IJIE Iberoamerican Journal of Industrial Engineering Peridico da rea de Engenharia Industrial e reas correlatas Editor responsvel: Nelson Casarotto

o Filho, Prof. Dr. Organizao responsvel: Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Processo de avaliao de artigos por pares Periodicidade: Semestral Florianpolis, SC, v. 3, n. 1, p. 48-61, Julho, 2011. Artigo recebido em 01/06/2011 e aceito para publicao em 05/07/2011.

ANLISE PRELIMINAR DA RESISTNCIA COMPRESSO DE TIJOLOS ECOLGICOS FABRICADOS NO MUNICPIO DE IPABA PRELIMINARY ANALYSIS OF COMPRESSIVE STRENGTH OF BRICK ECOLOGICAL MADE IN THE CITY OF IPABA
Thiago Augusto Corra Souza Centro Universitrio do Leste de Minas Gerais Discente do Curso de Engenharia de Materiais Av. Tancredo Neves, 3500. Bairro: Universitrio, Coronel Fabriciano, Minas Gerais, Brasil. augustthiago@hotmail.com Grcia Aparecida Nunes Centro Universitrio do Leste de Minas Gerais Discente do Curso de Engenharia de Produo Av. Tancredo Neves, 3500. Bairro: Universitrio, Coronel Fabriciano, Minas Gerais, Brasil. grecianunes@gmail.com Juzelma Marinques Soares Centro Universitrio do Leste de Minas Gerais Discente do Curso de Engenharia de Produo Av. Tancredo Neves, 3500. Bairro: Universitrio, Coronel Fabriciano, Minas Gerais Brasil. juzelma@gmail.com Marluce Teixeira Andrade Queiroz Centro Universitrio do Leste de Minas Gerais Departamento de Cincias Exatas Av. Tancredo Neves, 3500. Bairro: Universitrio, Coronel Fabriciano, Minas Gerais, Brasil. marluce.queiroz@yahoo.com.br

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Centro Tecnolgico (CTC) Programa de Ps-Graduao em Engenharia de Produo (PPGEP) Laboratrio de Sistemas de Apoio Deciso (LABSAD) Campus Universitrio Trindade Caixa Postal 476, Florianpolis SC, BRASIL, CEP: 88040-900 Fone: ++55 (48) 3721-7065; Fax: ++55 (48) 3721-7066 http://www.ijie.ufsc.br e-mail: ijie@deps.ufsc.br

RESUMO: Considerando a necessidade da construo de moradias que sejam capazes de atender aos requisitos de segurana, proteo ambiental e baixo custo, implementou-se estudo para verificar as caractersticas fsico-qumicas dos tijolos de terra crua (tijolos ecolgicos) produzidos por uma empresa sediada em Ipaba, Minas Gerais. A empresa de pequeno porte utilizava mo de obra carcerria contribuindo para a reinsero daquelas pessoas no convvio social e no mercado de trabalho. Aplicou-se como parmetro a resistncia compresso, sendo os ensaios sistematizados conforme os procedimentos exarados na Norma Brasileira, NBR 8492/1984, para o capeamento no colado. Os resultados foram comparados com os valores estabelecidos como satisfatrios pela NBR 8491/1984. Constatou-se no conformidades que denotavam situao de grave e iminente risco para a populao, tornando invivel a comercializao do tijolo ecolgico. Foram indicadas as principais medidas corretivas relativas confeco dos tijolos ecolgicos visando garantir a qualidade do produto final e manuteno do processo produtivo. Entende-se a relevncia deste estudo frente s necessidades de desenvolvimento de aes capazes de contribuir para a sustentabilidade do planeta. Palavras-chave: Tijolo Ecolgico. Resistncia Compresso. Medidas Corretivas. Sustentabilidade Ambiental. ABSTRACT: Considering the need to build houses that are capable to meet the safety requirements, environmental protection and low cost, we implemented study to explore the physical and chemical characteristics of soil brick (green bricks) produced by a company based in Ipaba, Minas Gerais. The small business used prison labor, contributing to the reintegration of those people in social and labor market. Was applied as a parameter the compressive strength, and the systematic testing procedures as entered in the NBR 8492/1984 not glued to the capping. The results were compared with the values established as satisfactory by NBR 8491/1984. It was found non-conformities that denoted a situation of serious and imminent risk to the population, impeding the marketing of eco-brick. They were showing the main corrective measures relating to manufacture of green bricks in order to ensure final product quality and maintenance of the production process. It is understood the relevance of this study before the development needs of actions capable of contributing to the sustainability of the planet. Keywords: Ecological Brick. Compressive Strength. Corrective measures. Environmental Sustainability.

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INTRODUO A preocupao com o meio ambiente atingiu tambm o setor da construo civil. A

busca de novas solues construtivas, o emprego vivel de novas ferramentas, a reciclagem de resduos, o dficit habitacional, o desenvolvimento sustentvel e a eliminao do desperdcio no canteiro de obras por meio da racionalizao de materiais e mo de obra so desafios a serem encarados por pesquisadores, engenheiros, arquitetos e a prpria sociedade (GONALVES et. al., 2006). Esse contexto faz com que novos materiais, ou ainda, materiais de elevado desempenho, e sistemas construtivos mais eficientes sejam os principais objetivos na tentativa de estabelecer uma relao saudvel entre baixo custo e qualidade de nossas obras sem desprezar a cultura, a realidade de consumo e os limites da mo de obra. Com a utilizao racional dos recursos naturais, o resgate do uso do solo como material de construo tem se intensificado, tendo seu comportamento fsico-mecnico melhorado por meio da estabilizao com aglomerantes minerais. Na estabilizao do solo com o cimento, ocorrem reaes de hidratao dos silicatos e aluminatos presentes no cimento, formando um gel que preenche parte dos vazios da massa e une os gros adjacentes do solo, conferindo-lhe resistncia inicial; paralelamente, ocorrem reaes inicas que provocam a troca de ctions das estruturas argilominerais do solo com os ons de clcio provenientes da hidratao do cimento adicionado (GRANDE, 2003). A mistura de solo-cimento submetida compactao num teor de umidade timo para obteno de mxima densidade, de modo a formar um material estruturalmente resistente e durvel, utilizado na forma de tijolos, blocos e paredes monolticas (LOPES; FREIRE, 2003 apud ALBUQUERQUE et al., 2008), apresentando boa resistncia compresso, bom ndice de impermeabilidade e baixo ndice de retrao volumtrica (HABITAR, 2004). De acordo com a NBR 8491/1994 tijolo macio de solo-cimento aquele cujo volume no inferior a 85% de seu volume total aparente e constitudo por uma mistura homognea, compactada e endurecida de solo, cimento Portland, cal, gua e, eventualmente, aditivos em propores que permitam atender s exigncias daquela norma. A resistncia compresso uma das caractersticas essenciais inerentes a qualquer tipo de tijolo, repercutindo favoravelmente na estabilidade de uma construo. A Fundao de Tecnologia do Estado do Acre FUNTAC (1999) afirma que o aumento nos teores de cimento na composio do tijolo de solo-cimento implica em significativa elevao nos valores mdios de resistncia, sendo possvel obter uma resistncia de 2,8 Mega Pascal (MPa)

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por meio da adio de apenas 10% de cimento em massa. A definio quanto composio final vincula-se aplicao final do tijolo. Desse modo, o uso dos tijolos de solo-cimento produzidos por meio de prensas manuais, com aplicaes de tcnicas simples e solues viveis, est em conformidade com os padres de segurana ambiental, porque permite o desenvolvimento de componentes de sistemas construtivos com inmeras vantagens. Pode-se citar o controle de perdas; disponibilidade de abastecimento; baixo custo em comparao s alvenarias convencionais; eficincia construtiva devido ao sistema modular, pelo qual os tijolos so somente encaixados ou assentados com pouca quantidade de argamassa. Alm disso, os tijolos podem ser produzidos com furos internos que permitem a passagem de tubulaes sem a necessidade de cortes ou quebras, facilitando o manuseio devido aos encaixes que agilizam a execuo da alvenaria; implicando em baixa agressividade ao meio ambiente, pois dispensa a queima; e a economia de transporte, j que geralmente produzido no prprio local da obra (FUNTAC, 1999). Alm de grande resistncia, outra vantagem desse tijolo o seu excelente aspecto. Esses elementos, aps pequeno perodo de cura, garantem resistncia compresso simples similar dos tijolos macios e blocos cermicos, sendo a resistncia tanto mais elevada quanto maior for quantidade de cimento empregada; esta, no entanto, deve ser limitada a um teor timo que confira ao material curado a necessria qualidade, sem aumento do custo de fabricao (FUNTAC, 1999). Para que o tijolo de solo-cimento seja caracterizado como produto de qualidade, o mesmo deve atender aos requisitos da NBR 8491/1984 no que diz respeito s dimenses e respectivas tolerncias, resistncia compresso e absoro de gua. Somente assim poder ser disponibilizado para o mercado consumidor. Neste contexto, sistematizou-se estudo visando avaliar algumas caractersticas fsicoqumicas de tijolos ecolgicos produzidos por uma empresa sediada em Ipaba, Minas Gerais (MG). Os resultados explicitaram as necessidades de adequaes capazes de permitir a comercializao daquele tipo de tijolo.

MATERIAIS E MTODOS Como pr-requisitos para avaliao da qualidade do tijolo de solo-cimento fabricado no

municpio de Ipaba, MG, adotou-se o ensaio de resistncia compresso simples e determinou-se as dimenses, baseando na metodologia exposta pela NBR 8492/1984.

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2.1

Amostragem As amostras foram coletadas de acordo com a NBR 8491/1984. Segundo a norma

tcnica a produo de 25.000 tijolos ecolgicos ou frao superior a 1.000 unidades constituem um lote do qual se deve retirar, ao acaso, uma amostra de treze tijolos para avaliao do comprimento, largura e altura, sendo observado nesse estudo. O ensaio de resistncia compresso simples fundamentado pela NBR 8492/1984. A norma tcnica recomenda a preparao de dez corpos de prova, por meio do sistema de capeamento dos tijolos. Outro cuidado importante para certificar a confiabilidade dos resultados, referiu-se a identificao dos tijolos, utilizando estratgia que proporcionou a fcil visualizao, garantindo-se a reprodutibilidade dos resultados. Foi observado que as amostras coletadas apresentavam aspecto homogneo e compacto, bem como no foram observadas fissuras ou outros defeitos que pudessem comprometer a resistncia do corpo de prova ou mascarar os resultados do ensaio de compresso.

2.2

Ensaio relativo s dimenses dos tijolos ecolgicos Em consonncia com a NBR 8491/1984 foram identificadas as dimenses dos tijolos

em trs posies diferentes, com 1 milmetro (mm) de preciso, verificando-se ainda, a tolerncia mxima de fabricao de 3 mm para cada uma das trs dimenses.

2.3

Ensaio de resistncia compresso simples dos tijolos ecolgicos Partindo da NBR 8492/1984, para o ensaio de resistncia compresso simples, o

capeamento das faces de trabalho deve ser feito com pasta de cimento Portland de consistncia plstica, com espessura mnima necessria para que se obtenham faces planas e paralelas. De acordo com Barbosa et al. (2009), o sistema de capeamento recomendado pela norma tcnica, caracteriza-se como sistema de capeamento colado. Este sistema compreende aqueles que utilizam materiais que formam uma camada regular que adere fsica ou quimicamente superfcie da base do corpo de prova. Nesta categoria destacam-se a utilizao de capeamento com mistura de enxofre e capeamento com pasta ou argamassa de cimento. Vale destacar que a NBR 8492/1984 permite a utilizao de outros sistemas de capeamento, desde que tenham a mesma eficcia. Para se garantir uma distribuio uniforme de tenses quando as faces a serem comprimidas no esto planas, existem basicamente, trs
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sistemas de regularizao: sistemas de capeamento colado, sistemas de capeamento no colado e sistemas de desgaste mecnico (BEZERRA, 2007 apud BARBOSA et al., 2009). Com o capeamento procura-se que os corpos de prova apresentem topos paralelos, lisos e ntegros, objetivando reduzir as variaes de ensaio devidas falta de paralelismo entre os pratos da prensa, os desvios do eixo do corpo de prova em relao direo da movimentao dos pratos, e o atrito entre os pratos e o topo do corpo de prova. Para obteno do paralelismo e regularizao das faces de trabalho dos corpos de prova, quaisquer outros processos ou materiais podero ser usados, desde que, para os fins do ensaio, surtam efeitos semelhantes ao da pasta (NBR 8492/1984). Aliado a estes princpios utilizouse apenas duas chapas metlicas de faces planas para obter o paralelismo entre as faces de trabalho (Figura 1), dispensando assim o corte do tijolo e a utilizao da pasta de cimento, o que pode ser verificado tambm nos ensaios realizados por Souza e Alves (2009).

Figura 1 Regularizao das faces de trabalho por meio das chapas metlicas Fonte: Elaborado pelo autor (2010)

RESULTADOS E DISCUSSES

3.1

Anlise das dimenses dos tijolos ecolgicos A NBR 8491/1984 estabelece que os tijolos possam ser fabricados observando-se as

dimenses do tijolo tipo I (20 x 9,5 x 5 centmetros (cm)) ou do tipo II (23 x 11 x 5 cm), com tolerncia mxima de 3 mm em cada aresta, visando garantir o padro necessrio para a estabilidade da construo (Tabela 1).
Tabela 1 Tipos e dimenses nominais Tipos e dimenses nominais (cm) Designao Comprimento Largura Altura Tipo I 20 9,5 5 Tipo II 23 11 5 Fonte: Adaptado da NBR 8491/1984

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As medies realizadas nas amostras coletadas indicaram no conformidades em relao ao tijolo tipo I e tipo II de acordo com a NBR 8491/1984. Identificou-se que as dimenses mdias eram 25,3 x 12,8 x 6,6 cm com tolerncia de 10 mm (Tabela 2). Estes resultados explicitaram a urgncia de aperfeioamento imediato do padro de produo visando obteno de tijolos uniformes e com dimenses apropriadas.
Tabela 2 Dimenses dos tijolos ecolgicos (cm) Amostra 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Mdia Dimenses dos Tijolos (cm) Comprimento Largura Altura 25,2 12,8 6,6 25,5 13,0 6,7 25,5 12,9 6,4 25,3 13,0 6,5 25,2 12,9 6,6 25,2 12,7 6,8 25,2 12,8 6,9 25,2 12,7 6,3 25,2 12,7 6,6 25,4 12,9 6,5 25,3 12,8 6,6 Fonte: Elaborado pelo autor (2010)

Pisani (2005) apresenta os vrios tipos de tijolos de solo-cimento comercializados no mercado brasileiro, dentre estes se encontram os tijolos com dois furos e encaixes, com dimenses distintas das especificadas na NBR 8491/1984. Ainda em Pisani (2005) so apresentados tijolo tipo I (20 x 10 x 5 cm), tipo II (25 x 12,5 x 6,25 cm) e tipo III (30 x 15 x 7,5 cm), denotando as falhas existentes nos processos de produo das diversas empresas (Tabela 3).
Tabela 3 Dimenses: Tijolo com dois furos e encaixe Designao I II III Tijolos com dois furos e encaixes Comprimento (cm) Largura (cm) Altura (cm) 20 10 5 25 12,5 6,25 30 15 7,5 Fonte: Adaptado de PISANI (2005)

Considerando a tolerncia de 3 mm exigida pela NBR 8491/1984, entende-se que o tijolo fabricado no municpio de Ipaba compreendia e atendia a especificao do tijolo tipo II (Tabela 3) com dois furos e encaixe segundo Pisani (2005). Contudo recomendou-se empresa em estudo a sistematizao do processo de controle de qualidade em relao aos aspectos dimensionais do seu produto em atendimento a NBR

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8491/1984. Vale destacar que o ajuste preciso da prensa dever permitir o alcance da meta proposta, sem qualquer custo adicional.

3.2

Ensaios de resistncia compresso simples O ensaio compresso simples baseou-se na NBR 8492/1984 com utilizao de chapas

metlicas como sistema de capeamento no colado, incorporando-se tambm material de amortecimento para as bases do corpo de prova. As dimenses das faces de trabalho foram determinadas com uma preciso de 1 mm, sendo o corpo de prova colocado sobre o prato inferior da mquina de ensaio compresso, entre as chapas metlicas, de maneira a ficar centrado em relao a ele (Figura 2). As cargas de ruptura foram aplicadas por meio da mquina devidamente calibrada especfica para a realizao de ensaio de compresso da marca Dinateste (carga mxima de 20 toneladas), no Laboratrio de Ensaios Mecnicos do Centro Universitrio do Leste de Minas Gerais (UNILESTE-MG). A aplicao da carga foi uniforme e elevada gradativamente at que ocorresse a primeira trinca visvel na superfcie do corpo de prova.

Figura 2 Ensaio compresso simples Fonte: Elaborado pelo autor (2010)

Os valores individuais de resistncia compresso, expressos em MPa, foram obtidos dividindo-se a carga mxima (em quilograma-fora), observada durante o ensaio, pela mdia das reas das duas faces de trabalho considerando apenas a seo transversal til que correspondia a rea da seo transversal total, descontada a rea mxima dos furos. A anlise dos resultados obtidos identificou uma tendncia ao no atendimento das exigncias da NBR 8491/1984. Segundo a norma, a resistncia compresso para tijolos macios de solo-cimento no deve ser inferior a 2,0 MPa para valores mdios e 1,7 MPa para valores individuais. Os resultados encontrados foram de aproximadamente 0,8 MPa para a

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resistncia mdia dos tijolos mostrando-se totalmente inadequado s exigncias estruturais (Grfico 1).
Resistncia compresso encontrada nos tijolos ecolgicos
1,2

Resistncia em MPa

1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Amostras Resistncia do Tijolo Resistncia Mdia do Tijolo

Grfico 1 Resistncia compresso dos tijolos ecolgicos produzidos em Ipaba, MG Fonte: Elaborado pelo autor (2010)

Outro aspecto importante observado foi que nenhum dos elementos da amostra obteve resistncia satisfatria, uma vez que o valor mximo obtido foi de 1,1 MPa e a exigncia de 1,7 MPa para valores individuais (Grfico 2), denotando a necessidade de alteraes imediatas na composio do tijolo produzido em Ipaba, MG. Verificou-se que as no conformidades detectadas inviabilizavam a comercializao dos tijolos pela empresa. A precariedade da resistncia compresso implicava em comprometimento da segurana estrutural da obra. Sendo assim, informou-se ao fabricante que os tijolos s poderiam ser disponibilizados para a comunidade aps a aplicao de medidas corretivas, visando evitar situaes de grave e iminente risco para a populao. A qualidade das matrias-primas empregadas bem como as quantidades so fundamentais para alcanar os requisitos tcnicos exigidos, principalmente a resistncia mecnica. Os solos mais apropriados para serem utilizados nas misturas de solo-cimento so aqueles de constituio, predominantemente, arenosa (ABCP, 1985; ABCP, 1989). Pissato e Soares (2006) adicionaram finos de pedreira ao solo superficial com o intuito de corrigir, granulometricamente a mistura e melhorar as caractersticas do solo argiloso e, assim preparar o solo-cimento de forma, economicamente vivel, utilizando menores quantidades de cimento para estabilizao, como proposta da Associao Brasileira de Cimento Portland - ABCP (1985). Em consequncia no ensaio de resistncia compresso simples obtiveram resultados superiores ao valor mnimo de 2,1 MPa admitido pela
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Associao Brasileira de Normas Tcnicas ABNT (1984) para solo-cimento. Concluram ainda que a quantidade acrescentada de finos de pedreira levou a um aumento proporcional na resistncia da mistura de solo-cimento, apontando que quanto maior for a quantia de finos, menor ser o teor de cimento necessrio para a estabilizao, demonstrando que a utilizao dos finos de pedreira na adio ao solo-cimento uma alternativa vivel e pode permitir a sua aplicao em locais com solos predominantemente argilosos.
Comparao entre a resistncia exigida e a encontrada
2,2 2 1,8

Resistncia em MPa

1,6 1,4 1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Amostras

Resistncia do Tijolo Resistncia Mdia do Tijolo Resistncia exigida - Valores individuais Resistncia mdia exigida

Grfico 2 Comparao entre a resistncia exigida e a encontrada Fonte: Elaborado pelo autor (2010)

De acordo com Cristelo (2001), a estabilizao de solos com cal produz melhorias significativas na textura e estrutura do solo, reduzindo a plasticidade e originando aumentos na resistncia mecnica. Por outro lado, o aumento de resistncia desenvolvido na mistura solo-cal est diretamente associado reduo substancial do seu potencial de deformao. A adio de cal ao solo provoca floculao de suas partculas e, consequentemente, alteraes nas suas propriedades geotcnicas, as quais, de acordo com Valenciano (1999) citado por Souza e Alves (2009), so as seguintes: aumento do limite de plasticidade e diminuio do limite de liquidez e do ndice de plasticidade; achatamento das curvas de compactao, com aumento do teor de umidade timo e diminuio do peso especifico aparente, alm de aumento da resistncia, durabilidade e estabilidade volumtrica. Ainda Cristelo (2001) recomenda a adio de um mnimo de 5% de cal, para solos arenosos, observando-se o aumento na resistncia da mistura de solo-cimento com a adio de cal variando de 5 a 10%.

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O teor timo de cimento a ser adicionado ao solo depende dos critrios tcnicos (resistncia, durabilidade) que se pretende alcanar, sendo que as propriedades fsicomecnicas (resistncia compresso, absoro de gua e durabilidade) do sistema solocimento compactado, est intimamente relacionada s condies de cura (umidade e temperatura) e compactao (PICCHI et al., 1990). Pode-se inferir em funo dos resultados encontrados que h necessidade de ensaios para definir-se a composio mais adequada da mistura utilizada para a produo dos tijolos de solo-cimento em Ipaba, MG. A ABCP recomenda um mximo de 10% de cimento na composio volumtrica daquele tipo de tijolo e um mnimo de 3,5%, enquanto que para a cal recomenda um mnimo de 5%. Verificou-se in loco que o fabricante trabalhava com 12,5% de cimento e 12,5% de cal. Sugeriu-se a adequao imediata quanto ao teor de cimento. Alm disso, constatou-se que o solo utilizado do tipo argiloso o que favorece segundo Pissato e Soares (2006) a elevao de finos de pedreira para otimizar a resistncia compresso. Outro fator relevante para a baixa resistncia mecnica apresentada pelos tijolos, seria o fato da prensa hidrulica utilizada pelo fabricante, ter empregado uma fora de prensagem de apenas 35% de sua capacidade, equivalente a 7 (sete) toneladas, sendo que a sua capacidade nominal correspondia a 20 (vinte) toneladas. Este fato implicava em ineficincia na compactao da mistura, que dependia no s das reaes de aglomerao desempenhadas pelo cimento e cal, mas tambm da fora aplicada na moldagem dos tijolos, correspondente a compactao mecnica, logo, necessrio que haja um programa de manuteno que possibilite o retorno da prensa as suas condies originais. Alm disso, destacou-se a importncia da implementao de ensaios visando definir a composio que melhor ir atender aos parmetros tcnicos e para fins de controle de qualidade atendendo a periodicidade estabelecida em legislao. Incluindo-se neste caso, o ensaio de absoro de gua, fundamental para se garantir a estabilidade da obra. Entende-se a relevncia da empresa para a regio, j que alm da economia ambiental promove a reinsero de inmeros detentos no convvio social e ambiente laboral, contribuindo para o bem estar pblico na regio do Colar Metropolitano do Vale do Ao (CMVA), MG.

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CONSIDERAES FINAIS Os resultados dos ensaios preliminares indicaram que os tijolos ecolgicos no

atendiam aos requisitos de qualidade descritos na NBR 8491/1984. As dimenses dos tijolos no correspondiam quelas estabelecidos em norma tcnica. No entanto, em funo da falta de padro de operao encontrado na realidade nacional, foram equivalentes s dimenses praticadas por outras empresas do mesmo segmento econmico. O tijolo solo-cimento tambm apresentou resistncia compresso inferior ao estabelecido em norma tcnica. Neste contexto, sugeriu-se avaliao quanto sua composio. Segundo diversos pesquisadores, pode-se, equacionar os teores de solo, cimento, finos de pedreira e cal. Observa-se no trao utilizado que no houve uma reduo no teor de cimento, uma vez que a ABCP recomenda a adio de no mximo 10% de cimento nas misturas de solocimento, e foi empregado aproximadamente 12,5%. Este fato eleva o custo da mistura e de acordo com Pissato e Soares (2006) desnecessrio, uma vez que a adio de p de pedra leva a uma reduo no teor de cimento utilizado, no havendo prejuzo para a resistncia do tijolo. Assim recomenda-se a elevao do teor de p de pedra, no caso de solos argilosos, uma vez que este material caracteriza-se como fator preponderante na elevao da resistncia mecnica dos tijolos. Alm disto, a fim de otimizar o custo de produo, entende-se que se deve diminuir o teor de cimento e de cal empregado na mistura, no desprezando os limites mnimos recomendados que so de 3,5% e 5%, respectivamente. A demanda por produtos sustentveis cresce constantemente, seja por presso da sociedade, que cada vez mais se torna mais consciente, seja por exigncias da legislao ou pela necessidade de inovaes que possam solucionar os problemas relacionados escassez de recursos. A utilizao de tijolos ecolgicos refora este conceito, no entanto, h a necessidade de controles de qualidade que possam garantir a confiabilidade destes produtos, assim devem ser observadas medidas rigorosas na especificao, normalizao e utilizao daqueles materiais, oportunizando as mais diversas utilizaes na construo civil com a segurana necessria para a populao.

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