Manual Tecnico Do Formador Gestao Da Qualidade
Manual Tecnico Do Formador Gestao Da Qualidade
Manual Tecnico Do Formador Gestao Da Qualidade
Propriedade Ttulo Coordenao Tcnico-Pedaggica Direco Editorial Coordenao do Projecto Autor Capa Arranjo Grfico Pr-Impresso, Impresso e Acabamento Tiragem Depsito Legal ISBN Edio
Nufec Ncleo de Formao, Estudos e Consultoria Qualidade Manual Tcnico do Formador Nufec Ncleo de Formao, Estudos e Consultoria Departamento de Recursos Didcticos Nufec Ncleo de Formao, Estudos e Consultoria Departamento de Formao Nufec Ncleo de Formao, Estudos e Consultoria Paulo Pinto / Sandra Ribeiro NUFEC NUFEC Solues Apriori, Lda
Nenhuma parte desta publicao pode ser reproduzida ou transmitida, por qualquer forma ou processo, sem o consentimento prvio, por escrito, da NUFEC. Produo apoiada pelo Programa Operacional do Emprego e Formao para o Desenvolvimento Social, co-financiado pelo Estado Portugus e pela Unio Europeia, atravs do Fundo Social Europeu
ndice
FERRAMENTAS DA QUALIDADE......................................................................... 83
Introduo ........................................................................................................................................ 84 Objectivos ......................................................................................................................................... 84 Avaliao .......................................................................................................................................... 84 Bibliografia ....................................................................................................................................... 84 4.1 Registos..............................................................................................................................87 4.2 Brainstorming ....................................................................................................................88 4.3 Histogramas .......................................................................................................................89 4.4 Fluxogramas ......................................................................................................................95 4.5 Folhas de Verificao........................................................................................................98 4.6 Diagramas de Disperso................................................................................................ 101 4.7 Diagrama de Pareto ........................................................................................................ 105 4.8 Diagramas Causa-Efeito ................................................................................................ 108 4.9 Cartas de Controlo ......................................................................................................... 109
Objectivos
O formando deve: Conhecer algumas definies e principais conceitos associados temtica da Qualidade; Conhecer a evoluo do conceito Qualidade ao longo da sua histria; Identificar a Gesto da Qualidade como uma das funes estruturais das empresas, Conhecer as razes para a Certificao dos Sistemas de Gesto da Qualidade, os seus objectivos e consequncias para a empresa; Conhecer o sistema Portugus da Qualidade e os seus trs subsistemas e qual o alcance destes na sociedade portuguesa; Conhecer alguns dos gurus da qualidade.
Avaliao
A avaliao composta por duas fases: A primeira fase de avaliao contnua em que o formando vai sendo avaliado pela realizao de exerccios e/ou simulao de casos prticos; A segunda fase de avaliao consiste na realizao de um teste com a durao de duas horas.
Bibliografia
Antnio Ramos Pires, Qualidade - Sistemas de Gesto da Qualidade, Edies Slabo, Coleco Gesto Vrios, Manual Prtico para a Certificao e Gesto da Qualidade com Base nas Normas ISO 9000:2000, Verlag Dashfer, Edies Profissionais. Vincent Laboucheix, Vrios, Tratado da Qualidade Total, Rs Editora Valrio Beato, Qualidade com fanatismo, Rs Editora Manual e apontamentos de curso de formao Quality Professional , TV, 2002 Manual e apontamentos de curso de formao Especializao em Sistemas de Gesto da Qualidade , Cmara de Comrcio Italiana para Portugal, 2002
Comece por perguntar turma, individualmente, o que cada um deles entende por Qualidade. Num quadro ou num flip-chart aponte as definies que forem sendo dadas. De seguida abra um debate sobre as diversas definies apostas e actue como moderador. O debate no dever exceder os 15 minutos.
No fim, depois de encerrado o debate, apresente as definies de Qualidade apresentadas abaixo, neste texto, ou outras alternativas a estas.
Sempre que a pergunta o que Qualidade? as respostas podem ser to variadas quanto o nmero de pessoas a quem dirigirmos a questo. Algumas das definies mais comuns andam volta destas que se seguem: Qualidade fazer bem primeira ou Qualidade produzir sem defeitos ou ainda Qualidade no ter reclamaes.
Estas definies so verdadeiras. Contudo esto muito ligadas produo, ao meio industrial. O movimento de busca da qualidade comeou realmente na produo mas actualmente muito mais abrangente: a qualidade deve-se procurar em todas as fases do processo de satisfao do cliente. Nesta frase est o princpio bsico da qualidade: a satisfao do cliente.
Uma definio da qualidade mais de acordo com este princpio : Qualidade de um produto ou servio a sua aptido para satisfazer as necessidades dos utilizadores.
Ou seja, um produto ou servio tem qualidade se puder ser usado para os fins para que foi concebido se tiver aptido ao uso.
Outra definio de qualidade : Totalidade das caractersticas de um produto ou servio que determinam a sua capacidade para satisfazer uma necessidade.
Segundo esta definio, contribuem para a qualidade de um produto ou servio todas as caractersticas que o tornam capaz de satisfazer uma dada necessidade e s essas.
Gesto da Qualidade Manual Tcnico do Formador Vejamos agora algumas das definies de qualidade enunciadas por alguns dos gurus da qualidade: Aptido ao uso Dr. Juran Conformidade com os requisitos Dr. P.B. Crosby A totalidade de caractersticas do produto ou servio em marketing, engenharia, produo e manuteno, atravs do qual o produto e o servio usados iro de encontro s expectativas do consumidor Dr. A.V. Feigenbaum
Um produto no conforme aquele que no tem as caractersticas exigidas. Quando um destes produtos entregue ao cliente, provoca uma quantidade de prejuzos e incmodos: Prejuzos "morais" provocados aos utilizadores. Quando uma pessoa compra um produto ou um servio, ela espera que este funcione de acordo com as suas expectativas e requisitos. Se tal no acontecer, ficar decepcionado, o que poder ser muito grave para um produtor j que o cliente pode tornar pblica a sua insatisfao; Danos fsicos provocados aos utilizadores. Podem ser muito graves, como, por exemplo, um defeito na proteco elctrica de uma mquina pode originar uma electrocusso. Prejuzos financeiros para o produtor devido ao montante necessrio para a reparao dos danos causados aos utilizadores e tambm: Na reparao dos defeitos. Nos gastos com o retorno do produto ao utilizador ou substituio do produto. Com perdas de tempo: Dos utilizadores tempo gasto na devoluo aos pontos de compra; Dos distribuidores tempo gasto nas devolues aos fabricantes; Dos fabricantes tempo gasto na recolha dos produtos defeituosos. Prejuzos na imagem do fabricante. Recomendao:
Dar como exemplo as recolhas de automveis realizadas pelas marcas para reparao de defeitos de fabrico ou potenciais de avaria nos seus modelos j colocados no mercado, de forma a reforar este conceito. Todo o dinheiro gasto e todo o esforo empregue neste processo poderia servir para obter novos produtos e gerar mais dinheiro para todos: impostos, lucros, prmios, etc.
O empresrio tem que encarar a qualidade como um problema comercial e no como um problema tcnico: se a empresa no conseguir satisfazer as necessidades dos utilizadores no sobreviver.
Os requisitos do utilizador implicam assegurar determinadas caractersticas dos produtos por parte dos fabricantes. A qualidade de um dado produto tanto melhor ou pior conforme quanto a capacidade deste corresponder em maior ou menor grau aos requisitos do utilizador, isto : Qualidade a correspondncia entre as caractersticas dos produtos e os requisitos dos utilizadores.
Assim, fabricar produtos com tecnologia avanada ou de grande durabilidade no significa fabricar produtos de qualidade. Por exemplo, entre um grande automvel de luxo alemo e um pequeno utilitrio coreano, qual o que tem qualidade?
Actividade:
Procure exemplificar este ponto comparando duas verses ou modelos distintos de um mesmo tipo de produto, sendo que um bom exemplo utilizar a comparao a comparao descrita atrs, entre um automvel utilitrio coreano e uma grande berlina de luxo alem, dada a familiaridade e apetncia que os automveis tm junto das pessoas.
Pergunte aos formandos qual dos dois modelos apresentados tem mais qualidade e pea para justificar as respostas dadas.
A resposta s pode ser dada depois de conhecermos os requisitos do cliente. Se os requisitos forem capacidade para quatro pessoas, baixo preo e custos de utilizao e manuteno baixos, o utilitrio coreano o que tem qualidade. Inversamente, se os requisitos forem performances elevadas, um grande nvel de conforto e os custos no forem importantes, o automvel de luxo que tem qualidade.
Assim, a nica resposta que possvel dar pergunta "qual o que tem qualidade?" "depende". Depende dos requisitos, obviamente. Agora estamos em condies de olhar para mais uma definio de qualidade:
Qualidade o conjunto de caractersticas de uma entidade que lhe permitem satisfazer necessidades explcitas e implcitas.
Fala-se de "entidade" e no de "produto" porque os servios tambm devem ter qualidade. As necessidades explcitas so aquelas que os clientes revelam. J as necessidades implcitas so aquelas que esto subjacentes. Exemplificando: O que procura quando pede um ch numa confeitaria? O ch uma necessidade explcita; a chvena por onde quer beber uma necessidade implcita. Isto leva-nos a outra definio de qualidade dada pela norma ISO 9000:2000: Qualidade: grau de satisfao de requisitos dado por um conjunto de caractersticas intrnsecas.
A qualidade deve ser vista na ptica do cliente aquilo que o cliente espera obter do produto (incluindo o preo, ateno!). S assim que o cliente vai ficar satisfeito.
O primeiro passo para assegurar a qualidade ento conhecer bem os requisitos dos clientes. Esta uma funo normalmente desempenhada pelos departamentos de marketing ou os seus equivalentes: contactar os clientes para conhecer as suas necessidades e expectativas.
Marketing no s publicidade e muito menos vendas: quando, por exemplo, um tcnico de uma empresa contacta com um cliente para saber o que ele pretende, est a determinar as suas necessidades, ou seja, est a fazer marketing.
A fase seguinte a do projecto tcnico. O projecto tcnico procura traduzir a linguagem dos clientes para linguagem tcnica: desenhos, mtodos de trabalho, etc. Os requisitos do cliente so, assim, transformados em caractersticas de produtos.
Como j foi visto, a qualidade medida pela correspondncia entre os requisitos dos clientes e as caractersticas dos produtos/servios. Isto implica que, para se obter qualidade, esta operao de traduo da linguagem dos clientes para a linguagem tcnica tem que ser rigorosa.
A seguir temos a produo, que deve ser feita rigorosamente de acordo com o projecto:
Quando algo corre mal (avarias) ou em intervenes de rotina (revises) necessrio causar o mnimo de incmodos ao utilizador a assistncia ps-venda tem que estar altura. Por exemplo, um fabricante de mquinas tem de dar assistncia nas instalaes dos clientes: impensvel pedir ao cliente que leve as mquinas fbrica ou a uma oficina.
Se todas estas etapas forem bem realizadas e houver uma correcta transmisso de informao entre fases, possvel satisfazer as expectativas do cliente. Se falhar a execuo das vrias tarefas e / ou a comunicao entre as pessoas poderemos obter uma situao como a seguinte:
Tomemos como exemplo um aquecedor. A caracterstica funcional de um aquecedor fornecer calor isso que interessa ao utilizador. Ser elctrico ou a gs, uma caracterstica tcnica a forma que se encontrou de produzir calor.
Actividade:
Forme grupos de dois ou trs formandos. Para um dos grupos assim formados indique um determinado produto e pea-lhes para, em cerca de 10 minutos, escreverem num papel as suas principais caractersticas funcionais e principais caractersticas tcnicas.
No fim do tempo previsto, cada grupo dever apresentar os resultados aos restantes colegas da turma e debater as concluses apresentadas.
Alguns exemplos de produtos: # # # # Aparelho de ar condicionado Computador pessoal Telemvel Aparelho de alta-fidelidade
Por vezes, uma caracterstica tcnica pode passar a funcional. Se o cliente quiser um aquecedor a gs, as caractersticas funcionais passam a ser fornecer calor e funcionar a gs. As caractersticas tcnicas so, entre outras, o tipo de queimador, o peso, as dimenses, os materiais.
Para verificar se um produto cumpre os requisitos, verificamos as suas caractersticas. Estas podem muito subjectivas: como poderemos medir o sabor de um alimento ou de uma bebida?
Mesmo neste caso de uma caracterstica to subjectiva como o sabor, necessrio arranjar uma forma de saber se este est de acordo com as expectativas do consumidor. Normalmente, atravs da realizao estudos de mercado e por comparao com produtos da concorrncia.
necessrio ter em conta que as caractersticas no tm sempre o mesmo valor. Ao medir uma determinada caracterstica em vrios produtos similares, mesmo que feitos em srie, verifica-se que existe uma variao nos valores por isso que os desenhos tcnicos tm tolerncias.
J os consumidores no tm, regra geral, acesso a normas e especificaes tcnicas. Os projectos, especificaes e demais informaes relevantes, da maioria dos produtos, especialmente os altamente tecnolgicos, so reservados, constituindo aquilo a que se chama o segredo industrial. Assim os consumidores, que deveriam ser os principais interessados nessa informao, vm-se na impossibilidade de a conhecer. Mas a verdade que a grande maioria dos consumidores no possui o conhecimento necessrio para as entender, ou ento no esto interessados em saber esta informao. Isto especialmente verdade nos chamados produtos de grande consumo, especialmente o grande mercado da chamada electrnica de consumo. Assim, sem poder avaliar a qualidade segundo as especificaes tcnicas, os consumidores avaliam os produtos de forma subjectiva podendo cometer erros de avaliao.
Actividade:
Um claro exemplo desta possibilidade de erro de avaliao dada pelo seguinte caso: uma fbrica de perfumes lanou um novo perfume. A essncia era obtida das razes de determinadas plantas, cultivadas num solo controlado em estufas com humidade e temperatura adequadas. O processo industrial e os controlos da qualidade utilizavam equipamentos avanados e estavam de acordo com as normas internacionais mais rgidas. Do ponto de vista do produtor, o perfume respeitava os requisitos.
Porm os consumidores no avaliam o produto de acordo com o conhecimento desses requisitos ou dos equipamentos e processo industriais. Um lote deste perfume foi recusado porque um defeito na mquina de colar rtulos deixou o rtulo descentrado e com um excesso de cola vista. A reaco observada nos consumidores foi "se nem conseguem colar o rtulo direito, o perfume no deve ser bom...".
Para eliminar, ou diminuir significativamente, as diferenas entre os dois modos de percepo da qualidade, necessrio recorrer comunicao. Deve ser comunicado ao cliente o mximo possvel de informao sobre um determinado produto para que ele possa basear a sua apreciao em critrios objectivos e no subjectivos.
Esta comunicao pode ter vrias formas: uma delas a apresentao do produto. No caso dos perfumes, a m apresentao comunicou uma m imagem do produto. Isto especialmente verdade no caso do mercado de grande consumo.
Outra a informao que fornecida ao vendedor e que posteriormente por si transmitida ao cliente. Quanto mais informado estiver o vendedor, sobre um dado produto e sobres os seus concorrentes, melhor pode informar o comprador. Isto tem como efeito diminuir assim a subjectividade da opinio dos clientes e aumentando as possibilidades de venda do produto. Esta forma de comunicao mais utilizada no mercado industrial e em grande parte no mercado automvel.
Para satisfazer as vrias partes interessadas, a qualidade dos produtos fundamental. S com a satisfao dos clientes possvel continuar a vender e a gerar o dinheiro necessrio para pagar aos empregados e dar-lhes a oportunidade de evoluir, comprar aos fornecedores, pagar os impostos, criar empregos, e para obter lucro. por esta razo que se diz que se colocam expectativas ao produto.
Actividade:
Necessidade e Expectativas Qualidade do produto Resultados dos investimentos Satisfao profissional Oportunidades de negcio Gesto responsvel
Qualidade Total no significa que o produto tenha muita qualidade alis, este conceito em sequer existe: sendo a qualidade a correspondncia entre os requisitos e as caractersticas, ou h qualidade ou no. No faz sentido dizer que um produto tem muita ou pouca qualidade mas apenas que tem ou no tem qualidade.
A Qualidade Total a viso global da produo, desde a determinao das necessidades at assistncia ps-venda, englobando todas as partes interessadas: Os clientes da organizao;
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Mas afinal, porqu esta preocupao com a qualidade? Noutros tempos no havia tanta preocupao com a qualidade por duas razes principais: Uma era a escassez de oferta: podia-se produzir sem qualidade que havia sempre algum que comprava. Outra era a escassez de informao: a informao no circulava facilmente e era possvel vender uma grande quantidade de produtos sem qualidade antes que a m fama destes os afastasse do mercado.
Actualmente, exceptuando alguns produtos e sectores muito restritos, a oferta muito grande e diversificada. Se um produtor no satisfaz as necessidades de um consumidor, h sempre um outro pronto a faz-lo.
Por outro lado, nunca como hoje a informao circulou to facilmente. Na era da Internet e do e-mail, uma notcia da falta de qualidade de um produto espalha-se rapidamente e ele deixa de vender.
a passagem da escassez para a abundncia que toma absolutamente necessrio produzir com qualidade. A outra alternativa sair do mercado.
Uma vez que a qualidade uma preocupao global da organizao, a nica resposta possvel a esta pergunta : Todos so responsveis pela qualidade.
O responsvel no apenas o patro ou o chefe ou o controlador da qualidade. No responsabilidades apenas do operrio, do contnuo ou mesmo do porteiro. A responsabilidade da qualidade de todos.
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Isto no quer dizer, contudo, que no exista nas organizaes um Departamento da Qualidade ou colaboradores com mais responsabilidades nesta funo do que os outros. Significa, isso sim, que a qualidade preocupao de todos.
No admissvel que as pessoas se limitem a cumprir as suas tarefas, de modo automtico, confiando que eventuais no conformidades vo ser detectadas pelos controladores da qualidade. As no conformidades devem ser detectadas o mais cedo possvel, pois desse modo ser menos custoso se torna para a organizao e menos hipteses ter de ser detectado quando for tarde demais.
Assim, uma boa definio de competitividade : Ser competitivo manter-se frente da concorrncia sem ferir os padres ticos institudos.
A qualidade uma arma para a guerra da competitividade. J vimos que actualmente quem no produz com qualidade sai do mercado - portanto a qualidade no o factor que vai diferenciar a nossa produo da dos concorrentes mas apenas a arma que nos vai manter na corrida. E respeita a tica haver algo mais tico do que dar aos consumidores exactamente o que eles querem?
A qualidade era assegurada pela vontade de cada um de fazer bem e de ser considerado bom ou "o melhor" na sua especialidade.
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Revoluo industrial A revoluo industrial teve incio com a inveno do tear mecnico. Mas s com a inveno da mquina a vapor que a organizao do trabalho se comeou verdadeiramente a diferenciar do modelo antigo com o aparecimento de teorias de gesto como o Taylorismo Alta produtividade atravs do trabalho em srie.
A gesto de trabalho, orientada para a quantidade fez com que o risco de aparecimento de defeitos aumentasse exponencialmente. Este modelo de organizao do trabalho permaneceu durante muitos anos. Durante a I Guerra Mundial, muitos produtos foram fornecidos fora de especificao. Isto motivou o aparecimento da primeira actividade da funo qualidade: a inspeco.
"Qualidade" e "conformidade" eram sinnimos. Os inspectores preocupavam-se apenas em verificar se o projecto era respeitado. Durante os anos que se seguiram, o controlo da qualidade, limitou-se funo de inspeco: era efectuada a verificao da conformidade do produto com as suas especificaes aps a concluso do seu ciclo de fabrico.
A Inspeco era uma operao de seleco que separava os produtos em dois grupos: aceites e rejeitados. Esta soluo protegia o utilizador contra a aquisio de produtos defeituosos, mas no contribua para a produo regular de produtos isentos de defeitos nem protegia o produtor dos custos elevados das rejeies, da reduo de produtividade e dos custos da prpria inspeco. Expresso-chave: INSPECO Objectivo: Deteco de defeitos Conceito chave: Produtividade Aco predominante: Reaco aos defeitos Mtodos e tcnicas: Superviso
II Guerra Mundial
A II Guerra proporcionou as condies para uma importante evoluo histrica na rea da qualidade. As empresas viviam graves problemas para produzir com qualidade. Embora os produtos fossem fornecidos de acordos com especificaes, o comportamento em servio no era fivel. Uma das causas era a falta de qualidade no projecto que levava a especificaes incompletas, uso de tecnologias ou materiais no provados...
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Chegou-se concluso, ento, estes dois aspectos se completam. No serve de nada fazer um ptimo projecto, que respeite todos os requisitos, se o produto fabricado no respeitar o projecto. Do mesmo modo, um produto fabricado segundo o projecto no ter qualidade se o projecto no respeitar os requisitos dos clientes. Passou-se ento a assegurar os dois aspectos da qualidade: A qualidade no projecto que o ajuste entre caractersticas do produto e requisitos exigidos; A qualidade da conformidade que o cumprimento rigoroso das especificaes do projecto.
A guerra favoreceu o desenvolvimento da gesto da qualidade. Milhares de engenheiros e tcnicos receberam formao acelerada em controlo estatstico da qualidade.
Os mtodos estatsticos foram aplicados fundamentalmente na produo em srie, assegurando o cumprimento das caractersticas que permitem a permuta de componentes num produto e evitando a execuo de defeitos. Expresso-chave: CONTROLO DE QUALIDADE Objectivo: Controlo da qualidade do produto final Conceito chave: Nvel de qualidade aceitvel Aco predominante: Aces correctivas Mtodos e tcnicas: Controlo estatstico, Padres, Metrologia
Anos 50 e 60:
Mais tarde, a Guerra da Coreia e o desenvolvimento da Aeronutica Espacial vieram contribuir para novo alargamento no conceito de Controlo da Qualidade, visando assegurar a segurana de funcionamento do produto no tempo, ou seja, a fiabilidade.
O reconhecimento da importncia do Controlo da Qualidade e o desenvolvimento das tcnicas destinadas a assegurar o projecto e execuo de produtos adequados ao uso conduziu ao Controlo Total da Qualidade. Este abrange todo o ciclo de vida do produto, desde o estudo do mercado, que d origem sua definio, at ao ps-venda, que d a conhecer o seu comportamento em uso e proporciona dados para a melhoria do produto e/ou a concepo de novos produtos. Importa agora falar do papel do Japo na evoluo da qualidade.
No fim da guerra, o Japo teve que vencer a m imagem dos seus produtos. Os industriais japoneses compreenderam que dependiam da exportao para sobreviver e que a qualidade seria um trunfo importante face concorrncia internacional.
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Foi constitudo um grupo de trabalho pela JUSE Japanese Union of Scientists and Engineers - com o intuito de estudar os mtodos de controlo estatstico da qualidade. Este grupo de trabalho organizou ciclos de conferncias e convidou peritos americanos. Em 1950, o Dr. Deming e, em 1954, o Dr. Juran.
Os directores e empresrios japoneses aderiram em massa s conferncias e seguiram os conselhos dados por estes especialistas.
At 1960, os esforos de promoo da qualidade da JUSE foram dirigidos apenas a engenheiros e tcnicos. Depois, foi publicada e largamente divulgada uma brochura dirigida aos mestres e operrios. Mais tarde foi lanado um jornal mensal com o mesmo esprito com artigos pedaggicos, o estudo de casos reais e informaes profissionais. Tem actualmente uma tiragem na ordem das centenas de milhar de exemplares.
Considerando que o papel do jornal era incitar os mestres e os operrios a estudar os mtodos e as tcnicas da qualidade, a comisso de redaco do jornal sugeriu aos leitores que formassem grupos para a leitura em comum. Esses grupos, designados por "crculos da qualidade", multiplicaram-se e organizaram-se a nvel nacional. Neles participam representantes de todas as especialidades e de todos os nveis hierrquicos.
Existem actualmente no Japo dezenas de milhares de crculos da qualidade com centenas de milhar de membros inscritos. Cada crculo rene-se, em mdia, duas vezes por ms. Este movimento conta com o apoio das direces das empresas, o que explica, em parte, o sucesso mundial alcanado pela indstria japonesa. A indstria automvel japonesa, em particular, adoptou os conceitos da Gesto pela Qualidade Total, tendo a Toyota sido a pioneira.
Nos Estados Unidos, foi cerca de 1960 que o Total Quality Control foi integrado no sistema de gesto industrial. Foram lanados programas de melhoria da qualidade para reduzir os custos, com nfase na preveno dos defeitos. Expresso chave: GARANTIA DA QUALIDADE Objectivo: Construo permanente da qualidade Conceitos chave: Fiabilidade; Confiana do cliente Aco predominante: Aces Preventivas Mtodos e tcnicas: Procedimentos organizacionais e tcnicos
Anos 80 em diante: S nos anos 80 a Total Quality Management, TQM, foi adoptada nos Estados Unidos e na Europa, originando uma verdadeira catadupa de declaraes de compromisso com a qualidade de gestores
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de topo, embora muitas delas no passassem das palavras. A Europa e os Estados Unidos s se viraram verdadeiramente para a qualidade nos anos 90.
Reconhece-se actualmente que toda as funes da empresa tm custos afectados pela "qualidade" do seu desempenho que devem ser calculados, analisados e reduzidos do mesmo modo que os dos sectores ligados produo.
Garantir e gerir a qualidade de todos os sectores de actividade da empresa, satisfazendo os clientes internos e externos, envolvendo todos os colaboradores conseguindo custos mnimos, so os objectivos da qualidade total.
S se consegue mais qualidade com menos custos quando cada um se toma responsvel por assegurar, sempre e da melhor forma possvel, a execuo do seu trabalho. Isto faz-nos regressar aos sculos anteriores industrializao: "a qualidade do produto executada e comprovada pelo seu executante". Expresso-chave: QUALIDADE TOTAL Objectivo: Gesto Global da Qualidade Conceito chave: Excelncia Aco predominante: Previso da satisfao das necessidades Mtodos e tcnicas: Formao, Indicadores, Motivao
A grande maioria das normas ISO so altamente especficas. Contm especificaes tcnicas ou outros critrios precisos e so utilizadas como regras, guias ou definies de caractersticas para assegurar que materiais, produtos, processos e servios so adequados para o fim a que se destinam. So exemplos as normas sobre parafusos, porcas, rebites e cavilhas.
Em 1987, a ISO editou as normas ISO 9000, seguidas, em 1996, das ISO 14000, que trouxeram a ISO para um plano mais prximo do grande pblico. Ambas so normas, ou melhor, famlias de normas, genricas de sistemas de gesto.
Estas normas podem ser aplicadas a qualquer organizao, qualquer que seja o seu tamanho, produto, sector de actividade e tipo (empresas privadas, administrao pblica, organizaes no lucrativas, etc.).
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Qualquer organizao pode implementar um sistema de gesto conforme as normas ISO e pedir o reconhecimento dessa conformidade. Esse reconhecimento a certificao. A certificao no feita pela ISO; a ISO no emite certificados. A responsabilidade pela emisso dos certificados dos organismos que representam a ISO em cada pas.
Normalmente, esses organismos tambm no fazem a certificao. A execuo de auditorias e a emisso de certificados delegada nas entidades certificadoras. O processo pelo qual o organismo reconhece que uma entidade competente para emitir certificados chama-se acreditao; o processo pelo qual a entidade acreditada reconhece que o sistema da qualidade est de acordo com os requisitos da norma ISO a certificao. Acreditao: o reconhecimento formal, por uma terceira parte autorizada, da competncia tcnica de uma entidade entidade de certificao, inspeco ou verificao, laboratrio de ensaio ou calibrao para a realizao de uma determinada actividade perfeitamente definida.
A acreditao o mecanismo que proporciona a confiana necessria nos certificados de qualidade, de calibrao, de verificao e nos relatrios de inspeco, de ensaio dos diferentes organismos. essencial para o correcto funcionamento do sistema da qualidade. Certificao: o processo pelo qual uma terceira parte garante que um determinado processo, produto ou servio est de acordo com requisitos especificados.
uma aco, levada a cabo por uma entidade, reconhecida como independente das partes interessadas, que garante que se dispe da certeza suficiente que um determinado processo, produto ou servio est conforme com uma norma ou outros requisitos especificados.
Na sequncia da normalizao, alguns termos utilizados no mbito da qualidade foram definidos internacionalmente e convm que conheamos o seu significado. Inspeco: um conjunto de actividades tais como medio, exame ou calibrao de uma ou mais caractersticas de um produto ou servio e sua comparao com requisitos especificados para determinar a sua conformidade. Ensaio a operao tcnica que consiste em determinar uma ou mais caractersticas de um dado produto, processo ou servio, segundo um modo operativo especificado.
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Gesto da Qualidade Manual Tcnico do Formador Controlo da qualidade: o conjunto das tcnicas e actividades de carcter operacional utilizadas com vista a responder s exigncias relativas a qualidade. Garantia da qualidade: um conjunto de aces programadas e sistemticas necessrias para proporcionar a confiana apropriada de que um produto ou servio satisfaz os requisitos definidos para a qualidade. Sistema da Qualidade: o conjunto da estrutura da organizao, responsabilidades, procedimentos, processos e recursos que permite a implementao da gesto da qualidade.
A gesto da qualidade no mais do que a aplicao ao sistema dum conceito universal de gesto: o ciclo Planear Executar Verificar Actuar, conhecido como o ciclo PDCA (do ingls Plan, Do, Check, Action).
A Actuar
P Planear
C Verificar
D Executar
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sistema de comunicao e das capacidades de comunicao dos colaboradores, da cultura da organizao, da sua dimenso e da competncia do pessoal.
De um modo geral, o conjunto dos documentos do sistema da qualidade pode ser representado pelo seguinte esquema:
MQ
Nvel 1
Procedimentos Gerais
Nvel 2
Nvel 3
Registos
Nvel 4
No nvel 1 encontramos o documento de topo do sistema: o Manual da Qualidade. No nvel 2 encontramos os procedimentos gerais directamente ligados ao sistema da qualidade. No nvel 3 esto procedimentos especficos, as instrues de trabalho, os planos da qualidade e os impressos. No nvel 4 encontramos os registos, ou seja, as evidncias escritas do funcionamento do sistema da qualidade.
Recomendao:
Realce a importncia de um sistema de gesto documental eficaz e eficientes para o sucesso de uma organizao, independentemente da existncia ou no de um Sistema de Gesto da Qualidade formal.
Faa a distino clara entre o que um procedimento e o que uma instruo de trabalho.
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Gesto da Qualidade Manual Tcnico do Formador A Organizao Uma vez que a responsabilidade da qualidade de todos, todos tm que ter as suas responsabilidades bem definidas, atravs de organigramas, matrizes de funes ou de qualquer outra forma que identifique quem responsvel pelo qu dentro da organizao. A Medida da Qualidade usual dizer-se que no h boa gesto sem boa medio. O quadro abaixo mostra exemplos de grandezas que usual medir:
rea
Grandeza Caractersticas tcnicas Custos da no qualidade Caractersticas fsico-qumicas Percentagens de defeitos Nmero de reclamaes Custos da Qualidade
Aprovisionamento
Produtos ou Servios
1.13 A Certificao
Actividade:
Pergunte turma quais as razes que levam uma organizao a avanar para a certificao. Aponte as respostas dadas num quadro ou flip-chart, para que todos possam ver. No fim do brainstorming, agrupe as respostas dadas de acordo com as razes indicadas abaixo: As razes mais frequentes que levam as empresas a procurar a certificao so: Devido presso dos clientes a certificao surge devido a exigncias de um ou mais clientes importantes; muito comum na indstria do ramo automvel; Aumentar a competitividade da empresa a certificao do sistema da qualidade obriga as empresas a melhorar as suas formas de trabalhar: obriga a planear e a racionalizar os recursos disponveis, promove o controlo e a diminuio dos custos associados a metodologias de trabalho erradas ou desajustadas, entre muitos outros benefcios de curto, mdio e longo prazo. Deste modo a empresa aumenta a sua competitividade; A concorrncia j se certificou ou est a certificar-se no seguindo a via da certificao ser "ficar para trs", dando concorrncia um trunfo importante; Razes comerciais e/ou de melhoria da imagem a certificao pode ser uma excelente ferramenta publicitria, pois d a imagem para o exterior de que a empresa se preocupa com a qualidade. Esta razo pode ser muito importante no mercado industrial;
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Acesso a determinados mercados e concursos em determinados mercados importante ou essencial ter um sistema da qualidade certificado; alguns concursos colocam como condio de acesso a certificao do sistema da qualidade dos concorrentes.
Sejam quais forem as razes pelas quais a organizao procura a certificao, os objectivos a ter em vista devem ser os seguintes: Integrar a Qualidade na empresa como uma filosofia de gesto e no como uma obrigao; Cumprir os requisitos estabelecidos nas normas e na legislao aplicvel; Motivar a participao de todos os elementos da empresa e valorizar a sua colaborao, procurando constantemente a melhoria da qualidade; Aproximar a empresa aos conceitos da Gesto pela Qualidade Total (Total Quality Management, TQM). A certificao da empresa acarreta uma srie de obrigaes e benefcios. As obrigaes da empresa so: Manter em funcionamento o sistema da qualidade aceite pelo organismo de certificao escolhido; Comunicar ao organismo de certificao escolhidos todas as alteraes feitas ao sistema; Manter as instalaes, equipamentos e restante infraestrutura em bom estado de conservao e funcionamento; Permitir o acesso s instalaes dos auditores mandatados pelo organismo de certificao escolhido. Os benefcios principais so: A avaliao contnua do nvel de implementao, da adequabilidade e da eficcia do sistema de gesto da qualidade por tcnicos independentes, contribuindo assim para assegurar a qualidade e fomentar a melhoria continua; Melhoria da imagem e da posio negocial da empresa, potenciando o acesso a novos mercados e clientes, mais exigentes; A nvel interno verifica-se uma melhoria da organizao e uma definio clara das responsabilidades de cada um dos colaboradores; A filosofia das ISO 9000:2000 baseia-se na melhoria contnua, a qual s possvel com a ligao entre os vrios departamentos e a correcta consciencializao de todos os colaboradores; Contribui para a reduo e racionalizao dos custos, devido diminuio de desperdcios, rejeies e reclamaes e melhoria / evoluo dos mtodos de trabalho; A certificao contribui para uma melhorar imagem da empresa, dado que o posicionamento face aos seus clientes se torna completamente diferente, mais amigvel e focalizado na
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satisfao dos seus desejos, o que pode conduzir um maior grau de fidelizao e a uma reduo significativa dos conflitos.
O Objectivo do SPQ a garantia e o desenvolvimento da qualidade atravs das entidades que, voluntariamente ou por inerncia de funes, congregam esforos para estabelecer princpios e meios, bem como para desenvolver aces que permitam de forma credvel o alcance de padres da qualidade adequados e a demonstrao da sua obteno efectiva, tendo em vista o universo das actividades, seus agentes e resultados nos vrios sectores da sociedade.
Actividade:
Os formandos devero investigar na Internet, quais os princpios orientadores do Sistema Portugus da Qualidade.
Respostas: Os princpios do SPQ so os seguintes: Credibilidade e Transparncia o funcionamento do SPQ baseia-se em regras e mtodos conhecidos e aceites a nvel nacional ou estabelecidos por consenso internacional, e supervisionado por entidades representativas; Horizontalidade o SPQ pode abranger todos os sectores de actividade da sociedade; Universalidade o SPQ pode abranger todo o tipo de actividade, seus agentes e resultados, em qualquer sector; Transversalidade da dimenso de gnero o funcionamento do SPQ visa contribuir para a igualdade entre mulheres e homens; Coexistncia podem aderir ao SPQ todos os sistemas sectoriais ou entidades que demonstrem cumprir as exigncias e regras estabelecidas; Descentralizao o SPQ assente na autonomia de actuao das entidades que o compem e no respeito pela unidade de doutrina e aco do Sistema no seu conjunto; Adeso livre e voluntria cada entidade decide sobre a sua adeso ao SPQ.
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