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Mobilização Social e Praticas Educativas

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Mobilizao social e prticas educativas

Marina Maciel Abreu Professora do Departamento de Servio Social / UFMA Franci Gomes Cardoso Professora aposentada pela Universidade Federal do Maranho / UFMA

Mobilizao social e prticas educativas


1 Introduo Neste texto, abordamos a funo pedaggica desempenhada pelo assistente social na sociedade, considerando as prticas educativas construdas no desenvolvimento da interveno profissional, com destaque para os processos de mobilizao social e organizao, a partir da perspectiva das classes subalternas. O nosso objetivo desenvolver uma reflexo sobre os fundamentos das prticas educativas, particularizando as dimenses tcnico-operativas e tico-polticas da mobilizao social e da organizao em suas expresses, em diferentes espaos scioocupacionais da prtica dos assistentes sociais, na sociedade brasileira. Historicamente, as prticas educativas desenvolvidas pelos assistentes sociais vinculam-se, predominantemente, necessidade de controle exercido pelas classes dominantes, quanto obteno da adeso e do consentimento do conjunto da sociedade aos processos de produo e reproduo social consubstanciados na explorao econmica e na dominao poltico-ideolgica sobre o trabalho. Em contraposio a essa tendncia, evidencia-se, nas trs ltimas dcadas, no desenvolvimento profissional no contexto brasileiro, a construo de prticas educativas consubstanciadas no estabelecimento de vnculos e compromissos com a perspectiva societria das classes subalternas, fundadas nas conquistas emancipatrias da classe trabalhadora e de toda a humanidade base do projeto tico-poltico profissional alternativo do Servio Social, consolidado, nos anos de 1980 e 1990. A funo pedaggica desempenhada pelo assistente social inscreve a prtica profissional no campo das atividades educativas formadoras da cultura, ou seja, atividades formadoras de um modo de pensar, sentir e agir, tambm entendido como sociabilidade. A

formao da cultura, no pensamento gramsciano, adequa-se s necessidades do padro produtivo e do trabalho, sob a hegemonia de uma classe. A mobilizao social e a organizao, enquanto expresses das prticas educativas desenvolvidas em diferentes espaos scio-ocupacionais, consubstanciam-se em processos de participao social, formulados e implementados de formas diferenciadas pelas classes sociais fundamentais burguesia e proletariado na luta pela hegemonia na sociedade; no constituem, portanto, processos exclusivos da prtica dos assistentes sociais. A mobilizao social e a organizao, no mbito do Servio Social, traduzem modalidades da assimilao/recriao desses processos no movimento da prtica profissional e, assim, inscrevem-se no corpo terico-prtico da profisso enquanto elementos constitutivos (no exclusivos) e como condio indispensvel para sua concretizao na sociedade. Para avanarmos nessa discusso, cabe indagar:

Quais os fundamentos e tendncias das prticas educativas desenvolvidas pelos assistentes sociais na sociedade brasileira?

Quais as particularidades da mobilizao social e da organizao, enquanto prticas educativas presentes na atuao do assistente social?

Com a pretenso de desdobrar essas indagaes, o contedo ora apresentado envolve duas partes: a primeira parte centra-se na busca dos fundamentos da funo pedaggica da prtica do assistente social na sociedade brasileira, apontando as tendncias atuais das prticas educativas em que se destacam a ajuda e a participao como eixos centrais. Convm assinalar que reafirmamos os fundamentos histrico-polticos e tericometodolgicos das prticas educativas, no mbito do Servio Social, abordados em trabalho anterior (CARDOSO; ABREU, 2000), sustentados na tese de que o Servio Social, como profisso, inscreve-se na diviso sociotcnica do trabalho como uma atividade de cunho

eminentemente educativo. A segunda parte aborda os fundamentos histrico-conceituais, objetivos, implicaes tico-polticas, estratgias e instrumentos tcnicos da mobilizao social e da organizao nos distintos espaos scio-ocupacionais, com destaque para a assistncia social, enquanto principal espao scio-ocupacional dos assistentes sociais; e para as lutas sociais das classes subalternas, enquanto referncia da definio/redefinio dos espaos scio-ocupacionais, colocada a partir do movimento de construo do projeto profissional tico-poltico alternativo do servio Social, nas trs ltimas dcadas. 2 A funo pedaggica do assistente social: fundamentos e tendncias atuais das prticas educativas na sociedade brasileira inquestionvel a funo pedaggica desempenhada pelo assistente social nos diferentes espaos scio-ocupacionais em que se materializa a prtica profissional. Tal funo caracteriza-se pela incidncia dos efeitos da ao profissional na maneira de pensar e agir dos sujeitos envolvidos na referida ao, interferindo na formao de subjetividades e normas de conduta, elementos moleculares de uma cultura, aqui entendida, como mencionamos anteriormente, no sentido gramsciano, como sociabilidade (ABREU, 2002). O fundamento bsico dessa discusso sobre a funo pedaggica desempenhada pelos assistentes sociais encontra-se na premissa gramsciana de que toda relao de hegemonia eminentemente pedaggica (GRAMSCI, 1978), mediante a qual fica afirmada a vinculao das prticas educativas luta pela hegemonia na sociedade, como elemento estratgico na base dos processos formadores da cultura. Sob esse ponto de vista, as prticas educativas fazem parte do nexo orgnico entre a racionalizao da produo e do trabalho e a organizao da cultura, por meio do qual so articulados interesses econmicos, polticos e ideolgicos, na formao de um modo de vida cultura adequado a um dos projetos societrios das classes sociais em confronto.

O que particulariza os distintos projetos culturais?

Subjacente ao ponto de vista do capital est a necessidade de manuteno de sua hegemonia, a qualquer custo, alicerada numa concepo de mundo mistificada/mistificadora da realidade, que tende a ocultar as desigualdades e os antagonismos de classes, na tentativa de dissimular a realidade. Mas essa necessidade se manifesta, sobretudo, em decorrncia das ameaas ao sistema, colocadas pelas constantes crises econmicas. A cada crise econmica, o capital procura no s reestruturar-se, reconstituir-se materialmente, para garantir a recuperao e a contnua elevao das taxas mdias de lucro, tendo em vista a sua reproduo ampliada, s custas do aprofundamento dos processos de explorao e dominao sobre o trabalho; assim como recompor as bases poltico-culturais de sua hegemonia, isto , reorganizar a cultura, para adequ-la s exigncias do padro de racionalizao da produo e do trabalho, na perspectiva da unidade em torno dos interesses da acumulao capitalista. Visa, portanto, eliminar as resistncias, o dissenso, na busca da adeso e do consentimento do trabalhador aos imperativos do desenvolvimento econmico (ABREU, 2004). Por outro lado, as exigncias histricas da construo da hegemonia pelas classes subalternas, como estratgia revolucionria, redefinem o lugar da cultura, a partir de uma verdadeira reforma intelectual moral, base de uma nova cultura. Reforma esta que s pode ser pensada como parte da totalidade dos processos revolucionrios de transformao da sociedade capitalista, ou seja, do conjunto de transformaes estruturais e superestruturais em que a ao poltica direta ocorre, como assinala Marx (1993), e que constitui o primeiro passo no sentido da autorrealizao autotranscendente das referidas classes.
Quais os eixos centrais da funo pedaggica do assistente social?

Considerando os distintos e contraditrios projetos culturais, a funo pedaggica desempenhada pelos assistentes sociais na sociedade brasileira, ao longo da sua trajetria

histrica, define-se a partir de estratgias educativas postas na luta de classes, em que podemos distinguir: a) as estratgias educativas subalternizantes, vinculadas necessidade de reproduo das relaes de dominao e explorao do capital sobre o trabalho e o conjunto da sociedade; b) as estratgias educativas emancipatrias, vinculadas necessidade histrica de construo de uma alternativa societria ordem do capital. Tais estratgias educativas, como mencionamos anteriormente, so

assimiladas/recriadas no mbito do Servio Social, imprimindo perfis pedaggicos prtica profissional. Estudos anteriores sobre esta temtica, na sociedade brasileira (ABREU, 2002, 2004), apontam dois eixos definidores dos perfis pedaggicos das prticas educativas em Servio Social: a ajuda e a participao. A ajuda o eixo que marca a constituio do Servio Social, desde a sua institucionalizao como profisso, nos Estados Unidos, na segunda dcada do sculo XX, mantendo-se at o momento atual. Surge na profisso como o contedo do Servio Social de Caso, enquanto ajuda psicossocial individualizada, que, na formulao de Mary Richmond (1950, 1977) refere-se a um tratamento prolongado e intensivo, centrado no desenvolvimento da personalidade, com vistas na capacitao do indivduo para o ajustamento ao mundo que o cerca. A ajuda psicossocial individualizada vincula-se s estratgias de reforma moral e de reintegrao social impostas pelas necessidades organizacionais e tecnolgicas, introduzidas com a linha de montagem nos moldes fordista e taylorista, em relao formao de um novo tipo de trabalhador. Trata-se do trabalhador fordiano, base de uma nova sociabilidade o americanismo. Esse padro cultural difundido a todo o mundo capitalista, no ps-Segunda Guerra Mundial, sob a hegemonia dos Estados Unidos, nos marcos do desenvolvimento e crise do Estado de bem-estar. Tal padro societrio se consolida, nesse perodo, nos pases centrais e mantm-se durante 30 anos (anos gloriosos) quando entra em crise. Tem-se, ento, o desenvolvimento e crise da chamada cultura do bem-estar.

A ajuda psicossocial individualizada, como modalidade interventiva do Servio Social, difundida para outros pases perifricos e centrais, no movimento expansionista do capital no ps-Segunda Guerra Mundial, desdobrando-se tambm nas modalidades de interveno centradas nos pequenos grupos (servio social de grupo) e na comunidade (servio social de comunidade). Em relao aos pases perifricos, como o caso do Brasil, essa difuso intensificada no bojo do chamado projeto desenvolvimentista, base de uma poltica de modernizao conservadora, nos anos de 1950 e 1960, que reafirma a ajuda psicossocial individualizada enquanto modalidade de interveno profissional do Servio Social (ALMEIDA, 1976). Alm disso, o projeto desenvolvimentista do governo brasileiro poca viabiliza a inscrio da participao at ento, elemento inerente aos processos de ajuda como esfera programtica das polticas sociais, tendo em vista a chamada integrao social aos programas de desenvolvimento. Esse redimensionamento da participao incide no Servio Social constituindo-se na referncia de inovao metodolgica da prtica profissional, numa perspectiva de globalidade (DEBATES SOCIAIS, 1967). Nesses marcos, afirmam-se os processos de mobilizao e organizao como desdobramentos das propostas de Desenvolvimento de Comunidade (DC), que, contraditoriamente, contribuem para a criao/recriao das condies scio-histricas e intelectuais para a redefinio profissional, com vistas na vinculao profissional aos interesses e lutas populares, em que a participao popular coloca-se como elemento estratgico. Integradas ao projeto desenvolvimentista da modernizao conservadora, nos anos 1950 e meados dos anos 1960, e posteriormente com a ampliao das polticas sociais sob a ditadura militar, a ajuda psicossocial individualizada e a participao consolidam-se como perfis pedaggicos da prtica profissional vinculados a estratgias educativas subalternizantes e respondem fundamentalmente necessidade de ideologizao da assistncia aos pobres, a partir dos parmetros de uma racionalidade tcnica e

administrativa difundida pelo regime militar (OLIVEIRA; TEIXEIRA, 1986). Nesse contexto, as prticas educativas tendem a dissimular as formas de reproduo do trabalhador nos limites precrios da poltica social, portanto, deslocadas das relaes salariais. Esses limites so impostos pela necessidade de reproduo do capital e do seu controle sobre o trabalho, bem como pela necessidade da manuteno desse mesmo trabalhador e sua famlia em permanente estado de necessidade em relao aos meios de sua subsistncia fsica. Ao mesmo tempo e de outro modo, a participao popular situa-se novamente nessa mesma contextualidade, como elemento estratgico no processo de redefinio profissional vinculado s lutas das classes subalternas, na perspectiva da resistncia poltica ao regime ditatorial (1964-1985) e da democratizao da sociedade. A participao popular , assim, elemento central do processo de politizao das relaes sociais e de interveno crtica e consciente dessas classes no movimento histrico e do desenvolvimento terico-poltico da profisso (ABREU, 2004). Aqui cabe considerar o avano dos processos participativos nos anos 1980, no contexto profissional, que se explicitou na construo do projeto tico-poltico-profissional alternativo do Servio Social, com o redirecionamento do tratamento dado participao, a partir da busca de maior aproximao aos chamados movimentos sociais populares e da prpria mobilizao e organizao poltica da categoria dos assistentes sociais integrados ao processo organizativo dos trabalhadores. Nesse processo, sobressaem a criao de entidades sindicais nas unidades da federao e do sindicato nacional Associao Nacional de Assistentes Sociais (ANAS, 1982) e os redimensionamentos polticos da ento Associao Brasileira de Ensino em Servio Social (ABESS), hoje Associao Brasileira de Ensino e Pesquisa em Servio Social (ABEPSS), e o conjunto Conselho Federal de Assistentes Sociais/Conselhos Regionais de Assistentes Sociais (CFAS/CRAS), hoje Conselho Federal de Servio Social/Conselhos Regionais de Servio Social (CFESS/CRESS) (ABRAMIDES; CABRAL, 1995).

Esses processos influenciam a insero crtica de assistentes sociais nos espaos scio-ocupacionais tradicionais da prtica profissional e apontam a perspectiva de insero profissional em espaos que se criam/recriam no contexto das lutas sociais das classes subalternas, com a abertura de possibilidades de insero e legitimao da atuao profissional em instituies de formao e organizao poltica dos trabalhadores, como sindicatos, associaes profissionais, movimentos sociais e organizaes no governamentais.
Quais as tendncias atuais das prticas educativas na sociedade brasileira?

Em decorrncia das estratgias econmico-sociais de enfrentamento da crise mundial do capital, aprofundadas, no Brasil, a partir dos anos 1990, sob a orientao neoliberal, as redefinies atuais que se estabelecem no campo interventivo em que se insere o Servio Social buscam a apropriao das estratgias participativas das classes subalternas, que so transfiguradas em colaboracionismo e solidariedade entre sujeitos antagnicos na base das relaes entre classes, no mbito da produo e reproduo social. Tais processos redirecionam as demandas da mobilizao social e organizao tendo em vista a necessidade de legitimao pelas classes subalternas do atual padro de poltica social materializado no chamado terceiro setor, que privilegia a mercantilizao das polticas sociais, reafirmando a assistncia social enquanto ajuda solidria, principalmente por meio da filantropia, em detrimento do atendimento a necessidades como direito, e investe na despolitizao e na cooptao das organizaes e lutas das classes subalternas pela chamada responsabilidade social. Essas estratgias tendem a debilitar as iniciativas e lutas das classes subalternas em torno de sua constituio autnoma e do atendimento de suas necessidades imediatas, integradas formao de uma vontade coletiva nacional-popular, a qual atingida pela ofensiva ideolgica do capital, direcionada para a reconstituio de sua hegemonia, que potencializa a captura da subjetividade do trabalhador lgica do capital, ao mesmo tempo em que busca o enfraquecimento da solidariedade no interior da classe e a negao de sua

perspectiva classista. Alm disso, fertilizam o surgimento de uma vontade corporativa em detrimento do fortalecimento de uma vontade coletiva nacional-popular, o que aponta, pois, para uma tendncia de fragilizao das estratgias de construo de uma emancipatria das classes subalternas. Desse modo, o processo de construo de uma pedagogia emancipatria, que reflete as contradies e os desafios postos nas lutas sociais das classes subalternas, afirma-se entre duas direes, nem sempre excludentes, quais sejam, entre o horizonte da cultura do bem-estar e o da superao da ordem capitalista e construo de nova e superior cultura. Os desdobramentos desses processos na configurao da mobilizao social e organizao no mbito das prticas educativas em Servio Social sero abordados no item seguinte. pedagogia

3 Mobilizao social e organizao como prticas educativas: concepo, objetivos, implicaes tico-polticas, estratgias e instrumentos tcnicos A mobilizao social e a organizao, como elementos constitutivos e condio indispensvel na concretizao das prticas educativas desenvolvidas pelo assistente social, vinculam-se, como j vimos no item anterior, a diferentes projetos profissionais e societrios. Projetos de interesse das classes subalternas ou projetos de interesses das classes dominantes, cujas perspectivas so, respectivamente: de superao da sociedade capitalista, tendo como horizonte a conquista da emancipao humana, passando pelas lutas democrticas e pelo fortalecimento de processos emancipatrios das classes subalternas e de toda a sociedade; e de manuteno da ordem capitalista, tendo como exigncia a subalternidade da classe trabalhadora, enquanto segmento das classes subalternas. Tal vinculao, em sua diversidade, determinada pelos compromissos profissionais estabelecidos com as classes sociais e se materializa pelos efeitos da ao profissional no modo de pensar e de agir dos sujeitos envolvidos nos processos das prticas educativas.

O desempenho da funo do assistente social, nesses processos de mobilizao social e organizao, profundamente tensionado no quadro das transformaes por que passa a sociedade brasileira nas ltimas dcadas. A reestruturao produtiva e as reformas institucionais, sob a orientao neoliberal, determinam inflexes no campo profissional do assistente social, provocadas pelas demandas postas pelo reordenamento das relaes entre capital/trabalho, Estado/sociedade civil.
Como se desenvolvem as funes de mobilizao social e organizao, desempenhadas pelo assistente social nos diferentes espaos scio-ocupacionais?

Quais so as principais estratgias e os instrumentos tcnicos?

Se privilegiarmos as demandas postas pelo reordenamento das relaes entre capital/trabalho, Estado/sociedade civil, que revitalizam o princpio do mercado e fortalecem a tese do Estado mnimo, as funes de mobilizao social e organizao, desempenhadas pelo assistente social, no mbito das polticas sociais, em particular na poltica de assistncia, tendem a fortalecer o deslocamento da responsabilidade do Estado para a sociedade civil, no atendimento das classes subalternas, sob a retrica da importncia da participao da sociedade civil na formulao e implementao das polticas pblicas. Esse processo, nos marcos da reforma do Estado, a partir dos anos 1990, refuncionaliza o padro assistencial estatal no atendimento das necessidades das classes subalternas, tendo como fundamento a solidariedade indiferenciada da sociedade sob a forma de ajuda, em detrimento da garantia do direito. A reestruturao da solidariedade indiferenciada da sociedade, ou seja, da solidariedade social, reconfigura-se como uma necessidade da redefinio neoliberal das polticas sociais, de substituio/negao do chamado pacto de solidariedade social, sob a organizao estatal consubstanciada em princpios redistributivistas (via sistemas de proteo social), pela solidariedade

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voluntria amparada em princpios humanistas de ajuda centrados na filantropia base da institucionalizao do chamado terceiro setor. Assim, no contexto da (contra) reforma do Estado, a partir dos anos 1995, evidenciase a tendncia de negao dos direitos conquistados pela classe trabalhadora em relao seguridade social (previdncia, assistncia e sade), com o aprofundamento da desarticulao entre as trs reas e nfase na assistncia social como estratgia de controle da pobreza, em detrimento do direito seguridade dos trabalhadores.
Como poltica, foi fortalecido o eixo da assistncia, atualmente o principal espao de prtica dos assistentes sociais no Brasil. Nessa relao, enquanto a assistncia social cresceu como espao do exerccio profissional do Servio Social, diminuiu e at tem sido ameaado de extino o espao profissional no campo da previdncia. Aqui est, talvez, o eixo problemtico mais importante hoje para se confrontar o projeto tico-polticoprofissional do Servio Social, pautado pela perspectiva de emancipao humana e ao prtica cotidiana dos assistentes sociais no mercado de trabalho (ABREU; LOPES, 2006).

Tal tendncia coloca grandes desafios, na medida em que


tem crescido entre os profissionais, a partir da Lei Orgnica da Assistncia (LOAS) e agora do Sistema nico da Assistncia Social (SUAS), a perspectiva da luta pela assistncia como direito, cuja centralidade pode obstruir a perspectiva da luta fundamental na sociedade capitalista, que o direito ao trabalho (ABREU; LOPES, 2006).

Nos espaos da assistncia social nas esferas pblica e privada, as demandas profissionais reafirmam-se em relao prestao direta de servios e benefcios sociais e a outras expresses da gesto de programas e projetos sociais envolvendo processos de mobilizao social e organizao, na perspectiva da participao dos sujeitos assistidos. Isso

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vem ocorrendo seja por meio dos mecanismos de gesto pblica, como ilustrativo o caso dos conselhos de direitos e de polticas sociais, seja na viabilizao de contrapartidas ao acesso aos atendimentos, como so exemplares o trabalho voluntrio e a insero obrigatria do pblico alvo em atividades programadas para a concesso dos atendimentos. Em relao participao nos conselhos de direitos ou de gesto de polticas, sob esse ponto de vista, identifica-se a tendncia de implementao do processo de mobilizao social e organizao sem um posicionamento crtico dos profissionais sobre as contradies que conformam esses espaos constitudos por representantes da burocracia estatal e de segmentos da sociedade civil. Consequentemente, tal atuao aponta para a despolitizao e cooptao das classes subalternas e contribui para a debilitao e inibio das formas de resistncia e presso em torno de seus interesses imediatos e histricos. A mobilizao social e a organizao tendo em vista contrapartidas dos sujeitos atendidos na implementao dos programas sociais tendem a reforar a responsabilizao do indivduo por sua prpria sobrevivncia. Ao mesmo tempo, inscrevem-se nas estratgias de legitimao das formas de autofinanciamento dos benefcios recebidos que a regra de ouro das polticas sociais nos atuais governos, como assinalou Kameyama (2000). Se privilegiada a concretizao dos interesses das classes subalternas, a funo de mobilizao social desempenhada pelos assistentes sociais direciona-se para o fortalecimento dos espaos de luta dessas classes, onde possvel gerar e socializar conhecimentos, constituindo sujeitos coletivos capazes de participar da construo da hegemonia das referidas classes (CARDOSO, 1995). Essa perspectiva pode nortear processos pedaggicos nos espaos scio-ocupacionais tradicionais dos assistentes sociais, evidenciando-se, tambm, nos conselhos de direitos e de polticas, mas por meio de uma insero crtica e de compromisso poltico, na perspectiva de inscrio dos interesses imediatos dessas classes na agenda das polticas sociais. Nessa direo, as estratgias de mobilizao social e organizao referem-se

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participao na construo dos referidos conselhos, no como mecanismos de colaboracionismo de classes, mas como espaos de luta, espaos de enfrentamento entre interesses antagnicos, na explicitao de demandas das classes subalternas e implementao de respostas s suas necessidades. Para alm desses espaos scio-ocupacionais dos conselhos e de organizao poltica, as estratgias de mobilizao utilizadas pelo assistente social podem ainda desenvolver-se no campo da comunicao social, utilizando a linguagem escrita e audiovisual, pela mdia, de modo a impulsionar uma conscincia crtica capaz de desmistificar e desencadear aes coletivas que se contraponham cultura domesticadora, tambm difundida pela mdia e outros meios de comunicao; na produo e atualizao sistemticas de acervo de dados relativos s expresses da questo social nos diferentes espaos ocupacionais do assistente social, que subsidiem e estimulem aes inovadoras, contrapostas progressiva mercantilizao do atendimento s necessidades sociais, decorrente da privatizao das polticas, e propiciem o atendimento s efetivas necessidades das classes subalternas, alvo das aes institucionais, principalmente das polticas de seguridade social, que se constituem espaos scio-ocupacionais tradicionais do assistente social. Destaca-se tambm que, na esfera da produo, as demandas postas aos assistentes sociais relacionadas s funes de mobilizao social e organizao se expressam, por exemplo, no mbito da formao e capacitao de mo-de-obra, na formao de grupos de produo, nos convnios entre instituies pblicas e empresas privadas visando ao engajamento do trabalhador no mercado de trabalho e na criao de estratgias de subsistncia das classes subalternas (CARDOSO; MACIEL, 2000, p.146). Apontamos, ainda, a insero real e legtima, embora diminuta, da atuao do assistente social em espaos scio-ocupacionais de formao e organizao poltica dos trabalhadores, como: sindicatos, movimentos sociais e outras organizaes de mediao poltica das classes subalternas.

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Portanto, como foi mencionado anteriormente, as estratgias de mobilizao social efetivam-se em torno dos processos de luta que demarcam as tendncias do movimento dessas classes na sociedade a partir dos anos 1990. Considerando a particularidade do movimento sindical, Antunes (1999) identificou duas tendncias: uma tendncia traduzida numa postura de acomodao dentro da ordem aponta ntidos refluxos em relao concepo classista, socialista e anticapilatalista das lutas que marcaram esse movimento dos anos 1980 denominado novo sindicalismo; a outra tendncia consubstancia-se na possibilidade histrica de elaborao de um programa de lutas direcionado para a construo de uma alternativa societria contraposta ordem do capital, a partir do conjunto dos trabalhadores. Tal programa, considerando o atual perfil da classe trabalhadora, marcado pela fragmentao e heterogeneizao, deve colocar-se como capaz de responder s reivindicaes imediatas do mundo do trabalho, mas tendo como horizonte uma organizao societria fundada em valores socialistas e efetivamente emancipadores, que no tenha iluses quanto ao carter destrutivo da lgica do capital (ANTUNES,1999, p. 243). Em suma, essas indicaes do a dimenso real das tendncias dos processos de mobilizao social e organizao no mbito do Servio Social, a partir de duas direes anteriormente mencionadas, quais sejam: a) uma direo circunscreve esses processos no horizonte histrico do Estado de bemestar, centrados no fortalecimento do poder do usurio, mediante processos de publicizao em relao aos sujeitos e recursos institucionais, na perspectiva da luta pela democratizao e universalizao das polticas pblicas. Todavia, a nfase na defesa do direito assistncia aponta para retrocessos profissionais, na medida em que pode distanciar-se da perspectiva da luta fundamental na sociedade capitalista, que o direito ao trabalho. b) a outra direo vincula os processos de mobilizao social e organizao desencadeados na prtica profissional dos assistentes sociais ao movimento dos

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trabalhadores, em torno da sua organizao autnoma, sustentada na necessidade e na possibilidade de lutas que favoream a garantia e a ampliao das conquistas sociais e polticas, bem como a ultrapassagem dessas conquistas do horizonte histrico do Estado de bem-estar, mediante o avano dessas lutas na perspectiva do fortalecimento dos processos de superao da ordem burguesa e da conquista da emancipao humana. Convm assinalar que tal horizonte posto tardiamente na sociedade brasileira, quando as condies concretas desse padro societrio nos pases centrais j se encontravam esgotadas. Consideraes Finais A problematizao das questes presentes neste texto nos permite conclu-lo reafirmando algumas concepes, tais como: a retomada e o avano da organizao poltica da categoria dos assistentes sociais, integrados aos processos organizativos das classes subalternas, podem potencializar uma insero crtica dos assistentes sociais nos espaos ocupacionais tradicionais e ampliar a abertura para a mesma insero nos espaos especficos de luta e organizao poltica dessas classes; as contradies inerentes aos espaos ocupacionais e s prticas educativas de mobilizao social e organizao no impedem uma atuao comprometida com os interesses das classes subalternas, mas impem exigncias e desafios para a construo autnoma dessas classes, tendo como horizonte a perspectiva da emancipao humana; no enfrentamento dos desafios e exigncias presentes nos processos de mobilizao social e organizao das classes subalternas, o modo de ser do novo intelectual no pode mais consistir na eloquncia, motor exterior e momentneo dos afetos e das paixes, mas num imiscuir-se ativamente na vida prtica, como construtor, organizador, persuasor permanente... (GRAMSCI, 1989).

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