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A sociedade em que vivemos marcada por contradies e desigualdades. Nas grandes cidades, por exemplo, ao lado de manses luxuosas encontramos favelas e pessoas morando embaixo de viadutos. Vivemos, portanto, em uma sociedade profundamente desigual. Se quisermos fazer uma descrio desse tipo de sociedade, podemos trabalhar com o conceito de estratificao social. Mas se nosso objetivo for analisar historicamente os conflitos entre os diversos grupos que a compem, devemos recorrer ao conceito de classes sociais. Seja qual for o mtodo escolhido, preciso levar em conta que alguns indivduos ou mesmo grupos de pessoas podem mudar de posio social. Para estudar esses casos utilizamos o conceito de mobilidade social. Estratificao, classes e mobilidade social. Neste captulo estudaremos esses e outros conceitos relacionados com a estrutura social.
Observe e responda:
1.
2. 3. 4.
E os personagens masculinos? Quem so eles e por que esto representados menor do que as duas mulheres da direita? Que relao existiria entre os diversos personagens representados
no afresco?
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1 I Camadas sociais
A expresso estratificao deriva de estrato, que quer dizer camada. Por estratificao social entendemos a distribuio de pessoas e grupos em camadas hierarquicamente superpostas dentro de uma sociedade. Essa distribuio se d pela posio social dos indivduos, das atividades que eles exercem e dos papis que desempenham na estrutura social. Assim, podemos dizer que, em certas sociedades, as pessoas a elas pertencentes esto distribudas entre as camadas alta (classe A), mdia (classe B) ou inferior (classe C), que correspondem a graus diferentes de poder, riqueza e prestgio. Na sociedade capitalista contempornea, as posies sociais so determinadas basicamente pela situao dos indivduos no desempenho de suas atividades produtivas. Dessa forma, os grandes empresrios, donos de terras, banqueiros e grandes comerciantes esto no topo da sociedade, por disporem de uma grande quantidade de capital ou de meios de produo. Eles compem o grupo popularmente conhecido como os ricos", ou "a classe rica". Em contrapartida, os trabalhadores
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esto na base inferior da sociedade por disporem unicamente de sua fora de trabalho, e no de capital ou meios de produo. Entretanto, dentro dessa mesma sociedade os indivduos podem desempenhar outros papis e alcanar novas posies sociais, relacionadas com a religio que praticam, o partido poltico em que militam, as funes sociais que desempenham, a profisso que exercem e outras atividades. Esses diferentes papis esto interligados. Entretanto, para efeitos didticos, vamos comear por separ-los e classific-los.
Tipos de estratificao
Estratificao econmica. Definida pela posse de bens materiais, cuja distribuio pouco equitativa faz com que haja pessoas ricas, pobres e em situao intermediria. Estratificao poltica. Estabelecida pela posio de mando na sociedade (grupos que tm poder e grupos que no tm). Geralmente, as pessoas mais ricas detm tambm mais poder.
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.1
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CAPTULO9 Estratificao
e mobilidade social
Estratificao profissional. Baseada nos diferentes graus de importncia atribudos a cada profissional pela sociedade. Por exemplo, em nossa sociedade a profisso de mdico muito mais valorizada do que a de pedreiro. Corno j vimos, os aspectos econmico, poltico, social e cultural de urna sociedade esto interligados, bem corno os vrios tipos de estratificao. No entanto, ao longo da Histria, o aspecto econmico tem sido mais determinante do que os outros no processo de estratificao social e na caracterizao da sociedade.
representados os indivduos de baixa renda, o grupo ou camada C. No topo, no estrato mais estreito, esto representadas as pessoas de maior renda, que pertencem ao grupo A. Na camada intermediria esto includas as de renda mdia, que pertencem ao grupo B.
Pessoas de renda alta
A estratificao econmica
Para tornar mais clara a estratificao econmica numa sociedade vamos recorrer a duas simulaes. 1. Reunimos as pessoas em grupos conforme seu nvel de renda. 2. Dividimos os grupos em camadas hierarquizadas, isto , urna superior, urna intermediria e urna inferior. Obtemos assim o quadro geral de urna estratificao econmica baseada em faixas de renda. Grupo ou camada A - pessoas de renda alta. Grupo ou camada B - pessoas de renda mdia. Grupo ou camada C - pessoas de renda baixa. Na figura a seguir, ternos urna pirmide social dividida em estratos, segundo o critrio "nvel de renda". Na camada de baixo, a mais ampla, esto
Pessoas de renda baixa
A pirmide da ilustrao mostra graficamente a estratificao social de urna sociedade, ou seja, corno ela est dividida em estratos ou camadas sociais. Dependendo do tipo de sociedade, esses estratos ou camadas podem ser organizados em: castas (corno ocorre na ndia); estamentos ou estados (Europa durante o feudalismo); classes sociais (sociedades capitalistas). Cada urna dessas formas de estratificao tem caractersticas prprias, corno veremos a seguir.
I Sociedades estratificadas
Vamos estudar agora as principais caractersticas dos trs tipos mencionados de sociedades estratificadas, ou seja, aquelas organizadas em castas, em estamentos ou em classes sociais. elevada. Esse fenmeno conhecido corno mobilidade social (veja na pgina 171). Em contrapartida, existem sociedades em que, mesmo usando toda a sua capacidade e empregando todos os esforos a seu alcance, a pessoa no consegue chegar a urna posio social mais elevada. Nesses casos, a posio social lhe atribuda por ocasio do nascimento, independentemente de sua vontade. Assim, ela carregar consigo, pelo resto da vida, esse status social herdado de seus ancestrais.
o sistema
de castas
Existem sociedades em que os indivduos nascem numa camada social mais baixa e podem alcanar, com o decorrer do tempo e corno resultado de seu talento, de seus esforos, de seu mrito, ou por outra razo qualquer, urna posio social mais
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CAPTULO9 Estratificao
e mobilidade social
A sociedade indiana foi estratificada dessa maneira h milhares de anos. Ainda hoje, grande parte de sua populao est distribuda em um sistema rgido e fechado de estratificao social, que no oferece possibilidades de mobilidade social. o sistema de castas. Enquanto nas sociedades ocidentais pessoas de nveis sociais diferentes podem se casar - o que no raro possibilita a ascenso social de um dos cnjuges -, em certas regies da ndia o casamento s permitido entre pessoas da mesma casta. As castas so grupos sociais fechados, cujos integrantes devem se comportar de acordo com normas preestabelecidas de origem religiosa. Um indivduo nascido em determinada casta deve permanecer nela por toda a vida. Sua posio social definida ao nascer. Alm de direitos e deveres especficos, as pessoas de castas consideradas inferiores no podem ascender socialmente mediante qualidades pessoais, mrito ou realizaes profissionais. Pode-se esquematizar a estratificao social indiana por meio da seguinte pirmide, que apresenta apenas as castas principais, j que existem hoje na ndia mais de 2 mil castas:
vaixs sudras
No topo da pirmide esto os brmanes, que so os sacerdotes da religio hindusta e os mestres da erudio sacra. Segundo sua crena, a eles compete preservar a ordem social, estabelecida por orientao divina (veja o boxe da prxima pgina). Abaixo dos brmanes esto os xtrias (ou kshatriyas), guerreiros que formam a aristocracia militar. A terceira grande casta - a dos vaixs (ou vaishyas) - formada pelos comerciantes, artesos e camponeses. Os sudras, por sua vez, formam a base da pirmide. Eles executam os trabalhos manuais e diversas tarefas servis. So urna casta depreciada, tendo o dever de servir as trs castas "superiores".
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Estratificao profissional. Baseada nos diferentes graus de importncia atribudos a cada profissional pela sociedade. Por exemplo, em nossa sociedade a profisso de mdico muito mais valorizada do que a de pedreiro. Como j vimos, os aspectos econmico, poltico, social e cultural de uma sociedade esto interligados, bem como os vrios tipos de estratficao. No entanto, ao longo da Histria, o aspecto econmico tem sido mais determinante do que os outros no processo de estratificao social e na caracterizao da sociedade.
representados os indivduos de baixa renda, o grupo ou camada C. No topo, no estrato mais estreito, esto representadas as pessoas de maior renda, que pertencem ao grupo A. Na camada intermediria esto includas as de renda mdia, que pertencem ao grupo B.
Pessoas de renda alta
A estratificao econmica
Para tornar mais clara a estratificao econmica numa sociedade vamos recorrer a duas simulaes. 1. Reunimos as pessoas em grupos conforme seu nvel de renda. 2. Dividimos os grupos em camadas hierarquizadas, isto , uma superior, uma intermediria e uma inferior. Obtemos assim o quadro geral de uma estratificao econmica baseada em faixas de renda. Grupo ou camada A - pessoas de renda alta. Grupo ou camada B - pessoas de renda mdia. Grupo ou camada C - pessoas de renda baixa. Na figura a seguir, temos uma pirmide social dividida em estratos, segundo o critrio "nvel de renda". Na camada de baixo, a mais ampla, esto
Pessoas de renda baixa
A pirmide da ilustrao mostra graficamente a estratificao social de uma sociedade, ou seja, como ela est dividida em estratos ou camadas sociais. Dependendo do tipo de sociedade, esses estratos ou camadas podem ser organizados em: castas (como ocorre na ndia); estamentos ou estados (Europa durante o feudalismo); classes sociais (sociedades capitalistas). Cada uma dessas formas de estratificao tem caractersticas prprias, como veremos a seguir.
I Sociedades estratificadas
Vamos estudar agora as principais caractersticas dos trs tipos mencionados de sociedades estratificadas, ou seja, aquelas organizadas em castas, em estamentos ou em classes sociais. elevada. Esse fenmeno conhecido como mobilidade social (veja na pgina 171). Em contrapartida, existem sociedades em que, mesmo usando toda a sua capacidade e empregando todos os esforos a seu alcance, a pessoa no consegue chegar a uma posio social mais elevada. Nesses casos, a posio social lhe atribuda por ocasio do nascimento, independentemente de sua vontade. Assim, ela carregar consigo, pelo resto da vida, esse status social herdado de seus ancestrais.
o sistema
de castas
Existem sociedades em que os indivduos nascem numa camada social mais baixa e podem alcanar, com o decorrer do tempo e como resultado de seu talento, de seus esforos, de seu mrito, ou por outra razo qualquer, uma posio social mais
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Existe ainda um grupo social considerado fora do sistema de castas. Ele formado pelos prias. Tambm chamados de intocveis. os prias so desprovidos de direitos e no tm profisso definida. So eles que executam as tarefas consideradas "sujas", como coletar o lixo, limpar fossas e lavar cadveres. Totalmente desprezados pelas demais castas, vivem da caridade alheia. Os prias no podem banhar-se nas guas sagradas do rio Ganges (o que permitido s outras castas), nem ler os Vedas, que so os livros sagrados dos hindus. Oficialmente, o sistema de castas foi abolido em 1950, com a promulgao da Constituio da ndia. Apesar disso, basta percorrer o pas para constatar que, na prtica, o antigo sistema sobrevive. Os indianos das castas superiores no aceitam perder seus privilgios, e os membros das
as castas foram originadas por meio do sacrifcio de uma entidade espiritual chamada Purusha. Da cabea de Purusha teriam sado os brmanes; dos braos, os kshatriyas (xtrias); das pernas, os vaishyas (vaixs); e dos Ps, os shudras. Alm dessas quatro categorias, ainda existem os que esto fora do sistema - conhecidos como prias, dalits ou "intocoeis". Os prias so vistos como impuros.
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A sociedade de castas hierarquizada e os deveres e benefcios concedidos s pessoas variam de acordo com a posio na escala do sistema. Quanto mais baixa a casta, maiores so as restries de movimento, de alimentao e de estudo dos textos sagrados. [ ... ] A maneira mais comum de diferenciar membros de castas diferentes pelo sobrenome, mas dependendo da regio do pas outras maneiras de identificao tambm so possveis. "Podemos determinar a casta de uma pessoa pelos alimentos consumidos, dialetos falados e vestimentas.
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MlRANDA,
Renata. Apesar da proibio, castas ainda dividem pas. O Estado de S. Paulo, 19.8.07.
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o BUDISMO
COMO REFGIO
timas de preconceito e marginalizados pela sociedade indiana, integrantes de castas mais baixas, em especial os intocveis, vm recorrendo ao budismo para escapar do sistema de diviso do hindusmo. De acordo com o professor de Cincia da Religio da Pontifcia Universidade Catlica (PUC) de So Paulo, Frank Usarski, a converso de indianos para o budismo acontece porque esta uma religio que no aceita a diviso social: "Muitos indianos procuram o budismo porque acreditam na igualdade e no na segregao ". No entanto, ele alerta que a converso para uma outra crena ainda no consegue resolver os problemas sociais e de convivncia da sociedade indiana. "Na verdade, no existe uma escapatria do sistema de castas ", disse. "S existe a esperana de que, algum dia, essa diviso social acabe. " Em maio, foi celebrada uma das maiores converses coletivas da histria recente da ndia, na cidade de Mumbai. Cerca de 50 mil pessoas, entre intocveis e indianos de tribos nmades, converteram-se ao budismo. A converso em massa aconteceu meio sculo depois de uma histrica cerimnia na qual 300 mil intocveis tornaram-se budistas dirigidos pelo lder Bhimrao Ramji Ambedkar (1891-1956), smbolo da luta contra o sistema de castas. Ambedkar nasceu como intocvel, mas rejeitou a religio hindu e sua condio social. Ele se tornou um ativista poltico efoi um dos pais da Constituio indiana de 1950, que aboliu oficialmente o sistema de castas no pas.
MlRANDA, Renata. Intocveis buscam budismo como fuga das castas. O Estado de S. Pau/o, 19.8.07.
Monges budistas de diferentes pases tocam instrumentos musicais durante marcha pela paz mundial em Nova Dlhi, ndia, em novembro de 2007.
castas inferiores e os "sem casta" continuam sendo excludos, rejeitados, privados de educao formal e de outras oportunidades. Na segunda metade do sculo :XX, eformas sociais r e mudanas na economia da ndia, impulsionadas pela industrializao, comearam a romper o sistema de diviso em castas. Assim, nos grandes centros urbanos do pas, como Nova Dlhi, Bombaim e Calcut, a abolio do sistema vem ocorrendo gradativamente. Entretanto, ele ainda perdura na maior parte da ndia rural.
A sodedade estamental
Um exemplo tpico de sociedade estratificada em estamentos pode ser encontrado na Europa ocidental durante a Idade Mdia (476-1453), sob a vigncia do modo de produo feudal. Para o socilogo alemo Max Weber, o conceito de estamento est ligado a certos valores, como honra e prestgio social, que por sua vez expressam determinados estilos de vida. Na sociedade medieval europeia, por exemplo, a nobreza
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representava um estamento cuja principal caracterstica eram os privilgios atribudos a ela em razo do nascimento e dos laos de parentesco que ligavam cada pessoa desse grupo a uma ou mais famlias pertencentes ao estamento. O estamento, ou "estado", uma camada social sernifechada, com caractersticas semelhantes em alguns aspectos casta. Assim como na sociedade de castas, a posio social da pessoa em uma sociedade estarnental lhe atribuda desde o nascimento. Entretanto, o estarnento mais aberto do que as castas. Na sociedade estamental, a mobilidade social difcil mas no impossvel, ao contrrio do que ocorre na sociedade estratificada em castas. Na sociedade feudal, a ascenso era possvel: 1) nos casos em que a Igreja recrutava seus membros entre os mais pobres; 2) quando os servos eram emancipados por seus senhores; 3) no caso de o rei conferir um ttulo de nobreza a um homem do povo; 4) quando a filha de um comerciante se casava com um nobre, passando a integrar, assim, o estamento aristocrtico (nobreza). A pirmide social da sociedade estamental durante o feudalismo europeu tinha a seguinte configurao:
nobreza e alto clero comerciantes artesos, camponeses livres e baixo clero servos
membros vinham da nobreza. Constituam tambm a nica camada letrada na primeira fase do perodo medieval, desempenhando importantes funes administrativas. A camada a seguir era formada pelos grandes comerciantes. Embora ricos, eles no tinham os mesmos privilgios da nobreza. Alm disso, suas atividades sofriam uma srie de restries legais o emprstimo a juros, por exemplo, era condenado pela Igreja. Tais restries foram desaparecendo medida que o feudalismo entrou em declnio. Mais abaixo estavam os artesos, os camponeses livres e o baixo clero. Os primeiros viviam nas cidades, reunidos em associaes profissionais, as corporaes de ofcio; os camponeses livres trabalhavam a terra e vendiam seus produtos agrcolas nas vilas e cidades; o baixo clero, originrio da populao pobre, convivia com o povo prestandolhe assistncia religiosa. Na base da pirmide estavam os servos, que trabalhavam a terra para si e para seus senhores, vivendo em condies precrias: estavam ligados terra, passando a ter novo senhor quando esta mudava de dono. A diviso da estrutura social em estamentos era encontrada na Europa at fins do sculo XVIII. Na Frana, s vsperas da Revoluo de 1789, a sociedade estava estratificada em trs estados (assim eram chamados os estamentos na Frana): o Primeiro Estado era composto pelo alto clero da Igreja catlica; o Segundo, pela nobreza; mais numeroso, o Terceiro Estado reunia a burguesia, os artesos, os camponeses e os trabalhadores em geral.
A sociedade de classes
J vimos como possvel descrever a diviso da sociedade em estratos ou camadas. Agora, vamos conhecer outra abordagem da diviso social, baseada no conceito de classes sociais. Mas, ateno: estamos acostumados a ver, sobretudo nas pesquisas de mercado, a palavra "classe" como sinnimo de camada ou estrato. No disso que se trata. O que estudaremos agora o conceito de classe social tal como abordado na literatura sociolgica. Desenvolvido pelo pensador alemo Karl Marx, esse conceito parte de premissas
No vrtice, encontravam-se a nobreza e o alto clero. Eram os donos da terra, da qual obtinham renda explorando o trabalho dos servos. Os nobres dedicavam -se guerra e caa, alm de cuidar da administrao do feudo, onde exerciam tambm o poder judicirio. Reuniam, dessa forma, o poder poltico, o poder judicirio e o poder econmico. O alto clero (cardeais, arcebispos, bispos, abades) era uma elite eclesistica e intelectual. Seus
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CAPTULO 9 Estratificao
e mobilidade social
prprias, segue critrios especficos e sua aplicao leva a concluses diferentes das que podem ser encontradas nos estudos que analisam a sociedade segundo o modelo descritivo da estratificao social. No captulo anterior aprendemos que, para Marx, a histria da humanidade a histria da luta de classes". Segundo esse autor, portanto, a classe social acima de tudo uma categoria histrica. Ao se referir s duas grandes classes do capitalismo - a burguesia e o proletariado -, est designando duas foras motrizes e concretas do modo de produo capitalista, um sistema econmico historicamente determinado. O prprio Marx, no entanto, no reivindicava a descoberta das classes sociais nem da luta de classes, mas sim a "demonstrao de que a existncia das classes s se liga a determinadas fases histricas de desenvolvimento da produo". Marx atribua uma importncia particular aos conflitos
JJ
entre as classes (veja o boxe a seguir). Para ele, so esses conflitos que constituem o principal fator de mudana social. Seriam esses conflitos, portanto, que imprimiriam movimento e dinamismo sociedade. Por outro lado, as classes sociais mudam ao longo do tempo, conforme as circunstncias econmicas, polticas e sociais. As contradies que mantm entre si forjam e estruturam a prpria sociedade. Quando os conflitos chegam a um ponto insuportvel, ocorre uma revoluo que transforma a sociedade, modificando o modo de produo. Foi o que ocorreu, como vimos, com o feudalismo: uma nova classe (a burguesia) derrubou um velho estamento (a nobreza), abrindo caminho para o desenvolvimento das foras produtivas e para a afirmao da sociedade capitalista. A Revoluo Francesa de 1789 foi uma das expresses dessa transformao.
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Uma classe oprimida a condio vital de toda sociedade fundada no antagonismo entre classes. :A grande indstria aglomera num mesmo local uma multido de pessoas que no se conhecem. A concorrncia divide seus interesses. Mas a manuteno do salrio, esse interesse comum que tm contra seu patro, rene-os num mesmo pensamento de resistncia e coalizo [isto , os trabalhadores se organizam em sindicatos e outras formas de associao para lutar pelos seus direitos}. Portanto, a coalizo tem sempre um duplo objetivo: cessar a concorrncia entre os trabalhadores e realizar uma concorrncia geral contra o capitalista. O primeiro objetivo da resistncia apenas a manuteno do salrio. Mas, na medida em que os capitalistas se unem para reprimir a resistncia dos trabalhadores, as coalizes tambm se unificam. E a manuteno da resistncia torna-se mais importante do que a manuteno do salrio.
Nessa luta - verdadeira guerra civil - concentram-se e se desenvolvem todos os elementos necessrios a uma batalha futura. E, uma vez que se chega a esse ponto, a associao adquire um carter poltico.
Adaptado de: MARX,Karl, Misria da Filosofia. 2. ed. Rio de Janeiro: Leitura, 1965. p. 81, 83, 89.
Vamos pensar?
1. 2. 3.
Segundo o texto, o que que leva os trabalhadores a se organizarem em associaes? Quais so os exemplos de luta de classes no Brasil atual? Na opinio de Marx, quando que o movimento dos trabalhadores adquire um carter poltico? Cite um exemplo, .na histria do Brasil, de passagem do movimento sindical luta de carter poltico.
4.
o Quarto
Estado,
tela de PeUizza da Volpedo (1901) representando manifestao de trabalhadores em greve por melhores condies de trabalho na Itlia.
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Mas a nova sociedade capitalista, na concepo de Marx, j comeou dividida em duas grandes classes conflitantes: a burguesia (proprietria dos meios de produo) e o proletariado, ou classe operria, que s tem de seu a fora de trabalho.
Um lugar na produo
Vladimir Ilich Ulianov, mais conhecido como Lenin (1874-1924), lder da Revoluo Russa de 1917 e um dos grandes pensadores marxistas, definiu o sistema de classes da seguinte forma: "As classes so grupos de homens relacionados de tal forma que uns podem apropriar-se do trabalho de outros por ocupar posies diferentes num regime determinado de economia social". Segundo essa definio, os homens e mulheres que formam as classes sociais se diferenciam entre si pelo lugar que ocupam na produo. Alguns desempenham cargos de direo e so proprietrios de fbricas e empresas de todo tipo (meios de produo); outros, apenas executam as tarefas determinadas pelos chefes em troca de um salrio: so os trabalhadores. Dessa forma, a propriedade privada
dos meios de produo que constitui a base econmica da diviso de nossa sociedade em classes. Assim, a teoria das classes no se limita a descrever as divises da sociedade em camadas, como faz o modelo da estratificao social, mas procura explicar como e por que elas ocorrem historicamente. As classes sociais s existem a partir da relao que estabelecem entre si. Dessa forma, alm de antagnicas, elas so necessariamente complementares. A burguesia, por exemplo, no pode existir sem o proletariado. Da mesma forma, no comeo da formao do capitalismo, o proletariado precisou da burguesia para obter emprego e se afirmar como classe. Na previso marxista, porm, essa dependncia da classe operria em relao burguesia acabaria no momento em que o avano das foras produtivas entrasse em conflito com as relaes burguesas de produo. Nesse momento, segundo Marx e Engels, teria de ocorrer uma revoluo, por meio da qual a classe trabalhadora se libertaria, destruindo a dominao burguesa e substituindo o modo de produo capitalista pelo modo de produo socialista.
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Os desmentidos da Histria
Essa previso, contudo, no se confirmou. Ao contrrio do que esperavam Marx e Engels, a primeira revoluo proletria - se excetuarmos a rpida experincia da Comuna de Paris, em 1871 ocorreu em um pas atrasado (a Rssia, em 1917), no qual as foras produtivas capitalistas ainda no haviam se desenvolvido plenamente (veja o captulo 8). Talvez por isso mesmo, o Estado criado por essa revoluo, a Unio Sovitica, no conseguiu sobreviver a pouco mais de sete dcadas
de competio com os pases onde as foras produtivas capitalistas continuaram a se desenvolver - Estados Unidos, Japo, Alemanha, etc. Esse desmentido da Histria, contudo, no anula a contribuio de Marx para o pensamento sociolgico e historiogrfico. Tanto a crtica ao capitalismo realizada por ele quanto a teoria da luta de classes continuam a ser importantes instrumentos de anlise do mundo contemporneo, desde que no se pretenda atribuir a elas um valor de verdade absoluta.
AS CLASSES MDIAS
ntre a burguesia e o proletariado existem outros grupos que se movem entre as duas classes fundamentais, oscilando de uma para a outra. Alguns desses grupos so denominados genericamente de classes mdias, ou pequena burguesia. As classes mdias (tambm chamadas de classe mdia, no singular, por muitos autores) constituem um setor muito numeroso, que abrange desde o dono de um pequeno armazm at os pequenos e mdios proprietrios de terra, passando por todos os assalariados que trabalham em escritrios, funcionrios pblicos e profissionais liberais. Ao contrrio da burguesia e do proletariado, que atuam diretamente na produo social, entre as classes mdias misturam-se mltiplos papis. No se trata, portanto, de uma classe poltica e socialmente homognea. Para Marx, essa heterogeneidade das classes mdias explica por que, nos conflitos sociais e polticos, elas oscilam tanto, ora apoiando os interesses da grande burguesia, ora apoiando os interesses dos trabalhadores.
Mobilidade social
As trs histrias trato de baixa renda (camada C), podem eventualmente ascender ao estrato de renda mdia (camada B) ou, mais raramente, ao de renda alta (camada A), como ocorreu com os empresrios Lrio Parisotto, Alberto Saraiva e Afonso Celso de Barros Santos.
de vida abordadas no boxe O pas da mobilidade social, a seguir, mostram que alguns indivduos, numa sociedade capitalista aberta, podem chegar a ocupar diferentes posies sociais - ou estratos - durante sua existncia. Assim, pessoas que integram o es-
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CAPTULO9 Estratificao
e mobilidade social
Lrio Parisotto acha graa das lembranas da infncia difcil, quando ia descalo para a escola para no estragar os sapatos novos. Filho de trabalhadores rurais, ele foi criado num stio em Nova Bassano, no interior do Rio Grande do Sul. No sabia muito bem o que fazer da vida, s tinha uma certeza: no queria continuar na roa. Para sair de l, comeou a fazer mascates at abrir o prprio negcio. Nascido em Portugal, Alberto Saraiva conta que aprendeu a vender com o pai, caixeiro-viajante que comercializava doces no norte do Paran. Aos 20 anos, trancou matrcula na faculdade para assumir a padaria da famlia depois que o pai foi assassinado durante um assalto. Afonso Celso, por sua vez, lamenta o nmero de vezes que viu a famlia ser despejada por falta de pagamento de aluguel das casas em que morava em Osasco, na Grande So Paulo. Filho do meio de sete irmos, teve de procurar emprego para completar a renda domstica e, aos 16 anos, trabalhava como office-boy no [banco] Bradesco. Alm de um incio difcil, os trs personagens acima tm em comum uma histria de ascenso social movida a empreendedorismo. Lrio Parisotto deixou a roa no comeo da dcada de 1970 para montar um videoclube que vendia televisores e videocassetes em Coxias do Sul, na Serra Gacha. A empresa virou lder de mercado na regio e Parisotto hoje dono da Videolar, fabricante de CDs e DVDs. Depois da morte do pai, Alberto Saraiva obteve sucesso na administrao da padaria da famlia, vendendo pezinhos 30% mais baratos do que a tabela do go-
vemo. Em 1988, repetindo esse conceito de preos baixos para atrair a clientela, abriu o Hobib's. que acabou se tornando a segunda maior rede de fast food do pas, com 300 lojas. Por fim, o ex-office-boy Afonso Celso de Barros Santos evoluiu rpido no Bradesco. Quando saiu de l, depois de 22 anos de carreira, investiu 100 mil dlares de sua poupana para comprar 21 carros e montar a Avis e a Budget, locadoras que contam hoje com uma frota de 19 mil veculos.
Adaptado de: POLONt Gustavo. O pas da mobilidade social.
Exame, 10.10.07.
Pesquise e responda
Converse com pessoas que tenham vivido a experincia da mobilidade social vertical ascendente, ou seja, pessoas de famlias pobres que galgaram posies mais elevadas na hierarquia social. Podem ser polticos, professores, funcionrios pblicos, profissionais liberais, empresrios, etc. Aplique um questionrio com perguntas sobre a origem da pessoa, a profisso de seus pais, como foi sua infncia, em que escolas estudou, que cursos concluiu e de que forma foi passando da condio inicial para a posio que ocupa hoje. Com esses dados, escreva a histria de vida de cada uma dessas pessoas.
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Em contrapartida, pessoas da camada A podem ter sua renda diminuda, passando a integrar as camadas B ou C. Do ponto de vista sociolgico, os dois fenmenos so caracterizados corno manifestaes de mobilidade social. Mobilidade social a mudana de posio social, ou seja, de status, de urna pessoa (ou grupo de pessoas) num determinado sistema de estratificao social.
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Assim, tanto a subida quanto a descida na hierarquia social so manifestaes de mobilidade social vertical.
ciedades ela ocorre mais facilmente; em outras, praticamente inexiste no sentido vertical ascendente. mais fcil ascender socialmente nos Estados Unidos, por exemplo, do que no interior da ndia, ainda dominado pela estratificao social em castas. A mobilidade social ascendente mais frequente numa sociedade democrtica aberta, que estimula e enaltece a escalada rumo ao topo de indivduos de origem humilde - corno nos Estados Unidos -, do que numa sociedade de tradio aristocrtica, corno a Inglaterra. Neste caso, ternos duas sociedades democrticas, urna com tradies de sociedade estamental (a Inglaterra), a outra sem essa tradio (os Estados Unidos, pas que no conheceu o feudalismo, pois foi formado entre a Idade Moderna e a Idade Contempornea).
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CAPTULO 9 Estratificao
e mobilidade social
Entretanto, vale esclarecer que, mesmo na sociedade capitalista mais aberta, a mobilidade social vertical no ocorre de maneira igual para todos os indivduos. A ascenso social depende muito da origem de classe de cada indivduo, ou mesmo de sua origem tnica. No Brasil, as pessoas brancas pertencentes s camadas sociais mais elevadas tm mais oportunidades e condies de se manter nesse nvel, ascender ainda mais e se sair melhor do que as originrias das
classes inferiores, sobretudo se so negras (veja o boxe a seguir). Isso pode ser facilmente verificado no caso dos jovens que pretendem fazer o curso superior. Aqueles que, desde o incio de sua vida escolar, frequentaram boas escolas e, alm disso, estudaram em cursinhos preparatrios de boa qualidade, tm mais possibilidades de aprovao nos vestibulares das universidades pblicas e privadas do que os jovens provenientes das classes de baixa renda.
O.
A guinada lhe mostrou o quanto o mercado de trabalho difcil para negros. "As coisas na minha empresa s comearam a dar certo depois que contratei um branco para nos representar. Foi dolorido, mas fiz o que tinha de ser feito para ter sucesso." Hoje, Sousa emprega 360 pessoas - 80% negras - e banca a formao superior de parte de seus funcionrios. Se Sousa exceo, Roslia dos Santos, de 27 anos, regra. Moradora do bairro do Cabula, de classe mdia baixa, casada, uma filha: ela conseguiu - com dificuldade - chegar ao ensino mdio, j foi empregada domstica e vendedora de loja. H dois anos no consegue trabalho fixo. "Nas duas reas, o pessoal s quer saber de contratar as brancas." Ela mostra como exemplo uma vizinha de rua, para quem sobra trabalho. "Os bicos que consigo vm por meio dela - mas ganho metade do que ela ganharia." "A situao est to disseminada na populao que os empregadores, mesmo que sejam negros, no veem problema em pagar menos aos pretos e pardos do que aos brancos, exercendo a mesma funo", afirma a sociloga Vilma Reis, coordenadora do Centro de Educao e Profissionalizao para a Igualdade Racial e de Gnero, da Faculdade de Filosofia e Cincias Humanas da Universidade Federal da Bahia.
empresrio
Estado de S. Paulo,
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Livros sugeridos
CARONE,Edgar. Classes sociais e movimento operrio. So Paulo: tica, 1999. RIDENTI,Marcelo. Classes sociais e representao. So Paulo: Cortez, 2001. JANNUZZI,Paulo de Martino. Migrao e mobilidade social: migrantes no mercado de trabalho paulista. Campinas: Autores Associados, 2000. PASTORE,Jos e SILVA,Nelson do Valle. Mobilidade social no Brasil. So Paulo: Makron Books, 1999 .
de Luchino Visconti, 1963. Nobre italiano assiste impotente ascenso da burguesia e s lutas pela unificao da Itlia. Baseado em romance homnimo de Tornaso Lampedusa.
Votei - um banquete para o rei, de Roland Joff, 2000. Em 1671, o general Cond oferece ao rei da Frana, Lus XIV,um magnfico banquete. Em meio festa, Vatel. mordo mo de Conde. se apaixona por uma dama da Corte. Marquise, de Vera Belmcnt. 1997. Danarina de feira no interior da Frana, Marquise levada para Paris e Versalhes, onde se torna amante do rei Lus XIV. Xica da Silva, de Carlos (Cac) Diegues, 1976. Histria veridica da escrava Francisca da Silva, que enriqueceu ao se casar com um contratado r de diamantes, o portugus Joo Fernandes de Oliveira. Daens, um grito de justia, de Stjin Coninx, 1992. Sobre o movimento operrio na Europa do sculo XIX, com destaque para a ao da Igreja catlica.
Ganhi, de Richard Attenborough,
OABC da greve, de Len Hirszman, 1979/1990. Metalrgicos do ABCpaulista entram em greve em 1978, enfrentando a ditadura militar. Documentrio.
Para complementar o estudo do captulo, assista a um ou mais dos filmes indicados e reflita sobre as seguintes questes:
Que relaes podem ser estabelecidas entre o enredo do filme e os conceitos estudados neste captulo? H referncias, no filme, noo de estratificao social? Quais so elas e onde aparecem no filme? H referncias sociedade estamental ou sociedade de castas? Sob que formas elas se manifestam no filme? H referncias questo da luta de classes? De que forma o filme aborda essa questo? H referncias mobilidade social? Escreva um resumo do filme mostrando como aparece nele a mobilidade social.
-1. 2. 3. 4. 5. 6.
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Estabelea a relao entre estratificao social e mobilidade social. Entre os tipos de estratificao social, um deles tem sido determinante. Qual o nome desse tipo de estratificao social e qual sua importncia na caracterizao da sociedade? Compare a mobilidade social nas sociedades de castas, estamentos preferir, faa um quadro ou um esquema. O que voc entende por classe social? Como voc define as classes mdias? Pesquise dados que possibilitem formar uma ideia sobre a estratificao social no Brasil de hoje. e classes sociais. Se
Questes propostas
CAPTULO 9 Estratificao
e mobilidade social
TEXTO 1
A sociedade estamental
O princpio estrutural "sociedade estamental" deve ser entendido (num sistema concreto de Sociologia) no como a lei fundamental e eterna de toda cultura humana - no sentido em que todos os romnticos do passado e do presente querem faz-Io -, mas como uma fase determinada na histria das formas sociais de dominao; como um elemento na srie das estruturas sociais fundamentais. Quando uma forma de dominao se afirma, convertendo-se num sistema duradouro, isto habitualmente se faz acompanhar da concesso, aos diversos grupos parciais, de determinados direitos, possibilidades de aquisio, bens culturais e atividades, tudo isso de acordo com um esquema fixo. As partes heterogneas de que se compe a sociedade vo crescendo num sistema fixo de privilgios e, sobretudo, num sistema fixo de atividades sociais necessrias, adquirindo, em razo desse fato, um sentido objetivo para o corpo social na sua totalidade. A firmeza do edifcio social depende de que as funes atribudas a esses grupos (que chamaremos "estados" ou "estamentos") sejam visivelmente necessrias para o todo; depende tambm de que a relao entre os estamentos e seus deveres sociais seja firme, orgnica, constitutiva de tradio e de fora educadora [no feudalismo, o dever do estamento religioso, ou seja, do clero, era intermediar a relao entre Deus e os fiis; o dever do estamento aristocrtico era fazer a guerra, e assim por diante]. Essa estruturao da sociedade, segundo privilgios especficos e atividades atribudas, realiza-se naturalmente, "de cima para baixo"; ou seja, estabelecida pelos que detm a dominao. um processo que comea em cima e se estende at embaixo. As foras ativas dentro do corpo social, os senhores, que so sempre a minoria, tm que delimitar-se, isto , tm que configurar-se como "estamento", de modo a manter em vigor aquele mundo que fundamenta a sua dominao. Todos os "estados" [estamentos] autnticos se delimitam; por isso, cuidam de seu hermetismo [isto , de seu carter fechado]. Basta considerar o papel relevante que desempenha, em todas as sociedades estamentais, o casamento e a luta em torno dele. O meio tpico para conseguir o hermetismo de um estamento consiste na monopolizao de determinados encargos sociais. O servio guerreiro e sacerdotal, o desempenho de cargos pblicos e a propriedade territorial so, de ordinrio, os setores que os estarnentos dominantes reservam para si. Do mesmo modo, outras posies vitais, ou profisses (comrcio, trabalho remunerado), so consideradas incompatveis com esses estamentos. Sobre a base dessas atividades e profisses reservadas aos diferentes "estados" se desenvolve tambm uma forma especial de vida, um conceito especial de honra e alguns costumes sociais tambm especiais. Esse fato, por sua vez, contribui para a concreo de um estrato social e para a sua converso em estamento. [...] A longo prazo, nem os meros privilgios nem um simples predomnio econmico bastam para manter de p uma ordem estarnental. Estamentos de nvel histrico s existem quando h tarefas autnticas e bsicas que podem mobilizar determinadas energias e dar luz um determinado tipo de homem. [...] O princpio estamental pode penetrar todo o corpo social, desde cima, e s quando assim ocorre pode-se dizer que se realizou plenamente a lei estrutural da sociedade estamental. Nesse momento teremos diante de ns um claro sistema de estratos sociais,
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cada um dos quais se incumbe de sua funo especial, dentro do todo, e cada um dos quais desenvolve, no desempenho desta incumbncia especial, sua honra e sua atitude social especfica. [...] No obstante, a estrutura de uma sociedade estamental traz tambm em si, como toda realidade social, uma dinmica histrica. [...] A dinmica histrica consiste, em primeiro lugar, em que ocorram constantemente na sociedade estamental processos sociais de ascenso e deslocamento. Por mais que o hermetismo seja uma das caractersticas essenciais do estamento, os estamentos dominantes precisam receber em seu seio novas foras procedentes dos estratos inferiores. A sabedoria instintiva de uma aristocracia consiste em absorver somente, mas sempre, aqueles elementos que podem ser inseridos no estamento e aqueles em quem pode imprimir sua forma peculiar de vida. muito importante ter em conta que esses processos de ascenso social, pelos quais penetram no espao fechado dos estamentos dominantes a riqueza ou o talento de pessoas da burguesia, no dissolvem nem abalam a estrutura estamental, ao contrrio, contribuem para fortalec-Ia. [...] Todas as grandes aristocracias da histria realizaram com habilidade essa prtica de inserir em seu seio talentos ou riquezas de origem plebeia [Roma] ou burguesa [Inglaterra, Frana, etc.]. Alm dessa dinmica [ocorrem tambm lutas] entre "estados" [estamentos], nas quais os "estados" inferiores lutam unidos contra os privilgios dos "estados" dominantes. Todo corpo social que repousa sobre a desigualdade de direitos e sobre a dominao de um grupo sobre outros traz sempre, em si, o germe de distrbios e rebelies. Com respeito forma e ao curso das lutas entre os "estados", possvel formular uma srie de traos tpicos e, inclusive, leis. Tanto os objetivos da luta como a ttica que nela se emprega, e as possibilidades de seu resultado, se repetem uma ou outra vez no curso da histria; sob a nica condio de que se trate verdadeiramente de luta entre estamentos, isto , de movimentos sociais dentro de uma ordem social estamentaI. [...] Quanto ao seu objetivo, as lutas entre "estados" tendem sempre a modificar, em pontos concretos, a atribuio de privilgios, a arrebatar ao estamento vizinho determinados direitos polticos ou sociais, e a recuperar direitos perdidos ou a ampliar os que se possuem. Enquanto nos movemos no terreno da ordem estamental, as lutas sociais no tm nunca a inteno nem o.efeito de contestar a estrutura estamental, ou de modificar o princpio que rege a estrutura social do todo. Na luta s se perseguem e s se conseguem correes de limites entre os estamentos.
FREYER, Hans. A sociedade estamental. ln. IANNI, Octavio. Teorias de estratificao social. So Paulo: Cia. Editora Nacional, 1972. p. 168-71.
Pelo que afirma o autor, pode-se dizer que existe mobilidade social em urna sociedade estamental?
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TEXTO 2
Somente no ensino bsico, a evoluo do percentual de crianas nas salas de aula foi de 51 % para 97%. Avanos como esse contriburam de forma decisiva para a elevao social de uma parcela da populao. "Trabalhei como office-boy para completar os estudos", afirma o empresrio mineiro Salim Mattar. Aos 23 anos, ele comprou seis fuscas usados com um emprstimo de 100 mil reais e montou a Localiza. No comeo, fazia de tudo: limpava a loja, lavava carro e trabalhava de motorista - alm de atender os clientes. Hoje, com uma frota de 50 mil automveis e 350 agncias, a Localiza a maior locadora do Brasil, est presente em nove pases da Amrica do Sul, tem seu capital aberto na Bovespa [Bolsa de Valores de So Paulo] e vrios de seus empregados tm parte da remunerao vinculada ao desempenho das aes, numa manifestao de meritocracia e foco no resultado tpica de economias empreendedoras como a norte-americana. O estmulo ao empreendedorismo j se provou um dos maiores e melhores motores do desenvolvimento econmico. Empreender - e ter chance de sucesso no empreendimento - depende de uma srie de condies. A principal delas o desejo de correr risco. [...] Esse ambiente que permite a ascenso, porm, no eliminou o fosso que h entre as classes menos favoreci das e a elite brasileira. A melhor imagem para definir o problema a de uma corrida. Nessa competio, os filhos das famlias ricas largam na frente e,
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por isso, tm um lugar quase certo no ponto mais alto do pdio. "As chances de um filho da elite permanecer em sua classe so 20 vezes maiores do que as de um filho de um trabalhador ultrapassar um degrau na escala social", afirma Ribeiro, do Iuperj. Quem larga atrs nessa competio tem possibilidades reais de evoluir, mas precisa realizar um esforo pessoal muito maior para superar os obstculos.
POLONI, Custava. O pas da mobilidade social. Exame, 10.10.07.
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Pense e responda
Segundo o autor, o Brasil enfrenta um enorme desafio que outras economias emergentes j conseguiram superar. Que desafio esse? Por que se trata de um desafio? De que forma o Brasil pode venc-lo?
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