa que a filosofia lhe é externa. Ac
has que acumulastes muitos conhecimentos e isso, supões, fez de você um sáb
io, um tanto
dono de si; por tal razão, reluta em pensar como um inseto, um pequeno e ins
ignificante inseto.
Orgulho?
Você o disse...
Tens razão! Sempre fui muito orgulhoso.
Comece a pensar como um inseto. Guerreiros têm vontade própria, mas os in
setos...
.. .Fazem a vontade de quem os criou?!
Exato! ripostou-me.
Me ensine a ser um inseto, então!
Sua última frase foi um primeiro passo, mas eu... não...
sou... Deus.
Decerto, Luiz Sérgio não era Deus, nem a luz, e como insetos, eu teria que
achá-los, fazendo a vontade de quem nos criou. Só não podia voar como faz
em os insetos,
talvez porque o orgulho me destituíra das asas da humildade.
Caí em prantos aos pés de Luiz que, segurando minhas mãos, arrematou:
Ruggeri, por favor, não me envaideça! Eu não sou um altar e muito menos
o vosso confessor. Nem na terra há quem detenha tamanha autoridade! O
que aprendemos basicamente
num catecismo?
Não entendi
Nossos professores, quando crianças., o que nos ensinavam quando quisés
semos conversar com Deus?
Que deveríamos nos recolher, ajoelhar e unir nossas mãos...? Ótimo, amigo,
faça-o! Não precisas de mim para isso. Esta
conversa é de filho para Pai. Abras o coração! Sejais cúmplice dAquele que
o ama. Eu sou apenas um inseto., como vós. Ele, só Ele é a própria ...luz!
Permanecendo ajoelhado, olhando para o que seria o firmamento daquele mun
do paralelo, orei, como nunca havia feito, suplicando perdão a Deus por t
odos os erros cometidos,
rogando-lhe piedade, pois era uma alma piegas e sofredora, que só almeja
va paz, buscando compreender como se amava verdadeiramente.
Uma sensação gostosa percorreu todo o meu corpo, ao mesmo passo em que
uma fenda iluminada se abria à minha frente, me envolvendo, quase a pon
to de cegar-me temporariamente.
Mãos invisíveis me tocaram o corpo, abraçando-me com se-
gurança.
Pela entonação celestina, ouvi então a mais bela frase que poderia um simple
s e desprezível inseto escutar:
Sê bem-vindo, meu filho!
E quando tudo parecia perdido...
O dia após a noite. A calmaria após aprocela. Dormir para
acordar Sofrer para valorizar Doar para receber Amar para ser amado. Morre
r para renascer. Perder-separa reencontrar-se. A chave da felicidade estar
á em reconhecermos
que, quando a dor é iminente, o lenitivo virá logo em seguida.
R.R.
Quando acordei, estava sobre uma cama macia, de lençóis acolhedores, num
quarto pequeno, asseado e que cheirava a pinho do campo. Um delicioso e
tênue bafejo do
ar matinal, penetrava pela janela, esvoaçando as cortinas finíssimas de tom a
zul celeste.
Ao lado do leito, umajarra contendo algum tipo de liquido, um prato de sop
a e um livrinho. Curioso, cheguei mais perto para observá -lo me reclinand
o lentamente
e ainda com dificuldade. Estava fatigado, o corpo pesava bastante e a cabeça
parecia rodopiar.
A vida em muitos reis, era o título do livreto de cabeceira, cuja capa pareci
a constituir-se de um material holográfico de raríssima beleza. De uma coisa
estava
certo. Voltara ao paraíso e a felicidade invadiu-me a alma fustigada pela ard
orosa experiência.
Alguém bateu na porta.
- Bom dia! Que manhã mais linda! Como tem passado o nosso amigo?
-Bem, pelo menos não me vejo no inferno em que estive.
Que frase tão pesada! Que tal dizer: na escola em que esteve?
Chamar aquele lugar de escola é tachar ouro por breu...
Não seja tão pessimista, Ruggeri. O pessimismo estraga nossas vidas, embot
a nosso hálito mental e transforma as palavras
em espinhos acutíssimos.
Filosofias?
Não. Verdades!
Calei-me diante de tão bela jovem. A força de seu verbo, para mim, era sin
al de que devia silenciar não dizendo nenhuma asnice. Desde que partira da
Terra, no mundo
encontrado, tudo transpirava justeza. O que se dizia, pensava ou se fazia, tin
ha reflexos visíveis e imediatos.
Onde estou? perguntei.
Onde desejaria estar?
Em qualquer lugar que me trouxesse paz.
Aqui estais em paz?
Por que, ultimamente, as pessoas têm me perguntado tan ta coisas?
Porque as respostas estão em você. És o universo de nós.
Já vi esse filme antes; creio.
Sim. Um filme cujo videocassete está sob vosso controle. Podes rebobinar a
fita o quanto quiserdes. Certamente, verificando inúmeros erros que passa
ram despercebidos,
poderás arquitetar um futuro melhor, definindo novos rumos.
Sabe muito sobre minha vida?
Oh! Por favor, não que eu queira ser indelicada, mas nada que não possamo
s trocar idéias. Queremos apenas ajudá-lo.
Queremos? Quem queremos?
Aqueles que o amam. E se vai perguntar quem o ama, vou lhe dizer que es
tá na hora do seu medicamento. Finalizou, apresentando-me um copo com u
m líquido verde-piscina.
Que é isso?
Melhor deixar de tantas perguntas, Ruggeri Rubens. Garanto, não é nenhu
ma poção venenosa. Arrematou a moça, em jovial tom de brincadeira.
Ainda não sei quem és.
Ó, como sou deseducada. Perdoe-me! Chamo-me Ana Cláudia. Sou a enfermei
ra responsável por esta ala. Tudo o que precisardes, pode me contatar.
Ala? Isso aqui é um hospital? Como então posso contactá -la se não exist
e nenhuma campainha?
Use a mental. Pense e logo saberemos.
Ficção científica? Que barato!
Não, novamente...; realidade! Agora, queira tomar o seu remédio, por favor
.
Está certo! Do jeito que me olhou, espero que não me enguia. Brinquei e g
argalhamos juntos.
Ana Cláudia, gostaria de fazer mais uma pergunta; posso?
Ah! Essas crianças...! Quer saber onde anda Luiz Sérgio, Donato, Amália
e companhia, não é mesmo?
Nossa! Quando vou aprender a fazer essas coisas?
Refere-se à linguagem do pensamento? Calma. Tudo a seu tempo. Precisa r
ecuperar-se primeiro. Veio de uma experiência não muito agradável, embor
a proveitosa. Colheste
lições valiosas que, mais tarde, saberás aquilatar-lhes o valor. Quanto aos
vossos amigos, espere mais um pouco. Descanse apenas.
Ordens são ordens! Está bem.
Isso! Vá se disciplinando. Logo, saberá para onde vai. Há sempre um caminh
o a ser seguido, com disciplina, é claro.
.É, há sempre uma luz! complementei.
Ana abriu um sorriso fantástico. Seus dentes alvinitentes reluziam, como n
eons de estupenda luminescência.
Você é um anjo?
Me vê com asas, Ruggeri?
Quem tem um carisma desses não precisa de asas.
Mais uma vez olhou-me com ternura, afagou-me os cabelos e, pausadament
e, premeu-me suavemente contra o colchão emplumado, recobriu-me e beij
ou-me a fronte, pausadamente.
Deus te abençoe. disse-lhe.
Já me abençoou em poder servi-lo.
Ela saiu devagar, olhando-me. Segundo ela, Deus a havia abençoado por serv
ir-me. Já à porta, despertou-me a curiosidade e perguntei-lhe:
Ana, você me ama?
Fixou-me o olhar nítido e mais uma vez sorriu, obtemperando:
Preciso dizer?
Não. O seu sorriso pagou o preço que exigi.
Amar não tem preço e não é preciso que se diga. Pense
nisso, doravante...
Contemplei a sua lenta saída do quarto. Ela estava com a razão. Amar não ti
nha preço algum; antes, tola exigência minha (e pensar que exigi isso do me
u pai). É gratuito,
não exige, não cobra. apenas dá, doa, beneficia, acalenta. Vi a sinceridade n
o olhar de Ana, apesar de só conhecê-la naquele quarto de hospital espiritual
. Tive
vontade de perguntar-lhe se me conhecia de algum lugar ou época, mas tem
endo que meus questionamentos pudessem estar eivados de pieguice, revire
i-me na cama e acabei
dormindo profundamente.
Sonhei.
Vi-me em uma floresta densa, em qualquer lugar da Europa ocidental, pelo
aspecto e paisagem. Apreensivo, ansioso, esperava alguém. Um jovem, um
lindo mancebo surgiu.
Abracei-o. Eu era uma mulher! Transmiti-lhe minha ansiedade e ele procura
va me consolar.
Aceitai os fatos! disse-me. Eu a amo, mas não posso ficar convosco. Não é
possível! Tenho mulher e filhos. Enquanto vida tiver é a eles que devo doa
r-me, entendais!
O que exigis de mim não é possível. Não queirais forçar uma situação na q
ual não seremos felizes. Podeis me amar mesmo assim?
megera.
Não! Quero-o para mim! Não admito perdê-lo para aquela
És incompreensiva! Não entendeis, se ficar convosco vou destruir a vida d
e Helen e das crianças? Não pensais nelas? Eu também as amo.
Vil! Mentis-te para mim. Nunca soube delas. Agora, coloca-as como obstác
ulos à nossa felicidade, após haver me seduzido.
Não. Perdoa-me, se delas não vos falei! Precisava de alguém que me compre
endesse, me ajudasse a suportar as dificuldades...
-Aí me procurastes, seduziu-me e eu, tola, engravidei... Ah! Eu vos odeio!
Fui iludida. Se pudesse escolher jamais teria nascido mulher. Somos escravi
zadas pela
lascívia de Vocês, homens! Porcos! Valem-se de nossas fraquezas para nos re
duzir a trapos. E agora, o que faço da minha vida e do filho que espero de
ti? Es casado,
tens filhos. E eu, o que será de mim? No mínimo uma prostituta! Quem, nes
sa sociedade, me aceitaria como mulher? E meus pais, escorraçar-me-ão do
lar em que cresci...!
Mas, o que posso fazer...?
Nada! Nada! Volteis para vossa megera. Vivais com ela e sejais muito feliz
!
Sentia-me traída e angustiada. Meu único desejo era me retirar da vida. Mai
s tarde, diante de um espelho, observei minha beleza física. De que me adia
ntava?
pensava: Não tenho o que quero! Enganada, traída, humilhada por ser mulher
solteira e com filho..!. Não havia outra saída. Meus pais não me aceitariam
no lar.
Resolvi então pôr um fim a tudo. Procurei algo que me ferisse de morte.
Uma adaga...? Não! Repugnava armas brancas. Não encontrando nada que pu
desse aplacar
minha dor moral, de maneira rápida, então busquei uma elevação próxima. Si
m, seria o ideal! Cairia no vazio e me despedaçaria nos rochedos pontiagud
os, lá embaixo...
sem dores, sem máculas. Desesperada, projetei-me no penhasco, sentindo o h
orror de ver o chão se aproximar, veloz e implacável.
Despertei do pesadelo num salto. Estava banhado em suor. Para meu alento,
eis que Donato estava ao meu lado.
Figlio mio... tivestes um sonho ruim?
Meu Deus! Sonhei que era uma mulher! Uma mulher! Vê
se pode?!
Parece-vos um absurdo?
Sim. Eu não sou mulher, sou homem!
Meu caro, as impressões do mundo nos são fortes. Quando estamos na carne
, julgamo-floS senhores da sapiência, muito embora, em verdade, estejamo
s muito aquém de
dominar todos os conhecimentos.
Já ouvi algo parecido...
IssO mesmo! Nem tudo sabe a nossa vã filosofia, por William Shakespeare Les
tes isso? Eras um leitor voraz, sábio, contudo, entre a sapiência adquirida
pela leitura
que nos angaria conhecimentos, e a realidade daquilo que ainda está oculto,
há grande distância, cuja Ponte só é construída pelo abandono de certos pr
econceitos,
no entendimento de que não somos maiores do que as leis e o amor que a
tUdo nos rege. É preciso que compreendamos que, como espíritos imortais
não somos homens ou
mulheres, características tão peculiare ao globo em que vivemos, tão necess
árias para a função reprodutiva e trocas energéticas através do lídimo ato
sexual. Somos
espíritos essência de Deus, inteligências, faíscas do eterno amor universal
Então, a partir dos conceitos sexo, distinção entre sexos, macho e fêmea, do
minante
e dominado, tecemos uma teia milenar de Preconceitos, cujas presas somos
nós mesmo, quando reingressamos nas jornadas terrenas das experiências, e
o veneno aracnídeo
flOcuamoS em nossa convivência com as demais criaturas, sofrendo o reflex
o daquilo que ajudamos a construir ou destruir.
É a lei do retorno! Jesus quando veio à terra, muito embora isso tenha sido a
lém das linhas dos atuais códices religiosos, por políticas conveniefltes por
tava-se
como homem, vestia-se como tal, sua voz era grave, mas a sua essência era
espiritual, mansa, pacífica, transformando a palavra em ação, um verdadeir
o Cordeiro! Não
era homem ou miliber, era Jesus, o Mestre! Dois mil anos após sua vinda, q
ue nos importa se podia Ele procriar ou não, ser macho ou fêmea, ter posse
s ou ser um mendigo,
dormir em um colchão de plumas como esse que vos recebe o corpo, moment
aneamente, ou se tinha raízes de árvores como recosto? Nada disso impor
ta. Valeram e continuarão
valendo as qualidades do Seu coração angélico, irmanado com a vontade do
Eterno. Será que me fiz compreender?
Pelo que depreendo, quer me dizer que posso ter sido mulher, como admitem
livros kardecistas e doutrinas orientalistas?
Em livros espíritas, livros espiritualistas ou não, quem fomos ou deixamos
de ser, nada disso terá importância sem as qualidades do coração O que mai
s vale é o
amor, independente do que somos. No mundo preocupamo-nos em ter, não em
ser, daí vêm nossos desajustes, Sonhastes sendo uma mulher, mas nem po
r isso te sentes como
Uma. À procura de sermos amor, a exemplo de Jesus,
embora imperfeitos, muitas vezes nos atemos em identidades, seja como hom
ens, seja como mulheres. O espírito é quem deseja e isso tem causado inco
ntáveis males,
porque as pessoas não se conformam com o que são. E o preconceito human
o quanto à sexualidade, tem causado profundas seqüelas morais em quem é
aturdido por essas
insatisfações.
De fato! Suportei muita barra por causa do preconceito tolo.
Teremos muitas oportunidades de conversar sobre isso. Todavia, por agora,
quero que venhas comigo. Precisamos ir à nossa oração coletiva, e urge qu
e nos apressemos.
As palavras do novo amigo ficaram ressoando em minha mente. Sabia que, de
alguma forma, ele estava certo. Ouvira ou lera, ou quem sabe, vivenciara t
ais experiências,
tudo muito nítido naquele sonho. Cada vez mais, certificava-me de que est
ava mais vivo do que nunca, até com direito a sonhar com um passado ainda
envolto em brumas.
Donato conhecia do que se passou comigo. Era isso que me dava a entender,
embora me causasse certa inquietação, porque eu não sabia, ou não record
ava do passado
com clareza. Ele percebeu minha circunspecção. Recordei de vovô, por qu
em muito tinha deferência. A saudade invadiu-me a alma e a lembrança do
s meus me
assaltaram de chofre.
Incontido, perguntei:
Por que quando estamos vivos não temos recordações
desse tipo?
Como não? E certos sonhos que temos? É mérito, filho. Mérito! Deus, onipot
ente,justo e soberano, sabe de nossas dificuldades, medos e apreensões. Tu
aprendestes
sobre essas coisas antes de retornar à carne, todavia, o esquecimento tempor
ário de nossa preexistência e tornagens terrenas vivenciadas, não o permitiu
divisar
todas as respostas. Devemos busca-la na falna das experiências das quais,
muitas delas, escolhemos por nossa própria decisão, quando nos é permitido
. Contudo, ante
as provas ou atribulações requestadas, enuviados pelos clamores do mundo,
que são muitos e fortíssimos, caímos, tolhidos pela nossa fraqueza e insen
satez. Nosso
livre-arbítrio é o timão dos destinos. Quanto a dizeres que não lembra-
vas desses fatos, aparentemente novos, tais cenas estavam gravadas em teus
arquivos perispirituais que faz sede em todos, como verdadeiras centrais de
dados das
nossas existências pregressas. De quando em vez, tu mesmo tivestes tais so
nhos, embora o peso da carne os tenha distorcido OU dificultado a lembranç
a integral.
É verdade! Eujá sonhei algo parecido. Mas, para mim era só um sonho, ente
nde?
Muitas vezes, os sonhos são realidades que nos incomo dam e por isso deixa
mos para trás, verdadeiros faróis norteadores dos erros cometidos, a fim d
e que não os
cometamos novamente. Similarmente, algumas sensações que temos em rela
ção a certas pessoas, demonstrandonos simpatia ou antipatia, ou mesmo
nosso próprio comportamento
nos dão chance para divisar quem fomos, somos e temos a reconstruir a fim
de sermos
Prosseguimos lentamente, pois eu ainda caminhava com dificuldades, tent
ando compreender os ensinamentos de Donato.
Nos idos da década de 50, quando estavas pleiteando retomar à carne, ainda
nesta Estância, esco-lhestes algumas provas, dentre as quais a de conduzir
a juventude
da tua pátria ao curso da serenidade, retidão e resgate de valores, no proces
so coletivo de reestruturação, do que deveria ser a pátria do evangelho. A mú
sica
seria um dos meios de fazê-lo.
Um dos meios? Então tudo o que fiz era parte de um projeto?
Sim. Permita-me adverti-lo, teremos outras Oportunidades para tecer mais d
etalhes sobre o assunto.
Nem havia me dado conta de que havíamos chegado ao nosso destino. Entr
amos em um enorme auditório, onde se ouvia a Ave Maria de Bach, suavem
ente entoada por um
coro de inúmeros jovens e crianças. O salão estava repleto de espíritos c
omo eu, em refazimento, outros como Donato, exprimindo uma luminosidade s
uave, e pouquís-simos
verdadeiros sóis com halos de ampliadas cores. Anjos!!!
Após a prece coletiva, caminhamos por entre ala-medas cercadas de densa
vegetação, que exalava odores agradáveis chegan
do a confundir minha parca captação olfativa, destruída pelas drogas na ma
téria. Tais alamedas traçava-nos o roteiro como imenso labirinto. Por um m
omento, recordei-me
de um filme do gordo e o magro. Engraçado! Ri bastante, sem que isso in
comodasse o meu acompanhante.
Chegamos, enfim, a um outro salão construído na base de uma serra. Seu por
tal era esculpido na própria montanha. De fora, a caverna que parecia escu
ra e desabitada,
era habitada, iluminada e tinha ventilação equivalente ao ambiente externo,
quando nela ingressamos.
Donato, que lugar é este?
Trouxe-o aqui para que observe. Neste local são reunidos inúmeros mendigos
espirituais, na verdadeira acepção do termo, pois que trazidos de furnas e
vales de
sofrimento, aqui encontram a recomposição para que, posteriormente, sejam
encaminhados a outros postos mais adequados, a fim de continuarem suasjo
rnadas evolutivas.
Aqui ainda é o hospital?
Sim, filho. Mesmo nas mais densas regiões onde a luz espiritual não espar
ge seus raios, eis que nosso Pai Amantíssimo provê o socorro adequado a qu
em necessita,
razão pela qual, ninguém, nem mesmo o mais abjeto dos seres, está ao desa
mparo. Recordemos as regiões abissais de nosso planeta. Mesmo na densa es
curidão, seres
luminescentes vagueiam em busca da vida.
Sabe, fiquei pensando ultimamente, por qual razão me socorreram...
Lembra-te da parábola do filho pródigo?
Vagamente. Respondi-lhe.
... filho, tu sempre estavas comigo e tudo o que é meu é teu. Mas tínhamos
de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e reviv
eu, estava
perdido e foi encontrado, disse-nos Jesus, em Lucas, 15: 3 1-32, relatando a
conversa entre um pai e seu filho diligente, o qual se indignara com o geni
tor por
matar um novilho, para festejar o retorno do seu outro irmão, que há muito se
desfizera do lar.
- Sou como o filho pródigo?
Tu o disseste! Sentenciou abraçando-me. - Para nós, retornastes à casa do
Pai e fizemos bodas por isso; entendeis agora?
Seguindo os conselhos do meu orientador, passei a fitar aquelas dezenas de
criaturas espalhadas pela imensa gruta, ladeadas por outro número de auxili
ares que se
portavam como desvelados enfermeiros, médicos ou terapeutas.
Pobres diabos! pensei em relação aos sofredores. De onde teriam vindo?
São filhos do vício, da depressão, da solidão, da amargura, da dor. Estão p
or toda parte, acrescentou Donato. e não são pedintes de rua ou favelados.
Pertencem
às mais variadas classes sociais de nosso planeta, muitos dos quais tiveram
excelentes oportunidades em suas vidas, de servir, de amar, de respeitar, de
reparar
erros. Contudo, projetando-se para o egocentrismo, ao descrerem da socie
dade e discordando dos moldes em que viviam, optaram por ingressar no mu
ndo negro e desigual
do Niilismo, secundado pelos vícios, culminando em suicídios voluntários ou
involuntários. Dentre eles, alcoólicos, toxicômanos, anoréxicos, abúlicos,
cancerosos
e outros, engrossando este exército de farrapos humanos que tu vês.
Sinto-me um deles! Choraminguei.
Fostes, e continuaria a sê-lo, não fosse o crédito angariado em vidas pretéri
tas, onde exercitastes o bem, e a vossa vontade de acordar para a realidade es
piritual.
Não entendo bem isso. Como é essa história de vidas passadas?
Lembra-te do sonho que tivestes?
Sim.
Em realidade, não fora sonho. Vivenciastes mesmo tudo
Quer dizer que já fui mesmo... mulher?
Sei que não é muito fácil para aceitardes. Isso reforça que nem sempre o acú
mulo intelectual está na razão direta da conquista espiritual. E tanto que es
tudastes
filosofias, tinhas ampla gama de cultura em vossos arquivos mentais. Destar
te, mal consegues compreender as dificuldades por que passastes. Já vos dis
se que, ser
ou não ser, não é a questão. A essência está em nos sentirmos como somos. L
utar é o dilema! Eis o grande mistério.
Pode explicar melhor?
Quando reencarnado em um corpo feminino, há muitos séculos, sentias, vi
vias e amavas como tal. isso ocorreu numa época em que o preconceito est
ava acima do senso
mais racional do hodierno, embora ainda hoje existente, acerca da matern
idade sem o casamento, O filho que geraria pelo congresso carnal com aqu
ele homem, que também
viu, resultar-lhe-ia em imensas agruras, por isso fostes em busca dele a fim
de minimiZá-las, julgando que nele encontrarias apoio e guarida. Rejeitada,
pois que
ele tinha uma outra família já constituída, e sabedora de que não poderias m
ais desfrutar de seu amor exclusivo, o qual acreditáveis eterno e duradouro,
resolvestes
pôr fim à vossa vida. Suicidou-se, o que é uma transgressão grave às leis d
ivinas, também arrastando um ser que te era muito caro. Daí em diante, pass
astes encarnação
após encarnação não desejando mais habitar corpos de mulher. Mas a paixã
o pelo vosso amado não cessou após o desencarne. Mesmo perturbado, vosso
espírito o perseguiu
vida após vida, embora em corpos diferentes. Peço-vos que não estendamos
mais no assunto. Aos poucos compreenderás melhor tudo o que vos falei.
Lembre-
-se, doravante, que o espírito não tem sexos determinados. Esses são estado
s transitórios, escolas de aprendizado e reeducação, no progresso da alma e
rrante em busca
da perfeição, muitas vezes à escolha do espírito reencarnante e noutras vez
es, por imposição da Justiça soberana, em contraposição às inúmeras transgr
essões realizadas
no terreno sexual.
O que meu instrutor dizia fazia sentido, contudo, meu raciocínio ainda não
aceitava os fatos como me eram expostos. Fui desperto por um tapinha amig
o nas costas.
Oi, meu chapa, tudo legal?!
Luiz, que surpresa!
Que está fazendo aqui parado, meu irmão?
Trocando idéias com o amigo Donato.
O quê?! Filosofando enquanto outros sofrem? Amigo, não estamos na Grécia
e você não é Dionísio*. Há muito o que fazer! Obtemperou humoroso e so
rridente.
N.M. Dionísio a) Deus grego simbolismo da alegria e do vinho. b) Nome d
e um
áhio grego que viveu antes de Cristo, e que saía às ruas de Atenas em busca
de
homens sábios.
E o que posso fazer num ambiente desses onde só vejo pesares?
- Lembra-se do inseto?
Sim, mas o que um inseto magro, debilitado e despreparado pode fazer num
hospital desses, onde existem catedráticos tão cônscios e diligentes?
Um inseto não poderia fazer muito, mas um ser humano pensante, com braços
, pernas, amor para dar e mente para guiá-lo na trilha do bem, quem sabe,
tudo não possa?!
Fiquei atônito. O quê fazer? Não sabia nada sobre socorro ao próximo. Da
í, percebera que precisava aprender a lidar com aqueles que se me asseme
lhavam. Desfazendo-me
das presenças de Luiz Sérgio e Donato, caminhei vagarosamente por entre os
leitos. Vi criaturas desfiguradas, sofridas, doridas, chagadas. Penalizei-m
e e comecei
a chorar. Ajoelhei-me cobrindo o rosto com as mãos, como se não quisesse e
ncarar a face oculta de Deus, ali presente na forma daquelas almas em está
gio de dor. Após
alguns minutos de interiorização, ao olhar para o chão, embaixo de uma da
s camas, percebi que nela havia um esfregão e um balde, contendo uma espé
cie de detergente
de aroma agradabilíssimo. Elevando a minha visão, notei que um pobre de
sgraçado havia vomitado um líquido escuro e pegajoso. Ao seu lado, uma
médica impunha-lhe
as mãos, enquanto outro dedicado esculápio, ungia-lhe a fronte com uma
pasta que desprendia uma emanação azulada, que depois viera a saber, er
a um medicamento* amplamente
divulgado entre os encarnados, cuja origem é
do plano espiritual.
Como se limpa isso aqui? inquiri.
A médica respondeu-me que, geralmente, o faziam com o esfregão, após em
bebê-lo no líquido que dormitava no balde próximo. Mesmo fraco, desvenc
ilhando-me de quaisquer
barreiras, pus-me a limpar o chão. Lembrei do Jimmi Hendrix** e de como e
le teria
* N.M. - Medicamento espiritual Referéncia â pomada ‘Vovó Pedro , utiliz
ada em curas;
** N.M. -- Jimmi Hendrix O mais fàmoso guitarrista do mundo, desencarna
do na década de 70, vítima das drogas.
sobrevivido, se alguém houvesse limpado o vômito dele. Assobiei uma de m
inhas músicas. Enquanto o fazia, Luiz se aproximou.
Ai, campeão! Esse é o Ruggeri que eu conheço, determinado, obstinado., um
verdadeiro guerreiro!
Sorri, parando somente para contemplar o enfermo que estava sobre a maca.
Seu rosto...! Algo naquele rosto me era familiar. Sem saber como, a imag
em do convalescente
desapareceu de minha frente, para dar lugar a cenas cinematográficas, talv
ez de um passado longínquo, tornando as palavras de Sérgio muito distantes
para mim. Via-me
ornado em densa armadura, montado em um lindo cavalo marrom com mancha
s brancas. Desfilava com elegância, e por onde eu passava as pessoas m
e reverenciavam. Era
alguém respeitado.
Um imenso castelo medieval à minha frente, bandeiras, soldados, pessoas c
omuns; uma fortaleza! A língua era a francesa. Nunca gostei muito da Fran
ça, mas estava
lá. Era eu! As imagens eram confusas, iam e vinham à mente.
De repente um símbolo, talvez um brasão.
Sou forte, muito forte! Traição! Fui traído por alguém muito importante que
se dizia amigo. Fizeram-me prisioneiro, enjaulando-
-me como um animal feroz. Bradei impropériOs.
Um julgamento! Fui acusado injustamente e sentenciaram-me à morte. Por q
uê? Defendia uma causa, a de Nosso Senhor Jesus Cristo. Patifes! Traíra
m-me! Vocifero
contra o tribunal de falácias.
A fogueira. Preparam-nos fogueiras. Meus amigos, também vão morrer. Meu gr
ão-mestre... por quê? Não fez mal a ninguém. Pessoa reta, justa, leal e ca
ridosa. Malditos!..,
brada ele. Concita-nos a termos coragem. Tenham fé, meus irmãos; Deus es
tá do nosso lado!. Ele ameaça os detratores. Que homem fascinante!
Morrerei feliz, meu mestre. Foi uma honra ter servido ao vosso lado!... O
fogo, o fogo, nos consome. Meu Deus! Cessai a minha dor... por amor... ces
sai a
nossa dor...! gritei desesperado.
Quando despertei do pesadelo, estava sentado do lado de fora da maca, lade
ado por Luiz Sérgio.
E então, como te Sentes agora, cavaleiro?
Jesus Cristo! O que aconteceu?
É o que chamamos de retrocognição ou regressões de memória espontâneas
que de espontâneas têm muito pouco. Nossa mente é a depositária de nossa
s experiências,
desde a monera até o anjo. É uma espécie de computador do eterno, compre
ende?
Claro. Faz sentido. Por isso parecia que eu estava sonhando acordado?! Viv
i isso também?
Há muitos séculos, meu amigo, e séculos são moléculas de segundos para o át
omo do infinito, portanto, já passou, tranquilizes O fato de haver sido um
cavaleiro da
Ordem do Templo de Cristo, lhe rendeu certos dissabores, mas lhe granjeou
bonita canção.
Por que acontece de relembrar coisas assim?
Não ocorre sempre, meu caro. Somente quando há necessidade. Dispositivos
intrínsecos são acionados por situações, nossos guias ou mesmo nosso es
tado emotivo que
a isso aspira, gerando e reativando mecanismos que nos relegam à reprise de
tais vivências. Eu mesmo, quando retornei à pátria maior, passei por idênt
icas situações.
Não tão rápido quanto você.
Ainda não vislumbrei a necessidade disso, agora. Eu estava só querendo ajud
ar...!
Você tem bom coração, amigo. Embora imperfeito, como nós aqui, tens a bon
dade e a honestidade em vosso íntimo. Isso gera efeitos positivos para qu
em deseja alcançar
o eterno amor. Como te encontras em processo de refazimento vez por outra
relembras algo do passado, porque anseias por tanto, a fim de que, compree
ndendo o pretérito,
vos conformeis no presente, arquitetando melhoro futuro. Se observar melho
r, verás que está sendo de grande Utilidade.
E por que isso não acontecia enquanto eu estava na terra?
Como não? Vai me dizer que esqueceu os sonhos, intuições ou mesmos pensa
mentos vividos há tão pouco tempo? E algumas letras de tuas músicas?! Po
r ventura não estão
revestidas de alguns tópicos que já pudestes divisar após estar aqui?
Luiz, Donato me chama de figlio, vez por outra. Traduzindo-se do italiano, é
filho. Trata-me com carinho, tão característico de quem é pai.
Ou de quem já foi! Aduzil Luiz Isso é efeito da simpatia, amigo. Donato
é um espírito vivido, e como nós, antiquíssimo. Soube aproveitar melhor o t
empo para
amar, indistin-tamente, o seu próximo e com isso crescer moralmente. Você
foi a razão de séculos de dedicação em seu auxílio.
Quer dizer, meu anjo-de-guarda?
Encarnado e desencarnado! Como nem sempre correspondemos aos avisos, co
nselhos, proteção e orientação de nossos tutores mais avançados na senda
moral da experiência
infinita, queremos infringir, refazer, adulterar, provocar; enfim, donos da r
azão, desejamos ser os irreverentes, os do contra, tudo e todos. Daí, nos dam
os mal
e criamos uma distância enorme entre nós e eles, que tanto nos amam. Lutar
é a derrota! É necessário que entendamos que a vida é um projeto, uma for
ça, uma maré,
um afluente que nos conduz ao mar do aprendizado. Quando forçamos a barr
a contra o
que está disposto, sofremos; tal é a lei!
- Fiz muita besteira, não foi?
Fizemos, Ruggeri, fizemos! E como não há mais tempo
para lamentarmos omissões ou atos inconscientes, resta-nos menos tempo a
inda para retomar o caminho extraviado, muito embora tenhamos a eternida
de pela frente. Nossa
parcela de culpa pelo mundo cstar assim é evidente, meu velho. Portanto, ca
be-nos refazer conceitos e tracejar planos para novas empreitadas. Que tal
entabularmos
juntos nossas cartas náuticas?
É uma boa idéia! Preciso de orientação e não sei como caminhar. Pensava
que sabia muito da vida. Julgava-me acima dos meus amigos, parentes...
até mesmo dos meus
pais, embora procurasse respeitá-los na medida em que não me anulassem.
Acreditava numa força que a tudo movia, a quem chamamos de Deus. Li muit
a coisa a respeito.
De tanto ler, acabei confuso, pois meus sentimentos eram uma verdadeira
babel, entende? Queria o amor, mas creio que não soube amar. Depravei-me
!
As palavras de Luiz eram sensatas. Curioso, prossegui:
Desprezaste-te, este é o termo certo! A ignorância nos leva a cometer abuso
s indizíveis. Valorizamos o que nos é externo, inclusive as pessoas e coisa
s. Achamos
que o amor está no próximo, nas paixões efêmeras ou nas coisas da matéria.
Na verdade, se ele não estiver em nós, tudo o que vem do exterior nos parec
erá insuficiente
para nos suprir o equilíbrio, daí caímos no vazio, solidão, nos perdendo e
m conjecturas absurdas, idealizando modelos de vida que não temos capacida
de para ser ou
manter, formulando relacionamentos que apenas forjam uma aparência do no
sso verdadeiro eu interior. Logo, vem a depressão e somos abraçados pela
s suas conseqüências
funestas.
Por que não encontrei você antes, cara? Se o conhecesse teria evitado inúmer
os deslizes...
Não se engane, Ruggeri, certamente não seria a mesma coisa. Eras uma estre
la, camarada, vivendo numa constelação fictícia, onde só tinham acesso os
parentes e afins.
Mesmo que inadmitindo, mesmo tentando desfazer essa imagem que não eras
‘star, mas as pessoas assim o transformavam. Então, o resto seria o rest
o, compreende? Ademais,
diante de suas complicações interiores, decerto, logo ter-me-ia por paixão
. Não podemos deixar de acrescentar o fato das experiências que vivenciou
até bem pouco.
Por isso lhe digo sem medo de errar, que tudo ocorreu no momento certo, po
is a providência divina a tudo organiza. Não ouviu falar que não cai uma s
ó folha ao solo
sem a vontade de nosso Pai?
Você está certo.
Uma coisa que não percebeu. A busca desesperada para compreender a sua si
tuação atual, fê-lo distanciar-se da depressão e solidão em que vivias. Na
tua fraqueza,
reunistes forças, sozinho, para suplantar a dor. Na adversidade, procurastes a
luz...
Tive a ajuda de muitos...!
Corrijo! Sempre tivestes tal ajuda... só não soubestes como dar atenção. Qua
ndo desejastes, fervorosa e racionalmente, conseguistes o transporte do lodo
da incúria
humana, para o paraíso celeste da paz num piscar de olhos; e não entenda
paraíso como o lugar que estamos! Deus ajuda a quem deseja sinceramente s
er ajudado. Por
isso muitos se equivocam quando crêem que estão salvos por
abraçarem religiões ou seitas, quando a verdadeira salvação está na compr
eensão de que só ascenderemos aos altiplanos do reino do Senhor, quando n
os propusermos
a crescer interiormente, fazendo renascer o Pai que vive em nós. É preciso q
uerer, Ruggeri. Você o quis...! Agora, siga em frente!!!
Compreendendo as palavras do bondoso amigo, abracei-o e chorei copiosamen
te, desta vez, eivado de indecifrável emoção por assimilar que estava nos
braços de Deus;
da majestade a quem anatematizara como anti-cristão romano; em nome de
quem lutara como cavaleiro da Ordem do Templo em tempos imemoriais; d
o Pai que me abria as
portas de Seu castelo celeste, desta vez, para servi-lO de outra forma... se
m os metais, relâmpagos ou trovões, brasões ou ouro, mas com a razão e o cor
ação.
Luiz me convidou, amavelmente, a retornarmos ao labor do ambiente hospital
ar. Sem pestanejar, tomei o esfregão e o balde e dispus-me a limpar poças
biliares dos
enfermos. Fi-lo me sentindo muito bem, compreendendo que não existem ele
itos, há os que estacionam e os que desejam crescer espiritualmente e só
o conseguem reformulando
seus conceitos, que destroem os preconceitos estabelecidos, por aprendizad
os deficientes ou mal compreendidos.
Não nascemos para semente, tal o adágio. É verdade! Entre morrer e nasce
r nada há de segredo nisso. A cada segundo nasce ou morre alguém no mund
o. Ter consciência
de que só levamos como bagagem aquilo que aprendemos no exercício do be
m ou do mal, e o que sentimos por dentro em relação a
isso, é o que faz a diferença para Deus.
R.R.
Sentados sobre a relva, ainda umedecida pelo orvalho noturno,
ficamos em diálogo por algum tempo. Num dado momento, inquiri a Luiz Sé
rgio:
Amigo, além da regressão que tive, por que me trouxe até
aqui?
A lembrança em nada mudaria o vosso íntimo, se não atingisse em cheio o â
mago de seu espírito eterno. Aquilo foi o passado. Mas agora, aqui sentad
os neste campo,
consegues detectar algo de ti no presente?
Olhei à minha volta. Tentei refletir sobre o que dissera o companheiro, mas
não consegui enxergar nada de mim ali.
É óbvio, Ruggeri! O que fostes não está mais aqui. Cinzas de um pretérito
quase imperfeito. Partículas da poeira do que foi vosso corpo já foram reab
sorvidas pela
mãe terra. Do pó viemos... ao pó retornaremos em relação ao que é da matéri
a, tal é a lei! Tudo se transforma na natureza, nada se perde. Filosofias, b
em o sei.
Contudo, a melhor filosofia é aquela que podemos compreender e exercitar
pela sua prática. Como não há mais tempo em filosofarmos para o vento, ei
s que é chegado
o momento de praticar, buscando a compreensão pelo exercício da melhor fil
osofia: amar! O que sentes é o vazio que deixastes para trás. Nada há mais
do que foi Ruggeri,
senão o legado que essa personagem deixou na mente e corações de milhões.
Doravante, o que cristalizastes, assimilado por cada um de acordo com su
as possibilidades,
é terreno que não mais te pertence. Querias ser um cantor de rock e a conseqü
ência de tal proeza, se fizesse sucesso, inevitavelmente, seria a fama, a riq
ueza, a
glória, que também o relegariam ao mar da solidão acompanhada. Por mais q
ue tivesses amigos, parentes e o laurel do sucesso, o íntimo reclamava co
mo ser humano.
Icone, milhares de ifis depositavam em ti suas aspirações e temores, revelad
as em tuas letras, em idêntica simbiose. Logo, fostes o depositário de múlti
plos anseios,
assomados aos teus ainda não resolvidos. Entende o que quero dizer?
Gesticulei positivamente. Ele continuou.
Não sendo o bastante, por não solucionado o pretérito de amarguras e trau
mas sofridos, empreendestes em vós a decisão de nunca mais reencarnar com
o mulher. Querias
ser homem, mas dentro de ti existia ainda uma ferida não curada. Passastes
séculos querendo reencontrar o vosso amor, perdido na noite dos tempos. A
tua sedição
trouxe desequilíbrios incontáveis. Mesmo assim, a sabedoria divina se valeu
de tuas aflições para tirar frutos incomparáveis. Como escritor, também de
ixastes obras
fantásticas que buscaram quebrantar a rudeza dos corações humanos, e niss
o podemos deslumbrar a grandeza de Deus. Até na adversidade se pode extra
ir a beleza. Sem
que soubésseis, fostes um agente do Criador a frutificar os pães da vida.
Quem fui então? Por que não me lembro com nitidez?
Isso não importa mais, Ruggeri! Quem somos nós, quem deixamos de ser, q
uais nossas posições, o que fizemos de bom ou de ruim., isso realmente n
ão importa. De
que vale sabermos se fomos reis ou plebeus, se não semeamos o bem? Decer
to, de quando em vez, Deus nos permite entrevermos algo, mas devemos tir
ar lições. Em tão
pouco tempo, rasgos de memória já te deram chaves a alguns dos teus proble
mas. Já fostes contra e a favor de Deus como pretor e cavaleiro templário;
encontrastes
a sede de vossos desequilíbrios atuais, consubstanciada na estadia desastrad
a como ente feminino, sabes que fostes escritor e que tuas obras, ainda hoje
, têm influência
no seio das sociedades e, por fim, vês agora que não és
mais um astro do rock e que para reencontrares tua felicidade hás de obser
var o passado, continuando doravante numa nova senda de trabalho, suplican
do ao Pai para
resgatar possíveis erros e ‘desenganos que disseminou, libertando-se, por f
im, das amarras do amor possessivo, dando lugar ao amor fraterno... o verda
deiro!
Fiz algo de errado, enquanto astro do rock? Pensei estar fazendo um bem pa
ra a sociedade e para a minha geração.
Indubitavelmente, meu chapa! Fizestes muito bem. Desde os anos 60 com
o movimento dos Beattles, instalou-se uma revolução mundial para a refo
rma do mundo, coroada
não pela realeza, mas por súditos simples que se transformaram em reis. Da
í, quantos e quantos não surgiram em nome desse estigma, dessa idéia? Toda
via, existe o
lado negro do ser humano: o inconseqüente! Alguns vêm com a sublime missã
o de suportar nas costas os erros e desacertos dos homens. Não raro, falh
am. E por quê?
Porque é dificil suportar a carga emocional oriunda de milhões de seres de
strambelhados, tal como um rebanho que necessita de condutores. O artista,
principalmente
o músico, tem uma insofismável tarefa de ser o condutor de rebanhos, de trib
os e quando ele não tem o sustentáculo moral e espiritual que lhe fortaleça
o reino íntimo,
despenca desastradamente no abismo da ilusão. Têm surgido tantos e tantos p
astores! Suas condutas, seu modo de vestir, seus trejeitos e até suas ideol
ogias, transformaram
o comportamento de seus súditos. Há um detalhe que precisa ser mencionad
o. Como na essência o ser humano ainda é atrasado moralmente, lógico, ap
ega-se ao lado pemicioso,
ao que é degradante, ao que o destrói. Mirando-se no exemplo dos Beatles,
com eles vieram as metamorfoses sociais, a quebra de costumes arcaicos e o
rebentar de
preconceitos mendazes. Mas vieram também os exemplos dos vícios, a introd
ução das drogas no seio da música, onde para se obter o nirvana na arte d
e compor, era
preciso recorrer ao uso de tóxicos e álcool. Com os Rolling Stones, veio a
frase: Sexo, drogas e rockandroll, num brado convocador, cujo lema era a li
bertinagem
sem mesclas, O que mais poderíamos esperar de uma turba de jovens que mal
saíam da adolescência, na época, verem seus ídolos proclamarem que o cer
to era isso: sexo
desregrado e ilimitado, uso de morfina, LSD e rock na cabeça? O que se pod
eria esperar, diga-me?
Preservei o Silêncio, Luiz Sérgio estava com a razão. Tive minha cota de
responsabilidade nesse processo, Chorava enquanto ele falava. Sentia-me u
m menino sendo
repreendido pelo pai.
E tal não bastasse, como uma onda, outros jovens enfurna ram-se em suas g
aragens, compondo tocando e se drogando, para imitar os seus ídolos, pois
, segundo acreditavam
iriam revolucionar o mundo como eles, os mestres, o fizeram. Logo, a juve
ntude se atirou em busca dos sonhos de fama e sucesso, pensando mais nele
s do que no mundo.
Hoje, os que iniciaram os movimentos estão envelhecidos, muitos deles já n
em se drogam e os filhos do sucesso estão sós, desnorteados. Outros ídolos
até mesmo
nem mais Ouvem rockandroll, por saturados Se olhassem para trás, veriam
o rastro de desolação que deixaram pelo caminho, Assim como existem dita
dores, maus governantes,
políticos desonestos, temos, de forma idêntica, músicos e artistas inconsci
entes desconhecendo que são verdadeiras antenas ligadas com o eterno, a cap
tar-lhe não
só sinais de bons pensamentos e filosofias produtivas, mas idéias ou egré
goras* viciadas que estão em volta do planeta, como imenso mar de desvari
os. Não podemos
duvidar que enquanto existem aqueles que lutam pelo equilíbrio da imensa
massa humana, há os que dela sobrevivem e auferem suas Posições de mand
o, às custas da ignorância
daqueles que os nutrem,
Fiz muito mal...
Não é bem assim. Como artista, lado sensível do espírito humano, tinhas um
a missão, tracejada ainda aqui no plano espiritual, antes de reencamardes S
ua tarefa
consistia em fazer com que a juventude preservasse a integridade moral, pa
ra Suportar a tempestade que ainda deverá assolar as nações. Falo da tempe
stade moral,
pois o que resta em nosso país e no mundo é a estrita falta de ética e frater
nidade, o jovem unido, Consciente e esclarecido dificilmente será derrotado E
sse o espírito
de tua missão. As letras iniciais de tua carreira foram marcos indeléveis, ir
reverentes concitadoras A Espiritualidade valeu-se delas para destilar luzes
de ensinamentos
através de ti, revestidas em tom de juvenília. O soldado diante da refrega,
porém, é passível de falência. Não suportando, daí vieram as drogas, a bebid
a, o fumo
e a solidão.
Fiz errado em declarar-me homossexual em público?! Não vi erro nisso.
Adolf Hitler professava que estava agindo segundo a vontade de Deus! Decla
rar aos outros ser homossexual, não foi bem a questão. O problema residiu
no atirar-se
à perversão do que não é natural, como símbolo de liberdade. A liberdade
exige respeito que, quase sempre, não sabemos preservar. Amar ou não am
ar alguém, seja homem
ou mulher, não estabelece limites, salvo os das leis naturais. Após século
s de machismo e dominação ‘macho sobre a fêmea da espécie, nem a mulher so
ube se libertar
ainda, quanto mais os espíritos essencialmente femininos em corpos de mulh
er e vice-versa.
Complicou! Espíritos essencialmente femininos...?
O seu caso, por exemplo. Tens a essência da candura feminina desde muit
os séculos, por uma fixação psicológica num determinado ponto, num deter
minado sofrimento.
Mas por sofrer pela incúria dos homens, resolvestes, a partir disso, não ma
is adotar corpos femininos. Quer dizer, fostes de encontro ao muro de um pr
econceito vosso,
que lhe moldou reencarnações de desequilíbrios. Mesmo assim, continuaste
s à procura do amor perdido, em corpos masculinos. Muitos, por problemas
de traumas, perversões,
abusos, dificuldades de relacionamentos, obsessões e outros fatores psicos
sociais, se debatem em dores atrozes, pela inconformação com seus estados
atuais de aprendizado.
Ou seja, quem desrespeitou os limites para com o sexo oposto, agora se vê e
m estágios probatórios, sentindo propensão a buscar espíritos afins que, mu
itas vezes,
estão residindo temporariamente em templos do mesmo sexo, falando do seu
caso, em particular. Enquanto encarnado, declarando-se homem, tinha uma
propensão às figuras
do mesmo sexo. Não estando resolvido, ou melhor, não aceitando a tua condiç
ão, querias encontrar o amor, aqui, ali, acolá... não importava; queria o a
mor. Destarte
os esforços, convido-o, doravante, a observar melhor a bondade divina. H
abitando a casa que nos é oferecida, usemos, cuidemos, mas não abusemos.
O que vemos daqui
do plano espiritual, é que muitos que se encontram
em idênticas situações, querem se atirar à depravação sexual, confundindo
o sexo com o amor. Liberdade não está nisso, está no amor verdadeiro. Pa
ra amarmos pessoas
do mesmo sexo não precisamos ir de encontro à natureza intrínseca. Exempl
o disso, eu o amo e nem por isso o desejo sexualmente Jesus amava os após
tolos e nem por
isso fez sexo com eles. Só o amor, o puro e inquebranj amor, é o elo de liga
ção entre os seres, e não pelo fato de freqüentarmos bares ou lugares destin
ados somente
a GLSs*, que vamos conseguir mudar a cabeça do mundo, lavando as mentes
do preconceito devasta- dor, que só nos retarda a caminhada,
Começo a entendêlo, e vi que não me portei muito bem mesmo!
Por Deus, não me veja como juiz. Só almejo que entendais que o mote de no
ssa conversa reside no respeito às leis naturais, sem abusos, sem excessos
. A transformação
do ser se dá quando ele Consegue entender isso. Não podemos atingir a lib
ertação de nossos vícios sexuais, simplesmente nos enclausurando em monas
térios, ocultos
por hábitos templários ou cousa que o valha. É preciso ir ao combate, ao bo
m combate contra nossas viciações, entregandonos à prática da caridade, que
nos tornará,
com o tempo, seres mais seguros de si pelo amor que edifica e transforma
. Não há como vencer o vício, se não tivermos boa vontade em nos modific
armos. Não há como
atingir a plenitude e reencontrar o verdadeiro amor, se o procuramos nos ou
tros. Você tem muito amor, Ruggeri, basta-te somente que o distribua, não d
e forma distorcida,
buscando os baixios da vida, onde o epicurismo é a fonte de toda a desgraça
. Sublimar eis a forma de o conseguir.
E eu que pensei que fazia tudo certo. Percebo que minha libertinagem não s
e confunde com a liberdade. E por isso que fui parar naquele lugar de treva
s, não é?
Lugar que cultivamos, inconscientemente quando imersos no escafandro da c
arne. Passamos uma vida inteira nos ocultando na cortina fisica. Qualquer
liberdade que
temos como espíritos, procu N.M G.L.S. Simbolo atual para grupos socialme
nte discriminados Significa:
Gays, Lésbicas e Simpc#jzan (es
1o7
ramos os lugares e as pessoas que se nos assemelham em sentimentos, pensa
mentos ou ideais. Assim, quando partimos da terra, finalmente, nossos sem
elhantes espirituais
nos caçam e nos aprisionam, nesses lugares que louvamos durante nossas e
xistências. Lembra-se das milhares de bolas escuras que vimos no reino d
e Sodom?
Sim, lembro...
Aqueles eram encarnados que, diariamente, ao cair da madrugada, desprendia
m-se dos corpos que repousavam nos leitos terrenos, enquanto seus espírito
s, donos de si,
buscavam avidamente os undergrounds no plano espiritual. Falei bonito o in
glês, professor?
Caímos em gostosas risadas, muito embora meu coração estivesse ainda opr
imido, pelas sementes que atirei no mundo. Abracei-
-o sem temores. Começava a sentir o que ele dizia. O amor não se confundia
com o instinto; estava muito além disso. Luiz era alguém que nunca ouvira
falar em vida,
muito embora tivesse a nítida impressão de conhecê-lo de longas datas. Fu
i socorrido por pessoas que julgava também não conhecer, mas que, indepen
dente de agradecimentos
ou retornos, cuidaram de mim desveladamente. Residia aí a pureza que, até
então, não conseguira apreender. Vi a necessidade de reformular-me, para s
air da modorra
espiritual de outrora.
Luiz, gostaria de te pedir um favor.
Pode chutar que eu defendo!
Não me abandonem! Preciso de vocês todos.
Precisa de Deus! Somos apenas coadjuvantes. Tens que descobri-lO em ti. D
eus é o amor e é isso que estais em busca. Nós todos... mas, não temais. E
stamos juntos...
eu, você., milhares, bilhões. Somos uma imensa legião, de uma megalópole
chamada Terra, interessados em promover a paz e a reconciliação de espíri
tos multimi-lenares.
Precisamos seguir adiante. Tenhais a certeza de que eu não o deixarei em p
az! Tornei-me seu obsessor.
Assustei-me quando senti que não estávamos sós. Eram Donato e Amália, q
ue haviam chegado furtivamente. Aquele levantou-me da relva e, em copio
so pranto choramos
ungidos num caloroso abraço, acompanhados por Amália e Luís Sérgio.
Figlio, Deus o ilumine em sua nova jornada. Quanto tempo esperamos pacien
temente, por este instante. Era preciso que você passasse por experiências
, sem as quais
jamais saberias valorizar as oportunidade ofertadas pelo Excelso Pai.
Serei eternamente grato a ti e aos amigos que encontrei. Amália me abraç
ou fortemente. Senti sua ternura por mim. Eu pedi ao Luiz que nunca me ab
an-donasse
mas creio que vocês também não me aban-donarão
Tenhais a certeza disso! retrucou a bondosa amiga. Viemos de passado lo
ngínquo e, por imposições de nossas caminhadas pessoais na evolução do esp
írito, tivemos
que nos separar temporariamente. Deus, O justo por excelência nos permiti
u, ao longo dos séculos, estarmos sempre juntos nos apoiando, para que as
montanhas não
se fizessem íngremes demais. Conte com nossa amizade e amor, Ruggeri.
Ia perguntar quem eram eles, mas dei conta de que Luiz havia desaparecido.
De volta ao império
Não se turbe, filho. Não podes carregar tal cruz. Cada ser é um universo
isolado, com um imenso poder de decisão. Cair no mundo do vício é opção in
dividual. Quanto
a isso não podes te culpar. Temos a liberdade de escolha, inclusive, a de ouv
ir as suas músicas.
Mas, eu fui exemplo para ele, para gerações...!
Inevitáveis as conseqüências de sermos famosos. Os super -star são vigia
dos constantemente. Mesmo que repassem mensagens de cunho elevado em suas
letras, os ffis
e ouvintes não se apegam somente a isso, valorizando mais o comportamento
individual e tão humano do artista. Quanto a isso, não deveis vos culpar p
ela infeliz opção
deste ou de muitos jovens. Cada um tem o poder de propender-se ou não ao d
eclínio. Sua intenção foi a de ajudar, de cativar e fazer com que a juvent
ude soerguesse
o ânimo para o bom combate moral, que deverá ainda assolar o país. Infeli
zmente, o vosso comportamento pessoal, decorrente das chagas morais ainda
expostas, influenciou
muitos a seguirem passos escusos, mas porque já tinham essa tendência, cor
roborados pelas forças negativas das multidões contrárias de espíritos, qu
e se lhes assemelhavam.
Sodom e seus asseclas, por exemplo! Como eles, existem milhões em torno
do planeta, a agirem como moscas no monturo amoral.
Àquela altura das narrativas de Donato, apesar do ensinamento, eu me perd
ia envolvido por furacões de lembranças que estrelejavam à mente.
Regredi até a Europa dos anos 40, Salerno, oeste da Itália. o país onde dan
tes fora um pretor do império romano na 2a Guerra
Mundial. Filho de Camponeses, meu pai defendia a resistência contra o fas
cismo e o nazismo dominantes. Seu nome, Alberto Tornieri. Cenas e mais ce
nas da guerra,
milhares
de pessoas sem vida, outras presas, e torturadas, em nome do maldito poder
io alemão,
Numa emboscada, os alemães capturaram guerrilheiros e meu pai era um dele
s. Saltaram sobre eles como zangões. Aprisionados, meu pai foi torturado
e minha família
separada. Vi-me sendo espancado.
Não! Detesto Violência, não!! !.
Depois, num campo de concentração, um jovem das milícias italianas passa
por fora da cerca. Eu o reconheci. Era o Tomazzo, o belo Tomazzo Bertioll
i, amigo de infância
do colégio, o Único que não zombava de minhas deficiências fisicas. Eu o
amava.
Gino, o que faz aqui? Pergunto
Tomazzo! Eles vão nos matar. Você é um deles?
Por coação. Nada tema! Verei o que posso fazer. Não podem saber que som
os amigos. Recebemos informações de que os aliados vão invadir. Em brev
e os boches* estarão
perdidos!
Malditos fascistas! Que Deus os detenha! Espero que apodreçam no lodaçal
que arquitetaram
Gino, não odeie tanto. Faz mal à saúde! Virei à noite. Me espere atrás do pav
ilhão 3, certo?
Combinado, Tomazzo! Deus o abençoe. Espero algum dia poder lhe retribui
r.
É, quem sabe., temos a vida inteira pela frente. Despediu
-me com um aceno.
À noite, ele retornou, quando todos já estavam dormindo e somente as senti
nelas nazistas rondavam,
Tomazzo conseguiu nos tirar do campo. Eu, meu pai e ele fugimos.
Vamos para o sul. Lá poderemos nos unir à resistência até o fim desta guerr
a. Concitou-nos papai.
* N.M. Boches Título pejorativo pelo qual eram conhecidos os Nazistas du
rante a 2 Guerra Mundial.
No trajeto, muitos procuravam fugir da possível zona de desembarque dos ali
ados, pois a notícia se espalhara depressa.
Um barulho ensurdecedor atordoou-nos, repentinamente. Era um bombardeiro
alemão que se projetara no solo, deixando um rastilho de fumaça negra.
Após cair, nos
aproximamos. Fazia muito frio, tínhamos fome e havia doentes para cuidar
. Meu pai resolveu que deveríamos procurar mantimentos e remédios no avi
ão.
Papa, é só um bombardeiro! Não há comida lá. Por favor, não vá!
Na ânsia de ajudar, Tomazzo segue meu pai. Tremendo de medo, fiquei ine
rme, vendo-os se aproxi-marem do aparelho em chamas.
Papa, por favor, volte! roguei-lhes temendo o pior.
Acenaram para mim, dando a entender que estava tudo bem. Chegando mais
perto, Tomazzo desprendeu um sorriso, enquanto meu pai procurava por ví
veres. Foi a última
cena que vi. Tudo desapareceu numa densa bola de fogo. O avião explodira.
Sua Única carga: a morte!
Despertei das reminiscências vivas aos prantos. Donato e Amália estavam j
untos de mim, para meu reconforto.
Mais uma vez o passado, Ruggeri? Disse-me Amália.
Meneci a cabeça, positivamente.
Por que isso continua a acontecer?
Para que tenhas consciência de que estamos todos reunidos. Similarmente, p
ara que entendais que não podeis ainda visitar os familiares terrenos. Sua
aproximação,
lhes causaria inquietação e reações emotivas desconcertantes, por não acredi
tarem na vida além da morte, e isso lhes traria desequilíbrio. Ainda estais
em fase de
adaptação à nova vida: a do espírito. Tendes que aprender algumas coisas
mais, compreendes? Respondeu Donato.
Afinal, me interrogo dia e noite: quem é você, Luiz, e Amália, em toda essa
história?
Meu irrequieto figlio, tua curiosidade é avas-saladora! Pois bem, se quere
s saber, digo-vos que fui uma espécie de amigo, em tuas últimas encarnações
.
Amália interveio.
Quem achas que terá sido aquele jovem, Ruggeri, o Tomazzo?
Fixei os dois e quase desfaleci.
Jesus Cristo! Você está diferente, Tomazzo, nem parece o mesmo! Donato
fora Tomazzo.
Como espíritos podemos adotar a forma que quisermos, de acordo com no
ssas necessidades. Aqui preferi permanecer como Donatello*, ou Donato,
como me chamam: identidade
essa de uma encarnação na Renas-cença, disse-me. E Amália, bom, essa foi
a esposa com quem compartilhásteis a vida, no século XIX.
Tremi diante da revelação. Amália fora o mesmo ‘Stevens, o amante do pretér
ito na Inglaterra, então ajudando-me no reequilibro, doravante. Por isso se
ntia tanto
por ela e nem sequer desconfiava o porquê.
Era necessário que aprendesse que o amor pode estar entre os seres, indepe
ndente do sexo, desfazendo os estigmas negativos de outros desencontros, s
éculos antes,
o princípio de tuas inconformações no terreno sexual. Aduziu Amália.
Jesus...! pausei mas, e o Luiz Sérgio, de onde o conheço?
Donato não precisou me responder. Surgindo do nada, Luiz Sérgio abraçou-
me fraternalmente.
Pensou que estarias livre de mim, Ruggeri Rubens?
Você me lembra uma personagem de um seriado mexicano da Terra, que se
mpre surgia quando o chamavam: o Chapolim Colorado.
Rimos em uníssono.
Nada disso, amigo. É estar no lugar e hora exata. Quer saber de onde nos c
onhecemos? Pois lhe direi sem terdes que retrotrair no tempo. Há muitos ano
s, na primeira
metade do século XVI, estivemos juntos em regime de monastério, na Europ
a**. Foi lá que nos conhecemos.
Abades?
Foi lá que cometi um grande erro. Tirei a vida de alguém, pela ambição de
querer ser o melhor, o que me valeu penoso resgate. Éramos amigos.
Não me lembro bem... há uma névoa...
Nem tudo pode ou deve ser lembrado! Em nossas vidas temos a impressão de
conhecer as pessoas, o que nos revela uma amizade anterior, afinidade ou
repulsão fluídica.
Daí nascem as simpatias ou antipatias gratuitas, como cremos na Terra. Se
eu não tivesse desencarnado antes, quem sabe, teríamos nos encontrado em B
rasília!
gracejou, me cutucarido a barriga e gesticulando as sobrancelhas.
Seu maroto! Está me devendo explicações. És escritor e não me disse nada?
Não me tenha a mal... ‘nem tudo deve ser lembrado... brincou mais uma ve
z.
Passado e presente, reunidos numa assembléia de luz, enquanto o sol, tímido,
escondia-se no horizonte, refratando indescritível ocaso.
Reencontrava amigos de priscas eras, elos que jamais se quebrantaram. Ne
m mesmo a morte o conseguiu; isso porque a morte não era nada diante do
amor! A cada passo
dado, mais convencido ficava de que, quando tudo parecia estar perdido,
sempre achava um caminho., sempre me surgia uma luz.
* N.A.E. Donatello Donato Di Niccolô Di Berto Bordi (1.386 - 1.430), céle
bre
escultor italiano, que viveu durante a Renascença.
O caminho? Só há um...
Quando nasce um filho nosso, a gente não tem mais intendência, nem domíni
o de si. Já não somos nós e sim, eles! Não
quero que meu filho fracasse, assim como não desejo que nenhuma criança ou
jovein, seja derrotado pela incúria dos adultos. Jovens, não sejam os pais
! Eles viveram
as experiências deles. Apenas os compreendam, pois já camínharam um po
uco mais. Querem o melhor para vocês! Amem-nos, mas sejam vocês mesmos
! Respeitem os seus limites,
aprendam a frenar diante das leis humanas e naturais, pois não somos anima
is inconscientes. Cada um tem uma realidade diferente,
uma trilha, um destino, uma luz. Procurem!
R.R.