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São Tomás de Aquino. Este É o Livro Dos Mandamentos de Deus

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este o liVro Dos manDamentos De Deus

So Toms de Aquino
Este o livro dos mandamentos de Deus, e a Lei que subsiste eternamente: todos os que a guardam alcanaro a vida 2. (Baruc 4, 1)

Louvor Sagrada Escritura 3


Segundo Agostinho, na Doutrina Crist 4, o homem instrudo no falar deve o fazer a fim de que ensine, deleite e comova 5: que ensine aos ignorantes, que deleite aos entediados e que comova aos obtusos. A linguagem da Sagra1) Ttulo original: Hic est liber mandatorum Dei. Traduzido do latim pelo Dic. Felipe de Azevedo Ramos, EP a partir da edio: S. Thomae Aquinatis Opuscula Theologica, t. 1: Principium fratris Thomae de commendatione et partitione Sacrae Scripturae. Ed. R. A. Verardo, Marietti, Taurini-Romae, 1954, p. 435-439 (hic: 435-436). O cdice original, encontrado em Santa Maria Novella, Florena em 1912 (Bibl. Cent. MS Conv. Soppr. G, 4, 36) est junto com o famoso discurso Rigans montes (cfr. Revista Lumen Veritatis, 12, 2010, p. 111-126). No incio do Hic est liber est escrito: Principium fratris Thomae de Aquino quando incepit Parisiis ut baccalarius biblicus. Ou seja, seria uma aula inaugural ao comear o magistrio em Paris como Bacharel bblico (cfr. Spiazzi, Raimondo. San Tommaso dAquino: biografia documentata di un uomo buono, intelligente, veramente grande. Bologna: Ed. Studio Domenicano, 1995, p. 75). Contudo, a esse respeito explica J.-P. TORRELL (Iniciao a Santo Toms de Aquino, So Paulo: Loyola, 2004, p. 63): Seguindo sugesto de Mandonnet, at hoje todos viam nesse segundo texto a aula inaugural de Toms, ao iniciar seu ensino de bacharel bblico em Paris, em 1252. Ora, conforme vimos, ao que tudo indica Toms jamais exerceu esse posto em Paris; portanto, no pde ter pronunciado esse discurso na referida ocasio. Da a proposio de Weisheipl de ver nesse segundo discurso o que Toms teria pronunciado no dia de sua resumptio [primeiro dies legibilis seguinte a inceptio]. Esse texto revelase uma continuidade bastante clara do principium [Rigans montes] acima analisado, que ele completa e prolonga, e podemos desse modo ter uma idia mais precisa do que se passou em setembro de 1256, por ocasio da entrada em regncia de Toms. Weisheipl, por sua parte, nega que exista uma inceptio para o cargo de Bacharel bblico e confirma tambm a continuidade temtica do Rigans montes com o Hic est liber. O primeiro trata da sublimidade da Doutrina sagrada transmitida sabiamente do mestre aos discpulos; j o segundo trata da autoridade, imutabilidade e utilidade da Sagrada Escritura. Por fim, reitera que estes dois discursos devem ser lidos em unio de um com o outro e como parte integral da cerimnia inaugural (WEISHEIPL, J.A. Friar Thomas dAquino. His life, thought, and Work. New York: Doubleday, 1974, p. 104 - trad. nossa). Por fim, este autor afirma que o Hic est liber teria sido proferido em abril ou maio de 1256 em Paris (e no em 1252). 2) Original: Hic est liber mandatorum Dei, et lex quae est in aeternum: omnes qui tenent eam pervenient ad vitam. 3) Original: Commendatione Sacrae Scripturae. No traduziremos aqui a segunda parte do discurso chamada Partitione Sacrae Scripturae. 4) De doctrina christiana, IV, c. 12 in Corpus scriptorum ecclesiasticorum latinorum (CSEL), vol. 80, ed. W. M. Green, 1963, p. 185. 5) Inspirado em Ccero. Cfr. De oratore, I, 130. in Bibliotheca scriptorum graecorum et romanorum Teubneriana (BT), vol. 3, ed. K. Kumaniecki, 1995, p. 50. Lumen Veritatis - N 15 - Abril-Junho - 2011 www.lumenveritatis.org

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da Escritura contm plenissimamente estas trs coisas. Pois ela ensina firmemente com sua verdade eterna: Eternamente, Senhor, permanece a tua palavra (Sl 118 [119] 89-90). Deleita suavemente por sua utilidade: Quo doces so vossas palavras para o meu paladar (Sl 118 [119], 103). E convence eficazmente por sua autoridade: No minha palavra como fogo, diz o Senhor? (Jr 23, 29). Por esta razo, a Sagrada Escritura no texto proposto louvada por trs motivos: primeiro, pela autoridade atravs da qual comove, dizendo: Este o livro dos mandamentos de Deus; segundo, pela verdade eterna com a qual instrui, ao dizer: e a Lei que subsiste eternamente; terceiro, pela utilidade que atrai, ao dizer: Todos os que a guardam alcanaro a vida.

A autoridade da Sagrada Escritura


A autoridade desta Escritura, por sua parte, demonstrada eficazmente por trs razes. Primeiro, por sua origem, visto que Deus a sua origem. Por isso diz: dos mandamentos de Deus. Diz tambm Baruc (3, 37): Ele descobriu o caminho inteiro da cincia; e em Hebreus (2, 3): Esta [salvao] foi anunciada no incio pelo Senhor, e confirmada no meio de ns por aqueles que a tinham ouvido. Alm disso, este autor deve ser crido infalivelmente, tanto pela condio de sua natureza, em razo de ser ele a verdade: Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14, 4); quanto pela plenitude da cincia: profundidade da riqueza, da sabedoria e do conhecimento de Deus! (Rm 11, 33); quanto pelo poder das palavras: a palavra de Deus viva, eficaz e mais penetrante que qualquer espada de dois gumes (Hb 4, 12). Segundo, mostra-se eficaz pela necessidade que claramente se impe: mas quem no crer ser condenado (Mc 16, 16), etc. Por este motivo, a verdade da Sagrada Escritura apresentada por meio de preceitos, e por esta razo est escrito: dos mandamentos de Deus. E estes se dirigem ao intelecto atravs da f: Credes em Deus, crede tambm em mim 6 (Jo 14, 1); e, pelo amor, informam a sensibilidade: Este o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei (Jo 15, 12); conduzindo-nos ao: faze isto e vivers (Lc 10, 28).
6) Este trecho retomado constantemente por S. Toms em suas obras como princpio de sistematizao teolgica e cristolgica (cfr. BIFFI, I. I misteri di Cristo in Tommaso dAquino. Milo: Jaca Book, 1994, p. 40).

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Terceiro, mostra-se eficaz pela uniformidade de seus escritos, pois todos os que transmitiram a sagrada doutrina 7 ensinaram o mesmo: Portanto, seja eu ou sejam eles, assim pregamos, e assim crestes (1 Cor 15, 11). E isto necessrio, pelo fato de que todos tiveram um nico mestre: um s vosso Mestre, etc. (Mt 23, 8); possuram um nico esprito: No andamos com o mesmo esprito? (2Cor 12, 18). E apenas um amor que vem do alto: A multido dos fiis era um s corao e uma s alma em Deus (At 4, 32). Por isto, como sinal desta uniformidade de doutrina, est escrito com propriedade: Este o livro.

A verdade da Sagrada Escritura


A verdade desta doutrina da Escritura imutvel e eterna. Donde resulta que a Lei subsiste eternamente. E diz Lucas (21, 33): O cu e a terra passaro, mas as minhas palavras no passaro. Desta forma, esta lei subsiste eternamente por tres razes. Primeiro, em razo do poder do legislador: Se o Senhor dos exrcitos decidiu, quem poder revogar? (Is 14, 27). Em segundo lugar, em virtude de sua imutabilidade: eu sou o Senhor e no mudo (Ml 3, 6). O Senhor no homem para que minta, nem criatura humana para que se arrependa (Nm 23, 19). Terceiro, em consequncia da verdade da prpria lei: Todos os teus mandamentos so verdade (Sl 118 [119],86). Os lbios sinceros permanecem para sempre (Pr 12, 19). A verdade permanece e se fortifica eternamente (3Es 4, 38).

A utilidade da Sagrada Escritura


Por fim, a utilidade desta Escritura mxima: Sou eu, o Senhor teu Deus, sou quem te ensina o que vale a pena (Is 48, 17). Por isso continua: todos os que a guardam alcanaro a vida. Esta vida se divide certamente em trs. A primeira a vida da graa, para a qual a Sagrada Escritura nos prepara: As palavras que vos disse so Esprito e so vida (Jo 6, 63). De fato, atravs desta vida, o esprito vive para Deus: Eu vivo, mas no eu: Cristo que vive em mim. (Gl 2, 20). A segunda a vida da justia, baseada nas obras, para a qual a Sagrada Escritura guia: Jamais esquecerei teus preceitos: pois por eles me deste a vida (Sl 118 [119], 93). A terceira a vida da glria, prometida e con7) Biffi (op. cit., p. 40) nota como S. Toms fala indiferentemente de Sagrada Escritura (sacra Scriptura) e de Sagrada doutrina (sacra doctrina).

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duzida pela Sagrada Escritura: A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. (Jo 6, 68). Da mesma forma (Cf. Jo 20, 31): Estes [milagres], porm, foram escritos para que creiais; e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome 8.

8) Biffi (op. cit., p. 41) nota que a sucesso graa-justia-glria se encontra tambm no prlogo de S. Toms a Lectura in Galatas (in Marietti, p. 563) onde se fala de renovatio per novitatem gratiae, seu Veritatis praesentiae Christi, da renovatio per novitatem iustitiae e da renovatio per novitatem gloriae.

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