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Mulher Esqueleto

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Seria mais ou menos assim: duas pessoas começam uma dança para ver se elas

vão
querer se amar. De repente, a Mulher-esqueleto é fisgada por acaso. Algo no
relacionamento começa a diminuir e cai em entropia. Com freqüência, o
doloroso
prazer da excitação sexual se abranda, um passa a perceber o lado frágil e ferido
do
outro, ou ainda um deixa de ver o outro como "material digno de admiração", e
é aí
que a velha careca e de dentes amarelos vem à tona.
Parece tão repulsivo, mas esse é o momento perfeito em que se apresenta uma
verdadeira oportunidade de demonstrar coragem e de conhecer o amor. Amar
significa ficar com. Significa emergir de um mundo de fantasia para um mundo
em
que o amor duradouro é possível, cara a cara, ossos a ossos, um amor de
devoção.
Amar significa ficar quando cada célula nos manda fugir.

A natureza da morte tem o estranho hábito de surgir nos casos de amor


exatamente no instante em que temos a sensação de ter conquistado alguém,
exatamente quando sentimos que fisgamos "um peixe grande". É então que a
natureza da vida-morte-vida vem à tona e deixa todo mundo apavorado. É nesse
estágio que se desenvolve mais o pensamento tortuoso a respeito dos motivos
pelos
quais o amor não pode, não deve e não vai dar "certo" para qualquer das partes
interessadas. É nesse estágio que as pessoas se enfurnam na toca. Trata-se de
um
esforço para se tornar invisível. Invisível ao parceiro? Não. Invisível à
Mulheresqueleto.
É esse o objetivo real de toda essa correria à procura de um lugar para se
esconder. No entanto, como estamos vendo, não há nenhum lugar onde
possamos
nos esconder.

Onde quer que o amor esteja nascendo, a força da


vida-morte-vida sempre virá à tona. Sempre

racionalizar seu medo dos ciclos de amor da vida-morte-vida. Eles dizem "Posso
me
dar melhor com outra pessoa", "Não quero renunciar a meu (preencha a lacuna)
___", "Não quero mudar minha vida", "Não quero encarar minhas feridas, nem
as de
ninguém mais", "Ainda não estou pronto" ou ainda "Não quero ser
transformado sem
primeiro saber nos ínfimos detalhes como vou ficar/me sentir depois."

do pescador, lugar onde ele se sente em segurança. Às vezes, esse medo de


enfrentar a natureza da morte é desvirtuado, transformando-se numa atitude de
"fuga da raia", na tentativa de manter apenas os aspectos agradáveis do
relacionamento, deixando de lado o vínculo com a Mulher-esqueleto. Isso nunca
funciona.
Essa atitude provoca extrema ansiedade no parceiro que não está "dando um
tempo", pois ele próprio está disposto a se encontrar com a Mulher-esqueleto.
Ele se
preparou, se fortaleceu e está tentando manter seus temores sob controle. E
agora, no
exato instante em que está pronto para decifrar o mistério, no momento em que
um
ou o outro está prestes a batucar no coração e conjurar uma vida juntos, um dos
parceiros grita "ainda não, ainda não" ou "não, nunca, nunca".

Amar os prazeres
é fácil. Já amar de verdade exige um herói que consiga controlar seu próprio
medo.

Estaremos dispostos a tocar o não-belo no outro e em nós mesmos.

Na justiça dos contos de fadas, assim como na psique profunda, a gentileza no


trato com aquilo que pareça inferior é recompensada pelo bem, e a recusa a
fazer o
bem a quem não é belo é censurada e castigada. O mesmo ocorre nos
importantes
estados emocionais, como no amor. Quando nos superamos para tocar o não-
belo,5
somos recompensados. Quando desfazemos do não-belo, somos isolados da vida
e
deixados desamparados.

É bom adotar a prática diária de meditar sobre a repetição do ato de


desenredar a natureza da vida-morte-vida. O pescador entoa uma pequena
canção de
um único verso, que repete para ajudar na tarefa de desembaraçar a linha.
Trata-se
de uma canção para propiciar a percepção, para auxiliar na soltura da natureza
da
Mulher-esqueleto. Não sabemos o que ele está cantando. Só podemos tentar
adivinhar. Quando estivermos soltando essa natureza, seria bom que
cantássemos
algo mais ou menos assim: Ao que eu preciso dar mais morte hoje, para gerar
mais
vida? O que eu sei que precisa morrer mas hesito em permitir que isso ocorra? O
que
precisa morrer em mim para que eu possa amar? Qual é a não-beleza que eu
temo?
Que utilidade pode ter para mim hoje o poder do não-belo? O que deveria
morrer
hoje? O que deveria viver? Qual vida tenho medo de dar à luz? Se não for agora,
quando?

dos ossos.
Para encarar a Mulher-esqueleto, ninguém precisa assumir o papel do herói
intergaláctico, entrar em conflito armado, nem mesmo arriscar a vida na selva.
Basta
que se queira desemaranhá-la. Esse poder do conhecimento da natureza da
vidamorte-
vida aguarda os amantes que superam a fuga, que se esforçam para
ultrapassar o desejo de se sentir em segurança.

Através da imagem do sono inocente, o pescador confia o suficiente na


natureza da vida-morte-vida para repousar e se revitalizar na sua presença. Ele
está
entrando numa transição que o levará a um conhecimento mais profundo, a um
estágio superior de maturidade. Quando os amantes entram nesse estado, eles
estão
se entregando às forças interiores, àquelas que possuem confiança, fé e o
profundo
poder da inocência. Nesse sono espiritual, o amante confia que as tarefas da sua
alma
serão realizadas nele, que tudo será como deve ser. Ele dorme o sono dos sábios,
em
vez do sono dos prudentes.

Existe uma prudência que é verdadeira, quando o perigo está por perto, e uma
prudência que não tem justificativa e que se origina de algum ferimento
anterior.
Esta última faz com que os homens ajam de modo irritadiço e desinteressado
mesmo
quando eles sentem que gostariam de demonstrar carinho e afeio. As pessoas
que têm
medo de "ser ludibriadas" ou de "entrar num beco sem saída" — ou que não
param de
vociferar seus direitos de querer "ser livre" — são as que deixam o ouro escapar
por
entre os dedos.

O momento crítico para uma


pessoa desse tipo ocorre quando ela se permite amar "apesar de"... apesar de ter
suas
angústias, apesar de ficar nervoso, apesar de ter sido ferido anteriormente,
apesar de
temer o desconhecido.

Às vezes não existem palavras que estimulem a coragem. Às vezes é preciso


simplesmente mergulhar.

A única confiança necessária é a de saber que,


quando ocorre um final, vai surgir um novo começo.

Ela está esperando pelo


sinal de sentimento profundo, por aquela única lágrima que diz: "Admito o
ferimento."
As vezes aquele que está fugindo da natureza da vida-morte-vida insiste em
pensar que o amor é apenas uma dádiva. No entanto, o amor em sua plenitude é
uma
série de mortes e de renascimentos. Deixamos uma fase, um aspecto do amor, e
entramos em outra. A paixão morre e volta. A dor é espantada para longe e vem
à
tona mais adiante. Amar significa abraçar e ao mesmo tempo suportar inúmeros
finais e inúmeros recomeços — todos no mesmo relacionamento.

natureza
da vida-morte-vida não só nos ensina a acompanhar esses ciclos na dança, mas
nos
mostra que a solução para o mal-estar está sempre no contrário. Portanto, novas
atividades são a cura para o tédio; a intimidade é a cura para a solidão; a solidão
éa
cura para a sensação de falta de espaço.

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