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Diário Reflexivo Caio

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARABA CENTRO DE CINCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE LETRAS ESTRANGEIRAS MODERNAS ESTGIO SUPERVISIONADO I - PROFA.

MARIANA PREZ CAIO ANTNIO DE MEDEIROS NBREGA - 11116669

DIRIO REFLEXIVO

Quando me foi pedido, no incio da disciplina de Estgio Supervisionado I, para escrever um dirio reflexivo, admito que isso me causou um pouco de estranhamento. Para falar a verdade, eu estava extremamente chateado por ter que cursar essa disciplina e j estava com uma predisposio a desgostar das tarefas que me fossem passadas. Talvez aqui seja necessria uma pequena apresentao. Esse que escrevo, eu, Caio, sou aluno do quarto perodo do curso de Licenciatura em Lngua Inglesa da Universidade Federal da Paraba. Esse curso no foi minha primeira escolha. Antes dele, me obriguei a cursar dois perodos de Direito, na mesma Universidade; no consegui suportar a tortura muito mais que isso. Vim para o curso de Letras por gostar do que ele prope, de entrar em contato com as letras, com as literaturas. Ao menos era isso que eu tinha em mente quando fiz o Vestibular. No cheguei a ler o Plano Poltico Pedaggico (que descobri existir exatamente na disciplina de Estgio I!) e entrei sem saber o que me esperava exatamente. Enorme foi minha surpresa, pois, ao pegar o quadro com todas as disciplinas e ver que teria que passar por 7 (SETE!) Estgios Supervisionados! Para mim, Estgio seria sinnimo de tdio, de aborrecimento. No poderia haver nada menos interessante do que observar um professor, observar a sua aula. E eu me perguntava para que exatamente sete disciplinas de observao. Mas isso foi no primeiro perodo. C estou agora no finalzinho do quarto perodo, j tendo quase concludo a primeira disciplina de Estgio Supervisionado. Admito que minha viso sobre a disciplina e sobre meu lugar como professor mudou e oscilou bastante ao longo do perodo. Isso se deve muito a esta disciplina em questo, mas tambm a uma srie de "felizes

coincidncias" que me fizeram refletir, pensar, problematizar minhas escolhas e minhas formas de ver meu lugar como docente. Vim para a disciplina primeira de Estgio sem saber exatamente o que eu poderia esperar dela. Descobri, logo em seguida, que ns, alunos, seramos mergulhados no mundo das Leis e Diretrizes e Bases e Polticas e Currculos e etc. que regem a Educao do Ensino Fundamental, mais precisamente no que tange ao Ensino de Lngua Estrangeira. Sendo um aluno que tinha recentemente abandonado o curso de Direito, ter que entrar em contato com os textos legais pareceu-me pior do que ter que ir escola observar incontveis aulas de um professor. Nesse primeiro momento da disciplina, em que o contato com os textos legais e artigos acadmicos (que de certa forma dialogam com os primeiros) foi privilegiado, eu talvez no tenha dado a importncia que, agora,

posteriormente, eu vejo que ele tem. Talvez exatamente por isso, esse dirio reflexivo fique um pouco a desejar, no que diz respeito a referncias precisas a passagens e tpicos presentes nas leis. Fato , porm, que minha viso sobre a disciplina e sobre meu papel como professor mudou substancialmente. Falei, acima, sobre "felizes coincidncias" que, juntamente, com Estgio I, fizeram-me repensar sobre tais coisas. Talvez a mais feliz das coincidncias tenha sido a minha entrada como estagirio/professor no PRODELE (Programa Departamental de Extenso em Lnguas Estrangeiras). Nunca tinha tido antes a experincia de ensinar, de ser professor. Entrar em sala de aula e experimentar tudo na pele me fez perceber que tudo aquilo que eu escutava nas minhas disciplinas ligadas rea de educao agora comeava a fazer sentido. Talvez o fato de eu ter sido designado a duas turmas de ingls bsico, com alunos ainda iniciantes no idioma, tenha sido to importante quando o fato de eu ter entrado em sala de aula. Por ser um nvel bsico, pude fazer algumas conexes com o que ocorreria em uma sala de Ensino Fundamental da rede pblica, guardadas as devidas propores. A tutoria, tambm, est sendo de extrema importncia. Ser tutorado e aconselhado por um professor universitrio me fez abrir os olhos para o fato de quo relevante pode ser a simples observao de uma aula. Alm do PRODELE, nesse semestre pude apreender contedos nas disciplinas de Poltica Educacional, Ingls Intermedirio I e Teorias da

Lingustica II, contedos esses que me fizeram contrastar e refletir sobre o que eu estava vendo em Estgio I. Dito tudo isto, escolhi alguns pontos que mais me chamaram a ateno para desenvolver, sempre tentando problematizar, refletir em cima dos textos lidos na disciplina e no que isso vem me afetar enquanto professor de lngua estrangeira.

- Por que Lngua Estrangeira no Ensino Fundamental?

Essa pergunta para mim estranhssima. A resposta "porque sim" j estaria mais do que satisfatria. E algum, por acaso, poderia duvidar da importncia da lngua estrangeira e da necessidade de sua participao no currculo do Ensino Fundamental? Aparentemente, sim. Antes de 1996, pois, a presena da disciplina de lngua estrangeira no era obrigatria. Ela s recebeu esse status de obrigatoriedade (na verdade, voltar a receb-lo) a partir da publicao da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), no ano j referido. Essa obrigatoriedade levou uma corrida para a capacitao de professores aptos a ensinar nas escolas. Talvez essa pressa tenha sido inimiga da perfeio, com o perdo pelo uso do ditado popular. muito comum, pois, ouvirmos o quo ineficiente o sistema pblico escolar, em especial sobre o insucesso das disciplinas de lngua estrangeira. Busca-se, em panoramas desfavorveis, solues, mas tambm a razo de ser, os culpados. O "texto dos bodes", pois, foi de grande auxlio se pensarmos essa questo da qualidade do ensino de lngua estrangeira, somada uma tentativa de atribuio de culpas. Segundo o texto, poderamos atribuir a culpa a trs esferas distintas: ao Governo, por sua falta de investimentos e de uma poltica mais consistente, aos alunos, por sua falta de interesse e comprometimento, e aos professores, por falta de preparo e comprometimento. No to simples assim, porm, essa questo. S atribuir culpa no vai resolver os problemas da educao. Para que o ensino de lngua estrangeira possa realmente sofrer uma mudana significativa, essas trs esferas devem estar engajadas na mudana. No adiantaria, pois, que os alunos e os professores estivesses dispostos, se o Governo no os fornecer um mnimo de estrutura e solidez para que o

aprendizado se desenvolva. Da mesma forma, muitas vezes, o desinteresse parte do alunado, o que requer uma outra viso sobre o tema, outras estratgias que devem ser pensadas sobre o que/como fazer.

- Por que a dificuldade de se aprender uma lngua estrangeira na escola?

Tenho um tio e um sobrinho que moram na Alemanha. Escutando seus relatos, e conversando com amigos desse meu tio, descobri que na Alemanha, os estudantes escolhem estudar duas lnguas estrangeiras. Interessante notar que eles realmente aprendem essas lnguas, ao menos em sua grande maioria. O amigo do meu tio, nascido na Alemanha, mas que falava alm do alemo tambm o dinamarqus, por ser sua me dinamarquesa, ao terminar seu ensino mdio, j falava tambm francs e ingls, as duas lnguas que ele escolheu estudar. Esse amigo do meu tio, Thorsten, veio ao Brasil quando eu tinha por volta de dez anos. No havia comeado a estudar ingls ainda em cursinho de idioma, estudava apenas na escola, ento ns conversvamos em portugus, apesar de o dele ser bastante rudimentar. Ele perguntou qual lngua eu estudava na escola; quando eu falei que era ingls, e que o estudvamos por volta de sete anos, mas que no aprendamos a falar de fato a lngua, ele se assustou. Nunca esqueci essa conversa, apesar de j terem se passado mais de dez anos. De fato, eu no aprendi ingls na escola. Tive que entrar em um curso de idiomas particular. Isso tudo faz com que eu me questione: por que a dificuldade de se aprender uma lngua estrangeira na escola? De uma forma mais geral, pode parecer presuno querer achar o "bode", atribuir culpa. Sob a tica da minha experincia, porm, afirmo que havia um misto de despreparo e falta de comprometimento por parte dos professores, alm de desinteresse, por minha parte. Qual a justificativa para se manter uma disciplina, ento, que se mostrou to ineficaz nos ltimos tempos? A no-retirada das disciplinas de lngua estrangeira dos currculos das escolas pblicas me parece ser algo benfico. No s porque algo no vai bem que deve ser extirpado. Alm do mais, seria cruel com os alunos da rede pblica priv-los da oportunidade de ter contato

com outra lngua, outra forma de pensar, outra cultura. Estamos na era da internet, da comunicao. As portas esto se abrindo, mesmo que a passos lentos. Talvez o ensino de lngua no tenha chegado ao patamar desejado, mas acabar com ele parece uma ideia terrvel.

- O que, ento, eu, como futuro professor de lngua estrangeira posso tentar fazer de diferente para mudar esse panorama? - A questo do TEXTO

Antes de comear a cursar essa disciplina de Estgio Supervisionado I, admito que nunca tinha pensado antes sobre meu papel como professor. Aps refletir bastante ao longo do perodo, vejo que o papel que um professor de lngua estrangeira desempenha na vida de seus alunos pode ser crucial para seu desenvolvimento, quer seja esse desenvolvimento de ordem intelectual, cultural, ou como pessoa. Com relao ao Ensino Fundamental, acredito que a responsabilidade que o professor carrega com si ainda maior que a responsabilidade de um professor do Ensino Mdio. Aquele, no Fundamental, , talvez, o primeiro contato dos alunos com a lngua estrangeira, pode ser o momento em que eles desenvolvero empatia ou antipatia para com a lngua, o que pode ser crucial para o seu futuro desenvolvimento. Os textos legais, ao firmarem a obrigatoriedade da lngua estrangeira a partir da ento quinta srie, pensaram em quais seriam os objetivos desta matria, o que esta deveria buscar nos alunos. O meu questionamento anterior, o de por que a dificuldade de se aprender uma lngua na escola, parece, enfim, ter achado uma razo. Os textos legais colocam como objetivo da lngua estrangeira, desenvolver as capacidades de leitura nos estudantes. Como parece improvvel que ele v sair do pas, ou ter um contato mais profundo com estrangeiros, parece razovel colocar como meta que o aluno desenvolva a habilidade de leitura. Se o trabalho em sala de aula deve ser focado na habilidade de leitura, o processo de ensino e aprendizagem ser pautado pela presena de textos. So, porm, quatro habilidades lingusticas bsicas que devem (ou ao menos deveriam) ser trabalhadas no ensino de uma lngua estrangeira: a leitura (j

mencionada), a escrita, a fala e a audio. Trabalhar somente a leitura, porm, excluir a possibilidade de desenvolvimento essas outras habilidades? No necessariamente, mas parece ser o caso, dada a ineficcia do ensino de lngua estrangeira no momento atual. O importante saber qual concepo de texto e de leitura o professor tem e trabalhar em sala de aula. Texto muito mais do que somente um amontoado de palavras escritas. Texto toda forma comunicao com base em signos. Esse signos no precisam ser necessariamente os lingusticos. Uma escultura, por exemplo, uma pintura, um retrato, uma orao, so todos exemplos de texto. O texto basicamente o que as pessoas tm a dizer umas s outras. Segundo Hans (2009), deve ser trabalhada no aluno a competncia textual, que, de forma simples quer dizer a competncia do aluno em desenvolver uma anlise, uma interpretao do texto em mos. Ainda segundo o autor, essa competncia consiste da capacidade de: determinar a funo de um texto, caracterizar a forma comunicativa, especificar o domnio de interao, reconhecer as restries temticas, entre outras coisas. Trabalhar um texto, nesse sentido, muito mais do que simplesmente um trabalho de traduo, de entendimento simples e ralo. O aluno deve se questionar em que contexto aquele texto foi produzido, com que propsito, que situao comunicativa baseada na vida real, concreta, ele representa. Essa discusso sobre situao, contexto, bastante importante e pertinente na discusso sobre textos. Um texto deve representar uma situao da vida real, da vida concreta, para que, alm de dar ao aluno a possibilidade de desenvolver-se linguisticamente, fornea-o tambm exemplos de como a comunicao se daria em determinada situao, em determinado momento, em determinado contexto. Talvez a informao sobre como falar, sobre como se portar, seja to importante quanto o falar em si. por isso que o ideal que sejam trabalhados textos reais, retirados de alguma fonte existente, em detrimento de textos "inventados" somente com propsitos didticos. Essa prtica, especialmente se realizada pensando-se em um texto que faa parte do convvio do aluno, faz com que o ensino de uma lngua estrangeira possa ser trazido para as vivncias do aluno, vindo este ensino de encontro s necessidades daquele.

Alm disso, importante perceber que o texto deve ser trabalhado como texto, no simplesmente se adequar ao tpico gramatical. O texto muito mais que somente uma porta de entrada para um tpico de gramtica. O texto a porta de entrada de novos mundos, novas formas de pensar, novas formas de agir; , sobretudo, um caminho para o desenvolvimento intelecto-cultural dos alunos.

- Minha experincia enquanto professor-observador-aluno: as micro-aulas

Um dos momentos mais importantes da disciplina foi o tempo dedicado s micro-aulas, em que pudemos tentar colocar em prtica tudo o que aprendemos com a leitura dos artigos e textos legais e com as discusses realizadas em sala de aula. No s isso, foi o espao dedicado reflexo de nosso papel enquanto professores. A preparao da aula, assim como do plano e dos exerccios, em nossa equipe, for realizada em grupo. Discutimos bastante todo o processo. Cada um dos trs ajudou de forma significativa na construo de nossa aula. Alm disso, as reunies com a profa. Mariana ajudaram sobremaneira; prova disso o fato de termos repensado nossa aula e, consequentemente, nosso plano de aula, trs ou quatro vezes, at que chegamos a uma ideia definitiva. importante lembrar, porm, que nossa aula foi longe de ser perfeita. Se fssemos d-la hoje, tenho certeza que a melhoraramos em muitos aspectos. Aula perfeita no existe; o que existe uma aula bem preparada que, por mais que tenha sido pensada ou repensada, pode sempre ter algo a melhorar, ou ao menos ser feito de uma forma diferente. Algo que poderamos ter feito de diferente em nossa sala de aula seria trabalhar um texto autntico. Apesar de o tema ter sido atual (househusbands) e que provavelmente despertaria o interesse nos alunos, o texto foi claramente feito com inteno para se ensinar o tpico gramatical. Nosso entrosamento, nossa transio, poderia ter sido tambm melhor trabalhada. Mudar bruscamente de uma atividade para outra talvez no seja proveitoso, uma vez que d a impresso de que a aula fica truncada, quebrada. Aproveitar elementos do que j foi falado durante a aula, bem como das

informaes que os alunos oferecem quando perguntados faz com que a aula seja mais fluida e mais atraente para esses. Creio, porm, que conseguimos trabalhar o texto para alm do texto. O tpico gramatical estava presente em nossa aula, mas o tema, househusbands, foi o que guiou todo o desenvolvimento dessa. Alm das atividades de prleitura, leitura e ps-leitura, nossos exerccios de mmica e gramaticais estavam conectados com o tema. A experincia das micro-aulas como um todo foi bastante proveitosa, devo dizer. No s a aula de minha equipe serviu para mim como aprimoramento pessoal como futuro professor. Assistir s aulas dos colegas, dar nossas impresses, assim como ouvir suas impresses sobre nossa aula foi bastante significativo. S senti falta de uma discusso com toda a sala no momento de feitura dos planos de aula. Creio que um compartilhamento dos planos teria sido bastante proveitoso.

- Concluso: entrevista com a professora Vernica

Uma pergunta, porm, durante todo esse tempo, no sai de minha cabea: possvel um aluno aprender uma lngua estrangeira na escola pblica? Realmente aprender, eu digo. Ser ele capaz de exercitar, em um nvel intermedirio/avanado, as quatro habilidades lingusticas bsicas, no s a leitura? Gostaria muito de ter feito essa pergunta professora Vernica, mas por algum motivo me abstive no momento. Preferi no faz-la, porm, por achar que talvez essa resposta eu deva buscar sozinho, a partir de minha prtica como professor. Se infelizmente a resposta para essa pergunta for "no, nenhum estudante vai conseguir aprender a falar uma lngua s na escola", terei ao menos alguma base sobre como agir e como poderei tentar reverter esse quadro. O que acontece na escola todos ns j sabemos. Creio que cursamos as disciplinas de estgio para aprender a fazer diferente, para aprender a fazer a diferena. Chamo esse meu quarto perodo de "quarto dos cus" (em aluso a "quinto dos infernos"), e creio que o epicentro de toda a mudana, de toda a

reflexo, foi exatamente a disciplina de Estgio Supervisionado I. Estou ansioso pelas prximas seis.

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