Economia e Sociedade em Minas Gerais (Período Colonial)
Economia e Sociedade em Minas Gerais (Período Colonial)
Economia e Sociedade em Minas Gerais (Período Colonial)
Na anlise da estrutura produtiva implantada nas vrias reas do Brasil ao longo de seus primeiros sculos de existncia, deve-se levar em conta, alm das condies peculiares da economia em apreo, o Sistema Colonial ento vigente. Em larga medida, o envolver econmico e social da Colnia, naquele perodo, condicionou-se e direcionou-se em funo das regras impostas pelo sistema, no qual se superpunham os interesses da Metrpole aos da Colnia. Os vultosos investimentos efetuados no Brasil por Portugal e seus sditos visavam, em essncia, ao fortalecimento do Estado Metropolitano, atravs dos recursos obtidos tanto pela Coroa como pelos indivduos participantes da arriscada empreitada. Os gastos incorridos com a colonizao do territrio, as obras de infra-estrutura realizada e os investimentos produtivos aqui implantados objetivavam, na realidade, desenvolver atividades econmicas que possibilitassem gerar excedentes lquidos transferveis Metrpole. Nesse sentido, a explorao dos metais significava a forma mais simples de obter tais resultados. O papel desempenhado pelo ouro e a prata no contexto do mercantilismo propiciava a tais mercadorias importncia fundamental, pois constitua o principal meio de troca, utilizado tanto nas transaes internas como no comrcio exterior. Os pases sem extrao prpria de metais viam-se a obt-los indiretamente, atravs de superavits no comrcio externo, com a exportao de bens produzidos em territrio metropolitano ou nas colnias ultramarinas. No caso de Portugal, o sonho dourado dos metais revelou-se uma constante ao longo dos sculo XVI e XVII. As lendas do Eldorado e do Sabarabou exerceram um permanente fascnio. No princpio, as riquezas aparecem mais como fruto da imaginao e das esperanas do colonizador portugus. Elas existiam, realmente, a expressar as esperanas dos que adentravam os sertes: num primeiro momento em expedies de reconhecimento e num segundo na captura dos ndios. A localizao da zona aurfera dever ser creditada aos bandeirantes paulistas que palmilharam extensas reas do territrio brasileiro; tais sertanistas dedicavam-se captura do elemento indgena, base de sua mo-de-obra e seu principal "produto" de exportao. Tal atividade exigia a explorao do serto e lhes possibilitava efetuar subsidiariamente a pesquisa mineral. Como a procura de metais no se constitua no
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Neste trabalho sumariamos algumas das concluses pormenorizadamente desenvolvidas no estudo de nossa autoria intitulado: "Minas Gerais: Escravos e Senhores. Anlise da Estrutura Populacional e Econmica de Alguns Centros Mineratrios".
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LUNA, Francisco Vidal. Economia e Sociedade em Minas Gerais (Perodo Colonial), Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, So Paulo, IEB-USP, (24):33-44, 1982.
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objeto principal das incurses, resultados negativos, mesmo persistentes, no inviabilizavam sua continuidade. Enquanto houvesse gentio a capturar e mercado comprador para essa mo-de-obra, tais indivduos poderiam continuar a exercer tal atividade econmica. O longo tempo transcorrido entre as primeiras penetraes ao interior do pas e as descobertas das ricas reas extrativas da Gerais pode ser imputado tanto falta de preparo tcnico dos paulistas, como s caractersticas fsicas da regio mineira. A rea que se tornaria a principal zona extrativa constitua o serto inspito, de difcil acesso e onde o elemento branco no se estabelecera. As dificuldades do meio fsico refletiram-se na prpria forma de explorao dos metais e na estrutura da sociedade ali assentada. Embora viesse a tornar-se o centro dinmico e catalisador da Colnia, seu relativo distanciamento do litoral e dos portos isolava esta regio e contribua para gerar ali uma sociedade atpica em relao s demais existentes no Brasil. Divulgada a notcia da descoberta do metal, iniciou-se uma verdadeira corrida do ouro; de todos os pontos da Colnia chegavam indivduos vidos de riqueza. A Coroa de imediato procurou impor restries ao deslocamento s minas, pois o afluxo descontrolado de pessoas e o envio macio de escravos s Gerais poderiam representar o enfraquecimento econmico e mesmo militar de outras reas do pas. Impunha-se, alm disso, estruturar a mquina administrativa e arrecadadora, sob pena de perder o domnio da situao. Do prprio Reino formou-se intensa corrente migratria, sobre a qual a Coroa tentou impor seu controle. A corrida s minas justificava-se pelo tipo de ocorrncia de ouro. Encontrado na forma de aluvio permitia, na primeira fase extrativa, um rendimento elevado e no qual praticamente se igualava a produtividade por escravo de pequenos e grandes proprietrios. Assim, o exerccio da atividade abria-se mesmo aos indivduos sem recursos para adquirir um nico escravo, dedicavam-se faiscao at acumular recursos suficientes para adquirir sua prpria mo-de-obra cativa, base do trabalho na faixa extrativa. Conhecida a potencialidade da rea, a Coroa tratou de montar a estrutura administrativa e o arcabouo legal com vistas a absorver parte do produto das minas. Implantou a mquina arrecadadora dos quintos; criou uma complexa organizao burocrtica na qual se confundiam funes executivas, legislativas e judicirias, definiu regras para a concesso de datas minerais e imps inmeros impostos e taxas sobre mercadorias e escravos enviados s Gerais. A anlise ampla das normas impostas pelo Reino revela o anseio de obter o mximo de rendimento para a Metrpole e, sob tal aspecto, a legislao, a nosso ver, revelava-se extremamente coerente. Ao monopolizar o direito de distribuir datas minerais e ao exercer um controle sobre o fluxo de escravos encaminhados s zonas extrativas, a Coroa detinha o controle virtual da atividade e condicionava a organizao da prpria estrutura produtiva. A distribuio de datas, proporcional ao nmero de escravos de cada indivduo, induzia o mineiro a concentrar seus recursos em mais braos. Isto representava para a Coroa maior potencial tributrio em termos de quintos; mais receita na forma de taxas sobre escravos enviados s minas e uma forma indireta de fortalecimento da Metrpole, via trfico negreiro. Ao condicionar-se a concesso de uma segunda data mineral explorao da primeira, os mineiros viam-se estimulados a realizar um rpido servio extrativo nas reas recebidas. Como se tratava de minrio de aluvio, a primeira lavagem
do cascalho revelava-se normalmente com maior teor de ouro do que as lavagens sucessivas do mesmo cascalho. Assim, colocava-se ao mineiro a opo de efetuar inmeras lavagens do material aurfero ou realizar um trabalho superficial e logo obter nova data mineral ainda virgem e potencialmente mais produtiva. De modo geral, na primeira fase da atividade mineira, quando se multiplicavam as novas reas descobertas, a segunda opo tornava-se mais atraente. Tal forma de explorao atendia a racionalidade do mineiro e enquadrava-se perfeitamente s normas coloniais vigentes. Possibilitava tambm o aumento imediato da produo e, portanto dos quintos reais, embora comprometessem as possibilidades futuras da atividade. A nica precauo, a limitar a nsia extrativa da Coroa, residia na eventualidade de excessos de oferta de metais ou pedras preciosas ou eventuais dificuldades na fiscalizao e cobranas dos tributos 2. A forma de ocorrncia do metal, ouro de aluvio, privilegiava mtodos extrativos intensivos em mo-de-obra, fator de produo de grande mobilidade, propriedade importante em atividade em permanente movimento. As prprias condies fsicas da rea onde se concentravam os servios, com topografia acidentada, rios caudalosos, elevados ndices pluviomtricos e caminhos dos piores da Colnia, dificultavam o uso intensivo de mquinas e equipamentos de porte. Alm disso, a inexistncia de produo local de ferro tornava a atividade mineira dependente do abastecimento externo deste produto, que se revelava extremamente caro nas Gerais, tanto pelo custo de transporte quanto pelas diversas taxas incidentes sobre o mesmo. A prpria Coroa, como foi visto, estimulava, via legislao, o uso de mtodos intensivos em mo-de-obra, na medida em que distribua as datas minerais com rea proporcional ao nmero de cativos de cada indivduo. Por fim, a pequena dimenso das datas concedidas dificultava tambm a realizao de trabalhos de maior envergadura 3. A gua revelou-se ao incio da atividade extrativa, o principal inimigo dos mineiros; necessitavam retirar o cascalho aurfero depositado no leito dos rios ou nos tabuleiros. Com freqncia, os servios realizados eram destrudos pela fora hidrulica, principalmente na poca das chuvas. Com o tempo, sem embargo, os mineiros conseguiram dominar tal forma de energia e torna-la sua principal aliada. A gua, lanada morro abaixo, desbastava as encostas e permitia extrair e acumular a lama rica em ouro. Para tornar isto vivel, impunha-se o envio da gua, em grande quantidade, para o topo das elevaes, o que exigia a construo de extensos aquedutos pelos quais se transportava a massa lquida atravs de quilmetros de distncia. Para receber, armazenar e enriquecer o material aurfero serviam-se dos mundus no curso dos rios, atravs da construo de leitos artificiais abertos em canais paralelos ou em canaletas de madeira suspensas sobre o leito original. Tais obras civis, efetuadas particularmente
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Estas duas causas podem ser apontadas como as principais a explicar a imposio de normais diferenciadas para a zona extrativa dos diamantes. Enquanto tal atividade esteve aberta aos povos, tornou-se difcil efetuar um controle aceitvel da produo de modo a evitar tanto a sonegao como o excesso de oferta no mercado. To logo descobriram-se os diamantes em Minas, o preo internacional depreciou-se pela oferta adicional colocada no mercado. Ao contrrio dos metais preciosos, utilizados como moeda o que lhes ampliava as possibilidades no mercado os diamantes eram um bem de luxo e cujo potencial aquisitivo resumia-se a um nmero limitado de compradores. Este fato justifica a posio de J.J. da Cunha Azevedo Coutinho, escritor coevo, a pleitear que se utilizassem os diamantes tambm com moeda, pois tal medida ampliaria significativamente a demanda A perfurao dos morros em busca dos veios pode ser citado como exemplo de atividade extrativa dificultada pelo reduzido tamanho das datas. Quando algum mineiro desejava efetuar uma obra segura, com os canais de ventilao necessrios, servio de drenagem de gua e com um ngulo de penetrao na rocha apropriado, enfrentava o srio problema da falta de espao. Nesses casos, devia optar entre a realizar um servio mais rudimentar e inseguro, como risco de sofrer um srio acidente ou avanar nas reas limtrofes e incorrer na ira dos vizinhos. 3
quando se esgotavam os depsitos aurferos mais facilmente explorveis, foram realizados com o uso intensivo de mo-de-obra e de materiais disponveis na regio. Pelo exposto pode-se aquilatar a importncia da mo-de-obra na atividades mineiro. Dela dependia tanto o trabalho extrativo propriamente dito, como a prpria construo das obras civis implantadas nas Gerais. Assim, o estudo das caractersticas dos proprietrios de escravos e da massa de cativos existentes em Minas tornou-se, a nosso ver, elemento de fundamental importncia para o entendimento da sociedade ali estabelecida. Sob tal aspecto, estudamos a composio da massa escrava em vrias localidades mineiras no perodo 1718 a 1804 4. Quanto ao sexo, evidenciou-se amplo predomnio masculino, em particular nas fases iniciais da lide mineira. No que se refere estrutura etria, os dados disponveis revelam uma significativa concentrao da escravaria na faixa que pode ser considerada mais produtiva, entre 15 a 44 anos. Por fim, no que diz respeito origem dos escravos, notou-se no perodo ascensional da lide aurfera, marcante superioridade quantitativa do elemento africano. Com a decadncia, reduziu-se, provavelmente a capacidade de adquirir novos escravos do exterior; tal fato, paralelamente ao prprio crescimento da massa escrava existente em Minas, modificou a participao relativa, com aumento proporcional dos cativos nascidos na Colnia. Ainda sob o aspecto da origem da massa escrava, os resultados obtidos demonstram o elevado peso relativo dos elementos Sudaneses dentre os cativos Africanos, principalmente na fase de ascenso da atividade aurfera, quando ocorreu, simultaneamente, incremento no percentual do grupo em apreo, que se revelava o preferido para a lide extrativa. Com relao aos proprietrios de escravos, evidenciou-se um predomnio de indivduos com um nmero reduzido de cativos (entre um e quatro escravos), sendo ratos os grande senhores de escravos. Dentre os milhares de mineiros estudados, poucos registraram-se com mais de quatro dezenas de escravos e apenas um ultrapassou a centena. Para cada uma das localidades estudadas, o nmero mdio de escravos por proprietrio que variou entre 3,7 e 6,5 revelou relativa estabilidade, apesar de refletirem tanto pocas de ascenso da atividade (1718 a 1738) como de decadncia da faina aurfera (1804). Os valores do ndice de Gini, medida estatstica largamente utilizada nos estudos a respeito de destruio de riqueza, resultaram 0,403 e 0,573 a refletir uma sociedade onde a propriedade, neste caso medida pela posse de cativos, encontrava-se relativamente bem distribuda, possivelmente de forma mais igualitria do que a prevalecente nas demais reas da Colnia. Ademais, a minerao possibilitava aos prprios escravos maiores oportunidades, no s de alforria, como de se tornarem proprietrios de cativos. Isto pode ser ilustrado pelos resultados obtidos a partir do manuscrito referente capitao dos escravos no Serro do Frio, em 1738. Nessa localidade, entre os 1744 senhores listados que pagaram o tributo, proporcional aos escravos possudos, nada menos de 387, ou seja, 22,2% constituam-se de ex-escravos, ou seja, forros. Estes, em conjunto, detinham um total de 758 escravos, ou seja, 9,9% da escravaria taxada. Tal situao repetia-se em 1771 na localidade de Congonhas do Sabar, na qual os forros perfaziam 21,7% dos senhores e sua escravaria representava 10,2% da massa dos escravos da localidade. A partir das idias e evidncias empricas apresentadas, vamos efetuar algumas consideraes a respeito das caractersticas essenciais do Brasil Colnia: a grande lavoura, a monocultura e a escravido.
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Estudamos a Vila de Pitangui (1718-23); a comarca do Serro do Frio (1738); a Freguesia de Congonhas do Sabar (1771 e 1790); o Distrito de So Caetano (1804) e Vila Rica (1804). 4
As peculiaridades da atividade mineira proporcionaram a formao de uma estrutura singular em relao Colnia. De modo geral, aquilo que se pode comparar grande lavoura no predominou, a nosso ver, nas Gerais. A atividade assentou-se basicamente no pequeno produtor, por fora de variadas circunstncias, inclusive pela orientao metropolitana. Tal linha de conduta no constitua uma mudana inexplicvel nas regras do Sistema Colonial. Representava, na verdade, uma adaptao de tais normas s caractersticas prprias da minerao, mantendo-se, entretanto, o objetivo essencial do Sistema, qual seja, possibilitar a transferncia do mximo possvel de excedentes Metrpole. Se a atividade aucareira, quando aqui implantada, exigiu a grande lavoura, tal no ocorreu com a minerao. Dentro da racionalidade do Sistema Colonial podia permitir-se, ou mesmo estimular, extrao atravs de uma estrutura produtiva que podia ser caracterizada como de pequenas propriedade. Neste sentido, reveste-se de importncia fundamental o fato dos indivduos se deslocarem para as minas tanto da Colnia como do Reino por iniciativa prpria, sem necessitar contar com estmulos da Coroa; destes, o mais usual e importante em outras reas da Colnia era, sem dvida, a concesso de uma extensa gleba de terra, que acabava por condicionar a prpria estrutura de propriedade da regio. Embora fundamentado na mo-de-obra escrava, o regime escravista na minerao apresentava caractersticas especiais. A atividade mineira permitia aos cativos relativa liberdade de ao e maior oportunidade socioeconmica quando comparada s outras economias coloniais. A forma como se efetuavam os trabalhos extrativos exigia do escravo, alm do esforo fsico, um certo grau de concentrao e empenho, principalmente naqueles dedicados fase de enriquecimento e apurao do ouro. Apesar do intenso controle e fiscalizao sobre os cativos, somente atravs de estmulos obtinha-se efetiva dedicao por parte dos escravos. Ofereciam-se determinados tipos de recompensa, em geral materiais 5, ou se concedia relativa liberdade de trabalho ao cativo. Eram freqentes os casos nos quais autorizava-se ao escravo dedicar-se por algumas horas extrao em seu prprio benefcio, aps o desempenho da jornada de trabalho estipulada ou aps obter determinado volume mnimo de produo. Com isto, muitos cativos obtinham recursos para a compra de sua prpria liberdade 6. Ademais, as prprias caractersticas da sociedade ali estabelecida, na qual ocorria franco predomnio masculino dentre a populao livre propiciava s escravas do sexo feminino, ou s forras, oportunidades de concubinato ou prostituio, justificando a elevada proporo de mulheres na categoria de forros proprietrios de escravos. Atravs das causas apontadas, talvez seja possvel justificar, ao menos em parte o elevado nmero de forros proprietrios e escravos existentes no Serro do Frio e em Congonhas do Sabar. Note-se que os resultados apresentados para tais localidades devem subestimar o efetivo nmero de forros ali estabelecidos. Os forros listados nos documentos estudados representavam apenas os libertos que haviam ascendido categoria de senhores de escravos. Infelizmente, no possumos elementos para calcular
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Era o caso da extrao diamantina na qual se ofereciam determinados presentes, inclusive a alforria, ao escravo que encontrasse diamantes de porte. Deve-se lembrar que uma larga parcela dos negros submetidos ao regime escravista nas Gerais provinham de regies africanas, onde a minerao constitua uma atividade econmica secularmente explorada. Assim, muitos dos escravos possuam conhecimentos tcnicos a respeito desta faina, e que influenciaram o mtodo extrativo adotado no Brasil. Tal conhecimento provavelmente criava um tipo de relacionamento diferenciado entre senhor e escravo, alm do que, devia propiciar a este ltimo a oportunidade de alto rendimento extrativo quando devidamente estimulado. 5
o nmero de forros no proprietrios, alocados tanto na minerao como em outras atividades dentro da sociedade mineira. Outra das caractersticas bsica do sistema colonial a merecer certa qualificao, no que se refere s Gerais, diz respeito monocultura. Ao implantar-se a atividade extrativa mineral, ao incio do sculo XVIII, somente a expectativa de elevados rendimentos justificava tal empreendimento. Provavelmente a grande maioria da massa populacional, deslocada para a zona mineira, visava dedicar-se diretamente prpria atividade aurfera. Sem embargo, as caractersticas da prpria minerao e da rea onde a mesma desenvolveu-se propiciaram o surgimento de inmeras atividades complementares. A rea produtiva das Gerais correspondia, como foi visto, a uma zona distante dos portos e dos demais ncleos econmicos da Colnia. Ademais, a massa populacional concentrada na minerao necessitava de uma gama variada de bens, quer os destinados a sua sobrevivncia, quer os materiais exigidos pela atividade extrativa. Para atender tal demanda, desenvolveu-se um intenso fluxo de mercadorias provenientes de Portugal e das mais variadas e distantes partes da Colnia. A economia mineira, que representou o primeiro e efetivo elo de interligao do pas, refletiu-se intensamente na zona de criao do Sul do pas, na agropecuria do Norte e em alguns pontos do litoral como, por exemplo, em Salvador e no Rio de Janeiro. Apesar da grande maioria do abastecimento ser proveniente de reas externas zona extrativa, nas Gerais tambm se criaram atividades no voltadas diretamente extrao mineral. As dificuldades de transporte; a distncia em relao s outras reas produtivas da Colnia e dos portos de embarque; e elevada concentrao populacional nas zonas produtivas e o desenvolvimento rpido de alguns ncleos urbanos de grande porte foram algumas das causas que podem ser apontadas como responsveis pela implantao de inmeras e variadas atividades na regio. Neste sentido, existiam nos ncleos urbanos mineiros indivduos dedicados tanto ao artesanato 7 como prestao de uma larga gama de servios. A prpria agricultura ali desenvolvida chegou a ter expresso no abastecimento da populao mineira. Certas localidades, como Vila Rica, representaram, no sculo XVIII, reas urbanas de grande densidade populacional e nas quais se praticava uma intensa diviso social de trabalho. Assim, embora, em princpio, a economia mineira tendesse a adquirir uma estrutura voltada totalmente monocultura extrativa, sua prpria dinmica de crescimento levou ao surgimento de variadas atividades no ligadas diretamente minerao, embora dependessem desta para sua sobrevivncia. Pelo exposto, pretendemos haver evidenciado algumas caractersticas importantes para o entendimento da economia mineira implantada nas Gerais no transcorrer do sculo XVIII. Pelas caractersticas singulares da sociedade ali estabelecida, acreditamos que a maioria dos conceitos gerais acerca da economia e sociedade colonial brasileira devem merecer certa qualificao quando referido aos estudos daquela rea. Esperamos que as evidncias empricas apresentadas possam contribuir para o alargamento de nosso conhecimento a respeito do evolver socioeconmico de Minas Gerais, que se nos apresenta de fundamental importncia para o prprio entendimento tanto do processo unificador da Colnia como do deslocamento de seu eixo econmico do Norte para o Centro Sul.
Ao longo do sculo XVIII, como se sabe, a Coroa imps limitaes existncia de certas atividades na regio mineira. De forma geral, desestimulava a agricultura para impedir a concorrncia por braos e procurava evitar as atividades manufatureiras para manter a dependncia em relao aos produtos exportados por Portugal. 6