Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

As Historias e Lendas Que Encantam

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 251

CONTOS E LENDAS para Lobinhos

Eu gosto de contar histrias. Influncias diversas me colocaram em fbulas reais ou imaginrias. Garatujo algumas baseadas em fatos autnticos, outras com uma pequena dose de fico deixando no ar o gostinho da dvida Ser que foi ou no verdade? o meu estilo de escrever.

Este condensado foi produzido para servir aos chefes de Alcateias, podendo sua utilizao ser agradvel a professores e religiosos, desde que tenham conhecimento do movimento escoteiro. Muitas vezes os leigos iram confundir e por isto no aconselho sua utilizao para quem no tem uma ideia do que seja o escotismo. A cada dois meses pretendo atualiz-lo, j que muitos contos e lendas so por mim escritos mensalmente. Meu desejo que os jovens principalmente aqueles menores gostem e se divirtam. Muitos dos postados aqui tambm podero servir de diverso para os maiores. Contos e lendas para lobinhos tem a nica fidelidade de divertir e estando o Lobinho sempre alegre nada melhor que desejar a todos meu abrao e um belo sorriso.

Nunca se sabe quando portais para outra dimenso so abertos. O que acontece quando isso ocorre? Que efeitos podem provocar? O que atravessa por esses portais? Que caminhos surgem e para onde levam? Isso ningum sabe, por enquanto.... (A Patrulha Touro formada por Caititu, Fumanchu, Cabeudo, Vara de Marmelo, Lngua Grande, Z Lorota e eu o famoso Perna Seca!). O enigma da Cidade misteriosa da Vov Mafalda. No gosto de contar esta histria. Todos me ouvem com um sorriso de incredulidade no rosto. chato isto. Afinal ento porque me pedem para contar historias? Quer saber? Tem hora que d vontade de no contar, mas eles insistem mesmo no acreditando. Quando contei para eles da cidade misteriosa da Vov Mafalda eles deram grandes risadas Perna Seca, voc um pndego! Danado! Alm de rir de mim e duvidar nem pelo nome me chama. Tudo bem. Na prxima ele vai ver. No deveria haver nada de anormal na jornada. Tnhamos feito mesma rota no ano passado. Carioca de Lagoa Dourada mandara o telegrama na ultima hora. Achvamos que eles iriam cancelar este ano. No houve problemas e na sexta pela manh partimos. Todos os anos sempre fomos l. Era gostoso participar. Na primeira vez os Cucos, os Maaricos e ns os Touros participamos em conjunto. Carioca tinha uma bela Patrulha. Depois no sei por que desistiram e s ns amos. A fazenda do pai do Carioca era linda. E a Mata da Coruja sempre me fazia calafrios. Era linda. Uma aguada de tirar o chapu. O madeirame existente ajudava em muito na construo da Barraca suspensa. Barraca suspensa? Meu amigo no uma barraquinha qualquer. Precisava ficar a mais de dez metros de altura e tinha de ter elevador e agua potvel. Est rindo? Mas isto no tem segredo, no para ns da Patrulha Touro. A pequena cascata na subida do

morro do roncador e os bambus gigantes eram uma beno para aqueles que gostam de uma grande pioneira. Caititu, Fumanchu, Cabeudo, Vara de Marmelo, Lngua Grande e Z Lorota eram grandes companheiros de patrulha. S eu com a segunda classe. Os demais todos tinham a primeira classe e acima do bolso esquerdo as estrelas de atividade estavam l para que todos soubessem que ali no tinha patas tenras. Sabamos que Lagoa Dourada no era longe. Menos de cem quilmetros. Saindo cedo at o meio dia chegvamos. O mais difcil era a Serra do Escorrega Sapo. Difcil e ngreme. S nela perdamos mais de uma hora empurrando nossas bicicletas. Naquela sexta o sol estava a pino. Bom sinal. As nove iniciavam a subida da Serra. Interessante que uma cerrao forte tomou conta de toda a montanha e mal enxergvamos dez metros a frente. Ouvimos um barulho de carro. Vinte minutos depois encontramos com um jipe. Nele quatro frades capuchinhos. Eles riram ao nos ver e um deles nos benzeu. Pararam o jipe e se aproximaram de ns. Comearam a contar que tambm foram Escoteiros na Itlia. Um deles disse que era Insgnia de Madeira. Achei interessante quela prosa e estava at gostando. Um dos capuchinhos nos fez um desafio Tem caf? Claro que no, mas Cabeudo o nosso cozinheiro riu e disse vinte minutos e vo tomar o melhor caf que j tomaram em sua vida. Ali no alto da Serra do Escorrega sapo paramos. Uma rao de p e duas de acar era o bastante. O Cantil cheio o restante. No foi difcil algumas pedras e alguns galhos e capim seco. A serrao no tinha formado ainda o orvalho que molhava tudo. Sentamos em volta do fogo. Os capuchinhos contavam casos e casos. Ns ficamos calados, pois meninos ainda tnhamos muito respeito com adultos principalmente padres. Um deles de nome Vincenzo era o mais palrador e alegre. Tomando um cafezinho quente na minha caneca, contou como era sua cidade, no sul da Itlia, seu Grupo Escoteiro e de um acampamento que realizaram nas proximidades de Pozzuoli uma pequena comuna italiana na regio da Campania, provncia de Npoles. O tempo estava passado e os capuchinhos no paravam de falar. Vara de Marmelo nosso Monitor pediu desculpas, pois precisamos chegar a Lagoa Dourada antes do meio dia. Eles agradeceram o caf, sorriram entre si e um deles nos benzeu dizendo Que Jesus os proteja. Partiram em grande velocidade. Daquele jeito iriam despencar na primeira curva. Eu jurava que o jipe deles levantou voou. Caititu tambm achou s os demais no observaram nada. A cerrao no diminua. Vimos que estava dando uma da tarde e j era hora de descer a serra. Foi ento que tudo aconteceu. A subida acabou. A serrao diminuiu um pouco. Dava para enxergar um pouco mais alm. Avistamos uma pequena cidade. Que cidade? Nunca h tnhamos visto. Estvamos curiosos. Chegando mais perto vimos que no era uma cidade. Uma rua somente. Bem calada com ladrilhos negros e riscas brancas. As casas todas iguais. Avistamos um bar. Lindo bar. Pessoas sentadas nas mesinhas porta. No conversavam. Todos se vestiam iguais. Cala cinza, camisa cinza, sapatos cinza.

Paramos para perguntar onde seria a sada da cidade, pois nosso destino era Lagoa Dourada. Ningum respondeu. Cabeudo me disse que todos tinham a mesma cara. Perna Seca, observe cara de um focinho de outro. Ele estava certo. No mulheres nem crianas. Um homem de azul se aproximou. Tem autorizao para entrar em Espectro? Ficamos pasmados. Nunca ouvamos falar. Se no tem me acompanhem, vo falar com o Delegado. A delegacia ficava uns duzentos metros frente. Paramos, Vara de Marmelo pediu a Z Lorota ficar tomando conta das bicicletas. Ningum fica entram todos! Disse o homem de azul. Entramos. O delegado estava de costas. O homem de azul explicou. Ele nem virou Leve-os ao Juiz e veja o que ele diz. Ora, pensei morrendo de medo Quem este juiz? E porque isso? Nunca soube ser proibido entrar em qualquer cidade! O juiz estava no tribunal. No havia ningum. O homem de azul explicou. - J estou sabendo disse. Cinco anos de prestao de servios no Alambique de Vov Malfada. Vara de Marmelo tentou explicar Doutor Juiz, somos escoteiros, no fazemos mal a ningum, s ajudamos. O juiz irredutvel Doutor, disse Fumanchu, temos escola segunda. Nossos pais iro ficar preocupados! Problema seus no meu. Quem mandou entrar aqui em Espectro? Cabeudo sempre foi valento. Olhe Doutor no vamos ficar. No podemos. Somos menores. O senhor no pode fazer isto conosco. O juiz levantou e disse Levem-nos. Quatro homens de azuis apareceram. Arrastaramnos pela rua deserta. Pelas frestas das janelas vamos que estvamos sendo observados. A casa da Vov Mafalda ficava no fim da rua. Nenhum de ns estava acreditando no que acontecia. Cinco anos? Impossvel. Tnhamos de fugir dali. A Vov Mafalda tinha idade indefinida. Educadamente nos disse que se fossemos obedientes e disciplinados poderamos ter dias de folga, descanso e muito mais. O Contrrio nada disto iria acontecer. Lngua Grande disse que viu nossas bicicletas com toda nossa trabalha atrs da casa da Vov Mafalda. Vara de Marmelo disse que a noite iriamos fugir. Uma da manh. Todos fingiam dormir. Samos p ante p. Na porta apareceu como um fantasma a Vov Mafalda. Vo com Deus disse. Vov, perguntou Caititu, o que isto aqui? Que cidade esta? Vocs sem perceber devem ter passado para a quarta dimenso na Serra do Escorrega Sapo. Voltem pelo mesmo lugar. Onde pararam parem tambm. Tentem ver atravs da bruma, a um claro corram em direo dele. Ningum na cidade nos viu. Seguimos as instrues de Vov Mafalda. Onde fizemos o caf para os padres capuchinhos paramos. Desconfiei daqueles padres. Um claro se fez na estrada. Corremos em direo a ele. Atravessamos uma espcie de nuvem espessa. Uma estrada nova apareceu. Nossa conhecida. Ao longe Lagoa Dourada. Carioca e seus amigos nos esperavam. - Chegaram no horrio disse. Combinamos em manter em segredo a histria. Ningum ia acreditar. Voltamos para nossas casas trs dias depois. Na serra uma serrao baixa. Um jipe apareceu na curva. De novo os padres Tem caf? Perguntaram. Z Lorota gritou Tem no! Eles riram No d para fazer?

D no falou Cabeudo. Eles sumiram na bruma cinza que tomava conta de tudo. Na descida avistamos a estrada federal. Agora sabamos que estvamos em casa. Tudo combinaram em no contar para ningum. Mas eu? No sei guardar segredo. Perna Seca, esta sua histria para boi dormir. Diziam. Ningum acreditou mesmo. Uma tarde comprava um jornal para o meu pai na Banca do Gumercindo quando virando a rua avistei Vov Mafalda. Corri atrs dela, ela se virou deu um sorriso abanou as mos em forma de adeus e desapareceu. A Patrulha ficou Cabrera. Vara de Marmelo o Monitor nos disse para tomar cuidado. Mas eu gostaria de voltar l. Um dia li que Albert Einstein escrevera que as coisas mais maravilhosas que podemos experimentar so as misteriosas. Elas so a origem de toda verdadeira arte e cincia. Aquele para quem essa sensao um estranho, aquele que no mais consegue parar para admirar e extasiar-se em venerao, como se estivesse morto: seus olhos esto fechados. O homem provavelmente o ser mais misterioso do nosso planeta. Muitas questes para responder. Quem somos de onde vimos e para onde vamos? Como sabemos em que devemos acreditar? Por que acreditamos em alguma coisa, sequer? Inmeras perguntas em busca de uma resposta, uma resposta que dar origem a uma nova pergunta e a nova resposta dar origem a nova pergunta, e assim por diante. Mas, no final, a pergunta no ser sempre a mesma? E sempre a mesma resposta? como disse Dimos Iksilara, desvendar o misterioso, perceber o extraordinrio, realizar o impensvel, apenas parte da jornada de ser humano, na sua busca pela superao do impossvel.

Lendas escoteiras. Pikitito, um Grilo feliz da lagoa dos Mares. Joyce sentiu quando o grilo pousou em seu ombro. Lobinha amiga dos animais plantas e insetos ela olhou de lado e sorriu. J tinha visto muitos grilos. Gostava de ver os saltos que eles davam. Como inseto ela achava que eles eram um dos maiores existentes no Brasil. Ela sabia que nem todos possuam asas, mas tinham os melhores rgos auditivos para perceber os sons produzidos pelas suas prprias asas. O que vocs vieram fazer aqui? Perguntou o Grito. Joyce riu. Um grilo falante? - Voc fala? Disse ela. O grilo olhou para ela indignado Claro, ou voc acha que eu estou latindo? No precisa ser mal educado seu grilo Me chame de Pikitito. Este meu nome que meus pais me deram quando nasci. Mas me diga o que ele e o outro esto medindo com uma trena? Vamos fazer aqui um grande acampamento de Escoteiros. Sero mais de mil, ela disse Nem pensar! No podem. Neste capinzal est nossa cidade, ou melhor, nossa capital. Grilolndia est aqui a mais de mil anos. No podem destruir nossa cidade.

- Veja voc continuou o grilo, ou melhor, Pikitito. Aqui neste pastinho temos nosso alimento. Se vier a noite aqui vai nos encontrar almoando e jantando. Aqui temos plantas, cereais, fungos, tecidos de l e restos de outros insetos. Se acamparem aqui iro destruir nossa cidade Olhe seu Pikitito no estou duvidando, mas meu tio um cara chato. Chato mesmo. Quando pe na cabea um plano difcil desfazer dele. Sabe como ela se chama? Joo Cabeudo. Voc diga a ele que se no desistir vamos chamar os grilos de todo o mundo. Sero milhes, pois cada grilo femea no sei se sabe coloca mais de 100 ovos por ms. Quer conhecer nossa cidade? Quero sim disse Joyce. O grilo disse, pe o dedo nas minhas asas e repita comigo Pic, pok, kilo, vou para a cidade dos grilos! Mas fale o mais alto que puder. Joyce no se vez de rogada. Depois de gritar as palavras mgicas ela ficou pequenina do tamanho do grilo, ou melhor, Pikitito. A cidade era linda. Praas, chafariz, prdios enormes, escolas, universidades tinha tudo da cidade dos homens. Nem tudo disse Pikitito. Aqui temos a paz e vocs no tem. No precisamos de policia, nem de exrcitos. Somos todos irmos. No assim que dizem vocs Escoteiros? Joyce estava entusiasmada com tudo que via. Foi apresentada ao Mestre Catuaba, que fazia s vezes de prefeito e juiz. Ao Doutor Magnsio que curava todas as dores dos grilos. E a maior surpresa. Visitou o Grupo Escoteiro Grilo Feliz. Tudo que ns fazamos eles faziam tambm. S que melhor. Uma disciplina incrvel. As patrulhas completas, os uniformes bem postados, fomos at prximo da Lagoa dos Mares onde estava acampando duas tropas uma masculina e uma feminina. Prximo em uma fazenda lobinhos grilos se divertiam felizes. - Me leve de volta, pediu. Meu tio tem de entender. Ok! Repita de novo - Pic, pok, poney vou para a cidade dos homens! Joyce voltou ao tamanho normal. Falou com seu tio que deu risadas Joyce, lugar de sonhar na cama. Aqui no. Cidade dos grilos? S voc para contar esta piada. Tio, se no desistir do Ajuri Escoteiro aqui eles iro chamar todos os grilos do Brasil e comero tudo que encontrem pela frente. Iro destruir todo o acampamento Joo Cabeudo morria de rir. Sua sobrinha tinha uma mente frtil. Joyce pegou na mo dele. Tio me faa um favor. S um e no falo mais nada Diga comigo junto Pic, pok, Kilo! - est bem ele disse. E gritou alto o que ela pedia. Sentiu uma presso no corpo. Estava diminuindo. Vrios grilos o carregaram at uma pedra enorme que havia no meio do lago. Milhares de grilos estava l. Quando o levaram ele levou o maior susto. Viu embaixo uma grande cidade onde iriam acampar. Mestre Catuaba e Doutor Magnsio presidiam um jri e ao lado vinte grilos que seriam os jurados. Mestre Catuaba explicou a ele que seria julgado e se culpado e devorado pelos grilos. Joo Cabeudo no acreditava no que via. Comeou a gritar A grilaiada ria de morrer. L grando era valente aqui um choro. Leve-o Joyce, disse Doutor Magnsio. Ele aprendeu a lio. Pic, pok, poney e eles voltaram. Joo Cabeudo quando viu que voltaram pulou de alegria. Chamou seu amigo Chefe e disse que deveriam escolher outro lugar Mas no tem terreno limpo como aqui Joo Cabeudo riu e disse No se

preocupe. Fiz novos amigos. Eles me prometeram me ajudar para limpar a rea escolhida. Todos os sbados Pikitito o Grilo Feliz visita Joyce na reunio da Alcateia. Os lobos aprenderam a gostar dele. Foi uma amizade que durou muitos anos. Joo Cabeudo aprendeu uma lio. Respeitar os direitos dos outros mesmo que estes outros sejam insetos. E assim termina a histria. NO FINAL Entrou por uma porta Saiu pela outra Quem quiser que conte outra Entrou por uma porta Saiu pela outra Mande El rei, meu senhor Que me conte outra. Entrou pelo p de um pinto Saiu pelo p de um pato Mande El rei, meu senhor Que conte quatro. Minha histria acabou Um rato passou Quem o pegar Poder sua pele aproveitar. E assim terminou a histria... Silvia Bortolin Borges

Lendas escoteiras. Jeric Uma cidade sem lei. (Jeric era uma importante cidade dos tempos bblicos, descrita no Antigo Testamento como a Cidade das Palmeiras ou Cidade das Palmas, pela abundncia desse tipo de rvore na regio. Ainda hoje, conserva o apelido. A passagem bblica mais famosa sobre o lugar a que mostra os hebreus, recmchegados Terra Prometida, derrubando as imponentes muralhas da cidade ao som de trombetas e gritos, conquistando-a, liderados por Josu). Billy e Any no eram um casal perfeito, mas viviam felizes em Porto Feliz uma cidade no interior de Santa Catarina. Tinham uma bela casinha, um lindo filho de oito anos, e Ralph era o encanto dos dois. Billy trabalhava na Secretaria da Fazenda. No CAGE estava lotado na Diviso de Controle de Administrao Direta. Era um pau de toda obra, mas na funo de Controlador Contbil. No podia reclamar do seu salrio, mas como todo ser vivente ambicionava mais. Any antes de se casar se formou como Assistente Social e

atualmente era s uma dona de casa. Ela tinha por Ralph um amor grandioso. Ficava ao lado dele o tempo todo e s deixou de ser sua sombra quando entrou para o escotismo como lobinho. A prpria Akel explicou que ele precisava crescer. A me junto prejudica e sufoca o aparecimento de liderana. Ela entendeu. De vez em quando olhava as atividades e via que Ralph era um grande lobinho. Em casa no tinha outro assunto. Um dia Billy disse a ela que precisavam conversar Seu Chefe o Doutor Getlio o convidou para organizar e dirigir o novo escritrio da Secretaria da Fazenda em uma cidade no interior do Mato Grosso quase divisa com o Par. Longe bea. Mas seu salrio seria duplicado, havia possibilidade de Any trabalhar com ele tambm por um timo salrio. Seria por cinco anos. Se conseguissem formar pessoal com nativos estariam liberados para voltar a Porto Feliz com as mesmas regalias. Anny gostou da ideia. Valia o sacrifcio. No venderiam a casa somente os mveis. Na volta comprariam outros. Billy vendeu seu Simca Chambord do ano e comprou uma Rural Williys seminova. Seria uma viagem de mais de trs mil quilmetros. Tudo preparado se despediram dos parentes dos amigos prometendo que no seria adeus e sim um at logo. Apesar da mudana, da viagem e em conhecer outros lugares Ralph chorou muito ao deixar a Alcateia. Fizeram uma reunio de despedida de partir o corao. Todos lhe deram abraos e muitos presentes. Um deles foi de Tininha, uma morena de olhos verdes da sua Matilha. Entregou uma cartinha perfumada. Ralph guardou para ler na viagem. Pararam em Trs Marias em um restaurante a beira do lago da represa para almoar. Ralph abriu a cartinha de Tininha e l estava escrito Te amo muito. Vou te amar por toda minha vida. Qualquer adulto daria boas gargalhadas. Os pais no. Sabiam que os jovens que ainda nem despontaram para vida tambm tinham sonhos. Anny e Billy ficaram com os olhos cheios de lgrimas. Foram trs dias de poeira, sol chuva estrada esburacada e enfim chegaram a Jeric. No era uma cidade feia. Tinha uma bela praa bem arborizada, mas quase ningum a passear ou descansar. Uma Igreja linda que disseram depois ser do ano de 1910. Devia ter uns vinte e cinco mil habitantes. Poucos na rua e o comercio quase vazio. Billy tinha o endereo onde iriam abrir o escritrio e tambm serviria como casa nos primeiros meses. Depois se quisessem poderiam alugar outra. No ficava longe do centro. Quase ningum para perguntar. A maioria nas janelas abertas quando passavam elas se fechavam. Estranho isto pensaram. H primeira semana se foi. Contrataram uma moa e um rapaz para ajud-los. Aos poucos eles foram se abrindo e falando da cidade. Contaram coisas que assustaram Billy e Anny. Em pleno ano de 1950 bandidos dominando uma cidade? Pois doutor. (eles o chamavam assim). Cicatriz vive nas montanhas. A cada ms desce a cidade e l est seu Astholpo o prefeito abrindo seu armazm para eles se servirem. Um dia antes ele s deixava o combinado que seria rateado por toda a cidade. O restante dos mais de cinco mil itens ele esconde em um poro ali perto.

Billy e Anny no acreditaram muito. Mas se fosse verdade iriam agir na base de viver e deixar viver. No iriam viver ali para sempre. Ralph voltou da escola animado. Soube que na cidade tinha um grupo Escoteiro. Um amigo da sua sala contou. Deu o endereo. Billy o levou l no sbado. Tomou o maior susto. Eles marchavam para todo lado. Tinham uma banda enorme. Os que no eram da banda usavam uma espcie de fuzil de madeira. O que era aquilo? Mas Ralph queria participar. Conversou com o Chefe. Foi admitido e enviado a Alcateia que tambm marchava. Porque s marcham? Perguntou. S na sede. Uma vez por ms acampamos. Uma vez por ms fazemos jornadas. L tudo que pensar em tcnica mateira ns fazemos. O senhor j sabe do Cicatriz. Precisamos preparar os jovens para um enfrentamento no futuro. O trabalho para organizar o escritrio da Secretaria da Fazenda foi cansativo. J tinham admitido seis funcionrios. Bob Masterson seria o indicado para o futuro como Chefe do escritrio. Formado em Direito e o melhor, Chefe da Tropa Snior. O ms terminou. Billy e Anny resolveram dar uma folga no fim de semana. Souberam de um lago muito bonito e porque no fazer um pic nic? Bob Masterson desaconselhou. Cicatriz deve aparecer por aqui domingo. Neste dia ningum sai rua. Todos ficam trancados. Conselho dado, conselho guardado. Domingo amanheceu cinzento. A cidade deserta. Nem os passarinhos cantavam nesta manh radiosa. Meio dia. Mais de quarenta cavaleiros entraram na cidade vindo das montanhas. Cicatriz frente. Ele era imponente. Devia ter quase um e noventa de altura. Mos enorme. Podia torcer um pescoo de algum com facilidade. Um fuzil a tiracolo. Sorria meio debochado. Parou em frente igreja e sentou em um banco que ali existia. Interessante. Cicatriz era loiro. Deveria andar na casa de seus quarenta anos. Uma enorme cicatriz iniciava pela sua orelha direita e terminava na esquerda. No diria que era horrenda, pois at dava um aspecto sobrenatural e excitante. Seu Astholpo apareceu. O levou at o armazm. Seus capangas encheram duas carroas de vveres. Astholpo! Disse Cicatriz. Na prxima vamos precisar de dinheiro. Dez reais por habitante. Quem se recusar sobe a montanha comigo. Billy e Anny viam e ouviam tudo da janela da sua casa. Estavam hipnotizados pelo que acontecia. Fato indito. Nunca tinham visto nada igual. S no cinema. Sentiram uma lufada de vento e a porta se abriu. Correram at l. Ralph saiu correndo em direo a Cicatriz. Levava seu fuzil de madeira. Billy e Anny tremeram. Correram atrs dele. Mesmo gritando para parar ele no parou. Ficou bem em frente Cicatriz apontando aquela arma de brinquedo. Voc est preso! Disse Ralph. Uma onda de pavor correu de porta em porta, de janela em janela. Todos se trancaram mais em suas casas. Billy e Anny desesperados. Pare Ralph, pare! Disseram. Cicatriz levou um susto. Sacou seu colt 45 com incrvel rapidez e mirou bem na testa de Ralph. Seus dedos coaram o gatilho. Para ele no importa se era menino ou no. Se algum queria mat-lo ele matava primeiro. Anny desesperada gritava No mate meu filho! Pelo amor de Deus! Ele s tem sete anos! Um tiro se ouviu. Um ribombar por todas as ruas da cidade. Cicatriz olhava com olhos esbugalhados. Levou sua mo direita at o

peito. Sentiu um furo em seu gibo de couro. O sangue escorria em filetes pequenos. Cicatriz no acreditava. Nunca pensou em morrer assim. Morte estupida s porque ia mandar um menino para o inferno. Ningum at hoje ficou sabendo de onde partira o tiro abenoado. A bandidada ameaou uma reao. No se sabe como, apareceram todos os Escoteiros da cidade. Formados em linha com seus fuzis de madeira. Atrs a banda fazendo um enorme barulho. A poucos metros dos bandidos o Chefe Bob Masterson gritou Escoteiros! Preparar! Todos se ajoelharam. Apontar! Apontaram seus fuzis de brinquedos para os bandidos. No ficou ningum. Eles montaram em seus cavalos e partiram a galope. A cidade saiu rua. Uma algazarra tremenda. Livres! Gritaram. Estamos livres pela primeira vez na vida. Cicatriz dava seus ltimos suspiros. Olhou o povo gritando. Sentiu uma dor tremenda e viu ao seu lado um demnio enorme. Um grande chifre, dentes soltando fumaa. Ficou em paz. Agora ele sabia que estava em casa. O tempo passou. A felicidade voltou. Jeric cantava aleluia. No era e nem nunca fora a cidade antiga bblica situada na Palestina. O rio que cortava a cidade tambm se chamava rio Jordo. Muitos diziam que Jeric significava perfumado e a deriva da palavra Cananeia. O Bispo mandou um novo proco para a cidade. Agora em paz. Billy e Anny comearam a amar a cidade de Jeric. Saudades s dos pais e dos amigos. Fizeram uma bela casa na Rua dos Hebreus. Anny resolveu ser escoteira. Foi bem recebida e na promessa recebeu seu fuzil de madeira. Billy ajudava na parte burocrtica. O Prefeito seu Astholpo mandou fazer um belo prtico na entrada da cidade. Em uma linda placa de acrlico escreveu fcil as pessoas mandarem voc se calar, quando a dor s sua, mas seja como o cego de Jeric Grite, grite at Jesus parar tudo para te ajudar! E em todos os lugares, em todas as missas, em todos os cultos religiosos, o povo dizia que a mo de Deus foi quem deu o tiro certeiro em Cicatriz. Bendito seja. E cantaram aleluia para sempre. Vem com Josu lutar em Jeric, Jeric. Vem com Josu lutar em Jeric e as muralhas ruiro. As trombetas soaro, abalando cu e cho. Cerquem os muros para mim, pois Jeric chegou ao fim!

Lendas Escoteiras O lindo Balo Azul do Escoteiro Zez dos Pinhais. Levei o dia todo, a minha tarde inteira, No joguei futebol e at nem quis brincar De soldado e ladro... Ajoelhado na sala, a minha brincadeira, Foi cortar os papeis de cores, e os juntar. Fazendo o meu balo... J.G. Arajo Jorge.

Eu estava ali com todo aquele populacho. Espremia-me para ficar a frente. Meus olhos brilhavam e meus lbios sorriam levemente mostrando o xtase que sentia, me arrebatava como se fosse ele levado pelo ar. Quantas vezes sonhei em voar pelos cus em um balo. Meu arroubo de criana s via o encanto. Meu entusiasmo cobria o perigo e a alegria de estar ali no me deixava triste em desobedecer meu pai e minha me. Eu tinha duas foras que me faziam sentir bem. Bales no cu e ser Escoteiro. Todas as vezes que Seu Non Baloeiro soltava seu enorme balo eu corria para l. Meu pai descobriu algumas vezes. Meu pai! Nunca me encostou um dedo. Chegava a casa e ele pacientemente dizia - Zez balo mata. Muitos morreram assim queimados. Uma dor horrvel. Quando no morrem ficam marcados para sempre! Mas eu, nos meus treze anos sabia que o perigo era grande. Mas fazer o que? Eu amava os bales. Quando ele se elevava ao cu, quando os foguetes estouravam, quando se lia a placa que os baloeiros colocavam, eu pulava de contente. Minha alegria era contagiante. Se pudesse eu ficava ali por toda a noite a ver os bales subirem aos cus. Um espetculo que a criana que era se arrebatava e nos meus sonhos eu estava l, junto ao lindo balo colorido que subia sfrego aos cus at que um vento sul ou vento norte o levasse para longe. Muitas vezes sugeri em Reunio de Patrulha que fizssemos um dia uma competio de patrulhas para ver quem soltava o mais lindo balo. Nunca aprovaram. O Chefe Valdez muito educado dizia Balo s trs a infelicidade. Alegrias de uns tristeza de outros. Nas reunies de Tropa, nas excurses, nos acampamentos eu vibrava como se estivesse soltando bales. Para dizer a verdade eu no sabia daquela minha sina. Nos meus sonhos de adultos eu estaria l com seu Non Baloeiro, a fazer e a soltar os bales. Invejava toda sua equipe. Trabalhadores, sem nada a receber. Tentava explicar isto ao Chefe Valdez, mas ele sorria de leve e dizia Zez, eles sabem trabalhar em equipe, mas muitos deles gastam o que no tem para que o balo suba aos cus. Eles deixam suas famlias, sacrificam o pequeno salrio que recebem e nem pensam o que suas escolhas podem fazer aos outros. Fecham os olhos para as desgraas, as desventuras e a infelicidade dos queimados, a misria por ter perdido seu ganha po, sua casa. Zez dos Pinhais sentia pena, mas ele no sabia quem um dia disse para ele O que os olhos no veem o corao no sente. Verdade ou no os bales e o escotismo eram os sonhos de Zez. O acampamento anual se aproximava. Iam acampar no Rancho da Lagoa Dourada. Ele nunca tinha ido l. Mas no importava. Fosse onde fosse Zez vibrava. Amava sua Patrulha Morcego. Sentia uma enorme alegria em estar junto aos seus amigos da patrulha. Vibrava com os jogos, j estava ficando bom em pioneiras e quando do fogo de conselho Zez olhava para o cu estrelado e pensava No poderia ter um enorme balo passando? Zez no contou a ningum. Em casa escondido construiu um lindo balo azul. Ele sonhava em fazer um. Sonhava em ver o balo coriscando nos cus em uma linda noite de inverno. No haveria foguetes. Ele no podia comprar. Sabia

que todos seus amigos na patrulha nunca iriam vaquear para comprar. Custou para comprar o papel, construiu devagar cangalha e depois a tocha. Levaria para o acampamento escondido. No mostraria para ningum. Ele sabia que na segunda noite haveria um jogo noturno. Iria fingir ter dor de cabea e zarparia para uma rea descampada e ento soltaria seu balo. Sabia como fazer. Seus olhos cintilavam quando pensava no seu plano. O grande dia chegou. A sede escoteira lotada de gente. Pais e mes preocupados pedindo aos chefes para tomarem conta. Dois nibus e uma longa viagem. Chegaram tarde. Um lanche j havia sido preparado. A patrulha sabia como fazer. Barracas armadas rapidamente. Cozinha, mesas, toldos e em pouco tempo o campo de patrulha j podia dar todo o conforto de uma casa na selva. Houve at momentos que Zez se esqueceu do seu balo. Mas ele no saia de sua cabea. Dito e feito. No segundo dia o grande jogo. Zez falou ao Monitor que falou ao Chefe. - Est dispensado, disse o Monitor. Logo que o Jogo comeou Guerra Zez saiu de mansinho nos fundos de seu campo de patrulha. Nas mos o bornal com seu lindo balo azul. Sonhava! Sorria! Cantava canes de louvores. Avistou um belo campo e um rio que corria com suas guas tranquilas em direo ao mar. Zez tirou o balo. Desdobrou. Pegou a cangalha e a tocha. Quando ia acender a tocha para que o gs espalhasse pelo balo ele ouviu um choro de criana. No viu ningum. Onde seria? Largou seu balo e foi at a barranca do rio. Sentado em um tronco uma menina de cinco anos chorava em prantos. Ela estava toda queimada. Zez sentiu o cheiro de carne viva queimando. Zez no sabia o que fazer Venha comigo, vou levar voc at o acampamento. O Chefe vai lhe ajudar Ela no respondia, mostrava sua casa toda queimada. Zez viu saindo da casa um Velho e uma velhinha tambm queimados. Saram gritando. Uma dor terrvel. Meu Deus! Pensou Zez. O que foi? O que foi? Corra menino ele o Velho dizia. Corra! um balo nos cus. Matou minha famlia. Destruiu minha casa, queimou minha plantao de milho! Zez acordou dentro da barraca. Ainda bem que foi um sonho. Sonho terrvel. Eu poderia destruir uma famlia com meu balo? No ultimo dia Seu Patax, um ndio que morava prximo ao rio contou a histria do Velho Manequinho, Dona Valquria e sua filha Martinha a quem chamavam de Por do Sol e que morreram no ano passado. Um balo caiu na plantao de milho, que atingiu sua casinha de sap e no deu tempo para fugir. Morreram todos. Os olhos de Zez se encheram de lgrimas. Poderia ter sido o meu balo pensou. Eu poderia ter matado todos eles! Juro meu Deus! Nunca mais, mas nunca mais mesmo vou tocar em um balo. Direi a todos meus amigos o mal que ele faz! Assim como Zez tem muitos jovens que sonham com bales. Que est historia sirva de lio. No uma lenda. Todos os anos centenas de casos como este acontecem. Morrem adultos e crianas, perdem-se plantaes que foram plantadas com o suor de quem precisa viver. "Balo no cu, perigo na terra". Todo mundo j deve ter ouvido essa frase em algum lugar, mas as pessoas no costumam dar muita ateno a ela. Os incndios causados por bales podem

ser bastante graves e podem destruir as casas, indstrias, plantaes e at mesmo causar mortes. Seja um bom Escoteiro. Nunca solte bales!

Lendas Escoteiras. Ratapl Chico Fumaa. Ns te amamos para sempre! Ele no entendia por que. Aonde ia estavam sempre gritando e dizendo Chico Fumaa, o bobo! Ele ficava triste porque no tinha feito nada com ningum. Desde pequeno sempre fora assim. Ficou pouco tempo na escola. Seus colegas na classe sempre jogando bolinhas de papel e dizendo Chico Fumaa, o bobo! Fizera no ms passado doze anos. Sua me e seu pai comemoraram com uma festa para ele. Mas convidar quem? Sabiam que ningum iria festa do bobo. Chico Fumaa at que no se incomodava. Como falava pouco e nunca gritava deixava que falassem. No ligava mais. Mal dizia algumas palavras a sua me e seu pai. Ele um carroceiro que fazia mudanas e entregas, ela uma simples lavadeira que passava os dias na beira do Rio Azulo com duas ou mais trouxas de roupa. Chico Fumaa vivia mais em casa. Deixou a escola. No dava para ficar l. At a Diretora concordou. No podia controlar os alunos. Do pouco que aprendeu ele desenvolveu uma grande facilidade em escrever e ler. Ia ao Pingo Dgua, onde despejavam o lixo da cidade e l encontra muitos livros. J havia feito uma coleo de mais de duzentos livros. Ele os limpava encadernava e guardava em um pequeno guarda roupa que tinha. Quando no estava ajudando o pai ou a me Chico Fumaa lia. Aprendeu a ler com rapidez e atravs das leituras comeou a compreender o mundo. Chico Fumaa sentia falta de amigos. Muito mesmo. Um dia indo at a Quitanda do seu Afonso, uma molecada correu atrs dele e gritando Chico Fumaa bobo. Agora chamavam ele tambm com nomes feios. Jogavam pedras. Ele correu, mas eles no o deixavam em paz. Ao virar uma esquina deu de cara com muitos escoteiros. Duas patrulhas. Escondeu-se atrs deles. Os meninos calaram. Os escoteiros j sabiam quem ele era. Um deles, moreno forte, alto quase da sua idade disse aos moleques que eles no deviam fazer aquilo. Era errado. Ele era um s e eles muitos. Era covardia. Daquele dia em diante disse, Chico Fumaa seria protegido dos escoteiros. Quem fizesse qualquer coisa com ele teria de se haver como toda a tropa dos escoteiros. Foram embora e preocupados. Agora Chico Fumaa era amigo dos escoteiros. No ia ser fcil rir dele. Convidaram Chico Fumaa para ir visit-los. Ele foi. Adorou tudo que viu, mas sabia que no dava para ficar com eles. No podia comprar e nem pagar nada. Fizeram um conselho de Patrulha e logo em seguida os Monitores se reuniram em Corte de Honra. Chefe Marcondes presente. Deliberaram que todos iriam ajudar. Chico Fumaa seria aceito. Sua me e seu pai foram l. Choraram de emoo pela bondade dos escoteiros. No primeiro dia recebeu de graa uma camiseta vermelha com o smbolo de uma guia no peito e nome do grupo. At voc fazer sua promessa disseram. Em duas semanas ele foi a uma

excurso. Amou tudo que fez e viu. O incrvel aconteceu. Ningum conhecia e nem tinha visto um Escoteiro como Chico Fumaa. Vrios passarinhos fizeram amizade com ele e ficavam em volta quando no pousavam em seu ombro. Ele ria e cantava de alegria. No dia de sua promessa, uniforme novo, chapelo ele estava orgulhoso. A sede Escoteira ficou escura. O que seria aquilo? Ento viram no cu uma nuvem de pssaros de todas as cores, gorjeando e cantando canes desconhecidas. Um bem-te-vi amarelo e um beija flor dourado ficaram em seu ombro durante a promessa. Foi emocionante! No final quando o lhe entregaram o distintivo e o leno milhares de pombas, gavies vermelhos, tucanos verdes e amarelos, alm de inmeros pssaros pretos fizeram voos rasantes na sede. A cidade viu aquela revoada de pardais indo para a sede dos escoteiros e muitos foram l para ver. Ningum sabia explicar o que significava. Disseram que Chico Fumaa falava com eles. Ele dizia que no. Era somente amigo. O tempo passou. Chico Fumaa foi para os seniores. Foi ali que descobriu que podia escrever contos, historias tudo porque participou pela primeira vez em um concurso de Contos Escoteiros do distrito. Escreveu um conto lindo. A revoada dos pardais de Serra Dourada. Seu conto fez sucesso. Dai para o primeiro livro foi um pulo. O besouro verde apaixonado. Algum se ofereceu para publicar. Virou um Best-seller nacional. Traduzido em vrios idiomas bateu recordes e recordes de venda no mundo inteiro. Chico Fumaa se tornou um escritor famoso. Nunca deixou o Grupo Escoteiro. Rico ajudava a todos que o procuravam. Recebeu dos escoteiros a medalha de gratido ouro. Foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. Ficou conhecido no mundo todo. S se apresentava de uniforme escoteiro. O prefeito da cidade em solenidade especial na praa lhe deu a Ordem do Cruzeiro do Sul. Ento o incrvel aconteceu. Ningum at hoje soube explicar. Um mistrio para os habitantes daquela cidadezinha. Quando colocaram medalha em seu peito, Chico Fumaa chorando, todos emocionados viram que a cidade ficou escura de uma hora para outra, no cu milhares de pssaros escreveram: RATAPL CHICO FUMAA NS TE AMAMOS PARA SEMPRE!

Lendas Escoteiras. A lobinha Dorothy e a Cigarra Azul do Lago Dourado. L, muito alm do arco-ris. Era apenas uma cigarra azul. Nunca ningum ligou para ela. No ms que todas cantavam para arrumar um namorado, ela simplesmente se calava. Gostava de ficar no tronco da frondosa figueira prximo de sua morada no Lago Dourado do Arco-ris. Era o ms das flores, das abelhas procurando mel, dos beija-flores coloridos a procura do nctar para sobreviver. Suas amigas estavam espalhadas pelo bosque, cantando, pois este era o destino de todas. Era como se fosse na Jngal, na poca da Embriagues da Primavera, onde todos ficavam contentes, corriam pelos campos sorriam e cantavam. Isto no acontecia com a Cigarra Azul. No ela. Nunca foi feliz. No sabia por que todas

as cigarras eram cinza esverdeadas e ela azul. No podia entender. Na brisa fresca da manh, ouviu uma vozinha doce e suave a lhe dizer Canta minha linda cigarra. Porque voc no canta? A cigarra Azul olhou espantada. Viu uma menina vestida de azul, com um leno verde e amarelo e um bonezinho azul sorrindo para ela. Quem voc? Perguntou a Cigarra Azul Eu? Eu sou a Dorothy, da matilha azul como voc. Sou uma lobinha minha amiga Cigarra Azul. Ela ficou a pensar como podia conversar com aquela menininha to magrinha, com uns olhos fundos e tristes, que mal conseguia ficar de p. - Eu no posso cantar! Respondeu. Porque no pode? Porque sou azul e todas so cinza esverdeada. Sou diferente. Nunca terei uma famlia. Nunca serei ningum! Dorothy pediu de novo, desta vez quase chorando: Cigarra Azul cante para mim. Prometo que cantarei com voc. Irei aprender a letra e a melodia e ambas cantaremos juntas. A cigarra ficou pensando porque aquela menina insistia tanto para ela cantar. Dorothy ento disse a ela Sabe Cigarra Azul, eu tambm estou muito triste. Eu tenho uma doena que me acompanha desde que nasci. Meus pulmes sempre me do falta de ar, tenho dificuldades para respirar e sinto um aperto no peito e tenho tosse. Sou lobinha, mas sou uma lobinha triste. Quero brincar e correr como todo mundo, mas a minha Aquel no deixa. Diz que no posso ficar no sol, noite no posso ver o cu, e nem ver o amanhecer do dia, pois no posso tambm pegar o orvalho que cai. Veja! Ando sempre com esta bombinha. Ela me d certo alvio. A Cigarra Azul ficou triste mais ainda. Viu que a menina dos olhos cinzentos era mais triste que ela. Resolveu cantar e sorriu para a Dorothy. - Voc sabe cantar msica Muito alm do arco-ris? No sei, respondeu Dorothy. Mas cante que vou aprender. A Cigarra Azul tinha uma linda voz. Encantou logo a menina Dorothy. Assim ela comeou: - Alm do arco-ris, pode ser que algum, veja em meus olhos, o que eu no posso ver. - Alm do arco-ris, s eu sei que o amor poder me dar tudo que eu sonhei... Nesta hora Cigarra Azul parou de cantar. Sentiu que uma pedra atingira suas asinhas. Caiu no cho desmaiada. Dorothy no podia acreditar. Olhou e viu Pedrinho um lobinho com vrias pedras na mo. Chorou e gritou com ele Voc matou a Cigarra Azul! Pedrinho ria. A Aquel veio correndo e viu o que aconteceu. Durante toda o Acantonamento Dorothy chorou. No se conformava. No dia seguinte aps o cerimonial de bandeira, Dorothy deu mais ultima olhada para o tronco da figueira. Sabia que no ia ver nada, no custava olhar. Pedrinho a procurou chorando. Pedindo desculpas, pedindo perdo. Dorothy no sabia o que dizer. Afinal ele matou a Cigarra Azul! E ento, surgindo no final do bosque eis que surge ela, a linda Cigarra azul, acompanhada de outra cigarra verde garrafa. A lobinha Dorothy no cabia em si de contente. Ria, e at comeou a cantar. A Cigarra Azul sorria. Dorothy, a cigarra dizia Este meu namorado. Ele me socorreu. Levou-me at onde esta o Arco-ris. O homem que mora l, um velhinho de asas azuis me colocou as asas de volta. Agora estou feliz. A Aquel

chamou todos para embarcar. Dorothy no queria ir. V disse a Cigarra Azul. Volte no ano que vem. Estarei aqui para cantamos e sorrirmos muito. Quando chegou a sua casa, contou tudo para sua me e seu pai. Eles sorriram. Viram que ela tinha mudado. J no usava a bombinha. Achavam que Deus lhe deram um presente. A sade de Dorothy. A noite de domingo seu pai disse que tinha alugado um filme para ela. Um lindo filme que ele tinha assistido quando criana. O Mgico de z. Era o filme mais lindo que ela tinha assistido. A menina tambm se chamava Dorothy e a musica era igualzinha a que a Cigarra Azul cantou para ela: - Um dia a estrela vai brilhar, e o sonho vai virar realidade. - E leve o tempo que levar, eu sei que eu encontrarei a felicidade, - Alm do arco-ris, um lugar que eu guardo em segredo e, Que s eu sei chegar... - Me fez ver que o amor dos meus sonhos tinha de ser voc... Todos os anos Dorothy ia sempre acantonar com sua Alcateia no Lago Dourado. L ela encontrava a Cigarra Azul, seu namorado e agora eles tinham quatro filhos, duas lindas Cigarras verde garrafa e duas outras lindas cigarras azuis! Ei! Deixe-me contar. Pedrinho virou ao avesso. Transformou-se no mais disciplinado lobinho da Alcateia. E assim termina a lenda e quem sabe a real histria de Dorothy e a Cigarra Azul que morava l, no Lago Dourado muito alm do Arco-ris.

Lendas escoteiras. As nvoas brancas do Rio Formoso. O nada a profecia da minha partida o tudo sopro que busca aquiescer sou uma cor do arco-ris... Perdida o lume solar na gota de chuva a correr para beijar a nvoa que deita escondida a deleitar-se nos braos do amanhecer Cellina Faz muito, muito tempo quando a nossa Patrulha Snior descobriu as lindas e espetaculares cachoeiras do Rio Formoso. Eram incrivelmente belas. Ainda sem rastros humanos. Pensei comigo que precisava acampar ali. Trs quedas simultneas, um som imperdvel das cataratas caindo sobre as pedras e dando outro salto no espao. Em volta uma floresta ainda inspita. A nvoa se formava a qualquer hora do dia. Uma viso fantstica. Quando vi pela primeira vez eu estava com meus quinze quase entrando nos dezesseis anos. Descobrimos por acaso. Uma jornada at o Serrado do Gavio onde existiam milhares de Folhas Secas. Um terreno vazio, sem rvores e muitas folhas. Era

um mistrio saber de onde vinham. Soubemos da histria. Vamos l disse o Romildo. Patrulha Snior, cheia de ardor, procurando aventuras, vontade de enfrentar desafios e nada como descobrir. Est no sangue dos seniores. O caminho iniciava na Mata do Tenente, famosa porque uma tropa do exrcito ficou vinte dias perdidos nela. Saram com dificuldade, fracos e quase morreram. Bem, eles no eram escoteiros como ns. Risos. A mata no era um obstculo e o rio tambm no. Dava para andar bem nas suas margens. Com quatro horas de viagem, vimos uma bruma cinza que se espraiava no ar. A mata parecia que estava em chamas. Que seria? O ribombar da cachoeira nos fez estremecer. Um espetculo magnifico. Incrivelmente fantstico! A cachoeira formava redemoinhos no ar. Uma nuvem de vapor cobria certas partes da queda dgua. Os pssaros se deleitavam. Voavam de supimpa naqueles redemoinhos e saiam do outro lado molhados como se estivessem sorrindo. No entendemos o porqu da nvoa. O Rio Formoso era todo formado por quedas de diversos tamanhos e na falta delas, as corredeiras davam outro brilho aquele magnfico rio. Quem o batizou deveria ter sonhado muito com coisas belas, pois o Rio era formoso e um grande espetculo. Pretendamos chegar ao Serrado do Gavio ainda naquela tarde e se no parssemos nossa jornada seria cumprida. No entanto o espetculo a cachoeira nos hipnotizava. Sentamos numa pedra prxima e os barulhos das quedas dgua eram to intensos que mal dava para conversarmos. O ribombar das guas batendo nas pedras eram imensos. Romildo levantou e fez o sinal. Mochilas as costas. Fomos em frente. Com tristeza, pois sabamos que na volta o caminho no seria o mesmo. Voltaramos pela Mata do Peixoto j conhecida. Subimos as pedras, olhamos novamente, pois amos embrenhar na mata longe do Rio Formoso. Impossvel prosseguir. Aquela cachoeira nos hipnotizou. Parecia dizer para ns que no podamos deix-la sozinha na noite que estava por vir. Paramos. Um crculo de seis seniores se formou. Ir ou parar? Seis votos a favor, nenhum contra. Todos escolheram e Romildo aceitou. Escolhemos um local prximo primeira queda para pernoitar. No armamos barracas. Iriamos dormir sob as estrelas em pedras lisas que as enchentes do Rio Formoso nos reservaram. Sem sinal de chuva. Vermelho ao sol por, delicia do pastor. A noite chegou um jantarzinho gostoso foi servido pelo nosso cozinheiro. Fumanchu. Comemos ali mesmo olhando para as quedas no lusco fusco da tarde. Um espetculo maravilhoso. Era uma viso dos Deuses. Ficamos horas e horas sem conversar. O barulho era imenso. Cada um de ns meditava as maravilhas que nos so reservadas pelo Mestre. A noite chegou de mansinho, o espetculo maior ainda estava por vir. Uma bruma em forma de nevoa branca foi tomando conta onde estvamos e penetrando na mata calmamente. Ainda mudos. Cada um olhando. Aqui e ali um canto de um gavio procurando seu ninho. Israel acendeu um fogo. Pequeno. As chamas se misturavam com a nvoa branca. Raios vermelhos das chamas ultrapassaram a nevoa. Que espetculo! Um cu colorido como se fossem milhares de arco ris noturnos. Ningum queria falar. Ningum falou em dormir. No sei quanto tempo

ali ficamos. Estvamos como encantados por uma feiticeira perdida no tempo naquela nvoa e esquecidos de quem ramos. Acordei de madrugada. Amanhecendo. O rosto molhado com o orvalho que caia da bruma branca que nos fez companhia toda a noite. Cada um foi levantando. Arrumamos nossa tralha. Comemos uns biscoitos de polvilho. Olhamos pela ltima vez aquelas quedas que nos levou sem saber a um paraso perdido daquele rio que chamavam de Formoso. Calados e mochilas as costas nos pomos em marcha. Algum olhou para trs, a nvoa branca se dissipava. Deu para ver centenas de pssaros se molhando nos respingos da cascata imensa. Durante horas ningum falou. Sempre olhando para trs. Somente o pequeno trovejar ainda se ouvia das quedas que j haviam desaparecido no horizonte. Nunca mais voltei l. Ningum de ns voltou. Passaram uma cerca de arame farpado em tudo. O homem s o homem resolvia quem entra e quem sai. J no havia mais a natureza, pois foi substituda pelos desmandos do ser humano. Aquele que mesmo chegando depois dela, diz arrogantemente: sou o dono da terra, dono da natureza. Quanto ao Serrado do Gavio outra historia. No deixou tantas saudades como a Nvoa branca do Rio Formoso. Oba! Uma histria verdadeira. Saudades...

Lendas Escoteiras As aventuras de Marquito, o lobinho que queria voar. Marquito no pensava em outra coisa. Tudo bem que era estudioso e obediente, mas tinha uma ideia fixa. Uma verdadeira obsesso. Ele sonhava em voar. Aquilo ficava em sua mente desde que acordava at quando ia dormir. Como fazer? Como deslizar pelo cu como se fosse uma guia dourada levada pelo vento? Ele pensava. Havia de ter um jeito. Sua me comeou a ficar preocupada. Leu sobre meninos que vestindo uniforme de Batman, Super Homem pulavam de rvores ou de sacadas de apartamentos. Ela tinha medo e conversava sempre com ele. - No se preocupe mame, nunca colocarei minha vida em perigo. Ela acreditava. Sabia que Marquito alm de ser um bom filho era tambm um grande lobinho. Sempre recitava para ela as Leis do Lobinho e nunca deixava de dizer que o Lobinho ouve sempre os velhos lobos. Na Alcateia todos sabiam do seu sonho. Ningum ria dele, pois o respeitavam muito. Non e Maryangela de sua matilha verde sempre eram seus ouvintes favoritos. Ele contava tudo que aprendia e lia sobre como voar pelos cus. Um dia sua me comprou um computador para ele. Ele sonhava em ter um. Fazer pesquisas, j pensou? No deu outra. Voltando da escola, aps fazer seus deveres escolares l estava Marquito pesquisando Um Ultra Leve pode com facilidade ser montado ou armados na rea de decolagem. E tambm

desmontados ou desarmados na rea de pouso. Um Ultra Leve deve ter o peso mximo igual ou inferior a 70 kgf. Marquito anotava tudo. Agora os materiais para construir um em casa. Ao inox? Impossvel. Tela de polister e fibra de vidro? Nem sabia o que era isto. Mas embaixo uma noticia o animou. Com madeira voc pode construir um ultraleve por menos de dez mil reais, claro sem o motor. Ele no tinha, mas sabia onde conseguir. Na Madeireira do Seu Leopoldo. Ele lhe daria tinha certeza. Afinal era o pai de Maryangela e da diretoria do Grupo Escoteiro. No foi fcil convenc-lo. Ele e Maryangela ficaram horas falando e falando. Tudo bem, vou lhe dar disse Mas quero ver toda semana seu trabalho. Beleza! Mos a obra. Pegaram o desenho na internet. A alcateia em peso ia todos os dias no quintal da casa de Marquito para ver sua construo e ajudar. No foi fcil. Terminaram trs meses depois. Uma geringona de madeira. Seu Leopoldo deu risadas. Isto nunca vai voar. A Akel foi l para ver. Valeu Marquito. Valeu o esforo. Quem sabe agora ele desistia desta ideia estapafrdia de voar? Nada disto. Com a colaborao da Matilha azul, amarela e a sua a verde, levaram o ultraleve para um morro prximo. Sem motor? Perguntou Non. No se preocupe. Ele vai voar disse Marquito. Parecia que ele adivinhava. Um p de vento se aproximava. Marquito e Maryangela se amarraram na geringona. O vento os pegou em cheio. Subiram aos cus. Alto. Muito. O vento se foi. O Ultraleve plainava. Incrvel! A cidade inteira na rua. Os carros pararam. O povo boquiaberto. L em cima Marquito e Maryangela cantavam a plenos pulmes A promessa de Mowgly era matar o Shery Cann, para a paz de seu povo de Akel e o seu Cl! Uma festa. Foguetes apareceram no se sabia de onde. Pousaram no Aero Club local. Dois pilotos o seu Jonas e o seu Martinho foram olhar. No entenderam nada. Como aquele monte de taboas pregadas de qualquer jeito plainou? O povo todo chegou ao Aero Club. Uma salva de palma. Marquito e Maryangela foram carregados. No sbado na reunio, abraos, parabns e ambos foram chamados na diretoria. Sorrisos. Era a vez dos Diretores darem os parabns pensaram. L estavam os diretores do grupo, o Diretor Tcnico, A Akel o Balu o delegado, o tenente da aeronutica e sua me! Nossa! Mas no foi nada do que eles pensaram. Falaram tanto. Das normas de segurana para aviao, de voar sem permisso, de ser menor de idade, enfim, eles ouviram tudo calados. O tenente pediu a Marquito que nunca mais fizesse isto. Ele prometeu. Voltaram para a reunio de Alcateia. Cabisbaixos. Olhando seus amigos de esguelha. Todos vieram correndo para abra-los. Marquito sorriu, mas ele tinha palavra prometeu que nunca mais faria aquilo e o lobinho diz sempre a verdade. Um dia sua me o viu pesquisando na internet. O que procura Marquito? Nada mame, eu estou vendo o que ser abduzido. Dizem que os aliengenas abduzem os terrqueos para lev-los em seu disco voador. J pensou se eu fosse voar em um? A me de Marquito se assustou. De novo? No se preocupe mame. Prometi no voar mais lembra? Bem, a histria termina

aqui. Mas os sonhos de Marquito? No sei. Dizem que sonhos de criana no terminam nunca. Eu que os diga nos meus sonhos aventureiros que um dia fiz neste mundo de meu Deus!

Lendas Escoteiras. Martinha escoteira e o Rei da cidade de Galiza. - Porque no posso passar? Perguntou Martinha. Porque no. Ordens do Rei da Galiza. No conheo e nunca ouvi falar No importa aqui vocs no passam. Martinha olhou de soslaio aquele enorme homem vestido com uma tnica vermelha, um capacete azul e uma grande espada na cintura. Martinha era Submonitora da Patrulha Touro. Estavam acampados prximo ao arraial do Martelo que pertencia cidade de Taumi. Ela e Laurinha estavam cata de lenha para o jantar e um fogo noturno onde uma gostosa Conversa ao P do Fogo sempre acontecia noite antes de dormir. No estavam longe do campo de patrulha. Avistaram um descampado e foram surpreendidas por este homem vestindo a moda romana. Seria alguma prova da Chefe Marta? Mas qual o objetivo? - Mas moo, insistiu Martinha ali do outro lado tem muita lenha e precisamos. Ainda no terminamos o jantar e a noite tem conversa ao p do fogo. O que direi a monitora? O homem da tnica vermelha pensou e pensou. Ser que poderia deixar? E o Rei da Galiza o que diria depois? V, mas s at aquela rvore. Se passar eu terei que levar voc na presena do Rei. Martinha pensou e Laurinha riu. Acha que este homem real? No sei falou Martinha. Mas sabe, gostaria de conhecer este Rei da Galiza. Voc vai comigo? E agora pensou Laurinha. No estavam obedecendo s ordens do Chefe e da Monitora. Mas conhecer um Rei? Vamos, seja o que Deus quiser. E atravessaram a cerca e passaram dos limites permitidos. O homem da tnica vermelha no titubeou. Pegou as duas pelo brao, soprou no horizonte e uma ponte com um lindo arco ris apareceu. Elas atravessaram a ponte com ele no meio das nuvens brancas e avistaram o Castelo do Rei da Galiza. Passaram pelo porto e quando entraram no castelo viram um magnfico salo de refeies, as mesas faiscando de ouro e prata, carregadas de finos manjares, as vestes suntuosas que envergavam o Rei e seus cortezes e os nobres e venerveis semblantes de todos os presentes, ficaram cheias de espanto e admirao pelo esplendor da corte do Rei da Galiza. Nunca poderiam imaginar nem em sonhos mais arrojados que conheceriam a metade do esplendor e da sabedoria que estavam conhecendo. O Rei mandou que se aproximassem. Mandou-as sentar ao seu lado e servirem a elas todos os manjares Quem so vocs? Perguntou. Senhor Rei da Galiza, somos escoteiras da Patrulha Touro. Do Grupo Escoteiro Lua Azul. O rei olhou para todos e espantado perguntou: Escoteiras? E que fazem? Ns Senhor Rei, gostamos de acampar, excursionar, viver a natureza, amar a Deus

sobre todas as coisas, fazemos boas aes, somos alegres, respeitamos os direitos dos outros, temos palavra, somos leais, somos amigos de todos e at dos animais. E tambm Senhor Rei da Galiza, temos por obrigao ser pura em nossos pensamentos, nossas palavras e nossas aes! O Rei da Galiza ficou estupefato. Chamou o Gro Vizir e disse a ele para anotar tudo. A partir daquele dia, todo seu reino seria como as escoteiras. Que suas palavras fossem levadas nas escolas, nas ruas, nos campos de trigo, nas casas e em todos habitantes do castelo. Levantou e abraou as escoteiras com carinho. Depois do jantar mandou o Homem da Tnica vermelha as levarem at onde estavam acampadas. J estava escurecendo. Atravessaram o Arco Iris cheio de luzes e o homem desapareceu. Martinha e Laurinha pensaram muito se contariam a Patrulha. Acharam melhor contar em forma de esquete a noite no fogo de conselho. Assim foi feito. As escoteiras riram muito. De onde tiraram a ideia do Rei da Galiza? Perguntou a monitora. Martinha olhou para Laurinha e deram muitas risadas. Mas estavam alegres, pois agora o reino iria aprender muito da Lei das Escoteiras. Estavam orgulhosas por ajudarem. E sempre, por anos a fio, quando Martinha e Laurinha acampavam ali, encontravam o homem da Tnica Vermelha e iam visitar o Rei da Galiza. Ficaram amigos para sempre. Guardaram o segredo, pois o Rei assim o quis. E at hoje, ambas nunca deixaram de fazer uma visita naquele reino onde palavra tica e a honra se tornaram um modo de vida de seus habitantes!

Histrias de escoteiros. Nomia, a feia. Nomia era feia. Muito feia. Sua me reclamou com Deus porque lhe dera uma filha to feia. Afinal ela apesar dos seus trinta anos ainda era bonita e quando mais jovem considerada a mais linda da cidade. Mas Nomia no. Olhar para ela era desagradvel. Seu nariz amassado, sua boca com um corte desproporcional e seus olhos estrbicos davam asco para alguns e pena para outros. Nascera assim. A principio Nair sua me se revoltou, mas depois sentiu um amor por ela to grande que achava ela a menina mais linda que conhecera. Entretanto quando fizera dois anos uma surpresa. Sua inteligncia. Leu seu primeiro livro com dois anos. Aos trs frequentava a biblioteca da cidade onde lia dez livros por ms. Se ficasse mais tempo l leria outros tantos. Fazia contas como se fosse uma matemtica cientista. Na escola no pode continuar. Ensinava para as professoras com cinco anos. Ningum a queria na classe. Nair mal assinava o nome. Era diarista e nos fins de semana passava roupa para a vizinhana. Era assim que sobreviviam. No entendia nada de crianas superdotadas e muito menos a quem procurar para ajudar. Aos seis Nomia no tinha mais nada para ler. Achou no fundo do ba da biblioteca dois livros, um de Rudyard Kipling outro de um general chamado Baden Powell. Encantou-se com os lobinhos e com os escoteiros.

Procurou tudo que falava nos escoteiros. Tudo gravado na mente. Tornou-se uma expert em escotismo. Um Dia viu passando umas meninas de uniforme. Foi atrs delas e descobriu onde era sua sede. Nomia quase no andava na rua. Usava um bon em cima dos olhos tapando o rosto para evitar que a vissem. Sabia da expresso das pessoas quando olhava para ela. Ficou de longe observando as meninas. Viu logo que era uma tropa feminina. Sabia como era, pois escotismo para ela no era segredo. Todo o sbado l ia Nomia assistir as reunies. Um sorriso torto brotava em seu rosto. Que vontade de participar! Mas como? Sabia que todos iriam olhar para ela apalermados e com medo. Se fossem acampar ningum iria querer ficar com ela na barraca. Foi Marisa quem lhe dirigiu a palavra pela primeira vez. Marisa era monitora da Patrulha Ona pintada. Ol! Porque no vem participar conosco? Precisamos de seis, pois estamos com cinco e as bases que sero aplicadas no d para fazer com cinco! Nomia assustou. Levantou seu bon para que Marisa pudesse ver como ela era. Marisa nem a. Pegou em sua mo e a levou at a Patrulha. Apresentou a todas. Nomia no cabia de felicidade. Nas bases sabia tudo. Mais de trinta ns. A rosa dos ventos fazia com olhos fechados. Orientao era fichinha para ela. Leitura de mapas ento! Toda a Patrulha ria a mais no poder. Um verdadeiro banho nas outras patrulhas. A Chefe Valquria assustou com aquela menina feia. Feia mesmo. Mas como sabia de escotismo. - Onde aprendeu? - Chefe, eu li nos livros da biblioteca. Leu? Sim Chefe. Foi ento que a Chefe Valquria viu que estava diante de uma superdotada. Aps a reunio a levou em casa. Conversou com sua me. Disse que era diretora do Colgio Estadual. Podia conseguir uma escola prpria para Nomia. O que o destino. Tudo mudou na vida de Nomia. Uma recepo que nunca tinha pensado receber com os escoteiros. Nomia aonde ia conquistava amigos. Os escoteiros do distrito tinham por ela um grande respeito. Um dia um escoteirinho chamado Noel lhe disse Nomia, voc tem o corao mais lindo que j vi. Ele tem uma chama amarela que solta nuvens de amor. Nomia chorou aquele dia. Incrvel como o escotismo deu a Nomia um novo sentido da vida. Ajudava a diretoria, ajudava aos chefes com sugestes de reunies, com jogos, e olhe ningum nunca reclamou. Nomia cresceu. J no era a menina feia que todos achavam. A cidade aprendeu a amar aquela jovem e hoje eu sei que ela se formou em direito e diz que vai ser juza. Muito bem. Viva a Nomia a feia que mostrou que o amor, o conhecimento e a vontade de ajudar maior que tudo!

Crnicas de um Chefe Escoteiro. A rvore das folhas rosa.

Era uma viso incrvel. Apareceu assim do nada. Se fez presente para sempre em nossas vidas. Dizem por a que s os escoteiros tm o privilegio de ver e ouvir coisas, pois eles tm o dom de enxergar de outra maneira a natureza hoje perseguida de maneira implacvel pelos homens. Acredito piamente que isto real. Estava eu em uma pequena trilha, mais quatro amigos escoteiros, todos em fila indiana, tentando cortar caminho para chegar ao Tanque dos Afogados. Desculpem, no morreu ningum l e nem um tanque. Uma represa pequena, dcil, rasa, de guas cristalinas que por duas vezes ali estivemos acampando. Sempre passamos pelo caminho do Marqus mais de doze quilmetros. No lembro quem deu a ideia de cortar caminho em um vale entre duas montanhas. Nem sempre as boas ideias prevalecem. Passava da uma da tarde. Um sol a pico e queimando. Quase quatro horas de caminhada. O suor escorrendo pelo rosto, os olhos vermelhos e o chapelo de trs bicos faziam s vezes de um protetor carinhoso, mas que pouco ajudava. Um local descampado, sem rvores, quem sabe para pasto do gado que ao longe pastava calmamente. Pensei em parar, mas sempre um animando dizia: - Vamos chegar! Vamos chegar! s encontrar o vale das Vertentes. E esse no chegava nunca. Uma fome brava. Nem um biscoitinho a solta. J respirava com dificuldade quando avistei o paraso. Uma rvore. No uma rvore qualquer. Era enorme. Incrivelmente linda! Nunca tinha visto uma cerejeira igual. Florida, folhas e flores rosa destoando da natureza ao seu redor. S ela, ali, imponente e ao seu lado um pequeno riacho de guas claras. Viso maravilhosa. Um osis dos deuses do paraso naquele campo seco. Incrivelmente maravilhosa. Molhei o rosto calmamente. A sombra da cerejeira nos dava uma sensao de calma silenciosa e gostosa. Uma brisa fresca soprava de este para oeste. Sentamos embaixo prximo ao tronco. Ps levantados. Dizem ser bom para a circulao. Dez minutos, quinze, vinte. Uma hora. Ningum animava em partir. Estavam todos no mundo dos sonhos coloridos que s os escoteiros possuem. A tarde chegou mansamente. O sol estava se despedindo e prometendo voltar amanh. Vermelho atrs das montanhas verdejantes. Ainda de olhos fechados lembrei que tinha lido no sei onde A flor de cerejeira cai da rvore na primeira brisa mais forte, mas no dizemos que ela nunca viveu. Uma flor que s dura um dia, no menos bonita por isso. No queria abrir os olhos. No queria partir. Eu tinha encontrado o paraso. No disseram que o tempo relativo? Que a flor da cerejeira, por exemplo, dura apenas uma semana e mesmo se durasse mil anos ainda seria efmera? Flor to bela como ela no merecia durar eternamente? E o que eterno se no o que dura com tamanha intensidade? Dormi. No queira acordar. Agora a cerejeira no dava mais sombra. No precisava, a noite chegou escura, mas logo o claro das estrelas no cu dava o seu espetculo a parte. Reunio de Patrulha. Partir? Cinco a zero para ficar. Um foguinho. Uma sopa, um caf na brasa. Cantando baixinho a rvore da Montanha. O cu estrelado ainda dando seu espetculo maravilhoso. Um cometa passou correndo deixando um rastro brilhante. Fiz um pedido. Que a cerejeira em flor durasse

para sempre! Aos poucos alguns dormiam. A cerejeira das folhas rosa era nossa barraca. O tempo passou. Ao lado algum anjo velava o sono dos escoteiros. Abri os olhos mansamente, uma rstia de luz aportava l por trs das montanhas distantes. Era a madrugada chegando. O novo dia chegava sem fazer alarde. O orvalho caia de mansinho. A brisa eterna amiga no nos deixou. Um acalanto para nos dar um novo vigor no dia que chegava sem fazer rudo. O riacho ao lado parecia cantar canes de ninar. Pequenos peixinhos nadavam como a nos dizer bom dia! Mochila as costas. Olhares e sorrisos entre ns. Escoteiros avante! P na estrada, pois o sol agora j estava firme no horizonte. Nosso destino? O Tanque dos Afogados. E l fomos ns, em marcha de estrada sorrindo, mas saibam que nunca mais, em tempo algum, ns nos esquecemos da rvore das folhas rosa. Cerejeira em flor. Um amor, uma lembrana que ficou marcada para sempre! Quando eu for, um dia desses, Poeira ou folha levada No vento da madrugada, Serei um pouco do nada Invisvel, delicioso Que faz com que o teu ar Parea mais um olhar, Suave mistrio amoroso, Cidade de meu andar (Deste j to longo andar!) E talvez de meu repouso... Mario Quintana

Lendas escoteiras. Os anjos tambm so escoteiros. Ela nasceu em dezembro, dizem que foi no dia vinte e cinco no sei. Nasceu prematura com sete meses. Dona Esmeralda sorriu quando ela nasceu. Dizem tambm e eu no posso afirmar que no cu um claro enorme, como se vrios arcos ris cruzassem o espao iluminando a cidade de Espera Feliz. As pessoas correram para a rua e viram l ao longe uma estrela brilhante desaparecendo no espao. Na maternidade ningum sabia explicar. Rosa Maria sorria. Incrvel! Seu pai quando a colocou no colo ela piscou seus olhos negros grandes, como se dissesse sou eu, Rosa Maria. Voc sabe quem eu sou! Nasceu com dois quilos e meio. Ela ficou na maternidade por duas semanas e foi liberada a ir para casa. Foi um dia que Espera Feliz recebeu uma revoada de pssaros. Tinha canrios dourados, bem-te-vis azuis da cor do cu, araras verde e amarela fazendo acrobacias no cu azul. De novo o povo saiu s ruas. Ningum sabia o que acontecia. O Padre Rosaldo teve uma viso. Um anjo chegou a terra. Na sua

cidade. Quem seria o anjo? Ele se lembrou de uma frase de Augusto dos Anjos A esperana no murcha, ela no cansa, tambm como ela no sucumbe crena. Vo-se sonhos nas asas da descrena, voltam sonhos nas asas da esperana. Rosa Maria cresceu como uma jovem menina sonhadora. No tinha foras para brincar como as outras. Na escola s fazia o bem, dizia amar a todos e ela tinha o mais lindo olhar que uma criana teria. No era a primeira da classe e nem tinha super poderes. Mas os amigos e amigas sabiam que ela era especial. Naquele ano, quando ela completou sete primaveras, o Grupo Escoteiro Estrela Verde foi fundado. Rosa Maria se inscreveu. Sua me no foi contra s preveniu os chefes sobre sua fraqueza. Na primeira excurso no quiseram que ela fosse. Iam andar muito a p. Ela insistiu. Foi. Todos acharam muito estranho, ela parecia flutuar no ar mesmo que andando em passos largos. Todos na Patrulha amavam Rosa Maria. Mesmo a Patrulha querendo fazer tudo ela no deixava. Na sua promessa um fato significativo aconteceu. Um lindo casal de Tuiui, enormes, pousou no mastro da bandeira. No era comum. Principalmente naquela regio. Quando ela recebeu o distintivo, eles fizeram uma revoada e pousaram em seu ombro. Deste dia em diante uma serie de estranhos acontecimentos comearam a acontecer. A filha de Dona Matilde tinha quatro anos e estava entre a vida e a morte. Rosa Maria indo para sua casa aps a reunio, viu varias pessoas na porta. Entrou. Colocou sua mozinha na dela e a beijou. A menina sorriu e sentou na cama. Ningum entendia. As duas comearam a cantar e brincar de roda. A cidade ficou sabendo. Sempre algum querendo milagres de Rosa Maria. No houve outros. No at ela fazer doze anos. J Escoteira. Espera Feliz sofria uma enorme seca. O gado nas fazendas morria de sede. Os rios estavam secando. Muitos abandonavam a cidade em busca de sonhos que ali no se realizaram. Pela manh viram Rosa Maria, uniformizada, em p e em cima de um banco da praa, mos abertas, olhando para o cu. Nuvens negras apareceram. Uma chuva fina comeou a cair. Os rios voltaram. Os pastos ficaram verdes. Houve dezenas de casos. O Padre Rosaldo escreveu para o Bispo. Anjo ou Demnio? Ele se lembrou de uma frase de Michele Amigos so anjos que no s nos ensinam a voar como tambm nos mostram a hora de pousar na realidade. Um padre de Roma chegou cidade. Um pouco tarde. Uma tosse frentica tomou conta do corpo de Rosa Maria. Disseram que ela estava com leucemia. Ficou entre a vida e a morte por trs meses. Um dia pediu sua me que lhe trouxessem seu uniforme. Com dificuldade o vestiu. Contra os desejos dos mdicos foi reunio. Deixaram. Seria sua ultima vontade. Na sede todos a receberam com abraos e beijos. Ela pediu para falar no cerimonial de Bandeira. No falou muito. Disse que ia para o cu. L tambm lindo, l tambm os anjos so escoteiros e escoteiras. Eles acampam nas estrelas distantes. Fazem jornadas na Grande Nuvem de Magalhaes, dormem na Via Lctea e adoram passear em Andrmeda. Todos estavam em silencio. Ela tossiu um pouco e continuou. Deus um dia muito ocupado resolveu criar anjos pra auxili-lo. Esses anjos chamam-se amigos. Vocs so

meus amigos. Que vocs escoteiros e escoteiras cumpram sua misso. Ajudem uns aos outros. No chorem por mim, vocs so meus amigos e amigos so como anjos sem asas. Mas que com um nico sorriso nos proporcionam tamanha alegria que nos levam at o cu. Eu vou embora logo, no quero que chorem. Devem sorrir e cantar canes alegres quando eu me for. As tristes machucam. Rosa Maria morreu numa tarde de dezembro. Dizem que foi no dia vinte e cinco de dezembro. No sei. Morreu sorrindo. Na Necrpole da cidade, l estavam todos. Os escoteiros e escoteiras foram dar seu ltimo adeus. No estavam chorando, mas seus olhos marejados de lgrimas era difcil de esconder. Cantaram varias canes. Todas alegres como ela queria. Eles lembraram-se de suas ltimas palavras no Grupo Escoteiro. Quando algum nos v chorar como se despencssemos de uma alta nuvem. Vocs so meus amigos. So anjos. Foram escolhidos por Deus. Devemos nos alegrar, consolar e compartilhar os momentos que criamos para ns mesmos. Amo todos vocs! Dizem, eu no sei que aquela noite milhares de cometas passavam brilhando no espao sideral sobre a cidade deixando um rastro colorido enorme, com cores azuis, brancas, amarelas, alaranjadas e vermelhas. Dizem tambm e eu no posso afirmar que o brilho das estrelas se superaram. E acho que no posso acreditar no que me disseram. Nasceu uma nova estrela no cu. Brilhante. Um brilho que quase ofuscava a lua quando aparecia. Ficou l, no cu de Espera Feliz para sempre! ** - algumas frases so do poeta Bruno Ciquetto.

Lendas escoteiras. Minha maior amiga foi uma Coruja. Eu conheci uma Coruja. Por favor, no riam de mim. No foi uma coruja qualquer. Imagine, ela me olhando e eu olhando para ela e pam! Surgiu uma amizade eterna. Eu era amigo de uma Coruja. Algum j foi amigo de uma Coruja? Eu fui e sou. Ela me disse um dia que apesar de ser um menino e ela uma ave, ela nos considerava irmos! Podem acreditar, pois eu acreditei! Eu tenho certeza do dia que surgiu a maior amizade que j encontrei em minha vida. Faz tempo. Muito tempo. Quem sabe mais de sessenta anos? Sim, acho que foi isso mesmo. Numa floresta densa, fumacenta, mas gostosamente adorvel. Difcil para caminhar, abrindo caminhos entre espinhos com meu basto, usando uma bssola silva velha de guerra, pele queimada, braos e pernas arranhadas, alguns profundos com sangue ao redor. Quem disse que paramos? Quem disse que voltamos ou desistimos? Nunca! Escoteiros no desistem! Ela me disse que nos acompanhava de longe. Disse que no sentiu pena de mim. No gostava de meninos. Eles eram malvados. Jogavam pedras. Disse que no viu meu rosto. Disse que o chapelo de trs bicos atrapalhavam.

Quando a vi pela primeira vez foi na clareira que fizemos. Difcil. Um matagal imenso. No foi em um Fogo de Conselho. No foi no. Lembro que fizemos um foguito pequeno, a clareira amarelou. Apenas uma Conversa ao p do Fogo. Canes, causos, planos de jornada, gargalhadas coisas de escoteiros. No vi as estrelas. As rvores no deixavam. No havia lua. Escuro. Muito escuro. Apenas nosso lampio vermelho com seu lusco fusco brilhava. Teve um momento sublime. Isto sempre acontece quando escoteiros esto reunio em plena floresta. Um silencio segundos que apenas os grilos zumbiam. Ela para chamar a ateno crocitava baixinho e me olhava com seus olhos negros profundos como se fosse me hipnotizar. Ningum viu. S eu. Todos foram dormir. Estavam cansados e eu tambm. A Coruja fez um sinal. Como se eu devesse ficar ali. Todos foram e eu fiquei. Um silencio tomou conta da floresta. Nem os grilos zumbiam mais. Vi alguns vagalumes ao lado da Coruja. Pareciam ser seus olhos noturnos a mostrar o caminho. Senti seu peso nos ombros quando ela pousou. Olhava para mim. No piscou. No sabia o que fazer. Dizem que na floresta as corujas so sbias, todos a procuram para aconselhar. Uma vez disseram que era o smbolo da deusa Atena. Ela a chamava de Olhos Brilhantes. Contaram-me que uma Sociedade Secreta de nome Bohemian Clube onde anualmente se encontravam s os poderosos eram convidados. Dizem que a reunio era em uma floresta ao norte de So Francisco, e ficavam em volta de uma grande pedra talhada como se fosse uma coruja. Escreveram em baixo: Weaving dealing spiders come not here. Parece que vem a ser uma frase de Shakespeare que significava: Deixe seus negcios sujos na porta. Dizem que poucos contam at hoje o segredo da cerimnia. Quem contou morreu de morte misteriosa. Mas isto no importa. Importa a amizade que fiz com a Coruja. Quantas coisas belas naquela noite conversamos. Eu contei minha vida de menino para ela. Ela me olhava e no piscava. A melhor ouvinte que j tive. Perguntei a ela se era uma ave de mau agouro. Ela riu. Quem sabe? Quem sabe? Disse. Mas olhe retrucou, quando tem uma festa no cu ou aqui na floresta eu pio e canto sem parar. Ela me disse que sabia canes Escoteiras. Ri baixinho. No acreditas? E comeou a cantar A Arvore da Montanha. Cantava com uma voz linda. Cantou outras. Notei que o por do sol aparecia atravs das rvores. Notei que eu tinha esquecido de tudo. At o orvalho da madrugada no o senti no rosto. Ela me olhou. Passamos uma bela noite juntos. Noite inesquecvel. Impossvel ter outra como aquela. Ela disse Adeus! Porque perguntei? Nunca mais voltarei. Dizem que entre ns quem conversa com meninos condenada ao exlio. Venha comigo! Venha morar comigo! Eu levo voc para a cidade! Fica na minha casa. L tem um p de Jacarand lindo! No posso ela disse e voou entre os galhos negros e a folhagem espessa para nunca mais voltar! Eu conheci uma Coruja. No foi uma Coruja qualquer. Imagine, ela me olhando e eu olhando para ela e pam! Surgiu uma amizade eterna. Eu era amigo de uma Coruja. Algum j foi amigo de uma Coruja? Eu fui e sou. Ela me disse um dia que apesar de ser um menino e ela uma ave, ela nos considerava

irmos! E acreditem! Eu acreditei! Pena que ela se foi e eu me fui tambm. Nunca mais voltei naquela floresta. No sei se ela j morreu se est no exlio. Eu? Estou aqui. Sempre lembrando daquela noite que conheci uma Coruja de Olhos Brilhantes. Apenas uma noite. Noite que nunca mais irei esquecer...

Lendas Escoteiras. O delicioso casamento do porquinho Markito, na Floresta Encantada do Seu Mathias. Markito era amigo do Nenm, que era amigo do Jofre, que era amigo do Leialdo, que era amigo do Natalino, que era amigo do Zefiraldo, que era amigo do Denis e que sempre foi amigo do Lel e Geraldinho. Bem, s tinha uma diferena. Markito era um lindo porquinho rajado de cinza com branco. Os demais escoteiros da Patrulha Pica-Pau. Desculpem. Sei que no esto entendo e vou explicar. A Patrulha Pica Pau era da Tropa Escoteira Santos Dumont e esta era do Grupo Escoteiro Leo do Norte. Eram muito amigos at o dia que apareceu Markito. Ningum no deu nada por ele. Estavam em reunio e eis que aparece um porquinho pequeno, branco e cinza e melhor, limpinho. Parecia porco de cinema. No cerimonial de bandeira ele ficou entre o Monitor da Pica-pau e o patrulheiro seis. Eles acharam graa e ningum falou nada. Nem o Chefe da tropa. Durante toda a reunio ele acompanhou a Patrulha. Quando foram para casa pensaram que nunca mais iam ver o porquinho. Engano. No sbado seguinte l estava ele, e no prximo e no prximo. Sem perceberem ele virou um patrulheiro. Formava, quando davam o grito ele grunhia junto. Em pouco tempo se tornou uma celebridade na tropa. Onde morava como se alimentava ningum nunca soube. Fizeram pesquisa na vizinha e nada. Dois meses depois a tropa foi para um acampamento de quatro dias aproveitando um feriado de finados na fazenda do Seu Mathias. Na sada ao subir no nibus l estava o porco. J o haviam apelidado de Markito. Disseram que ele parecia com um Snior namorador do grupo e quando ele soube disto virou bicho. Brigou, berrou, levou o caso para O Conselho de Tropa, para a Corte de Honra e nada. O apelido do porco ficou. Markito deu um salto gigante. Bateram palmas para ele, mas subiu com elegncia os degraus do nibus. O acampamento foi uma festa. Markito era o mximo. No terceiro dia ele sumiu de manh. L pelas trs da tarde apareceu. Agora com uma companheira. Uma porquinha linda. Dizem que ele falou com o Denis, no acredito nisto, mas o Denis era um bom Escoteiro e no mentia nunca. Chefe, disse o Denis. Markito quer casar. Casar? O Chefe deu boas risadas. Ele quer que eu faa o casamento? Sim Chefe. Se ele quer assim porque no? Diga a ele que amanh no fogo do conselho eu irei celebrar ao casamento dele com a... Qual o nome dela? Fiorentina Chefe. Ele insiste que

chamem o Seu Mathias. Ele ser o padrinho. A tropa quando soube caiu na gargalhada. Foi o fogo do conselho mais gostoso que participaram. Em determinado momento o Chefe anunciou o casamento do porco Markito e a porca Fiorentina. Quando iam iniciar um fato inusitado. A arena do fogo se encheu de porcos, cavalos, bois, bezerros, galinhas, galos, cabras, gatos, cachorros e uma passarinhada enorme. No teve jeito. O casamento foi feito. Os escoteiros ficaram boquiabertos. A bicharada comeou a cantar, a danar e at uma Coruja com voz de anjo e acompanhada por um violo tocado pelo Urubu Rei engrandeceu aquele casamento histrico. O fato deveria ficar entre quatro paredes, mas no se sabe como na cidade de Bela Aurora uma semana depois se encheu de reprteres de todos os jornais e TV do pas. Todos queriam conhecer Markito e Fiorentina. Mas eles? Sumiram. Procuraram em todo o lugar. Uma semana depois um jornal do Rio de Janeiro publicou que o casal foi visto em Bzios na praia das Caravelas se revezando na linda e tranquila praia da Tartaruga com suas guas transparentes. S dois meses depois quase no final da reunio, foi que Markito e Florentina apareceram na sede. Ele com a barriga bem grande e Markito sorria de felicidade. Contou para o Denis que no ia voltar mais para a Patrulha Picapau. Construram uma casinha na Ladeira do Porco, prximo a fazenda do Senhor Mathias, e l pretendiam viver suas vidas. Todos desejaram felicidades e assim termina a histria do Porco Markito, sua esposa Fiorentina e seus Filhos Newmar, Freed, Ronaldo, Pel e um porquinho azulado, pequeno bem raqutico que poucos olhavam para ele. Maradona! E acreditem se quiser. Eu conheci Markito e sua famlia. Mas eu sou um contador de histrias e poucos acreditam em mim. Risos. Para terminar, eu digo Boi no vaca, feijo no arroz. E quem quiser que conte dois!

Lendas Escoteiras. O Tigre dente-de-sabre da Gruta das Esmeraldas. Tem certas histrias que no deviam ser contadas. So aquelas que fazemos papel de bobo, e nos chamam de idiotas escoteiros. Lembro que os seniores viviam se gabando de suas aventuras que faziam em seus cavalos de ao. Eu tambm tinha um. Belo, cor vermelha, pneu balo faixa branca, Phillips importada e na Patrulha todos tinham a sua. Eu andava l pelos meus doze anos. A Patrulha j acampava sozinha. Tonho o Monitor era Primeira Classe e Vadico o sub. monitor Segunda Classe. Os demais Joventino e Clarinho tambm tinham sua Segunda Classe. Eu sabia que ia receber no ms seguinte. No devia nada a ningum nos meu conhecimentos escoteiros. Afinal j ia longe o dia que completei minhas vinte e cinco noites de acampamento.

Acho que foi em uma reunio de Patrulha, em uma quarta na casa do Moreno o socorrista que surgiu a ideia. Conversa vai, conversa vem lancei um desafio Afinal porque os seniores saem por a, fazem grandes jornadas, voltam contando patacas e ns escoteiros no fazemos nada? Todos me olharam espantados. Vadinho voc sabe que sem autorizao da Corte de Honra no podemos fazer nada. Disse Tonho. Portanto vamos ficar na nossa. No concordei. Continuei martelando. Olhe eu tenho uma ideia fantstica. J preparei tudo. Como nossos cavalos de ao sairemos em um sbado rumo a Lagoa dos Peixes. L vamos fazer um explorao na Gruta das Esmeraldas. At hoje ela pouco explorada. Levamos quatro carreteis de linha dois. Cada um tem mais de 300 metros. Amarramos na entrada e vamos at onde possamos chegar dentro da gruta. Voltar fcil. S seguir a linha e j pensaram quando souberem que fomos l? Vi nos olhos de cada um o desejo da aventura. continuei No falamos aonde vamos. Quem sabe diremos que fomos fazer uma explorao no Riacho Vermelho? No comentamos de ir l um dia para conhecer? Tonho coou a cabea. Faamos o seguinte no sbado vamos nos reunir aqui em casa depois da reunio. Cada um tente pesquisar na Biblioteca Central sobre a gruta. Vamos conversar, mas nada de tomar posio. Dito e feito. Eu j tinha tudo preparado. A gruta como sabem fica prximo a Lagoa dos Peixes. J foram explorados mais de 511 metros de extenso, mas dizem que so mais de 5.000 metros com tantas cavernas que fcil se perder. Feita de Rocha Calcria foi formada no passado por restos marinhos do fundo do mar raso, da bacia do Rio das Velhas. O primeiro homem a explorar a gruta foi o dinamarqus Peter Wilhelm Lund em 1835. Sei que depois muitos foram l. Descobriram restos de fsseis pr-histricos dentre eles o Tigre dente-de-sabre e a Preguia gigante. No teve jeito. Duas semanas depois em um sbado partimos bem cedo. Nossos Cavalos de Ao (bicicletas) levavam o que precisvamos. Sem barracas, pois dentro da gruta no precisava. Lanche e rao C. Quatros horas depois chegamos a sua entrada. Fcil. Sem vigia e toda a entrada coberta por uma vegetao rasteira. Comeamos a entrar na gruta. Levamos duas lanternas, usamos mais nossos trs lampies a querosene. Joventino e Clarinho tomavam conta dos carreteis de linha. Andamos mais de 600 metros. Uma escurido total. De vez em quando saiamos em belos sales que mesmo com pouca iluminao eram de tirar o folego. Lindo demais. Paramos por volta das duas da tarde em um salo gigantesco. Na parte baixa um belo de um lago que alm de raso tinha lindos peixes vermelhos e azuis a nadar em sua superfcie. As cinco Tonho sugeriu que no fossemos adiante. Dormir no salo e voltar no dia seguinte. Claro tudo era marcado pelo meu relgio e do Tonho. Os demais no tinham. Na escurido no sabamos se era dia ou noite. No foi fcil encontrar gravetos para o fogo. Mal deu para fazer uma sopa e um cafezinho. Todos cansados nem bate papo ouve. Nem uma conversa ao p do fogo. Estava dormindo quando fui acordado por um grito de Vadico. Levei o maior susto. Do outro lado do lago um enorme Tigre dente-de-sabre que nos olhava com enormes olhos negros. Tinha mais de dois metros de altura. Ficou andando de

um lado a outro pensando como atravessar o lago e fazer o seu banquete. No deu outra. Ningum ficou para trs. Aprontamos uma correria e nos perdemos de nossa linha que iria nos trazer de volta a entrada da gruta. Ficamos parados no fim de um corredor que no nos levava ao lugar algum. No ouvamos nenhum barulho. O ar parecia que estava acabando. Resolvemos voltar. Para onde? No tnhamos nenhum senso de direo. Bussola? Elas ali no funcionavam. Por sorte j era umas oito da noite de domingo achamos a linha. Para a direita ou esquerda? Votos e votos. Para a direita. Duas horas depois chegamos entrada. Cacilda! Que alegria. L escondida em uma moita de capim colonio estava nossos cavalos de ao. Chegamos a nossa cidade as duas da manh. Normal ningum deu por nossa falta. Sbado, tropa reunida, depois do cerimonial de bandeira Tonho pediu a palavra. Contou tudo. A Corte de Honra nos proibiu de sair s por seis meses! E o Tigre dente-de-sabre? Melhor calar. Contar para que? Para os seniores fazerem gozao? Hoje eu sei que a Gruta das Esmeraldas visitada por turistas que podem ver sua beleza de seus 511 metros que so abertos ao pblico. 16 sales fantsticos. O salo da Noiva e o Salo da Catedral pode-se ver imagens formando santos, plpitos e nichos. Quem sabe foi um destes que achamos ser um tigre dente-de-sabre e pensamos que estava vivo? Melhor parar por aqui. Sei que no acreditam que foi verdade. Que seja. Mas eu nunca mais esqueci a Gruta das Esmeraldas. Em minha vida Escoteira estive em vrias outras. Mas alm desta em nenhuma das demais teve o sabor de aventura da primeira. Pelo menos aprendi a no ser to afoito. No fui bom Escoteiro tentando fazer tudo escondido. Mas aprendi a lio. Isto nunca mais aconteceu! (os nomes aqui citados foram alterados para evitar familiares tristes, pois sei que todos j foram para o outro lado da vida. Breve estarei junto a eles e quem sabe teremos lindas grutas a explorar nas lindas estrelas perdidas da via lctea?).

Lendas Escoteiras. Memrias de Risadinha. Ele um bom companheiro, ele um bom Escoteiro! Risadinha. Nunca na minha vida conheci um Escoteiro como ele. Quando o conheci ele tinha entrado direto para a tropa com onze anos. Olhar o rosto, a maneira como andava j bastava para dar boas risadas. E o melhor, ele nunca se incomodou com isto. A principio o Chefe Laercio da tropa no entendeu bem aquele menino desengonado, risonho e que parecia no levar nada a srio. Basta dizer que na primeira reunio que ele foi apresentado a tropa ele olhou a todos, e perguntou: - Tropa, porque a roda do trem de ferro e no de borracha? A Tropa no entendeu nada. Seria uma nova maneira de apresentar? Mas no, risadinha logo emendou Porque se fosse de borracha

apagaria a linha! E Deitou no cho morrendo de rir. Era assim o Risadinha. Muitos riam mais do estilo dele que das piadas. Claro que no era e nunca foi um mau Escoteiro. Em pouco tempo j tinha seu cordo verde e amarelo e s no conseguiu o Lis de Ouro porque o Assistente Escoteiro do Distrito vetou. Um dia em uma reunio distrital de escoteiros ele adentrou o crculo e com seu estilo caracterstico gritou alto! Turma! O que a caixa de leite falou para o saquinho? Todos calados. Vem pra Caixa voc tambm. E deitava, e rolava de rir. O Assistente, jovem ainda e que no tinha senso de humor no gostou daquilo. No aprovou seu processo enquanto ele no mudasse. Mudar como? Era sua maneira, seu estilo. A tropa adorava, os seniores eram os que mais davam gargalhadas. De vez em quando Risadinha extrapolava. No desfile do Sete de Setembro estava programado um alto em frente ao palanque para uma saudao as autoridades. Assim foi feito. O Chefe Larcio gritou! Alto! Esquerda volver! Nesta hora Risadinha deu dois passos a frente e gritou: Doutor Prefeito! Doutor Prefeito! O Prefeito que no era Doutor falou O que foi meu jovem? Porque a mulher no pode ser eletricista? Por qu? Perguntou o prefeito. - Porque ela demora nova meses para dar a luz! E deitou no cho de rir. O palanque inteiro ria a valer. Foi um sucesso, mas o Comissrio do Distrito Malquiedes achou um absurdo. Mandou um ofcio para o Grupo Escoteiro pedindo sua sada. Claro que no foi atendido e isto no foi bom para o Grupo Escoteiro. Risadinha no parava. Mame, Mame! Na escola me chamaram de mentiroso! Cale-se moleque, voc ainda nem foi escola! E Risadinha no parava. Era na sua Patrulha, era na tropa, era em casa era na escola. Ficou conhecido. A cidade em peso adorava Risadinha. Quando ele passava sempre tinha algum que gritava: - Risadinha! Uma piada. Ele nunca negou. Seu estoque era infinito O condenado a morte esperava a hora da execuo, quando chegou o padre: - Meu filho vim trazer a palavra de Deus para voc. Perda de tempo seu padre. Daqui a pouco vou falar com Ele pessoalmente. Algum recado? E l estava ele deitado no cho rindo. Tudo piorou no Grupo Escoteiro quando O Chefe Laercio foi transferido pela sua empresa para outra cidade. No tinha assistentes e o Diretor Tcnico com muito custo convenceu um antigo Escoteiro a voltar. Minomatas era um sujeito triste. Revoltado com a vida. Aceitou mas logo viu que ali no era para ele. Ao ser apresentado Risadinha deu um passo frente. A tropa j sabia. Piada na certa. Chefo! O garoto que mora em meu bairro apanhou da vizinha. A me furiosa foi tomar satisfao. Porque bateu no meu filho? Ele foi mal educado. Me chamou de gorda. - E a senhora acha que vai emagrecer batendo nele? Foi conta. Chefe Minomatas pediu sua sada. Risadinha viu que a tropa ia ser prejudicada. Resolveu sair. Um inferno isto sim ele provocou para o Grupo Escoteiro. Os meninos iam reunio sentavam em um canto e no obedeciam a chamada. Um verdadeiro Motim. Depois os sniores aderiram e finalmente os lobinhos. O que fazer? Reunio e reunies aconteceram. Nada. Veio o Distrital e sua corte. Nada. O assunto foi

levado a regional. Nada. A nacional riu de tudo e tambm no fez nada. Risadinha foi convidado a voltar. Chefe Minomatas saiu do grupo. Um Pioneiro de nome Polenta assumiu. Garoto. Alegre, divertido. A tropa adorou. Chefe, o louco estava com um balde de gua e uma vara de pescar, o psiquiatra perguntou a ele O que voc est pescando? Idiotas, respondeu. Quantos voc j pegou? Trs, claro com o Senhor! O tempo passou. Soube que Risadinha conseguiu seu Escoteiro da Ptria. Sei tambm que cresceu e ficou famoso. O chamavam o maior piadista de todos os tempos. Comeou no SBT, depois foi para a Record e hoje tem um programa s dele na Rede Globo. Mame, Mame, me leva no circo? Se querem ver voc que venham aqui em casa! Risadinha. O mais divertido Escoteiro que conheci. A vida dizia ele para ser vivida com alegria. Para que chorar? Adianta? Acho que ele tinha razo. No foi Baden Powell quem disse que o Escoteiro alegre e sorri nas dificuldades? - O Menino vem correndo e diz me: - Me, voc uma mentirosa! - Mais por que voc diz isso meu filho? - Voc disse que meu irmozinho era um anjo! Eu joguei ele pela janela e ele no voou

Crnicas de um Chefe Escoteiro. happy ending Um final feliz! Como est lindo o sol. No sei por que nunca soube que ele seria to importante em minha vida. Nunca fui to feliz como agora. Sentia-me bem ali, melhor do que antes junto a amigos do bairro, soltando pipas, jogando bola, ou contando causos. Tentei convenc-los a ir comigo, mas riram dizendo que ser Escoteiro para trouxa. Eles coitados no tinham a menor ideia do que eu estava fazendo, mas eu sabia o que eles estavam fazendo. Eles no estavam fazendo nada. Nesta hora tenho certeza que alguns dormindo, outros na porta olhando a rua vazia e pensando no que iam fazer. Quanta diferena! Meu dia, cada dia era melhor que o outro. Para dizer a verdade at minha me duvidou que pudesse gostar tanto como gosto de ser Escoteiro. Meu nome Marcus. Nunca pensei em ser escoteiro. Tinha visto eles algumas vezes no parque, no shopping, e em bandos cantando e rindo pelas ruas do bairro. Bando de loucos pensava! E eis que um dia passei prxima a sede deles. Uma turma correndo, outra jogando, lobinhos de azuis procurando um tal de Mowgly, os grandes em cima de uma rvore dizendo que era um Ninho de guia. Pode? E fiquei ali parado olhando embasbacado e pensando comigo mesmo Que diabos era tudo isto? Risos. Desculpem os diabos. Maneira de dizer. Sem perceber me aproximei mais. Um Chefe sorridente me olhou e abanou o chapu dizendo Ol! J conhecia os escoteiros? No Senhor! Ento se aproxime. Se quiser voc brinca um pouco em uma patrulha e algum de l vai dizer a voc quem somos ns!

Foi o meu comeo. Nunca na vida tinha sentido algum igual. Uma turma que chamavam de Patrulha que pareciam irmos. Bem mais que irmos. Cada um sabia o que fazer. Sempre ajudando um ao outro. Em um jogo de quebra canela com um cobertor nenhuma canela foi quebrada, mas quantos tombos! Me contaram sobre como surgiu o escotismo. Do general Ingls que foi seu fundador. Ensinaram-me ns, alguns sinais de pista, me mostraram o cu e disseram que ele era tudo para os escoteiros, muitas vezes a barraca para dormir. Falaram no sol, que sempre caminha para o oeste, falaram do vento, das chuvas gostosas do vero, das noites de lua cheia, nas estrelas, das brisas frescas da manh de primavera, de um fogo que chamavam de Fogo do Conselho onde cantavam, brincavam e representavam. Meu Deus! Fiquei abismado. Voltei para casa correndo. Mame, Mame, voc precisa me matricular nos escoteiros! Olhem, acho que valeu. Foi deciso mais importante em minha vida. Meu Chefe que cara bacana. Alegre, jovial, espirito leve e solto a nos ouvir, compreender, aconselhar. Entrei na patrulha do Condor, me receberam com um grito de guerra. Aprendi logo. Gritava como nunca em minha casa. Minha famlia ria. Fiz minha promessa. Dia de festa, de fotos, de abraos dia que marcou para sempre meu corao Escoteiro. Todo ms saiamos da sede. Sempre para um lugar com cheiro da terra, onde poderia ter um riacho para brincar, para molhar os ps, para pescar! Em cada trs meses um acampamento. Estes ento! Incrveis. Cheios de aventuras. Uma vez seguimos os passos de um boi que havia entrado na mata. Fomos p ante p e o descobrimos comendo capim colonio como se nada acontecesse em sua volta. Fazamos coisas do arco da velha. Subamos em cordas em rvores frondosas, um dia inteiro preparando uma catapulta para ver que mandava mais longe uma bexiga cheia dgua! Quantas risadas! Uma ponte trs pontas. Fcil de fazer para atravessar uma vala ou um riacho. Uma noite um jogo que nunca esqueci. Minha Patrulha foi sorteada para passar em um trecho do bosque pelas outras trs e foi o mximo. Pintamos todo o corpo de preto. Aprendi a rastejar como exploradores noturnos e no consegui passar, mas dois da Patrulha conseguiram. E no ltimo dia foi o dia que chorei. E como chorei. Foi lindo. Acenderam o fogo com um palito de fsforos. Uma festa, o Escoteiro que acendeu recebeu seu batismo de guerra. Pulou trs vezes sobre o fogo e passou-se a chamar Nambiquara, aquele que inteligente, muito esperto. Que lindo foi! Breve eu tambm terei meu nome de guerra. Estou escolhendo. E a noite foi encerrada cantando. Cantamos a Cano da Promessa e aquela que sempre marca A Cano da Despedida, como emociona! Como a gente nunca mais esquece! Parece que a unio ali com as mos entrelaadas como uma promessa de amor ao escotismo para sempre! Foi bom. Muito bom mesmo. O Escotismo mudou minha vida. Meu grupo escoteiro agora minha segunda famlia. L tenho tudo que desejei. Adultos que parecem mais irmos, escoteiros e escoteiras que se respeitam. Dizem que l aprendemos no s a ser heri, mas tambm a ter palavra, honra e saber que a tica faz parte do nosso crescimento. Gente! Como sou feliz! Amo de monto o escotismo! Nunca mais

irei esquecer as horas mais felizes de minha vida que ele me deu vai dar-me por toda a vida!

Lendas escoteiras. O Fantasma do Capito Levegildo. Se no me engano tudo aconteceu em mil novecentos e setenta e um. Mais precisamente em novembro. Feriado de quinze de novembro. Uma poca que fiquei sem grupo e s atuava como Comissrio Regional. Estava sentindo falta dos meus acampamentos a escoteira. (aquele que anda s). Fazia mais de dois anos que no fazia um. Falei com Celia que ia acampar no feriado. Ela no gostava destes meus acampamentos, mas sabia que era um dos meus prediletos e aceitava contrariada. Ia pegar um nibus at o entroncamento de Cidade Nova com Monte Azul. Poderia ter ido de trem, mas era demorado. De nibus fiz com trs horas. De trem mais de nove. Meu destino era uma parte da serra da Mantiqueira pelo lado de Minas Gerais. Pretendia subir a serra por seis quilmetros at o riacho Seco. Risos. Nunca esteve seco. Sempre cheio. Sai na sexta noite e voltaria na segunda noite. O nibus me deixou no entroncamento por volta da duas da manh. Era o que planejara. Minha mochila estava pesada e ainda tinha meu bornal com meu farnel para seis refeies. Simples. Sempre foi assim. O arroz com feijo e eu completava com alguma pescaria ou caa. Caa simples com armadilhas. Cortei uma vara fina para me ajudar na subida. O sol estava nascendo quando cheguei ao Riacho Seco. Estava bem seco mesmo. Ainda bem que onde ia ficar tinha um bom remanso para nadar e pescar uns lambaris e traras. Tirei as tralhas das costas e comecei a montar o campo. Uma pequena cabana com folhas e por cima uma lona simples. Eram duas lonas a outra seria para fazer um toldo no meu fogo tropeiro. Passei boa parte da manh preparando meu campo. No sei por que, mas senti que estava sendo observado. Olhava e no via ningum. No vou mentir e dizer que no tenho medo de nada. Sempre tive. Mas o medo aprendi a combater com o medo. Quantas vezes no escuro no vi fantasmas de todos os tipos? Nossa viso cria fantasmas em um galho, um vento movimentando o capim o barulho da gua e at a chuva nos ajuda a sentir a pele enrijecer e muitas vezes fechamos os olhos para quando abrir rezar para que os fantasmas da mente desaparecessem da nossa vista. Mas a danada da percepo de estar sendo observado no terminava. Cuidei do que tinha de cuidar. Preparei um timo lenheiro. Se o tempo permanecesse firme ia dormir sob as estrelas. Adoro isto. Acampar sozinho uma ddiva. Os sons da natureza, dos bichos, pssaros dos insetos e do vento calmo ou forte para sul ou norte. Naquele sbado depois de tomar uma sopinha, sentei em um tronco frente ao fogo e quando ia iniciar a preparar meu cachimbo vi em cima do remanso uma figura brilhante.

A figura no se movimentava. Era diferente de tudo que tinha visto. Pelo menos pareceu. Pior ficar calado enquanto ele fazia barulho. Vamos enfrentar o bicho, pensei. Claro com medo, mas l fui eu at o remanso. A figura sumiu. Voltei. Uma viso de tica? Acho que no. Sentei novamente no meu tronco. Fazia um pouco de frio. Fui at minha mochila e peguei minha manta. Quando sai debaixo do meu abrigo dei de cara com o fantasma. No era grande. Era brilhante. Parecia uma figura destas do serto com perneiras, uma bota cano longo um enorme bigode e um chapu velho e amassado. Ol! Ele disse. Ol! Respondi. O fantasma falava. Bom isto. Nunca tinha visto nada na vida assim. Fantasma falante era novidade. No tenho mediunidade. Nem vozes ouvia. Senti o corao bater mais forte. - Posso tomar um caf com voc? Claro disse. Fiquei olhando como ele iria tomar o caf. Fantasmas so etreos. No seguram nada nesta vida. Mas eis que ele pegou minha caneca, tirou a chaleira do fogo e bebeu um belo gole. E olhe saia fumaa da caneca. Ele sentou numa ponta do tronco. Sabe! Ele disse. Gostei de voc. Entrou nas minhas terras sem pedir, mas vejo que educado. Observei voc o dia inteiro. S no gostei quando tomou banho e deitou na grama pelado. No gosto de homens pelados. J matei vrios assim na minha vida. Caramba! O fantasma era um pistoleiro! Estava comeando a tremer. O medo chegou. Estava difcil dominar. Ele no parava de falar. Convidou-me a ir at sua fazenda. Disse do horrio. Pode ser amanh? Ele riu e disse tudo bem. Amanh passo aqui a meia noite e vamos l. No pode ser durante o dia? No. Eles no permitem. Quem eles? Sem resposta. O fantasma sumiu. No tive problemas para dormir. Acordei umas vezes para o necessrio e voltava a dormir. No dia seguinte ele no apareceu. noite tambm no. No haveria outra noite. Iria embora naquela segunda. L pelas duas da manh de segunda ele me chamou. Vamos l. S agora consegui me desvencilhar deles. Sou conhecido aqui como o Capito Levegildo. Andei matando muitos que eram contra mim. Esses quatro me emboscaram na estradinha quando estava entrando em minha fazenda e me deram dezenas de tiros. No satisfeitos me pegaram e me levaram para um local podre, cheirando a enxofre e todo mundo ali parecia com o demnio. Escondi-me aqui, mas eles me acharam. - Vamos logo antes que voltem. Fazer o que? L fui com ele. No andamos muito. Uma choupana cada, muitas cinzas sinal que foi queimada. - Ali no canto sou eu disse. Uma caveira. Nada mais que ossos e ossos. Preciso que me enterre. S assim conseguirei fugir deles. Achei uma enxada. Cavei uma cova rasa. Coloquei l a caveira. Depois que soquei a terra o Capito Levegildo deu um enorme grito. Vi que mais quatro vultos brilhantes estavam carregando ele para longe. Voltei apressado para o campo. O dia comeou a nascer. Juntei minha tralha e nem fiz a limpeza do campo. Desci a montanha em menos de uma hora. Na estrada peguei o primeiro nibus. Na janela vi o Capito no alto do morro dizendo adeus. Adeus mesmo. Aqui no volto nunca mais! Acredita? No? Bem no posso convencer ningum. Mas olhem, continuei acampando a Escoteira por muitos e muitos anos. Nunca

mais vi fantasmas. Vozes eu ouvia, mas faz parte do ofcio. Baden Powell dizia que s os valentes entre os valentes se sadam com a mo esquerda. No sou valente. Aceite minha direita. Desculpe BP. Risos.

Lendas Escoteiras. Waldo, um Escoteiro e seu ltimo por do sol. Eu era Chefe de uma tropa Escoteira l no Bairro do Berilo. No era longe e a p chegava a menos de quinze minutos. Era uma boa tropa. Quase no tinha problemas e os Monitores me ajudavam muito. No grupo havia uma tropa feminina, mas que no caminhava bem. S duas patrulhas com doze jovens. Genny a Chefe era muito esforada. Nilo e Bartilho eram meus assistentes. No eram muito frequentes. No sei se acontece com todo mundo, mas tem escoteiros to bem comportados que quase passam despercebidos. Assim era Waldo. Entrando nos quatorze anos tinha todas as qualidades que a gente pensa em quem tem um elevado Esprito Escoteiro. Na Patrulha Quati Waldo era uma espcie de conselheiro dos demais. No era o Monitor, mas cativava a todos pela sua ponderao, pelo seu exemplo no s na tropa como na escola e em sua vida familiar. Quando eu tinha algum problema chamava o Waldo. Ele possua um jeitinho prprio de conversar que conquistava qualquer um que estivesse ao seu lado. No foi minha surpresa que um sbado de maio ao chegar sede no vi o Waldo. Era o primeiro a chegar e o ltimo a sair. Perguntei ao Antnio seu Monitor se ele sabia de alguma coisa. No sabia. Pensei comigo Deve ter sido o motivo muito forte para ele ter faltado. Fiquei de ligar para ele ou seus pais para saber se uma gripe o impediu de ir reunio. Quem atendeu foi sua me. Chefe, o melhor o Senhor vir aqui em casa. No d para falar por telefone. S na quinta deu para ir at l. Eu estava preocupadssimo. O que seria? A Me dona Aurora e o pai seu Rodolpho me receberam na porta. Estavam tristes e taciturnos. Chefe, falou dona Aurora, Waldo me pediu para ele mesmo dizer. Acho que o Senhor deve ficar prevenido. A notcia vai choc-lo e muito. Vi que lagrimas caiam dos olhos de ambos. O Senhor Rodolpho estava com a voz embargada. Subi ao quarto de Waldo, ele me esperava sentado na cama. Senti nele um sorriso tnue e sua voz que j era baixa de natureza estava rouca. Seus cabelos estavam caindo e aquilo me assustou. Ol Chefe, Sempre Alerta! Ele tinha ficado em p. Dei-lhe um aperto de mo e um abrao. Waldo, todos esto sentindo muito sua falta e as saudades so grandes. Ele sorriu de leve. Chefe, vai ser difcil minha volta. Vou direto ao assunto. Melhor ser honesto com o Senhor. Estou com Leucemia no crebro. O medico disse para minha me que eu tenho menos de quatro meses de vida. Foi como se eu tivesse levado um soco, uma pancada. Fiquei chocado. Sentei em sua cama. Calma Chefe, isto acontece com um e outro, eu

fui o escolhido por Deus desta vez e sorriu. Meu Deus! Pensei. Que calma deste garoto! Incrvel! Olhe Chefe, eu convenci minha me. Ela e meu pai no queriam, mas eu gostaria antes de ir me encontrar com meus ancestrais l na vivenda de Capella, eu queria ir ao acampamento do prximo ms no Vale dos Sinos. Mas como Waldo? Voc mal fica em p e nem pode andar direito! Eu sei Chefe, mas eu preciso. No posso partir sem ver meu ltimo por do sol nas escarpas cintilantes. - Me lembrei do que ele falava. L das escarpas o por do sol era maravilhoso. O mais lindo que tinha visto. Eu nunca pensei que ele pudesse lembrar e nem eu mesmo me lembrava mais. Olhei para Waldo. No podia negar aquele ltimo favor. Se ele queria eu no iria dizer no. Combinei com seus pais de passar l no dia marcado pela manh para peg-lo. No disse nada para a tropa e nem para os chefes. Insisti para que ningum faltasse. Queria dar a ele uma despedida que ningum jamais esqueceria. Seria o maior Fogo de Conselho que eu iria dirigir e ele participando. Passei l no dia determinado. No local do acampamento ele insistiu em ficar com sua Patrulha. Estava tremendo, fraquejava, mas dizia que iria dormir na barraca da Patrulha. Na chefia no era certo e no queria dormir sozinho completou. Chefe, cncer! E ria. Nada mais que o cancerzinho idiota. No vai ter perigo para ningum. Ele no transmitido assim. No contagioso! Menino! Que Escoteiro era aquele? Waldo de quatorze ano me dando lio? Eu tinha levado uma cadeira de praia para ele ficar sentado. O dia que ele quisesse eu o levaria em minhas costas at as Escarpas Cintilantes. Ele recusou a cadeira. Vou fazer a minha Chefe. Devagar mas vou fazer. A Patrulha viu que ele estava doente. Disse para ela que ele estava se recuperando de uma forte pneumonia. Ele quase no participava das atividades, mas ajudava na cozinha sempre. Fez uma bela cadeira. Sentava e fechava os olhos. Seus lbios entreabertos pareciam sorrir. No penltimo dia vi que ele respirava com dificuldade. Waldo vou leva-lo para sua casa. Chefe nem pensar. Me leve agora at as Escarpas Cintilantes. Meu tempo est se esvaindo. Fui sozinho com ele. Em principio foi andando depois vi que no aguentava. O coloquei no colo. Uma palha de to magro. Em menos de meia hora chegamos. Sentei junto com ele na barranca que dava para todo o Vale dos Sinos. Um espetculo a parte. Deviam ser umas cinco e meia. Chefe posso fazer um pedido? Claro meu amigo. Claro. Quando eu estiver sendo guardando na terra dos meus ancestrais no quero que cantem a cano da despedida. Cantem todos aquelas alegres para que eu tenha boas lembranas. O sol foi aos poucos tentando se esconder atrs das montanhas do Grilo Feliz. Waldo sorria. No tirava os olhos. Eu engasgado. Danao! Eu no era como ele. Estava difcil aguentar. Queria chorar e no podia. No podia chorar naquele instante. No podia. Eu sabia que eram seus ltimos momentos. Waldo me olhou. Piscou os olhos e me disse Chefe foi a maior alegria que j tive. Vou levar para sempre esta lembrana comigo. Obrigado Chefe. Obrigado. Foi aos poucos deitando no meu colo. Esticou suas perninhas secas. Waldo morreu sorrindo no meu colo naquele anoitecer de junho. Ficou ali imvel como se estivesse dormindo.

Fiquei ali chorando por muito tempo. Algum bateu no meu ombro. Olhei e no vi ningum. L onde o sol se ps vi uma nuvem branca brilhante que logo desapareceu. Desci as escarpas com ele no colo. Voltei para a cidade. No chorava mais. Meu corao sumiu. Minha vontade no era minha. Naquele momento achei que eu tambm tinha morrido com o Waldo. No dia seguinte estvamos todos na sua exquias. Cantamos ao som de um violo a Stoldola, Avante Escoteiro, L ao longe muito distante e outras. Todos cantavam com vigor escoteiro. Muitos choravam. Eu tambm. No dava para segurar. Os anos passaram. Nunca me esqueci de Waldo. Nunca me apareceu em sonhos. Nunca falou comigo em esprito. Deve estar feliz, muito feliz em Capella, a terra dos seus ancestrais.

Lendas Escoteiras A matilha Vermelha e a Operao Cavalo de Troia O cavalo de Troia foi um grande cavalo de madeira usado pelos gregos durante a Guerra de Troia, como um estratagema decisivo para a conquista da cidade fortificada de Troia, cujas runas esto em terras hoje turcas. Tomado pelos troianos como um smbolo de sua vitria, foi carregado para dentro das muralhas, sem saberem que em seu interior se ocultava o inimigo. noite, guerreiros saem do cavalo, dominam as sentinelas e possibilitam a entrada do exrcito grego, levando a cidade runa.

A matilha vermelha estava em polvorosa. A grande competio anual com tema livre estava marcada para o prximo sbado. Nos ltimos dois anos eles ganharam o prmio. O que os outros fariam? Eles iriam fazer uma grande apresentao Uma mimica bem bolada de um sobrado em chamas, um nenm chorando, um bombeiro passando etc. Gostaram muito quando Larissa deu a ideia. Riram muito de tudo. Achavam que a as demais matilhas iam rir a valer tambm. O primeiro prmio estava no papo! O premio era o mximo. Trs caixas cheias de bombons Sonhos de Valsa para o primeiro colocado. Eles sabiam que a vitria estava na mo e os azuis? Eles eram o perigo. Sempre disputando palmo a palmo com os vermelhos. Larissa era a prima da matilha e conversou com To seu segundo sobre o tema. Ela sabia que as outras matilhas no eram preo para os vermelhos. Como descobrir o que os azuis iriam fazer? Afinal a preparao era segredo para todos. Cada matilha teve um ms para se preparar. E no era na sede por isso ningum sabia o que iriam apresentar. Marcaram uma reunio na casa do To. Toda a matilha Vermelha. Eram seis. Larcio, Matilde, Nomia, Vadinho, Larissa e To. A me dele sempre prestativa e alegre com os lobinhos. Serviu uma vitamina de mamo bem geladinho com biscoitos achocolatados.

Larissa repassou novamente a apresentao da matilha. Depois colocou o problema na mesa. Quem sabe o que os azuis iro apresentar? Ningum sabia. Ficaram ali conversando por mais uma hora. Larissa muito esperta disse que sem saber o que eles os azuis iriam fazer no seria possvel ter a certeza que iriam ganhar novamente. Algum pode descobrir? Ningum podia. Era uma reunio secreta que as matilhas faziam e ningum podia se aproximar que no fosse da prpria. Tive uma ideia! Disse o Larcio, e se colocssemos na reunio deles um Cavalo de Troia? Poucos sabiam o que era isso. Foi o prprio Laercio quem explicou - O cavalo de Troia foi um grande cavalo de madeira usado pelos gregos durante a Guerra de Troia, como um estratagema decisivo para a conquista da cidade fortificada de Troia, cujas runas esto em terras hoje turcas. Tomado pelos troianos como um smbolo de sua vitria, foi carregado para dentro das muralhas, sem saberem que em seu interior se ocultava o inimigo. noite, guerreiros saem do cavalo, dominam as sentinelas e possibilitam a entrada do exrcito grego, levando a cidade runa. Duvidas brotaram. Mas vamos fazer um cavalo de madeira e colocar no quarto do primo da matilha azul? Risos de todos. Nada disto tenho um plano disse Larcio. Vamos dar a ele um presente. Um presente que ele no gosta. Ele vai deixar no quarto e no vai ligar. Dentro do presente iremos colocar um microfone em miniatura. Meu tio detetive e acho que pode me dar um de presente. Quando soubermos o dia que iro se reunir, ficaremos prximos a casa dele e vamos ouvir tudo! Grande plano disse Larissa. Os demais ficaram meio assim. Acharam que no era prprio de lobinhos e da Lei do Lobinho. Mas no final Larissa convenceu todo mundo. Uma semana antes todos j sabiam o que os azuis iriam fazer. Deram at risadas, pois as danas da Jngal j no eram mais surpresas e um deles soube de uma nova de Kaa. Treinaram a valer. Eles estavam no papo. O dia chegou. Sorrisos, um olhando para o outro. Melhor Possvel! Melhor Possvel Akel! O Grande Uivo foi lindo. Todos pulando juntos e alto gritando Melhor! Melhor! Melhor e Melhor! Fizeram um jogo de cola (um escolhido como cola, os demais soltos no ptio, o cola encosta em um e cola e vai tentando colar todos os demais). Mas a espera era mesmo na apresentao. Soninha da Verde com seus olhos azuis sonhava com os bombons. Zeraldo da Marrom pensava como seria bom ganhar e comer os sonhos de Valsa. Todos agora s viam as trs caixas de bombons, pois era o maior premio que poderiam receber naquele dia. A hora chegou. Balu chamou todos at o anfiteatro. Aboletaram-se na frente. Ningum queria ficar distante do palco. A Matilha Verde fez uma apresentao primorosa. A me de um deles era professora de canto e tocava violino. Treinou com eles uma cano linda. Uma apresentao de gala. Depois foi chamado a Marrom. Fizeram um pequeno teatrinho contando a vida de Baden Powell. Perfeito, lindo mesmo. Ningum sabia que eles poderiam fazer to bela representao. Foi vez dos vermelhos. Larissa toda posuda foi a

primeira a interpretar o bombeiro. Cada um se esmerou quando chegou sua hora. Riram muito do Laercio interpretando o nenenzinho choro. Muitas palmas quanto terminaram. Larissa olhava para cada um e sorria. Era como a dizer que no tinha para ningum. Mas meu Deus! Chegou vez dos Azuis. Arrasaram. Simplesmente arrasaram. No apresentaram nenhuma dana. O que ouve? Alarme falso no microfone do Laercio? O que eles fizeram at os vermelhos tiveram que aplaudir. Uma apresentao primorosa. A fbula da Estrela Verde. Apresentaram soberbamente. Linda a historia. Deus mandou varias estrelas a terra. Voltaram desiludidas muitos anos depois. Disseram que a terra um mundo ruim. Gente se matando, roubando, no existe amor e quando existe s uma paixo passageira. Porque continuar l? Disseram. Deus ento deu falta de uma estrela. Onde est a Verde? Perguntou. Ela? Disseram. Ficou l, achou que poderia ajudar os humanos a mudarem de atitude. A serem bons. A amarem uns aos outros. Deus e as demais estrelas ento olharam para a terra e viram um claro verde em volta dela. Uma lio de moral para os vermelhos. No pensaram nos outros s em si prprio. Queriam a todo custo ganhar e para isto no mediram as consequncias. Foram desonestos. Esqueceram que todos na Alcateia so irmos uns dos outros. E o pior os azuis quando receberam o premio foram a cada um dos lobinhos com a caixa oferecendo. No disseram tire um, mas fique a vontade para escolher seu bombom preferido. Larissa ficou envergonhada. Foi at aos azuis e abraou a cada um individualmente. Finalmente a palestra da Akel na Pedra do Conselho foi linda. Ela disse que na Alcateia todos so estrelas. Que estamos ali para aprendermos que a amizade vale tudo. Que devemos ganhar se possvel, mas se no for, que se aplauda o vencedor. Parabenizou os azuis por serem to gentis em distriburem com toda a Alcateia o premio. Larissa jurou para si que nunca mais fariam o que fizeram. O gesto dos azuis tocou fundo em cada um. E assim termina a operao Cavalo de Troia. Tudo deu errado. Mas tudo deu certo para aprender a crescer internamente. Isto ser lobinho. Uma lio cada dia e um corao firme nas sendas do escotismo honesto, leal e sincero. Como bom ser lobinho ou lobinha. Sorrir, cantar e ver sonhos realizados na Alcateia de Sheone. E a matilha Vermelha continuou unida por muitos e muitos anos. Alguns passaram para a tropa, entraram outros, mas a amizade, a fraternidade e o respeito faziam parte da vida de cada um. Nas cerimnias do Grande Uivo, os Vermelhos saltavam com alegria e vivacidade a dizer a plenos pulmes quem eram e o que seriam Melhor, melhor, melhor? Sim, melhor, melhor, melhor e melhor.

Lendas Escoteiras. Uma lobinha no Vale das Flores Cinzentas. Sempre o dia de reunio era dia de sorriso. Quando entrou sonhava com os sbados. Dona Florncia sempre a inquiria: Tininha! Volte para seu mundo! Estamos na sala de aula! Tininha se transportava. No importa onde estivesse. Via-se na Bandeira, no Grande Uivo. E sempre sonhando em ser chamada para hastear ou harrear a Bandeira. Ela tremia de alegria. Seu coraozinho batia mais forte. Mas precisava voltar para a escola. Seu esprito vinha correndo, pois quando Dona Florncia dizia era melhor tomar cuidado. Tininha sentia no ar o perfume das flores. Sempre se imaginava em uma colina cheia de flores coloridas a correr junto com o vento. Seu rosto sempre desabrochando um sorriso. Na Alcateia no era diferente. A Akel Norminha, o Balu Gilberto e a Baguira Francisca para ela era um sonho que virou realidade. Nas reunies ela vibrava. Cantava, sorria, pulava. E os amigos? No eram amigos, eram irmos lobos, pois no foi assim quem disse Kaa? Somos do mesmo sangue tu e eu? Mas um dia notaram um rosto srio, no havia mais sorriso, a alegria de Tininha desapareceu. Era como se seu lindo jardim cheio de flores coloridas tivessem todas elas se tornadas cinzentas. Esta era uma vantagem dos chefes da Alcateia. Eles conheciam seus lobos um por um. Nunca quiseram ter uma grande Alcateia. Mesmo assim eram dezoito. Oito meninas e dez meninos. A alegria de participar era to grande que dificilmente algum saia e faltar ento? Os pais vinham at a sede para pedir aos chefes ajudarem, pois precisavam fazer uma viagem ou ento umas frias e eles no queriam de forma alguma abandonar as reunies, as excurses e os acantonamentos. O que tinha acontecido com Tininha? Esperaram duas reunies para investigar. A Baguira conversou com Tininha. Ela abaixava os olhos e no dizia nada. S dizia que iria sair dos lobinhos. Tentaram tudo para saber dela o que aconteceu. O que a fez mudar. A Baguira Francisca que morava mais perto da casa dela ficou encarregada de ir l. Estava passando da hora. Uma funo de chefes escoteiros e eles no podiam fugir. Tinham de saber o que estava havendo. Dona Helena, me de Tininha no foi muito educada no telefone. Alegou falta de tempo. Mesmo assim a Baguira Francisca insistiu. Tininha no tem nada respondeu. Ela anda meio triste e taciturna, mas vai ser por pouco tempo. Toda criana assim. No havendo abertura na me a Baguira Francisca ligou para o Senhor Wantuil seu pai. Ele foi mais simptico. Olhe deve ser por que eu e a Helena vamos nos divorciar. Infelizmente no temos mais condio de ficar juntos. Pronto. Ali estava o motivo do procedimento de Tininha. A Baguira Francisca sabia. Tinha sofrido na prpria pele tal tipo de situao. Ainda estava sofrendo. Seu marido a deixou por outra. No brigou, no gritou. Dizia para si prpria que tinha de levar sua vida sem ficar se lamentando. Era difcil, mas a vida era dela e de seu filho agora escoteiro. Ela sabia que as crianas so as mais vulnerveis nestas situaes. Nunca entendem as

situaes mais complexas e ficam confusas perante o que acontece na famlia. Emocionalmente a conscincia desabrocha e tendem a culpar-se pela ruptura familiar. Ela sabia que Tininha pensava que se tivesse se portado bem, o seu pai no teria sado de casa. A Baguira Francisca sabia que nem todas as crianas reagiam assim. Mas este devia ser o caso de Tininha. Conversou longas horas com a Akel Norminha e o Balu Gilberto. Interferir, dizer para Tininha que o mundo era assim, que ela precisa aceitar a separao, que seu pai e sua me a amavam e outras explicaes do gnero ficaram em duvida. O melhor era deixar o tempo passar. No podiam de maneira alguma entrar no problema da famlia. No deviam nunca. O pai e a me dela eram adultos, sabiam o que iriam fazer. Muitos parentes e amigos j devem ter interferido e nada se resolveu. Sabiam que o escotismo uma maneira de colaborar com os pais e no os substituir. O melhor era tentar levar Tininha de novo para o Jardim das flores coloridas. Esta era a viso dela e esta viso tinha de voltar. Aos poucos o sorriso voltou nos lbios de Tininha. Aos poucos ela comeou a sorrir e a ser aquela Tininha de sempre. O Balu Gilberto disse que tinha visto ela com o pai em um parque de diverses e ela gritava de alegria nos brinquedos. A separao houve. Cada um sofreu muito, mas o tempo cura feridas. No dia que Tininha recebeu o Cruzeiro do Sul s sua me compareceu. Mas quando ela passou para as escoteiras seu pai estava l. A vida continuou. Tininha cresceu. Soube mudar quando preciso. Os chefes souberam agir. Sabiam que no poderiam nunca ser pai e me de lobos. No era a funo deles. Isto que fez da Alcateia uma famlia feliz. Todos os lobos se respeitavam, pois seus chefes eram mais que chefes, eram seus irmos e amigos por todas as horas. Nem sempre todas as situaes so assim. Tem aquelas que no se muda a trilha que foi determinada pelo destino. Mas no podemos pensar em termo de desnimo em tudo. Como dizia Day Anne, planto flores no caminho, para que no me falte borboletas. Foram elas que me ensinaram que o casulo no o fim. o comeo!

Lendas escoteiras. Rosas brancas e perfumadas para Dona Nomia. Ela morava bem no final da minha rua. Sua casa tinha fundos para o Rio Mimoso. Lembro que no final da cerca havia um belo pesqueiro. Mas ningum tinha coragem para pescar ali. No quintal havia ps de manga, goiaba e cheio de cana Caiana. Na frente de sua casa centenas de rosas brancas. S rosas brancas. Porque no outras cores ningum sabia. Enfrentar o olhar de Dona Nomia? Nunca. Um medo danado. No era s eu e sim a cidade inteira. Morava sozinha, acho que tinha uns cinquenta ou sessenta anos, no sei. Diziam

que era viva, mas ningum conheceu seu marido. No Grupo Escolar Mascarenhas de Moraes ela era a diretora. Ali ningum dava um pio. Respeito bom e eu gosto ela dizia. Todos entravam em silncio e saiam calados. Onde ela passava se fazia silencio. Alguns adultos diziam Boa tarde Dona Nomia. Ela olhava e seus olhos pareciam sair chamas de fogo. A escoteirada passava longe. Os lobos endiabrados ouviam sempre da Akel Masa Querem que chame Dona Nomia? Quem fala muito paga pecado, assim dizia minha me. Chefe Onofre naquele sbado disse que infelizmente ia mudar de cidade. Estava tentando achar algum para ficar no seu lugar. A tropa ficou chorosa. Todos gostavam dele. A semana inteira o comentrio correu em todas as patrulhas. Fazia-se reunio na Touro, nos Morcegos, na guia e durante o dia na loja do Martinho. Seu filho da Raposa trabalhava com ele. Quem seria o novo Chefe? Ser o Nonato pipoqueiro? O Sacristo Isaias? Ou o Professor Clementino? Ningum sequer imaginava. O jeito era esperar o sbado. Interessante, uma hora antes todos estavam na sede. Nem nos cantos de Patrulha foram. Estavam a espreita na porta da sede, no porto e vi dois apinhados em um abacateiro enorme olhando a rua da sede. Chefe Onofre chegou sozinho dez minutos antes do horrio. Chamou para a bandeira. Ningum com ele. Um frenesi corria de um para o outro. Depois do cerimonial fizemos um jogo estupendo. E assim a rotina da reunio continuou. At esquecemo-nos do Chefe novo. Quem sabe ele desistiu e vai ficar conosco? A surpresa veio no arreamento. Chefe Onofre assumiu uma pose de pobre coitado e apresentou o novo chefe. Ou melhor, a nova Chefe. Dona Nomia! Incrvel! Ningum estava acreditando. Ela chegou sria com seu cabelo branco amarrado em um coque, um chal em cima de uma blusa de manga comprida marrom, uma saia azul simples abaixo do joelho e um sapato aberto em cima de uma meia fina que parecia tirada do fundo do ba. Nunca em minha vida olhei para Dona Nomia. Aquele foi o primeiro. Um medo danado. Era magra. Magra mesmo. Um palito em p. Alta pelo seu porte. Nariz afilado pontiagudo, uma boca pequena e entre o nariz e a boca um bigode ralo. A cidade em peso no acreditou. Ningum acreditava. Ela s disse oi e que nos veramos na prxima reunio. Bragg! Que medo. Achei que ningum ia aparecer na reunio. At sapo de fora estava l para ver. Ela chegou. Deus do cu! De uniforme caqui cala curta abaixo das canelas secas, sem o leno e um chapu que parecia ser maior que sua cabea. Dirigiu o cerimonial com perfeio. Depois foi at o meio da ferradura, fez a saudao, disse a Promessa colocou o leno e virou para tropa dizendo Confiem em mim como eu irei confiar em vocs. Foi o incio. Chamou os Monitores. Falou com eles por cinco minutos. Vou dizer uma verdade foi a melhor reunio de tropa Escoteira que j participei. Onde ela aprendeu? Era Escoteira? Onde? As mulheres no s eram autorizadas na Alcateia? Um mistrio. Dois anos com a Chefe Dona Nomia. Ningum tirava o dona. Um medo danado. Mas aos poucos fomos aprendendo a admir-la, a gostar dela.

Uma noite em um Fogo de Conselho ela nos contou uma bela histria. De uma menina perdida cuja me morrera e ela no tinha ningum. Sua luta, sua vontade em acertar, criou em redor de si uma aureola de rigidez, para que ningum pudesse aproveitar. Uma histria linda e triste. S mais tarde que a histria se explicou para mim, era a histria dela. A tropa passou a amar a Chefe Dona Nomia. Todos tinham a maior admirao. Antes poucos sorrisos agora em profuso. A cidade no entendeu nada. Ainda no Grupo Escolar e entre seus alunos hoje crescidos o medo existia. Na tropa adorada pelos escoteiros. Dois anos e quatros meses de felicidade na tropa Escoteira. Cheguei a tirar minha Primeira Classe. Pensava triste quando fosse passar para os seniores. No queria. Mas sabia que no podia continuar com quinze anos. Um sbado a Chefe Dona Nomia no apareceu. Preocupao geral. Nunca faltou. Toda a tropa resolveu ir saber o que ouve. Fomos juntos a sua casa. Medo de bater na porta. Mas eu fui. A porta estava encostada. Tremendo abri. Chefe Dona Nomia cada no cho. Ainda respirava. Pedimos ajuda. Levada ao hospital foi constatado um ataque cardaco. Ficou entre a vida e a morte dois meses. Na tropa no sabamos o que fazer. A Corte de Honra se declarou em sesso todos os sbados. Numa quinta Chefe Dona Nomia se foi. O escotismo para mim nunca mais foi o mesmo. Mesmo nos seniores uma saudade danada de Chefe Dona Nomia. Ainda lembro at hoje o mutiro que fizemos a procura de rosas brancas para suas exquias. Nunca vi tantas em seu tumulo. Todos os escoteiros acharam que eram suas preferidas. Ate hoje uma vez por ms ainda vou l. Em frente ao seu tumulo coloco um buqu de rosas brancas. Dou um sorriso. Na minha mente fao uma orao. A nica que aprendi e que me disseram ser Escoteira. "Senhor, ensina-me a ser generoso, a servir-te como mereces, a combater sem temor das feridas, a dar sem contar, a trabalhar sem descanso. A sacrificar-me sem esperar. Outra recompensa, que h de saber que fao a tua santa vontade.

Conversa ao p do fogo. As mil e uma noites de um acampamento de vero. Chefe! Oh Chefe! Galo no tem dente! Eu falava e morria de rir. Aquele tinha e olhe uma dentadura de fazer inveja. Dentes enormes. Eu ria todos ns riamos. Ali na beira do Riacho Grande nos encantvamos com as historias do Chefe Joe. Na cidade o chamavam de Comandante. Todos o respeitavam muito. Meu pai disse que ele foi piloto da F.E.B (Fora Expedicionria Brasileira) e pilotava um P.51 Mustang. Meu pai dizia que ele tinha muitas histrias para contar das esquadrilhas e ele ria quando diziam para ele Senta a Pua. Ele sabia que isso significava que o piloto tinha coragem e que na hora da disputa aceleravam o avio o mais rpido possvel. Tudo mudou depois que ele chegou. A tropa pequena, muitos escoteiros saindo, o nosso Chefe de grupo no sabia o que fazer. Chefe Nelson no quis mais ficar e no

tnhamos ningum. Nem sei como convidaram o Chefe Joe. Ele j estava entrando nos seus cinquenta anos. Loiro, alto e magro, cara lisa sem bigodes, cabelos embranquecendo, andava meio curvado apesar de ainda ser bastante esperto. Naquela noite de vero a nossa Patrulha de Monitores estava acampada ha dois dias as margens do Riacho Grande. Cada dia mais nos divertamos. O Chefe Joe tinha tudo para nos atrair. Ele era demais. Isto no existia antes. No grupo o Doutor Mamede o Chefe do Grupo estava preocupado. O Chefe Joe deu frias para todos os escoteiros, ou melhor, seis deles, pois ficou com oito. Dizia que sem bons Monitores e subs no podia haver uma tropa escoteira. Eu estava l, no era Monitor nem sub, mas fui escolhido. Adorava o Chefe Joe. Chegava a sonhar com ele. Mudou tudo na tropa. Pouco ficvamos na sede. Era excurso, jornadas, bivaques e acampamentos. Cada um mais gostoso que o outro. Aprendemos com ele cada tcnica mateira que nunca sonhvamos. A arte do uso do cip foi por ns absorvida a ponto de abandonarmos inteiramente o sisal. Passava das dez da noite. Uma brisa gostosa e o fogo se mantinha aos trancos e barrancos. Um cu estrelado, mas nossos olhos estavam fixos no Chefe Joe. Continuando, Ventania tinha dentes, tinha mesmo. Podem acreditar. Ele me olhou e eu olhei para ele. Precisava dos ovos e ele era o dono do galinheiro. Ficamos encarando um ao outro. Caminhei at o primeiro ninho e ele me deu uma mordida na perna e uma esporada no brao com sua perna direita. Sua espora era enorme Olhei para ele e disse - Quer briga? Vais ver com quem est se metendo! Sou um Comandante! Estive na guerra! Um galinho de nada me desafiando? Levantei os dois braos, preparei para lhe um soco e ele de novo me deu outra esporada. A galinhada no galinheiro fazia uma anarquia danada. Galo maldito! Josenilton devia saber aonde ia me meter. Ele rea o dono do galinheiro. Comprei duas dzias de ovos e ele disse estar com pressa V l ao galinheiro. Tem muitos ovos. s pegar. A Patrulha rolava de rir. Precisavam ver como o Chefe Joe contava a histria. Sempre fora assim. Durante o dia em um jogo ele fantasiava de tal maneira que a gente se achava mocinho, polcia, soldado, ndio, ou seja, l o que for. Nossos acampamentos eram demais. Ele para nos adestrar a cada atividade trocava o sub. Monitor, dizia que ele era o Monitor dos Monitores. O sub precisava aprender a liderar. Quando foi minha vez tremi. Um medo enorme. Mas achei que me dei bem. Nas Conversas ao P do Fogo ele balanava a cabea ficava em p como se estivesse bbado e dizia: - Tenho que liderar, tenho que liderar. Meu corpo depende de mim! Em p! Firme! Ento ele ficava ereto e andava em linha reta indo e voltando. A gente no entendia, mas aos poucos seus exemplos e explanaes nos fizeram aprender a liderar com amor, com respeito e um belo dia ele disse: - O Dia chegou. Vocs esto preparados. Mandei chamar os meninos que dei licena. No voltaro todos, mas alguns viro. Agora se vocs fizerem com eles o que fiz com vocs teremos em breve quatro patrulhas das melhores que

existem. Dito e feito. Agora era outra reunio, outra motivao. Claro que no era s ns os responsveis. Afinal o Chefe Joe era nico. Ele sabia como dirigir a tropa. S que ele dizia que no dirigia, ns os Monitores sim. Ele acompanhava e orientava. Mas Chefe! E o Senhor, conseguiu ou no os ovos no Galinheiro do Josenilton? Ele ria, seu sorriso era contagiante. Achei melhor deixar os ovos l. Se o Ventania defendia com tanto vigor seu lar no seria eu quem iria obriglo a fazer o que no queria. Quando sai do galinheiro, ele se reuniu com outros galos, chamou as galinhas e deram uma tremenda vaia em mim! Kkkkkkk! - Isto mesmo verdade Chefe? Claro ele dizia, quando voltei l no galinheiro outro dia com o Josenildo ele se posicionou para briga. Eu no entrei. No ia de novo brigar por uns ovos. Josenildo me trouxe trs dzias e um pintinho. Como recordao Comandante. Se tiver um lugar pode criar sem susto. filho do Ventania. E no que era verdade? Com dois meses os dentes comearam a nascer. Vendaval mora comigo at hoje. meu amigo, meu companheiro e toma conta de minha casa como ningum! Pensei em pedir a ele para conhecer o galinho Vendaval, mas achei melhor que no. Ele ia se sentir insultado pela dvida. Durante cinco meses a tropa cresceu, j estvamos com quatro patrulhas completa. Ningum faltava. Uma tarde de vero Chefe Joe chegou sede. Abriu o porta mala do seu carro, fez uma saudao Escoteira. Ningum entendia, saltou de l um galinho. Cheio de dentes. Era o Vendaval. Tal pai tal filho. Ningum podia se aproximar. Mas ns riamos a valer. O livro de Atas da Corte e de todas as patrulhas ficou cheio com os relatos dos escribas. Olhava para o cu. Um cometa passou brilhando deixando um rastro de pedras preciosas. Estvamos todos em silncio. At o Chefe Joe agora estava calado. Ele tambm vidrado no cu brilhante. Pensei comigo que ele voltava ao passado, pilotando seu Mustang nas lutas infernais que participou. O Laranja dos foguetes zumbindo no ar, a cor purpura explodindo em um cu que iluminava o piloto tentando escapar com seu paraquedas. Seu avio uma bola e fogo a cair em meio da metralha da noite. Lembro que em uma noite, estamos todos na porta de sua barraca, onde ele prazerosamente fez para ns, bancos baixos e nunca ficvamos sem um caf na brasa um biscoito uma bala de hortel. Nesta noite ele olhava para o cu estrelado e nos disse pensativo, voz baixa, olhos fixos no cu: Sabem, quando precisarem compreender melhor uma situao, um problema, preciso ver as coisas com certo distanciamento. Se tiverem aborrecimento, injustias, desgostos, sonhem que esto em um Mustang, subam com seu avio s alturas e olhem l embaixo as pessoas. To minsculas. Pequeninas e ns somos to grandes! Porque nos preocuparmos com pequenas coisas? Eu fazia isto e olhe, meu equilbrio emocional voltava e a raiva desaparecia. Eu nunca tinha visto um Mustang. Eu forjava um na minha mente. Mas era um Teco-Teco o nico que conhecia. Mas me sentia um verdadeiro piloto. Ria de mim mesmo ao me chamar de Comandante! Deus sabe e o que faz. Trouxe-nos o melhor Chefe do mundo. Olhe no existe nenhum Escoteiro da Tropa Senta Pua que no se orgulha do nosso

Chefe. Quando chega s noites de vero, Ele chama a Patrulha, e l estamos nas montanhas verdejantes, nas campinas mais distantes em ravinas ou vales floridos a acampar com o Chefe Joe. A Patrulha de Monitores sempre est em ao. Gosto disto. Adoro ser Escoteiro e ter um Chefe como o meu Comandante me faz vibrar e me orgulhar do nosso querido movimento. E quer saber mesmo? Amo de monto o meu Comandante. O meu querido Chefe Joe.

Lendas escoteiras. Uma cidade chamada Felicidade. O Baro Franz Sebastian Denutz Nasceu em Regensburg no leste da Baviera. Seus pais quando conheceram Hitler se assustaram. Sua maneira de agir ao assumir o poder sentiu que tudo podia dar errado para sua famlia. O Baro estava com vinte e seis anos e sofria uma atrofia na perna o que doa horrivelmente. Mdicos consultados no resolveram. Disseram ser uma doena incurvel. Catlicos e judeus tinham receio que quando Hitler mostrasse a que veio eles iriam perder tudo. Afinal ele e sua famlia eram judeus. Ele doente e Hitler falando em raa pura muita coisa ia mudar. Chamou toda a sua famlia para uma reunio. Explicou tudo. Falou sobre o Brasil. Poderiam comprar umas terras, plantar cana de acar e viver a paz que aquele pais oferecia. Corria o ano de 1937. Em agosto daquele ano embarcaram para o Brasil a bordo do navio Chalupas. Chegaram a Santa Rita do Passa Quatro em uma tarde de setembro. O Baro Franz comprou no Rio de Janeiro um Ford 29, muito querido na poca. O povo todo na rua para conhecer os novos visitantes. No dia seguinte foram conhecer as terras Foram 25.000 hectares de terra adquiridos do Coronel Laviola. O Baro era incansvel. Construiu um imprio. No sabia como explicar, mas sua perna no doa mais. Ainda estropiada, mas sem dor. Em dez anos construiu uma grande Usina de Acar, plantou 150.000 ps de caf e fundou uma cidade. Isto mesmo. Felicidade foi seu nome de batismo. Nos estatutos pouca coisa 1 Nesta cidade todos sero felizes 2 Todos sero bem vindos melhor ainda os jovens possuidores de necessidades especiais. Eram quatro ruas, caladas com pedras de granito em formato de mosaico. As casas no tinham muros. Eram separadas por canteiros de flores. Naquela regio o Baro Franz fundou o primeiro Grupo Escoteiro. O chamou de Grupo Escoteiro Estrelas Cintilantes. Disse que todos os participantes teriam direito a uma estrela e ser feliz. Todos os meninos e meninas portadores de necessidades especiais seriam bem vindos. Dois anos mais tarde mandou construir em uma rea arborizada diversos chals que eram destinados a famlias com filhos portadores de necessidades especiais. Contratou na Europa diversos professores, mdicos, pedagogos, para que desse toda a assistncia que fossem necessria aos jovens que ali agora residiam. Foi nesta poca que nasceu Tim Tim Soneca.

Ficou famoso em toda a regio. Mudou todo o rumo Escoteiro da regio. O Baro tinha por ele um amor especial. No o demonstrava, mas sabia que em pouco tempo iria ir desta para melhor ou pior, s Deus sabia. A famlia de Tim Tim Soneca morava em Santa Rita do passa Quatro. Quando ele nasceu foi uma surpresa. A parteira Dona Matilde nunca acreditou no que vira. Ele nasceu dormindo. Todos acharam que estava morto. Mas seu corpinho respirava. No havia mdicos na poca. S em Ribeiro Preto. Sem posses deixaram de lado. Vinte dias depois Tim Tim Soneca acordou. Deu um belo de um sorriso e disse Bom dia! Que susto! Vinte dias de nascido e falando? Muitos que estavam na morada da Famlia Souza saram correndo. A cidade toda veio para ver. Tim Tim Soneca estava conversando naturalmente com todos na casa. Disse que precisava dormir treze horas por dia. Ningum devia acord-lo. Dito e feito. s seis da tarde ele dormiu e s acordou dia seguinte s sete da manh. Quando o Baro Franz soube de Tim Tim Soneca ofereceu uma bela casa bem no centro de Felicidade. No deu outra. L foram eles para uma nova histria em suas vidas. O Baro queria Tim Tim Soneca ao lado dele. Queria educ-lo. Uma grande amizade surgiu ali. Aos sete anos Tim Tim Soneca entrou para os lobinhos, aos onze foi para os escoteiros. Na sede ele tinha um quarto. Quando dava a hora ele ia para l e dormia suas treze horas. Nos acampamentos ele tinha sua barraca e os chefes sabiam que na hora ele tinha licena para ir dormir. Assim ordenou o Baro e assim era feito. Tim Tim Soneca passou para os sniores e depois os pioneiros. Em 1951 com vinte anos assumiu a direo do grupo. Sempre dormindo suas treze horas. Tudo aconteceu quando a cidade foi invadida por um bando de bandoleiros que h tempos saqueava cidades na regio. O Baro estava velho. No tinha mais aquela fora do passado. A cidade foi subjugada pelos bandidos. Quando eles dominaram todos Tim Tim Soneca dormia. O Chefe do bando um tal de Periquito Dedo Duro achou estranho aquele marmanjo dormir assim. Tentou acord-lo e no conseguia. Mandou seus capangas o jogarem no Rio Mogiguau. Tim Tim Soneca levou um baque. Acordou afundando na gua turva do rio. Subiu a tona e viu uma turba de homens atirando nele. Nadou para a outra margem. Sentiu seu corpo encorpar. Sua pele ficou vermelha. Correu rio abaixo at a ponte da Laguna. Voltou a Felicidade. Uma luta sem trgua comeou entre Tim Tim Soneca e o bando de Periquito Dedo Duro. A cada bandido um soco e ele caia para no levantar nunca mais. Periquito Dedo Duro soube que Tim Tim Soneca estava liquidando seu bando. Como pode um homem como ele vencer mais de oitenta bandidos? O Grupo Escoteiro foi chamado pelo Baro. Meninos e meninas em cadeiras de rodas, muletas, mancando, uns pulando se reuniram na praa. Declararam guerra para os bandidos. Tim Tim Soneca j tinha mandado por terra mais de quarenta anos. Infelizmente o sono chegou de novo. Bem na Praa Tim Tim Soneca deitou na rua e dormiu. Periquito Dedo Duro sorriu. Correu at onde estava Tim Tim Soneca. Sabia que se desse nele um tiro toda a cidade iria sem reao. Quando ele chegou em frente Tim Tim Soneca que deitado na rua dormia, apontou a arma e ao puxar o gatilho recebeu uma paulada na cabea.

Toda a cidade saiu s ruas e armados com faca, enxadas, faces e paus atacaram a bandidada que saiu correndo de Felicidade. No dia seguinte um batalho de soldados de Ribeiro Preto chegou cidade. Prenderam todo o bando de Periquito Dedo Duro. Nunca em tempo algum um Grupo Escoteiro formado s por excepcionais mostraram tanta coragem. O prprio Baro trouxe do Rio de Janeiro toda a cpula do escotismo brasileiro. Foram medalhas de valor para todos. Tim Tim Soneca foi considerado o heri Escoteiro da cidade. Felicidade seguiu seu caminho. Mostrou ao mundo que quando se quer se faz s que nem todo mundo tem em suas fileiras um Tim Tim Soneca que quando acordado virou um heri, um forte e algum que sabe fazer o que deve ser feito. Tim Tim Soneca at hoje tira sua soneca de treze horas. Agora investido no cargo do Baro que se aposentou, criou um corpo de oito homens, que carrega junto a ele dois colchonetes, pois se der sono, Tim Tim Soneca dorme onde estiver. Quem me contou esta histria jurou ser verdade. Antnio Lorota era meu amigo e escoteiro. Eu sempre acreditei nele. (risos). Eu mesmo quando fui a Santa Rita do Passa Quatro procurei a tal cidade Felicidade. Ningum sabia ningum conhecia. Verdade ou no, um dia saiu no jornal o Estado de Minas quase uma pgina inteira homenageando o falecimento de Tim Tim Soneca. De onde era o jornal s dizia que era a cidade de Felicidade. Risos. Nunca ningum soube onde ficava, mas que algum pagou ao jornal pagou. Quem foi o jornal no disse. Para mim que sou um contador de histrias pode ser verdade. Que na eternidade Tim Tim Soneca possa dormir em paz!

Lendas escoteiras. Os anjos tambm so escoteiros. Ela nasceu em dezembro, dizem que foi no dia vinte e cinco no sei. Nasceu prematura com sete meses. Dona Esmeralda sorriu quando ela nasceu. Dizem tambm e eu no posso afirmar que no cu um claro enorme, como se vrios arcos ris cruzassem o espao iluminando a cidade de Espera Feliz. As pessoas correram para a rua e viram l ao longe uma estrela brilhante desaparecendo no espao. Na maternidade ningum sabia explicar. Rosa Maria sorria. Incrvel! Seu pai quando a colocou no colo ela piscou seus olhos negros grandes, como se dissesse sou eu, Rosa Maria. Voc sabe quem eu sou! Nasceu com dois quilos e meio. Ela ficou na maternidade por duas semanas e foi liberada a ir para casa. Foi um dia que Espera Feliz recebeu uma revoada de pssaros. Tinha canrios dourados, bem-te-vis azuis da cor do cu, araras verde e amarela fazendo acrobacias no cu azul. De novo o povo saiu s ruas. Ningum sabia o que acontecia. O Padre Rosaldo teve uma viso. Um anjo chegou a terra. Na sua cidade. Quem seria o anjo? Ele se lembrou de uma frase de Augusto dos Anjos

A esperana no murcha, ela no cansa, tambm como ela no sucumbe crena. Vo-se sonhos nas asas da descrena, voltam sonhos nas asas da esperana. Rosa Maria cresceu como uma jovem menina sonhadora. No tinha foras para brincar como as outras. Na escola s fazia o bem, dizia amar a todos e ela tinha o mais lindo olhar que uma criana teria. No era a primeira da classe e nem tinha super poderes. Mas os amigos e amigas sabiam que ela era especial. Naquele ano, quando ela completou sete primaveras, o Grupo Escoteiro Estrela Verde foi fundado. Rosa Maria se inscreveu. Sua me no foi contra s preveniu os chefes sobre sua fraqueza. Na primeira excurso no quiseram que ela fosse. Iam andar muito a p. Ela insistiu. Foi. Todos acharam muito estranho, ela parecia flutuar no ar mesmo que andando em passos largos. Todos na Patrulha amavam Rosa Maria. Mesmo a Patrulha querendo fazer tudo ela no deixava. Na sua promessa um fato significativo aconteceu. Um lindo casal de Tuiui, enormes, pousou no mastro da bandeira. No era comum. Principalmente naquela regio. Quando ela recebeu o distintivo, eles fizeram uma revoada e pousaram em seu ombro. Deste dia em diante uma serie de estranhos acontecimentos comearam a acontecer. A filha de Dona Matilde tinha quatro anos e estava entre a vida e a morte. Rosa Maria indo para sua casa aps a reunio, viu varias pessoas na porta. Entrou. Colocou sua mozinha na dela e a beijou. A menina sorriu e sentou na cama. Ningum entendia. As duas comearam a cantar e brincar de roda. A cidade ficou sabendo. Sempre algum querendo milagres de Rosa Maria. No houve outros. No at ela fazer doze anos. J Escoteira. Espera Feliz sofria uma enorme seca. O gado nas fazendas morria de sede. Os rios estavam secando. Muitos abandonavam a cidade em busca de sonhos que ali no se realizaram. Pela manh viram Rosa Maria, uniformizada, em p e em cima de um banco da praa, mos abertas, olhando para o cu. Nuvens negras apareceram. Uma chuva fina comeou a cair. Os rios voltaram. Os pastos ficaram verdes. Houve dezenas de casos. O Padre Rosaldo escreveu para o Bispo. Anjo ou Demnio? Ele se lembrou de uma frase de Michele Amigos so anjos que no s nos ensinam a voar como tambm nos mostram a hora de pousar na realidade. Um padre de Roma chegou cidade. Um pouco tarde. Uma tosse frentica tomou conta do corpo de Rosa Maria. Disseram que ela estava com leucemia. Ficou entre a vida e a morte por trs meses. Um dia pediu sua me que lhe trouxessem seu uniforme. Com dificuldade o vestiu. Contra os desejos dos mdicos foi reunio. Deixaram. Seria sua ultima vontade. Na sede todos a receberam com abraos e beijos. Ela pediu para falar no cerimonial de Bandeira. No falou muito. Disse que ia para o cu. L tambm lindo, l tambm os anjos so escoteiros e escoteiras. Eles acampam nas estrelas distantes. Fazem jornadas na Grande Nuvem de Magalhaes, dormem na Via Lctea e adoram passear em Andrmeda. Todos estavam em silencio. Ela tossiu um pouco e continuou. Deus um dia muito ocupado resolveu criar anjos pra auxili-lo. Esses anjos chamam-se amigos. Vocs so meus amigos. Que vocs escoteiros e escoteiras cumpram sua misso. Ajudem uns aos outros. No chorem por mim, vocs so meus amigos e amigos so como anjos sem asas. Mas que com um nico sorriso nos proporcionam tamanha alegria que nos levam at o cu. Eu vou embora logo, no quero que

chorem. Devem sorrir e cantar canes alegres quando eu me for. As tristes machucam. Rosa Maria morreu numa tarde de dezembro. Dizem que foi no dia vinte e cinco de dezembro. No sei. Morreu sorrindo. Na Necrpole da cidade, l estavam todos. Os escoteiros e escoteiras foram dar seu ltimo adeus. No estavam chorando, mas seus olhos marejados de lgrimas eram difceis de esconder. Cantaram varias canes. Todas alegres como ela queria. Eles lembraram-se de suas ltimas palavras no Grupo Escoteiro. Quando algum nos v chorar como se despencssemos de uma alta nuvem. Vocs so meus amigos. So anjos. Foram escolhidos por Deus. Devemos nos alegrar, consolar e compartilhar os momentos que criamos para ns mesmos. Amo todos vocs! Dizem, eu no sei que aquela noite milhares de cometas passavam brilhando no espao sideral sobre a cidade deixando um rastro colorido enorme, com cores azuis, brancas, amarelas, alaranjadas e vermelhas. Dizem tambm e eu no posso afirmar que o brilho das estrelas se superaram. E acho que no posso acreditar no que me disseram. Nasceu uma nova estrela no cu. Brilhante. Um brilho que quase ofuscava a lua quando aparecia. Ficou l, no cu de Espera Feliz para sempre! ** - algumas frases so do poeta Bruno Ciquetto.

"Diga-me com quem andas e dir-te-ei [que lngua, a nossa!] quem s. Pois : Judas andava com Cristo. Cristo andava com Judas. Millr Fernandes Lendas escoteiras. Judas... Da galileia. Existem acasos e ocasos. Ocasos porque foi seguindo um belo por do sol e acaso porque sem querer fui parar em Galileia. Don Janvier de Waldvian me procurou um dia. Osvaldo eu estou precisando achar bons curtumes para me fornecer boas vaquetas voc sabe, aqueles couros curtidos e preparados mo. So para calados finos de uma fbrica em Pergia na Itlia. Disseram-me que so calados especiais e esto procura de bons couros. Como scios podemos ganhar algum. Ideia na cabea p no caminho e l fui eu por informaes encontrar o Curtume do Salgado em Tainhomim. Na poca tinha uma vespa que mais quebrava que andava. Disseram-me que no era longe, uns duzentos e trinta quilmetros de estrada de cho batido. Isto se fosse pela serra da Bodoqueira. Quatro horas depois a pobre da vespa comeou a pipocar. Vi uma estradinha pequena e uma placa Galileia, seis quilmetros A vespa aguentou firme at l. Anoitecia. Cidadezinha deserta. Um guardinha me mostrou a penso da Dona Ins. Melhor pernoitar. Amanh consigo algum eletricista para ver o que tem a vespinha.

No vi a Dona Ins. Um garoto de uns quinze anos me atendeu. Um quartinho simples e disse-me que o jantar seria at s oito da noite. Banho no chuveiro do corredor, e l fui eu para o restaurante. Pequeno, oito ou dez mesas. Apenas eu de hospede na hora. Sentei e logo trouxeram uns paizinhos deliciosos. Depois uma sopa de cebola estupenda. Ainda trouxeram um arroz solto, feijo preto e costelinhas de porco frita com torresmo. Deus do cu! Eram quase oito da noite e aquele manjar dos deuses iriam me fazer mal e muito mal. Mas dizem que escoteiros so gulosos e no medem as consequncias. Comia gulosamente bebericando uma cervejinha e uma senhora escura, gorda, cabelos presos por um leno azul e de uma simpatia tremenda sentou-se ao meu lado. Ol, sou a Ins. Seja bem vindo a minha humilde penso! Simptica. Muito. J conhecias Galileia? No eu disse. Aqui j foi uma bela cidade. Chegamos a ter mais de trinta mil habitantes. Hoje? Nem oito mil e a cada dia mais e mais moradores se mudando. - Fiquei ali ouvindo sua histria sobre a cidade. Olhe, ela disse A mais de quarenta anos Galileia crescia a olhos vistos. Tnhamos quatro olarias, um enorme curtume e o Prefeito pretendia montar uma indstria txtil e uma malharia. Foi nesta poca que Judas da Galileia nasceu. A Parteira saiu correndo ao ver a marca de corda em seu pescoo. Seus pais arregalaram os olhos. Logo o povo todo da cidade sabia. O tabelio Juventino benzeu o menino, mas aceitou registr-lo como Judas da Galileia. O porqu sua me escolheu este nome ningum sabia. Judas cresceu se escondendo nas sombras da cidade. A meninada quando o via saia correndo atrs gritando Judas! Judas! Traidor de Jesus! Quando ele fez dezesseis anos um dia na Rua do Caroo ele parou Virou para a molecada, botou a lngua para fora, dizem alguns que mais de meio metro e deu um urro to grande que todos correram como corre o diabo da cruz. Deste dia em diante ele andava no meio da rua e ningum aparecia nem para olh-lo. As janelas fechavam a sua passagem. Quando ele fez vinte anos queria ir embora da cidade. No conseguia emprego. Uma tarde uma turma de escoteiros chegou cidade de bicicleta. Eram uns doze aparentando quinze a dezessete anos. Armaram barracas no campinho do Z das Coisas e atraram ateno de boa parte da meninada. Judas da Galileia tambm foi l. Um dos escoteiros o chamou para jantar com eles. No perguntaram da marca de seu pescoo, no perguntaram nada. O trataram muito bem. Foi primeira vez em sua vida que Judas da Galileia foi bem tratado. At seus pais no conversavam com ele. Judas da Galileia chorou muito quando eles foram embora. Foram dois dias os mais lindos que teve em sua vida. Deixaram com ele dois livros que disseram ser do fundador. Escotismo para Rapazes e o Guia do Chefe Escoteiro. Judas da Galileia ficou uma semana lendo os livros. Leu uma, duas, trs e at quatro vezes. Judas da Galileia queria ser Escoteiro. Sonhava ser Escoteiro. Na sua cidade seria difcil. No tinha grupo e ningum interessado em organizar um. S havia uma soluo. Ele mesmo fundar um. Mas como? Dona Ins me cativava com sua narrativa. Era uma emrita contadora de histrias. Sabia como falar, como mostrar e seus gestos eram perfeitos. Sabe Seu Osvaldo, eu nunca me

aproximei de Judas da Galileia. Eu tinha medo. Achava que ele podia ser o prprio Judas reencarnado. O traidor de Jesus. Mas ele me procurou um dia. Olhou-me com uns olhos to chorosos que no pude dizer no. Pediu se meu filho o Florindo podia participar. Chamei florindo e ele de cabea baixa concordou. Outros pais ficaram sabendo. Ele conseguiu oito meninos. Andava com eles para todo lado. Marchando, fazendo acampamentos, fazendo ns, sinais, tinham umas bandeirolas que se divertiam na praa e assustar as mooilas com os recados que iam e viam dos quatro cantos da cidade. - Lembro bem que foi em um domingo a tarde que Anselmo Trs Dedos chegou cidade com mais de vinte bandidos. Cercaram tudo. Prenderam o delegado, o prefeito, o juiz e mais oito ordenanas na cadeia local. Vrios bandidos deram ordens para ningum sair de casa. Se uma janela se abrisse eles entravam e matavam todo mundo. Um medo geral. O gerente do Banco do Brasil foi obrigado a abrir a agencia e o cofre. Foi nesta hora que Judas da Galileia adentrou a cidade com seus oitos escoteiros vindo de um acampamento. Notou a movimentao dos bandidos. Mandou os escoteiros correrem para suas casas. Anselmo Trs Dedos o viu parado em frente fonte da praa. Gritou para ele correr. Ele no correu. Devagar com seu olhar mortfero se dirigiu at a onde estava Anselmo Trs Dedos. Colocou a mo em sua testa. Anselmo gritou. Um grito horrvel. Mesmo assim puxou o gatilho do seu quarenta e cinco. Seis tiros. Judas da Galileia continuou imvel. Anselmo Trs dedos caiu morto. Parecia que um raio o matou. Estava queimado feito carvo. Coloquei os braos na mesa. Parei de comer. Olhava sem tirar os olhos de Dona Ins. Ela continua sria, contando sua histria infernal. Os bandidos que assistiram aquilo saram correndo da cidade. No ficou ningum. Judas da Galileia foi devagar at a praa e sentou ali, naquele banco amarelo. Olhei pela janela e vi o banco Todos os polticos vieram abraar Judas da Galileia. Mas ele estava sentado, calado, de olhos abertos e morto. No havia mancha de sangue nos buracos das balas. S na marca da corda de seu pescoo escorria sangue. Ningum mexeu no corpo. No dia seguinte o corpo desapareceu. Ningum nunca mais soube de nada. Parecia que uma praga caiu sobre a cidade. A cada ms, a cada ano famlias e famlias iam embora. Hoje a cidade morreu. Aqui no se v alegria, ningum brinca ningum canta. Dizem e eu posso afirmar que a noite sempre est l no banco da praa, o mesmo amarelo, Judas da Galileia. Fica l hora sem se mexer. De vez em quando parece que se ouve um tal de Ratapl cantado com voz rouca. Ela se calou. Olhei para a praa. No banco amarelo vi um vulto. De uniforme caqui e chapu de trs bicos. Assustei-me. Sai correndo em direo praa. Precisava ver de perto. No banco no tinha ningum. Voltei e ouvi baixinho algum cantando o Ratapl! De novo no vi ningum. Dormi pensando em tudo aquilo. No dia seguinte Joel Boca Torta arrumou minha vespa. Parti sem dar adeus a ningum em Galileia. Nem a Dona Ins. Perguntei por ela ao menino porteiro. Minha me morreu h muito tempo ele disse. Aqui s minha V e minha Tia. Falar mais o que? Ainda bem que fiz bons negcios em Tainhomim. Nunca mais voltei em Galileia. Outro dia procurei no mapa. Nada. Olhei no

Google, nada. Mas acreditem, havia um Judas da Galileia. L constava que era Escoteiro no cu. Foi perdoado e agora faz parte da tropa do alm. Deus me livre. Que ele seja feliz e no venha noite cantar para mim o Ratapl! Se no passado no crucificaram Judas porque hoje fazemos isso com nossos irmos? Adriano Nogueira

Lendas para Fogo de Conselho. A ardilosa Acar do riacho Vermelho. Podem dizer que inveno. Podem dizer o que quiserem. No me importo, juro pela alma do Cavalo Baio do Seu Chico das Mercs que verdade. Afinal tenho mais trs testemunhas (todas j se foram para o grande acampamento). Quatro experientes escoteiros sendo enganados por um peixe? Fiquei deveras preocupado com o acontecido. Isto nunca aconteceu antes. Como uma simples pescaria um peixinho mixuruca deu um baile em quatro primeiras classes? E sem me gabar, me considerava um grande pescador. No Rio Doce pesquei todo tipo de peixe. Era bamba na pesca do Timbur. O peixe que no era para qualquer um pescar. Um dia at peguei um com as mos quando mergulhava num remanso l pelos lados de Derribadinha. Mas vamos contar o que aconteceu. Acredite quem quiser. Nosso Chefe era muito amigo do Seu Chico das Mercs. Ele tinha um sitiozinho l pelos lados de Malacacheta. Assim ele dizia. Um sitiozinho, mas querem saber? A cavalo precisava de mais de cinco dias para percorrer toda sua divisa com outras fazendas. Sempre acampvamos l. No era longe e ele era um amigo do peito dos escoteiros. O melhor, a mata era linda e sumia de vista. Cinco crregos e ainda o Rio Vertente cruzava de norte a sul em suas terras. Um local perfeito. Nada que menos de duas horas nas nossas bicicletas no resolvesse a viagem (parece que eram duas lguas de distancia, mais ou menos doze quilmetros). Frias de janeiro. Grupo fechado em frias, mas alguns da Patrulha Lobo s reclamavam de no fazer nada. Porque no acampar? Melhor ainda, vamos levar s sal e leo e l nos viramos? Desafio era conosco. ramos quatro primeiras classes. Experincia era o que no nos faltavam. Primeiro dia, montamos uma cabana que quebrava o galho para os quatro dormirem. Chegamos s trs da tarde. Seu Chico sempre rindo. Era uma festa quando amos. Jantem comigo hoje, disse. Obrigado Seu Chico, mas sabe como . Pretendemos acampar l prximo ao Crrego Vermelho e no perto. - Entendo ele disse. Mas cuidado. No contem com as acars de l. So danadas de espertas. Todos riram. Peixe esperto? S mesmo o seu Chico para dizer isto. L pelas quatro achei um local com muita minhoca puladeira. Perfeito. Era a melhor para a ocasio. Cortamos eu e o Fumanchu duas varas de bambus

e em minutos tnhamos tudo preparado. Romildo e Israel ficaram no campo fazendo uma mesa. Achamos um belo remanso. gua cristalina. L no fundo uma bela de uma Acar. Enorme. Rabo vermelho. S ela seria um jantar perfeito. Joguei meu anzol e aproximei de sua boca. Ela deu uma nadada para trs. Fui mais prximo e ela escondeu em uma galhada. Perdi meu anzol. Fumanchu tentou e nada. Tinha reservas. De novo ela andando de r. Resolveu pular na gua e sumir. Aparecia em outro remanso bem abaixo. Corramos at l e nada. A maldita sumia e aparecia em outro remanso. J ia escurecer e no tnhamos pegado nada. Caramba! E as traras? E os lambaris? S aquela maldita Acar? No podamos desistir. A fome ia chegar e comer capim? Programa de ndio. Foi ento que resolvemos fingir que amos embora. Voltamos rastejando p ante p e vimos o inusitado. No era uma Acar, eram mais de vinte. Elas fingiam ser uma s. Impossvel? J disse, juro pela alma do Cavalo Baio do Seu Chico. Combinei com Fumanchu. Voc joga a linha mais no meio e eu no inicio do remanso. Vamos nos encontrar bem devagar. Pelo menos uma vaia morder. Sabem o que elas fizeram? Uma fila indiana como se estivessem a escrever a palavra otrios no fundo do remanso. No acreditei. E elas ento ficaram juntas e vieram at a borda da gua e fizeram biquinhos como estar dando risadas. Voltamos sem nada. Uma noite sem comer no mata ningum. Na volta achei um p de banana ma. Quebrou o galho. Nossa pescaria mudou de rumo. Agora amos at o rio Vertente. L no teve problemas. Uma pescaria das boas. De vez em quando ia at o remanso e ficava olhando as Acars. Elas sempre vinham tona e abriam sua boquinha como a dizer: - Otrios! Acho que esta foi minha melhor histria. Ningum vai acreditar, mas fazer o que? Contei isto para muitos escoteiros. Todos que foram l foram tapeados pelas Acars. Na tropa e nos Seniores no houve quem no tentasse. Pela primeira vez, a Patrulha Lobo foi enganada por um bando de Acars. Um peixinho que todos dizem ser mansos e agora eu mudei de opinio. E quem quiser acreditar tudo bem, quem no quiser deixem a histria para contar a noite em um Fogo de Conselho. Mas no se esqueam de dizer a todos que eu juro que verdade. Pela alma do Cavalo Baio do Seu Chico das Mercs. Nota O Cavalo Baio nunca existiu. Era uma lenda que Seu Chico contava e ningum acreditava!

Lendas escoteiras. Nazareno, o menino Escoteiro que falava com o cu. (um conto baseado na doutrina esprita). Quanto tempo? Muito. Mais de vinte e poucos anos. Uma vida. No sei onde ele anda hoje e se ainda continua nos caminhos que escolheu. No digo que foi um santo que foi um pecador nada disto. Poderia dizer que nasceu em uma famlia errada, na cidade errada. Nazareno nunca foi um crdulo, um

homem de Deus. Na poca ele no teve escolha. Como Escoteiro sempre foi considerado um simples menino sem muitos conhecimentos religiosos afora os que lhe foram colocados como o correto como coroinha da Parquia So Geraldo. Seus pais at imaginaram que ele poderia ser um padre, um bispo um cardeal. Sonhos de muitos pais em cidades do interior. No porque fosse um prodgio em religio ou milagreiro, nada disto. Eu pessoalmente na poca, com parcos conhecimentos espritas achava que ele estava em contradio com as leis da natureza. Claro que tinha excepcional inteligncia para sua idade e em alguns casos poderia dizer mesmo que ou fazia milagres ou tinha parte com o demnio. Deus me livre! Nazareno procurava sempre esconder suas possibilidades de falar com os mortos. Ningum sabia. Dizem hoje que a mediunidade faz parte da natureza. Que todos ns sem perceber somos mdiuns, uns mais outros menos. No vou entrar no mrito da questo. No estou aqui para escrever sobre uma crena, uma Doutrina, uma ideologia ou uma filosofia como querem alguns definir o espiritismo. Prefiro ficar com Mateus, em 15, 14 que dizia: Deixai-os; cegos so os condutores de cegos. E se um cego guia a outro cego, ambos vo cair no abismo. Quem sabe melhor ficar com Nathalia Wigg que disse A maior mediunidade que um homem pode desenvolver a capacidade de amar. Quando era lobinho sempre o achei taciturno, reservado e retrado. Brincava, cantava, mas no parecia estar ali junto com seus amigos de matilha. Quando passou para Escoteiro o encontrei uma vez depois da reunio chorando. Seus olhos cheios de lagrimas. Seu corpo tremia. Sempre assim calado, sem dizer nada. Perguntei o que havia e ele me respondeu melanclico que eu no iria entender. Ningum o entendia. Isto aconteceu vrias vezes. Nunca comentei o caso na Corte de Honra. Cidade pequena, praticamente catlica como ajud-lo? Quantas vezes ao sair da barraca pela manh, com o sol j despontando no horizonte, eu o avistava sentado em um lugar qualquer, olhando para o cu? Um dia me disse Monitor sabe de uma coisa? Tem algum me dizendo que devemos esperar que se o amor se propagasse no mundo com mais fora que a violncia a violncia desaparecer, a maneira da treva quando a luz se lhe sobrepe. Eu tinha treze anos, no entendia nada do que dizia. O dia amanhecia e l estava a Patrulha nos seus afazeres. Nazareno corria com os outros nas atividades, mas quase no sorria. S uma vez o vi sorrindo quando algum brincou no Fogo de Conselho com os novatos com a velha brincadeira do Serafim. Voc conhece o Serafim? No? Aquele que fica assim? Ele ria. No aquela gargalhada de quem conhece a brincadeira. Eu mesmo ate hoje dou boas risadas. Acredito que tudo piorou quando na missa de um domingo qualquer, a tropa estava presente e ele sem ningum perceber foi ate onde estava o padre e em alto e bom som disse para todos os presentes: Somos companheiros otimistas no campo da fraternidade. Se Jesus espera no homem, com que direito deveramos desesperar? Aguardemos o futuro triunfante, no caminho da luz. A terra uma embarcao csmica de vastas propores e no podemos olvidar que o Senhor permanece vigilante no leme! Todos os presentes na

igreja ficaram estupefatos. Ningum entendeu nada. Pudera entender o que? Um menino Escoteiro com chapu na ombreira, olhando para o cu e de mos postas dizer aquelas palavras? Era santo? Ou estava tomado pelo demnio que fingia para todos ali presentes? O padre ficou possesso. Na escola sua professora Dona Neide, uma matrona dos seus quarenta anos sem filhos, magra, parecendo a Olivia Palito esposa do Popeye o pegou varias vezes de olhos fechados, escrevendo sem parar no seu nico caderno que era para fazer a lio de casa. O pegou pela orelha e o arrastou ate o diretor. Era difcil entender o que estava escrito vrios rabiscos que precisariam ordenar para entender. E depois? Como explicar aquelas palavras? Quando cada um transforma-se em livro atuante e ao vivo as lies para quantos nos observam o exemplo, as fronteiras da interpretao religiosa cedero lugar a nova era da fraternidade e paz, que estamos esperando. No foi uma s vez. Foram vrias. Ningum para explicar e ajudar. As brigas homricas do padre versus professora versos pais versos chefes eram constantes. Cada um querendo que o outro resolvesse. Ao fazer quatorze anos j com sua Segunda Classe, Nazareno desistiu de sua Primeira Classe. Pela primeira vez pensou em abandonar o Grupo Escoteiro. Ele sabia que era o nico lugar que ningum perguntava e se preocupava com sua maneira de ser. O aceitavam como era. Mas eu, como Monitor de sua Patrulha ficava de olhos nele. Tinha medo que ele fechasse os olhos e desaparece em alguma mata ou bosque e pudesse acontecer o pior. Mal sabia eu que ele era assistido por milhares de espritos protetores que iriam sempre lhe mostrar o caminho do bem. Um dia sua me procurou o grupo e disse para o Chefe umas verdades. Este me chamou e ela sem papas na lngua disse em alto e bom som que ns no nos preocupvamos. Que o deixvamos fazer suas iluses mentirosas e at mesmo falar com Deus. Algum soprou no ouvido dela e do padre que era mediunidade. A resposta dela j pronta dizia que no era mediunidade coisa nenhuma, era coisa do demnio ou dos escoteiros que o levavam a acreditar em tudo. Mal sabamos ns que o fenmeno medinico j estava fazendo parte dele. Mesmo sendo uma criana a partir do momento que se deixa dominar a influncia espiritual est presente. Ainda bem que ele tinha amigos que o protegiam na espiritualidade. Sabemos que quando isto acontece pode um esprito qualquer aproveitar a circunstncia e querendo fazer coisas erradas, e claro por satisfao do obsessor que nada mais algum de um passado seu. Nunca vi em Nazareno aes destemperadas. Se fosse hoje poderia dizer que ele estava tendo comunicaes medinicas na acepo da palavra. Mesmo que todos queriam interromper esse fenmeno no iriam conseguir. E tudo seria to simples com a orao, a pacificao, o desligamento do mal e seria fcil faz-lo desligar daquela ao. O pior aconteceu. A famlia de Nazareno comeou a ser estigmatizada. Todos passaram a evit-los. O dia ele chegou e me procurou chorando Monitor tenho de sair. Meus pais vo mudar daqui. Nem sei qual cidade vamos e eles me

pediram e at ajoelharam em meus ps para procurasse ser normal l. No entendi, pois me acho normal. Nunca disse para voc, mas vejo tanta gente quando ando, quando durmo, e ate aqui no grupo eles esto. No fazem mal a ningum, pois me disseram que onde houver um ambiente saudvel, cristo, onde Deus est presente eles no faram nenhum mal. Sabe Monitor, aqui encontrei uma paz que no encontrava na escola e nem em minha casa. A Lei Escoteira e minha promessa nunca ser esquecida. Eles partiram duas semanas depois. O tempo passou. Esqueci-me por completo de Nazareno. H vinte anos atrs sem perceber algum me chamou quando descia a p a Avenida Anglica. Olhei para trs e reconheci Nazareno. Vestia simples, uma camisa verde desbotada e uma cala jeans velha. Calava um sandlia de couro. Convidou-me para um caf. Contou-me sua vida depois da mudana. Seus pais morreram logo. Disseram que foi de desgosto. Eu vim para So Paulo aqui me casei e aqui criei meus filhos. So trs. Um deles formado em engenharia. Os demais seguiram outro rumo, mas so pessoas honestas. Eu e Linda minha mulher descobrimos um Centro Esprita prximo a minha casa l no Bairro Santa Amlia. Gostei quando me aproximei deles. Gente simples. No so um rgo centralizador. Apenas alguns princpios bsicos que sustentam a Doutrina. Participo ativamente quando no estou trabalhando. Sou pedreiro e isto me d o suficiente para minha famlia. H algum tempo estou escrevendo. Ou melhor, psicografando. Ainda no tenho nenhum livro. A maioria do que escrevo so mensagens para pais saudosos, e graas a Deus eu tenho ajuda de amigos espirituais que fiz nesta jornada desde que estou l. Fiquei ali com Nazareno por horas. Para dizer a verdade ele tinha uma voz que me encantava. Falava pausadamente sem ostentao. Seus olhos brilhavam quando falava da sua nova vida. Insistiu para que um dia fosse a sua casa. Sua esposa j sabia de mim, pois ele sempre contou sobre seus tempos de escotismo. Hoje no participa. Ainda se sente um Escoteiro. Mas suas horas de folga, seu tempo livre dedicado a ajudar os que procuram no centro. Sabe Monitor, eu sou muito feliz em poder ajudar no tratamento, orientao dos problemas materiais e espirituais dos que procuram minha ajuda no Centro Esprita. Monitor, ele disse, eu gosto de recepcionar os que nos procuram. Eu sei que o primeiro contato a primeira impresso que cativarei para ajud-lo em tudo que for possvel. No fui a casa dele. Talvez pela falta de tempo. Devia ter ido. Afinal sou um Kardecista de mo cheia. No nos encontramos mais. Ainda tenho seu telefone. Todos os dias penso e ligar e no ligo. Quem sabe j escreveu um livro? Sinceramente? Gostaria de ler. Vou terminar por aqui. Desculpem os que ainda no professam a Doutrina Esprita. No escrevi um conto com a inteno de catequizar ningum. Respeitar a escolha individual faz parte da minha maneira de ser. Escrevi mais por recordar algum que um dia me deu a luz para o espiritismo que conheo hoje. Como diz o nosso querido Chico Xavier: Acreditamos que o Criador nos fez rico a todos, sem exceo, porque a riqueza autntica, a nosso ver, procede do trabalho e todos ns de uma forma ou de outra, podemos trabalhar e servir.

Obs. Muitos dos escritos aqui foram anotados por Chico Xavier em suas centenas de livros.

Lendas escoteiras. Escoteiro no durma. Se dormir voc morre! Ainda faltava uma hora e meia para chamar Meiasuja. Meu amigo de muitos anos e Escoteiro snior como eu. Meus olhos queriam fechar. Um sono incrvel. No sei se aguentaria sem dormir por muito tempo. A noite estava gostosa. Uma brisa fresca, um cu estrelado e naquela clareira da Floresta da Jiboia nada dizia que seriamos incomodados por chuva ou outros bichos naquela noite. Meus olhos fecharam. Tentei abrir. As plpebras no obedeciam. Forcei novamente. O melhor era levantar beber um pouco de gua, passar um pouco no rosto e tomar um caf que estava quente no bule em cima das brasas do fogo, pois assim meu sono seria espantado. Por pouco tempo claro. J tinha feito aquela rotina por duas vezes. Abri os olhos. O que vi me matou de susto de uma s vez! Fiquei paralisado. Meiasuja tinha me prevenido. Melhor fazer uma guarda, cada um fica trs horas e meia. Lembre-se no durma! O Seu Ptolomeu foi sincero em tudo que nos contou. E dai? Adiantou? Consegui abrir o olho, mas no consegui me mexer. Era a viso da morte. No dava um nquel pela minha vida. Os dois eram enormes. Seus olhos eram brasas vermelhas a brilharem no escuro. Seu Ptolomeu disse que no era comum Pumas daquele tamanho na regio. Eles l na roa os conheciam como Ona P de Boi. Matavam para viver e quando apareciam o gado ia aos poucos sendo sacrificado. Diziam continuou ele que eram animais fantsticos e que muitos caadores e pescadores que conseguiram sobreviver juram que era uma Ona enorme, andando sempre aos pares com uma femea. Assim era difcil escapar. Encurralavam em algum lugar e enquanto matavam um e comia a femea esperava sua vez. Se vocs estiverem armados, matem primeiro o macho. S assim podero sobreviver, pois a femea vai fugir. Pescoo, voc e Meiasuja tomem cuidado. A Suuarana que aqui chamam de puma podem matar vocs s com uma pata. No me mexia. O corpo tremia. Urinei na cala uma vez. Seriam varias naquela noite. Olhava aqueles olhos vermelhos que no piscavam. Os dois pumas estavam um ao lado do outro e a menos de trs metros onde estava. Meiasuja estava atrs de mim dormindo nem imaginava o perigo que corria. Pensei em acord-lo, mas estava tremendo. Se ele acordasse e gritasse j era! O que fazamos ali? Por Deus deveramos ter voltado. Seu Ptolomeu foi enftico. Agora era tarde de mais. Tudo comeou no Conselho da Tropa Snior. O Grande Acampamento Distrital Snior que fazamos a cada dois anos seria em nossa cidade e iria acontecer uma grande Olimpada Tcnica Escoteira. Precisvamos de um local para alojar mais de duzentos seniores de seis

distritos Escoteiros. No poderia ser um lugar qualquer. Era condio mnima ter uma mata, um rio ou riacho mais largo, remansos para banho, se possvel quedas dgua para pioneiras de grande porte e muita madeira. Todos ns conhecamos uma infinidade de lugares, mas mesmo assim o Chefe Pantaleo no Conselho de Tropa Snior deu sua opinio que prevaleceu. Vocs so doze. Duas patrulhas. Tem muitas estradas vicinais que ainda no exploramos. Vamos nos dividir em duplas. Levar toda a patrulha no vai dar tempo de achar um local novo e desconhecido para todos. Vamos sair pela manh do prximo sbado e voltar no domingo tarde. Vamos sortear aonde cada um vai. Na semana seguinte nos reuniremos para ver o que vocs encontraram. Assim foi dito, assim foi feito. Nosso destino seria a Floresta da Jiboia. Nunca estive l. Tinha ouvido falar. O Rio Taquari corria em suas entranhas mais fechadas. At pescadores evitavam ir l. Mas ramos seniores. Afinal o difcil para ns era fcil. Impossvel? Nunca, dizamos. O possvel se faz agora e o impossvel daqui a pouquinho. Para ser sincero no dei muita bola para o que disse o Seu Ptolomeu. J vi onas muitas vezes e a maioria se espantava e sumia no meio das matas. Portanto estas tais pumas quando nos visse fariam a mesma coisa. Iriam fugir como o diabo foge da cruz. Ainda bem que o Meiasuja deu a ideia da sentinela. Mas no achei que adiantou muito. Estava petrificado olhando aqueles enormes pumas a minha frente. Como snior aventureiro j tinha visto a morte de perto muitas vezes. Naquele buraco fedido no Espinheiro da Maloca, onde nunca tinha visto tantas surucucus reunidas em um s local. Ou mesmo na Garganta do Espantalho, onde ca dentro de um buraco de formigas gigantes. Safei-me de muitas e outras borrava de medo. Nunca fui valente. Mas gostava daquilo que fazia. Agora no. Sabia que no haveria escapatria. Atrs de mim, deitado em uma manta e com a cabea na mochila Meiasuja dormia como um nenm recm-nascido. Um dos monstros sem plo deu mais um passo a frente. A femea fez o mesmo. Estava morto e no sabia. Olhavam-me dentro dos olhos. No aguentei mais. A cala ficou toda molhada. Perdi os sentidos. No tive sonhos e nem pesadelos. Acordei uma hora depois pensando estar no cu. Os dois pumas estavam deitados aos meus ps e dormiam como anjinhos. Acho que aproveitando o calor das brasas do fogo que j se extinguia. Cutuquei Meia suja. Ele custou a acordar. Fiz o sinal de silncio com o dedo boca. Ele ento viu os pumas. Samos p ante p. Subimos na primeira rvore que encontramos. Cada um em um galho. Ficamos l por um bom tempo. Pela manh os pumas foram embora e ns tambm. Sempre a olhar na longa trilha da mata se eles resolvessem nos emboscar. Foi duro sabe muito duro. No tinha levado roupa reserva. Todo molhado e vi que no era s isto, pois tinha mais coisa na roupa. Samos da mata duas horas depois. Passamos pela fazenda do Seu Ptolomeu. Ele abanou a mo. Estava dando um trato na sua vacada de leite. No paramos para comentar. O medo era demais. No Conselho de Tropa Snior todos deram boas risadas. Alguns no

acreditaram em tudo que contamos. Que seja. O Acampamento Snior Distrital foi realizado com muito xito. Nossa patrulha no ganhou nada nas olimpadas, mas eu e Meiasuja fomos batizados de Escoteiros Melosos. Bem no foi propriamente meloso, mas o nome prprio no deve ser colocado aqui. Um dia na Barbearia do Mico Preto, eu cortava o cabelo e o Seu Ptolomeu entrou. Quando me viu riu e disse Sabe? Nunca mais vi os dois pumas. No perdi mais nenhum boi. O que vocs fizeram para eles sumirem deste jeito? Falar o que? Ser que eles aproveitaram o calor do fogo e o calor de dois meninos Escoteiros e em troca da amizade e hospitalidade oferecida foram embora? Um dia chamei Meiasuja e disse Acho que devemos voltar l. Nem pensar Pescoo, nem pensar! Mas no meu intimo queria saber se os pumas ficaram meus amigos. Uma dvida que persiste at hoje. Cresci e no voltei. No soube de mais nada deles na Floresta da Jiboia. Soube sim que outras patrulhas acamparam l e nem sinal dos pumas. Ainda bem. Histrias so histrias. Acreditem se quiser! Risos.

Lendas Escoteiras Laninho escoteiro e a Festa no Cu. Nada como ser um Escoteiro sonhador. Deixar a mente voar e ser levada ao sabor dos ventos, sentir a brisa da manh no rosto e sorrir existe coisa melhor? Participar de lindas histrias onde pode ser heri, onde pode voar conversar com os bichos as aves os peixes e sentir seu corao bater de alegria em todos os momentos? Pois assim era Laninho. Puro nos seus pensamentos nas suas palavras e nas suas aes. Na Patrulha o chamavam de Voador, estava sempre sorrindo e olhando o cu, os pssaros que voavam perto, os insetos e jurou que um dia fez amizade com um Quati cinzento. Quem duvidaria? A tropa estava acampada no Sitio do Beija Flor. Um lindo local, uma cascata gostosa, muitas arvores frondosas, e bambus. Como tinha bambu. As Patrulhas adoravam. Laninho era dos Tigres Brancos. Um ano l com eles. Promessado e tinha a simpatia de todo mundo. Ao seu modo colaborava com a Patrulha, mas era franzino e todos achavam que ele s vivia Voando e no contavam muito com ele. Naquela tarde aps o banho todos foram ajudar o cozinheiro com a sopa do jantar. Laninho como sempre sentou embaixo de uma aroeira frondosa e olhava em seus galhos se tinha algum pssaro para conversar. Percebeu ao seu lado um Sapo Amarelo. No o conhecia. O Sapo Amarelo o olhou e disse Voc pode me ajudar? Ajudar como disse Laninho simples, vai ter uma festa no cu. Convidaram todas as aves e eu no posso ir. S quem pode voar. Como me disseram que voc um Escoteiro Voador, quem sabe me leva l? Laninho sorriu. Tinha lido um conto da Festa no Cu. Nele foi um urubu quem levou o sapo uma tartaruga e um esquilo que se esconderam em

sua viola, pois o Urubu era um violeiro. Depois no cu ele os descobriu l escondido em sua viola e jogou todos nuvem abaixo. Quem levou a pior foi tartaruga. Espatifou-se no cho. Mas Laninho ficou pensando se no podia levar o Sapo. Afinal ele sempre sonhou com uma festa no cu. Porque no ir? Feche os olhos Senhor Sapo. Vamos para a festa voc e eu! S abra quando eu mandar. Mas o sapo no obedeceu. Abriu os olhos quando estavam sobre uma nuvem e ambos despencaram no espao. Tiveram sorte. Caram em um riacho de aguas lmpidas. O sapo mergulhou e voltou tona xingando Laninho. Mas eu tentei te ajudar falou. Nada disto. Voc me soltou no espao. Laninho chorou muito e o sapo ficou triste tambm. Nesta hora o Urubu Rei viu aquela choradeira e ficou com d do sapo. Deixa que eu levo voc em minha viola. Bem como o sapo foi no preciso contar. Todos conhecem a histria da Festa no Cu. Laninho despencou de um galho e caiu com tudo no cho. No machucou, mas quando abriu os olhos viu toda sua Patrulha rindo. Ele tambm riu. Contou para eles que estava chegando ao cu e o sapo o jogou no espao. Eles iam a uma festa no cu. Todos riram a valer. - Esse Laninho, falou o Monitor. O Sub Monitor rindo falou Mas Laninho, s voc e o sapo? E a tartaruga? E o Esquilo? Eles no foram tambm? Laninho riu e disse Melhor perguntar a eles, esto atrs de vocs! A Patrulha olhou espantada e viu um Esquilo e uma Tartaruga rolando pelo cho e dando enormes gargalhadas! Se Laninho e os bichos foram com ele a festa no cu eu no sei, mas que at hoje ele conta como o Urubu tocava sua viola e crocitava, fazendo coro com a Araponga e o Papagaio era uma orquestra perfeita. No faltando a Gralha o Cisne, a Pomba e o sabi que gorjeavam como nunca. E assim nunca mais a Patrulha de Laninho duvidou de suas histrias e todos os fogos de Conselho deixavam-no falar, cantar e contar seus contos fantsticos. E como digo sempre, toda a histria tem um fundo de verdade, mas histrias so histrias. Quem quiser mudar que conte outra. Que Laninho viveu feliz para sempre eu sabia, pois o Escoteiro Alegre e sempre sorri nas dificuldades!

Lendas escoteiras A fabulosa odisseia da Matilha cinzenta. ((Os personagens - Tiquinha (Lucilene Bastos), Patropi (Paulo Fernando), Mister Mosca (Joel Silveira), Neka (Antonia Farisson), Grilo (Jorge Assuno) e Professor (Pedro Sales))). - Tiquinha, quando vai terminar as frias? demora ainda Patropi demora muito, semana passada voc j tinha perguntado. Mister Mosca era o nico que estava plugado na Internet. Neka e Grilo jogavam pacincia e o Professor era o nico que estava a escrever em um caderno. Todos as teras eles se reuniam em casa de um dos participantes da Matilha Cinzenta. A alcateia

estava em frias. Sempre fora assim em julho. Precisamos mudar isto, no d sem reunies s porque alguns chefes vo viajar, disse Neka Eu concordo com voc, sem uma reunio uma excurso ou um acantonamento e sem escola o tempo no passa! Disse o Grilo. Olhem, no somos uma matilha? Afinal na jngal os lobos no se viravam sozinhos? Disse o Professor. Todos olharam para ele. Fale mais Professor. Bem acho que podemos fazer uma atividade de um dia s para ns. No estamos em frias? Todos eles pertenciam a Matilha Cinzenta. Estavam juntos a mais de dois anos exceto a Tiquinha e o Grilo com um ano. Eram grandes amigos. Sempre as teras se reuniam em casa de um deles. Hoje estavam na casa do Professor. Dona Fil sua me sempre dava uma olhada no quarto para ver o que estavam fazendo. Agora estava na cozinha preparando um lanche para eles. Ela gostava de todos da Matilha. Eram seis e grandes amigos e muito educados. Jovens naquela idade no costumava ser assim. Mas Dona Fil nunca imaginou o que eles naquele instante estavam planejando. Se soubesse no estava sorrindo e sim chorando. No s ela, mas como todas as mes e pais dos seis loucos e sonhadores lobos da Matilha Cinzenta. Ficaram ate s sete da noite quando os demais pais foram busc-los. O local foi escolhido pela internet. Um lugarejo antigo, onde existia um trem que aos sbados e domingos fazia o trecho explorado turisticamente. Na internet viram as fotos. Lindas, maravilhosas. E a nevoa que encobria com uma bruma cinzenta a cidadela? E aquela estradinha que levava a riachos de pequenas cascatas com guas cristalinas? Era demais. Poderiam achar a Pedra do Conselho. Quem sabe o Lobo Gris estaria l? Todos estavam com a adrenalina flor da pele. Discutiram a hora de sada, hora de chegada, o que deviam levar apetrechos com uma bssola (no entendiam nada dela) e lanterna. Um lanche extra no caso de demora de retorno. Como iriam ficar fora o dia inteiro teriam de mentir. Detestavam isto, mas no tinha sada. - No dizem que somos todos viajantes do tempo, estagiando nesta odisseia de uma longa viagem cheia de aventuras, peripcias e eventos inesperados? Disse o Professor. Concordaram com ele. Em um gravador com a voz dentro de um lato de cem litros imitaram a voz do Balu. Ele dizia que estavam chamando os lobos para uma reunio especial que ia durar o dia inteiro no sbado. Os pais deviam traz-los pela manh e busca-los tardinha. Levar um lanche reforado. Ao receberem o telefonema os pais no duvidaram. Quando ficaram ss na sede, pois os pais confiavam e os deixavam na porta indo embora em seguida eles partiram para o ponto de nibus. Acho que estou com medo disse Neka. Calma, vais ver que ser to divertido que o sorriso ficar sempre presente em voc e todos ns disse Patropi. O nibus os deixaram na Estao Ferroviria. O trem no demorou. Os passageiros sorriam com aqueles seis jovens de mochila e uniformizados de azul. A maioria sabia que eram lobinhos e lobinhas. Ningum se perguntou onde estavam os chefes.

Quase duas horas de viagem. Chegaram. A estao era bem antiga. Desceram e subiram uma grande escada de ferro. Logo em uma passarela enorme tiveram uma bela viso. A cidade aos seus ps e a bruma cinzenta em volta. O Professor sabia onde deviam ir. Pesquisou muito. Atravessaram a cidade e ningum estranhou aqueles jovenzinhos de azul bon estiloso e mochila as costas sem um adulto. Ningum se perguntou. Logo avistaram a estradinha. Linda. Em volta um arvoredo cheio de pssaros e beija flores coloridos. Estavam em xtase. Maravilha tudo aquilo. A estrada diminuiu. Agora era uma trilha. Ningum queria parar. Cada um se sentia em plena Jngal. A mente buscava a Akel ou quem sabe o Balu atrs de alguma rvore. Nem pensavam em voltar. Todos sonhavam em chegar Pedra do Conselho. Sabiam que l estaria o lobo Gris e seus irmos. Foi Patropi que disse estar com fome. Pararam para um lanche. Conversavam entre si cada um fazendo perguntas que o outro no sabia responder. Eram duas e meia da tarde, hora de voltar. Mas e o riacho com cascatas de guas cristalinas? E a Pedra do Conselho? Neka que tinha um relgio marcou o tempo. Seguiriam por meia hora. Se nada encontrassem meia volta. Viram o riacho. Lindo, nada mais que um banho, pois no foram ali para isto? Um banho lindo e formidvel. Brincavam, gritavam, riam cada um olhando para o outro e mostrando a alegria de estarem ali. Esqueceram-se das horas. O sol sumiu. Assustaram-se. Tiquinha pensava como voltar. E agora? Perguntou. Calma, disse o Professor. Todos ns devemos agir com calma. Vamos aproveitar antes de escurecer e voltar para vermos se achamos a estrada. O dia se foi. No enxergavam nada. Tiraram as lanternas. Mesmo assim no viam nenhuma estrada. Outra trilha e a noite chegou sem lua. Nem as estrelas eles viam. Que burrice fizemos? Disse o Mister Mosca No devamos ter vindo disse o grilo. S Patropi e o Professor mantinham a calma. Eram uma da manh de domingo. O Professor achou por bem parar. Seguiriam no dia seguinte. O que os pais iriam dizer ficaria para depois. Agora era dormir um pouco. A Tiquinha descobriu um isqueiro em sua mochila. Com lanternas juntaram uns gravetos. A fogueira esquentou a cada um. Os olhos fixos nas chamas que subiam aos cus. Acordaram pela manh com um Canrio Belga cantando e um Bem Ti Vi procurando com seu cantar sua companheira. Olharam em volta, nenhuma trilha. Tiquinha comeou a chorar. Neka tambm. Patropi soluava. Mister Mosca e Professor de olhos fechados no sabiam o que fazer. S o Grilo ainda sorria. De que ningum sabia. Na sede os pais desesperados. Policia, bombeiros, O Diretor Tcnico, a Akel, o Balu e vrios Escoteiros falavam ao mesmo tempo. Onde foram? Ningum sabia. Fizeram varias equipes para perguntar na redondeza. Ningum viu. Capelo um bbado do bairro disse que eles pegaram o nibus da estao ferroviria. Ningum acreditou nele. Farofa era Monitor da Falco. Chamou a patrulha. S vieram cinco. Os demais estavam de frias viajando. Vamos ach-los disse. Faremos duplas, uma delas pegue o nibus da estao. Tendo alguma noticia ligue para os outros.

O domingo se foi. Nada da Matilha Cinzenta. noite ningum podia fazer nada. Na mata a Matilha no tinha sado do lugar. Sabiam que estavam sendo procurados. Dividiram os lanches para dois dias. Muitos saquinhos de biscoitos, batatas palhas e balas. O choro agora era de todos. Neka segurou na mo de Tiquinha, que pegou na mo de Patropi e assim todos deram as mos. Resolveram rezar. Pai nosso, que estais no cu, santificado seja o teu nome... Se algum pudesse ver aqueles seis lobinhos rezando em plena mata escura tambm iria chorar junto a eles. Mais um noite em que dormiram juntos e abraados. Uma fogueira cujas fagulhas subiam aos cus, iluminando uma coruja astuta que olhava para eles sem saber o que estava acontecendo. Dormiram e sonharam com Deus, com Jesus sorrindo para eles e dando esperanas. Acordaram na segunda feira. Ningum apareceu. Farofa no desistia. Ele mesmo foi at a estao. Ficou l mais de quatro horas conversando com um e outro. Os patrulheiros insistiam em voltar. Farofa, no adianta, ningum viu e ningum sabe, disse Lumpaza. Mas Farofa no desistia. Risoleta trabalhava na banca de jornal. Viu os Escoteiros perguntando. Lembrou-se dos lobinhos. Foram no trem de sbado para Paranapiacaba. No vi eles voltarem, pelo menos no horrio que trabalho aqui. Pronto. Uma pista. Farofa ligou para o Chefe Trovo. Sabia que ele daria noticia a todos. Sabia que em pouco tempo Paranapiacaba estaria cheia de bombeiros, policias, a turma de sobrevivncia na selva e helicpteros. Eu vou no prximo trem disse Toda a patrulha disse que agora era questo de honra eles serem os primeiros a encontrarem os cinzentos. Em Paranapiacaba s um guarda civil lembrou deles. Pegaram a estradinha da serra do mar. Farofa conhecia tudo ali com a palma da mo. No final da estradinha duas trilhas. Japir era bom em pistas. Logo viu as pegadas deles. Fcil de seguir. A Trilha acabou. Matos quebrados. Seguiram em frente. Mais meia hora e l estavam eles abraados e chorando. A fome apertava. Quando viram os Escoteiros foi um grito de esperana. Um ms depois eles contaram na Alcateia tudo que aconteceu com eles. Mas no com orgulho e sim como um mea culpa. Ningum nunca deveria agir como eles. No leva a nada. Mentiram para os pais, para os chefes. O lobinho no diz sempre a verdade? E eles no sabiam como agir. Se adultos se perdem e muitos morrem, eles nunca poderiam ter feito o que fizeram. Seus pais choraram tanto de alegria que nem brigaram. Mas ficaram de castigos em casa por trs meses. Queira ou no os seis lobos cinzentos da grande odisseia nunca foram esquecidos. Todos os lobos falavam deles para todo mundo. Uma fama se criou e at hoje naquele Grupo Escoteiro as historias contadas no condizem com a realidade. Mas todos tem seus heris aventureiros. Se fosse para o bem que seja. No faria mal a ningum. Seja sim ou no, que a Matilha cinzenta aprenda com seus erros.

Lendas Escoteiras.

Waldo, um Escoteiro e seu ltimo por do sol. Eu era Chefe de uma tropa Escoteira l no Bairro do Berilo. No era longe e a p chegava a menos de quinze minutos. Era uma boa tropa. Quase no tinha problemas e os Monitores me ajudavam muito. No grupo havia uma tropa feminina, mas que no caminhava bem. S duas patrulhas com doze jovens. Genny a Chefe era muito esforada. Nilo e Bartilho eram meus assistentes. No eram muito frequentes. No sei se acontece com todo mundo, mas tem escoteiros to bem comportados que quase passam despercebidos. Assim era Waldo. Entrando nos quatorze anos tinha todas as qualidades que a gente pensa em quem tem um elevado Esprito Escoteiro. Na Patrulha Quati Waldo era uma espcie de conselheiro dos demais. No era o Monitor, mas cativava a todos pela sua ponderao, pelo seu exemplo no s na tropa como na escola e em sua vida familiar. Quando eu tinha algum problema chamava o Waldo. Ele possua um jeitinho prprio de conversar que conquistava qualquer um que estivesse ao seu lado. No foi minha surpresa que um sbado de maio ao chegar sede no vi o Waldo. Era o primeiro a chegar e o ltimo a sair. Perguntei ao Antonio seu Monitor se ele sabia de alguma coisa. No sabia. Pensei comigo Deve ter sido o motivo muito forte para ele ter faltado. Fiquei de ligar para ele ou seus pais para saber se uma gripe o impediu de ir reunio. Quem atendeu foi sua me. Chefe, o melhor o Senhor vir aqui em casa. No d para falar por telefone. S na quinta deu para ir at l. Eu estava preocupadssimo. O que seria? A Me dona Aurora e o pai seu Rodolpho me receberam na porta. Estavam tristes e taciturnos. Chefe, falou dona Aurora, Waldo me pediu para ele mesmo dizer. Acho que o Senhor deve ficar prevenido. A notcia vai choc-lo e muito. Vi que lagrimas caiam dos olhos de ambos. O Senhor Rodolpho estava com a voz embargada. Subi ao quarto de Waldo, ele me esperava sentado na cama. Senti nele um sorriso tnue e sua voz que j era baixa de natureza estava rouca. Seus cabelos estavam caindo e aquilo me assustou. Ol Chefe, Sempre Alerta! Ele tinha ficado em p. Dei-lhe um aperto de mo e um abrao. Waldo, todos esto sentindo muito sua falta e as saudades so grandes. Ele sorriu de leve. Chefe, vai ser difcil minha volta. Vou direto ao assunto. Melhor ser honesto com o Senhor. Estou com Leucemia no crebro. O medico disse para minha me que eu tenho menos de quatro meses de vida. Foi como se eu tivesse levado um soco, uma pancada. Fiquei chocado. Sentei em sua cama. Calma Chefe, isto acontece com um e outro, eu fui o escolhido por Deus desta vez e sorriu. Meu Deus! Pensei. Que calma deste garoto! Incrvel! Olhe Chefe, eu convenci minha me. Ela e meu pai no queriam, mas eu gostaria antes de ir me encontrar com meus ancestrais l na vivenda de Capella, eu queria ir ao acampamento do prximo ms no Vale dos Sinos. Mas como Waldo? Voc mal fica em p e nem pode andar direito! Eu sei Chefe, mas eu preciso. No posso partir sem ver meu ltimo por do sol nas escarpas cintilantes. - Me lembrei do que ele falava. L das escarpas o por do sol era maravilhoso. O mais lindo que tinha visto. Eu nunca pensei que ele pudesse

lembrar e nem eu mesmo me lembrava mais. Olhei para Waldo. No podia negar aquele ltimo favor. Se ele queria eu no iria dizer no. Combinei com seus pais de passar l no dia marcado pela manh para peg-lo. No disse nada para a tropa e nem para os chefes. Insisti para que ningum faltasse. Queria dar a ele uma despedida que ningum jamais esqueceria. Seria o maior Fogo de Conselho que eu iria dirigir e ele participando. Passei l no dia determinado. No local do acampamento ele insistiu em ficar com sua Patrulha. Estava tremendo, fraquejava, mas dizia que dormir na barraca da Patrulha. Na chefia no era certo e no queria dormir sozinho completou. Chefe, cncer! E ria. Nada mais que o cancerzinho idiota. No vai ter perigo para ningum. Ele no transmitido assim. No contagioso! Menino! Que Escoteiro era aquele? Waldo de quatorze ano me dando lio? Eu tinha levado uma cadeira de praia para ele ficar sentado. O dia que ele quisesse eu o levaria em minhas costas at as Escarpas Cintilantes. Ele recusou a cadeira. Vou fazer a minha Chefe. Devagar mas vou fazer. A Patrulha viu que ele estava doente. Disse para ela que ele estava se recuperando de uma forte pneumonia. Ele quase no participava das atividades, mas ajudava na cozinha sempre. Fez uma bela cadeira. Sentava e fechava os olhos. Seus lbios entreabertos pareciam sorrir. No penltimo dia vi que ele respirava com dificuldade. Waldo vou leva-lo para sua casa. Chefe nem pensar. Me leve agora at as Escarpas Cintilantes. Meu tempo est se esvaindo. Fui sozinho com ele. Em principio foi andando depois vi que no aguentava. O coloquei no colo. Uma palha de to magro. Em menos de meia hora chegamos. Sentei junto com ele na barranca que dava para todo o Vale dos Sinos. Um espetculo a parte. Deviam ser umas cinco e meia. Chefe posso fazer um pedido? Claro meu amigo. Claro. Quando eu estiver sendo guardando na terra dos meus ancestrais no quero que cantem a cano da despedida. Cantem todos aquelas alegres para que eu tenha boas lembranas. O sol foi aos poucos tentando se esconder atrs das montanhas do Grilo Feliz. Waldo sorria. No tirava os olhos. Eu engasgado. Danao! Eu no era como ele. Estava difcil aguentar. Queria chorar e no podia. No podia chorar naquele instante. No podia. Eu sabia que eram seus ltimos momentos. Waldo me olhou. Piscou os olhos e me disse Chefe foi a maior alegria que j tive. Vou levar para sempre esta lembrana comigo. Obrigado Chefe. Obrigado. Foi aos poucos deitando no meu colo. Esticou suas perninhas secas. Waldo morreu sorrindo naquele anoitecer de junho. Ficou ali imvel em meu colo. Fiquei ali chorando por muito tempo. Algum bateu no meu ombro. Olhei e no vi ningum. L onde o sol se ps vi uma nuvem branca brilhante que logo desapareceu. Desci as escarpas com ele no colo. Voltei para a cidade. No chorava mais. Meu corao sumiu. Minha vontade no era minha. Naquele momento achei que eu tambm tinha morrido com o Waldo. No dia seguinte estvamos todos na sua exquias. Cantamos ao som de um violo a Stoldola, Avante Escoteiro, L ao longe muito distante e outras. Todos cantavam com vigor escoteiro. Muitos choravam. Eu tambm. No dava para segurar. Os anos

passaram. Nunca me esqueci de Waldo. Nunca me apareceu em sonhos. Nunca falou comigo em esprito. Deve estar feliz, muito feliz em Capella, a terra dos seus ancestrais.

Lendas escoteiras. O Cisne Negro da asa partida. Beth Blue era muito amiga da Celia desde os tempos que ambas foram coordenadoras bandeirantes. Beth Blue me visitava uma ou duas vezes por ano. Eu a conheci em cursos, pois sempre recorria a ela pela sua vasta experincia com lobinhos. Era Akel em um grupo do outro lado da cidade. Infelizmente pela idade poucos a convidavam. No d para entender. Lembro que ha alguns anos atrs ela me contou esta histria. Era uma tarde linda. Junto com a Clia ela nos fazia companhia na varanda e o sol ia aos poucos se pondo no horizonte. Beth Blue sabia contar histrias. Narrava com perfeio. Prendia a todos ns com seus gestos, seu timbre de voz que mudava de acordo com o desenrolar da histria. Ela me garantiu que era uma histria verdadeira. Como duvidar de Beth Blue? Olhe Chefe, no vero passado fomos fazer um acantonamento No stio Caminho Azul de um pai de um Escoteiro. Local magnfico. Um lago no muito grande, um bosque gramado, um campinho de futebol e um riacho pequeno de guas lmpidas. Os lobinhos adoraram. Nossa Alcatia era composta de dezoito lobos. Dez meninos e oito meninas. Muitos com um ou dois anos de atividade. Pretendamos ficar l trs dias aproveitando um feriado prolongado. A casa sede tinha dois quartos e mesmo assim levamos quatro barracas. Se o tempo permitisse dormiramos em casas de lona. Chegamos cedo. Por volta de nove da manh. Duas mes estavam conosco para ajudar nas atividades e refeies. Eu estava com mais trs assistentes. Um Bal, uma Ka e a Bagheera. A Chill no pode ir. Mas vamos ao que interessa. Aps o almoo cuja matilha branca alega que foi ela quem fez (risos) claro sem esquecer as duas mes cozinheiras, fomos fazer um jogo calmo. No to calmo e sabamos que ele levaria pelo menos uma hora para ser todo desenvolvido. Eram trs bases. Uma um Assistente escondia em cima de uma rvore um relgio que devia ser visto de um s na ngulo. Outra um Assistente com duas sacolas e a cada cinco segundos tirava um objeto, o jogava para cima e guardava na segunda sacola. Seriam vinte objetos. A terceira um sisal amarrado entre duas rvores a uma altura de trs metros aproximadamente e quatro petecas. O jogo consistia no seguinte: - Uma matilha em cada base. Quinze minutos para cada uma desenvolver sua tarefa individualmente. Na primeira eles deveriam ver no permetro marcado onde estava o relgio. Avistando no deveriam apontar e nem dizer nada. Iam at o Assistente responsvel e em uma prancheta escreviam onde estava e assinava e dizia uma lei do lobinho. Aps os

quinze minutos um grito longo de Lobo, trocavam-se as bases. Na segunda eles deviam observar por um minuto os objetos que eram jogados ao ar e memorizar. Depois cada um recebia uma caneta e uma folha de papel para escrever o que estava na memria. Em seguida deviam em conjunto cantar alguma cano Escoteira. A terceira base cada um devia usar a peteca, dar uma palmada que devia atravessar por cima do sisal, ante de cair o lobo ia para o lado contrrio e dar outra palmada devolvendo. Ai a peteca podia cair ao cho. Se isto acontecesse ele teria feito a prova. Para no demorar a base tinha quatro petecas. Tudo corria tranquilamente, os lobos se divertindo e o tempo foi passado. Pensamos que dez ou vinte minutos por base seria suficiente. Pretendamos naquela tarde que o banho no riacho fosse feito mais cedo. Foi ento que Letcia, uma lobinha de oito anos veio correndo avisar que viu um lindo Cisne Negro. Interessante. No sabia que ali existia esses pssaros. Fui at l com ela. O cisne Negro era um espetculo. Se abrisse as asas acho que teria bem um metro de envergadura. O cisne tinha os olhos fixos para uma rvore. No se importava conosco. Nem nos olhava. Logo todos os lobos ficaram em volta. O cisne nem estava a. S olhando para a rvore. O Balu tentou descobrir o que tinha na rvore. Conseguimos avistar l em cima um grande ninho. S podia ser do Cisne Negro. Observando melhor o Cisne notei que uma das asas estava meio cada. Deduzimos que ele ou ela no podia voar. Deveriam existir filhotes e o Balu subiu na rvore e confirmou. Eram dois e piavam sem parar. Lembrei que eu tinha feito uma pesquisa h tempos sobre Cisnes. Chamei a Alcatia e aproveitar para falar sobre eles. Enquanto isto o Balu foi at o lago a procura de plantas e pequenos bichinhos para alimentar os filhotes. Os lobos em volta do cisne que no olhava para ningum. S para a rvore. Sabem lobinhos, comecei O cisne gostas de lagos, brejos e outras reas de gua doce ou salgada. Vivem em bandos. Alimentam-se de plantas aquticas e parei de falar. Vi que Norminha uma lobinha se aproximou do cisne. Passou a mo em sua cabea. Ouvimos um cantar diferente. No identifiquei. Parecia que o Cisne chorava. Toda a Alcatia comeou a chorar. Levei os lobos para a Casa Grande, tentamos mudar o rumo do programa, mas o Cisne no parava de cantar. A noite ele calou. No dia seguinte ainda estava l em p olhando para a rvore. O Balu alimentava os filhotes duas vezes ao dia. No dia do retorno, os lobos levantaram cedo. Correram at devia estar o cisne. No estava mais l. Como? E a asa partida? E os filhotes? O Balu subiu na rvore e encontrou o ninho vazio. O cisne e os filhotes haviam partido. A lobada comeou a chorar. Tentamos mostrar que foi bom, que a me e os filhotes agora podiam voar e foram para onde deveriam ir. Eu sabia que quando se aproximava o inverno eles em bandos descolocavam para regies de clima mais ameno. Mas no adiantou. Os lobos com olhos vermelhos chorando por no verem mais o Cisne Negro da Asa partida. s quatro da tarde, j com a tralha pronta, fomos para o cerimonia de bandeira. Os lobinhos formados em crculo e em posio para o Grande Uivo.

Quando eu ia fazer o sinal ouvimos um barulho de asas. Olhamos para cima, centenas de cisnes voando em direo ao infinito. Trs deles desceram at ns, um grande e dois pequenos. Eram eles! Voaram sobre nossas cabeas por alguns segundos e partiram. Todos calados. Um grito explodiu na alcatia. Uma alegria imensa. Todos gritaram alto Brav! Os lobos sabiam que era o Cisne Negro e seus filhotes que vieram se despedir. Ningum nunca mais esqueceu. Contavam a todos na sede, seus amigos da escola e a histria durou muitos e muitos anos. Beth Blue se calou. Olhei para ela, Clia tambm. E? - Fim Chefe. Nada mais. A noite chegou. Um cafezinho e Beth Blue partiu. Fiquei ainda por longo tempo na varanda. Uma tima histria. Seria verdade? Sei no. E como se diz por a das histrias escoteiras contadas: - Feijo no vaca, boi no arroz. E quem quiser que conte dois!

Lendas Escoteiras. Rio Negro, a cidade das sombras! Um telegrama simples. Dizia: Gostaramos de contar com sua presena nas festividades do Grupo Escoteiro Enigma do Santo Sepulcro. Ser dia 28 prximo em Rio Negro, a cidade das sombras. Todas as despesas sero por nossa conta. Mais nada. Que seria isto? Alguma brincadeira? Eu recebia sim muitos convites para palestras e pequenos cursos escoteiros em vrias cidades. Mas aquele convite era extraordinrio. Na internet s descobri uma cidade parecida prxima a Parecis, e mesmo assim diziam que a cidade no existia mais. Deve ser alguma brincadeira pensei. Pitgoras o Comissrio sempre fazia isto comigo. Liguei para ele: - No fui eu! Juro! Ele disse. Dei boas risadas, mas fiquei inquieto, ou melhor, encucado com tudo aquilo. No dormi bem. No tive sonhos e nem pesadelos, mas acordei suando. Parecia que algum dizia para eu ir estao Rodoviria comprar a passagem. Liguei para a regio para me informarem se tinha algum grupo com este nome. Riram na minha cara. Tirei o carro da garagem e fui at a Rodoviria do Tiet. Nem bem entrei vi um homem de palet roxo, chapu enterrado at os olhos, descalo, unhas enormes e com uma placa Passagens para Rio Negro. Aproximei. Ele levantou o chapu. Enormes olhos negros. Um nariz comprido e afilado. Uma boca enorme cheia de dentes de ouro. No tinha orelhas. Nas mos em cada uma dois dedos. Tirou do bolso uma passagem. Mandaram entregar, o nibus parte a meia noite. Terminal dois. O homem desapareceu. Procurei em todos os guichs da rodoviria e nada. Informei-me sobre a cidade. Ningum conhecia. Seja o que Deus quiser. No costumo me esconder de desafios. Iria l nesta cidade fantasma. A final sou um Escoteiro e o Escoteiro no foge dos desafios. Nunca! noite j com minha mochila e de uniforme social fui para a

rodoviria. Eram onze e quarenta da noite. L estava o morto vivo a minha espera. O cara era esquisito. Disse-me Siga-me. E l fui eu. Descemos umas escadas, um corredor escuro, um vento hmido e frio a soprar. Senti frio. Um frio que machucava. Vi o nibus. Pequeno. Negro. Sem nada escrito. Na placa Rio Negro. A porta aberta. Entrei. Ele pediu a mochila Vai ano meu colo disse Sentei bem frente. No tinha ningum no nibus. O nibus partiu em seguida. S eu de passageiro. Algum de voz rouca e cavernosa comeou a cantar a cano da Promessa. Dormi. Acordei com o dia amanhecendo. Uma bruma cinzenta cobria minha vista. O nibus parou. Desci. Suspirei fundo. Um Chefe Escoteiro de uniforme. Brim roxo. Todo roxo. Um leno negro com uma caveira desenhada atrs. Sem sapatos. Descalo. Unhas enormes. Sempre Alerta Chefe! Sou o Funrio, seu assessor pessoal, disse. Venha comigo. Um carro negro fnebre nos esperava. Atrs levava um caixo. Algum defunto para enterrar. A cidade era coberta por uma bruma cinza e seca. Quase no se via as casas. Aqui e ali pessoas atravessavam a rua devagar, como se estivessem pisando em brasas. No havia barulho. Nenhuma ave por perto. No vi cachorro e nem gato. O carro parou. Olhei o motorista. Sempre de costa. Um bon de couro preto. Abriu a porta e sai. Em frente a um cemitrio. Aqui? Perguntei. Ele se virou. O rosto sem pele. Ou melhor, uma pele fina, mas s os ossos apareciam. No se preocupe Chefe. A sede do grupo linda. Foi toda construda pelos habitantes do lugar. O Senhor vai gostar. Bragg! Comecei a tremer! Onde fui me meter? Ele me pegou pela mo como se eu fosse uma criana. Fui com ele. No tinha outra sada. Nem sabia onde estava. Catacumbas e mausolus enormes. Nomes estranhos. Aqui jaz Baldassari, morreu por falta de sangue Em outro dizia: Aqui jaz, Narkissa, a princesa beijada pelo Vampiro Damien. E assim se seguia. Meu Deus! O lugar era misterioso, amedrontador. Fechei os olhos, um medo terrvel. Abri. L estava a sede. Em letra gticas uma enorme placa: Grupo Escoteiro Enigma do Santo Sepulcro. Enormes caixes enfeitavam o teto da sede. Um belo esquife branco estava em p, na porta e dentro um Chefe bem velho de bigode e cabelos brancos. Com o novo uniforme da UEB. Estranhei. A tropa, Alcatia e os seniores formados na bandeira. No havia bandeira nacional. Eram bandeiras negras com escritos em grego e latim e desenhos de zumbis e cadveres. Um Chefe se aproximou. Bem vindo Chefe! Estamos tristes com sua chegada. Mas no esto alegres? Eu disse. Aqui Chefe o contrrio. Olhei a escoteirada. Todos de uniformes negros e os lobinhos de roxo. Ningum sorria. Srios. Como se estivessem mortos. Vi que nenhum dos jovens tinham olhos. S um buraco fundo. Putz! Onde fui me meter? Porque aceitei? No havia volta. Um zumbido e um grito e as bandeiras negras com smbolos vampirescos comearam a ser iadas. Vampiros enormes voavam sobre nossas cabeas. Ao terminal no houve orao. Olhei em uma catacumba mais alta e chacais davam uivos ulicos e lamurientos. Achei que um deles o mais forte poderia ser Duamutef, o filho de Hrus. Abraaram-se todos os escoteiros e lobinhos e comearam a chorar. Todos se lamentavam por haver morrido. Morrido? Eram mortos vivos? Pensei em correr dali.

Pegaram-me pela mo. Levaram-me at um alto mausolu. Diziam que eu estava no campo santo. Em volta de mim vi um jazigo cheio de ossos. Parecia que o cemitrio estava acordando. Em cada catacumba, em cada mausolu, em cada cova uma mo, uma cabea e logo uma multido de mortos em minha volta. Eram milhares. O Chefe do grupo me pediu para fazer a palestra. Todos aguardavam ansiosos este momento. De que meu Deus! Que palestra querem que eu faa? Nada sei do tal grande acampamento. Dizem que l ficam todos os escoteiros que morreram, mas eu? A ltima vez que fui a um enterro faz anos! Chamem Baden Powell. Ele entende disto melhor que eu! No Chefe, nada disto. Todos aqui querem saber como funciona a Unio dos Escoteiros do Brasil. Querem saber como funcionam as alcateias. Querem nomes de akelas que o Senhor conhece para visitarem a meia noite. Todos se preocupam com as tropas. Querem nomes tambm. Pediram sua opinio quem seria eleito este ano na Assembleia Regional! Deus do cu! Que era aquilo? Ajuda-me Baden Powell! Socorre-me almas escoteiras do outro mundo que j se foram! Chefe Patrulha guia convidando para o jantar. Chefe Patrulha Cucu convidando para o jantar. Chefe Patrulha corvo se apresentando para avisar que o jantar est pronto. Acordei. Abri os olhos. Obrigado meu Deus. Era apenas um sonho. Um pesadelo. Estava com meus escoteiros num lindo acampamento. Vi o sol se pondo no horizonte. Bendito sol! Vi o regato de guas lmpidas logo ali. Vi um peixinho pulando nas corredeiras. Graas a Deus. Graas a Deus. Ainda bem. Levantei-me. Espreguicei. Dei um enorme sorriso de felicidade. Havia dormido no tempo livre dado a eles para as refeies. Fui at o crrego lavar o rosto e me refrescar. Cantarolava o Ratapl, agora sim, eu estava vivo e gostava de estar. Levantei peguei a toalha para enxugar. Do outro lado do crrego, l estava ele, o morto vivo da rodoviria. Disse alto com voz grossa cavernosa e fnebre Sempre Alerta Chefe, meia noite venho te buscar!

Lendas Escoteiras. Micoar o Charreteiro e o Comissrio Escoteiro Viajante. (uma histria baseada em fatos reais) Tem dias que a gente fica assim meio parado, vontade de fechar os olhos e no fazer nada. E o pior que nestes dias as lembranas surgem e at a gente d boas risadas com o passado. Micoar tinha uma charrete. Transportava pessoas. Naquela poca eram chamadas de fregus. O termo cliente surgiu tempos depois. Se no me engano eram uns vinte charreteiros. Viviam disto. Quase no existia taxi na minha cidade. Eles eram educados. Na estao da estrada de ferro formavam uma fila educadamente e ningum atravessava o outro. Eu nos meus dezesseis anos conhecia todos eles. Micoar era o mais conhecido por oferecer rosas s moas que alugavam sua charrete. Um dia ele apareceu na sede Escoteira. Na sua charrete um fregus, ou melhor, Chefe Escoteiro. Desceu e garboso se apresentou: - Sou o novo Comissrio Escoteiro Viajante nesta regio. Chame seu Chefe. Caramba! Nosso

Chefe era o Chefe Joo. S ia a sede uma vez por ms. Sargento da policia militar. Gente boa. Um segundo pai para mim. Mas nossas reunies no so como hoje. Sem aqueles programas de Bandeira, orao, inspeo, chamada, jogos. ramos duas patrulhas a Gavio e a Elefante. S bem mais tarde foram alterados os nomes de patrulhas seniores para pessoas ou locais histricos. No sei se o que fazamos era o certo, mas dos treze seniores s um tinha entrado como escoteiro os demais vieram dos lobinhos. Romildo Monitor pediu ao Chiquinho para leva-lo a casa do Chefe Joo. tarde daquele sbado fomos chamados a casa dele. Ele estava srio. O Comissrio quer fazer uma reunio para mostrar como se faz. Disse que o que viu vocs fazendo estava errado. Exigiu que eu estivesse presente. Se no fosse Escoteiro eu teria mandado prend-lo. Eu no vou, mas vocs todos devem ir. A reunio ficou marcada para domingo pela manh. Em frente sede e atrs do Cine Pio XII. Havia um campinho de futebol onde nos reunamos. Ele queria a tropa Escoteira, mas ela estava acampando na Caverna do Macaco prximo ao Rio Doce. No domingo l estvamos. Ressabiados. No sabamos o que ele ia aprontar. Chegou como sempre com o Micoar. Ele alugava a charrete pelo dia inteiro. Apresentou-se a ns Sou Chefe Escoteiro do grupo tal. Como hoje viajo muito como representante comercial (conhecamos como caixeiro viajante) fui nomeado Comissrio Viajante para ensinar aos grupos da minha rea como fazer escotismo e exigir o registro de cada um de vocs! Assim ele comeou a reunio. Tudo nos padres que hoje conhecemos. Eu mesmo dei muitas sesses em cursos falando sobre isto. No estava errado. Mas aprontou uma correria que nos deixou perplexos. Queria a todo custo fazer uma competio entre ns. ramos amigos. Nunca gostamos disto. Nenhuma Patrulha era mais que a outra. At ai tudo bem. A missa acabou e um mundo de gente ficou ali nos olhando. Nesta hora ele resolveu cantar uma cano. Hoje muito apreciada e at adoro cantar. Mas naquela poca? A Piaba. Sai sai oh piaba saia da lagoa. E quem entrava na roda dava uma umbigada e tinha que rebolar. O povo todo em volta dando risadas. Ns vermelhos de vergonha. Na minha vez entrei rebolei um pouco e sem querer olhei para o Micoar que ria a valer e gritava baixinho; - Telirio! Telirio! Para quem no sabe esse coitado (desculpe o termo) era o nico Gay conhecido da cidade. Quer comprar uma briga? Chame o outro de Telirio. Desisti. Romildo tambm. O povo morrendo de rir. O chefo gritando: - voltem todos. No dispensei ningum! Coitado. E quem obedeceu? Ficamos ali de braos cruzados morrendo de vergonha por ficar rebolando. O pior que hoje quando lembro penso comigo como eram os tempos passados. Hoje adoro cantar a Piaba e rebolar. Risos. Ele saiu com Micoar e foi direto a casa do Chefe Joo. Micoar olhou para trs rindo e falou baixinho para mim Telirio! Oh! Vontade de esmurrar o Micoar. S sei que ele falou cobras e lagartos com o Chefe Joo. Ameaou fechar o grupo. Ameaou tanto que o Chefe Joo o pegou pela camisa, o arrastou at a Charrete de Micoar e disse Suma! Se aparecer na minha frente de novo deixo voc uma semana no xilindr! Dia seguinte o Chefe Joo nos contou toda a conversa. Disse que no tnhamos seniores. Sim um bando de indisciplinados (at certo

ponto com razo). Exigiu que se fizesse um Conselho de Tropa e destitusse ambos os Monitores. Disse que enquanto no fizemos tudo isto o grupo nunca seria registrado. Interessante. Nunca fomos registrados. Nosso grupo tinha mais de trinta anos de atividade e nunca fizemos isto. Belle poque, outros tempos. Uma Segunda Classe suada. Primeira Classe? No era para qualquer um. Um orgulho do caqui curto. Orientar com os ventos, com a lua, com as estrelas e as constelaes. Pescar para comer na hora, armadilhas de pssaros para um bom assado. Comer mandioca do mato, aipim. Uma sopa de capim gordura. Bananas verdes fritas na brasa. Bundinhas de Tanajura na panela estouravam como pipocas. Risos. Nunca desistamos do escotismo. Tinha pena dos novatos. Quase no havia vaga. Trinta e seis lobinhos onde s podia ficar vinte e quatro. Cinco Patrulha de oito onde deveriam ser quatro. Snior? Este sim. No era para qualquer um. Duas Patrulhas s. Cidade pequena. Nesta idade a maioria dos rapazes que estouravam a idade na tropa tinham de trabalhar. Serem aprendizes. No existia a Semana Inglesa. (parar aos sbados ao meio dia). Outro escotismo? Pode ser. Escotismo do campo. Sem chefes. S os monitores indo e vindo. Viver na natureza. Olhando as flores desabrocharem. Colocando os ps na gua fria e cantar baixinho Ah! Que gostoso! Olhar o sol caminhando para o oeste e dizer para l que vamos! Hoje no d mais. GPS, ele lhe mostra tudo. O Chefe ali com voc. Alguns fazendo tudo. Voc no precisa pensar. Nem calcular mais se precisa. O Google lhe d as respostas de tudo. Tabuada? Ficou na histria. Um celular ou um smartphones para quando der uma parada na jornada entrar no Facebook. Ver os e-mails. Isto sim moderno. Olhar os pssaros? Os animais? Descobrir novos caminhos? Quem sabe olhar a abboda celeste e descobrir as estrelas no cu? Ver um cometa riscando os cus e saber de qual constelao estavam vindo ou indo? Nada disto. Tudo mudou e para melhor. Nesta poca moderna no cabe mais um Romildo, um Jess, um Taozinho um Israel ou mesmo um Micoar ou eu mesmo. Belos taxis hoje. Uma charrete s como pea de museu. E sabem? Eu e Micoar anos depois nos tornamos grandes amigos. O tal Comissrio alugou sua charrete por dois dias e no pagou. Foi embora e deu o cano. As patrulhas fizeram uma vaquinha e pagaram em suaves prestaes. Sua charrete me levou a belos lugares por vales e rios desconhecidos. Charretes! Tambm foram engolidas pela modernidade. Pelos novos tempos!

Conversa ao p do fogo. Uma deliciosa atividade aventureira. - Todos j sabem o que fazer. Vamos apenas recordar as instrues: Patrulha Quati, ir seguir a S. (sul), em passo duplo vo percorrer seis quilmetros. Patrulha Jaguatirica deve seguir a SSE (sulsueste). A Leopardo vai

a SE (sueste). A Touro a E (este). As escoteiras iro a ENE (esnordeste) a Pantera e a Lobo Guar a NE (nordeste). J sabem, vocs estaro indo em forma de leque. O retorno s considerar na bssola o contrrio. No haver encontro entre vocs. Chequem as bssolas as pranchetas, o esquadro o transferidor e a rgua. Confiram se todos trouxeram a Rao B. Nada para fazer depois. Quando retornarem tudo deve estar pronto para ser entregue a chefia. O Chefe Walfrido e a Chefe Vanice deram as ltimas instrues. No era um grande jogo. Para eles uma bela atividade Aventureira. Quem deu a ideia foi a Patrulha Touro. Depois salpicada pelas demais. Podia-se dizer que todos deram sua contribuio. O tema foi apresentado a Tropa Feminina e feito o convite para fazerem a atividade em conjunto. A preparao foi longa. A escolha das Colinas do Sulto foi ideia da Chefe Vanice. Era um belo lugar. Muitas rvores formando um lindo bosque. Uma subida simples sem ser ngreme. O Ribeiro do Rocambole era ideal para uma boa aguada e um bom banho. Os dois viram a ultima Patrulha sumir atravs do capim gordura e das arvores que aqui e ali faziam a beleza do lugar. Claro ambos preocupados. Mas quem no fica? As patrulhas agora estavam ss. Cada uma sabia da importncia de cumprir as regras discutidas a exausto na Corte de Honra e na Reunio de Patrulha. Todos se comprometeram. Afinal o Escoteiro no tem uma s palavra? O que eles iriam fazer? Varias tarefas. Cada Patrulha iria treinar orientao, no s o Monitor, mas todos deveriam ficar com a bssola pelo menos um quilmetro. A Patrulha iria levar uma mquina fotogrfica e tirar fotos de animais pssaros e repteis que encontrassem. Durante a semana com as fotos eles deveriam identificar os bichos na biblioteca ou na Internet. Claro que se fizessem muito barulho no iriam tirar nenhuma foto. Tambm um seria escalado para o passo duplo. A contagem de distncia percorrida seria importante para a confeco do croqui. Tambm iriam fazer um percurso de Giwell. Quando chegassem no Ribeiro do Rocambole iriam montar um toldo, um fogo tropeiro e uma refeio simples com arroz, ovos, linguia e batatas fritas. Sabiam que ia haver inspeo, portanto o local deveria ficar limpo sem vestgios. Na mochila levariam o necessrio. Uma muda de roupa, uma capa de plstico para chuva. Material de higiene e estava liberado biscoitos e doces. Melhor do que proibir. O Monitor daria as ordens quando pudessem comer. No local que acampassem poderiam tentar fotos por uma rea de no mximo quinhentos metros quadrados. Seria bom levar cantil e quem no tivesse uma garrafa de plstico. A refeio seria por conta deles. Cada um levaria um pouco de arroz, uma linguia, dois ovos e o Monitor e o sub levariam o alho, o sal e o leo. Levariam tambm acar e p de caf. Foram treinados a empacotar e guardar na mochila. Todos deveriam manter-se dentro do horrio. A sada foi tima. s sete e meia j estavam prontos para partir. Oito pais ofereceram seus veculos para transport-los. Um deles tinha uma Kombi e sobrou lugar. O Chefe e a Chefe e mais dois assistentes iriam em um s carro. Era o suficiente. Eles ficariam no ponto de partida e monitorando as patrulhas em

atividade. Sem atrapalhar. Afinal estaria em ao o mtodo de BP. Fazer para aprender, errar se preciso at fazer o certo. S o Monitor foi autorizado a levar celular. Para emergncias. Ficou combinado com as patrulhas que s trs da tarde eles deviam fazer uma fogueira com muita fumaa e transmitir o sinal de socorro usado no mundo inteiro. S.O.S. Combinou-se com os pais para busclos a seis da tarde. Interessante. Nenhum Monitor usou o celular. Tudo valia pontos para a Bandeirola de eficincia, mas o mais importante era fazerem uma atividade sem chefes. Era ponto de honra para cada um dar certo. Ainda bem que conheciam o local e bem. O Capito Coutinho, dono da fazenda foi Escoteiro e disse para o Administrador/Capataz que a fazenda estaria sempre disposio dos escoteiros. s trs da tarde quase todas as patrulhas conseguiram transmitir o S.O.S. No jargo era simples. S=- - - O= . . . Eles ficaram um ms aprendendo cdigo Morse. As cinco em ponto comearam a chegar. A Quati foi ltima. Os relatrios foram apresentados. O Croqui, o percurso de Giwell, o relatrio da atividade, o vasilhame limpo foi inspecionado. A chefia os esperava com um delicioso chocolate quente com po e manteiga. Uma alegria geral. Os pais chegaram e se contagiaram com a alegria dos filhos. Est tudo azul, o caminho aberto, sopra o vento sul, tudo dando certo, nossa caminhada, neste belo dia, no vai ser mais nada! S muita alegria. Isto mesmo. S alegria na atividade aventureira quando as patrulhas fazem tudo bem feito, sozinhos claro, dando risadas e cantando: - Est tudo azul... E eu dou risadas quando falo X chefes!

Lendas Escoteiras. Uma lobinha no Vale das Flores Cinzentas. Sempre o dia de reunio era dia de sorriso. Quando entrou sonhava com os sbados. Dona Florncia sempre a inquiria: Tininha! Volte para seu mundo! Estamos na sala de aula! Tininha se transportava. No importa onde estivesse. Via-se na Bandeira, no Grande Uivo. E sempre sonhando em ser chamada para hastear ou harrear a Bandeira. Ela tremia de alegria. Seu coraozinho batia mais forte. Mas precisava voltar para a escola. Seu esprito vinha correndo, pois quando Dona Florncia dizia era melhor tomar cuidado. Tininha sentia no ar o perfume das flores. Sempre se imaginava em uma colina cheia de flores coloridas a correr junto com o vento. Seu rosto sempre desabrochando um sorriso. Na Alcatia no era diferente. A Akel Norminha, o Balu Gilberto e a Baguira Francisca para ela era um sonho que virou realidade. Nas reunies ela vibrava. Cantava, sorria, pulava. E os amigos? No eram amigos, eram irmos lobos, pois no foi assim quem disse Ka? Somos do mesmo sangue tu e eu? Mas um dia notaram um rosto srio, no havia mais sorriso, a alegria de Tininha desapareceu. Era como se seu lindo jardim cheio de flores

coloridas tivessem todas elas se tornadas cinzentas. Esta era uma vantagem dos chefes da Alcatia. Eles conheciam seus lobos um por um. Nunca quiseram ter uma grande Alcatia. Mesmo assim eram dezoito. Oito meninas e dez meninos. A alegria de participar era to grande que dificilmente algum saia e faltar ento? Os pais vinham at a sede para pedir aos chefes ajudarem, pois precisavam fazer uma viagem ou ento umas frias e eles no queriam de forma alguma abandonar as reunies, as excurses e os acantonamentos. O que tinha acontecido com Tininha? Esperaram duas reunies para investigar. A Baguira conversou com Tininha. Ela abaixava os olhos e no dizia nada. S dizia que iria sair dos lobinhos. Tentaram tudo para saber dela o que aconteceu. O que a fez mudar. A Baguira Francisca que morava mais perto da casa dela ficou encarregada de ir l. Estava passando da hora. Uma funo de chefes escoteiros e eles no podiam fugir. Tinham de saber o que estava havendo. Dona Helena, me de Tininha no foi muito educada no telefone. Alegou falta de tempo. Mesmo assim a Baguira Francisca insistiu. Tininha no tem nada respondeu. Ela anda meio triste e taciturna, mas vai ser por pouco tempo. Toda criana assim. No havendo abertura na me a Baguira Francisca ligou para o Senhor Wantuil seu pai. Ele foi mais simptico. Olhe deve ser por que eu e a Helena vamos nos divorciar. Infelizmente no temos mais condio de ficar juntos. Pronto. Al estava o motivo do procedimento de Tininha. A Baguira Francisca sabia. Tinha sofrido na prpria pele tal tipo de situao. Ainda estava sofrendo. Seu marido a deixou por outra. No brigou, no gritou. Dizia para s prpria que tinha de levar sua vida sem ficar se lamentando. Era difcil, mas a vida era dela e de seu filho agora escoteiro. Ela sabia que as crianas so as mais vulnerveis nestas situaes. Nunca entendem as situaes mais complexas e ficam confusas perante o que acontece na famlia. Emocionalmente a conscincia desabrocha e tendem a culpar-se pela ruptura familiar. Ela sabia que Tininha pensava que se tivesse se portado bem, o seu pai no teria sado de casa. A Baguira Francisca sabia que nem todas as crianas reagiam assim. Mas este devia ser o caso de Tininha. Conversou longas horas com a Akel Norminha e o Balu Gilberto. Interferir, dizer para Tininha que o mundo era assim, que ela precisa aceitar a separao, que seu pai e sua me a amavam e outras explicaes do gnero ficaram em duvida. O melhor era deixar o tempo passar. No podiam de maneira alguma entrar no problema da famlia. No deviam nunca. O pai e a me dela eram adultos, sabiam o que iriam fazer. Muitos parentes e amigos j devem ter interferido e nada se resolveu. Sabiam que o escotismo uma maneira de colaborar com os pais e no os substituir. O melhor era tentar levar Tininha de novo para o Jardim das flores coloridas. Esta era a viso dela e esta viso tinha de voltar. Aos poucos o sorriso voltou nos lbios de Tininha. Aos poucos ela comeou a sorrir e a ser aquela Tininha de sempre. O Balu Gilberto disse que tinha visto ela com o pai em um parque de diverses e ela gritava de alegria nos

brinquedos. A separao houve. Cada um sofreu muito, mas o tempo cura feridas. No dia que Tininha recebeu o Cruzeiro do Sul s sua me compareceu. Mas quando ela passou para as escoteiras seu pai estava l. A vida continuou. Tininha cresceu. Soube mudar quando preciso. Os chefes souberam agir. Sabiam que no poderiam nunca ser pai e me de lobos. No era a funo deles. Isto que fez da Alcatia uma famlia feliz. Todos os lobos se respeitavam, pois seus chefes eram mais que chefes, eram seus irmos e amigos por todas as horas. Nem sempre todas as situaes so assim. Tem aquelas que no se muda a trilha que foi determinada pelo destino. Mas no podemos pensar em termo de desnimo em tudo. Como dizia Day Anne, planto flores no caminho, para que no me falte borboletas. Foram elas que me ensinaram que o casulo no o fim. o comeo!

Orgulho de ser Escoteiro. Eu prometo, pela minha honra! Que semana meu Deus! Minha cabea a mil. Sonhava com o prximo sbado e ao mesmo tempo meu corpo tremia. De medo? Claro que no. O Chefe tinha dito que ns escoteiros no temos medo. Mas sinceramente? Eu tinha sim. Seria um dia que ficaria marcado na minha vida para sempre. Afinal era o dia da minha Promessa Escoteira. Flavio me disse que eu estava pronto. Flavio meu monitor. Disse que a Corte de Honra aprovou. O Chefe Gildo me chamou na reunio e disse Sbado que vem voc far sua promessa. Acha que est pronto? Fiquei em duvida na hora. Sim Chefe. Eu estou pronto. Voc conhece a Lei dos Escoteiros? Conheo Chefe, ainda no sei de cor, mas prometo que no sbado o Senhor pode perguntar. Direi todas. Passei a semana lendo, decorando, pensando e amando o que eu estava fazendo. Amava mesmo o escotismo. Na sexta fui para a pracinha do meu bairro. Ela era meu recanto favorito. L eu pensava em mim, na minha me, no meu pai e na minha Irm Constance. Era o meu refugio. Agora estava voltando ao passado. Quatro meses antes. Eu os vi passando na minha rua. Fui atrs. Vi onde se reuniam. Adorei. Amei. Tinha de ser mais um. Minha me demorou a dizer sim. Meu pai trabalhava longe. O Chefe entendeu. Fui apresentado. Flavio me apresentou a Patrulha Leo. Todos me deram a mo esquerda. No sabia o que era, mas nunca mais esqueci este dia. No parava de dizer na minha mente, no podia esquecer agora e nunca mais. Prometo, pela minha honra, fazer o melhor possvel para..., e a Lei? Difcil. Muito difcil para entender tudo, mas eu consegui. Saber que tinha de ser leal, ter uma s palavra, ser amigo de todos, irmo dos demais, ser puro nos meus pensamentos. Que lei! Mas ia prometer que faria tudo para obedec-la.

Meu uniforme estava pronto. No sei quantas vezes o vesti ali no quarto e me olhava no espelho. Gostava do que via. Estava perfeito! Seria um orgulho de mim mesmo! O sbado chegou. Tomei um banho pensando. Era meu dia. O mais lindo dia da minha vida. No meu quarto coloquei pea por pea. Bem passado. Meu chapu perfeito! Ensinaram-me as dobras do meio. Era a primeira vez. Na tropa s podamos vestir o uniforme a partir da promessa. L fui eu rumo sede. Assoviava baixinho. De BP trago o esprito, sempre na mente! Adorava esta cano. A turma estava l, patrulhas em seus cantos. Sempre Alerta meus irmos! Abraos. Era assim nossa Patrulha. O apito do Chefe. Bandeira! Ferradura! As bandeiras tremularam ao vento! Subiram aos cus dos escoteiros! Uma orao. Eu a fiz. Meus olhos cheios de lgrimas. Chefe! Tenho um patrulheiro para a promessa! Traga-o Marcio. L fui eu a frente com o Marcio. Marley! Voc est preparado? Sim Chefe! Meu corpo tremia. Sabe a lei Escoteira e entende o seu significado? Sim Chefe, e sem ele esperar falei uma por uma. Todos assustaram. Nunca ningum disse assim. A tropa Escoteira est de acordo com a promessa do Marley? Todos gritaram sim. Levante a mo direita, faa a meia saudao e repita comigo. Interrompi o Chefe. Poderia eu diz-la sozinho por completo Chefe? Claro. Estava ali, orgulhoso e agora no mais tremia Prometo, pela minha honra, fazer o melhor possvel para: - Cumprir o meu Dever para com Deus e minha ptria, ajudar o prximo em toda e qualquer ocasio e obedecer lei do Escoteiro! Que dia meu Deus! Incrvel! Meu leno foi colocado, meu querido distinto de promessa que seria meu para sempre! Um certificado que mandei encadernar. Agora era um Escoteiro. Orgulhoso! Para sempre teria aquele dia na memria. O grito de Patrulha foi dado, abracei a todos com carinho, a tropa deu o Anr. Que tarde linda, que beleza de vida! Como eu era feliz! Ser Escoteiro para sempre eu dizia para mim. Minha me apareceu, no sabia. A Mana tambm. Choravam de emoo. Dizer mais o que? Foi o meu dia, um dia que jamais em toda minha vida esquecerei! Orgulho de ser Escoteiro! Claro, para sempre!

As coisas belas da vida. Quebra Coco. O ltimo desafio! Acho que o tempo apagou estas lembranas incrveis. Quase no vejo ningum comentando. Claro, so os novos tempos. Novas msicas. Novas canes e que se anima a cantar as antigas? Elas devem ter ficado l ao longe em um passado distante. Nem todos iro lembrar-se como foi e acho que poucos participaram do Quebra Coco na sua simplicidade de um bom desafio. E meu Deus! Como era gostoso cantar e ver os desafiantes, com suas cabeas

pensantes, a meditar o que iam dizer. Eu mesmo posso dizer que tentei quando cresci manter a chama do Quebra Coco como o conheci. Acho que no fui feliz. Os jovens no se interessavam mais. Tudo foi mudando, novas ideias novos Fogos de Conselho. Quem diria que naquela poca teramos um animador de fogo? Nunca! Animador? Nem pensar. Para dizer a verdade acho que foi quando fiz um ano de lobo foi que ouvi pela primeira vez o Quebra Coco. Estvamos acampados na Vertente do Vale Feliz. Lobos acampando? Risos. Claro, era comum. E porque no? Era mais divertido. Lembro-me do Mido (era nosso Balu, nunca fiquei sabendo seu nome real) e do Munir Boca Grande (nossa Bagheera) a fazer os almoos e jantas e que manjar! Eles eram bons e todos ns em volta ajudando, buscando gua, lenha, cantando e contando pataquadas. Bons tempos. J tinha participado de dois Fogos de Conselho. No sabia como era o Quebra Coco. Foi o Akel Laudelino P de Chumbo quem explicou. Tratava-se de um desafio entre escoteiros. A tropa antes de encerrar o Fogo de Conselho fazia o desafio. No comeo todos participavam, mas depois de algum tempo ficavam dois ou trs. Os demais no eram bons repentistas. Na tropa era minha diverso favorita nos Fogos de Conselho. Desenvolvi uma facilidade grande em criar versos. Nada dos conhecidos. Isto era para Patas Tenras. Poucos tinham a audcia de me desafiar. J comeava cantando assim Meus amigos, escutem bem, hoje estou um pouco rouco, mas bom ficar sabendo, sou o campeo do Quebra Coco e da em diante no parava mais. Mas tudo mudou, pois quebraram meu orgulho de cantador. Fomos acampar em Serra Vermelha com uma Tropa da cidade de Rio Grande e foi um desastre. Todos da tropa perguntavam se ns tnhamos bons cantadores do Quebra Coco. Apontavam-me e eu ficava todo orgulhoso. No falaram nada do Mandinho. Um Escoteiro magrelo, desengonado e achei at que ele era gago. Quando chegou a hora e ele em p aceitou meu desafio, sorri de leve. Este estava no papo. Deus do cu! Onze horas, meia noite e o danado l aceitando todos meus versos e devolvendo em dobro! O Chefe disse que quem quisesse podia ir para as barracas, mas ningum arredou o p. Minha cabea fervilhava, a busca de versos era medonha. Mais de quatro horas e o danado do Mandinho ali com um sorriso simples, sem afetao me colocando no chinelo! Entreguei os pontos. Fui l do outro lado fogueira cumpriment-lo. Parabns Mandinho. Perdi mas estou orgulhoso de voc! Quase desisti para sempre do Quebra Coco. Mas uma coisa sempre tive em mente, ganhar bom, mas saber perder uma arte. Isto sempre nosso Chefe Jess dizia. Os tempos foram mudando. Participei de muitos Fogos de Conselho. O Quebra Coco se tornou saudades de um tempo que j se foi. Outras canes trazidas pelos novos chefes, e ele, o meu amado Quebra Coco ficou na histria de um livro que no foi escrito. Quebra Coco, Quebra Coco, na ladeira do Pi, Escoteiro Quebra Coco e depois vai trabalhar! At hoje eu canto com boas lembranas. Se que a origem nordestina. Deve ter comeado com os repentes

esses maravilhosos cantadores que encantam at hoje os que apreciam a msica nordestina. Parei de escrever. Fui para minha varandinha querida. Meu recanto. Onde penso e fao minhas histrias. Sentei na minha cadeira rstica e olhei pela fresta do porto e vi a meninada jogando bola. Uma rua ngreme. Poucos carros. Cada um se diverte como gosta. Cantava baixinho o Quebra Coco. Saudades vem e vo e eu "Velho" Escoteiro vou lembrando como posso dos meus tempos de criana. Quebra Coco, O meu Chapu tem Trs Bicos, A rvore da Montanha e tantas outras. Onde est meu violo? Acho que as cordas arrebentaram. Preciso comprar novas e ficar na minha varandinha a cantar. Fazer a melodia brotar de novo pelo som do meu violo. Quebra Coco, Quebra Coco, na ladeira do Pi...

Lendas escoteiras. O Fantasma do Capito Levegildo. Se no me engano tudo aconteceu em mil novecentos e setenta e um. Mais precisamente em novembro. Feriado de quinze de novembro. Uma poca que fiquei sem grupo e s atuava como Comissrio Regional. Estava sentindo falta dos meus acampamentos a escoteira. (aquele que anda s). Fazia mais de dois anos que no fazia um. Falei com Celia que ia acampar no feriado. Ela no gostava destes meus acampamentos, mas sabia que era um dos meus prediletos e aceitava contrariada. Ia pegar um nibus at o entroncamento de Cidade Nova com Monte Azul. Poderia ter ido de trem, mas era demorado. De nibus fiz com trs horas. De trem mais de nove. Meu destino era uma parte da serra da Mantiqueira pelo lado de Minas Gerais. Pretendia subir a serra por seis quilmetros at o riacho Seco. Risos. Nunca esteve seco. Sempre cheio. Sai na sexta noite e voltaria na segunda noite. O nibus me deixou no entroncamento por volta da duas da manh. Era o que planejara. Minha mochila estava pesada e ainda tinha meu bornal com meu farnel para seis refeies. Simples. Sempre foi assim. O arroz com feijo e eu completava com alguma pescaria ou caa. Caa simples com armadilhas. Cortei uma vara fina para me ajudar na subida. O sol estava nascendo quando cheguei ao Riacho Seco. Estava bem seco mesmo. Ainda bem que onde ia ficar tinha um bom remanso para nadar e pescar uns lambaris e traras. Tirei as tralhas das costas e comecei a montar o campo. Uma pequena cabana com folhas e por cima uma lona simples. Eram duas lonas a outra seria para fazer um toldo no meu fogo tropeiro. Passei boa parte da manh preparando meu campo. No sei por que, mas senti que estava sendo observado. Olhava e no via ningum. No vou mentir e dizer que no tenho medo de nada. Sempre tive. Mas o medo aprendi a combater com o medo. Quantas vezes no escuro no vi fantasmas de todos os tipos? Nossa viso cria fantasmas em um galho, um vento movimentando o capim o barulho da gua e at a chuva nos ajuda a sentir

a pele enrijecer e muitas vezes fechamos os olhos para quando abrir rezar para que os fantasmas da mente desaparecessem da nossa vista. Mas a danada da percepo de estar sendo observado no terminava. Cuidei do que tinha de cuidar. Preparei um timo lenheiro. Se o tempo permanecesse firme ia dormir sob as estrelas. Adoro isto. Acampar sozinho uma ddiva. Os sons da natureza, dos bichos, pssaros dos insetos e do vento calmo ou forte para sul ou norte. Naquele sbado depois de tomar uma sopinha, sentei em um tronco frente ao fogo e quando ia iniciar a preparar meu cachimbo vi em cima do remanso uma figura brilhante. A figura no se movimentava. Era diferente de tudo que tinha visto. Pelo menos pareceu. Pior ficar calado enquanto ele fazia barulho. Vamos enfrentar o bicho, pensei. Claro com medo, mas l fui eu at o remanso. A figura sumiu. Voltei. Uma viso de tica? Acho que no. Sentei novamente no meu tronco. Fazia um pouco de frio. Fui at minha mochila e peguei minha manta. Quando sai debaixo do meu abrigo dei de cara com o fantasma. No era grande. Era brilhante. Parecia uma figura destas do serto com perneiras, uma bota cano longo um enorme bigode e um chapu velho e amassado. Ol! Ele disse. Ol! Respondi. O fantasma falava. Bom isto. Nunca tinha visto nada na vida assim. Fantasma falante era novidade. No tenho mediunidade. Nem vozes ouvia. Senti o corao bater mais forte. - Posso tomar um caf com voc? Claro disse. Fiquei olhando como ele iria tomar o caf. Fantasmas so etreos. No seguram nada nesta vida. Mas eis que ele pegou minha caneca, tirou a chaleira do fogo e bebeu um belo gole. E olhe saia fumaa da caneca. Ele sentou numa ponta do tronco. Sabe! Ele disse. Gostei de voc. Entrou nas minhas terras sem pedir, mas vejo que educado. Observei voc o dia inteiro. S no gostei quando tomou banho e deitou na grama pelado. No gosto de homens pelados. J matei vrios assim na minha vida. Caramba! O fantasma era um pistoleiro! Estava comeando a tremer. O medo chegou. Estava difcil dominar. Ele no parava de falar. Convidou-me a ir at sua fazenda. Disse do horrio. Pode ser amanh? Ele riu e disse tudo bem. Amanh passo aqui a meia noite e vamos l. No pode ser durante o dia? No. Eles no permitem. Quem eles? Sem resposta. O fantasma sumiu. No tive problemas para dormir. Acordei umas vezes para o necessrio e voltava a dormir. No dia seguinte ele no apareceu. noite tambm no. No haveria outra noite. Iria embora naquela segunda. L pelas duas da manh de segunda ele me chamou. Vamos l. S agora consegui me desvencilhar deles. Sou conhecido aqui como o Capito Levegildo. Andei matando muitos que eram contra mim. Esses quatro me emboscaram na estradinha quando estava entrando em minha fazenda e me deram dezenas de tiros. No satisfeitos me pegaram e me levaram para um local podre, cheirando a enxofre e todo mundo ali parecia com o demnio. Escondi-me aqui, mas eles me acharam. - Vamos logo antes que voltem. Fazer o que? L fui com ele. No andamos muito. Uma choupana cada, muitas cinzas sinal que foi queimada. - Ali no canto sou eu disse. Uma caveira. Nada mais que ossos e ossos.

Preciso que me enterre. S assim conseguirei fugir deles. Achei uma enxada. Cavei uma cova rasa. Coloquei l a caveira. Depois que soquei a terra o Capito Levegildo deu um enorme grito. Vi que mais quatro vultos brilhantes estavam carregando ele para longe. Voltei apressado para o campo. O dia comeou a nascer. Juntei minha tralha e nem fiz a limpeza do campo. Desci a montanha em menos de uma hora. Na estrada peguei o primeiro nibus. Na janela vi o Capito no alto do morro dizendo adeus. Adeus mesmo. Aqui no volto nunca mais! Acredita? No? Bem no posso convencer ningum. Mas olhem, continuei acampando a Escoteira por muitos e muitos anos. Nunca mais vi fantasmas. Vozes eu ouvia, mas faz parte do ofcio. Baden Powell dizia que s os valentes entre os valentes se sadam com a mo esquerda. No sou valente. Aceite minha direita. Desculpe BP. Risos.

Conversa ao p do fogo. E o Pssaro Azul levou meus sonhos para nunca mais voltar! - Porque Pssaro Azul eu no tenho mais direito em sonhar? E no posso mais acreditar em meus sonhos? Seus sonhos so tristes, nostlgicos, no existe mais aquela alegria do passado. Olhe dentro de voc. Qual foi a ultima vez que cantou uma cano? Qual foi a ltima vez que apertou a mo de um amigo Escoteiro? Voc se fechou dentro de si, s ouve a voz do vento e ele nunca trs para voc a doce primavera do passado em forma real. Seu mundo imaginrio. Voc ainda no viu que a forja que temperou o ao do que voc foi feito acabou. No vai mais existir aquela alegria de tempos idos. Ela no pertence mais a voc. Ela est em outros sonhos, agora dos jovens que fazem a sua maneira um belo escotismo. - Olhei para o Pssaro Azul que sorria um sorriso enigmtico, como a perscrutar no espao o que seria eu para ele. Tinha um porte altivo, sem encarar, procurava saber, e para descobrir todas minha vicissitude analisava os meus medos, as circunstncias que cercaram a minha vida. Para ele eu no era casual e imperecvel. Na sua maneira de pensar no existe o acaso. E para ele eu estava criando em minha mente uma possvel volta no tempo, o que seria eternamente impossvel. Veja Pssaro Azul, voc est analisando o meu sorriso, a minha atitude, isto at fcil. Voc contra o que eu penso, acha que estamos vivendo um momento nico na histria. Deve ser por isto que levou meus sonhos. Voc no tem este direito. - s vezes Pssaro Azul eu me sinto s. No do calor humano. Esses no me faltam. O Pssaro Azul no entendia o porqu minha luta era o nada contra o nada. Muitas vezes pensei em desistir. Mas seria o que sou? Seria o intransigente que me leva a sonhar o impossvel? O Pssaro Azul sorriu. Todos ns somos um pouco intransigente. Do outro lado tambm eles existem. Mas eles so os que decidem e voc no. Lgrimas caram no meu rosto. O Pssaro Azul atingiu-me fundo. No sei se merecia. Nos meus sonhos que ele

levou no quis desservir ningum. Acreditava que amava a todos que conheci. Engano seu, ele disse. Acredito que voc ainda no viu a forma de amor que criou para voc. - Mas no fique triste. Ainda deixei pequenos sonhos contigo. Sonhos reais, palpveis. Siga aquele poema que um dia falou das tristezas, ande sempre em frente, no crie iluses, iluses nada trazem de beneficio. No ande nas sombras. Assopre o pensamento triste. Deixe escorrer esta lgrima que caem do seu rosto. Se necessrio v at o fundo do poo, mas volte renovado. O Pssaro Azul me trouxe uma lio de vida. Avaliar o que fui e o que devo ser deve a nova meta da minha vida. Sempre achei que fui feliz. A minha maneira acreditei. Tinha que mudar. Mudar para melhor. Cantar as mais belas canes. Procurar no espao o que no encontrei na terra. O Pssaro Azul voou por sobre as nuvens fez uma ou duas paradas como a dizer pela ltima vez: - No esquea. Quando encontrar a sua alegria de viver, respire fundo. Deixe a energia csmica entrar em voc. Abra a janela. Deixe que os pardais procurem a luz para voc. Se encontrar, coloque-a dentro do peito. Lembre-se, a felicidade seu objetivo. E ele se foi zigzagueando pelo horizonte at desaparecer no azul do cu profundo. Meu corao encheu-se de jbilo. Perdi uma parte dos meus sonhos, mas ele me deu parte das respostas que eu procurava. A felicidade existe. Est ao nosso lado. Quando cantamos com o corao ela est junto. Lembrei-me de uma cano antiga, linda, que me marcou muito: - Este ano, quero paz no meu corao. Quem quiser ter um amigo, que me d mo. O tempo passa, e com ele caminhamos todos juntos. Sem parar. Nossos passos pelo cho vo ficar. Marcas do que se foi. Sonhos que vamos ter como todo dia nasce em cada amanhecer!

Lendas escoteiras. Z Celso Pescador e o descomunal Mexilho-Dourado. Z Celso era Escoteiro da Patrulha Morcego. Z Celso era um Escoteiro comum, nada de mais como menino. Claro, altura mediana, magro e franzino para os seus doze anos. Tinha os cabelos crespos apesar de sua cor branca. Sua me Dona Eullia e seu pai Senhor Chaparral eram brancos, mas diziam que seu av por parte de me foi escravo da fazenda do Coronel Miltinho. Seu pai era mestre pescador. Viviam da pesca que ele retirava do Rio Tamba. Os peixes estavam rareando. J no eram mais como antigamente. Mesmo com a atuao dos Militares Ambientais, a pesca de rede era frequente. Z Celso nasceu no rio. Adorava pescar. A Patrulha adorava Z Celso, no s pela sua calma, pela sua educao, pela sua voz ponderada, mas tambm por que sabia que com ele comeriam uma boa moqueca de peixe. Alem de pescar era exmio nos pratos de pescados. Seja em panela ou assado na brasa.

Quem me contou esta histria no foi ele. Foi Wantuil seu Monitor h alguns anos atrs. Encontrei-me com ele na Barra do Jacu, onde levei um Cl Pioneiro para descer o rio at a foz do So Francisco. Os pioneiros se deliciaram com a histria. No final ele foi ovacionado e at pagaram uma lauta refeio no refeitrio do barco a vapor que viajamos. Quando contava a histria me lembrei do conto de O VELHO E O MAR de Ernest Hemingway. A luta do "Velho" pescador pelo peixe da sua vida. Acho que todos devem ter lido. Mas vamos histria. Wantuil disse que foram acampar na barranca do Rio Tamba bem prximo onde desaguava o Rio Colorado. Nada de novo no acampamento que significasse mudar o rumo da histria a no ser no segundo dia centenas de urubus a voarem em cima do acampamento. O Chefe Mira Flores ficou cismado e tanto procurou que achou um enorme touro preso na beira do rio no meio de cips trazidos pela cheia. Os urubus sabiam que era morte certa. Nada que o Chefe Mira Flores desse um jeito. O touro foi solto. Como sempre Z Celso foi liberado para sua pescaria. Sabia que ali tinha peixes de bom tamanho e pretendia presentear a todas as patrulhas neste acampamento com um bom pescado. Depois da inspeo ele foi liberado. Era mestre em armadilhas. Fazia uma que era tiro e queda. Uma vara flexvel de bambu, de mais ou menos dois metros e meio, um cabo fino de mais ou menos um metro prezo com um anzol grande. Bem abaixo no p do bambu outro de uns vinte centmetros amarrado transversalmente com uma amarra diagonal. Na ponta deste menorzinho ele cortava fatias de mandioca que se encaixavam no bocal do bambu. Esticava o cabo segurava no anzol e enfiava a ponta na mandioca. Soltava devagar, pois se no ficasse bem preso sua mo ou seu dedo seriam fisgados. Z Celso fez trs destas armadilhas. Entrou na gua por um oito metros e fincou cada bambu no fundo do rio. Ali no era fundo. No mais que um metro e meio. Dava para ver a ponta das varas. Agora era esperar na margem que algum Piau ou ento um dourado mordesse. Se desse certo e sempre dava em pouco tempo teriam um ou dois peixes fisgados. O primeiro cabo da vara se soltou. Vazia. Lambaris pensou. Eles sempre atrapalham. Meia hora, uma hora e a segunda vara entortou toda. Um peixe havia fisgado. Z Celso correu para dentro dgua. Sabia que o peixe com sua fora arrancaria em pouco tempo a vara da areia no fundo do rio. Quando foi segurar a vara levou o maior susto. O maior Dourado que ele j vira. Sem mentiras, pois o Escoteiro no mente tinha mais de doze quilos. Enorme. De vez em quando vinha tona e dava um salto que maravilhava Z Celso. O sol batia sobre sua pele e o peixe brilhava na sua cor vermelha e metlica. Z Celso ficou ali segurando a vara fincada no rio. No podia soltar. Sabia que gritar aos amigos no adiantava. Longe demais. Esqueceu-se de avisar a eles onde estaria e o acampamento ficava a mais de dois quilmetros de distncia. Meio dia, uma hora, duas trs. O peixe no se cansava. Corria para todo lado. Uma perna de Z Celso comeou a dar cimbra. Ele estoicamente no desistiu. Ficou ali. Era o seu maior peixe. No iria perd-lo nunca. Quatro horas, seis comeou a escurecer. Agora sabia que j estavam o procurando. Em breve

o achariam. Oito da noite, nove, uma hora da manh. Nada. Um frio de doer. Z Celso l. No largava o seu peixe de jeito nenhum. Seus lbios tremiam. Seus dentes batiam um no outro. s quatro da manh comeou a se sentir cansado. Seu corpo no queria mais obedecer a sua mente. Fez o que nunca deveria ter feito. Pegou o cabo da outra vara. Amarrou a vara do peixe em sua perna. Arrancou a vara e se deixou levar na correnteza. Nadava bem e sabia boiar. O dia amanhecendo. Z Celso boiado rio afora. Pensou que quando passasse por baixo da ponte do Cavalo Doido algum o veria. O dia j havia amanhecido. Um pescador o viu. Foi at ele com seu barco. O ajudou at margem. Quando retirou a vara o peixe era s esqueleto. Um enorme espinhao. As piranhas quando desceu o rio o comeram quase todo. Z Celso chorou. Tanto trabalho por nada. A tropa o encontrou exausto prximo ponte. O procuraram a noite toda. Z Celso no pegou seu maior peixe. Mas foi ovacionado por todos os escoteiros. Ficou conhecido pela sua tenacidade. A cidade em peso soube de suas histria. Quando passava na rua era cumprimentado. Na sua sala de aula a professora fez um discurso para ele. Disse: - Que Z Celso seja o exemplo para vocs. Desistir nunca! Nunca mais Z Celso pegou um peixe daquele tamanho. No desistiu de pescar e a patrulha comeu bons guisados de peixe frito na brasa. Sei que levaram a espinha do Dourado e colocaram no coreto em praa publica. Ficou l por muitos anos. Todos at hoje imaginaram se Z Celso tivesse pegado seu peixe. Como se diz por a, nem sempre temos aquilo que gostaramos de ter. Guardei esta histria e at hoje conto para meus escoteiros. Uma lio de vida. Verdade ou no exemplos so feito para serem seguidos e o de Z Celso no pode ser olvidado nunca!

Lendas Escoteiras. Gilbert, um Escoteiro em busca da trilha dos elefantes. H muito queria contar esta histria. Mas porque achei meio infantil e desconexa desisti. Hoje pensando pensei Porque no? L vai ento. Nas minhas andanas por este enorme pas eu fui parar em uma cidadezinha chamada Nova Matusalm. Isto mesmo. Este era o nome. Na penso da Dona Esther eu fiquei sabendo de que a muitos e muitos anos existiu um Grupo escoteiro na cidade. Porque acabou? Perguntei. No sei. Porque no vai at a pracinha. Olhe no banco que fica em frente Matriz. Vai encontrar Narciso ele um velhote gente boa. Ele gosta de conversar e foi Escoteiro naquela poca. No me fiz de rogado. Adoro conversar com antigos chefes. Eles sempre tm histrias maravilhosas para contar. Almocei, tirei um cochilo e parti para a praa. No havia erro, com seus 80 anos l estava ele. Um belo sorriso, no

ombro direito uma pombinha amarelada, no esquerdo um Pintassilgo e um Bemte-vi. Parei na sua frente e alegre eu lhe disse Sempre Alerta chefe! Ele imediatamente ficou em p e solenemente respondeu Sempre Alerta. Sente-se aqui ao meu lado. H tempos que no converso com um Escoteiro. Ficamos ali conversando at sete da noite. O convidei para comermos um peixe em um restaurante que diziam maravilhas. Aceitou. Um velhote e tanto. Educado, simples e gentil. Histrias e histrias foram contadas. Mas teve uma que me chamou ateno. Do Escoteiro Gilbert e seu Elefante-africano. Aqui? Perguntei. Aqui mesmo e comeou a contar a histria. - Gilbert era Escoteiro h pouco tempo. Eu estava nos seniores e quase no tnhamos contato. Fiquei sabendo que ele insistiu com a Patrulha para atravessarem a Mata dos Macacos Cinzentos. Jurou que do outro lado iriam encontrar uma manada de elefantes. Ningum acreditou naquela histria absurda. Nem pensar disseram. Era uma mata que ficava a mais de setenta quilmetros, atrs da Serra do Cafezal. Eu j tinha ouvido falar dela. Poucos se arriscavam a ir l. Um nevoeiro denso cobria a mata. Disseram de muitos que entraram e desapareceram. Todos sabiam que do outro lado da mata ficava a cidade de Tarumim. Havia at um projeto de cortar a mata com uma estrada, mas devido falta de verba o projeto foi adiado. Gilbert no desistia. Procurou-nos um sbado Ser uma aventura e tanto! Disse a todos os seniores. Eu sei o caminho. O vi em meus sonhos. Depois da mata vamos encontrar o Vale do Tigre e l uma manada de elefantes. L tambm tem lees, girafas, hipoptamos uma fauna gigantesca que hoje nem na frica se encontra. lindo l. Campinas verdejantes, rvores com copas redondas, cascatas e cachoeiras enormes! Achamos graa de Gilbert. Ele implorou ao Chefe Cardinho, falou com a Akel Laurita. Nada. Era um sonho louco. Inacreditvel. Quem iria pensar em ir a um local de sonhos de um Escoteiro? Em uma segunda feira Gilbert no foi escola. Seus pais foram alertados. Procuraram em todos os lugares e nada. Ele no era gazeteiro. Nunca foi. Era sim um timo aluno. Dois dias a procura de Gilbert. Nada. Natalino um boiadeiro disse ter visto um jovem de bicicleta rumando para a Mata dos Macacos Cinzentos. Chefe Cardinho, Moliere e os seniores estavam na sede naquela quinta preparando para partir em busca de Gilbert. Todos tinham muita experincia. No sabiam o que iriam encontrar na mata. Mas a vida de um Escoteiro esteva em jogo e seus pais inconsolveis. Quando estavam saindo um belo susto. Impossvel! Gilbert entrou montado em um enorme elefante branco, com duas enormes presas de marfim. Enormes orelhas mais de duas toneladas de peso. Ele ria. Batia palmas. No centro da sede o elefante com sua tromba o colocou no cho e ficou sentado em duas patas. A cidade em peso acorreu para ver. Os pais entre alegres e preocupados previam um castigo para ele. Fazer o que com o elefante? O delegado disse que na cidade prxima tinha um circo. Mandaria algum l e ver se interessariam. Gilbert gritou. - No podem fazer isto! Pelo amor de Deus! Seus pais o levaram para casa. Um sermo, e a proibio de sair do quarto por

uma semana. Sem escoteiros por dois meses. A me o levaria a escola e o iria trazer. No dia seguinte o quarto vazio. Ele pulou a janela do segundo andar e sumiu. Correram na sede. O elefante tambm sumiu. Natalino o boiadeiro contou que quando estava recolhendo uma vacada parida, o viu sentado em um elefante entrando na Mata dos Macacos Cinzentos. Gritaria. Onde este escoteiro estaria novamente! Um ms! Sim, um ms desaparecido. Passou todo setembro sem dar as caras. Muitos acharam que ele tinha morrido. Apareceu em um domingo de sol. Sorridente. Seus pais desistiram do castigo. Gilbert pediu que pudesse de tempos em tempos visitar seus amigos elefantes. Tinha levado uma mquina fotogrfica. Varias fotos de animais que no existiam no Brasil. No acreditavam nem nas fotos. Seus pais concordaram. Sabiam que ele iria fugir se o prendessem. Ficou famoso na Patrulha e no grupo. Todos o reverenciavam. Pediam para contar a histria do Vale do Tigre. Ele sorria e nada dizia. Como chegar l? Ele sempre sorrindo e calado. Quando fez dezoito anos despediu do seu pai e de sua me. Foi na reunio de tropa e abraou a todos no Grupo Escoteiro. Disse que iria partir. Ia morar no Vale do Tigre para sempre. O Chefe, um soldado dos bombeiros e dois seniores o seguiram de longe. Viram-no entrando na mata. Entraram atrs. Uma enorme cachoeira. Nem sinal de Gilbert. Sumiu nas brumas que invadia a mata e nada conseguiam ver. Sei que a cada ano aparece. Montando sempre em um elefante. Abraa seus pais fica um ou dois dias e depois desaparece. Olhei para Narciso. Ele sorria. Samos do restaurante. Ele me acenou dizendo adeus. Na esquina vi que ele estava montado em um elefante branco. Corri at ele. Sumiu na curva da estrada. Verdade? Mentira? No queria contar. Nunca mais voltei Nova Matusalm. Nunca descobriram a terra maravilhosa do Vale do Tigre. Eu juro que verdade. Gostaria mesmo de passar uma temporada naquele vale maravilhoso. Mas a vida no como a gente quer. A vida feita de sonhos e s quem sonha tem o direito de fazer o que quiser de sua vida!

Lendas Escoteiras. A morada da felicidade existe entre o cu e a terra. Um silncio sepulcral na sala de aula. Se entrasse uma mosca pela janela seria como o barulho de um avio levantando voo. Dona Nena de olhos semi-serrados em sua mesa lia um livro comum. Os meninos e meninas calados fazendo uma redao. Como evitar Escorpies. Ela tinha dado uma aula sobre o tema. De vez em quando passava os olhos pela sala. Uma austeridade que era reconhecida em toda cidade. Seus ex-alunos tremiam quando encontravam com ela. Um grito estridente assustou todo mundo Escorpies na sala. Corram!

Uma correria e uma gritaria sem fim. Dona Nena tambm assustou. Viu que a sala esvaziou em segundos. Olhou de novo. S Ruanito sentado, compenetrado fazendo a redao. Dona Nena o pegou pelas orelhas e o levou ao Diretor. No era a primeira vez. Aniversrio da cidade. Na praa um enorme palanque. Vrias festividades programadas. O Prefeito Paredes discursando. Ao seu lado Dona Eufrsia sua esposa. Muitas autoridades juntos. O povo em p na praa. Algum gritou alto! Uma cobra! Uma cobra! uma cascavel! Ela atravessava o palanque devagar rumo s escadas. Um rebolio. O delegado Marcondes esvaziou seu revolver na cobra. P, p e p! Ela no parou. Gente gritando, caindo, o palanque quebrando. Dona Eufrsia caiu sobre a multido. Seu vestido novo subiu at as orelhas. O Povo viu tudo. Ela adorava azul com bolinhas amarelas. A multido d praa correndo pela Avenida Tiradentes. A praa vazia. Muitos de pernas e braos quebrados foram para o pronto socorro. S o Z Bedeu um bbado ria sem parar e gritava: Viva Ruanito, o nico gente boa da cidade!. Sentado no banco da Praa Ruanito olhava srio para tudo aquilo. Na sua mo a linha de pesca que usou para puxar a cobra morta. Todos sabiam que onde havia estripulias tinha a mo de Ruanito. Seu pai j fora intimado vrias vezes na delegacia. Alfredo adorava o filho. Sua mulher fora internada na casa de repouso Santo Angelo h muitos anos. Diziam que ela era louca. Ele no achava. Ela s gostava de se divertir. A cidade no tinha ningum capaz de ajudar seu filho. Naquela poca falar em psiquiatras ou analistas seria um palavro. Chefe Cleyde era assistente de Tropa. Sempre soube de Ruanito. Tinha pena dele. Um dia tentou com todos os chefes do grupo a aceit-lo. Ningum quis. Convenceu o Chefe Manollo a dar uma oportunidade ao menino. Ele quer se um de ns? No sei disse Se ele quiser vamos tentar por seis meses. Ela foi a sua casa. O pai de Ruanito gostou da ideia. Ele no disse nem sim e nem no. Olhou indiferente para a Chefe Cleyde. Quando foi apresentado tropa todos se assustaram. J conheciam sua fama. Romerito era o Monitor mais antigo. D Patrulha Peixe Boi. Com quinze anos ainda no tinha ido para os seniores. A pedido do Chefe Manollo ficou at os dezesseis. Era considerado o guia da tropa. Ficou responsvel por Ruanito. Ele o pegou pela mo e o levou at um grande abacateiro que dava sombra no ptio onde se reuniam. Est vendo aquela formiga? Ela est a Escoteira significa aquela que anda s. Voc vai ficar aqui e observar quando ela encontrar uma folha e levar para sua morada. Marque o tempo e quantas vezes ela deixa cair folha! Ruanito olhou para Romerito, olhou para a formiga e no disse nada. Sentou na grama de olho na formiga. A reunio terminou s seis e meia da tarde. Ruanito sentado. Romerito o viu quando ia saindo. Romerito foi embora. O deixou l. Nem at logo disse. A sede vazia. Ruanito firme sentado no p do abacateiro. s duas da manh algum bateu na porta da casa de Romerito. Ele com sono levantou-se e ao abrir a porta viu Ruanito todo molhado. Chovia a mais de quatro horas. O mandou entrar. Foram para a cozinha onde preparou um caf

forte. Foram doze horas, vinte e quatro minutos e trinta segundos. A folha caiu vinte e trs vezes e vinte e trs vezes a formiga repetia fazendo tudo de novo. Sempre com uma nova tentativa. Pensei em ajud-la. Mas ser que serviria para ela aprender como deveria fazer? Quando ela conseguiu entrou em um buraquinho no tronco do abacateiro no apareceu mais. Romerito olhou para Ruanito. No disse nada. Pegou dois guarda chuva e o levou at sua casa. Seu pai dormia sono solto. No sbado seguinte pela primeira vez Ruanito foi apresentado a Patrulha. Romerito perguntou: - Algum de vocs conseguiram seguir a formiga do abacateiro? Cada um olhou para o outro e no disseram nada. Uma prova muito difcil. Apertem a mo de Ruanito. Ele conseguiu! Os escoteiros olharam espantados. Trs meses depois Ruanito fez a promessa. A tropa feliz. Muitos seniores e chefes preocupados. Chefe Cleyde acreditava na mudana. Chefe Manollo era outro que sorria. A cidade se assustou quando viu Ruanito de Uniforme andando garboso pela Avenida Tiradentes. O delegado tirou o bon da cabea. O Prefeito veio janela da prefeitura para v-lo. Z Bedeu na sua bebedeira dava risadas e gritava: - Viva Ruanito, o maior Escoteiro do Brasil! E assim termina a histria. Aquela cidade passou a ser uma feliz morada da felicidade. Ela ficava bem ali, bem prxima entre a terra e o cu!

Conversa ao p do fogo. Do destino ningum foge. Certa vez, h muito tempo atrs, fui convidado por um Grupo Escoteiro de uma pequena cidade do interior, para proferir uma palestra sobre os Valores do Escotismo na sociedade. Era um Grupo simples, com um efetivo excelente e uma alegria e amizade que no se encontra facilmente aonde eu vou. Moas e rapazes sorridentes, me olhando respeitosos e dentro de seus olhos sentia o verdadeiro Esprito Escoteiro to procurado por todos ns. Durante a palestra, em um salo paroquial repleto, composto por muitos pais, amigos simpatizantes e at alguns membros da sociedade poltica da cidade, observei um chefe, que permaneceu encostado em uma parede, me olhando com olhos vidos, prestando uma ateno canina, que fez com que me perdesse algumas vezes na continuidade da palestra. Este chefe, aparentando uns 50 anos, tinha um aspecto no muito simptico, apesar de estar muito bem uniformizado, com o caqui tradicional (um pouco velho, mas limpo e bem passado) um chapu de abas largas bem posto, meies dentro dos padres e o leno impecavelmente bem dobrado. Seu semblante deixava a desejar. Sua boca parecia inchada e uma grande mancha no rosto no dava um ar atraente a sua pessoa.

Cabelos negros, lisos e compridos, contidos por um rabo de cavalo simples, dava uma conotao estranha e extravagante. Tinha uma maneira de andar meio bizarra com os braos abertos, ombros curvados, mas seu sorriso era contagiante. Aps a palestra, fui dar uma volta no ptio onde se realizava as reunies, e vi ali um bom escotismo sendo praticado por uma alcatia mista, duas tropas uma masculina e uma feminina e uma tropa snior composta de uma s patrulha. O chefe em questo estava em p, observando o andamento das reunies, sempre curvado, e esperando que algum o chamasse. Estranhei que ele no participasse diretamente de alguma sesso. O Chefe do Grupo que me acompanhava vendo minha curiosidade explicou:- Apareceu aqui h uns quatro anos. Fica sempre afastado, pois sabe que sua fisionomia assusta os jovens e tambm os adultos. Com o tempo estamos nos acostumado a ele. Remo era o seu nome, o sobrenome ningum sabia. O uniforme foi doado por um chefe que mudou desta cidade e acho que a doao foi como o descobrimento de uma grande pessoa. Sua alegria, mesmo com um sorriso torto, contagiava. Sempre tivemos receio de convid-lo para uma das sesses. No fizemos sua promessa, achamos que no deveramos. Os pais no o viam com bons olhos. Muitos ainda o julgavam pela fisionomia. At eu acreditei que fosse analfabeto e voc sabe a dvida em colocar algum assim em uma sesso preocupante. Ele um dos primeiros a chegar sede, faz a limpeza com esmero, fica a porta esperando que alguns de ns peamos alguma coisa e de uma vassalagem preocupante. No inicio das reunies sempre est pronto a colaborar com a chefia, buscando materiais, e limpando o ptio quando algum joga algum ao cho ou mesmo depois das reunies. Muitas vezes quando venho noite sede, o encontro sentado no meio fio, como, a saber, que eu viria. Entra comigo e enquanto fao minhas obrigaes ou mesmo aguardo outros para alguma reunio, ele est a ver figuras sem parar na pequena biblioteca escoteira que temos aqui no grupo. Claro que sempre dou um livro para ele levar para casa, sempre com muitas gravuras. Ele sorri e me agradece muito. Enfim, nos acostumamos com ele, como se acostuma com um... Ele ia dizer co amigo, mas preferiu se calar. Acho que no era sua inteno desmerec-lo. O pouco que sabemos que trabalha no moinho do portugus (muito conhecido na cidade) e mora em um pequeno quarto alugado num bairro afastado. Achei interessante o fato. Para mim inusitado. Os anos se passaram e de novo voltei ao Grupo citado e agora no me lembro bem o motivo. Foi num vero atraente, mas cujo calor ameaava passar dos 40. Cheguei pela manh, viajando boa parte da noite em um nibus de carreira. Aps os comprimentos de praxe, conversava com um ou outro escotista e foi ento que dei falta do Chefe Remo. Seu lugar de sempre onde ficava encostado a parede estava vazio. Vi com espanto lagrimas nos olhos do chefe do grupo e a tristeza nos demais quando perguntei a respeito.

- Ele desapareceu um dia da sede e no voltou mais. Sentimos uma grande falta. No tnhamos mais aquele que limpava que ficava a nossa disposio como um servial sem salrio, nunca reclamava, estava sempre pronto a ajudar e ento chegamos concluso que no demos o valor necessrio ao um grande homem, a um grande Escotista que foi sem nunca ter sido. Todos, sem excees sempre esperavam chegar sede e encontr-lo ali, subserviente, pronto a ajudar e nunca esperando nada em troca. At mesmo os jovens perguntavam por ele. Antes do seu desaparecimento ele j participava de pequenas atividades, mais como colaborador e assim a admirao pela sua fidalguia estava crescendo no corao de todos. Esperamos duas semanas e fomos ao moinho onde ele trabalhava. Ficamos sabendo que ele desapareceu tambm de l. Seu Manuel dono do moinho foi com a policia ao quarto dele e nada encontrou. Convidou-nos a ir at l para vermos como era. Meu amigo foi uma punhalada no corao, pois o quarto dele era uma linda sede escoteira, com um quadro enorme de BP. Quadro de ns, de sinais, bandeirolas de semforas penduradas na parede, uma colcha bordada com flor de Liz jazia em sua cama e uma linda Bblia aberta na pagina onde se lia o salmo jazia acima de uma pequena cmoda. Ficamos chocados com tudo. Nunca espervamos isto. Seu quarto era muito limpo e bem arrumado. No havia cartas, papeis nada que pudesse identificar de onde era e para onde foi. O tempo passou no mais que cinco meses e ficamos sabendo que ele tinha sido atropelado em uma cidade prxima, e imprensado a um poste tinha morrido na hora. Mesmo com sua identidade no sabiam de onde era e de onde vinha. O enterraram como indigente. Ele estava com o cinto escoteiro e um dos investigadores resolveu fazer uma consulta direo escoteira do estado. Em vo. Ele no tinha registro l. Algum sugeriu consultar o Grupo Escoteiro mais prximo. Conversa daqui e Dal se passaram vrios meses. Um pai soube e comentou do desaparecimento do Chefe Remo. Ele o conhecia e recordava como todos ficaram preocupados. Ao confirmar a identidade, no havia mais dvida. Foi um choque para todos ns. No sei por que, se foi uma boa idia, mas reunimos todo o grupo e um dia de domingo tarde fomos at a cidade onde havia sido sepultado. Em volta de sua campa simples, fizemos uma orao, cantamos a cadeia da fraternidade, todos chorando, engasgados dizendo com dificuldade que no era mais que um at logo, no era mais que um breve adeus, pois bem cedo junto ao fogo, tornaramos a nos ver. Ali, com os olhos marejados de lgrimas, vimos um beija flor azulado, sozinho, batendo asas em volta do seu tumulo, e enquanto permanecemos ele tambm ficou, sem pousar, sem cansar. No digo que seria um sinal, nada disto, eu mesmo no acredito. Sou meio cptico com essas coisas. Um fato no pode ser esquecido, o chefe Remo merecia ter tido muito mais de ns. Pelo menos sua promessa. Voltamos tristes, silenciosos. No havia canes, s as lembranas pululavam na face e no ntimo de cada um. Agora sabamos que tnhamos conhecido um grande escoteiro, um grande chefe, mas s demos o valor quando ele se foi. No

houve promessa, no houve medalhas, no houve certificados de gratido. Nem um simples agradecimento verbal. S mesmo a lembrana ficou. Saudosa, dolorida e que nunca mais vai ser esquecida em nosso grupo escoteiro. Fiquei pensando que nem sempre a escrita, a formao intelectual e docente deve ser avaliada para a escolha de um lder. Como diz o Grande Arquiteto do Universo, a muitas moradas na casa de meu pai. Ele se sentia satisfeito com o que fazia e ali era o seu lugar. Confirmar tais indivduos que se multiplicam por todas as plagas, dando seus valores merecidos, faz parte de nossa aceitao em cham-los de escotistas, de chefes. Voltei para casa meditando. Era um Escotista cumpridor de seus deveres. No almejava nada. Fazia seu trabalho sem recompensas. Era o lixeiro, o carregador, o apanhador de sonhos. Vi ento que a Lei do Escoteiro tambm a lei do Chefe Escoteiro. Nunca mais voltei l. No porque no quis, no houve oportunidade. Mas o chefe Remo ficou marcado para sempre em minha memria.

Lendas escoteiras. O inesquecvel Chefe Gafanhoto. (baseada em fatos reais) Gente boa. Educado. Sabia ouvir, sabia cantar, era um grande mateiro, sempre sorrindo e com uma tropa Escoteira maravilhosa. Tinha um sonho. Um sonho maluco Chefe Osvaldo, se Deus quiser um dia eu vou me alistar na Legio Estrangeira. Voc sabe o que isto? Perguntei. - Claro, sei que quando se alista so cinco anos sem poder sair. Bem cada um com seus sonhos. Eu o conheci em um curso Escoteiro. Foram oitos dias na mesma Patrulha. Chefe gafanhoto praticamente liderou a patrulha. Surpresa foi quando me disse que morava em Barra das Vertentes. Menos de cento e cinquenta quilmetros de onde eu morava. Em Luz do Amanh. Tinha sido promovido a Chefe da Tropa h poucos meses. O curso me deu um novo caminho a seguir. Chefe! Que tal acamparmos juntos? Minha tropa e a sua. Grande ideia Chefe Gafanhoto. Quando? Vamos aproveitar janeiro do prximo ano. Falta menos de seis meses. Ficamos combinados. O local ainda iriamos decidir. Em fins de outubro recebi uma carta dele. Chefe, o Senhor Molixto, pai de um Escoteiro tem uma fazenda prxima a Trs Estrelas. Metade do caminho para mim e voc. Acho que uns noventa quilmetros de sua cidade. Voc passa Trs Estrelas e marca mais cinco quilmetros. Vers uma bifurcao. Al ser o ponto de encontro. At a fazenda so mais oito. Senhor Molixto me garantiu que l tem um excelente local, prximo de uma cascata para banho e muitos bambus. Ele ir nos ceder dois carros de bois para transporte do material do entroncamento at o local. Garantiu tambm que ser por conta dele a carne de porco, de boi, gordura, arroz, feijo, batata e verduras e frutas. Ele tem isto na fazenda!

Beleza! Mandei outra carta confirmando o horrio de encontro. A tropa vibrou quando contei do acampamento. Consegui na prefeitura um caminho lonado, Chefe Joo o Chefe do Grupo conseguiu o que precisvamos de alimentos no Armazm do seu Amadeus. Iriamos com quatro patrulhas. Fizemos dois Conselhos de Patrulha e duas Cortes de Honra. Metade do programa nosso e a outra do Chefe Gafanhoto. Seriam seis dias acampados. Partimos em uma manh chuvosa. O caminho estava lonado. Rio Bahia, estrada de terra ainda sem asfalto. Noventa quilmetros. Chegamos s nove e meia da manh. Corre daqui, corre dali, tralha nas costas, chuvinha intermitente e pegamos a bifurcao. Vimos tropa do chefe Gafanhoto do outro lado do pontilho de madeira. O crrego cheio. Imenso. Passava por cima da ponte. No dava para atravessar. Um barulho tremendo das corredeiras. A Patrulha Raposa montou rpido um posto de transmisso de semforas. Entendemo-nos. Armamos barraca debaixo de chuva e combinamos esperar a enchente diminuir. As patrulhas improvisaram um toldo e um fogo tropeiro. Saiu uma sopa com po fresco. noite as patrulhas resolveram conversar por Morse. A turma do Chefe Gafanhoto era boa na sinalizao. Dormimos cedo. De manh sem chuva, mas cinzento o cu. A enchente diminuiu. Rogrio Monitor me procurou. Chefe, as barracas esto cheias de escorpies. Ensinei o que deveria ser feito para empacotar o material de campo e individual. Graas a Deus ningum foi mordido. Resolvemos atravessar sem a ponte, pois se no iriamos perder alguns dias o que no estava no plano. Cada Patrulha fez uma pequena jangada. Uma festa. A outra tropa gritando e ajudando. s onze da manh estvamos do outro lado. Abraos, saudaes, apertos de mo, uma festa. Partimos. Os carros de boi lotados. Rangendo. Cantando como sempre. Adorava isso. Chefe Gafanhoto brincando com todos, animando, todos rindo. Oito quilmetros tirados de letra. Uma hora da tarde chegamos. Seu Molixto gente boa. Comemos goiabas e bananas. Ele tinha uma carne de porco frita. Mas iriamos fazer o almoo. Fomos para o campo. Lindo local. A cascata era linda. Tem nome? Perguntei. No. Eu te batizo como Cascata da Fraternidade. E assim foi dito, e assim foi feito e assim lavrado em ata. Seis dias maravilhosos. Parecia que os sessenta jovens ali presentes se conheciam a longo tempo. Mais que irmos. Seu Molixto um gentleman. Dois meninos filhos de um meeiro (mora nas terras da fazenda, planta e d uma parte para o dono) se encantaram. Chefe Gafanhoto os colocou cada um em uma Patrulha. Tiana filho do Seu Molixto uma bela morena dos seus dezessete anos no tirava os olhos de mim. Fiquei triste quando partimos e ela chorou. Lagrimas e lagrimas em seus olhos. No acampamento teve de tudo. Bois que invadiram o campo noite acordando todo mundo. Ricardinho pegou uma trara de quatro quilos. S vendo para acreditar. A luta do basto no remanso da Cascata da Fraternidade valeu por um acampamento. A jornada na Caverna do Vento outro. Comeava em um lado da montanha e saia do outro lado. Mais de dois quilmetros na escurido. E os pistoleiros? Sempre escorados no tronco

da macaxeira a nos espiar. Seu Molixto dizia que eram de paz. Norbertinho em um jogo noturno caiu de uma arvore. Quebrou a perna. Foi levado a cidade e voltou para o acampamento enfaixado. Ele mesmo fez uma espcie de muleta para ele. Nunca chorou. Aproveitou tudo do acampamento. A falsa baiana em cima do remanso a mais de quinze metros de altura deu o que falar. A ponte pnsil que a Patrulha do Morcego fez durou dois dias com um belo tombo do Japirim. O ninho de guia da Patrulha Coruja dizem est l at hoje. Risos. A desandeira que deu em todos por comerem muita goiaba deu para rir a bea. Sempre um correndo para o WC que logo encheu! Final de campo. Meninos da fazenda chorando. Seu Molixto emocionado fez o juramento e recebeu os dois lenos um de cada grupo. Os dois pistoleiros vieram nos cumprimentar. Tiana me procurou dizendo que me amava e nunca mais ia me esquecer. Nunca mais a vi. Retorno triste, Chefe Gafanhoto tentando animar. Partida chorosa, nosso caminho lotado. Dando adeus. Edinho com sua bandeirola de semfora dizendo e repetindo um at logo at o caminho virar a curva da estrada. Meninos se acenando dizendo adeus. Promessas de um novo reencontro. Amizades que se formaram e duraram por uma eternidade. Janeiro de mil novecentos e cinquenta e nove que entrou para a histria. Cinco anos depois recebi uma carta do Chefe Gafanhoto Chefe Osvaldo, estou partindo para a Frana. Vou me alistar na Legio Estrangeira. Nunca mais o vi. Acho que seu sonho de ser um legionrio foi realizado. Ainda deve estar lutando nas montanhas ao norte da Arglia. Sonhos so sonhos. Cada um faz o seu. Belo acampamento. Grande amigo o Chefe Gafanhoto. Nunca mais o vi e nunca mais o esqueci. Ficou marcado para sempre em meu corao.

Lembrando Patropi. Um grande poeta. Ser que vale a pena, meu? A ltima vez que coloquei o p na estrada com uma tropa de escoteiros foi h muito tempo. Depois o os anos passaram, aqui e ali um curso que foi rareando, uma palestra uma vez ou outra e pluft! Vi-me aposentado e sem poder sentir minha mochila, meu cantil, minha faca, meu chapu de trs bicos e sem sentir mais o cheiro da terra, o nascer e o por do sol em uma montanha qualquer. Guardei na lembrana o escotismo que fiz quando criana e quando adulto. Os ultimos lobos e escoteiros que tive contato hoje so homens feitos. Pais de famlia. Cidados viventes em suas comunidades. Ainda sinto uma ponta de nostalgia, mas diferente dos muitos que s lamentam o passado e de outros que acham saber fazer o presente e no sabem que no fizeram um passado para lembrar. Eu sei que no escotismo temos diversos tipos de pessoas. Afinal somos seres humanos. Apesar de transmitirmos uma filosofia de vida belssima nem todos assimilam as benesses de uma vida pura, honesta, alegre e esquecendo-se de ver em cada passo a

beleza inconteste do escotismo. Tem muitos ainda que procuram fazer do escotismo uma maneira de vida. Fazem o que sabem e no o que o escotismo . Dizem que em todo ser humano existe um sonho de comandar. De ditar ordens. Alguns vo mais longe e sonham em fazer dos seus comandados uma sequncia de suas vidas, do que so e do que foram. Outros que galgaram postos de comando levam a sisudez de suas empresas, de suas maneiras e tratos com os colaboradores para o escotismo. Um manancial aberto e ali se sentem realizados. A profissionalizao feita sem salrio, mas com exigncias. No sei se estou certo. Acho que no. Vejo o escotismo de outra maneira. Vejo como um jogo para ser jogado com alegria e vontade de dar e servir. Vejo sempre um sorriso, uma palavra amiga, um incentivo a mais. Vejo uma fraternidade em muitos casos maior que irmos viventes no mesmo lar. Vejo uma aceitao sem inveno. Vejo uma percepo do escotismo no seu natural. De vez em quando olho para mim mesmo e lembro as palavras do Comediante Patropi: - P meu, c parece que num sei! - Meu, do fundo do meu corao, voc pr mim, problema seu! - o seguinte, quer dizer, eu tambm no sei, mas supondo que soubesse, eu diria, sei l entende! Pois , parece mesmo que num sei! Alguns me escrevem ou deixam comentrios que mesmo se entendesse eu diria, sei l entende! Falar o que? Responder o que? O que dizem no foi e nunca ser o meu escotismo. Alegre, sorridente, amigo, sem interesses, respeito, sendo o primeiro a sorrir para o jovem. Mas no. Dizem que sou um contador de historias nada mais que isto. E histrias so historias. Outro dia cheguei a pensar em mudar o rumo dos meus contos. Escrever para outro pblico que no o Escoteiro. Queria plantar uma muda para mudar o modo de pensar de muitos, mas no fundo do meu corao, acho que no vou conseguir. At penso e me lembro dele dizendo: - Meu, daria para me incluir fora dessa?, e olhe, para compensar que cheguei atrasado, vou sair mais cedo!. Escrever dizem-me que uma arte. Eu ainda no sou arteiro. Como o velho poeta Patropi dizia, s vezes a mentira melhor que a verdade, quer ver? O que tudo, e o que nada? Nada a ausncia de tudo, e tudo a ausncia de nada. Para dizer a verdade eu no sabia que voc sabia que ela sabia... E at parece que no sei. Caramba! Derrubei com o p o sustentculo principal da moradia campeira. Chutei o pau da barraca meu! Acho que fora da realidade do meu saber tem um mundo maravilhoso que no vejo. Tem um escotismo feito do jeito que sempre quis. Quem sabe ele sim vai dar uma nova vida um novo rumo ao que eu penso ao que tu pensas, e o que os outros pensam? Risos. At parece que no sei. Parece mesmo. Pois meus amigos escoteiros com minha cultura, ser que perdi alguma coisa? No sou eu quem diz as coisas para vs? No t vendo como a comunicao tudo meu? Claro, nunca serei politico, no sei mentir. Estou mentindo? P, e ningum me avisa? Tudo bem, p daqui, p de l, agora fui quando devia estar voltando.

-: Rosa (rosa), nega (nega) Nega rosa Rosa nega. Mais tem rosa que rosa porque rosa mais no a minha rosa porque a minha rosa rosa, mas, a minha rosa nega Minha rosa Rosa nega... Que loucura meu! Plies! Sem crise! Bicho. Fuiiii! Obs. Orival Pessini o Patropi (seis de agosto de 1944) um humorista de televiso;

Lendas escoteiras. O dia em que Lagoa Vermelha parou para assistir o casamento do Chefe Bento Soares. Era uma cidade feliz. Muito mesmo. Todos l se conheciam e eram grandes amigos. Aos sbados e domingos se reunio na praa central, cumprimentando-se, contando causos e lembrando-se dos velhos tempos. Chefe Bento era uma figura de destaque na cidade. No porque fosse politico, mas pela sua bondade, pelo seu sorriso e pelo seu trabalho em prol da comunidade. Alm de Chefe da Tropa Escoteira Andrmeda ele trabalhava no Posto de Sade da cidade h mais de vinte anos. Dizia-se que quase todos os habitantes de Lagoa Vermelha foram escoteiros e isto quem sabe explica a grande amizade entre eles. Chefe Bento era mesmo diferente. Se fosse padre estaria explicado, mas no era. Sua tropa Escoteira o adorava. Nunca faltou a uma reunio. O Padre Albertinho no fazia nada sem o consultar. Fizeram tudo para ele se candidatar a prefeito e sempre recusou. O Prefeito Belarmino e as demais autoridades tinham por ele o maior respeito. Morava em uma casa simples bem prximo da sede Escoteira motivo pela qual ela estava sempre cheia de escoteiros. Sua me dona Lindalva tinha uma pacincia enorme. Nunca brigava com a meninada. Ela comentava sempre que se Jesus dizia vinde a mim as criancinhas porque eu tambm no fao o mesmo? Chefe Bento estava noivo de Cidinha, uma jovem simples, que trabalhava como servente no Grupo Escolar Flores da Cunha. Magra, loira e uns olhos azuis que quase no se via, porque ficava sempre de cabea baixa. Cidinha tambm era um amor de pessoa. Os alunos adoravam seu estilo e s no entrou para o Grupo Escoteiro porque achava que no tinha estudo suficiente. Fizera somente o quarto ano primrio e parou de estudar para trabalhar. Sua famlia dependia dela. Chefe Bento e Cidinha namoravam desde crianas. Ambos achavam que no podiam viver um sem o outro. Nunca houve palavras bonitas entre eles de eu te amo estou apaixonado e s se beijaram uma vez, mas um beijo calmo, nada de lngua pr l e pr c. A cidade em peso esperava o dia do casamento. Seria em 22 de novembro prximo. Menos de cinco meses. Seria uma festa de arromba. O Padre Albertinho fez questo de celebrar o casamento sem nenhum nus para eles. A igreja vai ajudar tambm nos mveis do casal. Os lobinhos, escoteiros, seniores

e pioneiros se cotizaram para as demais despesas. Uma lista foi passada de mo em mo de casa em casa. Estava quase cheia. Vrios fazendeiros prometeram bois, porcos, galinhas e o clube de mes da igreja e do Grupo Escoteiro comprometeram-se a fazer tudo. Tudo caminhava a mil maravilhas. Em 12 de junho a tropa foi acampar na Serra da Felicidade. Sempre acampavam l. Ficava nas terras do Coronel Adauto, um fazendeiro amigo e conhecido de todos. Na abertura do campo o Coronel Adauto estava presente. Ele gostava de ver a escoteirada formar e cantar o hino Nacional. Todos se espantaram desta vez. Ao lado dele uma bela morena de olhos negros, saia curtinha, cabelos negros longos, corpo escultural. Linda de morrer! Minha sobrinha disse. Veio morar comigo. As patrulhas estavam cismadas. Chefe Bento presente como sempre foi, mas agora tinha ao seu lado a bela Francisca e eram somente sorrisos. Dia e noite juntos. Um dia Pedrinho os viu beijando junto ao moinho do Ventor. Um susto. A tropa toda ficou sabendo. Logo a cidade em peso sabia. Segredos? Ali em Lagoa Vermelha no havia. Todos sabiam de tudo. Coitada da Cidinha diziam. Ela calada. Parecia que no estava revoltada. Claro, Chefe Bento continuou indo a sua casa como se nada tivesse acontecido. Um dia procurou o Padre Albertinho. - Senhor Padre, disse No vou confessar agora. s um conselho. No sei o que diz meu corao. No quero ficar sem a Cidinha. Ela meu sonho para vivermos juntos para sempre. No entanto no sei, mas estou amando a Francisca. O que fao padre? Lagoa Vermelha em peso cochichavam entre si. O disse me disse das comadres eram enormes. Quem essa Francisca? De onde veio? Tomar o Chefe Bento da Cidinha? Vai ver que uma pistoleira da cidade grande. Onde o Coronel Adauto arrumou esta bruxa? Durante um ms o buchicho no parou. Chefe Bento no sabia o que fazer. No tinha coragem de olhar nos olhos de ningum. Sempre de cabea baixa. O Coronel Adauto um dia pediu para ele ir at a fazenda. E agora pensou Chefe Bento? Ele vai me imprensar na parede. No sei o que fazer. Nem mame soube me aconselhar. O dia acabava de amanhecer. Um cu avermelhado prenuncio de um dia quente e sem chuva. Um carro preto, grande atravessou a cidade de ponta a ponta e se dirigiu a fazenda do Coronel Adauto. O povo s ficou sabendo quando Z das Flores, um vaqueiro da fazenda, entrou no Boteco do Martinho e contou as novidades. O marido da Francisca veio busc-la. Era no queria ir. O Coronel Adauto ficou calado. Eram casados e ela devia obrigao a ele. No concordou com a farsa dela se apaixonar pelo Chefe Bento. Pensou vrias vezes contar o que sabia. Era casada com um mafioso da capital. Sujeito perigoso. Ela fugiu dele e mesmo aconselhando a voltar no aceitou. O povo viu o carro preto pegando a estrada da capital com a Francisca dentro. Quando Chefe Bento soube, dizem seus amigos l do posto de sade que ele chorou. Dois meses depois o casamento foi realizado. Vieram escoteiros de varias cidades. Fizeram uma bonita passagem de bastes para ele e Cidinha passar quando saram da igreja. Padre Albertinho sorria tambm. Quem sabe ele

toma jeito? A nova casa estava preparada, mas eles pouco ficaram ali. Pegaram o nibus de Lagoa Formosa naquela tarde e foram em lua de mel merecida. Acompanhei tudo. Sei que o Chefe Bento nunca mais foi o mesmo. Seu sorriso espontneo desapareceu. Todos diziam que Cidinha estava sempre com os olhos vermelhos. Dois anos depois nasceu Tom, um ano mais e Marcela veio ao mundo. Pararam por a. Sei que depois dos dois rebentos o sorrisos voltou ao rosto do Chefe Bento. Sei tambm que eles viveram felizes para sempre.

Lendas escoteiras. O ltimo duelo ao por do sol. Pedalando sobre o sol forte da manh, eu me mantinha na fila que fora organizada pelo Chefe Rildo na Estrada do Quinzinho. Quatro patrulhas indo acampar na Garganta do Rio Mimoso. Iriamos ficar na rea mais larga onde nunca tinha acontecido uma enchente. Ficava entre as Montanhas do Roncador e a Montanha da Lua. Eu conhecia muito bem. Acampei diversas vezes com a Patrulha. Agora melhor, todas as patrulhas presentes. Chegamos por volta das onze da manh. Corre- corre para montar campo e fazer o almoo. Eu tinha uma predileo pelo local. Tinha muitos amigos l. Habitantes da floresta e da garganta do Rio Mimoso. J contei a vocs que eu tinha um dom. Entendia e conversava com os animais e pssaros da floresta. Eram todos meus amigos. Esperava encontrar l A Coruja de Olhos Verdes, O Tat Bola que jurava ter mais de cem anos. A Famlia Zuarte deveria ter crescido. Antes eram quinze macaquinhos prego e muitos deles esperavam filhotes. Sabia que na calada da noite a Ona Parda e o Lobo Guar iriam me esperar na curva da tartaruga. Um local onde sempre a bicharada se reunia. Meus amigos da Patrulha sabiam do meu dom. Mas nem todos acreditavam. Nem mesmo quando o Gavio Maltes veio avisar que o rio formava uma enchente enorme na cabeceira. Foi conta de desarmar as barracas, pegar as tralhas que o rio comeou a subir. Questo de minutos. Dei falta da Coruja de Olhos Verdes. S apareceu por volta do lusco fusco do entardecer. Oi Escoteiro, como vai? Olhei e l estava ela na grande rvore onde fazia sua morada. Disse ao Monitor que ia tentar achar umas bananas e ele riu matreiramente. Sabia que ia procurar a Coruja de Olhos Verdes. Ela j chegou? Sim. Ela no quer vir aqui. Muitos das outras patrulhas no iam entender. - Sabe Escoteiro, amanh vai ser um grande dia, dizia a Coruja de Olhos Verdes. Toda a bicharada da garganta, da mata do Jambreiro e acho que at das Montanhas da Lua e roncador j confirmaram presena. Vo vir para a luta mortal! - Luta? Que luta Coruja dos Olhos Verdes? Perguntei. A luta das cobras venenosas. Mas porque vo lutar? Sempre foram de paz e respeitavam at os humanos que passavam por aqui! Sempre foi assim, respondeu. Mas

ontem comearam a discutir na Prainha do Melo quem era mais forte, quem era mais valente, quem tinha o veneno mais poderoso e quase saram s raias de fato ali mesmo. A cascavel Mor e a Surucucu Papaia gritaram to alto que a bicharada que foi l beber gua se assustaram e correram. Quando cheguei os olhos das duas estavam vermelhos. Chispas azuis, vermelhas e douradas salpicavam em todas as direes. Vi que iam se engalfinhar, mas o Quati da Floresta Negra separou e deu ideia para o duelo. Fiquei pensativo. No iam duelar e sim entrar numa luta de mortal. Eu conhecia a Chefe da Tribo das Cascavis. Uma ou duas vezes conversei com a Surucucu do Rabo cortado. Nunca me fizeram mal. Eu sabia que ali e nas matas distantes existia uma lei. No escrita, mas que todos obedeciam. A Lei da Selva. A prpria Coruja de Olhos Verdes que era considerada a mais sabia j dizia que uma coisa no justa porque lei, mas deve ser lei porque justa. Ali o respeito existia. Sabiam todos que um dia iriam servir de antepasto para um mais forte, mas s quando sentiam fome. Achei que devia interferir. A Coruja dos Olhos Verdes achou que no. No disse nada, mas iria estar presente. Onde iriam duelar? Perguntei. Na Pedra Cinzenta do Papo Amarelo. Sabia onde era. Fui l varias vezes. Escolheram bem. Todos ali seriam vistos. Combinei com o Monitor para me liberar entre quatro e sete da noite do dia seguinte. Ele um grande companheiro no se fez de rogado. Cheguei por volta das cinco da tarde. Quase toda a bicharada estava presente. L estava o Tamandu Bandeira, O peixe-boi, a Arara azul-de-Lear. Vrias onas pintadas, Jaguatiricas, quatis, gavies, guias coloridas e falces de todo o tipo. Era bicho que no acabava mais. Iam chegando e procurando o melhor lugar para ver a luta mortal. A Cascavel chegou acompanhada de duas aranhas negras. Logo chegou a Surucucu com mais de vinte escorpies amarelos ao seu redor. No houve conversa, no houve apito e nem gongo. Elas logo se engalfinharam. Eu sabia que no seria uma luta de morte. No tinham veias e nem sangue, portanto os venenos das mordidas no fariam efeito. Lutaram-se, engalfinharam-se, tentaram enroscar uma na outra at que cansadas cada uma se estirou em um canto. Houve um silencio momentneo e depois uma vaia infernal. Os Macacos Prego guinchavam e urravam nas arvores. Outros rugiram, aves cantavam gritantes no ar. Uma lutinha! Uma lutinha de nada! Diziam. Resolveram fazer uma Indaba ali na hora. Fizeram oito comisses. Tema Castigo para as cobras venenosas que no eram de nada. Cada comisso fez um relatrio e apresentou para a Coruja de Olhos Verdes. Esta no alto da rvore gritou alto Que se lavre em ata, que hoje, 12 de fevereiro, ano santo, Foi dado uma punio a Dona Cascavel e a Dona Surucucu por seis meses. Elas ficaro proibidas de morder quem quer que seja. Nem podero caar o sapinho do lago dourado. Iram se alimentar de folhas e tomates verdes! Um urra! Mais um e outro. A bicharada cantou alto a Arvore da Montanha e foram cada um para suas casas. Cheguei ao campo era mais de oito

da noite. O Monitor disse que o Chefe perguntou por mim na hora do jogo. Deu uma desculpa de dor de barriga. No ultimo dia aps o cerimonial a Surucucu e a Cascavel vieram me pedir desculpas. Pediram para eu interceder por elas na Corte de Honra das Corujas Buraqueiras. Mandei uma carta por escrito e parti com a escoteirada para minha cidade. Devo voltar l no prximo domingo. S eu e o Monitor. Vou tentar ver se ele vai ser aceito na comunidade dos bichos e animais da floresta. E tambm saber se perdoaram as cobras venenosas. E acreditem se quiser... Mas bom saber que eu falo com eles. Eu Juro pela Alma do Jumento Cinzento que morreu de tanto comer capim. Que assim seja!

Lendas Escoteiras. Aqui se faz aqui se paga. Narville ouvia calado. Ele sempre foi assim. Preferia ouvir a discutir, pois achava que seu silncio lhe daria sempre paz de esprito. Seu pai um simplrio carroceiro um dia lhe disse Narville, a maior parte dos problemas do homem decorre de sua incapacidade de ficar calado. Ele olhava nos olhos do Chefe Wantuil do Grupo Escoteiro guia de Haia. Um nome que todos sabiam o significado. Mas o Chefe Wantuil com toda sua arrogncia no sabia. A princpio Narville achou que ele lhe daria um sorriso e dizer Bem vindo, precisamos de voluntrios, mas no. Tentou encobrir sua presuno de dono da verdade e s saiu um monte de asneiras. Finalmente completou Narville, voc um simples vigia das Casas Nomia, trabalha a noite, acho que nem estudo tem. Como posso aceit-lo no Grupo Escoteiro? O que voc pode trazer de benfico aos jovens classe mdia que temos aqui? Se observar bem todos os chefes tem curso superior ou ento esto terminando. Melhor procurar outro Grupo Escoteiro. Aqui no tenho lugar para voc! Falar mais o que? Discutir com o Chefe Wantuil? Falar umas poucas e boas para ele? Ele j tinha lido que a maior parte dos problemas do homem decorre de sua incapacidade de ficar calado. No foi Abraham Lincoln quem disse que melhor permanecer calado e que suspeitem tua insensatez, que falar e eliminar toda a dvida disso? Narville era realmente na sua aparncia um pobre coitado. Vestia mal. Ganhava pouco. Aprendera tanto com seu pai, um simples carroceiro, mas que para ele era um sbio. No diga a coisas com pressa Narville, mais vale um silencio certo que uma palavra errada. mais fcil a gente se arrepender de uma palavra que de um silncio. Ele sabia disso. Tinha visto agora nas palavras do Chefe Wantuil. Palavra errada, na hora errada pode se transformar em ferida naquele que disse e naquele que ouviu. Desde pequeno que Narville sonhava em ser Escoteiro. Nunca pode entrar. Primeiro porque precisava trabalhar. Seu pai o deixara rfo aos dezesseis anos e antes tinha que ajudar sua me nas trouxas de roupa que lavava para algumas famlias da cidade. Depois para completar o dinheiro que

precisavam para sobreviver ele trabalhava. Sempre fora bom aluno e estudava a noite. Dona Nomia das Lojas do mesmo nome lhe dera um emprego. Salrio pequeno. Passava sempre em frente ao Grupo Escoteiro e sonhava que um dia seria um. Mas onde estava o seu tempo? No tinha. Sabia que eles iam acampar excursionar, entravam em matas fechadas, atravessavam rios e ele sonhava. Quantas vezes olhava no espelho e se via com aquele uniforme caqui, aquele leno verde e amarelo e aquele chapelo. Foi crescendo com seu sonho. Um dia Conseguiu o emprego de vigia noturno. Agora tinha as tardes de sbado, mas seu sonho foi destrudo pelo Chefe Wantuil. No ficou com raiva. Ele era uma alma boa. No tinha e nunca teve raiva de ningum. Achava que cada um tinha suas razes. Narville tinha um segredo. S dele, de sua me e dona Nomia. Ela o vira uma vez estudando aps o horrio e sentiu que ele precisava de sua ajuda. Narville, eu vou pagar a faculdade para voc. Se um dia se formar vais trabalhar para mim aqui? Falar o que para dona Nomia? Um ano, dois cinco anos. Formou-se em direito. Uma luta para passar no exame da ordem, mas conseguiu. Ningum sabia do seu intento. Sua me e dona Nomia estavam presente na sua colao de grau. Logo foi transferido para o departamento Jurdico. Colocou seu nico terno cinza e entrou na sala humildemente. Foi bem recebido. Em trinta dias conquistou amigos. J era outro homem. O nome do Chefe Wantuil surgiu em destaque nos jornais. Foi acusado de roubo na firma que trabalhava. O juiz decretou priso preventiva por trinta dias. Seu arroubo de arrogncia afugentou os dois nicos advogados da cidade. No tinha ningum para defend-lo. Narville achou que era hora de retribuir. Foi priso. Viu os olhos de Chefe Wantuil em lagrimas. Quem poderia imaginar aquela cena? Narville era bom advogado. Com a ajuda de um amigo detetive logo descobriu quem era o culpado. Chefe Wantuil no julgamento foi declarado inocente. Seu nome ficou marcado no grupo. No o queriam mais. Nem deixaram entrar na sede para se explicar. Sempre tem aqueles que aproveitam dos que um dia estiveram no poder e humilharam todos. No assim que dizem que quem aqui faz aqui se paga? Chefe Wantuil ficou marcado para sempre. Narville no pode fazer nada. Seu sonho de ser Escoteiro foi adiado, mas dois anos depois organizou um novo grupo. Pequeno, sem grandiosidade. Trabalhar com poucos. Convidou o Chefe Wantuil. Este com lgrimas nos olhos aceitou. Tornaram-se amigos, foi seu padrinho de casamento. Mudou muito. Aquela arrogncia ficou no passado. Ele aprendeu que nunca mais iria cair na tentao do discurso banal, da explicao simplria. Agora era outro, sua fala era como se estivesse dizendo Calma! Agora eu tenho calma para dizer, calma para ouvir!

Conversa ao p do fogo. Voc j ouviu os sons da natureza?

A natureza o nico livro que oferece um contedo valioso em todas as suas folhas. Johann Goethe Hoje no vou contar uma histria. No vou escrever um artigo. Vou apenas lembrar quando comecei a aprender e sonhar com os sons da natureza. Isto ainda existe? Ainda tem escoteiros sonhadores? Aqueles que olham o cu e pensam estar viajando pelas estrelas? Faz tempo. Muito tempo. A primeira vez estava com dezessete anos. Ia fazer dezoito. Tinha muitos problemas. Ainda no sabia do valor do silencio. Resolvi fazer meu primeiro acampamento sozinho. Sem ningum. Precisava pensar. Porque no? Quem sabe iria descobrir em mim mesmo de onde vim e para onde vou! Mochila nas costas l fui eu. Era um pico famoso em frente cidade que morava. Fui l muitas vezes com a Patrulha, com a tropa. Subida difcil. Umas cinco horas para atingir o cume. Foi uma experincia fantstica. Nunca tive medo no campo. No sou corajoso, mas amava o campo. Afinal se voc o ama no pode ter medo. Fui em um sbado tarde para voltar no domingo. Era fantstica a vista noturna. As luzes piscando por toda a cidade. Pequenos faris furando ruas e ruas e o rio serpenteando como uma enorme serpente querendo devorar a cidade. Acomodei-me sem barracas. Tinha uma grande cruz no alto, serviu como escora para minha mochila. Foi a primeira vez que senti e ouvi o vento. O vento soprava. Eu no o via, mas sentia. O som era como se eu o tivesse descoberto pela primeira vez. Dormi. poca que ainda dormia a noite inteira. Acordei no lusco fusco da manh com o rosto molhado pelo orvalho. Ouvi os pssaros. Cantavam diferentes. Ainda no os identificava, pois no estavam por perto. Demorou mais cinco anos para o prximo. Meu local preferido. Serra da Piedade. Uma viagem de trem, saltar com o trem em movimento em uma subida antes do tnel da Viva. Fui l antes vrias vezes com amigos escoteiros. Mas precisava ficar s. Sem vozes, sem cantoria, sem gritos sem farfalhar sobre os galhos soltos por a. Quatro quilmetros de subida. Outra vista maravilhosa. Quatro cidades no horizonte. Aprendi ali a identificar os grilos, as cigarras, os pssaros noturnos e pela primeira vez vi de perto um lobo guar. Quieto. Olhando-me. Tirei uma linguia da mochila. Joguei para ele. Comeu com gosto. Nas outras vezes que voltei foi meu companheiro em quase todas as horas que ali estive. Foi l que passei a admirar o som da chuva. No importa se torrencial ou no. Quem sabe ouvindo se perde o medo. At os raios tinham os rudos da noite assim como os troves. Em cada poca do ano, o vento soprava diferente. Fui em outros lugares. Fiz destas atividades a Escoteira (aquele que anda s) um programa anual. Nem sempre pude cumprir. Cada lugar que estava um problema diferente. Mas no passava mais de trs ou quatro anos para retornar aos sons da natureza. Acampei sozinho em florestas virgens. Podia sentar em uma rvore centenria e ouvir o seu som quando ela rangia com seus galhos enormes e conversava com o vento. Ouvia os pssaros invisveis nos seus galhos, via o brilho do sol tentando escalar sua sombra em aberturas pequenas

nas suas folhas. Nas grandes florestas a chuva tem um som diferente. Os animais em festa, os insetos apressados, voc sente no corpo um frescor diferente. Parece que a natureza quer falar com voc. J tinha feito vrios destes acampamentos a Escoteira. No tenho certeza, mas foi aqui em So Paulo, me parece que no Parque anhanguera. No na rea do pblico. Outra que s ns escoteiros podamos entrar. Uma imensa mata de eucalipto j sendo engolida pela mata Atlntica. Como sempre s. Choveu. Barraca armada. Acordei ainda sem ter o sol despontando. O cheiro me bateu em cheio. O cheiro da terra. Um acampador, um mateiro e pela primeira vez sentia o verdadeiro cheiro da terra. Maravilhoso! Voltei l muitas vezes. Nunca acampei sozinho em uma praia deserta. Que sons maravilhosos deve se ouvir pelas madrugadas. Quem sabe um Albatroz. O bater de asas de uma gaivota, um trinta-ris ou um atobs. Quem sabe os tesoures gritando no espao a procura dos seus cardumes desaparecidos. E a onda batendo uma nas outras? E o som imperdvel dela chegando e voltando com a mare alta? J ouvi e vi tudo isto, mas no sozinho. No passado escalei montanhas. Senti l no alto a paz que procurava. Amei as tempestades e as folhas assustadas que caiam como se fosse no outono. So coisas que deixei para trs. Hoje no posso mais. Mas como eu meus sonhos eu volto sempre a Giwell eu tambm viajo pelo meu passado com as lembranas dos sons da natureza que aprendi a amar e admirar. No h como esquecer o som do regato, dos peixinhos que pulam a procura de um inseto, no coaxar de um sapinho, do lindo som de uma cachoeira gigante, do bater de asas de papagaios coloridos. Os sons das abelhas e dos beija flores a procura do nctar nas flores, de olhar uma campina verdejante e ver o vento tocar as folhas do capim, das flores silvestres e elas como se fosse uma onda vo e vem no horizonte. So tantos os sons da natureza que impossvel dizer que Deus no est ali. Sons e sons. Da noite do dia. Do nascer e do por do sol. Sons da chuva, da terra molhada, do riacho manso que corre para o mar. Sons das ondas, das gaivotas, dos falces, dos macacos guinchando nos galhos como se estivessem a rir de ns. Sons das estrelas, da lua, do sol. Sons imperdveis da nevoa da madrugada. Quantas saudades daqueles dias que o som da natureza me invadia e tomava conta do meu ser. Um som como se estivesse ouvindo melodias nunca antes tocadas por nenhuma orquestra deste mundo. Sons da natureza! Por entre junco e hera verdejante Correm nascentes de gua lmpida, Junta-se sede da minha alma mpia Esta cascata pura e refrescante J so audveis os sons da cachoeira Num simulacro magia da natureza Insetos e pssaros voam na certeza Que Deus existe e a f verdadeira.

Lendas Escoteiras. A Lobinha Laninha e o mistrio dos sinos da Igreja Matriz. No sei se vo acreditar. Dizem que eu invento muito. Mas juro de p junto que estive l. Acreditem se quiserem. H muitos anos eu conheci uma cidade no interior do serto de Pernambuco. Nem sei como fui ali parar. No foi pela minha empresa, acho que foi um golpe do destino, pois deveria ter ido a Sertnia e fui parar em Terra Santa. Pequena, menos de vinte mil almas. Nem hotel tinha. Fiquei na Penso das Esmeraldas de Dona Eufrsia. Para dizer a verdade a melhor cozinha que tinha conhecido. Almoo ou jantar era um manjar dos deuses. Acho que foi por causa dela e de Laninha que fiquei por cinco dias em uma cidade onde no tinha cinema, TV e as luzes da cidade eram desligadas a onze da noite. Na primeira noite alguns hspedes conversavam sobre a lenda dos Sinos. Inteirei-me de tudo. Todas as noites de lua cheia os sinos da Matriz tocavam um melodia desconhecida. Muitos estavam ali como turistas. A fama dos sinos ganhou mundo. No dia seguinte seria lua cheia e eles e outros milhares iriam chegar para ouvir e ver os sinos tocarem. No sou ctico e nem tampouco um fantico por lendas. Dona Eufrsia me contou que desde a morte da Lobinha Laninha no ano passado o sino tocava a meia noite nas noites de lua cheia. Lobinha? Perguntei. Sim ela respondeu. Aqui tnhamos um Grupo Escoteiro. Melchior um rapaz dos seus vinte e oito anos um dia chegou cidade e comprou a Farmcia do Beraldo. Junto estava a filha de trs anos. Sozinho sem a esposa. Dizia ser vivo. Durante mais de quatro anos se tornou uma figura conhecida e bem quista por todos. Sempre contava causos de quando foi Escoteiro. Melanino o Prefeito o incentivou a organizar um. A Prefeitura daria uma verba. Melchior animou-se. Pediu o padre que convidasse pais interessados a colaborarem. No dia marcado mais de oitenta pais. A maioria mes. O primeiro passo foi dado. Quatro meses depois os primeiros escoteiros e os primeiros lobinhos. Era um sucesso o Grupo Escoteiro da Cidade. Por votao ele se chamava Grupo Escoteiro Coronel Torres Belarmino em homenagem ao fundador da cidade. Melchior era o Chefe do Grupo. A diretoria ativa. Mariazinha uma professora assumiu como akel e com mais duas assistentes tinha uma alcatia linda e os lobinhos amavam sua Chefe. Claro que Laninha foi uma das primeiras inscritas. Durante dois anos o Grupo Escoteiro fez histria. Chegou a ter em suas fileiras quinhentos participantes. Um dia algum veio correndo dizer que Laninha cara da torre da igreja. Contava antes de morrer que queria ver o sino tocar. Ele estava estragado e h mais de dois anos no tocava. Segurou na corda perdeu o equilbrio e caiu de uma altura de trinta e seis metros. No seu funeral a cidade em peso presente. Um Snior tocou no seu clarim o toque de silncio. Todos choravam. Mais ainda a Akel Mariazinha. Ela estava inconformada. Laninha era uma menina muito amada por todos.

O Grupo Escoteiro Coronel Torres Belarmino sofreu um choque com o acontecido. Muitos saindo. Chefes desistindo. Em uma noite de lua cheia para espanto da populao o sino comeou a bater e a tocar. Era uma musica suave, mas ningum sabia o que era. Resolvi ficar ver e ouvir o tal sino. Pedi autorizao ao Padre para subir at a torre e ver como um sino tocaria sozinho. Onze horas da noite eu fui subindo devagar as escadas at o topo. Cheguei e sentei em um banquinho. Acendi meu legtimo cachimbo Irlands e deglutindo aquele blend infernal esperei. Onze e cinquenta e cinco vi um vulto. Primeiro uma nuvem branca e nela um vulto. Uma menina vestida com seu uniforme de lobinha. Linda. Sorria. Nem olhou para mim. No me deu uma palavra. Levantou os dois bracinhos e como se fosse uma grande Maestra o sino comeou a tocar. Prestei ateno na msica. Reconheci logo. Era a sonata de Schubert, (Franz Peter Schubert) Sinfonia Incompleta. Maravilhoso! Estava embasbacado. A menina sorria. Que sorriso maravilhoso! Tentei falar com ela. Nada. Ela estava como se vivesse o momento para aquela musica e eu francamente no entedia o seu amor por ela. Al, no serto de Pernambuco quem poderia gostar de Schubert? Cinco minutos depois a musica terminou. Agora era outra. A musica eu tambm conhecia. Agora tocava bem baixinho nada mais nada menos que a Cano da Promessa. Fechei os olhos e vi a fora daquela orquestra sinfnica. Ela regia como se tivesse feito aquilo a vida inteira. Meu Deus! Qual o mistrio? Nunca soube. Tentei conversar com o Padre. Ele nada. Tentei falar com o Chefe Melchior. Ele no acreditou em mim. Na cidade ningum acreditou no que eu dizia. Dona Eufrsia sorriu. Olhe, vou lhe contar. Ningum sabe e alguns no querem saber. No querem acabar com este encantamento. A cidade todos os meses depende dos turistas que chegam. Chefe Melchior era violinista da Orquestra Sinfnica de Pernambuco. Quando sua esposa morreu vitima de Poliomielite ele desesperado veio parar aqui. De farmcia no entende patavina. Nunca mais pegou em um violino. Sua filha o admirava quando ele tocava. Quem sabe ela agora procura nos cus uma maneira de ouvir o pai? Coisas misteriosas e uma charada impossvel de ser desvendadas. Enigmas que ningum quer saber. Preferem o impossvel. No sou bom nisto. Al em Terra Santa eu tinha certeza que ningum entenderia. Dona Eufrsia me olhou com um olhar treteiro. Meu amigo h mais mistrios entre o cu e a terra, do que toda a nossa v filosofia. Puxa! Dona Eufrsia uma velhinha dos seus setenta anos, cabelos brancos tambm versada em William Shakespeare?

Lendas escoteiras. Primeira Classe, o sonho de Lord Jim. Lord Jim era um sonhador. Desde que entrou para os escoteiros ele sonhava. Sonhava com acampamentos, com excurses, com a Patrulha, com as viagens enfim, Lord Jim gostava mesmo de sonhar. Havia uma diferena em Lord Jim, ele sonhava com os ps no cho. Emocionou-se no dia de sua

promessa. A tropa em posio de Alerta! Mino o Monitor ao seu lado, o Chefe Malson o olhando nos olhos e ele dizendo a Promessa Escoteira sem errar. Lembrou ali na ferradura quando entrou na tropa. O abrao do Chefe, do Monitor e de todos os patrulheiros da Gavio. Era novo para ele estas provas de amizade. Nunca tinha visto. Diziam que os escoteiros so fraternos. No primeiro acampamento ele sentiu a verdadeira felicidade de viver como um heri das selvas. Aprendeu rpido. At como cozinheiro ele uma vez ajudou. Quando comeou na Patrulha Gavio o batizaram como Lord Jim. Seu nome era Stefano. Gostou do apelido. Quando leu que Baden Powell tambm foi Lord seu orgulho mudou para melhor. Agora seu sonho era outro. A Segunda Classe. No foi difcil. Em um ano e meio conseguiu. Melhor ainda a recebeu em uma noite de lua cheia, no Acampamento das Vertentes, ascendendo o fogo do conselho com um palito e pulando as chamas trs vezes para receber seu nome de guerra. Apesar de que a tradio rezava ser um nome indgena ele pediu para continuar sendo Lord Jim. Seu Monitor o abraou. Todos deram um enorme grito de guerra da tropa. Viva Lord Jim! O Chefe Malson entregou a Segunda Classe e ele se derreteu todo. No perdia um acampamento, nenhuma excurso. Era um dos primeiros a chegar sede para as reunies. No tinha sonhos de ser Monitor, seu sonho agora era ser um Primeira Classe. Os cordes claro estavam vivos nestes sonhos. As provas foram feitas paulatinamente. Recebeu do seu Monitor como deveria ser e as datas. Ele mesmo procurou o Capito Lamartine dos bombeiros para que aprendesse a prova das especialidades de Bombeiro e Socorrista. Acampador tirou facilmente. Em dois anos na tropa j tinha mais de trinta noites de acampamento. Comprou um caderno de duzentas folhas e ali anotava tudo. Datas, onde, quando, tempo e as partes importantes que l aconteceram. Agora estava se preparando para a jornada. Era a apoteose. Todos que fizeram eram respeitados e at endeusados na tropa. Todos queriam ouvir os contos aventureiros da jornada. Aprendeu a ler mapas, tirava de letra os pontos cardeais, colaterais e sub. colaterais, sabia o que era azimute, graus, aprendeu com facilidade a fazer um esboo de Giwell e seu passo Escoteiro e passo duplo eram perfeitos. Nunca em tempo algum ele errou no seu passo duplo. A quilometragem no tinha erros. O dia da jornada chegou. Ele e Levegildo que ele mesmo convidou partiram rumo ao Vale do Roncador. No conhecia, nunca tinha ido l. O Chefe e o Assistente distrital Escoteiro tinham conversado antes. Um nibus o levou at a estradinha do Sitio do Marcondes. Sua mochila estava perfeita. Nada de mais nada de menos. O farnel o de sempre. Um macarro, uma batata, um arroz, sal, alho e um vidrinho de gordura. Sabo e mais nada. No estava pesada. Queria levar a velha Silva de guerra, mas os seniores estavam com ela. Sobrou uma Prismtica. Tudo bem. Ele a dominava com perfeio. Na porteira abriram o mapa. Na mosca. Era ali mesmo. Ele contava os passos e Levegildo anotava o que via por ali. Dois pintassilgos, um Anu do Brejo, beija flores voando longe, dois macaquinhos pregos no p de Jaca.

s seis e meia da tarde chegaram ao sitio do Marcondes. No havia duvida. Duvida ouve na senhora que os recebeu. Parecia que no sabia o que eles queriam, mas disse que eles poderiam usar o riacho e acampar a vontade. Uma sopa deliciosa, lavar vasilhame, limpar bem a barraca para evitar animais peonhentos, e aps uma vista no relatrio e uma orao foram dormir. Levantaram cedo. Um caf, biscoitos nova arrumao e p na taboa. Agradeceram senhora e partiram. Sabiam que deviam atravessar a Mata do Canarinho, mas disseram que no eram mais de quatro quilmetros dentro dela. Engano. Meio dia, uma hora e no saiam de dentro da mata. Voltaram. Foram at o sitio. Perguntaram. O mapa no ajudava. A senhora disse que eles erraram, se voltassem pela serra eles veriam o caminho. Duas da tarde. Combinaram de chegar sede s cinco da tarde. Isto se o nibus no atrasasse. Agora sim o caminho estava correto. O mapa voltou a funcionar. S s sete da noite chegaram ao ponto de nibus. Demorou. Chegaram sede as onze da noite. O Chefe Malson preocupado. O Assistente distrital no quis esperar. Foi embora. Disse que no daria a prova. Se no tem responsabilidade com horrios no merecem a Primeira Classe, disse. Dito e feito. Foram reprovados. Lord Jim no chorou e nem desistiu. Ele tinha tmpera de escoteiro. Seis meses depois repetiu a jornada. Desta vez conseguiu fazer tudo no horrio. Lord Jim fez do seu sonho realidade. Pediu ao Chefe Malson para que o distintivo fosse entregue tambm no Fogo de Conselho. Claro que sim o Chefe disse. Noite escura, troves, o fogo aceso. O Chefe queria voltar para o campo. Comeou a cair uma chuva torrencial. Lord Jim chorou. Preciso receber agora Chefe! No posso esperar outro acampamento. Terei feito quinze anos e serei Snior! A chuva caia aos borbotes. A tropa ficou de p. Em posio de sentido. Troves ribombavam pelo ar. Lord Jim ali em p em frente ao Chefe. Era mesmo um vendaval dos bons. O vento soprava forte. Mino o Monitor colocou a mo no seu ombro. - Voc est pronto Lord Jim? Sim ele disse. O Chefe entregou o distintivo de Primeira Classe. Refez a promessa. Deu um enorme sorriso. Um raio assustador atravessou os cus. A luz que ele produziu mostraram um rosto de um Escoteiro orgulhoso e valente. Agora era um Primeira Classe! Agora tinha muitas histrias para contar! Com ribombos e assombros da chuva que caia intermitente, a tropa ainda em posio de sentido cantou o Ratapl. Todo o hino. A selva recebia com orgulho aquela chuva intermitente e o cantarolar dos escoteiros! Ah! Sonhos! Como bom sonhar e os ver realizados. Viva Lord Jim. O Escoteiro Primeira Classe!

Histrias de Fogo de Conselho. (s aconselho para seniores/guias) A dana da morte

Desde que nasceu Nando ouvia falar em Deus. Sua me o obrigava a rezar, o padre a confessar, na escola professoras enchendo sua cabea de Deus. Sempre quis falar com ele, mas ele nunca o atendeu. Entrava em igrejas, em templos em busca de Deus. Nada. Ficou cinco dias no monte Caparal olhando as estrelas procurando um sinal. Nada. Resolveu ficar jejuando para ver o que Deus faria. No fez nada. Nando desistiu. Esse Deus no existia. Se Deus no existe e o diabo? O demnio? O capeta? Ia provar que ele tambm no existia. Mas para isso teria que fazer a invocao com a Dana da Morte. O que iria fazer seria horrvel, mas valeria a pena provar que o inferno no existia. Nando era magrinho, cara de fuinha na escola o chamavam de porquinho da ndia. Alugou um sitio prximo a cidade. Avisou seus pais que iria fazer uma viagem de um ms para no se preocuparem. Ele conhecia Safira, uma menina magrinha, com treze anos, muda e que morava com a av prximo a sua casa. Safira quase nunca saia de casa. Olhos pequenos boca grande, cabelos escorridos, no tinha nada de belo em sua aparncia. Nando a raptou quando ela ia a padaria comprar po. Fazia isso toda a manh. Colocou em seu fusquinha e partiu para o sitio. Tinha comprado ter e com ele embebido em um leno viu que Safira tinha desmaiado. Ao chegar ao sitio, tirou a roupa de Safira, deixou-a nua. Pequena, magra, apenas treze anos no possui nenhum atrativo sexual. Levou-a ao quintal, colocou-a dentro de um tanque de agua fria, amarrou seus braos abertos em duas estacas fincadas ao lado do tanque com cordas finas. Ela no tinha como levantar e teria que ficar dentro da gua s com a cabea para fora. Safira quando acordou estava horrorizada. Abria a boca e s saia grunhidos. Seus olhinhos saltavam como se fosse fugir. A dor era incrvel. Um horror enorme saia de seus olhos quando Nando se aproximava. Ele cortou com canivete varias lascas finas de bambu. A cada hora enfiava uma lasca em uma parte do corpo de Safira. Sempre ria quando o sangue se misturava a gua do tanque. No segundo dia a gua j estava vermelha. Com um pequeno alicate, arrancou a fora duas unhas de sua mo direita. E duas do p esquerdo. A pobre da Safira gemia horrorizada tentava gritar um grito que no saia. Desmaiava e acordava. Uma dor tremenda. No entendia nada do que estava acontecendo. noite Nando tirou sua roupa. Pintou-se de preto. Matou um galo que tinha comprado. Espalhou as penas e o sangue em cima de Safira que agora estava desmaiada. Daquele jeito Safira iria morrer no dia seguinte. No aguentava mais de tanta dor. Nando comeou a gritar a meia noite em ponto. Gritava e danava, cacarejava e pedia Aparea demnio! Mostre sua fora! Mostre que voc existe! Onde est voc demnio dos infernos! E dava grandes gargalhadas e gritos. Danou por muito tempo a Dana da Morte. Estonio acordou assustado. Dois dias como o mesmo pesadelo. Estonio era investigador de polcia e tambm "Chefe" Escoteiro. Adorava sua

profisso e ria quando os meninos e meninas da tropa pediam para ele contar historias de bandidos em acampamentos ou mesmo na sede. Considerava-se um bom policial. Nunca abusou e nunca deixou de cumprir suas obrigaes dentro da lei. Sempre o mesmo sitio que ele no conhecia. Uma menina indefesa na mo de um manaco. Teria que ser verdade. Isso s podia ser um sinal de Deus. Teria que descobrir onde era o tal stio. Sem querer comentou com os monitores seu sonho. Estava preocupado. Afinal era casado tambm e tinha dois filhos homens. Ainda crianas com dois e trs anos. Rildo um dos monitores lembrou que seu pai alugou um sitio para um homem e que ele tinha comentado que o tal queria s por um ms. Junto ao pai de Rildo ele foi ao sitio. O que viram um verdadeiro terror. Nunca imaginaria algum parecido e olhe, ele era um policial. Tinha visto muitas coisas na sua profisso. Ainda encontraram Safira com vida. Desmaiada. Toda machucada, mas respirava. Em volta pedaos de corpo de um homem todo queimado. Tinha sido esquartejado. Seus membros fedia. Acharam sua cabea fincada em um bambu. Sua lngua para fora mostrando que morrera gritando e horrorizado. Em todos os membros cortados, lascas de bambus pontiagudos. Nas duas mos e nos dois ps nenhuma unha. Foram todas arrancadas a alicate. Nando ficou estarrecido. Depois que a ambulncia levou Safira, ele olhou e viu em uma porteira prxima fumaa como se ela estivesse queimando. Foi at l. Viu escrito a fogo nas taboas e o que leu gelou suas veias. Estarrecido imaginou o que poderia ter acontecido ali. Dizia: No se preocupem. Ele queria me ver, duvidava de mim. Ele agora vai morar comigo. L no meio dos infernos e vai queimar comigo para sempre assinado o Demnio. Risos. Contei essa historia uma vez. Quase no final do Fogo de Conselho. Todos adoraram, mas dormiram daquele jeito. Muitos at hoje ainda me perguntam se foi verdade. Risos. E acredite quem quiser!

Lendas escoteiras. Zezito Escoteiro e Corneteiro. Um sonho que no morreu. Era uma tropa Escoteira diferente. Hoje acho que poucos poderiam aceitar o que faziam. Mas olhem, os meninos amavam aquela tropa, e o grupo ento? Suas patrulhas eram praticamente autnomas. O Chefe Flores pouco ia l. Era mais procurado em sua casa. Ele era Chefe tambm dos seniores e sua esposa dona Cllia era a Chefe dos lobos. Ele e ela e mais ningum de adultos. Diretoria? Risos. Passou longe. Tambm no precisavam de dinheiro. Os pais eram vizinhos, cidade pequena, todos se conheciam e todos sabiam de tudo. As reunies eram aos domingos isto quando alguma Patrulha ou mesmo a tropa no estava acampando. Neuzinho era o guia da tropa. Quando acampavam ele dirigia. Programa? Faziam na hora. Viviam fazendo pioneirias, treinando Morse,

semforos, atravessando rios e gargantas profundas nos vales da redondeza em falsas baianas num comando Crown primoroso. Ficavam pescando, preparando armadilhas para o assado da noite, observar os pssaros, aproximar de um alce qualquer. Acariciar um lobo, um Martin Pescador, decorar as estrelas, aprender a Rosa dos Ventos, saber o que era Azimute, percurso de Giwell e seguir mapas. Portanto para que programa? Zezito, no entanto alem de amar de corao sua Patrulha tinha uma paixo. Sua corneta. Isto mesmo. Ele a levava para casa. Desde que entrou nos escoteiros que sonhava em tocar uma corneta. Ele se lembrava dos desfiles, dos meninos escoteiros corneteiros. Quando tocavam todas as ordens unidas, o debandar, o reunir, o toque do silencio e a alvorada. Todas as quartas feiras a Banda se reunia prximo sede. No campo do Marimbondo Futebol Clube. Era ali que ele pegava sua corneta com gosto e tocava. Mestre Tomate um Pioneiro era o responsvel pela Banda. Zezito, enquanto voc no ter embocadura no pode ser um corneteiro. No incio no entendeu, mas quando comeou a tocar sua boca inchava e no saia nenhum som. Achei que Zezito ia desistir. Um ano e ainda no aguentava tocar mais que dois ou trs toques. Mas ele era insistente. Pediu para o Neuzinho se podia levar a corneta para os acampamentos. Nem pensar Zezito. Banda Banda, acampamento era acampamento. Seu grande chegou. Pediu ao Mestre Tomate que fizesse um teste com ele. Passou. Agora era um dos quatro corneteiros da Banda. Que orgulho em vestir o uniforme, colocar a luva branca, fazer firulas com a corneta (o que fazia muito bem) e tocar. Agora precisava ser o corneteiro mor. Seria difcil. S se O Matheus e o Onofre sassem da banda. Coisa impossvel de acontecer. O Chefe Flores como fazia todos os anos combinou um acampamento fora da cidade. Desta vez iam a Alcntara da Cunha. L estavam querendo montar um grupo e convidaram o Tiradentes o grupo dele para ser o padrinho. Como sempre conseguiram um vago de Primeira Classe s para eles. Para dizer a verdade, tinha mais de cento e vinte meninos. De adultos s o Chefe Flores e dona Cllia. Claro que o mestre Tomate ia junto, mas ficava s com sua Banda. No se sabe por que, mas na ltima hora o Matheus e o Onofre no puderam ir. Pegaram uma gripe forte e isto foi motivo de tristeza para o Mestre Tomate. Zezito, vais ser o Corneteiro mor. No me envergonhe, por favor. Que honra! Nunca Zezito teve tal alegria na vida. Melhor que quando recebeu o nome de Guerra de Irapu no Fogo do Conselho. Conseguira acender o fogo com um s palito e no teve nenhuma dificuldade. Agora era outra coisa. Limpou e passou pasta de dente em toda extenso da corneta. Era o que se usava na poca para dar brilho. No trem no tocou. Cantou como todo mundo. Quando chegaram a Alcntara da Cunha, formaram para o desfile at o local do acampamento. Atravessaram meia cidade. Zezito como Corneteiro Mor ia ao lado do Mestre Tomate. Ao passar em frente ao palanque era hora do toque a autoridade. Zezito se empertigou, fez sua melhor firula com a corneta. Ficou

em posio de sentido e tocou. E como tocou. Olhou a todos os pelotes de escoteiros que passaram a se formar em circulo e cantar o Ratapl. Por qu? Zezito Corneteiro errara o toque. Em vez de tocar um tocou formao em circulo e cantar. No palanque ningum entendia nada. Mas acharam que aquilo era Escoteiro e aplaudiram. Mestre Tomate ficou vermelho como um tomate. Tomou a corneta de Zezito. Ele chorou e como chorou. Na volta o passaram para Tarolista. Nunca mais tocou uma corneta. Pensou em sair do escotismo. Mas insistiu. Cresceu, foi servir o exercito. Passou a Cabo Corneteiro. Tocou com todo o batalho para o Presidente da Repblica o toque da saudao a autoridade. Era tudo na vida de Zezito. Nunca abandonou o exrcito. Est l at hoje como Cabo Corneteiro. O Major Fidelis queria promov-lo a sargento. Mas teria que largar a corneta. Assim termina a histria. Um menino que foi Escoteiro, mas seu sonho mesmo era ser corneteiro. Dizem eu no sei que nem aposentar quis. J "Velho" comeou a perder os dentes. No tocava como antes, mas era o responsvel pelos demais corneteiros. Morreu tocando a Saudao autoridade num outono em Braslia durante um desfile de Sete de Setembro. Viva Zezito, o Escoteiro Corneteiro que morreu feliz.

Lendas Escoteiras. Memrias de Risadinha. Ele um bom companheiro, ele um bom Escoteiro! Risadinha. Nunca na minha vida conheci um Escoteiro como ele. Quando o conheci ele tinha entrado direto para a tropa com onze anos. Olhar o rosto, a maneira como andava j bastava para dar boas risadas. E o melhor, ele nunca se incomodou com isto. A principio o Chefe Laercio da tropa no entendeu bem aquele menino desengonado, risonho e que parecia no levar nada a srio. Basta dizer que na primeira reunio que ele foi apresentado a tropa ele olhou a todos, e perguntou: - Tropa, porque a roda do trem de ferro e no de borracha? A Tropa no entendeu nada. Seria uma nova maneira de apresentar? Mas no, risadinha logo emendou Porque se fosse de borracha apagaria a linha! E Deitou no cho morrendo de rir. Era assim o Risadinha. Muitos riam mais do estilo dele que das piadas. Claro que no era e nunca foi um mau Escoteiro. Em pouco tempo j tinha seu cordo verde e amarelo e s no conseguiu o Lis de Ouro porque o Assistente Escoteiro do Distrito vetou. Um dia em uma reunio distrital de escoteiros ele adentrou o crculo e com seu estilo caracterstico gritou alto! Turma! O que a caixa de leite falou para o saquinho? Todos calados. Vem pr Caixa voc tambm. E deitava, e rolava de rir. O Assistente, jovem ainda e que no tinha senso de humor no gostou daquilo. No aprovou seu processo enquanto ele no mudasse. Mudar como? Era sua maneira, seu estilo. A tropa adorava, os seniores eram os que mais davam gargalhadas.

De vez em quando Risadinha extrapolava. No desfile do Sete de Setembro estava programado um alto em frente ao palanque para uma saudao as autoridades. Assim foi feito. O Chefe Larcio gritou! Alto! Esquerda volver! Nesta hora Risadinha deu dois passos a frente e gritou: Doutor Prefeito! Doutor Prefeito! O Prefeito que no era Doutor falou O que foi meu jovem? Porque a mulher no pode ser eletricista? Por qu? Perguntou o prefeito. - Porque ela demora nova meses para dar a luz! E deitou no cho de rir. O palanque inteiro ria a valer. Foi um sucesso, mas o Comissrio do Distrito Malquiedes achou um absurdo. Mandou um ofcio para o Grupo Escoteiro pedindo sua sada. Claro que no foi atendido e isto no foi bom para o Grupo Escoteiro. Risadinha no parava. Mame, Mame! Na escola me chamaram de mentiroso! Cale-se moleque, voc ainda nem foi escola! E Risadinha no parava. Era na sua Patrulha, era na tropa, era em casa era na escola. Ficou conhecido. A cidade em peso adorava Risadinha. Quando ele passava sempre tinha algum que gritava: - Risadinha! Uma piada. Ele nunca negou. Seu estoque era infinito O condenado a morte esperava a hora da execuo, quando chegou o padre: - Meu filho vim trazer a palavra de Deus para voc. Perda de tempo seu padre. Daqui a pouco vou falar com Ele pessoalmente. Algum recado? E l estava ele deitado no cho rindo. Tudo piorou no Grupo Escoteiro quando O Chefe Laercio foi transferido pela sua empresa para outra cidade. No tinha assistentes e o Diretor Tcnico com muito custo convenceu um antigo Escoteiro a voltar. Minomatas era um sujeito triste. Revoltado com a vida. Aceitou mas logo viu que ali no era para ele. Ao ser apresentado Risadinha deu um passo frente. A tropa j sabia. Piada na certa. Chefo! O garoto que mora em meu bairro apanhou da vizinha. A me furiosa foi tomar satisfao. Porque bateu no meu filho? Ele foi mal educado. Me chamou de gorda. - E a senhora acha que vai emagrecer batendo nele? Foi conta. Chefe Minomatas pediu sua sada. Risadinha viu que a tropa ia ser prejudicada. Resolveu sair. Um inferno isto sim ele provocou para o Grupo Escoteiro. Os meninos iam reunio sentavam em um canto e no obedeciam a chamada. Um verdadeiro Motim. Depois os sniores aderiram e finalmente os lobinhos. O que fazer? Reunio e reunies aconteceram. Nada. Veio o Distrital e sua corte. Nada. O assunto foi levado a regional. Nada. A nacional riu de tudo e tambm no fez nada. Risadinha foi convidado a voltar. Chefe Minomatas saiu do grupo. Um Pioneiro de nome Polenta assumiu. Garoto. Alegre, divertido. A tropa adorou. Chefe, o louco estava com um balde de gua e uma vara de pescar, o psiquiatra perguntou a ele O que voc est pescando? Idiotas, respondeu. Quantos voc j pegou? Trs, claro com o Senhor! O tempo passou. Soube que Risadinha conseguiu seu Escoteiro da Ptria. Sei tambm que cresceu e ficou famoso. O chamavam o maior piadista de todos os tempos. Comeou no SBT, depois foi para a Record e hoje tem um programa s dele na Rede Globo. Mame, Mame, me leva no circo? Se querem ver voc que venham aqui em casa! Risadinha. O mais divertido Escoteiro que conheci. A vida dizia ele para ser vivida com alegria. Para que

chorar? Adianta? Acho que ele tinha razo. No foi Baden Powell quem disse que o Escoteiro alegre e sorri nas dificuldades? - O Menino vem correndo e diz me: - Me, voc uma mentirosa! - Mais por que voc diz isso meu filho? - Voc disse que meu irmozinho era um anjo! Eu joguei ele pela janela e ele no voou

Lendas Escoteiras. O Tigre dente-de-sabre da Gruta das Esmeraldas. Tem certas histrias que no deviam ser contadas. So aquelas que fazemos papel de bobo, e nos chamam de idiotas escoteiros. Lembro que os seniores viviam se gabando de suas aventuras que faziam em seus cavalos de ao. Eu tambm tinha um. Belo, cor vermelha, pneu balo faixa branca, Phillips importada e na Patrulha todos tinham a sua. Eu andava l pelos meus doze anos. A Patrulha j acampava sozinha. Tonho o Monitor era Primeira Classe e Vadico o sub. monitor Segunda Classe. Os demais Joventino e Clarinho tambm tinham sua Segunda Classe. Eu sabia que ia receber no ms seguinte. No devia nada a ningum nos meu conhecimentos escoteiros. Afinal j ia longe o dia que completei minhas vinte e cinco noites de acampamento. Acho que foi em uma reunio de Patrulha, em uma quarta na casa do Moreno o socorrista que surgiu a ideia. Conversa vai, conversa vem lancei um desafio Afinal porque os seniores saem por a, fazem grandes jornadas, voltam contando patacas e ns escoteiros no fazemos nada? Todos me olharam espantados. Vadinho voc sabe que sem autorizao da Corte de Honra no podemos fazer nada. Disse Tonho. Portanto vamos ficar na nossa. No concordei. Continuei martelando. Olhe eu tenho uma ideia fantstica. J preparei tudo. Como nossos cavalos de ao sairemos em um sbado rumo a Lagoa dos Peixes. L vamos fazer um explorao na Gruta das Esmeraldas. At hoje ela pouco explorada. Levamos quatro carreteis de linha dois. Cada um tem mais de 300 metros. Amarramos na entrada e vamos at onde possamos chegar dentro da gruta. Voltar fcil. S seguir a linha e j pensaram quando souberem que fomos l? Vi nos olhos de cada um o desejo da aventura. continuei No falamos aonde vamos. Quem sabe diremos que fomos fazer uma explorao no Riacho Vermelho? No comentamos de ir l um dia para conhecer? Tonho coou a cabea. Faamos o seguinte no sbado vamos nos reunir aqui em casa depois da reunio. Cada um tente pesquisar na Biblioteca Central sobre a gruta. Vamos conversar, mas nada de tomar posio. Dito e feito. Eu j tinha tudo preparado. A gruta como sabem fica prximo a Lagoa dos Peixes. J foram explorados mais de 511 metros de extenso, mas dizem que so mais de 5.000 metros com tantas cavernas que fcil se perder. Feita de Rocha Calcria

foi formada no passado por restos marinhos do fundo do mar raso, da bacia do Rio das Velhas. O primeiro homem a explorar a gruta foi o dinamarqus Peter Wilhelm Lund em 1835. Sei que depois muitos foram l. Descobriram restos de fsseis pr-histricos dentre eles o Tigre dente-de-sabre e a Preguia gigante. No teve jeito. Duas semanas depois em um sbado partimos bem cedo. Nossos Cavalos de Ao (bicicletas) levavam o que precisvamos. Sem barracas, pois dentro da gruta no precisava. Lanche e rao C. Quatros horas depois chegamos a sua entrada. Fcil. Sem vigia e toda a entrada coberta por uma vegetao rasteira. Comeamos a entrar na gruta. Levamos duas lanternas, usamos mais nossos trs lampies a querosene. Joventino e Clarinho tomavam conta dos carreteis de linha. Andamos mais de 600 metros. Uma escurido total. De vez em quando saiamos em belos sales que mesmo com pouca iluminao eram de tirar o folego. Lindo demais. Paramos por volta das duas da tarde em um salo gigantesco. Na parte baixa um belo de um lago que alm de raso tinha lindos peixes vermelhos e azuis a nadar em sua superfcie. As cinco Tonho sugeriu que no fossemos adiante. Dormir no salo e voltar no dia seguinte. Claro tudo era marcado pelo meu relgio e do Tonho. Os demais no tinham. Na escurido no sabamos se era dia ou noite. No foi fcil encontrar gravetos para o fogo. Mal deu para fazer uma sopa e um cafezinho. Todos cansados nem bate papo ouve. Nem uma conversa ao p do fogo. Estava dormindo quando fui acordado por um grito de Vadico. Levei o maior susto. Do outro lado do lago um enorme Tigre dente-de-sabre que nos olhava com enormes olhos negros. Tinha mais de dois metros de altura. Ficou andando de um lado a outro pensando como atravessar o lago e fazer o seu banquete. No deu outra. Ningum ficou para trs. Aprontamos uma correria e nos perdemos de nossa linha que iria nos trazer de volta a entrada da gruta. Ficamos parados no fim de um corredor que no nos levava ao lugar algum. No ouvamos nenhum barulho. O ar parecia que estava acabando. Resolvemos voltar. Para onde? No tnhamos nenhum senso de direo. Bussola? Elas ali no funcionavam. Por sorte j era umas oito da noite de domingo achamos a linha. Para a direita ou esquerda? Votos e votos. Para a direita. Duas horas depois chegamos entrada. Cacilda! Que alegria. L escondida em uma moita de capim colonio estava nossos cavalos de ao. Chegamos a nossa cidade as duas da manh. Normal ningum deu por nossa falta. Sbado, tropa reunida, depois do cerimonial de bandeira Tonho pediu a palavra. Contou tudo. A Corte de Honra nos proibiu de sair s por seis meses! E o Tigre dente-de-sabre? Melhor calar. Contar para que? Para os seniores fazerem gozao? Hoje eu sei que a Gruta das Esmeraldas visitada por turistas que podem ver sua beleza de seus 511 metros que so abertos ao pblico. 16 sales fantsticos. O salo da Noiva e o Salo da Catedral pode-se ver imagens formando santos, plpitos e nichos. Quem sabe foi um destes que achamos ser um tigre dente-de-sabre e pensamos que estava vivo? Melhor parar por aqui. Sei que no acreditam que foi verdade. Que seja. Mas eu nunca mais esqueci a

Gruta das Esmeraldas. Em minha vida Escoteira estive em vrias outras. Mas alm desta em nenhuma das demais teve o sabor de aventura da primeira. Pelo menos aprendi a no ser to afoito. No fui bom Escoteiro tentando fazer tudo escondido. Mas aprendi a lio. Isto nunca mais aconteceu! (os nomes aqui citados foram alterados para evitar familiares tristes, pois sei que todos j foram para o outro lado da vida. Breve estarei junto a eles e quem sabe teremos lindas grutas a explorar nas lindas estrelas perdidas da via lctea?).

Lendas escoteiras. Chico Patvio, no provoque os fantasmas, um dia ter seu troco! Chico Patvio tinha um ano de Snior. Foi Escoteiro e fez a Rota Snior desanimado. Achou que no ia dar certo. Ficou na Patrulha Rio Longo. Tudo ali mudou para ele. Uma amizade que nunca tinha visto igual. Respeito, sinceridade, alegria e fraternidade. Ele amava sua Patrulha e a tropa Snior. Meio calado. Falava pouco, mas todos gostavam de ouvir suas opinies. Era uma tropa inteiramente masculina at que a tropa Escoteira feminina cresceu. Difcil criar uma tropa s de guias. No Conselho de Tropa aprovaram a vinda delas. Passaram cinco de uma vez. Uma rota Snior difcil. Resolveram formar uma Patrulha feminina. Surgiu a Antares. Dizem que existe at hoje. Tudo era novo para os seniores. As moas eram tratadas a po de l. Uma poca que o cavalheirismo imperava. Mas elas no gostavam deste tratamento. Passaram a desafiar as patrulhas masculinas e o pior, estavam ganhando em tudo. Sem querer surgiu uma animosidade logo quebrada com as vinda da Chefe Vanessa. Esta era calma e ponderada. Chico Patvio assistia a tudo calado. Mas ele no entendia sua queda por Tininha. Passou a sonhar com ela, que a levava ao cinema, passeava com ela no zoolgico, mas era tudo sonho. Ela nem olhava para ele. Um dia mudou de ttica. Disse a ela que tinha amigos fantasmas. Ela riu. Ele ento inventou uma histria do General Boca Torta e madame Cordlia do Papagaio. O que? Perguntou ela para Chico Patvio. Um dia lhe conto. Ela ria e ele insistia que era verdade. Uma noite Chico Patvio acordou assustado. Ofegante tentou lembrarse do sonho e no conseguiu. Isto aconteceu outras vezes. Foi em uma noite de agosto, relmpagos pr todo lado, troves que faziam assustar os mais valentes dos escoteiros, que Chico Patvio viu pela primeira vez o seu fantasma. Em carne e osso a sua frente o General Boca Torta a rir para ele. Horrendo! Um corte que ia da sua boca at a orelha direita. Pior, sangrava. Fedia. E ele ria e quanto mais ria mais sangue saia. Vem c Chico. Vem me dar um abrao! Chico corria a mais no poder. Ele dando gargalhada atrs dele. Seu uniforme de General estava rasgado, sujo de barro o quepe virado para trs dava a ele uma figura no convidativa para abraar. Chico Patvio tropeou e ele o General o

pegou com uma s mo, o levantou no ar, chegou seu rosto ao dele e deu uma gargalhada que soou por toda cidade de Cruz Verde. Chico Patvio acordou gritando. Putz grila! O que fui inventar? Levantou e foi trocar seu pijama. Estava todo molhado. No sbado na sede nem tocou mais no tal fantasma do General Boca Torta. Tininha quando terminou a reunio foi at ele e perguntou Vai ou no vai contar? Nem pensar! Nem pensar. Tininha ria gostosamente de Chico Patvio. O acampamento anual seria no prximo ms. Todos se preparando. Seriam oito dias, frias escolares, sempre fora o mximo na vida da tropa Snior. Agora uma nova experincia. Meninas junto a eles. Elas no gostavam de ser chamadas de meninas. Vamos dar uma lio a eles disse Marcia, a monitora. Dito e feito. Na noite do quarto dia as patrulhas masculinas se reuniram. O que houve? Quem perguntava era o Mrio Monitor da patrulha Gruta do Orvalho. Olhe eu no sei disse Tito Livio, Snior da Rocha Vermelha. As meninas ganham tudo. E no ganhamos nada. Chico Patvio nada dizia. Desde que chegara nunca mais andava sozinho na mata, no bambuzal e a noite sempre dava desculpas para no participar dos jogos noturnos. O medo do General Boca Torta era enorme. Ele sabia que fora um sonho, mas agora tinha horror a fantasmas. No stimo dia, o Fogo de Conselho foi o mximo. Uma amizade enorme surgiu entre as patrulhas. A Patrulha Antares foi finalmente aceita na tropa Snior. Terminado o fogo ficaram ali deitados em volta do calor da fogueira, olhando as estrelas, conversando e alguns cantando numa amizade invejvel. Chico Patvio viu Tininha se esgueirar entre as rvores e foi atrs. P ante p, a seguiu por alguns metros. Estava intrigado por ela no falar a ningum aonde ia. Incrvel L estava ela conversando nada mais nada menos que com o General Boca torta! E pela primeira vez Chico Patvio viu a namorada do General madame Cordlia. Os trs pareciam ser bons amigos. Foi ento que o General deu uma enorme gargalhada Chegue aqui Chico, venha participar da roda conosco! Gritou alto. Quem disse que o Chico Patvio ficou ali? Saiu correndo feito um louco e s parou quando escondeu dentro de sua barraca, debaixo do saco de dormir e coberto com uma lona da cabea aos ps. Tininha o procurou no dia seguinte. Ele no queria ouvir. Calma Chico! s um esprito que se foi! Para mim um fantasma isto sim. Ele no faz mal a ningum e precisa de nossa ajuda, falou Tininha. De mim nunca. Dele s quero distncia. Chico Patvio pensou em deixar os seniores. Quase fez isto se no fosse a Tininha ter ido a sua casa. Explicou para ele que no existem fantasmas. Tem gente que v tem gente que no v. So pessoas que morreram e precisam de ajuda. Chico Patvio ouviu calado. Mas ele nunca iria ajudar um morto. Nunca. O medo dele com defuntos era enorme. Bem a histria termina aqui. Muito depois soube que o General Boca Torta se chamava Alfredo. Morreu cortado no rosto por uma baioneta na guerra do Paraguay. Madame Cordlia era sua esposa e nunca o deixou s. Mesmo podendo ir para um lugar melhor ficou ao lado dele enquanto precisava dela.

Tininha dizia, tinha mediunidade. Ajudava dentro de suas possibilidades. Mas esta outra histria. Aqui so dos escoteiros. Dos valentes seniores que no tem medo de fantasmas. Medo? Pergunte a eles! So valentes, dures e desafiam sempre os fantasmas das florestas e das montanhas distantes. Afinal, ser Snior que bacana. Valentes, valorosos, enfrentam o perigo de frente, claro, at que no aparea nenhum fantasma na frente deles. Kkkkkkkkkk.

Lendas Escoteiras. O ltimo voo do Falco Peregrino. O horizonte desaparecia no infinito. Quem o visse ali com as asas entreabertas naqueles penhascos longnquos do Pico das Mil Vidas nunca imaginaria que um Falco estava vivendo seu ultimos dias de grandes jornadas. Sua vida estava se esvaindo. No seu pensamento lembrou-se de um poema que seus ancestrais lhe ensinaram Combati o bom combate, completei a carreira e guardei a f. No espero o prmio da vitria, pois mesmo tendo levado uma vida correta nunca me senti um vencedor. Ele sabia que seu fim se aproximava. Estava ali h vrios dias. As foras j no existiam mais. Diziam que ele era a ave mais rpida do mundo. Suas asas pontiagudas e finas o ajudavam na caa em espaos abertos. Quanto tempo se passou quando l pelos lados do Vale dos Sonhos coloridos, ele e Abbat voavam pelos cus, quem sabe para se mostrarem belos, majestosos e admirados pelas outras aves que nunca poderiam fazer o que eles faziam. Abbat, onde andar ela? Ainda no ninho do Sol Nascente? Mas suas duas proles no estavam crescidos e tinham ido procurar viver suas vidas em outras plagas? Abbat, sua eterna companheira. Lembrava que todas as manhs ele via a gazela acordar, ele sabia que ela precisava correr lpida para sobreviver s sanhas dos lees. No importa se voc leo, gazela ou um falco. Quando o sol nascer era hora dos voos em busca do vento, olhar o firmamento e pensar que precisava se alimentar para sobreviver. Viu do outro lado do Vale da Felicidade um Jaguar. Enorme. Parecia um gato manchado de preto e amarelo. Estava firme com seu olhar tentando saber como chegar at ele. Tudo mudou. De caador agora era a caa. Sabia que mais cedo ou mais tarde o Jaguar das Terras Altas chegaria onde ele estava. Sabia tambm que no podia voar, no podia reagir, a morte seria o fim da vida? Sua mente voava pelos campos floridos. Nunca esqueceu Abaat. Quantas vezes voou para levar a sua companheira e sua prole a refeio do dia? Lembrou-se dos mundos coloridos que conheceu. Voou para todos os lugares e conhecia o caminho do sol, das estrelas, era um falco valente e que agora estava no fim da vida. Olhou para baixo e viu no Vale da Esperana vrios meninos e meninas rindo e brincando. J os tinha visto antes. Todos iguais com uma espcie de coroa preta na cabea que chamavam de chapu e um lindo leno amarrado no pescoo.

Olhou novamente. O Jaguar havia desaparecido. Ele sabia seu destino. Ele sabia que o Jaguar o encontraria. Pensou em seu Deus. Ele tambm acreditava num ser supremo. Deus! Deus! Onde ests que no responde? Em que mundo em que estrela tu te escondes? Ele pensava e ria. Ele morreria com honra. A morte estava enganada. Eu vou viver depois dela! Olhou para o vale novamente. Montaram barracas, corriam satisfeitos, saltitantes, cantantes como o regato que com suas guas mansas corria lentamente pelo Vale da Esperana. Olhou sua plumagem. Considerava-se belo. Suas patas amarelas se tornaram lendas para quem as enfrentou. Seus olhos negros com anel amarelo eram enormes. Podiam ver o infinito. Amava suas asas, enormes. Com elas correu mundo. Sentiu um toque em suas asas. Assustou-se. To rpido o Jaguar o encontrou? Fechou os olhos. No podia reagir. No tinha foras. O Valente Falco Peregrino agora era uma sombra do passado. Morrerei com honra pensou. Sentiu o toque novamente. Olhou. No era o Jaguar. Era uma menina. Linda de olhos azuis. Com seu lencinho no pescoo ela sorria. Ele queria falar, sabia que no seria entendido. Mesmo assim ele crocitava, piava e a menina entendeu! Tirou do seu bornal um farnel que seria seu lanche do dia e deu para ele. Ele precisava. Estava fraco. Cinco dias sem comer e beber gua. Comeu tudo! Sentiu suas foras voltarem. Agora estaria pronto para enfrentar o Jaguar. Um apito ecoou ao longe. A menina de olhos azuis se levantou e disse Adeus meu amigo Falco! Ele no entendeu. Deu trs passos para frente e alou voo. Iria fazer o ultimo voo do Falco no espao para ela. Para a menina. Queria que ela soubesse do seu agradecimento. Ela lhe devolveu a vida. Alou voo rumo ao infinito e voltou clere. Fez uma virada lateral como fazia no passado. Viu que ela batia palmas. Partiu rumo ao Vale do Sol Nascente. Um voo que nunca na vida ele tinha feito com aquela velocidade. A menina sorria lhe acenou com os bracinhos como a dizer adeus. Ele partiu. Sabia aonde ia. Seguiria o sol no seu caminho para o oeste. Precisava encontrar Abbat. Viu o Jaguar prximo da escarpa onde estava olhando para ele. Sorriu. No foi desta vez meu amigo. Quem olhasse para o cu, veria um Grande Falco Peregrino com suas asas enormes, voando junto ao sol e que aos poucos desaparecia no horizonte. No sei se ele encontrou Abbat. Deve ter encontrado. Ele sabia que sua linhagem no iria desaparecer no tempo. Suas duas proles velejavam pelos cus a mostrar sua raa, a mostrar sua fora e coragem. Em sua mente eu sei que ele dizia para si prprio: - s vezes eu falo com a vida, s vezes ela quem diz Qual a paz que eu no quero conservar para tentar ser feliz?

Lendas escoteiras O passo do elefantinho.

O circo chegou na cidade, tempo de pensar no que se viu Montaram uma tenda bem grande, Uma tenda do tamanho do Brasil! Interessante. A vida da gente sempre cheia de surpresas e quando nos lembramos das boas damos um enorme sorriso. Estava eu absorto e escrevendo quando comeou a tocar O Passo do Elefantinho com a orquestra de Henry Mancini (Baby Elephant Walk, escrito em 1961 por este compositor para o filme Hatari). Adoro esta msica principalmente porque ela me faz lembrar-se de Rafaella, uma lobinha morena, sete anos, miudinha e sempre de fisionomia sria. Dificilmente sorria para algum. Nunca faltou uma reunio e mesmo doente chorava para ir. Uma vez chorou tanto que seus pais com sua charrete (no tinham carro) a levaram agasalhada e enrolada em uma manta para a sede. E quem disse que adiantou a Akel, o Balu ou a Kaa falar com ela? Necas! Ficou l sentada em uma cadeira s olhando e sem sorrir! O Circo dos Palhaos Impossveis estava na cidade. Naquela poca onde armavam sua tenda eles faziam questo do desfile apotetico. Eles sempre se instalavam as margens da Estrada do Fim do Mundo. Chamava-se assim porque era esburacada, pontes cadas, assaltantes enfim, era mesmo um fim de mundo. No se chegava a lugar algum. Nem bem o circo chegou e um carro de som saiu s ruas anunciando as atraes. Depois vinha atrs palhaos, equilibristas, artistas e animais exticos. A rua enchia de gente e nas janelas apinhavam-se todos. A meninada vibrava correndo atrs e muitos davam planto junto ao circo na sua montagem para ver o movimento. A maioria dos jovens do Grupo Escoteiro Olavo Bilac estavam l. Boquiabertos. Vendo aquela parafernlia sendo montada. Os pais sorriam de contentes, pois pelos menos os filhos tinham aonde ir e os sonhos das molecagens agora tinham uma pausa. Rafaella viu o desfile. No sorriu, mas quando o elefante passou com a Rainha de Sab sentada em seu dorso seus olhos brilharam. Sua me e seu pai no notaram seu sbito interesse. Eles mesmos achavam estranho dela no sorrir. Pessoas humildes sem posses consultas a mdicos especialistas estava fora de cogitao. Chefe Noravinio em reunio dos chefes do grupo sugeriu que o grupo todo fosse em um espetculo. poca de frias poderiam combinar com o dono do Circo e quem sabe seria mais barato? Dito e feito. O Senhor Wiener Neustadt proprietrio do circo exigiu que fosse chamado de Arquiduque Maximiliano, pois era trineto do prprio. Discutir para que? Sexta, s dezesseis horas. O circo vai apresentar um espetculo especial para os Escoteiros falou. Uma gentileza de Arquiduque Maximiliano, lembrem-se disto! No iro pagar nada! Uma festa. Mais de cento e quarenta membros. Grupo grande. Junto outros tantos de familiares e penetras aproveitando a boca livre. Duas horas todos na porta. Uniformizados claro. Rafaella rondava o circo. Viu a jaula dos animais e prximo o elefante. Tentou aproximar. No deixaram. O espetculo

comeou. Uma bandinha, o apresentador Respeitvel publico! Seguiu os artistas, equilibristas, mgicos, saltimbancos e os animais. O brilho, a beleza e o colorido dava asas a imaginao e a fantasia dos escoteiros. Eram levados para um mundo diferente. Um mundo de sonhos, das alegrias e os palhaos? Incrveis! A escoteirada pulava de alegria. Mas Rafaella s olhava. No sorria. Um elefante adentrou na arena. Junto um menino vestido de indiano com um turbante azul. O elefante o seguia. Rafaella ficou de p. Sorriu! Rafaella sorria! Ningum a viu sorrindo, acho que s eu. Ningum prestava ateno em ningum. Naquela hora s a arena e os espetculos de sonhos, de azuis, amarelos, vermelhos e de mil cores que estavam sendo visto pelos escoteiros. S viram Rafaella na Arena. Susto! Gritaram Rafaella volte! Ela no ouvia ningum. Foi at o elefante. O tocou na tromba. O elefante olhou para ela. Ajoelhou-se e sentou. A pegou com a tromba e bramindo a jogou no ar pegando-a novamente. Rafaella dava gargalhadas e a escoteirada acompanhou. Seu Arquiduque Maximiliano veio correndo. Mas o elefante levantando a colocou em seu dorso e ficava em p sempre segurando Rafaella com a trompa. O adestrador de animais conseguiu retirar Rafaella de l, mas ela gritava para no sair. Na arquibancada ela parou de rir. Ningum entendeu nada. Rafaella sorrateiramente pulou por baixo da arquibancada, passou por baixo da lona e quando procuraram por ela foram encontrar junto ao elefante atrs do circo e dando risadas. Interessante que o elefante gostava dela. O circo ficou na cidade nove dias. Embarcaram em um trem da Leopoldina rumo outra cidade. Rafaella sumiu. Cidade pasmada! Impossvel diziam. Aqui no tem disso. Procuras mil. Rafaella tinha entrado no vago do elefante como clandestina. Descobriram quando chegaram a Nuvem Azul. Seu Arquiduque Maximiliano passou um telegrama para busc-la. Interessante. Rafaella voltou a sorrir. Quando voltou a Alcatia foi recebida como a herona de aventuras. Palmas e abraos. Valeu Rafaella. Um dia no h vi mais. Soube que seus pais foram morar em uma fazenda de um parente que morreu. Quem sabe l junto natureza ela no esteja sorrindo junto a um Lobo Guar cinzento e brincando pelas campinas verdejantes? Rafaella, um sonho de menina. Uma lobinha que soube fazer sua prpria aventura.

Lendas escoteiras. Uma noite maravilhosa de Natal! Eu sempre tive um carinho enorme pela noite de natal. Famlia reunida, muitos presentes, abraos uma bela ceia isto sempre me encantou. Triste eu ficava quando lembrava que muitos no tinham esta minha felicidade. J passava da meia noite e junto com minha esposa admirvamos na varanda os foguetes e a luzes no cu. Uma enorme tristeza se abateu sobre mim. Lembreime da ltima visita que fiz na casa do Chefe Maninho. Sempre foi um pai para

ns escoteiros de Esperana Feliz. Dizem que ele entrou para o Grupo em 1943. Ficou mais de sessenta anos no escotismo. Sempre notei nele uma pessoa triste, um olhar perdido no horizonte, olhos fundos e sempre com uma lgrima furtiva que ficava tentando esconder. Chefe Maninho morreu h dois meses. Nas suas exquias poucos foram. Nunca entendi isto. Esperava uma multido e no foi quase ningum. Claro era difcil v-lo sorrir. Acho que ningum nunca recebeu dele um abrao. Era muito fechado em si mesmo. Nunca esqueci o que ele me contou um dia. O Fogo do Conselho havia terminado e ficamos l eu ele, Rosa uma Chefe Escoteira, Nair sua Assistente e Paulo Alberto um Chefe de tropa. Ficamos conversando e a meia noite todos foram dormir. Ficamos s eu e ele. No sei por que ele estava com os olhos marejados de lgrimas. Calma Chefe eu disse. Est se sentindo mal? - No meu amigo, respondeu. So as lembranas que no cessam. E ento, comeou a contar parte de sua vida que acredito era desconhecido por todos que ficaram ao seu lado por muitos e muitos anos. - Chefe, eu perdi meu pai quando tinha dez anos. Eu o adorava. Ele era tudo para mim. Levava-me aos parques de diverses, me levava em alto mar para pescar, fomos acampar em lugares inspitos e mesmo j sendo um Escoteiro eu vibrava em sua companhia. Ele era Militar das Foras Armadas. Segundo Sargento do Regimento de Infantaria e todos o admiravam pelo seu carter, por ser tudo o que hoje no sou. Um pai alegre, prestativo, amigo e muito respeitado no s em seu regimento como em toda vizinhana. Ele mesmo me contou com orgulho que fora incorporado ao 3 Regimento do Exercito Brasileiro. Um regimento da Fora Expedicionria Brasileira. Em poucos meses ele partiu para a guerra na Itlia. Eu e mame choramos muito quando ele partiu. Sabe amigo Chefe, ele partiu em uma noite estranha, cuja lembrana nunca mais me sai. Chamou-me e disse Filho, seu pai vai lutar l na Alemanha. Vou me cuidar. Ainda vamos fazer grandes coisas, eu e voc. Eu voltarei. - Nos primeiros meses ele escrevia sempre. Mame, minha querida mame! Ela lia suas cartas, baixinho devagar, dizia que logo estaria de volta, pois a guerra estava prestes a acabar. Todos os dias ele vinha em meus sonhos, e nele retornava como se estivesse me abraando. Passou um ano e ele no voltou. No natal escrevi para o Papai Noel uma carta. Uma carta simples, s pedia ao meu bom amigo que trouxesse de volta o meu papai que foi lutar na guerra. Olhe Papai Noel, voc que pode mais que a gente, e tem uma fora sem igual, me d Papai Noel este presente, se possvel nesta noite milagrosa de natal. Mas nada. Nem resposta. No ano seguinte escrevi de novo. Papai Noel, meu santo e bom paizinho, eu tenho meu corao como uma brasa, nesta hora triste em rezar ao Senhor eu venho. Papai Noel, se todos tem o seu papai em casa, s eu Papai Noel que no tenho? Os dias, os meses foram passando. Mame s vivia pelos cantos chorando. As cartas no vieram mais. O silncio era completo. Lembro-me que um dia mame passou a se vestir de preto e nunca mais sorriu para ningum. E

para piorar tudo meu amigo, um tarde chuvosa do ms de julho, bateram em nossa porta e dois oficiais do Exrcito Brasileiro entregaram a minha me uma medalha. Disseram a ela que ele tinha sido um heri. Mame, mame, eu quero meu papai. Ela calada, taciturna no chorou mais. Seu rosto lindo que nunca esqueci agora parecia uma mascara de cera. Na missa dos domingos ela disse para o Padre Antonio que estava perdendo a f. Perdeu seu marido na guerra, ainda tinha seu filho, mas o mundo para ela desmoronou. Sabe meu amigo, aquele mil novecentos e quarenta e cinco foi o ano que mais chorei. Eu sempre a noite rezava. No acreditava que ele tivesse morrido. Jesus, meu amado e bom mestre eu dizia, se os tais heris no voltam para casa, ser que vale a pena ser heri? Senhor Jesus, meu santo e bom paizinho, me d neste natal um presente. Acabe com minha revolta e me traga de novo o meu papai que foi brigar na guerra. Eu sei que o Senhor pode tudo e sei que vai dar um jeitinho de mandar o meu papai de volta. Olhei para ele e ele chorava. Um "Velho" de oitenta anos chorando. Continuou a me contar - Olhe meu amigo Chefe. No d para esquecer. Acho que mame sempre ouvia minhas preces, pois um dia, naquela noite de natal, eu dormi abraado com o retrato do meu pai. E confesso que tive lindos sonhos com ele. E sabe meu amigo Chefe, ao acordar gritei surpreso, pois l estava enrolada em meu sapato uma enorme bandeira do Brasil! Sem palavras. Chorava ali com aquele velho naquela fogo que aos poucos se apagava. A brisa vinha de leve a nos dar um pouco de calma, de frescor. As pequenas fagulhas ainda existiam naquela fogueira que eram agora somente cinzas. Havia ainda algumas fagulhas que se arriscavam ainda a subir aos cus. Lnguidas e serenas para logo serem levadas com o vento. Papai Noel. E quem ainda no acredita nele? O natal, linda noite para alguns, muitas tristezas para outros. Abracei com fora o Chefe Maninho. Ficamos ali at o amanhecer. Nunca mais o esqueci. Que Deus esteja com voc meu amigo, nestes pastos verdejantes do cu, junto ao seu papai e sua mame! (Histria baseada no poema de Orlando Cavalcante, Orao de natal de um rfo de guerra).

Lendas escoteiras O solitrio Eddy. O leo Branco da Montanha dos Sete Cavalos. Azanka, Malenka, Lelenka - Lita, kalita Zaz R, r, r, Raposa! Ningum esquece. O grito de quem j foi um patrulheiro fica marcado para sempre. Eu era um deles, da Raposa. Um ano e meio na tropa. Era meu mundo naquela poca. No havia outro. O escotismo para mim estava no meu sangue, na minha alma e no meu corao. Naquela quinta do ms de julho, l pelos idos de 1952 combinamos com o Seu Lencio de pegar uma carona em seu Carro de

Boi at o seu stio, nas proximidades da Colina dos Sete Cavalos. O Chefe Jess amigo dele aprovou um acampamento nosso em suas terras de seis dias. Prometeu passar por l pelo menos duas vezes e Seu Lencio disse que tomaria conta de ns. Quem um dia teve a felicidade de viajar num carro de boi, Jamais esqueceu. Aquele zumbido infernal com o tempo como se fosse uma suave melodia de uma recordao sem igual. Foram duas horas e meia de sorrisos, e a gente ficava cantando, gritando, dando vivas e olhando a Canga, o Canzil, os Arreios, o Cabealho, e tentando descobrir o cantar das rodas no Coco, na Cheda, no Recavem e tantas coisas lindas que compe o carro de boi. Seu Lencio era bom carreiro. Usava com maestria a vara do ferro com dois guizos sem machucar os bois. Chegamos subida das Colinas dos Sete Cavalos l pelas onze da manh. Trabalho duro. Armar campo. Mesa, toldos, fogo suspenso, lenheiro, aguadeiro e o Jairinho era muito bom na construo de um prtico. Eu gostava daquela Patrulha. ramos amigos de verdade. Depois do jantar ainda tardinha, sentados no cho e tomando um cafezinho prxima a mesa (faltavam os bancos) levamos o maior susto. Susto tal que nem correr deu nimo. Minhas pernas tremiam como se fossem varas verdes. Bem no centro do prtico um enorme Leo Branco! Isso mesmo! Um Leo Branco. Parado a nos olhar. Eu comecei a molhar as calas e acho que os demais tambm. Lembramos quando o Chefe Jess nos instruir quando vssemos uma ona. No correr Jamais. Todos olham nos olhos dela. Um de ns passo a passo para trs tenta dar a volta. Sobe em uma rvore e l grita, Faz barulho para chamar a ateno do animal. Quando conseguisse todos corriam e subiam na primeira rvore que encontrassem. Eu era o que estava mais atrs. No fiz nada disto. Um medo terrvel. Meu corpo parecia um tronco fincado no cho. Diabos! No sei o que deu em Marino. Como se estivesse hipnotizado foi devagarinho at o leo. Ele afagou sua juba. O Leo Lambeu os ps de Marino. Ningum acreditava no que via. Assim comeou a fantstica amizade de sete escoteiros e um Leo Branco. Marino o chamou de Eddy. O dia inteiro ele brincava conosco em nosso campo de Patrulha. Chegou at a nadar junto a ns no crrego da Canoa Quebrada. A noite ele sumia para bem de manhzinha voltar. Muitas vezes ainda dormindo ele abria as portas das barracas e nos lambia fazendo cocegas. Amei aquele Leo. Ningum pensou o que ele estaria fazendo ali. Ningum lembrou como ele se alimentava. No sbado Seu Lencio viu. Assustou. Pegamos na mo dele e o levamos at o Eddy. Ele no acreditava. Manso como um potrinho recm-nascido. Conversou com nosso Monitor. Natanael nos contou depois. Eddy estava matando para comer bezerros e pequenas ovelhas dos fazendeiros da redondeza. Queriam mat-lo. Sabiam que ele havia fugido do circo Garcia h cinco meses atrs. Tentaram captur-lo e at alguns homens armados percorreram os montes, vales, campinas e tantos outros lugares tentando encontr-lo e mat-lo e no conseguiram.

Eu no podia acreditar. Matar o Eddy? Nunca. Preferia morrer com ele. No domingo pela manh vimos mais de vinte homens armados junto com Seu Lencio. Eddy estava conosco brincando. Gritaram para sairmos de perto. Eu no sai. Agarrei o pescoo de Eddy. Ele me deu um puxo e foi correndo em cima dos homens armados. Um verdadeiro tiroteio. Ns gritvamos para no mat-lo. Eddy gemeu forte, virou para ns e como se fosse um ltimo adeus abanou seu rabo e mexeu com sua enorme juba. Caiu morto no cho crivado de balas. Tinha sangue em todo seu corpo. Eu corri e fiquei abraado com Eddy. Eu gritava e chorava. Chamava os homens de assassinos. Mataram meu amigo! Malditos! Vo para o inferno! No sabia o que pensar, coisas de meninos coisa de escoteiros que amam os animais. Durante vrios meses nossa Patrulha no sabia o que falar. Nas reunies ficvamos por muito tempo em nosso canto de patrulha, calados sem nada dizer a no ser ter os olhos vermelhos e cheio de lgrimas. De vez em quando um olhava para o outro e soluava forte. Papai e Mame tentaram me consolar. Tentaram explicar que um leo tem um alto custo para alimentar. Come mais de oito quilos de carne por dia. Ele estava matando os animais dos fazendeiros. Nada. Isto para mim nada adiantava. Eu amei o Eddy enquanto vivo e o amava agora tambm. Azanka, Malenka, Lelenka - Lita, kalita Zaz R r r, Raposa! O tempo passou. Mas sempre me lembrava do Eddy. Um dia encontramos toda a Patrulha no Bar do Elias. J adultos. Eu com mais de vinte e cinco anos. Tomamos varias cervejas e comemos linguicinhas picadinha com cebolas fritas, famosas na cidade. E quem se lembra do Eddy? Perguntou Afonsinho. Pronto. Marmanjos chorando. Quem nos visse naquela mesa iria ver sete marmanjos chorando. Ficamos no bar por mais de cinco horas, sempre a lembrar dos belos dias que passamos com o Eddy. E triste ter belas histrias para contar como esta sem um final feliz. Um Leo Branco que vivia na Montanha dos Sete Cavalos. Nunca mais voltamos l. Para que? Para chorar? Para lembrar-nos de um Leo que amamos e que nos tiraram assim? Hoje sei que foi a melhor deciso. Mas l no fundo do meu corao eu no aceito isto. Como conviver com o Eddy para sempre eu no tinha explicao. Mas sua morte foi dura demais para enfrentar. Azanka, Malenka, Lelenka - Lita, kalita Zaz R, r, r, Raposa! Minha Patrulha. Patrulha que amei por muitos anos. Patrulha com belas histrias que nos marcaram para sempre. Marquito, Marino, Natanael, Jovelino, Afonsinho, Jairinho e eu. Onde andam vocs? Saudades de todos. Imensas Saudades tambm do Eddy. O Leo Branco que amei e ficou para sempre no meu corao.

Lendas Escoteiras. Lepitop, o Gato Escoteiro.

Ningum sabia sua origem e de onde ele tinha vindo. Nem tampouco onde morava. H anos todas as reunies l estava o Lepitop. Quem lhe deu este nome tambm no tinham a menor ideia. A nica certeza era que impreterivelmente quando o primeiro Escoteiro ou o primeiro lobinho chegasse sede l estava Lepitop. Interessante era que se algum Chefe fosse fazer algum servio na sede e no houvesse Escoteiro presente, Lepitop no aparecia. Porque no gostava de adultos no sei explicar. Lepitop tinha um amor todo especial por Narinha da Matilha Rosa e Jarilson da Patrulha Raposa. Talvez porque eles descobriram que ele adorava arroz misturado com carne moda. Mas foi Narinha quem primeiro observou que ele s comia em prato de loua. Luxo? O Gato Lepitop tinha pelos longos com manchas brancas e incrveis olhos azuis. Um s. O outro era coberto por uma mancha branca. Muitos visitantes que iam ao grupo eram surpreendidos pelo Gato Lepitop. Sua fama percorreu toda cidade de Luar Azul. Quando a reunio comeava com a chamada geral para o cerimonial de bandeira Lepitot tambm se formava sempre ao lado do responsvel pela cerimonia. Agora ningum ria, mas quando a bandeira subia farfalhando com o vento, ele ficava olhando e no tirava os olhos enquanto ela no alcanasse o topo. Depois corria para junto da Patrulha Raposa e durante o grito ele ficava no meio de todos, e claro, sempre no final ouviam seu miau. Por favor, no riam. pura verdade. Eu vi com meus olhos que a terra a de comer. Lepitop no perdia nada. Da Patrulha corria para a Alcatia para ver se conseguia alcanar o grande uivo. Quando a Akel abaixava os braos ele ao seu lado abaixava tambm. Quando os lobinhos pulando e gritando o melhor, l ia Lepitop pulando tambm. Sempre com seu miau no final. Em toda a reunio Lepitop corria de sesso em sesso. Quando a reunio terminava, Narinha e Jarilson corriam at a sede e l colocavam sua comida. O arroz com carne moda. Lepitop ronronava, passava de leve o rabinho na perna de ambos e comia com gosto. Uma vez resolveram descobrir onde ele morava. Claro que perguntaram por toda a vizinha, mas ningum soube informar. Narinha e Jarilson sempre se preocuparam com suas refeies aos sbados e durante a semana? No acreditavam que ele aguentasse tanto tempo sem comer. O Gato Lepitop comeou a ficar famoso. O Comissrio do Distrito soube e foi l visitar. O Diretor Regional tambm. Da UEB no veio ningum. Quem sabe muito longe para viajar at Luar Azul. At o Redator Chefe do Jornal Capacete de Ouro foi l no grupo entrevistar Lepitop. Disseram a ele que o gato falava. Risos. Um dia o pior aconteceu. O Gato Lepitop no apareceu na reunio. Os lobinhos e escoteiros sempre de olho no porto. As reunies foram pssimas. Sem o Gato Lepitop tudo parecia ir por gua abaixo. Esperaram a semana seguinte e nada. S viam-se olhos marejados de lgrimas. Desde os lobinhos at os escoteiros e seniores. Claros os chefes e os pioneiros ao seu modo sentiamse angustiados.

Todo o Grupo Escoteiro fez um mutiro de buscas. As famlias dos escoteiros ajudavam. Toda a cidade foi vasculhada e a todos foi perguntado se conheciam o Gato Lepitop. Trs semanas e nada. Impossvel dar reunio. Ningum queria fazer nada. S choro e choro. Narinha coitada no parava de chorar. Nem na escola estava indo mais. Jarilson sempre com os olhos marejados de lgrimas. O Conselho de Chefes e a Diretoria do Grupo Escoteiro se reuniro muitas vezes em busca de uma soluo. A melhor seria dar frias a todos. Pelo menos um ms. Quem sabe poderiam voltar com novo nimo? Foi um dia triste. A boca pequena todos sabiam o que ia acontecer. O Diretor Tcnico tocou sua trombeta com o sinal de reunir. Antigamente era uma algazarra. Todos vinham correndo, sorrindo e era uma beleza ver os gritos de Patrulha e as apresentaes. Fazia d agora. Um silncio mortal. S olhos encharcados de lgrimas. Soluos em profuso. Um gato, apenas um gato para fazer tudo aquilo? Mas no era s um gato, era o Gato Lepitop. Aquele que era amado por todos. Meu Deus! Impossvel! O Chefe comeou a falar das frias e eis que aparece na porta do ptio nada mais nada menos que o Gato Lepitop. Ele na frente todo garboso, atrs dele uma linda gata amarela de pelos longos e mais atrs trs gatinhos cinza e outros amarelos. Em fila indiana. Como se estivessem marchando! Um espetculo que quem viu jamais iria esquecer. Lepitop tinha casado. Estava em lua de mel. Sua esposa Natibook tinha dado a luz trs lindos gatinhos. Asustek, Epad e Android todos foram muito bem cuidados por Lepitop. Gritos de urras, milhes de sorrisos, canes, pulos saltitantes eram como se a luz tivesse voltado ao Grupo Escoteiro de Luar Azul. A notcia correu e toda a cidade foi at l para ver. Foguetes foram lanados no ar. Abraos se deram aos montes. E assim, a paz voltou a reinar no Grupo Escoteiro de Luar Azul. Tudo por causa de um gatinho, um no agora eram quatro! E assim termina a histria. Dizem que boi no vaca e feijo no arroz e ento meus amigos, quem quiser que conte dois!

Conversa ao p do fogo. Memrias de um Mestre Cuca Escoteiro. Eu no sei por onde ele anda agora. Dos sete magnficos da Patrulha Raposa muitos j foram para o grande acampamento. Um deles est vivo, bem velhinho l pelas bandas do Vale do Rio Doce. Passaram-se anos. Muitos. L pelos idos de 1950 quando os conheci. Desculpem s trs, pois os demais foram lobinhos comigo. Era uma Patrulha recm-formada. Surgiu uma amizade que marcou a todos ns profundamente. Uma poca que o intendente se orgulhava do seu cargo. Do Escriba que no deixava uma ata sem fazer. Do bombeiro e lenhador ali na cozinha no deixando nada faltar. Do socorrista sempre pronto a

passar uma pomada Minncora, onde ela anda hoje? Destes todos o mais importante era o cozinheiro. Nenhuma Patrulha neste mundo pode ficar sem ele. Para dizer a verdade a alma da Patrulha. Faz ela andar, correr, brincar, sorrir e amando como nunca um acampamento mesmo que debaixo de uma tremenda tempestade. Fumanch era seu apelido. Se no me engano seu nome era Sebastio Felisberto da Silva. Era negro. Bem atarracado. Cortava os cabelos rentes e tinha uns enormes olhos negros que podiam observar tudo ao seu redor. Fui a sua casa muitas vezes. Sua me trabalhava como cozinheira do Hotel Condor. Acho que foi a que ele aprendeu. Desde pequeno ficava muito sozinho em sua casa. Eu no sei hoje, mas naquela poca a gente ficava pedindo a me para nos ensinar a arte da cozinha. Me me ensine a fazer arroz, uma sopa, um feijo, assar uma carne, fritar peixes e assim amos aprendendo, pois nem sempre poderamos contar como Fumanch. Cada um de ns quebrava o galho, mas o dono da cozinha mesmo era ele. Andam dizendo por a que nos acampamentos os escoteiros comem matinho, arroz com fumaa, feijo queimado, carne torrada e assim por diante. Brincam e dizem que era e assim e eles gostam. Lembram-se sempre dos seus clebres almoos e jantas e sorriem quando pensam como era gostoso acampar. Sem sal e sem gordura. Acho que os meus no foram assim. Fumanch sempre se esmerou. Seu arroz era soltinho, seu feijo inteiro com farinha de milho ou de mandioca no tinha igual. As sopas que fazia ento? Era s dar para ele alguns maxixes, uns lambaris gordinhos e pronto. A sopa de maxixe dele era de arromba. Como sabia improvisar. E um guisado de rolinhas? Ou de um tat? Na brasa Fumanch era invencvel. Fazia um frango no barro como ningum. Piri, ariranha tudo ele dominava e nos fazia feliz. Uma vez matamos um Caititu, espcie de porco do mato e Fumanch nos esperava de uma jornada para buscar frutas na fazenda do Seu Totinho, com o mais gostoso churrasco que j comi. (lembro aos meus leitores que era outra poca). Cozinheiro no s cozinhar. Tem de saber improvisar. Fumanch era assim. Sabia como ningum fazer um fogo suspenso. Dos bons. Da sua altura nem mais nem menos. Fogo Trip, estrela, tropeiro e outros eram feitos assim em segundos. Cozinhava em qualquer hora. Em trilhas quando parvamos nas nossas jornadas. Em ribanceiras perigosas, com chuva fina ou no. Acender fogo? Era bamba! Podia contar no dedo at trinta e o fogo logo estava crepitando. Que chovesse canivete, mas o fogo do Fumanch sempre soltava sua fumaa e fumaa em fogo no acampamento motivo de alegria e felicidade. Seus bolinhos de chuva, de polvilho, bolinhos de milho, doce de manga, de laranja de goiaba e seu doce de mamo nunca esqueci! Poderia ficar horas aqui falando do Fumanch. Das poucas e boas que nos aprontou. Dos causos que contava aps o almoo ou jantar e muitas vezes nossos estmagos no aguentavam. No frio ele nem esperava chamar. Seu fogo espelho era nota dez. Podamos dormir na barracas sem manta ou cobertor. Saudades do Fumanch. Do seu sorriso enorme, dos seus dentes grandes, do

seu pescoo enorme e do seu corao... Grande demais para a gente esquecer. Saudades mesmo. Bela poca. poca que j se foi. Agora s a memria para lembrar. Se voc que me l tem Patrulha, no esquea, abrace seu cozinheiro. Ele a razo de um bom acampamento. E depois quando ficar na minha idade, ir lembrar com muita saudade dos tempos que viveu. E para terminar, voc meu amigo escute bem, faa assim como eu tambm. V divertir-se o ano inteiro, entrando em um grupo de escoteiros e irs viver o que eu j vivi!

Lendas Escoteiras. O fascinante Escoteiro mgico da Tropa 222. Mgico Gostava de ser um mago, ter a dor e a sabedoria de fazer magias de um trago e eu prprio ser a magia... Queria ser um feiticeiro, para aprender todos os feitios e estar o dia inteiro a inventar sumios! Acho que me estaria a perder, nunca me daria a esse luxo de transformar ferro em ouro a valer... Um sonho estaria a viver, Se por magia fosse um bruxo; inventar uma poo e desaparecer! Rogrio Bessa. Ele chegou sede do Grupo Escoteiro como se no fosse ningum. Calado, simplrio, olhando em frente e nunca para os lados. Devia ter uns doze anos no mais. Estava uniformizado. No tinha chapu como os nossos e sim um bon parecendo um casquete. Magro, cabelos louros bem altos chegou perto do Chefe Ramiro e gritou alto em posio de sentido Be Prepared! Danou-se! Ningum na tropa sabia ingls. Todos atnitos olhando para ele. As patrulhas se desmancharam e uma rodinha se fez. Ele levantou os braos e tirou do nada um livro Escoteiro. Presenteou ao Chefe Ramiro. Falar o que? Ele sorriu e nada disse tambm. Olhou-me nos meus olhos, levou a mo prxima ao meu rosto e tirou em cima do meu chapu de trs bicos uma caixa de bombons. Presenteou a Patrulha. Mais um sinal com a mo direita e ele se elevou no ar uns quarenta centmetros do cho. Cacilda! Um bruxo? Escoteiro bruxo? Marly era lobinha da Alcatia Raksha. Foi chamada pelo Escoteiro Marlon. Ele sabia que ela morou dois anos em Jamestown no estado da Virginia. Portanto poderia entender o Escoteiro Americano como o chamaram. Mas ele no deu um pio. Calado chegou calado ficou. Marly ficou ali como a olhar o nada. E agora Jos? Eu no estava gostando nada daquilo. Afinal a cidade era pequena. Sabamos de quem chegava e de quem saa. Ele abaixou a cabea enfiou a mo no bolso, fez um gesto imaginrio e apareceu uma linda cadeira toda tranada de couro verde. Uma verdadeira obra de arte. Sentou-se. Olhou para o cu e um copo de limonada apareceu em sua mo. Meu Deus! O que era aquilo? O Chefe Ramiro no sabia o que fazer. A reunio praticamente acabou.

Uma roda se formava em volta do escoteiro Americano. Ele ficou em p na cadeira, fez mais um gesto e uma barraca apareceu em sua frente. Aos poucos ela foi armada como se fosse uma cmara de ar inflvel. Agora no era apenas uma, mas quatro! Ningum falava. O Escoteiro Americano tampouco. Levantou-se da cadeira, em frente a ela as quatro barracas. Outro gesto e uma mesa apareceu com um lindo abajur verde e amarelo cheio de flores. Que perfume exalavam. Peguei na mo da Marly. Marly! Diga que voc fala ingls! Grite no ouvido dele se necessrio. Isto est ficando assustador! Marly me olhava assustada. Gritar para quem? Para o Escoteiro Americano! Este a a sua frente. Marly assustou. Largou minha mo e saiu correndo. Olhei para o Chefe Ramiro. Ele no dizia nada, enfim ningum da tropa dizia nada. Estavam todos calados e embasbacados. O Escoteiro Americano foi at o Chefe. Fez um pequeno sinal e colocou na mo dele uma bandeira brasileira e uma americana. Riscou no ar as seguintes palavras: Amizade sem fronteiras. Saiu do circulo em direo ao porto da sede. Fomos correndo at l. Nada. Tudo que ele fez sumiu! Perguntamos a todos se era verdade. Se ele estivera ali. Todos responderam que sim. O Chefe Ramiro estava sem palavras. Ficou mudo o tempo todo. Nas mos que recebera as bandeiras, nada. Estavam vazias. Sentamos no ptio, um silencio profundo. A Akel assustou. O que foi perguntou! No viu? Um Escoteiro Americano mgico e misterioso? No vi nada. No possvel. Perguntei aos lobinhos, ningum tinha visto nada. Pedi ao Chefe que nos desse uma hora. Uma hora para acharmos o escoteiro Americano na cidade. Que nada! Nem sinal. As cinco e meia encerramento. Todos l no cerimonial. Luizinho um lobinho de seis anos e meio traz nos braos duas bandeiras. Uma nacional e uma americana. Que deu a voc? Perguntou o Chefe Ramiro. - Ningum. Apareceu em meus braos e uma voz pediu para entregar ao Senhor! E quem quiser acreditar que acredite. Eu no duvido. Eu estava l! Risos.

Lendas escoteiras. A rebelio dos bichos. Tudo aconteceu na primavera daquele ano. Foi uma surpresa, para mim e confesso que fiquei surpreso. Muito. Vi que a sede Escoteira sem ningum saber ou ser informado, se tornou uma selva de tantos bichos, aves e peixes. Como eles respiravam no me pergunte. Vieram de todas as partes do Brasil. Claro um representante de cada espcie. Desculpe. Nada de Arca de No no. O motivo era outro. Em cada grupo da fauna brasileira foi escolhido o mais douto, o mais sbio e o mais educado. Afinal entre eles a tica e o respeito existe. Eles pretendiam mostrar sua civilidade aos escoteiros de todo pais. Era uma revolta surda, mas educada, ficaram calados por muito tempo, mas tinham de tomar

uma providencia. No me deixaram entrar. Aqui humanos no entram. Tudo bem pensei. Fiquei na janela assistindo. Que organizao eles tinham. Chegavam papagaios, corujas, cisnes de todas as cores, gavio-carij, guias, sem contar as duas onas, uma pintada e a outra parda. Eram centenas deles. O salo nobre ficou lotado. A Coruja-buraqueira foi escolhida para presidir os trabalhos. Pedindo a palavra ela comeou Meus amigos, vocs sabem que aqui foram convidados somente s espcies da fauna brasileira. Ainda ontem o Quatipuru veio reclamar para mim que nunca o escolheram como nome de Patrulha. O mesmo aconteceu com o Tucunar, O Sagui de tufo branco e outras centenas deles. Resolvi fazer uma pesquisa. Para mim fcil. Sei que difcil para os dirigentes escoteiros, mas deu para ver que os jovens hoje s querem nomes pomposos, se possveis retirados da fauna americana ou europeia. No vou citar aqui os nomes esquisitos em ingls que eles colocam. At astronautas eu j vi. Um absurdo. E olhem meus amigos, tenho conhecidos nestes pases e me disseram que l ningum liga para nossa fauna. Eles so autnticos. Uma palma estrondosa repicou no salo nobre. - Continuou a Coruja Buraqueira. Temos que tomar uma providencia. Afinal se os escoteiros e seniores no nos escolhem, melhor que faamos uma revoluo e quando eles forem acampar, iremos gritar infernizar a vida deles. As tais patrulhas de nomes esquisitos no tero mais nosso apoio. Uma cobra venenosa, a Surucucu estava presente Riu baixinho Deixa comigo dona Coruja. Eu e a Cascavel do chocalho negro, damos umas mordidas e resolvemos logo este problema. Todos riram. No! No assim que vamos resolver. Precisamos estudar uma frmula de mostrar o que somos, mas educadamente. Olhem, s para ter uma ideia, vou convidar para um desfile aqui no palco alguns animais, aves e peixes que nunca foram lembrados pelos escoteiros. Que faam uma fila e vo passando em minha frente dizendo seu nome: Comeou o desfile. Ali estavam o Veado Catingueiro, o Quatipuru, a Cotia, O Touro Nelore, A raposa verde, a Jaguatirica, a Doninha amaznica, O Zorrilho, a Baleia Azul, O Golfinho, o Boto cor de Rosa, o Ourio Preto, o Puma do Pantanal, o Macaco Prego, o Macuco, a Codorna Amarela, o Aracu do Pantanal, o Mergulho Caador, o Maarico, o peixe Tucunar, a Trara, O Piau, a Jacupemba, o Sagui de Tufo Branco, o Prncipe Negro, o Bugio, A Ema, a Iguana, a Gara Branca, o Boto Vermelho, o Tracaj, o Canrio da Terra, o Tatu Peba, o Gaivoto, o Mutum de Penacho, o Cervo do Pantanal, o Jacar Au, o Moc, o Tuiui, o Tucano, o Quati, O Beija Flor, o Tamandu Bandeira, o Martim Pescador, O Lobo Guar, a Ariranha, a Arara Azul... Um desfile enorme. Todos tristes. Atrs deles tinham mais de cem animais e aves para desfilar. Uma tristeza enorme no salo. Foi o Beija Flor dourado quem tomou da palavra Amigos e Amigas pretendo nunca mais beber do caldo aucarado que eles pem para mim nos campos de patrulhas. A Coruja Buraqueira concordou e disse: Eles no me vero mais nos galhos prximos aos Fogos de Conselho. O Canrio Belga falou

l no fundo do salo: - Eles nunca mais me vero cantar nas madrugadas. Era uma choradeira s. Vamos tomar uma posio rosnou alto a Ona Pintada. Vamos dar uma surra neles quando forem acampar! Nada disto, replicou a Coruja Buraqueira. Vamos fazer um abaixo assinado. Quando o prximo sbado chegar, entregaremos uma copia a cada Patrulha que for a reunio. Cada um de ns que tem asas fica responsvel. E assim foi feito. Levaram para as patrulhas, o abaixo assinado por mais de 5.000 membros da fauna Brasileira. L escreveram suas insatisfaes com a escolha de nomes estrangeiros para as patrulhas e porque no se lembraram deles. Fui embora e eles nem notaram. No sei no que deu. Mas acredito que daqui para frente, muitas Patrulhas novas iro pesquisar mais a Flora e a Fauna Brasileira. Elas sabero dar valor ao que nosso, pois se no fizermos isto desde criana, ningum l fora vai fazer por ns. E olhe, no participaram desta reunio nossos heris, nossos poetas, nossos homens que um dia fizeram desta nao um pas hoje respeitado. Quem sabe um dia eles iro tambm se reunir e dizer o que pensam?

Lendas escoteiras. A sombria sepultura do Delegado Paredes. Dizem que em cada cidade do planeta existe uma lenda sobre locais assombrados. Podem ser casas, castelos sombrios ou mesmo cemitrios fantasmagricos. Dizem ainda que eles so marcados por presena sinistras que os protegem da visita indevidas. Bem, nossa histria bem parecida. Claudinha era guia, j entrara com treze anos para a tropa escoteira. Morava com seu pai, vivo, que praticamente no parava em casa. Sua Av Rosalva era quem cuidava dela, mas agora estava com mais de noventa anos e tinha grande dificuldade de se movimentar. Desde pequena Claudinha era diferente das outras meninas. Seu pai tentou tudo e por ltimo a levou a um analista que ficou em duvida do que ela falou em seu consultrio. Claudinha dizia que via e falava com os mortos. Ningum entendia e riam dela. Ficou ento calada e no falou com mais ningum sobre isto. O Doutor Marcondes se assustou. Quando conversava com ela, ela disse que ao seu lado estava sua me. Dona Esmeralda pedia que ele olhasse mais a Dircinha, pois ela era sua irm. Ela no merecia o que estava acontecendo. Incrvel! Como ela poderia saber? Nos acampamentos Claudinha tinha medo da noite. No ousava sair da cozinha e mesmo em jogos noturnos chorava para no participar. Milena a monitora era sua melhor amiga. Sabia o que se passava com ela. Milena e sua famlia eram espiritualistas, ela sabia que Claudinha tinha mediunidade. Mas o pai dela no aceitava de jeito nenhum. Claudinha gostava de estar nas guias, mas viu que a cada dia ficava muito difcil. Aonde ela ia l estavam eles, os mortos do alm. Alguns at simpticos, mas outros horrendos. Os suicidas se apresentavam como estavam na hora da morte. Gritando e gemendo de dor.

Outros esquelticos e at crianas chorando. Para muitos um desespero e para Claudinha ento? A Chefe Maninha comeou a se interessar por ela. Procurou seu pai e quase toda semana ia l trocar ideias com ele. Chefe Maninha era espiritualista, no uma estudiosa, mas tentava conhecer o mundo alem da vida. Diferente do Chefe Raimundo. Um homem puro, sincero, amigo e evanglico. Todos gostavam dele e o admiravam. Mas ele pensava diferente. o demnio, dizia! Ultimamente Claudinha acordava a noite, uma ou duas da manh, e l estava ele. Um homem grande, moreno, um enorme bigode, cabelos negros ondulados, um colete preto com botes dourados. Um palet enorme, preto e Claudinha no via mais nada. Ele chegava e pedia para Claudinha ficar calma, ele no ia fazer-lhe mal. Meu nome nobre Escoteira Delegado Paredes. Preciso de voc para me ajudar, ele dizia. Preciso subir aos cus. No consigo. Tem dois anos que estou morto. Minha me, meu pai todos tentam me levar, mas eu no posso ir. Preciso que me ajude. Era assim todas as noites. No incio ela escondia a cabea no travesseiro ou saia correndo para o quarto do seu pai. Depois foi se acostumando at que um dia para se ficar livre dele, perguntou: O que eu posso fazer? Sou apenas uma menina! Ele respondeu que s ela podia ajudar, ele sabia que ela tinha uma Patrulha. Se fossem juntas ao Cemitrio do Agulho Negro no Bairro Do Sono Profundo e tinha de ser noite, poderiam entrar em seu Mausolu e pegar a Medalha de Prata da Legio de Honra. Ela precisava pegar e entregar ao seu filho. Contou seu sonho para Milena. Fizeram uma reunio de Patrulha. Todas estavam eufricas com a histria. Eu topo, eu tambm. S Laurinha ficou receosa, mas fazer o que? Tinha de ir, afinal no diziam que era a Patrulha mais unida do Grupo? Bem agora era com Claudinha. Precisava saber como entrar no mausolu e onde estava seu filho. O delegado Paredes explicou que na porta do mausolu tinha uma pequena caixinha de flores. No meio da terra encontrariam uma chave embrulhada em papel alumnio. Nadir sua empregada prometeu manter sempre limpo sua morada e deixava a chave l. Ela tinha de ir noite, entre meia noite e uma hora. O Jacinto Boa morte o coveiro estaria dormindo e no ia incomodar. Ele ia se incumbir dos mortos que povoavam o cemitrio. Eram milhares Sexta, dia treze de agosto, l foram elas. Meia noite. Achavam que estavam entrando nos Sete Portais do inferno. Um silncio sepulcral. Devagar, sem fazer barulho l vo elas. De mos dadas, abraadas, todas se borrando de medo, mas como eram escoteiras no desistiam. Chegaram ao Mausolu. Enorme, negro, uma estatua de um anjo que parecia o demnio rindo para elas em cima dele. Uma bruma seca e com um cheiro horrvel comeou a se formar. Claudinha retirou a chave, entraram. Uma escurido tremenda. Risos chorosos, tremedeiras. Algumas querendo correr. Puxam o caixo do Delegado Paredes. Ningum quis abrir. Milena tomou a frente de olhos fechados abriu. L dentro o Delegado agora nada mais que uma caveira de ossos horrenda. Nos dedos uma medalha. Ela pegou. Entregou a Claudinha. Um claro enorme dentro da sepultura, o delegado apareceu. Obrigado jovens guias. Tenho orgulho de vocs! Meu filho mora na

Rua Ipojucan, nmero cem, ele se chama Paulo Paredes. Diga a ele que enterre esta medalha junto ao Doutor Praxedes, esta medalha dele. Deram-me a mim, no a mereo. As honras no so minhas e sim dele. Alem de salvar minha vida se arriscou por aquele "Velho" Chefe Escoteiro que estava marcado para morrer no Vale da Redeno. Ningum falava nada. Todas tremendo. Agora conseguiam ver o Delegado Paredes brilhando no escuro. Ele estava sorrindo, no era a figura fantasmagrica de antes. Saram dali correndo. Cada uma correu para sua casa. Dormiram com a prpria roupa e com o cobertor tampando a cabea. Algumas tiveram de trocar a roupa. Estavam molhadas (risos). Claudinha e Milena foram Rua Ipojucan. Uma bonita casa. Meninos brincando no jardim. Pediram para falar com o Senhor Paulo. Ele apareceu porta e se assustou com duas meninas de uniforme escoteiro. Explicaram. Seus olhos se encheram de lgrimas. Prometeu fazer o que o pai lhe pediu. Sbado, reunio no Grupo Escoteiro. Cerimonial de Bandeira. Todos na ferradura. A bandeira subia farfalhando ao vento. A Patrulha de Claudinha ficou petrificada. No acreditavam no que viam. Encostado ao mastro o Delegado Paredes, um sorriso nos lbios, dava adeus a todas e dizia muito obrigado. Uma luz azulada apareceu, uma linda mulher de branco lhe deu as mos. Ele chorava, um homenzarro como aquele e chorando! Ele desapareceu na luz brilhante e nas nuvens brancas do cu. Ah! Dizem que histrias so histrias. Mas esta eu no sei. Juraram-me que aconteceu. Falar o que? Verdade ou no que o Delegado Paredes seja muito feliz no outro lado da vida. Um dia ser sua vez. No adianta se esconder. Risos. E Claudinha? Bem, esta outra histria. Quem sabe volto aqui para contar mais uma das suas lindas (?) aventuras com os mortos do alm?

Lendas Escoteiras. Os amores de Laureano, o Pioneiro do Rei. Laureano estava perdendo o estmulo para continuar no Cl Pioneiro. Os demais amigos ali eram entusiastas e as reunies eram bem frequentadas. Laureano j tinha pensado em sair. S um motivo o mantinha ainda no Cl. Roslia. Isto mesmo. Ele se apaixonou por Roslia. Uma paixo incrvel, mas Roslia gostava de Almir. Laureano ia s reunies e a via ao lado dele, muitas vezes de mos dadas e olhares lnguidos, amorosos e todos sabiam que dia menos dia eles iriam se casar. Laureano devia saber que o caminho que escolheu no foi o certo. Tentou uma vez ficar sem participar por um ms. Quem sabe poderia esquecer-se dela? Impossvel. Uma sede terrvel abatia todos os dias seu pensamento. Sede de v-la, olhar seu sorriso, sentir seus olhos nos seus. Amainar a dor terrvel que jazia no fundo do seu corao. O pior de tudo era que Almir era um grande Pioneiro. A caminho de sua Insgnia de BP era um exemplo para todos. Sem ser mando era um lder que sabia ser liderado. Em

todos os programas que o Cl programava ele dava suas sugestes, mas aceitava de bom grado o que a maioria decidisse. Um concorrente no amor impossvel de se derrotar. Naquela sexta chegando sede Escoteira viu o carro dela se aproximando. Quando parou notou dois jovens estranhos e sem perceber entraram no carro ordenando que seguisse em frente. Era um sequestro sem sombra de dvida. Laureano ficou sem ao, pois foi tudo muito rpido. Nem mesmo os rostos dos bandidos ele viu direito. Gritou chamando os demais que j haviam chegado sede. Um deles o Bertinho tinha um fusca e chamou Laureano para tentar encontrar o carro de Roslia. Gritou para os demais para avisar a policia. Bertinho era amigo de Laureano desde os tempos de tropa Escoteira. Aprontaram poucas e boas na Patrulha Touro. Virando uma esquina avistaram o carro de Roslia. Parado em frente um caixa vinte e quatro horas. Um sequestro relmpago s podia ser. Bertinho parou o carro bem atrs dos bandidos. Um erro. Nunca devia ter feito isto. O certo era ir em frente e chamar a polcia. Mas Laureano no pensou duas vezes, correu at o carro de Roslia e tentou forar a porta para retir-la dali. Dois tiros. Um no peito e outro no pescoo. Laureano caiu. Jogaram Roslia pela porta. Laureano ficou em coma quatro meses. Todo o dia l estava Roslia ao seu lado. O Cl sempre que podia estava tambm presente. Quando acordou do coma o primeiro rosto que viu foi o de Roslia. Pensou que ela o amava e falando baixinho disse a ela tudo que sentia. Roslia j fazia uma ideia do amor de Laureano. Mas ela amava Almir. Teria que ser sincera. Explicou a Laureano tudo que sentia por ele. Nada mais que uma grande amizade. Laureano fechou os olhos. Preferia ter continuando naquele sono profundo, onde nada via a no ser uma nevoa ao seu redor. Lembrou-se da mulher de branco, do homem das barbas brancas que nada diziam e s sorriam. Quando abriu os olhos ela se fora. Sua me e seu pai estavam ali sorrindo para ele. A noite recebeu a visita de Almir. Que grande Pioneiro ele era. Foi franco. Explicou que amava Roslia. Na sua sinceridade o dio de Laureano se transformava em amor. A escolha era de Roslia dizia, ou ele ou eu. Para ele no importava. Amava Roslia, mas devia saber perder. No se ganha todas as batalhas. Um ano depois Laureano j de alta pensava se devia voltar ou no ao Cl Pioneiro. Desde que sara do hospital praticamente se escondeu de todos. No respondia aos telefonemas, os recados, nada. Achou que estava esquecendo Roslia. Seu corao j no batia tanto. Uma tarde foi fazer uma inscrio para o vestibular. J tinha feito pela internet agora era fazer o depsito. Ao sair do banco, deu de cara com ela. Foi uma surpresa. Como estava linda! Ela sempre foi mulher mais bonita que tinha conhecido. Ela sorriu para ele. Caminhou at onde ele estava. Ela deu para ele aquele sorriso encantador que fazia disparar seu corao. Cinco homens armados anunciaram o assalto. O vigilante reagiu. Uma troca de tiros. Ele pulou em cima de Roslia. Jogou-a ao cho. Fez de suas costas um escudo para ela. Desta vez no houve coma. No houve volta. Laureano morreu ali com varias balas no corpo.

O cemitrio da Saudade nunca viu tantos pioneiros e escoteiros juntos. At de cidades distantes havia representantes. Nunca se viu tantos pioneiros cantando com emoo a Cano do Cl. Era como se Laureano fosse morar naquela montanha, bem perto do cu, onde existia uma lagoa azul. Nunca se viu tantos pioneiros chorando. A emoo tomou conta de todos. No se sabe de onde, mas um clarim se ouviu. Algum acarapinhado em uma arvore prxima tocava a cano e todos acompanhavam. Morreu Laureano. Ele estava marcado para morrer. Ele tinha de passar por isto. Na primeira vez escapou, mas na segunda seria impossvel. Outras vidas ele teria, se encontraria de novo com Roslia. Tambm com Almir. Estava escrito nas estrelas. Os amores de Laureano, um rei sem paixo que no perdoava ningum, a morte encomendada. So coisas do passado. L na ltima morada de Laureano, um casal, ela de branco ele com suas barbas brancas deram a mos a ele e se foram. Uma nuvem os levou para o cu!

Lendas Escoteiras. As aventuras de Maria Alice, da Patrulha Morcego e o misterioso povo cigano do Rajasto. Maria Alice era uma Escoteira sonhadora. Adorava ler e viver os personagens em sua mente infantil e criativa. Um dia ela leu um belo conto em um livro sobre como viviam os ciganos. Seus amores, suas viagens sem nenhum destino. E onde havia um cu eram suas moradas. Ela ficava imaginando como devia ser suas vidas, pois no tinham endereo fixo, documentos, contas em banco, carteira assinada e nem histria. Ela sabia que poucas pessoas tinham respeito por eles. Muitos tinham preconceitos e ignorncia, alguns medo e fascnio. Sabia que muitas injustias tinham sido cometidas e que mesmo assim eles se sentiam felizes e alegres ao logo de suas interminveis jornadas. Naquela quinta estavam em reunio de Patrulha na casa de Mirian a submonitora. Sempre faziam uma vez por semana. Estavam a discutir o acampamento de vero. Seria de cinco dias. A Chefe Marilda pediu sugestes. Iriam todas as trs patrulhas e prximo onde ficariam ia acampar tambm a tropa Escoteira. Eles tambm estavam em trs patrulhas. Muitas atividades em conjunto estavam programadas, mas elas teriam liberdade para que fizessem as suas sem interferncias. Onde estava Maria Alice? Nunca aconteceu isto. Ela no faltava nunca, pois era a escriba e no poderia faltar com seu livro de atas. Ligaram para sua casa e nada. Sua me no sabia onde estava. Tiveram que fazer a reunio sem sua presena. No sbado, dois dias depois a cidade em polvorosa. Onde estaria Maria Alice? Ningum sabia. Procuraram em todo o lugar e nada. Todas as patrulhas, todos as matilhas, chefes e pais estavam a procurar e vasculhar em cada canto da cidade.

Algum tinha dito para Maria Alice que viu no alto da Aldeia do Co, um acampamento de ciganos. No deu outra. Mesmo j escurecendo ela pegou sua bicicleta e sozinha foi at l. Quando avistou se escondeu atrs de um tronco de uma seringueira. Ficou admirava com tudo. Duas grandes barracas coloridas, duas carroas grandes com toldo fechado e adultos e crianas andando para l e para c. Maria Alice se esqueceu da Reunio de Patrulha. Estava hipnotizada com o que via. Lembrava-se de tudo que leu sobre eles. Claro que muitos diziam que o que falavam deles eram suposies. Como no havia documentos nada se poderias provar. Os ciganos nunca deixaram nenhum registro que pudesse explicar suas origens. Quando morrem em suas jornadas pela terra, eliminam os pertences dos falecidos dificultando o trabalho de pesquisa ou lembrana. Maria Alice estava absorta e no viu algum sorrateiramente chegando atrs dela. Sentiu o leno e o cheiro forte. Desmaiou na hora. A Patrulha Morcego no esmorecia nas buscas. Tavinha lembrou que tinha dito a Maria Alice do Acampamento dos Ciganos na Aldeia do Co. Pegaram suas bicicletas e correram para l. De longe avistaram o movimento. Era noite alta. Eles cantavam e danavam em redor de uma fogueira. Incrvel, Maria Alice estava com eles. Danava tambm. Sorria, batia palmas. Meu Deus pensaram. O que fizeram com ela? Escondidas e se camuflando com barro e folhas (tinham este tipo de treinamento) foram p ante p e quando chegaram atrs de uma barraca fizeram sinal a Maria Alice. Ela tentou ir at elas, mas o Maryo filho do Chefe dos Ciganos viu e no deixou. Fora ele quem raptou Maria Alice. Ele tinha dezesseis anos e a achou muito bonita. Queria fazer dela sua esposa. Mas Maria Alice era esperta. Saiu correndo e junto com as amigas da patrulha alcanaram as bicicletas e conseguiram fugir. Foram diretos chamar o delegado. Ele com mais dez soldados foram ao acampamento dos ciganos. No tinha mais ningum. Tinham fugido. O delegado Loureno ficou pensativo. Eles no eram assim. Ele conhecia o lema do Povo Cigano. O cu meu teto; A terra minha ptria e a liberdade minha religio. Sempre os tratou com respeito. Mas devia ter sido um motivo forte. Conversou longamente com Maria Alice. Eles no fizeram nada com ela. Podia ter fugido, mas queria aprender. Ela queria saber como era o esprito viajante deles. Como as mulheres sabiam ler a sorte, e eles faziam lindos tachos de cobre. De onde tiravam isto? A cidade voltou ao normal. No ouviram falar mais nos ciganos. Maria Alice teve que contar a todos varias vezes como foi sua vida l. Ela aprendeu uma lio. Nunca sair sozinha e sempre andar com mais pessoas. Dizem eu no sei s me contaram por a que quando ela cresceu reconheceu o Maryo em uma festa numa cidade vizinha, se apaixonou e se casou com ele. Foi morar em um acampamento cigano e hoje correm estradas no sul da Frana. Espero que Maria Alice tenha sido muito feliz. Ela foi uma grande Escoteira e merece. No sei se no organizou os ciganos em patrulha. Risos. No sei. Se assim o fez, que ela seja feliz para sempre!

As coisas belas da vida. O lindo alvorecer na morada da Terra do Sol. Tinha voltado da minha incrvel caminhada de quinhentos metros, cansado, respirao ofegante e estava fazendo o meu breakfast quando bateram palmas na porta de casa. Domingo sempre assim. Religiosos nos chamando para dizer se queremos ouvir a palavra do Senhor. Porque no? Gosto de v-los lendo os mandamentos de Deus. Quando acontece descanso em uma cadeira, pois ficar em p difcil e ouo com amor, e olhem, nunca digo que sou espiritualista. Eles no gostam. Afinal ouvir bom e no prejudica ningum. Mas naquele dia no eram eles. Cheguei porta da sala e vi no porto uma figura imponente que at me assustei. Cabelos brancos compridos at o ombro, barba branca bem penteada e uns olhos azuis que chamuscavam que olhava diretamente para ele. Vestia um palet branco, comprido que ia at o joelho. Uma camisa azul brilhante com um pequeno leno verde amarrado no pescoo. Usava uma cala de gabardine verde e calava uma sandlia de couro sem meias. Trazia nas mos uma forquilha. Senhor! Que forquilha! Linda, marrom e cinza, e onde o V fazia uma curva acentuada parecia estar cravejadas de pedras preciosas em delicioso arranjo. Quem seria? Nesta cidade grande todo cuidado pouco. Loucos, assaltantes, pedintes, vem s centenas bater em nossa porta. Mas o sorriso do "Velho" era cativante. Cheguei mais perto. Um perfume de flores do campo veio at a mim. O "Velho" sorriu e sem eu esperar me disse Posso lhe dar um abrao? Fiquei estarrecido! Nunca ningum bateu em minha porta oferecendo um abrao! Peguei as chaves, abri o porto e ele entrou como se estivesse entrando em um castelo de Reis. Encostou a forquilha encantada na parede e me deu um abrao! Gente! Que abrao. Eu com meus 71 anos me sentia como se fosse um menino sendo abraado pelo pai. Fiquei sem jeito. Aceita um caf? Obrigado. Mas no podemos perder tempo. Vou levar voc para ver o alvorecer na Morada do Sol. Assustei-me. Tenho que tomar cuidado, pensei. Pode ser algum com acesso de loucura Ele como se estivesse lendo meus pensamentos sorriu e disse Voc precisa vir comigo. Sei que Dona Clia est fazendo a feira e volta logo. Mas estaremos de volta antes. Pegou-me pela mo e sem fechar o porto samos voando, ele me segurando, eu assustado! Ele soltou minha mo. Gente! Eu volitava sozinho no ar como se j tivesse feito isto h muito tempo. Em segundos estvamos em uma montanha, onde as rvores eram lindas, as folhas de um verde que nunca tinha visto e l no alto um pico envolto em nuvens que para dizer a verdade, fez meu corao disparar. Lindo! Uma montanha das mais lindas que tinha visto Como chama? Perguntei. Voc conhece voc j esteve

aqui. Serra do Sol Nascente. A morada do sol Me lembrei. Mas no era assim! Eu disse. Ele me olhou e carinhosamente disse - Porque voc s viu o que queria ver! De novo me pegou pela mo. Em segundos estvamos em uma cachoeira de uma beleza sem par. Linda mesmo. Uma nvoa branca como se fosse orvalho caindo se formava em sua queda, o barulho da queda era como se fosse uma orquestra de cordas tocando maravilhosamente The Lord of The Rings e eu ali pensava Devia ser um sonho. Pssaros danavam balet fazendo acrobacias. Onde estamos? Perguntei! Na Cachoeira da Chuva, voc j esteve aqui! Como? No vi nada disto que vejo agora. - Porque voc s viu o que queria ver! De novo l fomos ns a voar pelo espao e em segundos chegamos a um vale, todo florido, flores silvestres de todas as cores que nunca tinha visto com um perfume inebriante, e a brisa leve tocando as ptalas e elas danando ao sabor do vento. Onde estamos? Perguntei! No Vale Encantado da Felicidade. Voc j esteve aqui. Muitas vezes acampando. No lembro, no lembro que fosse assim! Porque voc s viu o que queria ver! E l fomos de novo voando nas nuvens brancas do cu. Descemos e ficamos a sombra de um lindo castanheiro. Era madrugada. O orvalho caia calmamente. Uma brisa fresca tocou-me o rosto. Foi ento que assisti o cantar da passarada quando a manh chega lpida e insistente. Havia beija flores, TicoTico, Sabis, canrios amarelos, pardais graciosos, uma multido de pssaros pulando de galho em galho e com suas gralhas graciosas a cantar para todo o universo naquela bela manh. Onde estamos? Perguntei No reconhece? O castanheiro do quintal da sua casa no passado? Mas no era assim, eu disse. Ele gentilmente respondeu Porque voc s viu o que queria ver. E assim ele me levou a longnquos lugares perdidos neste mundo de Deus e sempre a me dizer Voc j esteve aqui. Por ltimo, fomos at uma nuvem, enorme, milhares e milhares de escoteiros sentados, cantando canes sublimes. Que lindas canes so estas? As mesmas que voc cantou sempre. Mas muitas vezes gritadas, sem nexo e voc no procurou ver a beleza da melodia que elas possuam, pois voc s ouviu o que queria ouvir! Voltamos e como se eu fosse um pssaro alado no seu pouso encantador, avistei o meu porto e ele sorridente me disse Procure ver as coisas como so, procure sentir a beleza das cores, do arco ris, dos lindos sonhos que acontecem com voc. Procure ser sincero e diga a s mesmo que a beleza da vida e a felicidade sempre esto ao nosso lado. As cores so belas quando sabemos olhar com amor. Os cantos so belos quando sabemos diferir a letra e a msica tocada. Os pssaros so sempre os mesmos, mas saber ver neles a beleza e a singela simpatia que eles tm uma arte fcil de ser observada. Seus cantares e seus gorjeios sabem que transmitem amor e felicidade. Ele me olhou e disse Posso lhe dar outro abrao? E me apertou em seu corpo e de novo senti que era meu pai me abraando. Saiu calmamente pela rua, escorando na sua linda forquilha cravejada de brilhantes e ao chegar esquina, virou-se e deu-me um ltimo adeus. Uma pequena nuvem apareceu e o levou ao cu que

agora era de um azul profundo, to azul que pensei que nunca tinha visto aquela cor como agora. Sentei na cadeira de sempre na minha varanda emocionado. A Clia chegou. Sorriu para mim e disse O que foi? Porque esta sorrindo assim? Sabe mulher, porque sempre vi o que queria ver e agora procuro ver as coisas como devem ser vista. Nunca tinha observado como voc bela, a mais linda mulher que conheci! Fiquei em p me aproximei e disse Posso lhe dar um abrao?

Crnicas de um Chefe Escoteiro. A rvore das folhas rosa. Era uma viso incrvel. Apareceu assim do nada. Se fez presente para sempre em nossas vidas. Dizem por a que s os escoteiros tm o privilegio de ver e ouvir coisas, pois eles tm o dom de enxergar de outra maneira a natureza hoje perseguida de maneira implacvel pelos homens. Acredito piamente que isto real. Estava eu em uma pequena trilha, mais quatro amigos escoteiros, todos em fila indiana, tentando cortar caminho para chegar ao Tanque dos Afogados. Desculpem, no morreu ningum l e nem um tanque. Uma represa pequena, dcil, rasa, de guas cristalinas que por duas vezes ali estivemos acampando. Sempre passamos pelo caminho do Marqus mais de doze quilmetros. No lembro quem deu a ideia de cortar caminho em um vale entre duas montanhas. Nem sempre as boas ideias prevalecem. Passava da uma da tarde. Um sol a pico e queimando. Quase quatro horas de caminhada. O suor escorrendo pelo rosto, os olhos vermelhos e o chapelo de trs bicos faziam s vezes de um protetor carinhoso, mas que pouco ajudava. Um local descampado, sem rvores, quem sabe para pasto do gado que ao longe pastava calmamente. Pensei em parar, mas sempre um animando dizia: - Vamos chegar! Vamos chegar! s encontrar o vale das Vertentes. E esse no chegava nunca. Uma fome brava. Nem um biscoitinho a solta. J respirava com dificuldade quando avistei o paraso. Uma rvore. No uma rvore qualquer. Era enorme. Incrivelmente linda! Nunca tinha visto uma cerejeira igual. Florida, folhas e flores rosa destoando da natureza ao seu redor. S ela, ali, imponente e ao seu lado um pequeno riacho de guas claras. Viso maravilhosa. Um osis dos deuses do paraso naquele campo seco. Incrivelmente maravilhosa. Molhei o rosto calmamente. A sombra da cerejeira nos dava uma sensao de calma silenciosa e gostosa. Uma brisa fresca soprava de este para oeste. Sentamos embaixo prximo ao tronco. Ps levantados. Dizem ser bom para a circulao. Dez minutos, quinze, vinte. Uma hora. Ningum animava em partir. Estavam todos no mundo dos sonhos coloridos que s os escoteiros possuem.

A tarde chegou mansamente. O sol estava se despedindo e prometendo voltar amanh. Vermelho atrs das montanhas verdejantes. Ainda de olhos fechados lembrei que tinha lido no sei onde A flor de cerejeira cai da rvore na primeira brisa mais forte, mas no dizemos que ela nunca viveu. Uma flor que s dura um dia, no menos bonita por isso. No queria abrir os olhos. No queria partir. Eu tinha encontrado o paraso. No disseram que o tempo relativo? Que a flor da cerejeira, por exemplo, dura apenas uma semana e mesmo se durasse mil anos ainda seria efmera? Flor to bela como ela no merecia durar eternamente? E o que eterno se no o que dura com tamanha intensidade? Dormi. No queira acordar. Agora a cerejeira no dava mais sombra. No precisava, a noite chegou escura, mas logo o claro das estrelas no cu dava o seu espetculo a parte. Reunio de Patrulha. Partir? Cinco a zero para ficar. Um foguinho. Uma sopa, um caf na brasa. Cantando baixinho a rvore da Montanha. O cu estrelado ainda dando seu espetculo maravilhoso. Um cometa passou correndo deixando um rastro brilhante. Fiz um pedido. Que a cerejeira em flor durasse para sempre! Aos poucos alguns dormiam. A cerejeira das folhas rosa era nossa barraca. O tempo passou. Ao lado algum anjo velava o sono dos escoteiros. Abri os olhos mansamente, uma rstia de luz aportava l por trs das montanhas distantes. Era a madrugada chegando. O novo dia chegava sem fazer alarde. O orvalho caia de mansinho. A brisa eterna amiga no nos deixou. Um acalanto para nos dar um novo vigor no dia que chegava sem fazer rudo. O riacho ao lado parecia cantar canes de ninar. Pequenos peixinhos nadavam como a nos dizer bom dia! Mochila as costas. Olhares e sorrisos entre ns. Escoteiros avante! P na estrada, pois o sol agora j estava firme no horizonte. Nosso destino? O Tanque dos Afogados. E l fomos ns, em marcha de estrada sorrindo, mas saibam que nunca mais, em tempo algum, ns nos esquecemos da rvore das folhas rosa. Cerejeira em flor. Um amor, uma lembrana que ficou marcada para sempre! Quando eu for, um dia desses, Poeira ou folha levada No vento da madrugada, Serei um pouco do nada Invisvel, delicioso Que faz com que o teu ar Parea mais um olhar, Suave mistrio amoroso, Cidade de meu andar (Deste j to longo andar!) E talvez de meu repouso... Mario Quintana

Lendas Escoteiras. Histrias para lobinhos/as O simptico ratinho de Madame Rosinha. Lindolfo levou o maior susto. Ao ir para a reunio Escoteira naquela tarde de sbado, viu Madame Rosinha descer a escada de sua casa gritando e chorando alto. Ela dizia: Um rato. Um enorme rato. Acudam-me! Socorro! Lindolfo era lobinho da segunda alcatia do Grupo Escoteiro Pico da Neblina. J tinha feito sua boa ao, mas resolveu fazer mais uma. Porque no? Partiu clere escada acima a procura do famigerado rato de Madame Rosinha. Em todos os cmodos ele procurou e no achou. Quando ia sair viu um ratinho muito pequeno, raqutico, magro, com cara chorosa em cima do armrio da cozinha. Estava com a vassoura na mo e pensou em dar uma vassourada nele ou uma caricia. Achou que ele precisava mais de uma carcia. Ao sair disse para Madame Rosinha que no se preocupasse. Ele logo que a reunio terminasse viria com sua matilha verde e pegariam esse famigerado rato. Ela ficasse calma. Os valentes lobinhos no tinham medo de nada! Na reunio comentou com a matilha sobre o ratinho. Explicou que era um coitado e precisava e ajuda e no ser morto. Liz no concordou. Ela morria de medo de ratos. Dayane ficou na duvida. Robertinho riu e falou Vamos matar o danado isto sim. Mas Miltinho e Naninha ficaram do lado de Lindolfo. A Akel Safira comentou com o Balu Nonato que a matilha verde estava estranha. Ficavam s cochichando e ela no conseguiu saber o que era. O Balu Nonato era muito amigo de Miltinho, mas ele no contou nada. A reunio terminou com todos dando o melhor possvel e dizendo para os chefes Obrigado Chefe pela linda reunio. O senhor sabe que tenho orgulho de nosso Grupo Escoteiro! Era assim no Grupo Escoteiro Pico da Neblina. Fora da sede, a me de Aninha estava l esperando. Ela pediu a me para ir com a matilha. Iam fazer uma boa ao. Dona Nivea era uma excelente me e no se ops. Mal chegaram casa de Madame Rosinha e viram o ratinho chorando em cima do armrio. Foi Lindolfo que se aproximou p ante p e disse no ouvido do ratinho: Calma, vamos leva-lo para outra casinha. Vai ter tudo que tem direito. Miltinho j estava com uma caixinha e colocaram o ratinho dentro dela e foram embora. Tinham comprado queijo e uma vasilha de gua estava na caixinha. O ratinho estava com fome. Muita. Comeu tudo! E agora? Onde vamos lev-lo? Todos viram que em suas casas seriam impossvel. O medo de rato era comum ou em todas as famlias. J sei! Disse Naninha, vamos voltar sede e ainda deve estar aberta. Os pioneiros ficam at tarde. Levamos o ratinho para a Gruta da Alcatia. Escondemos a caixinha atrs da caixa de nossa matilha e nos revezamos durante a semana para vir aliment-lo! Todos concordaram. Assim trataram o Tibinho (nome que deram ao ratinho) por quase dois meses e foi ento que o pior aconteceu. A Akel Safira foi mexer l e viu o rato. Uma gritaria danada. Saiu correndo e pedindo socorro. Custaram a explicar a ela o que tinha acontecido. Ela deu um ultimato Depois do acantonamento no quero ver ele aqui. E agora? Na reunio de matilha chegaram a uma concluso

Vamos leva-lo junto ao acantonamento. L quem sabe descobrimos um local onde ele pudesse viver para sempre? E assim foi feito. Na primeira noite do acantonamento aconteceu a maior alegria da matilha. As mes que foram cozinhar saram gritando e berrando! Um rato! No era um s eram vrios. Agora sim. Descobriram a cidade onde o Tibinho podia morar. Soltaram-no tardinha. Tibinho olhou para eles e para seus amigos ratos. Olhou de novo para eles. Uma duvida ficou na sua mente. Ficar com eles ou seus irmos ratos? Uma ratinha linda se aproximou e se esfregou nele. Pronto. Resolvido. L foi Tibinho com seus novos irmos. A Matilha Verde ficou chorosa. Em todos os olhos lgrimas desciam, mas sabiam que esta seria a melhor maneira e a melhor ao que deveriam tomar. Por muitos anos a matilha verde pedia aos pais para passarem um domingo a cada dois meses no local do acantonamento. Os pais no sabiam para que, mas a Matilha Verde sempre se encontrava com Tibinho, at que um dia ele e Tibinha chegaram com vrios filhotes. Foi uma festa. Uma alegria para a Matilha Verde. E assim acaba esta histria. Uma unio de lobos, todos pensando em fazer o bem. Lembra sempre que o Lobinho pensa primeiro nos outros, abre os olhos e os ouvidos, est sempre alegre e diz sempre a verdade.

Histrias que no deveriam ser contadas. O menino Escoteiro cujos sonhos o vento levou! (Esta uma histria de fico. Semelhanas com pessoas, organizaes, so meras coincidncias. Tudo no passa de uma fantasia de um "Velho" Chefe Escoteiro). Era uma tarde rabugenta. Uma pequena garoa caia desde as primeiras horas da manh. Naquela rua sem graa, molhada, escorregadia, quem passasse ia ver naquela casinha de varanda simples um velho sentado, vestindo um pijama azul e sobre suas pernas uma manta cheia de distintivos escoteiros. Se observasse melhor veria que era um velho de cabelos brancos, cacheados, pele enrugada, os olhos fechados como se estivesse dormindo. Vov Teobaldo dormitava. Sua mente, entretanto estava viva. No parava de pensar como nosso mundo nos deixa de vez em quando triste e muitas vezes nos falta ao para continuar a sorrir. A mente do Vov Teobaldo voltou no tempo. Naquela manh de domingo. Estava lendo um livro no seu quarto quando foi cozinha beber uma gua gelada. Ele gostava. Uma das suas manias. Na sala, sentados na poltrona estava Nininha, sua neta de oito anos e lobinha, Maninho, seu neto de doze anos e Escoteiro e em p ao lado Landinho o neto mais velho de dezesseis anos e escoteiro Snior. Vov Teobaldo se assustou. Eles estavam chorando. O que foi? Interpelou. Vov, meu Vov querido, vo acabar conosco! Acabar como? Vo fechar nosso grupo

Escoteiro! Calma isto no vai acontecer. Conheo o Chefe Mauricio. Ele nunca faria isto. No ele Vov, so os outros! - Outros? Olhe Vov Teobaldo, ontem na escola minha amiga Joaninha que lobinha do outro grupo me deu uma cpia de um artigo que ela copiou de seu tio, Chefe Escoteiro. No artigo dizem que vo acabar com nosso Grupo! Onde est este artigo? Ela entregou para ele. Ele sentou em outra poltrona e leu. - Era um comunicado da outra organizao. Informava aos seus scios das providencias que estavam tomando para processarem todos os que no estivessem do lado deles. Claro, um direito sem sombra de duvida. Mas ali estava escrito que eles no podiam ser chamados de escoteiros, de lobinhos, de pioneiros, de chefes, no podiam dizer a promessa Escoteira, estavam proibidos de usar a Lei Escoteira, de comprar livros deles, pois tinham registrado tudo na organizao deles. Que usasse seria processado. E terminava com uma lista dos processos que j foram abertos. Vov Teobaldo se assustou com aquilo. Ele j sabia que isto estava acontecendo. Infelizmente os meninos que entraram naquele e em outros grupos que no eram da organizao, sonharam com o escotismo. Nunca se preocuparam se eram de outra organizao. Achavam que todos eram irmos. Fizeram promessa, as leis que seguiam eram do fundador Baden Powell. Agora diziam que eram dono de tudo! Eles choravam copiosamente. Vov Teobaldo ficou triste. Maninho em lgrimas perguntou E agora Vov! Minha promessa no vale? No posso mais ser chamado Escoteiro? Pensei que era um nome mundial. At pesquisei e vi que tem muitos que o usam. Nas estradas de ferro chamam de locomotiva sozinha de Escoteira. Vov, eu gosto de ser escoteiro. No quero mudar de grupo. Eu amo onde estou. Vov Teobaldo no sabia o que dizer. Landinho o Snior tambm chorava. Vov! ele disse. Tenho sete anos no grupo. Fui lobinho, Escoteiro, e agora snior. Meu passado no vai mais existir? Olhe Vov, o Senhor lembra. Eu sonhava em ir ao Jamboree deles. No deixaram. Mesmo o Senhor indo conversar com o Comissrio deles foram inflexveis. O Senhor lembra-se disto. E olhe Vov como sonhei em ir l e conhecer tanto jovens como eu! O Senhor sabe Vov, ns temos muitos amigos l. O tal comissrio j foi no grupo deles falar que deviam ficar longe de ns. Mas somos da mesma cidade. Do mesmo colgio. Somos amigos Vov, no importa onde estamos! A noite chegava mansa e gostosa e a garoa continuava. Um frio gelado soprava com a brisa noturna. Vov Teobaldo pensava. Mundo difcil. Mundo de expiao e provas? Mundo mutante? Mas eram escoteiros, afinal no dizem que so amigos de todos e irmos dos demais? Ser que vale s para eles? Mas no eram s eles, os outros tambm. Dirigentes que no se entendiam. Ele sabiam que de ambos os lados no haviam adultos anjos. Gastavam fbulas com processos s para ver o outro lado no cho. Vov Teobaldo pensou se Jesus de Nazar viesse a terra para ser o juiz da contenda o que iria resolver? Ia falar que devemos amar a Deus sobre todas as coisas? Ou quem sabe lembrar a palavra do seu pai, que dizia que devemos amar ao nosso prximo como a ns mesmos? Que diria Jesus de Nazar? Vov Teobaldo no

sabia o que dizer. No teve palavras para consolar seus netos. L em cima, entre os homens fortes de cada organizao s havia ataques, defesas, direitos e deveres de ambos os lados. E os jovens? E a sua neta lobinha? O que seria dela? Nunca iria perdoar os adultos que fizeram isto. Afinal culpa dela? Vov Teobaldo dormia. Al. Naquela cadeira em seus sonhos rezava. Rezou muito. Rezou pelos homens, pela sua promessa que eles um dia fizeram. Prometeram pela sua honra, cumprir seus deveres para com Deus e a ptria. Ajudar o prximo em toda e qualquer ocasio e obedecer lei do Escoteiro. A lei. Ora a lei. Seria s deles? Baden Powell doou tudo que fez para eles? Ah! Jesus. Deixe que eles conheam melhor suas palavras. No foi o Senhor quem disse que devamos amar nossos inimigos, que devemos fazer o bem para aqueles que nos odeiam. Que devemos abenoar aqueles que nos amaldioam, rezar por aqueles que nos maltratam. E Jesus s voc mesmo para dizer a eles, pois eu no posso Se algum te bater no rosto, oferea a outra face. Vov Teobaldo acordou na sua varanda altas horas da noite. Todos j haviam ido dormir. No havia mais chuva. No havia mais garoa. Uma brisa gostosa e refrescante soprava em sua face. No cu uma lua enorme. Rechonchuda, iluminando o cu cheio de estrelas. L, muitas delas brilhantes parecia escrever no cu azul, em letras grandes, enormes Pai perdoa-lhes, eles no sabem o que fazem! Vov Teobaldo foi dormir. Sorria. Sabia que tudo se resolveria. Afinal Jesus de Nazar no disse que o que queres que os homens faam por ti, faa igualmente por eles? O amor tudo Ame seus inimigos, faa o bem para aqueles que te odeiam, abenoe aqueles que te amaldioam, reze por aqueles que te maltratam. Se algum te bater no rosto, oferea a outra face. Jesus de Nazar

Lendas que no foram contadas. O simptico e assombroso Coqueiro do Lago dos Anjos. Foi por volta do meio dia que chegamos ao nosso destino. Programa? Quatro dias acampado, construir um escada do sol e fazer um caminho nas nuvens aproveitando as arvores enormes que l existiam. Sol a pino. No houve dvidas para chegar l. A fonte informou que era o local ideal que procurvamos. O local era realmente maravilhoso. Sentamos a beira do Lago dos Anjos. Enorme, guas das cores do cu. Peixes pululavam nas suas guas frescas. O vento formava pequenas ondas que batiam na pequena praia de areia. Uma mata refrescante em volta do lago. Pssaros voavam sobre o lago a procura dos peixes. Um pequeno descanso e o trabalho nos chamou para a montagem do campo. Cada um sabia o que fazer. No ramos mais os pata tenras do passado. Dois com o toldo e o fogo suspenso, dois com as barracas

e dois com as pioneira de campo. Quem terminava ia ajudar os outros. No meio da tarde almoamos. tardinha uma refrescada nas guas do lago. Gostoso. Delicioso quela hora. Olhei o sol se pondo. Sempre fico encantado com o nascer e o por do sol. Para mim os dois maiores espetculos da terra. J assisti em cima de uma grande pedra no cume do pico do Roncador. Uma pequena nuvem deixou que pingos refrescantes cassem em minha face. Quantas e quantas vezes fiquei maravilhado ao ver na Garganta do Rio Selvagem ou nas Escarpas do Menino que Chora e at nas Campinas do Riacho Azul. Mas algum me chamou a ateno. No tinha percebido antes. Bem prximo a ns um coqueiro. Nada de extraordinrio. Folhas verdes espalhadas em seu tronco e cinco lindo cocos redondos. Isto mesmo. Redondos. Quando o sol iluminou suas ltima luzes da tarde gostosa, foi atravs das folhas do coqueiro. Um espetculo! Nunca tinha visto nada igual! Os raios do sol se espalhou por toda orla do lago, e alimentou as arvores como se fossem fogos coloridos. Fiquei ali at o sol se por. Na Patrulha ningum viu ou ningum notou. S eu. Era rotina levantarmos cedo. Antes de o sol nascer. Levantei sonolento e ao abrir a porta da barraca outro espetculo se formava. Agora ao contrrio. O sol que despontava no horizonte, batia sobre as folhas do Coqueiro que ficavam douradas e os cinco cocos pareciam bolas amarelas a piscar luzes coloridas. Aquele Coqueiro era especial. Notei que em suas volta no havia folhas cadas, nem sementes, nem nada. Nem tampouco cocos que amadureceram e no podiam continuar na arvore me. Em sua volta apenas uma grama macia, como se tivesse sido aparada por anjos invisveis. Era um coqueiro que vivia no caminho do sol durante sua passagem para o oeste. Mas a rotina de uma Patrulha Snior no dava folga para amenidades nem imaginaes de um sonhador. No primeiro dia o elevador que nos levaria ao cu ficou pronto. No alto da arvore no segundo dia construmos um Ninho de guia que cabia perfeitamente os seis valentes escoteiros. A passagem nas nuvens demorou mais dois dias. Eram oito as arvores interligadas. Para que? Utilidade? Perguntem aos escoteiros. Eles fazem e s eles entendem. Todas a manhs e todas as tardes eu no perdia o grande espetculo que o sol e o Coqueiro davam naquele fantstico Lago dos Anjos. Lembro que no passado quase no observava as coisas em minha volta. A natureza prodiga. Difcil entender tudo, mas fcil aprender a amar o que se v. A primeira vez aconteceu na volta de uma jornada. Onze anos. Uma parada, deitado com a cabea apoiada na mochila, observei uma formiguinha. Tentava levar tronco acima uma pequena flor. Dava alguns passos e caia. Ficamos ali descansando por vinte minutos. Vinte minutos a formiguinha tentando subir e caindo. Ela no desistia nunca. Partimos sem eu saber se a formiguinha tinha conseguido. Outra vez estava sentado no Penhasco das Pedras das Esmeraldas, quando sem querer avistei um grande gavio negro. Voava aqui e ali. Sempre fazendo o mesmo caminho. Por qu? Porque no se foi para outras paragens? Notei l embaixo, um pequeno Tiziu Azul, escondido em uma fenda do penhasco. Natural. Era agora sua presa. Natureza cruel, mas existe e faz parte da vida.

Em toda minha vida sempre fui um Escoteiro sonhador e observador. Sempre gostei de diferenciar o vo e o som das aves. Sempre sabia onde as borboletas ficavam quando da sua dana do acasalamento. Uma vez fiquei dois dias observando o Joo de Barro a fazer sua casinha. Bati meu recorde quando conseguir chegar a menos de dois metros de um sagui, um mico muito esperto. Quando no acampando pegava minha bicicleta e ia seguir pistas de carros, charretes, bichos do mato nas redondezas do meu bairro. Dizem que devemos ver as coisas no como as vemos, mas tentar dar um pouco de vida no que podemos enxergar. Henry David dizia que em cada pr-do-sol que via, lhe inspirava o desejo de partir para o oeste to distante e belo quando aquele onde o sol sumiu! Ver e imaginar o belo em todas as coisas. Somente o amor, sorri nos olhos da natureza como um espelho. Esses poetas e seus sonhos e suas frases maravilhosas. Prosseguir na vida saber ver ao seu redor. Em tudo que vemos podemos ver o belo ali presente. Nossa mente quem decide por ns. Carl Sagan amante do futuro e da natureza comentou um dia que nossos antepassados viviam do lado de fora. Eles estavam to familiarizados com o cu noturno e as estrelas a piscarem luzes maravilhosas quanto maioria de ns estamos com os nossos programas de televiso favoritos. Belo programa! A natureza no pode acabar. As rvores so nosso pulmo, os rios nosso sangue, o ar nossa respirao e a terra, ah! A terra. Ela nosso corpo. Faa voc de seus olhos, sua mente o que devemos ver e lutar para que seja assim! Afinal voc um escoteiro! Sonhe o quanto quiser! Imagine o quanto puder! Faa da natureza o seu destino. Ns temos este direito!

Lendas de um Chefe Escoteiro. A cano que ela fez para mim! Naquele sbado fui para a reunio meio desanimado. No sei por qu. Muitas reunies parados na sede, nenhuma excurso, jornada ou at um acampamento de fim de semana. Para ser franco eu tambm no mexi uma palha para animar a patrulha. Na sede ningum. Por qu? Sempre nos encontramos ali antes do inicio, falar dos outros, papear, causos no era uma rotina? Fui para o ptio da sede. Ento eu a vi. Fiquei sem fala. Linda! Impossivelmente linda! Uma princesa seria? Desceu das nuvens direto na sede? Ou quem sabe um anjo que Deus mandou para dar novo nimo aos seniores? Olhe meu corao disparou. Minha mente deixava o corpo e se transportava para os mais lindos locais que j tinha ido. Fui Cachoeira do Sonho, fui Montanha Das Borboletas Douradas, fui at no despenhadeiro da Mil Mortes. Joguei-me l de cima. Sabia que no ia morrer.

Foi ento que percebi. L estavam os Seniores. Todos eles. No faltou ningum. Em p encostados na parede da sede, e como eu no tiravam os olhos da linda moa dos cabelos dourados. Cachos despencando como na Cascata do Sol Nascente. Olhos? Azuis! Incrivelmente azuis. Uni-me a eles. No notaram a minha presena. Seus olhos esbugalhados assim como o meu s tinham uma direo. Cludia Alvonaro. Seu corpo? No posso dizer aqui. Mas parecia ter sido esculpido por Michelangelo, ou melhor, Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni. Ah! Una Madonna Escoteira? Quem sabe ali estava sua obra prima da renascena sua bela escultura a Piet. No podia ser. Estvamos em 1958 e no 1498 quando ela foi esculpida. A paixo tomou conta de mim. De mim s no de todos os seniores. Doze rapazes perdidamente apaixonados pela bela Cludia Alvonaro. Mas de onde ela veio? Da cidade no era. Conhecamos todas as beldades. Ela de Vitria. Esprito Santo disse um Snior. Meu Deus! Capixaba e linda assim? Bendita Vitria. Santino o Chefe Snior adentrou ao ptio. Jovem ainda. Vinte e oito anos. Viu-nos e foi at ns cumprimentando. Ningum olhou para ele. Inteligente como todo Chefe Snior descobriu atravs de um Kim imaginrio o motivo de nossa perplexidade e imutabilidade. Ora, ora, parecem que nunca viram uma garota! Ele disse. Sem respostas. Continuvamos mudo. Olhos vidrados na bela Cludia Alvonaro. A mais bela capixaba que o mundo conheceu. E ns os bravos seniores da tropa Anhanguera. Ela estava linda. Uniforme azul, bonezinho de lobo. Saia curtinha (que pernas meu Deus!). Akel? No tinha mais de dezoito anos! No seus bobos disse o Chefe Snior. Ela Assistente. Tem dezessete. Est fazendo uma visita. Vai embora hoje no trem noturno das oito. Vou tambm! Falaram todos ao mesmo tempo. Chefe Santino riu sonoramente. Que vida. Descobre-se o amor de nossas vidas, a nossa alma gmea e ela vai embora assim? E para piorar tudo ela comeou a cantar. Os lobos sentados em crculo e ela cantando uma cano que no conhecia. Voz? Uma cantora nata! Ningum na sede tirava os olhos dela. Maravilhosamente bela e uma voz de harmoniosa, que podia seguramente ser a maior cantora de todos os tempos. O cu que me condene! Que me mate! Que acabe comigo. Estava deverasmente apaixonado. Perdidamente apaixonado. E o pior aconteceu! Ela olhou para mim e deu um sorriso. Senti o corpo tremer. Tive que sentar. Que sorriso! Que voz! Que rosto! Que corpo! No podia ser uma mulher Akel. Era uma deusa trazida do Olimpo. E eis que como se fosse uma chicotada, como se tivesse cado uma pedra enorme em minha cabea, um Chefe novo de uns vinte e cinco anos entrou acompanhado do Chefe do grupo. Vamos embora meu amor! O que? Meu amor? Ento olhei melhor, ele estava com a aliana na esquerda e ela tambm. Marido e mulher. Ela se foi. Deu um xauzinho e disse um Sempre Alerta que nunca mais, nunca mais mesmo e eu juro, irei esquecer. A mulher dos meus sonhos, a mulher que iria ser a minha vida, a minha alma gmea se foi. Se houve reunio de seniores eu no sei. Acho que os outros tambm ficaram como eu no mundo

da lua. Comeamos mudos e terminamos calados. Chefe Santino sorria no alto dos seus vinte e oito anos. Um homem experimentado sabendo o que sentia aqueles garotos que estavam crescendo e aprendendo com a vida. Cludia Alvonaro virou a esquina abraado com seu amado. A tropa acompanhou com os olhos seu ultimo adeus. E eu? Fiquei meses sonhando, pensando at que um dia!... Ateno meus amigos. Preciso ter uma ideia de quantos esto lendo minhas postagens. Se voc leu esta agradeceria muito se desse um clique no curtir. Meu muito obrigado.

Lendas Escoteiras. O delicioso casamento do porquinho Markito, na Floresta Encantada do Seu Mathias. Markito era amigo do Nenm, que era amigo do Jofre, que era amigo do Leialdo, que era amigo do Natalino, que era amigo do Zefiraldo, que era amigo do Denis e que sempre foi amigo do Lel e Geraldinho. Bem, s tinha uma diferena. Markito era um lindo porquinho rajado de cinza com branco. Os demais escoteiros da Patrulha Pica-Pau. Desculpem. Sei que no esto entendo e vou explicar. A Patrulha Pica Pau era da Tropa Escoteira Santos Dumont e esta era do Grupo Escoteiro Leo do Norte. Eram muito amigos at o dia que apareceu Markito. Ningum no deu nada por ele. Estavam em reunio e eis que aparece um porquinho pequeno, branco e cinza e melhor, limpinho. Parecia porco de cinema. No cerimonial de bandeira ele ficou entre o Monitor da Pica-pau e o patrulheiro seis. Eles acharam graa e ningum falou nada. Nem o Chefe da tropa. Durante toda a reunio ele acompanhou a Patrulha. Quando foram para casa pensaram que nunca mais iam ver o porquinho. Engano. No sbado seguinte l estava ele, e no prximo e no prximo. Sem perceberem ele virou um patrulheiro. Formava, quando davam o grito ele grunhia junto. Em pouco tempo se tornou uma celebridade na tropa. Onde morava como se alimentava ningum nunca soube. Fizeram pesquisa na vizinha e nada. Dois meses depois a tropa foi para um acampamento de quatro dias aproveitando um feriado de finados na fazenda do Seu Mathias. Na sada ao subir no nibus l estava o porco. J o haviam apelidado de Markito. Disseram que ele parecia com um Snior namorador do grupo e quando ele soube disto virou bicho. Brigou, berrou, levou o caso para O Conselho de Tropa, para a Corte de Honra e nada. O apelido do porco ficou. Markito deu um salto gigante. Bateram palmas para ele, mas subiu com elegncia os degraus do nibus. O acampamento foi uma festa. Markito era o mximo. No terceiro dia ele sumiu de

manh. L pelas trs da tarde apareceu. Agora com uma companheira. Uma porquinha linda. Dizem que ele falou com o Denis, no acredito nisto, mas o Denis era um bom Escoteiro e no mentia nunca. Chefe, disse o Denis. Markito quer casar. Casar? O Chefe deu boas risadas. Ele quer que eu faa o casamento? Sim Chefe. Se ele quer assim porque no? Diga a ele que amanh no fogo do conselho eu irei celebrar ao casamento dele com a... Qual o nome dela? Fiorentina Chefe. Ele insiste que chamem o Seu Mathias. Ele ser o padrinho. A tropa quando soube caiu na gargalhada. Foi o fogo do conselho mais gostoso que participaram. Em determinado momento o Chefe anunciou o casamento do porco Markito e a porca Fiorentina. Quando iam iniciar um fato inusitado. A arena do fogo se encheu de porcos, cavalos, bois, bezerros, galinhas, galos, cabras, gatos, cachorros e uma passarinhada enorme. No teve jeito. O casamento foi feito. Os escoteiros ficaram boquiabertos. A bicharada comeou a cantar, a danar e at uma Coruja com voz de anjo e acompanhada por um violo tocado pelo Urubu Rei engrandeceu aquele casamento histrico. O fato deveria ficar entre quatro paredes, mas no se sabe como na cidade de Bela Aurora uma semana depois se encheu de reprteres de todos os jornais e TV do pas. Todos queriam conhecer Markito e Fiorentina. Mas eles? Sumiram. Procuraram em todo o lugar. Uma semana depois um jornal do Rio de Janeiro publicou que o casal foi visto em Bzios na praia das Caravelas se revezando na linda e tranquila praia da Tartaruga com suas guas transparentes. S dois meses depois quase no final da reunio, foi que Markito e Florentina apareceram na sede. Ele com a barriga bem grande e Markito sorria de felicidade. Contou para o Denis que no ia voltar mais para a Patrulha Picapau. Construram uma casinha na Ladeira do Porco, prximo a fazenda do Senhor Mathias, e l pretendiam viver suas vidas. Todos desejaram felicidades e assim termina a histria do Porco Markito, sua esposa Fiorentina e seus Filhos Newmar, Freed, Ronaldo, Pel e um porquinho azulado, pequeno bem raqutico que poucos olhavam para ele. Maradona! E acreditem se quiser. Eu conheci Markito e sua famlia. Mas eu sou um contador de histrias e poucos acreditam em mim. Risos. Para terminar, eu digo Boi no vaca, feijo no arroz. E quem quiser que conte dois!

Crnicas de um Chefe Escoteiro. Redescobrindo o escotismo na Patrulha. - Logo aps ter passado para a tropa de Escoteiros, vindo da Alcatia, senti uma grande liberdade na patrulha pr mim escolhida (deixavam que os lobinhos

pudessem escolher suas patrulhas quando fossem fazer a Trilha). O Chefe e dois dos assistentes foram grandes amigos e foi um choque ao ver um monitor dirigir sem a presena deles em diversas ocasies. Era um susto e tanto, pois na Alcatia no tnhamos essa liberdade to aberta! - Ali encontrei muita amizade e companheirismo. Tinha alguma preocupao com a liberdade de todos e me preocupava sempre com que fazamos. Havia sempre o receio se desse errado em alguma atividade. - Nem bem tinha completado trs meses de tropa, e samos pela manh de um domingo (somente a patrulha em uma carta prego) indo de nibus at a periferia da cidade e l nos dirigimos a um sitio de um velho amigo do Grupo, que pr sinal era sempre visitado pr muitos escoteiros. - Na patrulha havia dois cargos em aberto, explico melhor - Todos ns escolhamos nossas responsabilidades na patrulha e caso houvesse mais de um interessado no mesmo cargo, era feito sorteio. Assim, escolhi ser o escriba da Patrulha e no campo sobrou para mim ser o aguadeiro. Tinha facilidades para escrever e como um Pata Tenra achava ser a mais fcil. - Chegamos ao sitio pr volta das 08 e meia da manh. No era bem um sitio, estava mais para uma fazenda. Somente um sitiante na porta de entrada, pois o local quase no era explorado e se mantinha intacto principalmente a mata e pastos. Alguns bois, alguns cavalos, e mais nada. A casa sede era pobre. Trs cmodos sem banheiro. Instalamo-nos e logo procuramos uma arvore para o cerimonial da Bandeira. Deram-me a honra de haste-la. Nosso monitor era calmo e ponderado. Era um autentico lder. Comecei a me acalmar medida que participava das atividades. Os chefes j no faziam falta. Treinamos barraca, machadinha, ns (sem teoria) e corte de lenha, tudo isso pela manh. As 12:40 hs fizemos um lanche. Foi nesta hora que resolvi dar um giro pr conta prpria sem falar com os demais. Atrs da casa havia um arvoredo muito bonito e ouvi um barulho de uma cascata. Dirigi-me at l. No era to perto. Andei um bocado! - No meio das rvores s o barulho me chamava ateno. Enfim avistei um pequeno riacho com guas lmpidas e claras. To claras que se avistava o fundo. Fiquei hipnotizado! - Como era belo tudo aquilo! - Lembrei-me dos diversos contos da Histria da Jngal, contadas pela nossa Akel, nas belas historias de Mowgly junto ao Balu e Bagueera! - Passei um pouco de gua no rosto e vi que era hora de voltar junto a Patrulha. Dei meia volta e senti um calafrio! - No sabia pr onde tinha vindo! Comecei a tremer nos meus 11 anos, agora cheio de dvidas. No sabia se chorava ou se confiava que me achariam facilmente. Optei pr ficar ali. - O tempo passava e eu j estava chorando baixinho. Senti uma mo no meu ombro. Levei um enorme susto. Era o nosso monitor. Graas a Deus! - Voltamos junto e no caminho pensei que meu papelo seria ridicularizado pr todos. Estavam cada um fazendo uma atividade diferente. Nosso monitor pediu a um 2a. Classe para me dar um adestramento de posicionamento e marcao de pontos cardeais para ser usado quando se anda

em pequenos bosques. Ainda no estava na hora de um bom adestramento de bssola e orientao. Tudo deveria fluir naturalmente e na hora certa! - No houve sermo. S um pequeno lembrete pelo monitor e comigo a ss. Sorri agradecido. Nunca mais se repetiu.

A Estrela Verde. 1. Era uma vez Milhes e milhes de estrelas no cu. Havia estrelas de todas as cores: brancas, lilases, prateadas, douradas, vermelhas, azuis. 2. Um dia, elas procuraram o Senhor Deus, Todo-Poderoso, o Senhor Deus do Universo e disseram-lhe: 3. - Senhor Deus, gostaramos de viver na Terra, entre os homens. 4. - Assim ser feito, respondeu Deus. Conservarei todas vocs pequeninas, como so vistas, e podem descer a Terra. 5. Conta-se que naquela noite, houve uma linda chuva de estrelas. Algumas se aninharam nas torres das igrejas, outras foram brincar e correr com os vagalumes, no campo, outras se misturaram aos brinquedos das crianas e a Terra ficou maravilhosamente iluminada. Porm, passado algum tempo, as estrelas resolveram abandonar os homens e voltar para o Cu, deixando a Terra escura e triste. 6. - Por que voltaram? perguntou Deus, medida que elas chegavam ao Cu. 7. - Senhor, no nos foi possvel permanecer na Terra. L existe muita misria, muita desgraa, muita fome, muita violncia, muita guerra, muita maldade e muita doena. 8. E o Senhor lhes disse: 9. - Claro, o lugar real de vocs aqui no Cu. A Terra o lugar do transitrio, daquilo que se passa, do ruim, daquele que cai, daquele que erra, daquele que morre, onde nada perfeito. Aqui no Cu, o lugar da perfeio. O lugar onde tudo imutvel, onde tudo eterno, onde nada padece. 10. Depois de chegarem todas as estrelas e conferindo o seu nmero, Deus falou de novo: 11. - Mas est faltando uma estrela. Perdeu-se no caminho?. 12. Um anjo, que estava perto retrucou: 13. - No, Senhor. Uma estrela resolveu ficar entre os homens. Ela descobriu que seu lugar exatamente onde existe imperfeio, onde h limites, aonde as coisas no vo bem.. 14. - Mas que estrela essa? Voltou Deus a perguntar. 15. - Por coincidncia, Senhor, era a nica estrela dessa cor. 16. - E qual a cor dessa estrela? insistiu Deus. 17. E o anjo disse:

18. - A estrela verde, Senhor. A estrela verde do sentimento de esperana. E quando ento olharam para a Terra, a estrela no estava s. A Terra estava novamente iluminada, porque havia uma estrela verde no corao de cada pessoa. Porque o nico sentimento que o homem tem e Deus no tm a esperana. Deus j conhece o futuro, e a esperana prpria da natureza humana. Prpria daquele que cai, daquele que erra, daquele que no perfeito, daquele que ainda no sabe como ser seu futuro. (retirado da internet. Annimo).

Crnicas Escoteiras. O mundo enlouqueceu! No sabia o que dizer. Era incrvel a notcia. De novo no. No podia ficar tendo pesadelos assim. Pelo amor de Deus! J estou "Velho" demais para isto. A continuar deste jeito, terei que buscar meu velho basto escoteiro no fundo do ba ir para minha varanda e ficar fazendo continncia para os transeuntes. Assim ficaria sem dormir por muitas noites. Melhor ficar de sentinela na minha varanda velando os mosquitos infernais que ter estes pesadelos absurdos! Mas estava l, em letras garrafais nos principais jornais do pas. As televises no sessavam de propagar aos quatros ventos: - Jos Maria Marin, presidente da CBF demite Mano Meneses e toda a Comisso Tcnica. No sobrou ningum. Ele quer tudo novo ento convidou a cpula da UEB para assumir! Pode! Meu Deus! Onde estamos? Perguntado Marin respondeu Temos que mudar. Se for para melhor no sei. Mas os diretores e presidentes da UEB tem muita experincia. J mudaram tudo l na organizao deles. Agora precisamos de um choque de gesto aqui. Quem me aconselhou foi o Pel. At o Ronaldo tambm foi a favor. O Newmar foi contra. Pediu para ser vendido para o Cazaquisto. Claro, sei que haver uma grita geral. O Juca Kifouri e o Tosto esto batendo palmas! Na coluna do Jos Simo ele escreveu Buemba! Buemba! Macaco Simo urgente! O esculhambador-geral da Republica! Direto do planeta da piada pronta: Escoteiros vo ganhar a taa do marreco! Vem a um novo tcnico da seleo Brasileira. Vo escolher entre os diretores e dirigentes das regies escoteiras! A repercusso era enorme. Eliane Cantanhede escreveu na folha dizendo que era o fim do mundo. Clovis Rossi disse Danou-se! E Josias de Souza colocou uma tarja preta na sua coluna diria. O Estado de So Paulo e o Globo montaram barraca em frente sede da UEB em Curitiba. O DEN e o CAN se reuniam em portas fechadas. Em todas as regies os Diretores Regionais queriam participar. E-mails eram enviados a cada cinco minutos. Em Belo Horizonte um time de vrzea botou todos seus jogadores de uniforme de

escoteiros e desfilaram em carro aberto dos bombeiros pela Avenida Afonso Pena. Em Porto Alegre o Grmio e o Internacional se revoltaram. No Rio de Janeiro s o Flamengo concordou. Eles tinham histrias escoteiras para contar. Algum da UEB saiu porta Primeiro ato ele disse Vamos mudar o uniforme da CBF. J temos um novo uniforme e para isto foi feito urgente pesquisas virtuais com muitos brasileiros. Segundo ato, continuou No queremos mais nenhuma taa do passado. Passado para ns no vale agora s o presente. E assim foi anunciando as mudanas. De norte a sul os chefes se dividiam. Em so Paulo a escoteirada foi s ruas gritando Curintians! Um pandemnio. Os Grupos Escoteiros fizeram reunies as pressas. Queriam saber quem era bom de bola entre seus associados. Meu Deus! Acordei gritando! Celia chegou correndo e me trouxe um copo dgua. Melhor veneno mulher. Melhor veneno. No posso ficar sonhando assim! No dormi mais. Peguei meu velho basto de guerra e fiquei no porto da minha casa em posio de sentido e dando Sempre Alerta a todos que passavam!

Lendas escoteiras. As nvoas brancas do Rio Formoso. O nada a profecia da minha partida o tudo sopro que busca aquiescer sou uma cor do arco-iris... Perdida o lume solar na gota de chuva a correr para beijar a nvoa que deita escondida a deleitar-se nos braos do amanhecer Cellina Faz muito, muito tempo quando a nossa Patrulha Snior descobriu as lindas e espetaculares cachoeiras do Rio Formoso. Eram incrivelmente belas. Ainda sem rastros humanos. Pensei comigo que precisava acampar ali. Trs quedas simultneas, um som imperdvel das cataratas caindo sobre as pedras e dando outro salto no espao. Em volta uma floresta ainda inspita. A nvoa se formava a qualquer hora do dia. Uma viso fantstica. Quando vi pela primeira vez eu estava com meus quinze quase entrando nos dezesseis anos. Descobrimos por acaso. Uma jornada at o Serrado do Gavio onde existiam milhares de Folhas Secas. Um terreno vazio, sem rvores e muitas folhas. Era um mistrio saber de onde vinham. Soubemos da histria. Vamos l disse o Romildo. Patrulha Snior, cheia de ardor, procurando aventuras, vontade de enfrentar desafios e nada como descobrir. Est no sangue dos seniores. O caminho iniciava na Mata do Tenente, famosa porque uma tropa do exrcito ficou vinte dias perdidos nela. Saram com dificuldade, fracos e quase morreram. Bem, eles no eram escoteiros como ns. Risos. A mata no era um obstculo e o rio tambm no. Dava para andar bem nas suas margens. Com

quatro horas de viagem, vimos uma bruma cinza que se espraiava no ar. A mata parecia que estava em chamas. Que seria? O ribombar da cachoeira nos fez estremecer. Um espetculo magnifico. Incrivelmente fantstico! A cachoeira formava redemoinhos no ar. Uma nuvem de vapor cobria certas partes da queda dgua. Os pssaros se deleitavam. Voavam de supimpa naqueles redemoinhos e saiam do outro lado molhados como se estivessem sorrindo. No entendemos o porqu da nvoa. O Rio Formoso era todo formado por quedas de diversos tamanhos e na falta delas, as corredeiras davam outro brilho aquele magnfico rio. Quem o batizou deveria ter sonhado muito com coisas belas, pois o Rio era formoso e um grande espetculo. Pretendamos chegar ao Serrado do Gavio ainda naquela tarde e se no parssemos nossa jornada seria cumprida. No entanto o espetculo a cachoeira nos hipnotizava. Sentamos numa pedra prxima e os barulhos das quedas dgua eram to intensos que mal dava para conversarmos. O ribombar das guas batendo nas pedras eram imensos. Romildo levantou e fez o sinal. Mochilas as costas. Fomos em frente. Com tristeza, pois sabamos que na volta o caminho no seria o mesmo. Voltaramos pela Mata do Peixoto j conhecida. Subimos as pedras, olhamos novamente, pois amos embrenhar na mata longe do Rio Formoso. Impossvel prosseguir. Aquela cachoeira nos hipnotizou. Parecia dizer para ns que no podamos deix-la sozinha na noite que estava por vir. Paramos. Um crculo de seis seniores se formou. Ir ou parar? Seis votos a favor, nenhum contra. Todos escolheram e Romildo aceitou. Escolhemos um local prximo primeira queda para pernoitar. No armamos barracas. Iriamos dormir sob as estrelas em pedras lisas que as enchentes do Rio Formoso nos reservaram. Sem sinal de chuva. Vermelho ao sol por, delicia do pastor. A noite chegou um jantarzinho gostoso foi servido pelo nosso cozinheiro. Fumanchu. Comemos ali mesmo olhando para as quedas no lusco fusco da tarde. Um espetculo maravilhoso. Era uma viso dos Deuses. Ficamos horas e horas sem conversar. O barulho era imenso. Cada um de ns meditava as maravilhas que nos so reservadas pelo Mestre. A noite chegou de mansinho, o espetculo maior ainda estava por vir. Uma bruma em forma de nevoa branca foi tomando conta onde estvamos e penetrando na mata calmamente. Ainda mudos. Cada um olhando. Aqui e ali um canto de um gavio procurando seu ninho. Israel acendeu um fogo. Pequeno. As chamas se misturavam com a nvoa branca. Raios vermelhos das chamas ultrapassaram a nevoa. Que espetculo! Um cu colorido como se fossem milhares de arco ris noturnos. Ningum queria falar. Ningum falou em dormir. No sei quanto tempo ali ficamos. Estvamos como encantados por uma feiticeira perdida no tempo naquela nvoa e esquecidos de quem ramos. Acordei de madrugada. Amanhecendo. O rosto molhado com o orvalho que caia da bruma branca que nos fez companhia toda a noite. Cada um foi levantando. Arrumamos nossa tralha. Comemos uns biscoitos de polvilho. Olhamos pela ltima vez aquelas quedas que nos levou sem saber a um paraso perdido daquele rio que chamavam de Formoso. Calados e mochilas as costas nos pomos em marcha. Algum olhou para trs, a nvoa branca se dissipava.

Deu para ver centenas de pssaros se molhando nos respingos da cascata imensa. Durante horas ningum falou. Sempre olhando para trs. Somente o pequeno trovejar ainda se ouvia das quedas que j haviam desaparecido no horizonte. Nunca mais voltei l. Ningum de ns voltou. Passaram uma cerca de arame farpado em tudo. O homem s o homem resolvia quem entra e quem sai. J no havia mais a natureza, pois foi substituda pelos desmandos do ser humano. Aquele que mesmo chegando depois dela, diz arrogantemente: sou o dono da terra, dono da natureza. Quanto ao Serrado do Gavio outra historia. No deixou tantas saudades como a Nvoa branca do Rio Formoso. Oba! Uma histria verdadeira. Saudades...

Crnicas de um Chefe Escoteiro. Boas aes dignificam o carter! Paulo Coelho acertou em cheio ao definir a ajuda ao prximo como ajudar a si mesmo. Diz ele Cuidado com as palavras: elas se transformam em ao. Cuidado com as suas aes: elas se transformam em hbitos. Cuidado com os seus atos: eles moldam seu carter. Cuidado com seu carter: ele controla seu destino. Acredito que tudo comea pela boa ao. Um poeta dizia que as causas no determinam o carter da pessoa, mas apenas a manifestao desse carter, ou seja, as aes. isso mesmo. Tudo na vida se diz que um hbito de comportamento. Ajudar o prximo em toda e qualquer ocasio nos mostra que devemos ajudar e ser bons para os outros. Baden Powell foi firme ao dizer que o dever de um Escoteiro ser til e ajudar o prximo. Simples assim. Acredito que ele se baseou na figura de So Jorge e dos Cavaleiros Medievais. Eles diziam que era prefervel morrer honesto do que viver envergonhado e que o cavalheirismo requer que o jovem seja treinado para que possa realizar servios complexos ou simples com alegria e bondade, e para ao bem do prximo. (vide caf mateiro blog). Desde os primrdios que o escotismo foi implantado no Brasil que a boa ao sinal de escoteiros esto em atividades. Especificar o que as escrituras dizem sobre isto alongar muito. Mas at hoje a ajuda ao prximo considerada como condio importante para qualquer cidado honesto. O Escoteiro aprende desde o primeiro dia que a sua boa ao diria ir fazer parte por toda a sua vida. Afinal um dos artigos da nossa Lei diz que o Escoteiro est sempre alerta para ajudar o prximo e pratica todos os dias uma boa ao. A boa ao acho eu ainda um marketing que nos marca na comunidade. A histria da velhinha atravessando a rua ajudada por escoteiros tem e ter suas verses ampliadas ainda por muito tempo. Eu no duvido e tenho certeza que os escoteiros de todo o mundo inclusive em nosso pas fazem da boa ao uma

obrigao se no diria quem sabe semanal. Acredito tambm que a maioria das tropas devem ter bons programas para incentivar este habito to salutar. Lembro quando Escoteiro que nossa MOEDA DA BOA AO era sagrada. Bolso esquerdo sem fazer. Bolso direito feita. E o N NO LENO? Pontinha com n sem fazer, pontinha sem n feita. Mas no era s isto. Tnhamos uma bandeirola que ficava abaixo do totem. Se chamava BOA AO. Quando a Patrulha ainda no tinha feito sua boa ao coletiva, a bandeirola era amarrada ao basto de cabea para baixo. Para cima sinal que tnhamos feito. Nas inspees dirias no inicio da reunio era escolhido um Escoteiro aleatoriamente para contar sua boa ao do dia. Aplausos silenciosos para as boas aes mixurucas. No nosso programa anual da tropa constava sempre uma boa ao dela. Discutamos em Patrulha o que fazer. A Corte de Honra definia o que. Ir a uma casa de menores abandonados, limpar a rea, brincar com as crianas fazendo jogos que conhecamos (separvamos tambm em Patrulha os meninos) e tinha outra coisas que adorvamos. Ver nosso parque da cidade em perfeito estado. Sim, tnhamos adotado um parque. Al tinha nossa placa. Parque Tropa Escoteira Cruzeiro do Sul. Foi uma poca que nunca esqueci. Lembro do Trofu Boa ao!. Uma bandeirola de couro verde escrito a fogo Primeiro Lugar em boas aes. Que orgulho coloc-la no basto da patrulha. Sei que eram outros tempos e agora nesta poca vertiginosa da modernidade, onde a juventude talvez nem pense nestas coisas, quem sabe poder surgir alguma boa ao virtual. No sei. No sou bom nisto. No sei como fazer boa ao teclando aqui. Mas deve ter chefes ou dirigentes que podem sem sombra de dvida colocar nas etapas escoteiras a BOA AO VIRTUAL. Eles no inventam tantas coisas? Vivendo e aprendendo. Claro que acredito e sem sombra de duvida na formao e no aprendizado Escoteiro que feito l na tropa, e tambm acredito que deve ser uma obrigao nossa fazer com que os escoteiros, escoteiras, seniores e guia sejam iniciados neste arte to salutar. S assim isto poder vir a ser um hbito de comportamento, to til para formar homens e mulheres no que esperamos deles. Honra, carter, tica e trabalho ao prximo. Afinal ajudar os outros faz parte da lei, faz parte da nossa formao escoteira e isto insubstituvel. J diziam os poetas que Aquilo que voc faz, fala mais alto do que aquilo que voc diz. O que voc plantar hoje certamente colher amanh. J um disse um sbio: Plante uma ao e voc colher um hbito. Cultive o hbito e voc desenvolver um carter!. E no esquea, qualquer mudana nos seus escoteiros depende de voc. Se der o exemplo ento voc vai fazer a diferena. Ficar naquela mxima de faam o que eu digo e no faam o que eu fao no prprio e digno de um Chefe Escoteiro. Boas aes. Sim, no duvidem. Sem elas no existe escotismo. Afinal no so elas que todos dizem que dignificam o carter?

Lendas escoteiras. Chefe Falco Malts. Um perfeito cavalheiro.

No sei quem colocou o apelido. Nunca perguntei. Seu nome correto? Nem pensar. Ele no dizia a ningum. Eu s sei que foi um grande amigo enquanto estivemos juntos. Disse-me um dia que fora Chefe do Grupo Escoteiro Estrela Cadente. Nunca tinha ouvido falar. Mas no disto que quero falar sobre ele. Chefe Falco Malts era um cavalheiro. Como se diz hoje uma figura que merece um lugar entre os homens de honra deste pas. Nunca deixou algum mais velho que ele em p no nibus. Ningum sentava sem antes ele arrumar a cadeira e olhem, as chefes adoravam. Pagar despesas? Nem pensar. Se ele no pudesse pagar no iria. Dizia sempre que os homens devem ser bonssimos com as mulheres, pois so elas que carregam o fardo mais pesado. O que eu admirava muito no Chefe Falco Malts era seu modo de falar e dar exemplos aos e escoteiros. Lembro que uma vez estvamos em marcha de estrada indo acampar no Vale da Tartaruga, e caiu um pequeno papel de bala na trilha onde percorramos. Ele parou toda a tropa. Chamou a todos. Disse Sabem que somos invasores? A escoteirada no entendeu nada. Porque Chefe? Disse um deles. Porque a relva, as rvores, os pssaros, o rio e as montanhas estavam aqui antes de ns. Portanto eles so os donos. Vocs so intrusos. Vocs gostariam que algum entrasse em suas casas, sem pedir e jogassem papeis de bala na sala? Ningum disse nada. Um Escoteiro foi at l e pegou o papel e guardou na mochila. E nos acampamentos? Sua inspeo era rigorosa. No perdoava nada. Nem fossa mal tampada. Escoteiros! dizia ele, porque deixar que a abelha os beija flores, os pssaros do cu sintam o mau cheiro? No certo, no mesmo? Um dia estvamos sentados na porta da barraca, um pequeno fogo crepitava e ele comeou a cantar uma linda melodia. Todos acorreram para perto dele. Ele parou e os escoteiros ficaram intrigados. Vou continuar, aguardem. S quero aproveitar a oportunidade para dizer a vocs, que as msicas, canes tudo que existe belo. Sabendo cantar e sabendo ouvir. Se um dia vocs ouvirem uma musica clssica, ou mesmo uma pera em um lugar qualquer sei que no iro gostar. Mas se assistirem a um conserto de uma Orquestra sinfnica ao vivo, ou mesmo a uma pera em um teatro tenho certeza que iro adorar. A Musica para se gostar tem de ter sentimento. Existem msicas e msicas para cada momento da vida. As clssicas relaxam e fazem sonhar, musicas de trilhas sonoras so lindas. As romnticas para quando se tem um grande amor. Temos, continuou ele Que aprender tudo que possamos absorver. As msicas de hoje cantadas ou no desde que no tenham segundas intenes em suas letras, so vlidas. Mas existem outras e um Escoteiro deve estar preparado para descobrir, ouvir e sonhar com todas elas. No o barulho estridente da msica que nos toca o corao. Ouvir boa msica faz parte de ns escoteiros que vivemos nas montanhas acampando. Era assim o Chefe Falco Malts. Dizia sempre que podia que o Escoteiro um cavalheiro, um fidalgo. Lembram-se do que diziam da mulher de Csar? Assim somos ns, ele dizia. No basta mostrar que somos, temos que se portar como tal. Que tal dar a vez a um amigo? Abrir a porta para ele? Que tal dividir

o doce, o farnel, seu cobertor, que tal dividir sua alegria, sua felicidade com quem no a tem? Chefe Falco Malts deixou saudades. Sempre acreditei que todos ns chefes escoteiros devemos ser uma espcie de Chefe Falco Malts. Alguns dos nossos jovens precisam aprender boas maneiras. Claro, funo dos pais. Mas no estamos ali para colaborar? Um dia ele me disse Chefe Osvaldo, hoje muitos se apegam a entender o jovem como ele e a justificar. Certo isto. Mas existem normas, direitos e deveres que so sagrados. Um pai nunca vai dizer ao filho se ele quer ir escola, se ele quer sentar a mesa para as refeies ou se ele pode escolher a hora para dormir. Isto faz parte da famlia. sagrado. Temos de ser assim. Entendi perfeitamente seu recado. No porque os tempos mudaram que as boas maneiras, a educao, o cavalheirismo deve deixar de existir. O respeito aos mais velhos, o respeito ao meio ambiente, o respeito com as pessoas, o direito de um e o de outro nunca devem ser olvidados. Seria bom, seria bom mesmo que existem muitos chefes Falco Malts por a. Acho que tem muitos jovens que se chamam de escoteiros e escoteiras que poderiam ouvir suas palavras e aprender. J faz anos que no vi mais o Chefe Falco Malts. Soube que ele resolveu abrir um Grupo Escoteiro nos garimpos do Suriname. Um pas perdido nas fronteiras do Brasil com a Guiana Francesa. Porque a escolha? Ningum me disse. Quem sabe ele seria um novo Cavaleiro Andante, a dizer naquelas matas e para aqueles garimpeiros rsticos que no existe hora e nem lugar para ser educado e ter honra? Que ele seja feliz. Ensinou-me muito. Tem chefes que so e tem outros que dizem ser. Eu at hoje ainda no me situei. Que Deus me ajude a cumprir minha misso, claro se eu tiver uma para cumprir.

Lendas escoteiras. Tributo a Bandeira do Brasil. Ele me pediu para ficar em of. Pedido feito pedido aceito. Entendi sua posio. Achou que poderia ser ridicularizado pelos amigos do grupo Escoteiro. Mas em sabia que o que ele me dizia era verdade. Minha experincia de pseudoescritor sobre escotismo me mostram situaes inusitadas e ouvir vozes impossveis era comum para mim. Sua narrativa era fantstica. Comeou a me contar de cabea baixa terminou com ela erguida, como se tivesse prestado uma homenagem a um pedao de pano que para alguns no tinham valor, mas para ele era sempre foi sagrado. Vamos l ao seu relato. - Chefe, eu no costumo jurar, tenho palavra e a palavra de Escoteiro para mim vale minha honra. Eu estava na sede Escoteira. Arrumando em um armrio, um emaranhado de cordas que na chegada do acampamento foram deixadas l de qualquer jeito. Qual no foi minha surpresa que vi duas pessoas conversando. Duas pessoas? Pode rir Chefe, mas eram duas Bandeiras do

Brasil. Elas estavam em cima da mesa de reunies. Pelo que eu soube uma seria aposentada, pois estava muito velha e desbotada. Havia mais de 46 anos que estava conosco. Desde os primrdios em que o grupo foi organizado. A outra era nova. Iria substituir velha. A principio achei que estava vendo e ouvindo coisas, mas no. Vou tentar contar o que aconteceu. As duas estavam falando! Isto mesmo, conversando chefe! Duas bandeiras? Poder me dizer. Mas verdade. A velha dizia para a nova: - Bem vinda minha amiga, no sabe como me alegro em conhecer voc. Sabe, estou aqui h 46 anos, quinze dias e cinco horas. Riu baixinho. Mas acho que tenho de aposentar e a Diretoria ento comprou voc. Eu sei que existe uma cerimonia muito bonita, que quando se aposenta uma Bandeira do Brasil, ela tem honras militares, colocada em uma pira que junto com outras queimada. Dizem que l esto vrios batalhes de soldados prestando homenagem. Mas quis os nossos diretores e chefes que eu devia ficar em um belo quadro de vidro na sala de recepo, pois tinham por mim muito amor e muita considerao. A bandeira velha deu um suspiro e continuou Eu tambm amo todos eles. Vou lhe contar minha nova amiga, algumas lindas passagens que tive com eles. Acho que sempre me senti amada. A primeira foi uma lobinha, Ceclia, ela sempre me olhava com carinho. Quando eu era iada ela fazia a saudao com orgulho. No tirava os olhos de mim. Um dia no acantonamento, quando aps o jantar alguns ficaram sem fazer nada, ela me pegou na mesa da Akel e me levou at uma rvore. L com uma cordinha me amarrou e depois me abraou-me e disse: Bandeira do Brasil, eu te amo. Quero que saiba que tenho orgulho de voc. E ento seus olhos se encheram de lgrimas e ela me beijou. Minha amiga, que emoo. Demais para mim. - Depois foi em um acampamento Snior. Eles e as guias foram acampar no Pico do Itatiaia. Procuraram a parte mais alta. Quando chegaram viram que no tinha onde hastear a bandeira. Eram s pedras. A vista era linda, mas se eu no farfalhasse no vento naquelas alturas eles no se sentiriam realizados. Dois seniores desceram quatro quilmetros correndo e acharam uma vara enorme de oito metros. Serra acima levaram o mastro. Entre dois vos de pedras e outras soltas, firmaram o mastro e me hastearam. Que felicidade amiga. Ver o vento me balanando nas alturas foi demais. E a vista? Maravilhosa! Confesso que chorei de novo de emoo. E ento minha amiga, aconteceu um fato que nunca mais esqueci. Aquele sim foi demais para qualquer Bandeira do Brasil. Estava arvorada em um acampamento Escoteiro, e eles jogando um jogo gostoso em volta do campo. Um redemoinho de vento me pegou. Soltou-me da arvore, e fui levado a grandes altitudes. Eles viram e o Chefe gritou: - nossa bandeira! Salvem-na, no deixem que o vento a leve! E a escoteirada correu atrs de mim. O ribombar de troves, raios enormes comearam a cair em redor. Outro vento enorme e a chuva me pegou de jeito. Mas l embaixo estavam os valorosos escoteiros. No desistiam. Sempre atrs de mim. - Vi um escoteiro cair, sua perna sangrando e ele no desistiu. Vi outro molhado, tossindo a chuva caindo aos borbotes e ele no parava. Molhada, cai em cima de uma rvore altssima. Ningum desistiu. Um escoteirinho lpido subiu a

rvore com dificuldade, pois chovendo e os galhos e os troncos molhados dificultavam. Ele me alcanou. Abraou-me. Beijou-me. Colocou-me embaixo de sua camisa. Que honra minha amiga, como eles me amavam. Foi uma festa quando cheguei ao acampamento. Todos cantavam com alegria e o Chefe pediu que ficassem em posio de sentido e cantaram com orgulho o meu hino, o hino da Bandeira do Brasil! Nunca esqueci aquele dia. Houve centenas deles minha amiga. Centenas. Agora estou aposentando. Sua vez vai chegar, vais ver como os escoteiros amam sua ptria, sua bandeira. Vais ver quando for hasteada e o vento lhe acariciar e todos vendo voc farfalhando no ar, irs sentir orgulho. De saber como amada por eles! O meu narrador parou. Estava chorando. De orgulho claro pelo que viu e ouviu. E encerrou dizendo Sabe Chefe, era eu que iria fechar a sede naquela noite. Fui at as duas bandeiras. Abracei as duas. Apertei em meu corao. Coloquei ambas na mesa desta vez aberta. Fiquei em posio de sentido. Cantei o hino da Bandeira, disse Sempre Alerta as duas com orgulho. Dobrei as duas com as honras que ela mereciam e fui embora. Hoje a velha bandeira mora em um belo quadro de vidro na sede. Todo dia que vou l, fico em posio de sentido olho para ela, e com amor eu digo. Amo voc Bandeira do Brasil. Fao minha saudao Escoteira e bem alto digo Sempre Alerta! Vi que ele no diria mais nada. Sua voz estava embargada de emoo. Dei nele um abrao e disse Meu jovem amigo parabns. Voc como eu, como todos ns escoteiros. Temos amor a nossa ptria. A nossa bandeira. Sei como se sente. Sei como sente todos escoteiros de todo o mundo que amam sua bandeira. Aceite meu abrao com amor e orgulho em te conhecer. Ele saiu e fiquei pensando. Pensei muito. Difcil explicar a emoo que sentimos no hastear e arriar a bandeira do Brasil. Ainda bem que temos isto. Amar a bandeira amar nossa nao. nestas horas que digo e repito, me orgulho de ser Escoteiro. Serei Escoteiro para sempre!

Lendas escoteiras. A rebelio dos bichos. Tudo aconteceu na primavera daquele ano. Foi uma surpresa, para mim e confesso que fiquei surpreso. Muito. Vi que a sede Escoteira sem ningum saber ou ser informado, se tornou uma selva de tantos bichos, aves e peixes. Como eles respiravam no me pergunte. Vieram de todas as partes do Brasil. Claro um representante de cada espcie. Desculpe. Nada de Arca de No no. O motivo era outro. Em cada grupo da fauna brasileira foi escolhido o mais douto, o mais sbio e o mais educado. Afinal entre eles a tica e o respeito existe. Eles pretendiam mostrar sua civilidade aos escoteiros de todo pais. Era uma revolta surda, mas educada, ficaram calados por muito tempo, mas tinham de tomar uma providencia. No me deixaram entrar. Aqui humanos no entram. Tudo bem pensei. Fiquei na janela assistindo. Que organizao eles tinham.

Chegavam papagaios, corujas, cisnes de todas as cores, gavio-carij, guias, sem contar as duas onas, uma pintada e a outra parda. Eram centenas deles. O salo nobre ficou lotado. A Coruja-buraqueira foi escolhida para presidir os trabalhos. Pedindo a palavra ela comeou Meus amigos, vocs sabem que aqui foram convidados somente s espcies da fauna brasileira. Ainda ontem o Quatipuru veio reclamar para mim que nunca o escolheram como nome de Patrulha. O mesmo aconteceu com o Tucunar, O Sagui de tufo branco e outras centenas deles. Resolvi fazer uma pesquisa. Para mim fcil. Sei que difcil para os dirigentes escoteiros, mas deu para ver que os jovens hoje s querem nomes pomposos, se possveis retirados da fauna americana ou europeia. No vou citar aqui os nomes esquisitos em ingls que eles colocam. At astronautas eu j vi. Um absurdo. E olhem meus amigos, tenho conhecidos nestes pases e me disseram que l ningum liga para nossa fauna. Eles so autnticos. Uma palma estrondosa repicou no salo nobre. - Continuou a Coruja Buraqueira. Temos que tomar uma providencia. Afinal se os escoteiros e seniores no nos escolhem, melhor que faamos uma revoluo e quando eles forem acampar, iremos gritar infernizar a vida deles. As tais patrulhas de nomes esquisitos no tero mais nosso apoio. Uma cobra venenosa, a Surucucu estava presente Riu baixinho Deixa comigo dona Coruja. Eu e a Cascavel do chocalho negro, damos umas mordidas e resolvemos logo este problema. Todos riram. No! No assim que vamos resolver. Precisamos estudar uma frmula de mostrar o que somos, mas educadamente. Olhem, s para ter uma ideia, vou convidar para um desfile aqui no palco alguns animais, aves e peixes que nunca foram lembrados pelos escoteiros. Que faam uma fila e vo passando em minha frente dizendo seu nome: Comeou o desfile. Ali estavam o Veado Catingueiro, o Quatipuru, a Cotia, O Touro Nelore, A raposa verde, a Jaguatirica, a Doninha amaznica, O Zorrilho, a Baleia Azul, O Golfinho, o Boto cor de Rosa, o Ourio Preto, o Puma do Pantanal, o Macaco Prego, o Macuco, a Codorna Amarela, o Aracu do Pantanal, o Mergulho Caador, o Maarico, o peixe Tucunar, a Trara, O Piau, a Jacupemba, o Sagui de Tufo Branco, o Prncipe Negro, o Bugio, A Ema, a Iguana, a Gara Branca, o Boto Vermelho, o Tracaj, o Canrio da Terra, o Tatu Peba, o Gaivoto, o Mutum de Penacho, o Cervo do Pantanal, o Jacar Au, o Moc, o Tuiui, o Tucano, o Quati, O Beija Flor, o Tamandu Bandeira, o Martim Pescador, O Lobo Guar, a Ariranha, a Arara Azul... Um desfile enorme. Todos tristes. Atrs deles tinham mais de cem animais e aves para desfilar. Uma tristeza enorme no salo. Foi o Beija Flor dourado quem tomou da palavra Amigos e Amigas pretendo nunca mais beber do caldo aucarado que eles pem para mim nos campos de patrulhas. A Coruja Buraqueira concordou e disse: Eles no me vero mais nos galhos prximos aos Fogos de Conselho. O Canrio Belga falou l no fundo do salo: - Eles nunca mais me vero cantar nas madrugadas. Era uma choradeira s. Vamos tomar uma posio rosnou alto a Ona Pintada.

Vamos dar uma surra neles quando forem acampar! Nada disto, replicou a Coruja Buraqueira. Vamos fazer um abaixo assinado. Quando o prximo sbado chegar, entregaremos uma copia a cada Patrulha que for a reunio. Cada um de ns que tem asas fica responsvel. E assim foi feito. Levaram para as patrulhas, o abaixo assinado por mais de 5.000 membros da fauna Brasileira. L escreveram suas insatisfaes com a escolha de nomes estrangeiros para as patrulhas e porque no se lembraram deles. Fui embora e eles nem notaram. No sei no que deu. Mas acredito que daqui para frente, muitas Patrulhas novas iro pesquisar mais a Flora e a Fauna Brasileira. Elas sabero dar valor ao que nosso, pois se no fizermos isto desde criana, ningum l fora vai fazer por ns. E olhe, no participaram desta reunio nossos heris, nossos poetas, nossos homens que um dia fizeram desta nao um pas hoje respeitado. Quem sabe um dia eles iro tambm se reunir e dizer o que pensam?

A Ampulheta do tempo. Era uma vez... O ltimo natal. O tempo passa. mais que o relgio que marca as horas. Inexoravelmente. Algumas vezes deixa marcas, tristezas e alegrias, outras no. Marcas que ficam gravados na memria e at em nosso prprio modo de viver. Um dia, a beira de uma estrada com uma reta infindvel eu comecei a notar a passagem dos carros em alta velocidade. At aonde a vista alcanava eu via um automvel pequenino que se aproximava e seu tamanho ia aumentando. E quando eu ia ver quem estava dentro dele ele passava to rpido que no podia ver. Em grande velocidade ele em alguns segundos desaparecia na estrada sem fim. E assim veio outro e mais outro. Significava o que? Quem sabe a medio do tempo? Mas possvel medir o tempo? Dizem que ele passa to rpido que nem percebemos. Sei que no se pode medir o tempo. Filosofando seria possvel dizer que ao nascermos algum virou a ampulheta do tempo e nossa vida comeou a ser contada. Tic tac, tic, tac. Claro, um dia est ampulheta ir ficar vazia. Durante sua jornada, ela vai marcando o seu tempo. Na primeira dcada estvamos a descobrir coisas. Aprender o certo e o errado. Brincar, sonhar, coisas de meninos e meninas. Na segunda dcada a puberdade. O mundo fcil de alcanar. O primeiro amor, a descoberta dos sonhos. Vem terceira dcada. A escolha de uma cara metade para fazerem uma vida juntos para sempre. A faculdade, o emprego, os negcios, os sonhos deliciosos de um futuro promissor. H quarta dcada comea a assustar. Nem tudo deu certo. Muitos dos sonhos no se realizaram. O poder, a riqueza, o ser feliz para sempre se tornou um conhecimento pragmtico do mundo que ficou para trs. H quinta dcada, a autoanlise. Valeu? Esqueci alguma coisa? Era o que queria? E aparece assim de repente h sexta dcada. A ampulheta est se exaurindo. hora de pensar em tudo que realizou. Ser que fui feliz? Valeu a pena? O corpo

j no o mesmo. Os remdios vo aumentando. Agora aquela preocupao com os ambulatrios e prontos socorros da vida. H stima dcada a ampulheta est quase no fim. Passa-se a olhar para ela com mais carinho. Agora sempre se tem um sorriso verdadeiro. J no h mais chance de riqueza, poder, planos. Agora contar os carros nas estradas da vida e ver que eles passam to rpidos que o tempo no pode ser notado. Lembro-me do meu ltimo natal. A mesa cheia de filhos, netos, genros, noras, sogra, cunhado. Alegria s. Olhava para todos e pensava que quando viraram a minha ampulheta nada daquilo existia. Era eu somente. A ampulheta no parou, produziu tudo aquilo que estava em volta de minha mesa. Era como um leque que aos poucos se abria. Sorria, pois apesar de tudo, de sonhos que no se realizaram, das fantasias esquecidas no fundo de um bornal, havia um que de felicidade. O natal foi passando, pois assim passam todas as coisas do tempo. Esperar o prximo. Sem planos. Sem sonhos. Vivendo o dia como ele . Fechar os olhos para no ver o automvel sumir na estrada do tempo. Fechar a mente para no ver e sentir o ltimo gro de areia da ampulheta da vida. Um novo natal est chegando. Mais um que o tempo vai me presentear. E quantos natais eu tenho? No sei e no importa. Sejam bem vindos todos que vierem. Aproveitar os minutos e segundos que ainda posso ter. Ver meus familiares reunidos, barulhos, sorrisos, gargalhadas, um pedao do pobre do peru que se sacrificou para dar alegria aos gulosos da vida. Olhar a cerveja e aquele usque com olhos brilhantes e pensar como eram deliciosos no tempo que um dia se foi. Em Eclesiastes, eu li um dia que Tudo tem o seu tempo determinado e h tempo para todo propsito debaixo do cu: O tempo de nascer e tempo de morrer. Tempo de chorar e tempo de rir. Tempo de Abraar e tempo de afastar-se. Tempo de amar e tempo de aborrecer. Tempo de guerra e tempo de paz. Melhor seria copiar Charles Darwin que foi verdadeiro em suas palavras O homem que tem coragem de desperdiar uma hora do seu tempo no descobriu o valor da vida. E assim, de natal em natal em vou ficar a pensar quando ser meu ltimo. Melhor mesmo no se preocupar. Cada natal vivo natal alegre e assim ainda sonho em viver muitos natais nesta marcha implacvel e inflexvel da Ampulheta do Tempo!

Conversa ao p do fogo. Como seria o verdadeiro Escoteiro? Sempre me perguntam se eu conheo o verdadeiro Escoteiro. Aquele que tem Esprito Escoteiro, que voc v seu corao pulsando de amor, que sabe do seu ideal de ajudar o prximo sem pensar em s mesmo. No fcil responder. Difcil mesmo. Cada um tem sua maneira de ver e saber quando ali em sua frente tem um com todas as qualidades que se espera de um bom ou de uma boa

Escoteira. Mas ao meu modo, eu costumo reconhecer aqueles que se sobressaem. Dificilmente comento com algum. Dizem que eles tm preso dentro de s, o escotismo na mente, na alma e no corao. Como a cano de BP que diz que ele est sempre na mente, junto de mim e no meu corao estar. Mas quais seriam os verdadeiros sentimentos de um escoteiro? Quem sabe quando ela ou ele olha para voc e diz: - Chefe est ouvindo o ressonar da selva? Est sentindo o seu perfume? E o cheiro da terra Chefe, est sentindo? E ele continua: - Chefe veja este vale verdejante, olhe os pssaros fazendo acrobacia no ar. Veja no alto daquela colina aquela rvore florida e observe quantos beija flores l esto a beber o seu nctar. Chefe olhe o vento, veja como ele faz a relva balanar como se fosse uma grande onda do mar. Chefe observe como a aragem que toca as flores e fazem as plantas sorrirem e a nos traz tantas felicidades. Sentimentos. Doces sentimentos. Quando um dia ele olhou para voc e sorriu dizendo Chefe ponha seus ps na agua fria deste regato, sinta seu corpo vibrar com o que a natureza nos oferece. Chefe, olhe os peixinhos danando e cantando como se fossem um Balet se apresentando na primavera do amor. Mas seria assim um escoteiro? Amante da natureza? Seria aquele que diz a voc Chefe veja os pssaros no cu, veja o seu lindo revoar! E ali Chefe, veja naquele galho a Gaivota que veio do sul. E l mais ao longe o Cisne Branco que vagueia nas ondas do mar. Fico pensando. Seria isto mesmo? Seria exigir muito se um dia pudssemos ver em seus olhos, aquele brilho quando a fogueira acesa? Em saber que foi ele quem fez o fogo e quando acendeu sorriu como um iniciante? Chefe meu amigo. No me cobre tanto. Nem sei mais o que digo. Mas voc sabe do sorriso, da maneira de cantar, da maneira de brincar e do seu jeito prprio a tratar os seus irmos. Por Deus! Acha que exijo muito? certo? Pensar que ele proceda dentro dos princpios da lei? Mas este no seria o verdadeiro Escoteiro ou Escoteira? Aquele que demostra respeito, que quando cumprimenta a todos com seu Sempre Alerta tem um sorriso verdadeiro nos lbios? Seria este o Escoteiro ou a Escoteira perfeita? Chefe, precisamos meditar. A perfeio s Deus. Mas que seria bom seria. Ver quando ele respeita e respeitado, ver que ele sabe o que ser disciplinado e quando ele disser Palavra de Escoteiro, voc pode acreditar. No sei se respondi sua pergunta meu caro chefe ou se coloquei uma dvida. Sei que est pensando que exigir muito. Mas pense bem, nada se faz em um dia. O trabalho Chefe amigo seu. Voc quem vai formar ensinar e mostrar ao jovem da sua sesso o que se pretende dele ali e no futuro. Eu meu caro Chefe, posso lhe garantir e dificilmente posso me enganar. Se acreditarmos em um escotismo puro nos seus pensamentos nas suas palavras e nas suas aes, sabemos s de olhar, de ver um sorriso, dos seus olhos faiscantes e sua maneira de conversar que estamos diante de um verdadeiro Escoteiro.

Um dia me disseram que o verdadeiro Escoteiro j nasce assim. Engano. Tudo um hbito de comportamento. E voc, s voc o nico responsvel para fazer deste rapaz e desta moa, o verdadeiro Escoteiro!

Histrias que o mundo esqueceu. A justia a Deus pertence! Chefe Billy era assistente de tropa Escoteira. Novo ainda, vinte e trs anos. Procurou o grupo h dois anos atrs dizendo estar interessado em participar, mas nunca fora Escoteiro. Passou por uma bateria de perguntas e preencheu todos os formulrios que lhe deram. Quase desistiu. Sentiu que ali era ele quem precisava participar e no o contrrio. Chefe Billy era calado. Andava de cabea baixa. Nunca fixava ningum com os olhos. Sua famlia no era da cidade. Conseguiu um emprego na Usina Siderrgica e trabalhava como Operador de Forno. Uma funo no muito gratificante. Alugou um quartinho nos fundos da casa de um casal de velhos e assim era sua vida fora do grupo. Era bem quisto pelos jovens. Os chefes tinham um certo receio. No o conheciam. Ele no se enturmava. Apesar do seu jeito esquisito alguns tinham nele uma grande admirao e respeito. Pouco falava de si e nem todos os convites extra grupo ele aceitava. Fez dois cursos de formao. Estava dando duro para conseguir sua Insgnia de Madeira. Naquele sbado l estavam todas as sesses. Uma algazarra gostosa, alegria juvenil e infantil prpria dos escoteiros antes do inicio das atividades. Foi dado o toque de chamada e todos acorreram para a grande ferradura. Iria ser dado o inicio do Cerimonial de Bandeira. Todos formados. Um carro da policia parou na porta da sede. Desceram dois policiais e um investigador. Quem o Billy? Sou eu ele disse. Voc est preso. Por qu? O Delegado vai dizer. E cale a boca. Aqui no filme americano onde falamos de seus direitos. Puseram a algema nele e o arrastaram at o camburo. Estava de uniforme. Seu chapu to querido caiu ao cho. Foi Lany uma lobinha quem o pegou. O grupo todo estarrecido. Fazer o que? Continuar com a reunio era melhor. Foi um sbado dos piores dias de reunio naquele grupo escoteiro. Nenhum Chefe foi delegacia saber ou se informar. Ningum o procurou para saber o que lhe imputavam. Os jornais do dia seguinte e as emissoras de programas sensacionalistas comentaram o que tinha acontecido. Billy tinha estuprado e esganado um menino de oito anos. O jovem foi encontrado morto em um terreno baldio. Duas testemunhas juraram t-lo visto passando perto no dia. Nada mais que isto. O bairro inteiro ficou a porta da delegacia. Os pais do menino chorosos pediam vingana. Tentaram invadir, mas foram impedidos. Billy no recebeu visitas de nenhum membro do escotismo. Soube que abriram um processo e ele foi exonerado e expulso. Culpado por suspeita. Lany, Alfredinho e Tom no acreditavam em nada daquilo. Lany era lobinha, Alfredinho e Tom eram escoteiros que passaram para a tropa aquele ano. Tentaram visit-lo, mas no

conseguiram. Impossvel menor entrar no presdio. Combinaram de enviar toda semana uma carta dizendo das saudades e que o amavam muito. Billy teve um julgamento rpido. Condenado a vinte e oito anos de priso sem direito a Sursis. Foi enviado para a Penitenciaria Estadual na prpria cidade. Alguns prisioneiros sabendo do acontecido o seviciaram e quase morreu. A vingana no parou por a. Pegaram de um prisioneiro que tinha o HIV um pouco de sangue em uma seringa velha e enferrujada e aplicaram em Billy. Ele nunca gritou e nem reclamou. Sabia que nada iria reverter s decises que tomaram contra ele. Acreditava em Deus. Era espiritualista. Tinha um motivo para tudo aquilo. Ele sabia que foi ele mesmo quem escolheu aquele caminho. S duas coisas o alegravam na priso. Sua f em Deus e as cartas de Lany, Alfredinho e Tom. Quando as recebia chorava. Uma angustia o invadia. Tremia e rezava pedindo a Deus que lhe desse fora. Neste interim ningum do grupo falava mais nele. Era carta fora do baralho. Perderam muitas crianas por causa dele. Os pais tinham medo. Melhor colocar uma pedra no acontecido. Dois anos depois, prenderam um vaqueiro de nome Lencio. Algum o viu arrastando uma criana para um terreno baldio. Foi preso. Confessou ter feito isto com nove meninos inclusive riu quando disse que foi ele que matou o menino que disseram ser o Billy o culpado. Somente cinco meses depois Billy recebeu o alvar de soltura. Um advogado ofereceu em troca de trinta por cento entrar com um processo na justia. Ele agradeceu. O dinheiro seria maldito. No iria pagar sua passagem para ao cu. J estava debilitado pelo HIV. Recebia os remdios do governo, mas no estavam ajudando muito. Ao sair foi abraado por muitos amigos que fez ali na priso. Alguns choravam. Recebeu seu uniforme Escoteiro que ele abraou com carinho. No havia mais motivo para ficar na cidade. Foi at a estao ferroviria. Perguntou ao bilheteiro - At aonde iria com uma passagem de cinquenta reais? O nico dinheiro que devolveram para ele. O trem chegou estao. Quando ia subir trs jovens correram para abra-lo. Estavam de uniforme. Eram Lany, Alfredinho e Tom, todos crescidos. Billy chorou. Pensou em no abra-los. Estava magro, debilitado, sua pele manchada em vrios lugares do corpo. Eles no lhe deram chance. Abraos apertados. Lany o beijou no rosto varias vezes. Entregou para ele o seu chapu Escoteiro que ela guardou todos estes anos com carinho. O apito do condutor avisando da partida. Os que chegavam e saiam estavam assustados com aquela cena. Um homem feio, doente, sendo abraado e beijado por uma Escoteira e dois escoteiros e todos chorando. Nunca viram nada igual. Billy pegou o trem e na janela despediu deles. Disse que escreveria. Billy no escreveu. Morreu seis meses depois como indigente em um canto cheio de lixo debaixo de um viaduto em Vitria e interessante. Estava com seu uniforme Escoteiro e no colo o seu chapu de trs bicos. Isto foi o que me contaram. Justia? S Deus sabe como fazer justia. Para cada ato, para cada ao a uma reao. O passado no perdoado facilmente. O perdo existe, mas cada um tem de fazer para merecer. A justia a Deus pertence!.

E lembrem-se, histrias so histrias, nada mais que histrias!

Lendas Escoteiras. O Papagaio verde esmeralda do Capito Lockhart. Calma. Nada a ver com o filme de Anthony Mann, Um Certo Capito Lockhart. Mas Dona Etelvina assistiu ao filme e batizou seu filho como Capito Lockhart. A princpio o tabelio se recusou, mas Dona Etelvina foi dura e enftica. Tem de ser este ou no ser nenhum. Capito Lockhart ficou conhecido na cidade de Pedra Roxa. A principio s curiosidade depois ningum ligava mais. Na escola era bom aluno e todos os colegas gostavam dele por ser prestativo e educado. Capito Lockhart tinha duas paixes. Papagaios (pipas) e escotismo. Quando fez sete anos l estava ele se matriculando como lobinho. No sabia que precisa de sua me para isto. Ela foi. Seu pai foi pracinha e morreu na Batalha de Monte Castelo quando ele ainda estava hibernando na barriga de sua me. Capito Lockhart fazia papagaios como ningum. Nos campeonatos anuais na cidade de Pedra Roxa quando no ganhava ficava em segundo. Cada ano mais ele se aprimorava. Sabia escolher o melhor bambu para as varetas, ele mesmo fazia a cola em sua casa usando limo galego, comprou uma tesoura sem ponta e usava sua rgua e caneta da escola. Na Casa Ultimato, onde vendiam papeis de seda ela ficava horas escolhendo. Sempre tinha cinco ou seis carreteis de linha dez de reserva. Capito Lockhart chegava da escola, fazia suas tarefas e a tarde ia at a colina do Morto Enterrado. L soltava seus papagaios analisando o peso, a fora do vento, as linhadas, tudo para que no perdesse nada na hora de um bom campeonato. Capito Lockhart era da Patrulha Corvo. Seu Monitor Nininho era meio mando, mas todos gostavam dele. As quintas feiras a Patrulha se reunia na sede, onde eram passadas as provas para cada um. A Patrulha tinha dois primeiras classes, trs segundas (inclusive Capito Lockhart) e dois novios. Ziri era um deles. Quiseram apelida-lo de Polegar, mas algum achou melhor Ziri. Esqueceram que seria Siri e no Ziri. Mas apelido posto s sai morto. Aos sbados o Chefe Martinho no dava folga. Cobrava dos Monitores, cobrava dos subs, cobrava de todo mundo. Capito Lockhart amava tudo aquilo. A tropa vivia acampando, fazendo excurses, e varias vezes ao ano ele o Chefe deixava as Patrulhas acamparem sozinhas, principalmente em acampamentos volantes bem planejados. Em novembro a prefeitura estava programado a primeira Olimpada do Papagaio de Pedra Roxa. Capito Lockhart soube que o premio seria de dois mil reais. Precisava ganhar este prmio. Prometera dar o uniforme e o equipamento de campo ao Ziri, pois ele estava com cinco meses e ainda no conseguiu ter o suficiente para fazer e comprar. Promessa promessa e o Capito Lockhart no

podia fraquejar. O dia chegou. Capito Lockhart sabia das regras das Olimpadas. Usar dois carreteis de linha dez com cento e cinquenta metros cada um, o papagaio tinha de puxar toda a linha, (os fiscais iriam olhar na manivela), ficar duas horas no ar e ganhava em primeiro lugar aquela com mais pingos de chuva no papel de seda. Tudo bem. No era segredo para o Capito Lockhart. O dia chegou. A cidade em peso l. Mais de duzentos competidores. Capito Lockhart fizera uma pipa de bom tamanho, mais ou menos oitenta por quarenta, passara quinze dias preparando as varetas, cortou o papel de seda harmoniosamente sem pontas e para montar seu papagaio ficou dois dias ali debruado na sua mesinha que sua me lhe dera de presente. s nove da manh se encontrou com a Patrulha. Estavam todos uniformizados. Varias outras patrulhas, lobinhos, seniores e os pioneiros tambm l estavam. O Chefe Martinho tinha orgulho do Capito Lockhart. Adorava o menino. Ele era vivo e namorava dona Etelvina a me do Capito Lockhart. Nada contra. Eram um belo casal e juntos tambm foram assistir a vitria ou derrota do Capito Lockhart. No vou entrar em detalhes, mas foi uma disputa renhida. No final ficaram oito competidores. Passado s duas horas foi dado ordem de descer os papagaios. Um por um foram chegado. O povo todo se amontoando para ver qual estava marcado com pingos de chuva. A do Capito Lockhart tinha oito pingos. A do Murilo da Birosca do Pedro Mocho (bar) tinha oito tambm. E agora? Mais trinta minutos no ar. Ento aps veriam o provvel vencedor. No podia haver empates. Foi emocionante! Muito mesmo. Um frenesi no ar e em terra. Uma torcida vibrante. Os escoteiros pulando e gritando. Terminou o tempo. As pipas desceram. Capito Lockhart ganhou com mais dois pingos. A do Murilo s um. Foi carregado entre a multido. No sbado no cerimonial de bandeira, o Chefe Martinho fez uma entrega de um certificado de mrito ao Capito Lockhart no s por ter representado o grupo nas olimpadas, como tambm pelo seu belo gesto em dar ao Escoteiro Ziri um uniforme completo, um cantil, uma faca Escoteira, uma bssola e um cabo tranado de dez metros. A tropa saiu de forma. Os sniores tambm. Os lobinhos se juntaram a algazarra. Abraavam e beijavam o Capito Lockhart. Uma apoteose que nunca tinham visto nada igual. Soube que meses depois o Chefe Martinho casou com dona Etelvina. Dizem que viveram felizes para sempre e isto no sei, mas soube por fontes fidedignas que o Capito Lockhart foi reconhecido como o maior soltador de papagaios do Brasil e esteve em diversos campeonatos no estrangeiro. Que ele seja feliz com sua gostosa habilidade. E quem quiser que conte dois! Risos.

Lendas Escoteiras. Lepitop, o Gato Escoteiro. Ningum sabia sua origem e de onde ele tinha vindo. Nem tampouco onde morava. H anos todas as reunies l estava o Lepitop. Quem lhe deu este

nome tambm no tinham a menor ideia. A nica certeza era que impreterivelmente quando o primeiro Escoteiro ou o primeiro lobinho chegasse sede l estava Lepitop. Interessante era que se algum Chefe fosse fazer algum servio na sede e no houvesse Escoteiro presente, Lepitop no aparecia. Porque no gostava de adultos no sei explicar. Lepitop tinha um amor todo especial por Narinha da Matilha Rosa e Jarilson da Patrulha Raposa. Talvez porque eles descobriram que ele adorava arroz misturado com carne moda. Mas foi Narinha quem primeiro observou que ele s comia em prato de loua. Luxo? O Gato Lepitop tinha pelos longos com manchas brancas e incrveis olhos azuis. Um s. O outro era coberto por uma mancha branca. Muitos visitantes que iam ao grupo eram surpreendidos pelo Gato Lepitop. Sua fama percorreu toda cidade de Luar Azul. Quando a reunio comeava com a chamada geral para o cerimonial de bandeira Lepitot tambm se formava sempre ao lado do responsvel pela cerimonia. Agora ningum ria, mas quando a bandeira subia farfalhando com o vento, ele ficava olhando e no tirava os olhos enquanto ela no alcanasse o topo. Depois corria para junto da Patrulha Raposa e durante o grito ele ficava no meio de todos, e claro, sempre no final ouviam seu miau. Por favor, no riam. pura verdade. Eu vi com meus olhos que a terra a de comer. Lepitop no perdia nada. Da Patrulha corria para a Alcatia para ver se conseguia alcanar o grande uivo. Quando a Akel abaixava os braos ele ao seu lado abaixava tambm. Quando os lobinhos pulando e gritando o melhor, l ia Lepitop pulando tambm. Sempre com seu miau no final. Em toda a reunio Lepitop corria de sesso em sesso. Quando a reunio terminava, Narinha e Jarilson corriam at a sede e l colocavam sua comida. O arroz com carne moda. Lepitop ronronava, passava de leve o rabinho na perna de ambos e comia com gosto. Uma vez resolveram descobrir onde ele morava. Claro que perguntaram por toda a vizinha, mas ningum soube informar. Narinha e Jarilson sempre se preocuparam com suas refeies aos sbados e durante a semana? No acreditavam que ele aguentasse tanto tempo sem comer. O Gato Lepitop comeou a ficar famoso. O Comissrio do Distrito soube e foi l visitar. O Diretor Regional tambm. Da UEB no veio ningum. Quem sabe muito longe para viajar at Luar Azul. At o Redator Chefe do Jornal Capacete de Ouro foi l no grupo entrevistar Lepitop. Disseram a ele que o gato falava. Risos. Um dia o pior aconteceu. O Gato Lepitop no apareceu na reunio. Os lobinhos e escoteiros sempre de olho no porto. As reunies foram pssimas. Sem o Gato Lepitop tudo parecia ir por gua abaixo. Esperaram a semana seguinte e nada. S viam-se olhos marejados de lgrimas. Desde os lobinhos at os escoteiros e seniores. Claros os chefes e os pioneiros ao seu modo sentiamse angustiados. Todo o Grupo Escoteiro fez um mutiro de buscas. As famlias dos escoteiros ajudavam. Toda a cidade foi vasculhada e a todos foi perguntado se conheciam o Gato Lepitop. Trs semanas e nada. Impossvel dar reunio. Ningum queria fazer nada. S choro e choro. Narinha coitada no parava de

chorar. Nem na escola estava indo mais. Jarilson sempre com os olhos marejados de lgrimas. O Conselho de Chefes e a Diretoria do Grupo Escoteiro se reuniro muitas vezes em busca de uma soluo. A melhor seria dar frias a todos. Pelo menos um ms. Quem sabe poderiam voltar com novo nimo? Foi um dia triste. A boca pequena todos sabiam o que ia acontecer. O Diretor Tcnico tocou sua trombeta com o sinal de reunir. Antigamente era uma algazarra. Todos vinham correndo, sorrindo e era uma beleza ver os gritos de Patrulha e as apresentaes. Fazia d agora. Um silncio mortal. S olhos encharcados de lgrimas. Soluos em profuso. Um gato, apenas um gato para fazer tudo aquilo? Mas no era s um gato, era o Gato Lepitop. Aquele que era amado por todos. Meu Deus! Impossvel! O Chefe comeou a falar das frias e eis que aparece na porta do ptio nada mais nada menos que o Gato Lepitop. Ele na frente todo garboso, atrs dele uma linda gata amarela de pelos longos e mais atrs trs gatinhos cinza e outros amarelos. Em fila indiana. Como se estivessem marchando! Um espetculo que quem viu jamais iria esquecer. Lepitop tinha casado. Estava em lua de mel. Sua esposa Natibook tinha dado a luz trs lindos gatinhos. Asustek, Epad e Android todos foram muito bem cuidados por Lepitop. Gritos de urras, milhes de sorrisos, canes, pulos saltitantes eram como se a luz tivesse voltado ao Grupo Escoteiro de Luar Azul. A notcia correu e toda a cidade foi at l para ver. Foguetes foram lanados no ar. Abraos se deram aos montes. E assim, a paz voltou a reinar no Grupo Escoteiro de Luar Azul. Tudo por causa de um gatinho, um no agora eram quatro! E assim termina a histria. Dizem que boi no vaca e feijo no arroz e ento meus amigos, quem quiser que conte dois!

Lendas escoteiras. O sequestro da Lobinha Aninha Pata Tenra. Falar de Aninha era sempre motivo de diverso. Oito anos, um ano e meio na Alcatia, com seu apelido de Pata Tenra era uma menina alegre espevitada, brincalhona e sempre animada. Em qualquer roda de lobinhos escoteiros ou chefes ela adorava conversar com todos, sempre com um sorriso nos lbios e como gostava de contar piadas. Seu repertrio era formidvel. Quase nunca repetia uma piada. Onde ela conseguia decorar tantas ningum sabia. Diziam e sua me confirmava que ela mesma escrevia. Ficava em seu quarto at altas horas da noite escrevendo uma para o dia seguinte. Na escola uma rodinha formava em volta dela no recreio. S para ouvir suas piadas e dar gargalhadas. No Grupo Escoteiro todos faziam o mesmo. Quando ela faltava s reunies e todos sabiam que era por motivo de fora maior o comentrio era o mesmo Aninha no veio? Uma falta grande ela fazia. Sua matilha tinha verdadeira venerao por ela. Os amarelos sabiam que ela animava todas as atividades. Disse para todos que j tinha lido de cabo a

rabo o Livro da Jngal. Contava histrias da Alcatia de Sheone e sempre com uma pitada divertida. Sua me e seu pai sempre a alertaram para ser mais comedida principalmente com estranhos. E um dia o pior aconteceu. Aninha Pata Tenra saiu cedo de casa naquele domingo dizendo aos pais que ia ao catecismo. A igreja era perto. Sempre deixaram. Saiu as nove e as doze no tinha voltado. Sua me ficou preocupada. Quando deu uma hora foi atrs de Aninha. Na igreja disseram que ela tinha sado s dez e meia. Onde ela teria ido? Da igreja foi casa de uma das melhores amiga dela. Nada. Nanda disse que no tinha visto ela no domingo. De casa em casa e ningum sabia noticias de Aninha Pata Tenra. A cidade era pequena. Todos conheciam Aninha. O delegado colocou todos os soldados a vasculharem a cidade atrs dela. Centenas de habitantes percorriam aqui e ali e at fora da cidade a sua procura. tarde chegando e o desespero tomava conta da me e de muitas amigas dela na Alcatia. A noite chegou. Um choro geral. Onde foi parar Aninha? Nunca souberam de algum tarado na cidade e Aninha magrinha, sem nenhuma beleza que pudesse chamar ateno poderia ter sido sequestrada? Dinheiro? Sua famlia no tinha. Eram humildes e lutavam pela comida do dia a dia. Algum disse que um automvel azul cruzou a cidade naquela manh. Para onde foi? Perguntou o delegado. Para a fazenda do Chico Espinhao. L foi o delegado com mais de trinta automveis atrs o seguindo. Na fazenda viram o carro azul. O delegado entrou na sede e chamou o Chico. Ele saiu porta com um estranho. O delegado o inquiriu sobre Aninha. Nunca ouvi falar ele disse. A turba que estava prxima correu e o pegou de jeito. Se o delegado no desse uns tiros para cima eles o teriam linchado. Dois soldados o levaram para Passo Alto uma cidade prxima. Ele no poderia ficar em Rio da Prata. A cadeia no oferecia condies. Reviraram a fazenda do Chico Espinhao. Ele ficou revoltado. Mais ainda porque gostava muito de Aninha. Afinal era diretor no Grupo Escoteiro e nunca tentaria fazer mal a ela. Pela manh ningum tinha dormido. A procura no terminou e nem parou. A cidade em peso nas ruas. Uma revolta grande. Mandinho era Monitor dos Gavies. Chamou a Patrulha para procurar. Um cachorro latia sem parar prximo ao Riacho do Lambari. Correram at l e viram Aninha em cima de uma mangueira enorme. Ela chorava. Tiritava de frio. Ajudaram-na a descer. O que ouve? Perguntou Mandinho. Ela chorando disse que foi pegar umas flores silvestres fora da cidade e deu de cara com uma ona pintada. Correu e subiu na rvore. A ona ficou quase a noite toda olhando para ela e deitada no tronco da rvore. No dormiu. Quando o dia amanheceu viu que a ona tinha partido. No sabia descer. Ficou com medo de cair e quando resolveu pular mesmo se machucando viu o co latindo e voces apareceram. A cidade inteira vibrou quando viu Aninha viva. O padre rezava missa por ela e quando soube agradeceu a Deus. Seus pais choravam de alegria. No sbado na reunio do Grupo Escoteiro todos queriam ouvir a sua histria. Aninha como sempre animada e esperta contava aumentando tudo. J no era uma ona, mas duas com seis filhotinhos! Dizem que quem conta um conto

aumento um ponto. Serviu de lio para Aninha e para todos os lobinhos e escoteiros. Nunca sair sozinho. Sempre em duplas ou mais gente, e dizer sempre aonde vo. Aninha aprendeu. Nunca mais andava sozinha. O sequestro ficou na memria da cidade. Seus habitantes contavam tanto que os viajantes acreditavam. E o Senhor que foi preso esqueceram-se dele. Ficou no xilindr por quatro meses. Coitado. Dizem que chorava a mais no poder. Brasil, oh meu Brasil brasileiro. Mas quem sabe serviu tambm de lio para o delegado? Risos!

As coisas belas da vida. Quebra Coco. O ltimo desafio! Acho que o tempo apagou estas lembranas incrveis. Quase no vejo ningum comentando. Claro, so os novos tempos. Novas msicas. Novas canes e que se anima a cantar as antigas? Elas devem ter ficado l ao longe em um passado distante. Nem todos iro lembrar-se como foi e acho que poucos participaram do Quebra Coco na sua simplicidade de um bom desafio. E meu Deus! Como era gostoso cantar e ver os desafiantes, com suas cabeas pensantes, a meditar o que iam dizer. Eu mesmo posso dizer que tentei quando cresci manter a chama do Quebra Coco como o conheci. Acho que no fui feliz. Os jovens no se interessavam mais. Tudo foi mudando, novas ideias novos Fogos de Conselho. Quem diria que naquela poca teramos um animador de fogo? Nunca! Animador? Nem pensar. Para dizer a verdade acho que foi quando fiz um ano de lobo foi que ouvi pela primeira vez o Quebra Coco. Estvamos acampados na Vertente do Vale Feliz. Lobos acampando? Risos. Claro, era comum. E porque no? Era mais divertido. Lembro-me do Mido (era nosso Balu, nunca fiquei sabendo seu nome real) e do Munir Boca Grande (nossa Bagheera) a fazer os almoos e jantas e que manjar! Eles eram bons e todos ns em volta ajudando, buscando gua, lenha, cantando e contando pataquadas. Bons tempos. J tinha participado de dois Fogos de Conselho. No sabia como era o Quebra Coco. Foi o Akel Laudelino P de Chumbo quem explicou. Tratava-se de um desafio entre escoteiros. A tropa antes de encerrar o Fogo de Conselho faziam o desafio. No comeo todos participavam, mas depois de algum tempo ficavam dois ou trs. Os demais no eram bons repentistas. Na tropa era minha diverso favorita nos Fogos de Conselho. Desenvolvi uma facilidade grande em criar versos. Nada dos conhecidos. Isto era para Patas Tenras. Poucos tinham a audcia de me desafiar. J comeava cantando assim Meus amigos, escutem bem, hoje estou um pouco rouco, mas bom ficar sabendo, sou o campeo do Quebra Coco e da em diante no parava mais. Mas tudo mudou, pois quebraram meu orgulho de cantador. Fomos acampar em Serra Vermelha com uma Tropa da cidade de Rio Grande e foi um desastre. Todos da tropa perguntavam se ns tnhamos bons cantadores do Quebra Coco. Apontavam-me e eu ficava todo orgulhoso. No falaram nada do

Mandinho. Um Escoteiro magrelo, desengonado e achei at que ele era gago. Quando chegou a hora e ele em p aceitou meu desafio, sorri de leve. Este estava no papo. Deus do cu! Onze horas, meia noite e o danado l aceitando todos meus versos e devolvendo em dobro! O Chefe disse que quem quisesse podia ir para as barracas, mas ningum arredou o p. Minha cabea fervilhava, a busca de versos era medonha. Mais de quatro horas e o danado do Mandinho ali com um sorriso simples, sem afetao me colocando no chinelo! Entreguei os pontos. Fui l do outro lado fogueira cumpriment-lo. Parabns Mandinho. Perdi mas estou orgulhoso de voc! Quase desisti para sempre do Quebra Coco. Mas uma coisa sempre tive em mente, ganhar bom, mas saber perder uma arte. Isto sempre nosso Chefe Jess dizia. Os tempos foram mudando. Participei de muitos Fogos de Conselho. O Quebra Coco se tornou saudades de um tempo que j se foi. Outras canes trazidas pelos novos chefes, e ele, o meu amado Quebra Coco ficou na histria de um livro que no foi escrito. Quebra Coco, Quebra Coco, na ladeira do Pi, Escoteiro Quebra Coco e depois vai trabalhar! At hoje eu canto com boas lembranas. Se que a origem nordestina. Deve ter comeado com os repentes esses maravilhosos cantadores que encantam at hoje os que apreciam a msica nordestina. Parei de escrever. Fui para minha varandinha querida. Meu recanto. Onde penso e fao minhas histrias. Sentei na minha cadeira rstica e olhei pela fresta do porto e vi a meninada jogando bola. Uma rua ngreme. Poucos carros. Cada um se diverte como gosta. Cantava baixinho o Quebra Coco. Saudades vem e vo e eu "Velho" Escoteiro vou lembrando como posso dos meus tempos de criana. Quebra Coco, O meu Chapu tem Trs Bicos, A rvore da Montanha e tantas outras. Onde est meu violo? Acho que as cordas arrebentaram. Preciso comprar novas e ficar na minha varandinha a cantar. Fazer a melodia brotar de novo pelo som do meu violo. Quebra Coco, Quebra Coco, na ladeira do Pi...

Lendas escoteiras. O Chefe Escoteiro de lua Verde. Trs patrulhas. A quarta s no ano seguinte. Tropa nova, com menos de seis meses de atividade. O Chefe Galcio era novo, menos de vinte e trs anos. Resolveu um dia ser Escoteiro. Nunca foi. Achou nos guardados do seu pai um livro chamado Escotismo Para Rapazes de Baden Powell o fundador. Leu em uma noite. Gostou. Seu pai quase no falava. Vivia em uma cadeira de rodas. A me morrera h anos. Ele arrimo da famlia. Sempre pensou em ir embora de Lua Verde. S conseguiu terminar o segundo grau. Cidade pequena, menos de dez mil habitantes. Sem perspectivas de crescimento profissional. No podia deixar seu pai. Para sobreviverem ele montou uma quitanda. Pequena. Na frente de sua casa para no pagar aluguel. Algumas verduras,

frutas, doces, e quando pode comprar uma geladeira, refrigerantes e algumas guloseimas geladas. Dava para seguir adiante a cada ms. O fiado era a parte mais difcil. Como negar ao Seu Romerildo? A Dona Eufrsia e a tantos outros? Eram como ele. Nem sabiam o que iam comer amanh. Depois que leu o livro o releu diversas vezes, pensou com seus botes. - Porque no ter uma tropa Escoteira? E assim fez. Mos a obra. Convidar meninos foi fcil, a sede tambm no foi difcil. Ficaram num pequeno poro da Igreja Matriz. Mas Galcio no entendia nada. Comeou assim na raa, nem sabia que existia autorizao, algum responsvel acima dele. Ele e os Raposas, os Tigres e os Lees eram os escoteiros mais felizes do mundo. Amigos, irmos, juntos sempre. Quando os viam pela cidade a correr pelos campos, parecia um bando de meninos loucos a fazerem suas aventuras fantsticas. Galcio adorava. Um dia recebeu uma carta. Era do Grande Chefe Escoteiro da Capital. O convidava para um curso. Todas as despesas pagas. Porque no ir? A quitanda deixou na mo de Quinzinho e Marquinho. Dois Monitores que sempre o ajudavam nos sbados quando a quitanda estava cheia. Partiu de trem para a capital. Quinze horas de viagem. Na chegada se informou onde era o Zoolgico. Pegou o bonde. Desceu no final e dai seguiu a p. Eram mais seis quilmetros. Nada que assustasse Galcio. Quando chegou viu muitos chefes. Bastante. Gostou do curso. No gostou de alguns. Prepotentes, vaidosos, cheios de importncia. Porque perguntava? Aprendeu muito. Resolveu que devia ter uma Alcatia. Mas quem convidar? No trem quando retornava pensava a respeito. Uma jovem morena sentou ao seu lado. Galcio teve duas namoradas. Pouco tempo com elas. Nunca pensou em casar. Novo. Agora com seu pai entrevado no tinha esse direito. Ela o olhou de cabea baixa. Galcio viu que chorava. Por qu? Perguntou. Ela no respondeu. Acordou com ela dormindo em seu ombro. Reparou que era muito bonita, mas tinha o olhar envelhecido por uma vida de lutas. Toda a viagem ela chorava. Galcio insistiu. Ela nada dizia. S disse que deveria ter morrido e Deus quis assim. Que seja. - Vai para onde? Sem destino respondia Sem destino? No tem amigos, parentes, nada? No tenho. Quando chegou estao de Lua Verde tinha resolvido. Desa comigo. Ficar uns dias em minha casa. Ela assustou Descer? E sua famlia? No se preocupe. Uns dias em Lua Verde voc ir colocar a cabea no lugar e saber aonde ir e o que fazer. Ela desceu. A cidade inteira na janela vendo Galcio e a bela morena. Quem era? Ele casou? Ele no disse nada. Sua vida continuou. Seu pai nem perguntou. Os escoteiros nada disseram. Sua vida mudou. Lena era uma mulher perfeita. Cuidava da casa. Fazia tudo. Seu pai tinha os olhos brilhando quando estava ao seu lado. A cidade inteira comentando. E a Tropa? Alguns pais querendo tirar os filhos. Os comentrios no eram bons. Uma mulher da vida, s podia ser. Galcio resolveu casar com Lena. Ela disse no. Por qu? Voc no tem ningum. Ela chorando disse que ia contar a verdade. Era mulher de vida na capital. Gostava de um soldado. Ele prometeu casar com ela. Morreu em

tiroteio com bandidos. Chorou muito e o pior. Tinha AIDS. Sim, isto mesmo! Ainda em fase inicial. Galcio manteve seu pedido. No importa. Quero voc como minha mulher. Casaram-se na Igreja de So Judas Tadeu. Cerimnia simples. Ele uma vizinha e as trs patrulhas escoteiras. Casou de uniforme. Ela feliz. Sorria. Viveram muitos anos. Lena se tornou Akel. Os lobinhos adoravam sua Chefe. Galcio e Lena nunca fizeram sexo. O amor dos dois eram diferentes. Lena morreu com quarenta e oito anos. Seu velrio foi assistido por toda a cidade. Dizem que virou santa. No sei. Mas seus lobinhos hoje homens feitos nunca esqueceram a Chefe que tiveram. Galcio chorou por muitos anos. Morreu com sessenta e quatro anos. Conheci ambos. Sempre quando vou a Lua Verde no deixo de fazer uma visita ao tumulo dos dois. Lado a lado. Escreveram uma lpide simples. Nem sei quem escreveu. Aqui jaz, dois amantes que nunca foram. Amaram o escotismo e com ele vivero para sempre no cu!.

Jogando conversa fora. Seu Pafuncio um chato de galocha. Sempre foi assim. "Seu Pafuncio" sem a gente esperar estava l, sentado ao meu lado na cama a me encher as pacincias. O sujeito morava h muitos anos no corpo caloso, bem no fundo da fissura inter-hemisfrica, ou seja, na fissura sagital do pobrezinho do meu crebro. Desde que me entendo por gente "Seu Pafuncio" me acordava, falava e falava. Um chato de galocha isto sim. Hoje quando sentei na cama s quatro e meia da manh como tenho feito ultimamente, pois meu corpo no quer mais continuar na minha caminha gostosa, nem bem pisquei e l estava ele. No tem como faz-lo se mandar. O cara um chato de galocha e voces sabem chatos so chatos e no do sossego a ningum. - Valdinho (era como ele me chamava) j disse e repito voc est perdendo seu tempo. Olhei para ele. De novo com aquela lenga-lenga. Nem me deu bola. Continuou - Pode parar de ficar dizendo cobras e lagartos desta corte. Voc no vai chegar a lugar nenhum. Ningum vai abandonar a casta pelas suas ideias. Acredita mesmo que iro mudar? Voc fala, fala e se for um pouco inteligente ir ver que eles no esto nem a. Acha mesmo que iro abraar todo mundo e perder a chance de continuar no bem bo? Valdinho meu querido. Voc conhece bem, j passou por isto. A sede de poder existe em todo lugar. E voc sabe muito bem que eles juram de p junto que no nada disto, que esto tentando ajudar, que sacrificam horas e horas e acredita mesmo que podero comprar suas ideias? Nunca meu caro. Deixa de ser besta! "Seu Pafuncio" estava passando dos limites. Mas o danado no estava nem a. E continuou martelando no mesmo ritmo. Ser que o que voc tem visto e sentido aqui no servem de exemplo? Eles quando do opinio nas suas observaes porque ficam puto com voc. Na maioria nem se tocam

para o que escreve. Voc lembra quantos j comentaram e hoje se mandaram? Alguns se arriscam e depois desaparecem. Acha que no te abandonaram? Sentiram que seu papo furado e no importa para eles. No trs nada de til. Valdinho meu amigo, no adianta, infelizmente esta organizao assim como tantas outras tem muita gente que adora o que faz. Claro tem aqueles e graas a Deus so a maioria, que so puros e no tem vaidades, mas e os outros? Meu amigo Valdinho faz parte do ser humano. Quantos de ns no tivemos um dia vontade de mandar, de dirigir, de ser o tal e sorrir quando todos obedecem? uma beleza Valdinho levantar a mo e todos ficarem durinhos! Valdinho meu caro ser olhado como chefo e respeitado o sonho de muitos. E veja Valdinho isto existe desde a criao do mundo. Desde a mais simples organizao at as maiores do nosso querido planeta. Em todas elas l est a casta dirigente. - Valdinho, deixa de ser tonto. Ningum vai querer perder sua posio pelas suas ideias democrticas. Eles continuaro insistindo e voc continuar sendo idiota e fazendo inimigos. No viu ainda quantos j conquistou? Lembra quantos ficavam lendo voc e sumiram? Claro sempre tem aqueles fieis, mas voc j sabe quais so. Valdinho meu querido, tente raciocinar. Esquea esta sua oposio idiota. Esquea esta briga com a evaso de jovens. Ningum est nem a para voc. Eles esto sim preocupados com outras coisas. Se voc acha que Patrulha de trs ou quatro no funciona eles provaro o contrrio. Se voc acha que todos deveriam ter direito a voz e voto eles iro rir na sua cara e tero mil argumentos contrrios. Meu amigo Valdinho procure ver no seu passado, seus antigos amigos da corte se afastaram, mas voc achou que eles no eram os amigos que esperava e no se incomodou. Mas porque Valdinho, por qu? Porque eles no lutaram ao seu lado? Claro Valdinho, sempre acharam voc um idiota, um choro, e tem at aqueles que dizem que voc tem mgoas e alm de besta um errado com o que acredita ser a salvao do seu movimento. Fiquei pensando nas palavras do "Seu Pafuncio". Quem sabe era melhor dar um tempo? Eu sei que j dei tanto tempo que nem sei mais quanto tempo o tempo tem! O mundo este a. Sua evoluo no depende de mim. No sou Deus. No sou o dono da verdade. Acho que vou seguir mesmo o conselho do "Seu Pafuncio". Vou dar um tempo. Mesmo que no possa pensar como ser o amanh. Cada um escolhe seu destino. Cada um sabe onde pisa e onde o calo aperta. No mundo inteiro assim. Porque no em nosso Brasil? Obrigado "Seu Pafuncio". Vou pensar a respeito. Mas por favor, d um tempo para mim. No me enchas as pacincias todas as madrugadas. Tambm sou filho de Deus. Mereo ter tranquilidade com estes assuntos espinhosos, mas "Seu Pafuncio" eles me fazem um bem danado! Risos.

Crnicas de um Chefe Escoteiro. O maravilhoso e sensacional Fogo de Conselho.

No tem quem que no fale dele. Se algum permaneceu por alguns meses ou por anos e anos no escotismo ele sempre ser lembrado e comentado. Para uns um mito, para outros uma cerimnia que marca profundamente e para sempre. Uma coisa certa. Deste o primeiro acampamento em Browsea at hoje ele se tornou uma tradio que ningum e nunca ser esquecido por parte de quem j participou. O lobinho adora. O Escoteiro e a Escoteira vibram. Os seniores e as guias se preparam com esmero quando vo participar e os chefes do belos sorrisos pelas apresentaes. E no so s eles, para os que no so escoteiros e foram convidados se sentiro reconfortados em estarem presentes. Dizem secamente que o Fogo de Conselho uma atividade recreativa e artstica realizada por escoteiros. Dizem ainda que umas das mais antigas tradies dentro do movimento Escoteiro. Citam at que Baden Powell fez questo de falar sobre ele no seu primeiro livro Escotismo para Rapazes. J li vrias explicaes do porque do Fogo de Conselho. Contam que Baden Powell muito viajado pelo mundo e principalmente na frica e na Amrica assistiu e viu vrias cerimnias por parte dos indgenas destes pases e foi assim que deu origem ao nosso Fogo de Conselho. A noite todos eles tinham uma tradio comum. A tribo inteira se reunia em volta de uma grande fogueira de um modo muito festivo e alegre, e as pessoas danavam e cantavam assim como contavam e encenavam histrias da prpria tribo. Sempre no final o ancio mais velho contava as tradies, e passava algum ensinamento aos mais jovens. Igual a estas tribos, os escoteiros tambm fazem o mesmo. De maneira geral esta tradio passada de gerao em gerao. No s no passado, mas at hoje comum que cada um tenha uma manta especial, um chapu, um bon, uma capa ou poncho, pois os ndios faziam isto com seus trofus. Dentes de animais, escalpos (risos) colares e sempre com peles de animais sobre o corpo. No vou aqui tentar ensinar sobre o Fogo de Conselho. Sei que existem at cursos para isto. Claro, pois eu sei que todos sabem que ele o momento em que nos reunimos ao redor de uma fogueira, ao final do dia, para divertir atravs de apresentaes e termina com um momento de reflexo e aprendizado feito elo Chefe. Alguns adoram histrias e os participantes vibram. Tenho o orgulho de dizer que participei de muitos. Quem sabe trs ou quatro centenas deles. Alguns se aprimoram na montagem do fogo. Outros o fazem de maneira simples sem sofisticao. J vi vrios onde o Animador do Fogo de Conselho no inicio gritava alto: Que os ventos do norte, do sul, do este e do oeste, tragam a todos a alegria de uma noite inesquecvel! Acende-te fogo! E fogo dava uma pequena exploso e as chamas apareciam lindas e formosas. Como? Um truque simples. Preparar com antecedncia. Abrir uma valeta e com bambus colocar plvora. Depois a valeta fechada. Um parceiro coloca fogo na plvora que ira queimar at o fogo. Mas olhe, assusta. Parece mgica. E s deve ser feito por especialistas. Vi tambm outros tantos aberto ao pblico e aos pais das mais diversas criatividades prprias dos escoteiros. Tochas vinda de varias partes, tocha voadora vindo de uma rvore presa a um sisal que corre at o fogo o

acende. E as apresentaes? Lindas. Do professor Raimundo eu ria a valer. Dos trapalhes cansei de rir. Do Rei da Macednia vi dezenas de vezes. E quantas mais? E as palmas? Nossa! So tantas. Se fosse escrever daria uma dezena ou mais. Adorava a do peixinho, do trem, do sapo falante, da batida no corpo, da mexicana, e claro da nossa mais famosa a palma Escoteira. Mas nada mais lindo para o Escotista como olhar para os rostos dos jovens. Escuro ainda e a fogueira ir aumentando a luminosidade, eles com aquela ansiedade, a espera do contexto, olhar fixo no fogo e cada um sonhando ao seu modo o sonho de uma vida que s os escoteiros podem ter. A felicidade suprema e a alegria de poder estar ali. No vou comentar sobre as canes, sobre os esquetes, sobre as historias. E at deixo para outro dia o comentrio da Cano da Despedida. Uma despedida que marca, mas que promete ser breve. Muito breve. No vou comentar quantas chorei, lgrimas eu derramei desde a mais tenra idade at hoje. Um "Velho" choro. Fogo do Conselho. Esquecer jamais! Lembrar sempre e sempre, pois assim como as estrelas no cu brilhando no escuro da noite ou da lua enluarada eu sei assim como aconteceu comigo aconteceu com todos. No h como esquecer. Est firme e apegado dentro dos nossos coraes. Acho que pode ser ele um dos motivos para estar at hoje no escotismo. Um dia qualquer volto a falar mais dele. O amado, o querido, o sensacional, o espetacular FOGO DO CONSELHO!

O abutre Chill conduz a noite incerta E que o morcego Mang ora liberta esta a hora em que adormece o gado, Pelo aprisco fechado. esta a hora do orgulho e da fora Unha ferina, aguda garra. Ouve-se o grito: Boa caa aquele Que a Lei d Jngal se agarra. Canto noturno da Jngal. A FANTSTICA EPOPIA DA ALCATEIA ENCANTADA Conheci a chefe Tininha na metade da dcada de oitenta. Na poca dirigia e atuava na equipe de adestramento regional e contribua na direo e participao de cursos diversos. Foi um perodo raro, pois passava muitos fins de semana no Campo Escola, onde habitei fartamente por anos e anos. Sempre que ali abrolhava, eu me transformava. Meu esprito vagava a procura de um den perfeito, feito de jardins e flores e ali eu me encontrava. O aroma da mata, a brisa leve e solta, o silencio reinante, era como se fosse transportado

para quem sonha com uma morada depois da vida. A mata tomava conta de toda rea e o progresso com suas edificaes eram totalmente camuflados. No s ns, dirigentes ou membros de uma equipe, mas os alunos inclusive se sentiam numa doce elevao do esprito, como se fosse um momento mgico. O desenrolar de um curso nutria conotao mxima e o aproveitamento era total. Pelas minhas lembranas tive a oportunidade de conhecer pelo menos 1000 escotistas cujo tempo curto, nos uniu em palestras, jogos e troca de ideias para um aprendizado sadio e virtuoso dos ensinamentos de Baden Powell. Tininha quando a vi pela primeira vez, devia ter aproximadamente 28 anos. Bem pesada, e proporcionalmente tinha uma aparecia harmnica, conseguia manter uma agilidade que atraa um entusiasmo nos demais. Altura razovel, sempre com um sorriso, cabelo preto curtos, vestia sobriamente o traje escoteiro, sempre bem arrumada sem afetao. No primeiro curso conversamos pouco. Fiquei sabendo que era Akel de um Grupo de outro bairro, e estava no movimento h mais de 10 anos. No teve oportunidade de chegar a Insgnia, mas este era seu sonho. Alguns anos depois, participava de um CIM, na poca Curso da Insgnia da Madeira ramo lobinhos, e l reencontrei Tininha. Vi que seu objetivo estava sendo alcanado. Como tinha obrigao de poucas palestras, nas horas livres conversvamos banalidades. Narrou de forma sucinta a historia do seu grupo e alcatia. Estavam em um bairro de classe media alta, e vrios fatores implicavam no desenvolvimento pleno da alcatia. Os pais nunca pediam e sim exigiam como se os filhos estivessem em um colgio de elite, pago e que eles pudessem decidir o programa e o mtodo. Era, portanto uma situao peculiar e emblemtica. Talvez nica para meus conhecimentos. No falamos mais. No havia tempo. Era um curso corrido sem vagares e isto era bom. Pouco tempo e precisava ser aproveitado. Quando mais viglia melhor o aproveitamento. Ao final no vi Tininha e mais dois anos se passaram. Estava eu cachimbando em um canto do ptio (naquela poca tinha este horrvel vcio) e para surpresa adentrou Tininha, uniformizada, sorrindo e me cumprimentando. Notei que portava o leno da Insgnia. Aps um dialogo interessante, Tininha me contou as agruras e benesses que passou no grupo de origem. Um episdio em particular mudou sua maneira de pensar e de como enfrentar uma dificuldade real. No inicio acreditou que conseguiria depois a circunstncia a levou a refletir que suas foras seria desiguais. Palavras da Tininha: - Olhe chefe, em nosso programa conforme uma ideia lanada pelo senhor no ltimo curso, planejamos fazer um acantonamento com a alcatia de trs dias,

em local aprazvel, prximo a Mata Atlntica, um lindo stio, muito agradvel, gentilmente cedido por um dos pais. Na primeira reunio com os progenitores, algumas mes se opuseram ao programa dizendo ser ele perigoso e arriscado e se no mudssemos de local, seus filhos no iriam. O fato mais importante para elas (as mes) foi de que ficaramos acampados em barracas, prximo a casa sede, em um bosque gramado e cheio de apetitosos locais para uma mstica perfeita inclusive com uma Pedra de Conselho e pequena gruta prxima. Acreditei que ali os lobinhos poderiam plenamente viver as peripcias de Mowgli. No eram os que elas pensavam. Entendi que o assunto no deveria ter continuidade. Era malhar em ferro frio. A metade concordou em permitir ida dos seus filhos a outra no. No final, quatro foram irredutveis, mas aceitaram a participao dos rebentos, exceto a maioral que iniciou a discusso. O Chefe do Grupo no disse sim e nem no. Fiquei com minhas trs assistentes plenamente ss. Disse a elas que se aceitssemos a mudana, no teramos mais liberdade no futuro para programar conforme preceitos aprendidos. Nossa responsabilidade j era sobejamente conhecida, pois no era o primeiro acantonamento feito. Todas ns possuamos filhos e nunca iramos arriscar nossos lobinhos em uma atividade perigosa. Possuamos uma alcatia mista, com 11 lobinhos e 16 lobinhas. Acima dos 24 regidos pelo POR. Achava que era uma tima alcatia. Vrios lobinhos chegando a Cruzeiro do Sul e pelo menos cinco fazendo a Trilha Escoteira. Nossa lista de espera passava de 28 pedidos de inscrio. No sei o porqu o grupo deixava de instituir a segunda alcatia. Bem, era frias de julho, o tempo nem quente nem frio em uma manh linda de sol, com a lobada se extasiando em armar barracas, gentilmente cedidas pela tropa escoteira, parecia que a amlgama seria desordenada. No era. Tudo tinha uma razo de ser. Cada matilha aprendeu a fazer fazendo a colocar em p, uma barraca para seis lobinhos. No ensinvamos. Entregamos a barraca e eles faziam. Era do mtodo escoteiro, mas porque no ali? Pelo que estvamos vendo era uma alegria s e os resultados surpreendentes. Quase todos conseguiram, algumas matilhas levou mais tempo, mas faltava apenas um aperto ali e aqui que ns chefes o faramos antes da noite. A Chefia era formada por mim, trs assistentes e dois casais de pais que se prontificaram a se responsabilizar pela intendncia e refeies. O primeiro dia foi cheio de energia e quando imitamos uma sesso da Alcatia de Mowgli a discutir na Pedra do Conselho a assistente informou que Shere Khan, o turuna tinha mudado seu campo de caa e foi prear por outros montes.

A caada a Chere Khan, o turuna foi liderada pelo Lobo Gris. Uma aventura sem igual. Mais tarde com a dana de Ka, a festa foi geral. noite brincamos e jogamos. Dois jogos um calmo e um cheio de mistrio fez com que todos ficassem preocupados com o aparecimento de Shere Khan a qualquer momento. Sentados ou deitados na grama em crculo, aps diversas canes atiladas, estava a contar parte da histria da jngal e dizia Olhem quando Mowgli no estava aprendendo, sentava-se ao sol para dormir. Os bocejos continuaram aqui e ali. A lobada estava extenuada. Mesmo assim continuei: Urra, Urra, rosnou Bagheera entre dentes. Urra que tempo vir em que esta coisinha nua te far urrar noutro tom... No adiantava continuar. Agora alguns j cochilavam sentados. O sono chegara. Junto com as assistentes colocamos todos eles para dormir nas barracas. Com uma participao pequena, fizemos com eles uma orao para agradecer o dia e nossas atividades. No houve algazarra e em minutos o silencio era total. A noite prometia e um cu estrelado dizia para dormirmos tranqilas. Eu e as assistentes fomos para a nossa barraca, e os pais ficaram na Casa Sede. Acreditei no precisar montar uma atalaia noturna. O proprietrio nos confirmou da impossibilidade de estranhos ao local. Era todo murado e com um grande porto de ao com chaves e cadeados. Acreditamos. Dormimos como anjos. Pela manh, acordamos a lobada. Quatro deles no estavam na barraca. Seus materiais de dormir e mochilas tambm no estavam. Deus do Cu! pensei. Chamamos os pais na casa sede. Telefonamos ao chefe do Grupo. Eu sempre fui uma pessoa calma, mas estava com os nervos a flor da pele. Tremia e pensava no pior. Fiz uma orao e pedi a Deus para nos ajudar. Uma das assistentes continuou a programao com os demais lobinhos. Eu estava totalmente perdida. Nunca pensei que fosse acontecer comigo. Como? O que aconteceu? Ora, estvamos bem prximo mata Atlntica. Poucos se arriscavam a entrar nela. Agora nem eu. Pensei na negativa das mes da realizao da atividade. Seria uma bomba! Iria sofrer consequncia inevitveis. O Chefe do Grupo chegou. Era calmo e ponderado. Em momento algum fez recriminaes. Tudo tinha o seu tempo. Ficou ciente de tudo. Antes de chamar os Bombeiros e o salvamento ligou para uma das mes para solicitar que avisasse as outras e virem para o stio o mais tardar. Narrou o acontecido. Pediu para manter a calma e dizer a todas que tudo seria resolvido a contendo. Ela riu e disse para no se preocupar. A me que foi contra a realizao do Acantonamento, convenceu a todas ns a darem um susto na chefia da alcatia principalmente a mim. Foram na calada da noite e sem ningum perceber entraram no stio (possuam o chave do porto, e como conseguiram no sei) levando os filhos em completo silencio.

Espantoso! Pensou o Chefe do Grupo. Que falta de responsabilidade. Disse a ela que avisasse as demais que se no trouxessem seus filhos imediatamente, ele daria parte a policia que os lobinhos tinham sido sequestrados. No importava se eram as mes, pois tinha em poder as autorizaes assinadas e a responsabilidade era dele. Uma hora depois elas chegaram. No houve maiores explicaes e nem as pedimos. Foram-se. Os filhos lobinhos ficaram. Faz parte de um grande jogo disse ele aos lobinhos. Os quatro lobos foram cidade dos homens e voltaram. Aplausos, jogos, histrias, mstica at mesmo um pequeno passeio dentro da mata com um guia contratado. Olhe chefe disse, passei por poucas e boas. A palavra arrogncia no a conhecia em toda sua plenitude. Aprendi muito depois disto. Mas continuo acreditando que o movimento maravilhoso e muitos pais sabem de sua importncia. Vi e senti na prpria pele a participao de vrios deles se solidarizando e prestativos se colocaram a disposio para outros acantonamentos ou excurses. Insisti com as revoltosas a deixarem seus filhos continuarem. Uma no aceitou. Fiquei penalizada devido ser seu filho ser um jovem com potenciais tremendos para continuar no movimento devido a sua enorme motivao. Fiquei l mais um ano. Minha famlia mudou para este bairro, e agora estou aqui. Pedindo uma vaga e comigo trago uma transferncia. O senhor me aceita? E quem quiser que conte outra... As estrelas desmaiam, concluiu o Lobo Gris, de olhos erguidos para o cu, onde me aninharei amanh? Porque Dora em diante os caminhos so novos... Kipling

Lendas Escoteiras As travessuras da Matilha Marrom O Balu e a Bagheera estavam descontentes com o acontecido. No foi a primeira vez. Se continuassem deste modo s providencias de aconselhamento teriam que ser outras. Afinal deviam ter pleno conhecimento da Lei do Lobinho e a matilha Marrom no era formada por lobos novos. A Alcatia era mista e na Marrom havia trs meninas e trs meninos. Quase todos com mais de um ano no Grupo Escoteiro.

O que fizeram, ora, ora! Estavam todos em uma esquina e esperando as pessoas iniciarem a travessia da Avenida e quando o sinal ficava verde, escolhiam pessoas idosas para irem por traz e buzinar com grande algazarra uma Guguzela, bem perto do ouvido. Porque fizeram isto? Perguntaram. Ora Balu o sinal podia abrir e os carros passariam por cima deles. S ajudarmos! Bela ajuda. Existiram outras. Entraram em um jardim de uma residncia, e ali colheram todas as flores disponveis. Como nada entendiam do corte e como fazer, destruram boa parte do jardim. O proprietrio vendo aquilo os ps para correr e foi at ao Grupo Escoteiro reclamar. De novo? Bagheera perguntou. Hoje o dia da mulher e amos distribuir rosas e outras flores para todas as senhoras que encontrssemos! Sem contar a boa ao que disseram ter feito, de amarrar com sisal todos os cachorros que encontraram na rua, uns com os outros e quando tinham uma matula de mais de 15 ces, eles fizeram uma grande algazarra em frente a um posto mdico. Ora! Que boa ao foi esta? Perguntou o Balu. - Era para facilitar os donos encontrarem quando procurassem seu co perdido! Agora a Akel precisava ser informada. Devido viagem urgente ao interior motivado por enfermidade na famlia havia viajado. Voltaria no prximo sbado. Comentaram com o Chefe do Grupo que deu boas gargalhadas. Depois viu que no tinha agradado aos chefes. Parou de sorrir e perguntou o que fizeram a respeito. At agora s aconselhamos, tiramos pontos deles na reunio, esto sem se classificarem na contagem final para receberem o totem do Lobo Gris. Dois deles tem a entrega da segunda estrela suspensa assim como a primeira estrela de uma lobinha. No sei se vai adiantar. A Akel vai chegar e vamos tentar novas reprimendas. Quando falamos em trocar alguns deles de matilhas, resistiram e choraram. Quem sabe o corretivo que pode resolver? O Chefe de Grupo ficou pensativo. Nunca tinha visto nada igual. Foi uma surpresa tudo aquilo. Pensando bem, eles no eram maus. Seus objetivos tinham finalidade e poderia se feito de outra forma com finalidades reais. Bastava ter criatividade sem prejudicarem a algum. Sabia que eles tinham amor a alcatia, ao grupo, e a sua maneira achava que cumpriam a Lei do Lobinho. Mesmo com aquela idade no distinguia malicia nos seus atos. Claro que a vizinhana no pensava assim e tinham certas reservas. Isto podia prejudicar a imagem dos escoteiros. Assim sendo o assunto deveria ser tratado de maneira enrgica antes que o mal crescesse mais que a raiz. A Akel retornou e a colocaram-na ao par. Ela sorriu de leve e disse que no nos preocupssemos. Ela tinha uma boa ideia para isto e afinal, eles iriam mudar para sempre seus arroubos mirabolantes. No nos colocou a par do que seria.

Lili havia feito oito anos. No demonstrava isto. Quem no soubesse afirmaria que passara dos dez. Seu raciocnio e desenvoltura corriam paralelos a um adulto. Seus pais j observavam isto. Quem sabe foi o motivo para a colocarem no Grupo Escoteiro. Ouviram da psicloga sobre matricul-la em uma organizao, onde houvesse uma disciplina mais rgida, sem tolher sua liberdade e criatividade. Adorava seus amigos lobinhos. No inicio teve dvidas. Com alguns meses j liderava a matilha Marrom. No era a prima e nem segunda. Isto no importava. Todos ali gostavam dela e suas ideias eram acatadas sem discusso. Fora ela quem planejara todas as traquinagens da matilha. Nunca nenhum deles disse que ela quem liderava. Assumiam juntos as responsabilidades. Tinha uma grande admirao e amor pela Akel. Quando a matilha fazia travessuras, Lili ficava com medo da descoberta pela chefe. Passou a organizar suas expedies em locais mais distantes. J estavam agindo ha mais de quatro quarteires da sede. Para isto chegavam sempre uma hora antes do incio das reunies. Sabia de cor a Lei do Lobinho e em sua casa lera por inteiro o livro da Jngal. Conhecia de cor e salteado as aventuras da alcatia de Sheone. Sonhava com Mowgly e sempre pensou porque Kipling no tinham posto na histria uma lobinha, companheira de Mowgly. As etapas para receber os distintivos conforme o desenvolvimento na Alcatia, ela sabia de cor. No tinha ideia por que no entregava a ela tudo aquilo que julgava ter direito. No entendia a tal de progressividade. Considerava os demais da matilha como seus irmos. Talvez por ser filha nica, ali se encontrou como se fossem da mesma famlia. No sbado seguinte, aps a reunio fora chamada para uma conversa em particular com a Akel. Lili estava preocupada. Ningum sabia que as ideias e as traquinagens eram dela. Mas a Akel parecia saber. Pensou que seria afastada do grupo. Seu corao batia forte s em pensar nisto. No poderia sair, ningum tinha o direito de expuls-la pensava. Foi de cabea baixa. Seus olhos estavam vermelhos. A Akel a abraou e disse para no se preocupar. Lili era tudo de bom que a alcatia possua. Sem ela dizia a alegria no seria reinante nas reunies. No entrou em detalhes de sua traquinagem e sua liderana sobre os demais. Somente a convidou para ir com ela ao Zoolgico no domingo. E os outros perguntou? S eu e voc respondeu a Akel. J falei com seus pais e eles deram autorizao. Quero mostrar uma coisa para voc que sei vai ajud-la muito no seu crescimento e na sua forma de pensar e liderar. No entendeu bem, mas adorava ir ao Zoolgico. Dormiu pensando no passeio. A Akel chegou cedo. Ela ainda no havia tomado caf. Colocou seu uniforme e viu que a Akel tambm estava uniformizada.

Conversaram pouco durante a viagem. Mas se soltaram quando l chegaram. A Akel pediu para ela prestar bem ateno de como os animais, pssaros, repteis e peixes diversos se comportavam. Porque ser que cada um tem sua morada. Porque no os colocam juntos como na floresta. Ela no entendeu bem, mas tentou ao seu modo olhar de maneira inusitada para todos eles. Ao meio dia, pararam para fazer um lanche em um quiosque. Aps, a Akel comeou a contar para ela como os animais viviam em seus habitat naturais. Explicou como o Rei da Selva tratava os demais. Falou sobre o respeito, as normas claro, eles tambm tem normas disse. E que ali viviam melhor que como os homens vivem. Nenhum deles de maneira nenhuma iriam brincar com quem no fosse da sua famlia. Quando ela e a matilha Marrom saiam para alguma diverso, estavam entrando na vida das pessoas. Cada uma tem sua maneira de ver, de achar, de interpretar o que querem ou no querem. E como se o javali invadisse o lago de hipoptamos para brincar. Seria morto na hora no? Lili ficou pensando nas palavras da Akel. Achava que a mensagem transmitida da ida ao Zoolgico tinha coerncia. Em nenhum momento a Akel deu exemplos do que fizeram, mas Lili sabia onde ela queria chegar. Prometeu a si mesmo que iria mudar. Afinal como ela disse todos ns temos nossos direitos e nossos deveres. Devemos ver onde comea e onde termina para no prejudicarmos ningum. Passaram-se dois meses. A Alcatia vivia em plena harmonia. No houve mais traquinagens. A matilha Marrom se transformou. Todas as demais notaram e se aproximaram mais dela. Lili ficou mais querida de todos os lobinhos e lobinhas. Recebeu sua segunda estrela e chorou de felicidade. Sonhava em ser uma lobinha cruzeiro do sul. No tinha a mnima ideia de como seria a tropa das Escoteiras. Sabia que um dia iria chegar l. Mas o amanh outro dia. Lili vivia o presente, pensando nos erros do passado e tentando no errar para o futuro. Seu pensamento agora era voltado para a grande aventura de sua vida. Iriam acantonar com mais cinco alcateias com uma programao de quatro dias. A Akel, o Balu e a Bagheera contaram como seria. No disseram as surpresas, mas Lili vivia o presente pensando no ms seguinte. Como deveria ser maravilhoso. Conhecer mais de uma centena de lobinhos e lobinhas. E a matilha Marrom continuou unida por muitos e muitos anos. Alguns passaram para a tropa, entraram outros, mas a amizade, a fraternidade e o respeito faziam parte da vida de cada um. Nas cerimnias do Grande Uivo, os marrons saltavam com alegria e vivacidade a dizer a plenos pulmes quem eram e o que seriam Melhor, melhor, melhor? Sim, melhor, melhor, melhor e melhor.

O cavalo de Troia foi um grande cavalo de madeira usado pelos gregos durante a Guerra de Troia, como um estratagema decisivo para a conquista da cidade fortificada de Troia, cujas runas esto em terras hoje turcas. Tomado pelos troianos como um smbolo de sua vitria, foi carregado para dentro das muralhas, sem saberem que em seu interior se ocultava o inimigo. noite, guerreiros saem do cavalo, dominam as sentinelas e possibilitam a entrada do exrcito grego, levando a cidade runa.

A matilha Vermelha e a Operao Cavalo de Troia A matilha vermelha estava em polvorosa. A grande competio anual com tema livre estava marcada para o prximo sbado. Nos ltimos dois anos eles ganharam o prmio. O que os outros fariam? Eles iriam fazer uma grande apresentao Uma mimica bem bolada de um sobrado em chamas, um nenm chorando, um bombeiro passando etc. Gostaram muito quando Larissa deu a ideia. Riram muito de tudo. Achavam que a as demais matilhas iam rir a valer tambm. O primeiro prmio estava no papo! O premio era o mximo. Trs caixas cheias de bombons Sonhos de Valsa para o primeiro colocado. Eles sabiam que a vitria estava na mo e os azuis? Eles eram o perigo. Sempre disputando palmo a palmo com os vermelhos. Larissa era a prima da matilha e conversou com To seu segundo sobre o tema. Ela sabia que as outras matilhas no eram preo para os vermelhos. Como descobrir o que os azuis iriam fazer? Afinal a preparao era segredo para todos. Cada matilha teve um ms para se preparar. E no era na sede por isso ningum sabia o que iriam apresentar. Marcaram uma reunio na casa do To. Toda a matilha Vermelha. Eram seis. Larcio, Matilde, Nomia, Vadinho, Larissa e To. A me dele sempre prestativa e alegre com os lobinhos. Serviu uma vitamina de mamo bem geladinho com biscoitos achocolatados. Larissa repassou novamente a apresentao da matilha. Depois colocou o problema na mesa. Quem sabe o que os azuis iro apresentar? Ningum sabia. Ficaram ali conversando por mais uma hora. Larissa muito esperta disse que sem saber o que eles os azuis iriam fazer no seria possvel ter a certeza que iriam ganhar novamente. Algum pode descobrir? Ningum podia. Era uma reunio secreta que as matilhas faziam e ningum podia se aproximar que no fosse da prpria. Tive uma ideia! Disse o Larcio, e se colocssemos na reunio deles um Cavalo de Troia? Poucos sabiam o que era isso. Foi o prprio Laercio quem explicou - O cavalo de Troia foi um grande cavalo de madeira usado pelos gregos durante a Guerra de Troia, como um estratagema decisivo para a conquista da cidade fortificada

de Troia, cujas runas esto em terras hoje turcas. Tomado pelos troianos como um smbolo de sua vitria, foi carregado para dentro das muralhas, sem saberem que em seu interior se ocultava o inimigo. noite, guerreiros saem do cavalo, dominam as sentinelas e possibilitam a entrada do exrcito grego, levando a cidade runa. Duvidas brotaram. Mas vamos fazer um cavalo de madeira e colocar no quarto do primo da matilha azul? Risos de todos. Nada disto tenho um plano disse Larcio. Vamos dar a ele um presente. Um presente que ele no gosta. Ele vai deixar no quarto e no vai ligar. Dentro do presente iremos colocar um microfone em miniatura. Meu tio detetive e acho que pode me dar um de presente. Quando soubermos o dia que iro se reunir, ficaremos prximos a casa dele e vamos ouvir tudo! Grande plano disse Larissa. Os demais ficaram meio assim. Acharam que no era prprio de lobinhos e da Lei do Lobinho. Mas no final Larissa convenceu todo mundo. Uma semana antes todos j sabiam o que os azuis iriam fazer. Deram at risadas, pois as danas da Jngal j no eram mais surpresas e um deles soube de uma nova de Kaa. Treinaram a valer. Eles estavam no papo. O dia chegou. Sorrisos, um olhando para o outro. Melhor Possvel! Melhor Possvel Akel! O Grande Uivo foi lindo. Todos pulando juntos e alto gritando Melhor! Melhor! Melhor e Melhor! Fizeram um jogo de cola (um escolhido como cola, os demais soltos no ptio, o cola encosta em um e cola e vai tentando colar todos os demais). Mas a espera era mesmo na apresentao. Soninha da Verde com seus olhos azuis sonhava com os bombons. Zeraldo da Marrom pensava como seria bom ganhar e comer os sonhos de Valsa. Todos agora s viam as trs caixas de bombons, pois era o maior premio que poderiam receber naquele dia. A hora chegou. Balu chamou todos at o anfiteatro. Aboletaram-se na frente. Ningum queria ficar distante do palco. A Matilha Verde fez uma apresentao primorosa. A me de um deles era professora de canto e tocava violino. Treinou com eles uma cano linda. Uma apresentao de gala. Depois foi chamado a Marrom. Fizeram um pequeno teatrinho contando a vida de Baden Powell. Perfeito, lindo mesmo. Ningum sabia que eles poderiam fazer to bela representao. Foi vez dos vermelhos. Larissa toda posuda foi a primeira a interpretar o bombeiro. Cada um se esmerou quando chegou sua hora. Riram muito do Laercio interpretando o nenenzinho choro. Muitas palmas quanto terminaram. Larissa olhava para cada um e sorria. Era como a dizer que no tinha para ningum. Mas meu Deus! Chegou vez dos Azuis. Arrasaram. Simplesmente arrasaram. No apresentaram nenhuma dana. O que ouve? Alarme falso no microfone do Laercio? O que eles fizeram at os vermelhos tiveram que aplaudir. Uma apresentao primorosa. A fbula da Estrela Verde. Apresentaram soberbamente. Linda a historia. Deus mandou varias estrelas a terra. Voltaram desiludidas muitos anos depois. Disseram que a terra um mundo ruim. Gente se matando, roubando, no existe amor e quando existe s uma paixo

passageira. Porque continuar l? Disseram. Deus ento deu falta de uma estrela. Onde est a Verde? Perguntou. Ela? Disseram. Ficou l, achou que poderia ajudar os humanos a mudarem de atitude. A serem bons. A amarem uns aos outros. Deus e as demais estrelas ento olharam para a terra e viram um claro verde em volta dela. Uma lio de moral para os vermelhos. No pensaram nos outros s em s prprio. Queriam a todo custo ganhar e para isto no mediram as consequncias. Foram desonestos. Esqueceram que todos na Alcatia so irmos uns dos outros. E o pior os azuis quando receberam o premio foram a cada um dos lobinhos com a caixa oferecendo. No disseram tire um, mas fique a vontade para escolher seu bombom preferido. Larissa ficou envergonhada. Foi at aos azuis e abraou a cada um individualmente. Finalmente a palestra da Akel na Pedra do Conselho foi linda. Ela disse que na Alcatia todos so estrelas. Que estamos ali para aprendermos que a amizade vale tudo. Que devemos ganhar se possvel, mas se no for, que se aplauda o vencedor. Parabenizou os azuis por serem to gentis em distriburem com toda a Alcatia o premio. Larissa jurou para s que nunca mais fariam o que fizeram. O gesto dos azuis tocou fundo em cada um. E assim termina a operao Cavalo de Troia. Tudo deu errado. Mas tudo deu certo para aprender a crescer internamente. Isto ser lobinho. Uma lio cada dia e um corao firme nas sendas do escotismo honesto, leal e sincero. Como bom ser lobinho ou lobinha. Sorrir, cantar e ver sonhos realizados na Alcatia de Sheone. E a matilha Vermelha continuou unida por muitos e muitos anos. Alguns passaram para a tropa, entraram outros, mas a amizade, a fraternidade e o respeito faziam parte da vida de cada um. Nas cerimnias do Grande Uivo, os Vermelhos saltavam com alegria e vivacidade a dizer a plenos pulmes quem eram e o que seriam Melhor, melhor, melhor? Sim, melhor, melhor, melhor e melhor.

Uma parbola interessante. Por que as pessoas sofrem? V, por que as pessoas sofrem? Como , minha neta? Por que as pessoas grandes vivem bravas, irritadas, sempre preocupadas com alguma coisa? Bem, minha filha, muitas vezes porque elas foram ensinadas a viver assim. V... Oi... Como que as pessoas podem ser ensinadas a viver mal? No consigo entender. Na minha escola a professora s me ensina coisas boas.

que elas no percebem que foram convencidas a ser infelizes, e no conseguem mudar o que as torna assim. Voc no est entendendo, no , meu amor? No, Vov. Voc lembra-se da estorinha do Patinho Feio? Lembro. Ento... O Patinho se considerava feio porque era diferente. Isso o deixava muito infeliz e perturbado. To infeliz, que um dia resolveu ir embora e viver sozinho. S que o lago que ele procurou para nadar havia congelado e estava muito frio. Quando ele olhou para o seu reflexo no lago, percebeu que ele era, na verdade, um maravilhoso cisne. E, assim, se juntou aos seus iguais e viveu feliz para sempre. O que isso tem a ver com a tristeza das pessoas? Bem, quando nascemos, somos separados de nossa Natureza-cisne. Ficamos, como patinhos, tentando aceitar o que os outros dizem que est certo. Ento, passamos muito tempo tentando virar patos. por isso que as pessoas grandes esto sempre irritadas? por isso! Viu como voc esperta? Ento, s a gente perceber que cisne que tudo dar certo? Na verdade, minha filha, encontrar o nosso verdadeiro espelho no to fcil assim. Voc lembra o que o cisnezinho precisava fazer para poder se enxergar? O que? Ele primeiro precisou parar de tentar ser um pato. Isso significa parar de tentar ser quem a gente no . Depois, ele aceitou ficar um tempo sozinho para se encontrar. Por isso ele passou muito frio, no , vov? Passou frio, fome e ficou sozinho no inverno. por isso que o papai anda to sozinho e bravo? No entendi minha filha? Meu pai est sempre bravo, sempre quieto com a msica e a televiso dele. Outro dia ele estava chorando no banheiro... V, o papai um cisne que pensa que um pato? Todos ns somos querida. Em parte. Ele vai descobrir quem ele de verdade? Vai, minha filha, vai. Mas, quando estamos no inverno, no podemos desistir, nem esperar que o espelho venha at ns. Temos que exercer a humildade e procurar ajuda at encontrarmos. E a viramos cisnes? Ns j somos cisnes. Apenas temos que deixar que o cisne venha para fora e tenha espao para viver e para se manifestar. Aonde voc vai? Vou contar para o papai o cisne bonito que ele ! A boa vov apenas sorriu! (encontrado na internet sem identificao)

A Vaca malhada do seu Lindolfo da Maria Dizem que historias acontecem com todos ns. E claro sempre procuramos dar uma conotao diferente quando contamos para algum. A verdade absoluta nem sempre vem tona, mas contar o real ser que vale a pena? Se for assim melhor no continuar. Iro dizer O Escoteiro tem uma s palavra! Claro que sim. Mas historias? Contos? Fbulas? Lendas? Sem uma pitada do incrvel ou inacreditvel acho que no teria graa. Assim sou eu. Gosto de contar histrias. Gosto de fazer as pessoas sonharem que poderiam estar l, nas frases que escrevo no real ou imaginrio no importa. Afinal quem no gosta de sonhar? Nosso "Chefe" Escoteiro conheceu o seu Lindolfo da Maria em um ms de maio durante uma competio de cantorias, chamadas de repentes onde os cantadores cantam versos com perguntas ou provocaes. Uma peleja gostosa onde vence sempre o cantor que cria os melhores repentes.

Minha verdadeira me, Maria restauradora. Dai-me boa inspirao s a minha protetora Sou poeta dos repentes Sou Lindolfo da Maria Com frase lasciva ou lbrica, contra mim, quem vier, cai. Tenho feito cantor sbio. Me chamar de mestre e pai. Vou botar voc em canto. Que morre doido e no sai. Isto mesmo, assim comeou uma grande amizade entre nosso "Chefe" Escoteiro e o seu Lindolfo da Maria. Mas chega de entretantos e vamos aos finalment es, pois o causo aqui da Vaca Malhada do seu Lindolfo da Maria. Um convite para conhecer seu stio e l foi nossa Patrulha a primeira a aventurar por aquelas bandas, por sinal j desejado por ns. Derribadinha, um lugarejo as margens da estrada de ferro com menos de quinhentas almas. Chegamos cedo, por volta das onze da manh no rpido da Estrada de Ferro Vitria Minas. Pergunta aqui e ali e menos de uma hora depois chegamos. Recebeu-nos efusivamente. Encontramos um bom local junto a um bambuzal, com aqueles tipos enormes, grossos e at me lembrei de uma pesquisa que fiz de onde surgiu a palavra bambu. H indcios de que a palavra bambu tenha origem no forte barulho provocado pelo estouro dos seus colmos quando submetidos ao fogo, bamboo!. No Brasil, para denominar esta planta, os indgenas empregavam, entre outras, as palavras taboca e taquara. Mas voltemos ao local escolhido. Um riacho gostoso, uma plantao de mandioca, belos ps de goiaba, vrios de mamo papaia enfim, um sonho de qualquer Patrulha Escoteira. No primeiro dia foi aquele corre, corre da preparao do campo. A noite uma lua enorme bunita qui nem um queijo nos deixou alegre em ver toda a campina a nossa volta com alguns animais pastando aqui e ali. Mas este foi um acampamento curto. Muito curto mesmo. Sem muitas histrias para contar. Por qu? Acordamos de madrugada com nossa barraca sendo sugada! Isto mesmo, sugada! Acordei e vi uma boca enorme em minha direo. Um monstro! Dei um berro e todos acordaram com ele. Samos correndo em desabalada carreira. De longe ficamos olhando o que era a tal assombrao. No deu para ver. O acampamento da Patrulha desapareceu. Um medo terrvel se apossou de ns. Era melhor procurar o seu Lindolfo da Maria. Acordou um pouco assustado. Quando contamos ele riu a bea. No se preocupem, esqueci-me de avisar, deve ter sido a Vaca Malhada. Ele sempre faz isto. Dizem que ela tem uma boca enorme. Vamos at l, pois ela come de tudo. Dito e feito. O acampamento era um desastre. A danada da Vaca Malhada destruiu tudo. Juntamos o que podamos e fomos dormir no pequeno seleiro do seu Lindolfo da Maria. No dia seguinte vimos que tudo fora destrudo. Maldita vaca pensei comigo. Mas faz parte. Aprendemos que uma pequena cerca de cip ou sisal poderia ter ajudado. Esquecemo-nos de fazer. No foi um grande acampamento, mas ao amanhecer resolvemos fazer companhia ao seu Lindolfo da Maria em sua lida

no campo. ramos sete e nos divertimos na curralama em tirar o leite, em separar a bezerrada, e at eu resolvi campe-los um pouco. Ficamos l por mais um dia. No final juntamos o que sobrou e sem chorar pela perda voltamos. Dispostos claro a conseguir de novo tudo que perdemos. Assim a vida, perde aqui, ganha ali. Nada deve ser eterno e nem pode ser. Um dia volto l e vou desafiar o seu Lindolfo da Maria para uma peleja gostosa de repentes, pois quando cresci aprendi muito. Nas rodas a noite dos fogos de conselho, l estava eu a desafiar no Quebra Coco. Claro, perdi muitos desafios, mas ganhei outros tantos, afinal no era assim que comeava? Amigos aqui presentes, hoje estou um pouco rouco, Mas bom ficar sabendo, sou campeo no Quebra Coco! Quebra coco, quebra coco, na ladeira do Pi, Escoteiro, quebra coco, e depois vai trabalhar.

UMA LENDA, UMA LINDA LENDA. Existe uma histria de simplicidade linda, que eu gostaria de contar. Uma lenda, um acalanto... No sei se verdade... E no me importo com isso. No precisa ser... Foi h muito tempo atrs depois de o mundo ser criado e da vida complet-lo. Num dia, numa tarde de cu azul e calor ameno. Um encontro entre Deus e um de seus incontveis anjos. Acredita? Deus estava sentado, calado. Sob a sombra de um p de jabuticaba. Lentamente sem pecado, Deus erguia suas mos ento colhia uma ou outra fruta. Saboreava sua criao negra e adocicada. Fechava os olhos e pensava. Permitia-se um sorriso piedoso. Mantinha seu olhar complacente. Foi ento que das nuvens um de seus muitos arcanjos desceu e veio em sua direo. J ouviu a voz de um anjo? como o canto de mil baleias. como o pranto de todas as crianas do mundo. como o sussurro da brisa. Ele tinha asas lindas. Brancas, imaculadas. Ajoelhou-se aos ps de Deus e falou: Senhor visitei sua criao como pediu. Fui a todos os cantos. Estive no sul, no norte. No leste e oeste. Vi e fiz parte de todas as coisas. Observei cada uma de suas crianas humanas. E por ter visto, vim at o Senhor... Para tentar entender. Por qu? Por que cada uma das pessoas sobre a terra tem apenas uma asa? Ns anjos temos duas. Podemos ir at o amor que o Senhor representa sempre que desejarmos. Podemos voar para a liberdade sempre que quisermos. Mas os humanos com sua nica asa no podem voar. No podem

voar com apenas uma asa... Deus na brandura dos gestos, respondeu pacientemente ao seu anjo. Sim... Eu sei disso. Sei que fiz os humanos com apenas uma asa... Intrigado, com a conscincia absoluta de seu Senhor o anjo queria entender e perguntou: Mas por que o Senhor deu aos homens apenas uma asa quando so necessrias duas asas para se poder voar... Para se poder ser livre? Conhecedor que era de todas as respostas, Deus no teve pressa para falar. Comeu outra jabuticaba, obscura e suave. Ento, respondeu: __ Eles podem voar sim meu anjo. Dei aos humanos apenas uma asa para que eles pudessem voar mais e melhor que Eu ou vocs, meus arcanjos... Para voar, meu amigo, voc precisa de suas duas asas... Embora livre, sempre estar sozinho. Talvez da mesma maneira que Eu... Mas os humanos... Os humanos com sua nica asa precisaro sempre dar as mos para algum a fim de terem suas duas asas. Cada um deles tem na verdade um par de asas... Uma outra asa em algum lugar do mundo que completa o par. Assim eles aprendero a se respeitarem, pois ao quebrar a nica asa de outra pessoa, podem estar acabando com as suas prprias chances de voar. Assim meu anjo, eles aprendero a amar verdadeiramente outra pessoa... Aprendero que somente se permitindo amar, eles podero voar. Tocando a mo de outra pessoa em um abrao correto e afetuoso eles podero encontrar a asa que lhes falta... E podero finalmente voar. Somente atravs do amor iro chegar at onde estou... Assim como voc meu anjo. E eles nunca. . . Nunca "estaro sozinhos quando forem voar.. Deus silenciou em seu sorriso. O anjo compreendeu o que no precisava ser dito. Escrito por: Fbio E.

Nas terras bravias do Lago Dourado. Foi uma noite calma. As estrelas no cintilavam no cu como no dia anterior. Algumas nuvens brancas as cobriam como se fossem um manto protetor. A lua se fora h tempos. Achei que ia chover. No choveu. Meus olhos estavam fechados. Dormitava pela madrugada fria. Um pequeno tronco me serviu como travesseiro. Coisas de um "Velho" mateiro acostumado. Um pequeno fogo ao lado agora s brasas com pequenas fagulhas que se inibiam ao subir aos cus me davam um pouquinho de calor. Pela aba do meu chapu de trs bicos eu podia ver a escurido da noite. Gostava dela. noite. Era minha amiga de muitas e muitas jornadas.

No ansiava pela madrugada. Que ela chegasse de mansinho. No era um arbusto e quem sabe seria um pequeno arvoredo que encontrei perdido naquele vale dos sonhos era onde dormia. Serviu-me de manto para a noite gostosa daquele inverno que no fora to rigoroso como os anteriores. Minha mochila ao lado era minha companheira de anos e anos de caminhada. Sempre fora. Dentro dela com carinho estavam minhas bugigangas de mais uma jornada. Meu bornal pendurado no galho guardava minha matutagem caso tivesse fome. Abri um olho de mansinho. Avistei uma cigarra azul que cantava baixinho seus cantos noturnos. Gosto das cigarras. Fazem-se de prdigas e s aparecem uma vez ao ano. E como so lindas. Amo-as! Muito! Senti uma brisa leve no rosto. Soprava gostosamente. Gostosa mesmo. Afagante. A brisa. Sempre perdida por a. Nas montanhas, nos vales nos rios caudalosos ou no pequeno riacho de aguas turvas. Uma amiga. No se esquece da gente. Os anos passam e l est ela. A madrugada no iria demorar. Grilos falantes pareciam fantasminhas na escurido noturna. Melhor tentar dormir. Fora um dia e tanto. Uma grande jornada de um "Velho" Escoteiro sonhador. Um vagalume pousou no meu ombro. Sorri para ele. Enrosquei-me na Manta Negra que um dia a muitos e muitos anos meu V me deu com carinho. No sentia frio. O corpo curtido pela idade j no era aquele de um passado que se foi. Um pequeno lusco fusco. Sinal que ela a madrugada ia chegar. Eu gostava das madrugadas. Eram lindas. No importava se com sol ou com chuva. Adorava as madrugadas nos campos perdidos deste mundo de Deus. O cheiro da relva, das flores silvestres. O cheiro da terra. Ah! Maravilhoso! Tive madrugadas que marcaram. Com brumas a cobrir o campo verdejante, com brumas sobre os lagos azuis, cinzentos e vermelhos com o sol cobrindo-os. As brumas. Ah! Adoro-as. So lindas, querem cobrir meus olhos. No querem que voc veja ningum s elas. Mas choram. Choram porque o sol ir chegar e elas tero que ir para longe, aonde ele o Senhor Sol ainda no chegou. L no horizonte um pequeno brilho. Pequeno mesmo. O sol. Ele estava chegando. Gostava de anunciar sua chegada. Era o rei. No era um astro qualquer. No aparecia assim do nada. Anunciava que se preparassem todos. Uma pequena claridade, um pequeno vermelho desbotado, raios brancos tingidos de amarelo ouro e eis que ele aparece. A montanha o reverencia. O dia nasceu. Eu estou acordado. Uma hora sagrada. Sempre gosto de ver o nascer do dia. como se fosse uma criana chegando ao mundo. As brumas cinzentas me disseram adeus. O orvalho se escondeu. A ltima gota dgua caiu de uma folha adormecida. A brisa insistente continuava l a me acariciar o rosto. No se afastava. Uma amiga de pocas e pocas passadas. Hora de partir. No disse adeus para todos eles que me acompanharam a noite e no lusco fusco da manh. No precisava. Eles sabiam que no era mais que um at logo, no era mais que um breve adeus. Eu voltaria. O "Velho" Escoteiro no para. Em sonhos ou pisante nos meus ps hoje cansados. Ajeitei meu leno, arrumei meu meio. Calcei meu velho coturno de guerra. Mochila as costas, pendurei meu bornal no ombro. Minha forquilha de anos e anos e

agradeci o arbusto que me serviu de lar e parti. Meu rumo? O mesmo de sempre. A busca da aventura. Sabia que em algum lugar iria encontrar o Lago Dourado. Diziam que no tinha peixes. Que uma bruma cinza o cobria por todo o tempo. Isto eu iria ver quando chegasse. O sol a pino. Gosto disto. Os primeiros pingos do suor caem e somem na estrada da vida que leva a rumos impossveis. Meu chapu de abas largas me protege. A forquilha me ajuda a andar e achar o caminho. Uma montanha verde, cheia de arvores lindas e floridas avisto ao longe. Deve estar perto a minha busca incessante. Quem sabe na virada da curva da Raposa que Chora eu encontro o Lago Dourado. Acordo. Era um sonho. Sempre sonho com este lago. Um dia irei encontrar. A cada dia em meus sonhos mais me aproximo. Levanto. Dou um sorriso. Um novo dia. Na janela o sol. No h brumas. At o lusco fusco da manh se foi. A brisa est ali de leve de mansinho nunca deixou de me acariciar o rosto. Mais um dia iniciando. Ele vai passar como tantos que passaram. E quando a noite chegar vou dormir, vou sonhar e quem sabe um dia eu vou encontrar o Lago Dourado. No vou desistir dos meus sonhos. Eles fazem parte de mim. A cada dia eu digo, no desista "Velho" Escoteiro. Digo sempre Eu voltarei. Quem sabe um dia eu poderei dizer que encontrei o meu querido Lago Dourado?

A chuva. Ela chegou. Uma espera inolvidvel. Quanta espera. Chegou agora. De mansinho, dizem que das boas. Daquelas que chegam sem barulho. Duram horas, dias e tem casos de semana. Adoro a chuva. No importa onde. Pode ser em casa, viajando de trem. Nem posso falar. Pela janela do trem ver a chuva cair um espetculo inesquecvel. Al vai ele, o trem. A correr pelas campinas sempre ao lado de um rio caudaloso ou no e a chuva cai. Que saudades! Estava na varanda, pensando no vento que soprava. Devagar. Calmo. E eis que ela chega. Trs uma gostosa brisa. Fresca. Espanta um pouco o calor de trinta e seis graus. Gostosa. Doce. Me lembrei de acampamentos. Quantos e quantos a chuva chegou. s vezes brava. Gritante. Raios enormes e troves que ribombavam o cu. Outras aquelas que no faziam barulho. Simples. Calma como a dizer no se assuste Escoteiro. S vim molhar a terra. Estava seca. Precisava de mim. Na barraca, ouvir os pingos na lona, uma musica suave, gostosa, como um cantar da mame nas noites de chuva para me fazer dormir. Tempos que j se foram. As madrugadas, a chuva no para. Abrir a porta da barraca, sentir o cheiro da terra! O farfalhar das rvores, a floresta falando baixinho chove chuva. Maravilhoso! Chove chuva. Quantas melodias me vm a memoria. Prefiro uma s. Saudades de tantas, deixa chover!

Chuva O cu est fechado escuro me parece vai chover no meu jardim Depois que voc me deixou nunca mais choveu em mim Como esquecer todas as noites que a gente se amava sem pensar No tinha luz fazia frio e a chuva nos molhava. Chove chuva, chove vem lavar esta saudade. Leva do meu peito as lembranas que me invadem Chove chuva, chove vem lavar esta saudade. Lava do meu peito as lembranas que me invadem Por favor. Joo Bosco e Vincius

Lendas escoteiras. A lenda de Chico Mortalha O malvado. Todos os habitantes de Floradas na Serra conheciam a lenda. Claro, lenda lenda e serve para contar, no para acreditar. Mas a crianada da cidade acreditava. Mames, professoras, pais, vovs quando queriam chamar ateno por uma simples travessura l estava Chico Mortalha presente para amedrontar. Se foi verdade ou no isto no posso dizer. Quem me contou foi o Padre Josenilton. Chico Mortalha era um pistoleiro famoso. Um matador. Matava tudo que encontrava. Velhos, moos, jovens, crianas, animais. Matava tudo que aparecesse em sua frente. Seu ltimo crime foi morte do Bispo Marcelino. Gente boa, bonssima. Mas o prefeito encrencou com ele. Pagou a Chico Mortalha para dar um sumio no bispo. Dito e feito. O Bispo sumiu! Ningum nunca mais o viu. Desconfiaram que fosse crime encomendado. Chamaram o Delegado Paredes da capital. No provou, mas disse que foi Chico Mortalha. O povo se revoltou. Foi na casa dele. Levaram-no para a Lagoa das Piranhas. Tiraram a roupa dele e amarraram em todo seu corpo nacos de corao de boi. As piranhas adoram. Amarraram ele em um galho que dava em cima da lagoa. Iam descendo aos poucos seu corpo. As piranhas devoravam tudo que mergulhava na gua. Primeiro suas pernas, depois seu corpo, s sobrou cabea de Chico Mortalha. Dizem que no deu um gemido. Por fim cortaram a corda e Chico sumiu nas aguas profundas da lagoa. Contava-se que uma vez por ano, na data de sua morte, ele aparecia na lagoa, em p, sem afundar e dava gemidos imensos que nenhum peixe, nenhum animal ficava por perto. H mais de trinta anos existia um belo Grupo Escoteiro em Floradas na Serra. Quase todos os homens da cidade haviam passado pelas suas fileiras.

Uma grande Alcatia, uma tima tropa, trs Patrulha seniores e um Cl que precisa definir quantos poderiam participar, pois em suas reunies sempre apareciam mais de cinquenta pioneiros. Seria um tema para o prximo Conselho de Chefes do Grupo. Chiquinho Mortalha era Snior. Desculpe. Risos. Seu nome era Lorenildo Simplcio das Mercs. No gostava do nome. Nunca gostou. Quando foi lobinho colocaram nele este apelido. No se incomodou. Ficou para sempre. Talvez por ficar sempre de cara amarrada. No sorria. Mas todos gostavam dele. Tinha uma fora descomunal para sua idade. No era alto, mas levantava toras, pesos enormes com facilidade. Nos acampamentos o pau para toda obra. Era bem quisto na Patrulha. Desde quando Escoteiro. Conseguiu a Primeira Classe. Pretendia ser Escoteiro da Ptria. Em sua Patrulha todos os temiam. No pela sua fora, mas pela sua astcia. Dizia que quando desse na telha ia enfrentar este tal de Chico Mortalha l na lagoa na data que costumava aparecer. Ningum acreditava. Dito e feito. Em onze de agosto, data da morte do tal Chico Mortalha l foi ele rumo lagoa. Sozinho claro. Levou sua faca, sua machadinha e uma corda de dez metros. L chegando subiu no p de uma Copaba enorme. Se amarrou nos galhos e esperou. No tinha pressa. Que venha o Chico Mortalha. Estava na hora de enfrent-lo. Sete horas da noite, nove, dez, onze, meia noite. Nada do Chico. Era fanfarronice. Ela assim pensava. Uma hora cochilou. Dormiu. No caiu, pois estava amarrado. Mas algum o desamarrou. Ele caiu do alto dentro da lagoa. Afundou. Abriu os olhos e viu com horror o Chico Mortalha. S a caveira, pois as piranhas no deixaram nada. Chico sorria para Chiquinho. No teve medo. Pegou sua faca e disse que ele era Escoteiro. O Escoteiro no tem medo de nada A caveira comeou a rir. Gargalhadas enormes. Chiquinho isto Lorenildo precisa de ar. Subiu at a borda da lagoa, respirou e mergulhou de novo. Danado de Snior. No tinha medo mesmo. A caveira o pegou pelo ombro, o levou at o p da rvore fora da lagoa. O abraou e disse a ele que era bom conhecer um Escoteiro. Poderia ter sido um, pois quem sabe no seria o que tinha sido. Ficaram amigos. Conversaram toda a madrugada. Chico Mortalha contou muito da sua vida. De seu grande amor por Nininha, mas nunca disse a ela. Morrera de tuberculose e solteira. Hoje ela faz companhia a ele no fundo da lagoa. O dia amanheceu. Lorenildo voltou para sua casa. Seus pais preocupados. Todos os escoteiros a procurada dele. Resolveu no contar nada. No devia. Agora era amigo de Chico Mortalha o Malvado. Tinha prometido a ele que voltaria no prximo aniversrio e iria conhecer Nininha. O tempo passou. Lorenildo casou. Contou para seus filhos, mas eles riam e achavam que seu pai era um bom contador de histrias. Todos os anos, durante toda a sua vida Lorenildo voltava lagoa. Fizera um amigo, ou melhor, amigos. Chico e Nininha. Sentava a beira da Copaba e Chico Mortalha aparecia com Nininha e eles se abraavam. Ficavam ali conversando por toda a madrugada. A cidade sabia, mas tinha medo. O Grupo Escoteiro no comentava. A Patrulha entendia. Amigos so amigos. Durante toda sua vida

agora como Chefe Escoteiro no deixava de visitar Chico Mortalha e Nininha na Lagoa das Piranhas. Amigos para sempre. Diferente, pois Chiquinho era um Escoteiro do bem. E como dizem Por a, boi no vaca, feijo no arroz e quem quiser que conte dois! E como dizia minha av, Pedro, nem t-lo, nem v-lo, nem quer-lo, nem a porta da casa consegui-lo... mas sempre bom na casa hav-lo. Risos. E quem quiser que conte outra!

As mais lindas lendas escoteiras. Uma historia para lobinhos e lobinhas. A coruja dos olhos verdes. Ela no tinha muitas lembranas do seu passado. Sua me morreu um ms depois que nasceu vitima de uma pedrada dada por um homem. Sem motivo. Um Pardal Cinzento trazia comida para ela todos os dias. Assim se fortaleceu at que sozinha procurava sua comida. O Pardal Cinzento um dia tambm sumiu. Quem sabe morreu por outra pedrada de outro homem. Corria deles. Parece que no gostavam das flores, dos animais, dos pssaros, das arvores e matavam por qualquer coisa por nenhum motivo. Saia pela manh para procurar sua alimentao e voltava logo. Costumava voar at o Brejo da Saudade onde encontrava sempre minhoquinhas pequenas e elas lhe davam fora para viver mais um dia. Gostava de ir passear tambm pelo Vale da Esperana, pois sempre encontrava borboletas, bem-te-vis, abelhas douradas e elas eram grandes amigas. Mas a maioria do tempo ela passava ali, no galho da Arvore Da Felicidade. Grande amiga. A viu crescer e se tornar adulta. Tinha ali sua casinha. Ficava sempre a perscrutar o horizonte para ver se algum animal, e se algum pssaro poderia vir para aproveitar a sombra da Arvore da Felicidade. De vez em quando aparecia um quati, um lobo, uma ona ou um tatu e uma vez riu muito quando um casal de antas que cantavam dando gargalhadas uma cano esquisita. Diziam: - Ratapl do Arrebol! Ainda bem que nunca apareceu um homem. Tinha muito medo de pedradas. Mas naquela manh, quase quando o sol ficou sem sombra chegaram seis meninos. A Coruja dos Olhos Verdes se escondeu na copa da rvore da Felicidade. Eles se arrancharam e uns pegaram lenha outro foi ao Riacho do Amor pegar agua nos cantis e pescar. Eram alegres e A Coruja dos Olhos Verdes criou coragem e voltou ao seu posto de observao. Eles no gritavam, no brigavam e cantavam muito. Tinham um enorme chapu de trs bicos na cabea um leno cor verde e amarelo e suas roupas eram iguais. Fizeram uma espcie de sopa e comeram com vontade. Um deles

cujo nome era Toquinho olhou para cima e viu a Coruja dos Olhos Verdes. Parecia que ele entendia sua lngua e ele disse Olha Corujinha, voc linda! No tenha medo. Sou um Escoteiro e o Escoteiro amigo dos animais e das plantas! Ela sorriu e ainda tremendo disse Ol! Os outros a viram, mas no sabiam sua lngua. S o Toquinho. Ficaram por um dia e meio. noite cantaram canes lindas. Acenderam uma fogueira e a Arvore da Felicidade reclamou da fumaa. Dormiram encostados a rvore da Felicidade. Nem bem o sol apareceu no horizonte levantaram e se foram. Toquinho olhou para a Coruja dos Olhos Verdes e se despediu. Adeus linda corujinha. Quem sabe um dia voltaremos a nos ver? Quando viraram na Colina Verdejante, prximo ao Monte da Alegria o vento balanou os galhos e as folhas da Arvore da Felicidade e eles desapareceram de sua vista. A Coruja dos Olhos Verdes comeou a chorar. A rvore da Felicidade chorou tambm. Porque no vai atrs deles e saber onde vo ficar? A Coruja dos Olhos Verdes no se fez de rogada. La foi ela batendo suas asas atrs dos meninos do chapu de trs bicos. Voava alto quando os viu. Viu tambm um grande acampamento de escoteiros e escoteiras. Pareciam formigas a correr aqui e ali. Viu que os seis meninos erraram o caminho. Ela foi voando at l e teve que descer para falar com Toquinho onde era o caminho certo. Ele agradeceu. Voltaram e pegaram a trilha certa. Foi uma boa ao que ela fez. Comeou a voar de volta. No era longe a sua morada na Arvore da Felicidade. Sentiu uma forte dor na asa direita. Olhou e viu dois meninos que no eram escoteiros com pedras na mo. Eles a tinham acertado. Com muito custo voando com muita dificuldade chegou a sua casinha. Deitou. Uma dor enorme ela sentia. Muito sangue escorria. Acordou e viu sua me e o Pardal Cinzento que a ajudou quando pequena a sorrirem para ela. Mostraram uma nuvem e ela voou at l. Sentaram na nuvem branca e subiram aos cus. A Arvore da Felicidade chorou por muito tempo. Agora estava sozinha. A corujinha se fora. Os animais que ali apareciam tambm choravam. Um dia, numa tarde linda, com ventos brandos vindo do norte, em meio a uma brisa fresca, eis que apareceu a Coruja dos Olhos Verdes. Sorriu para a Arvore da Felicidade que tambm sorriu. E a felicidade voltou a viver junto a todos que moravam no Vale da Esperana. A Arvore da Felicidade e todos os que ali chegavam para descansar na sua sombra sempre sorriam. Mesmo onde existe a maldade, devemos perdoar e sorrir. Isto como se a felicidade estivesse sempre conosco. A rvore da Felicidade aprendeu com a Coruja de Olhos verdes que a verdadeira felicidade fazer os outros felizes!

A lenda do Tico-Tico da asa partida

Quanto tempo! Muitos anos quando ouvi esta histria que hoje resolvi contar. Se no me engano foi a Chefe Marlene. Hoje ela tambm est to velhinha como eu. Nunca me esqueci dela. Sua Alcatia era um doce. A alegria era reinante. Conheci muitos dos seus lobinhos, hoje homens feitos. Chefe Marlene era de uma simpatia que quem a conhecesse diria que no tinha inimigos. E no tinha mesmo! Um dia na casa dela me contou uma histria que a principio no acreditei muito, mas era a Chefe Marlene. Tinha palavra. Lavinia tinha seis anos e meio quando entrou para Alcatia. Assim comeou a sua narrativa a Chefe Marlene Era uma menina triste. Quase no sorria. Brincvamos sempre com ela e ela sria. Mas sempre achei um dia ela iria mudar. No se entrosou muito na matilha. Fazer amigos para ela era uma dificuldade. Sempre se mostrando arredia. Acho que foi no Acantonamento que fizemos em Rio Bonito que tudo comeou. Seriam trs dias. Os pais de Lavinia eram muito simpticos. Alegres e eu no entendia a personalidade de Lavinia com a sua testa sempre franzida e os lbios fechados. Ela custava a enturmar apesar de que sua matilha verde era especial. Antiga e a maioria dos lobinhos eram como irmos. Tudo corria bem at um dia depois do almoo que demos pela falta dela. Um jogo gostoso chamado fugindo do lobo mau e ela sumiu. Onde estaria? Procuramos em volta das arvores, na casa sede e nem no riacho vimos nada. Era um riacho to raso que a parte mais funda no passava do calcanhar de um lobinho. Uma hora depois a vimos surgindo com um sorriso nos lbios. Era um sorriso to bonito que desistimos de chamar sua ateno na hora. Alegria geral, depois de seis meses na Alcatia pela primeira vez ela sorria. Esperei o jantar e quando todos sentaram na varanda para um breve tempo livre a procurei. Ela sorria para mim e dizia Akel, hoje o dia mais feliz da minha vida. Fiz uma amizade que acho ningum tem. Achei um Tico-tico da asa partida e ele gostou de mim e eu dele. - Como sabe que um Tico-tico? Perguntei. Ele me disse! Agora sei como so. Topete baixo listrado, belo, amarelo e ele disse que era um macho. Ele se assustou com um filhoto de chopim querendo comida e gritando com ele. Asas da imaginao pensei. Deixei-a acreditar no que dizia. No sabia se era para o bem dela ou no, pois agora sorrindo valia tudo. At a histria fantstica que contava. Sabe Akel, ela continuou Ele estava fraco, pois sua companheira que o ajudava com alimentos tinha vrios dias que no aparecia. E o que voc come eu perguntei. Ele respondeu Sementes, insetos, mas preste ateno - Muitas vezes acham que somos pardais. E porque sua asa partiu? Ele fechou os olhos e chorou baixinho. Um gavio malvado. - Olhe ele dizia, eu tenho raiva dos chopim. Eles so parasitas. Botam ovos para ns chocarem. No gosto e ele chorou de novo. Olhei para Lavinia e no vi nenhuma mentira em seu rosto ou seu modo de falar. Claro sei que passarinhos no falam assim deixei que ela desenvolvesse sua criatividade. Em pouco tempo ela esqueceria tudo. Todos os dias enquanto durou o acantonamento ela me pedia para visitar o Tico-Tico. Claro deixei, mas ela insistia para ir sozinha.

perto. No vou me perder. Assim foi at o ltimo dia. Uma surpresa aconteceu. Antes do retorno ela correu at o ninho do Tico-Tico e trouxe-o com ela. Achei que no seria bom que ela levasse para casa. Chorou tanto que achei que poderia, mas desde que sua me autorizasse. No nibus todos cantando e Lavinia conversando com o Tico-Tico. Todos assustaram quando uma vozinha fininha no do fundo gritou No parem de cantar! Adoro o que voces cantam. At sei cantar a Arvore da Montanha! Quem foi? Quem era? No vi ningum. Lavinia disse que era o Tico-Tico. Fui at l para repreend-la e o Tico-Tico virou para mim e falou. Ol Akel Marlene, a Lavinia fala muito bem da senhora. Chefe, um susto eu levei. Enorme. Quase ca ao cho. Acredite Chefe, o Tico-Tico falou mesmo! No disse nada. Fica o disse pelo no disse. Tico-Tico falante? Essas alcateias tem cada uma. Ouvi uma vozinha l da cozinha dela chamando Ela me convidou a ir com ela. O Tico-Tico estava em cima da mesa ciscando, dando pulinhos e vi que sua asa estava boa. Um veterinrio. Remendou tudo. Agora ele passeia por aqui quando Lavinia vai para a escola. Este o tal que fala? O Tico-tico me olhou, ciscou para frente e para trs e disse Acha que sou mentiroso Chefe? O Escoteiro e o Tico-tico tem uma s palavra e sua honra vale mais que sua vida! Podem achar que uma lenda. Mas acreditem, eu quase juro que verdade. Danado de Tico-tico falante. Um tagarela isto sim! Risos.

Saudades no tem idade. As exquias do Bagre Limoeiro. Sempre gostei de acampar sozinho. Estar l em plena floresta ou um vale qualquer, sem barulho, sem conversas e claro sem desmerecer as inmeras companhias de milhares de amigos em acampamentos por anos e anos, para mim sempre foi motivo de doce deleite. Quem j teve o privilegio de acampar sozinho deve saber como . Ter a companhia dos pssaros, aprender com eles seu gorjear, ver suas moradas e sem barulho quando esto em bandos, seguir a pista de um quati, de um Tatu Canastra, fazer amizade com um Lobo Guar, e deitar prximo a uma cascata de um pequeno riacho para ouvir o som inigualvel das guas borbulhantes, simplesmente inesquecvel. E a noite? Um espetculo a parte. O som da floresta, dos noturnos habitantes com seu cantar alegre, quem sabe uma coruja de olhos grandes a olhar voc como a dizer - O que vem fazer aqui no meu lar? E as estrelas. Ah! As estrelas. Ficar horas e horas vendo o movimento delas, ser surpreendido com um cometa azul que

passa riscando os cus ou mesmo com o delicioso cair do orvalho, a molhar seu rosto de uma forma carinhosa e simptica. Desde Snior que fazia isto. Hoje no mais. Minhas pernas resolveram aposentar e minhas foras costumam me dar um adeus sem horas para voltar. Mas fiz muitos. Sempre a cada trs ou quatro meses l ia eu para os meus cantos de laser. Acho que o ltimo deve ter sido h uns quatro anos atrs. Eu tinha ou acho que ainda tenho quatro locais lindos. Os meus preferidos. Achava melhor que ir desbravar locais inspitos a no ser em boa companhia de bons acampadores. A Represa do Gavio era ideal. Uma bela mata, um bom gramado, muitos ps de bambus e peixes e o melhor de difcil acesso. E como tinha peixes meu Deus! Bastava levar um quilo de sal, uma meia lata de leo, acar, caf, um ou dois Bombril, um faco, uma faca (a minha que tenho desde os doze anos), uma machadinha, uma manta uma muda de roupa e mais nada. Se fizesse frio nada que um Fogo Espelho no resolvesse. E se chovesse deixe a chuva cair que faz bem e o cheiro da terra molhada de deixar qualquer um inebriado. Aonde ia a comida era farta. Goiabas, jabuticabas, mames verdes ou maduros, maxixes, maracujs, ps de taioba, de mandioca, batata doce e peixe. Uma quantidade imensa. Precisava de mais? Precisava voltar a Represa do Gavio. Na ultima vez que l estive, pesquei um enorme bagre cinzento. Grande mesmo. Demorou para tirar do anzol. Foi ento que ele olhou para mim e como a dizer o que ningum entenderia, me pediu com aqueles olhos chorosos a devolv-lo as guas da represa. S faltou dizer que tinha mulher e filhos. No sei, mas ele teve seu intento aceito de bom grado. J tinha pego uma trara que nada me pediu a no ser tentar dar uma mordida em minhas mos. Ao colocar o bagre na gua, ele sumiu no remanso escuro da noite. No dia seguinte tarde fui pescar uns lambaris para a janta. Seria sopa de maxixe, mandioca e batata doce com pedaos suculentos de lambaris fritos. E no que o danado do Bagre estava l, a nadar e pular como a dizer: Obrigado, muito obrigado. Agora voc meu amigo. Estava com seis limes que tinha achado um pouco acima da represa prximo a cascata do Arco Iris e o apelidei de Bagre Limoeiro. No dia seguinte fui l para cumprimentar o meu amigo Limoeiro. Ou melhor, o Bagre. Estava na beirada da represa, preso entre ramos e morto. Incrvel! Ontem estava bem e hoje assim? O peguei e ele piscou os olhos pela ltima vez. Pensei que iria sentir falta dele quando ali voltasse. Resolvi enterr-lo na beira da represa. Deixar para que outros peixes o comessem no seria certo. Um pequeno buraco, folhas diversas e o coloquei l dizendo adeus. Fiquei triste e preocupado. Ser que fui o culpado? Ele no tinha ficado tanto tempo fora da gua. Mas fazer o que? tardinha voltei ao meu local favorito de pesca e no que l estavam um enorme bagre e mais seis bagrinhos? Esposa e filhos do Bagre Limoeiro? No sei, mas brincavam sem medo de mim na superfcie da gua. Eu sinto falta de muitas coisas que fiz no passado. Muitas mesmo. Falta dos bons acampamentos, dos bons desfiles, de minha corneta favorita, do meu

basto de guia, dos grandiosos Fogo de Conselho em varias partes do Brasil e algumas no exterior. Falta dos amigos que se foram, das caminhadas, das incrveis jornadas ciclsticas, dos deliciosos momentos de deleite quando ribombavam troves e raios em um acampamento. Eram meus momentos favoritos. Adoro a chuva. Mas saudades mesmo eu sinto dos meus acampamentos a Escoteira (aquele que anda s). Dizem que saudades no tem idade e no so apenas lembranas. como se estivssemos l fazendo tudo de novo. E eu com minhas saudades na minha cadeira favorita na varanda do meu lar, vendo o entardecer de um sol que j se foi s tenho a agradecer a Deus pelos momentos felizes que passei no Movimento Escoteiro. Belos momentos a ss junto natureza. Acho que valeu e se valeu eim?

Lendas escoteiras O Lobinho Naldinho e a terrvel Casa do Espanto. Naldinho estava na janela olhando de soslaio para que ningum o visse da casa em frente a sua. J havia seis dias que ele fazia isto. Sua me e seu pai achavam que ele estava dormindo. Dormia cedo. As nove j subia para o seu quarto. Mas desde o dia que foi fechar a janela por causa de um vento sbito ele viu trs formas pessoas em forma de fumaa descer pela chamin da casa vizinha. Naldinho tinha nove anos. Era lobinho da matilha verde. J tinha dois anos de lobinho. Todos gostavam dele. H um ano era o primo da matilha. Conseguira a Primeira Estrela e pensava que at o fim do ano receberia a segunda estrela. Sabia que pelas onze ou onze e meia s assombraes iriam aparecer. Todos os dias era assim. Naldinho lembrava quando ao chegar da escola no viu a placa na casa que fora de Dona Matilde. Seu Geraldo morrera e ela resolveu ir embora morar com a filha. Colocou a casa a venda. Naldinho ao beijar a me perguntou quem era os novos vizinhos. Sua me disse que no viu ningum. No houve mudana. Durante muitos dias a casa ficou fechada at que na noite fatdica Naldinho viu as aparies entrarem pela chamin. Logo notou que havia barulho e janelas fechavam e batiam. Luzes da cor violeta e roxa toda hora piscavam na casa. Isto acontecia at altas madrugas. Naldinho no sabia quando terminavam. O sono chegava e ele ia dormir. No primeiro dia comentou com sua me. Ela como sempre disse que ele estava vendo muito filme de terror. Engano. Naldinho nunca viu nenhum. Na reunio de sbado comentou com Princesa, a sua segunda (o nome dela era Paty) sobre o acontecido. Ela acreditou. Sapinho o terceiro da matilha tambm (Norberto). Eram os trs que ficavam mais juntos, pois alem de serem da mesma matilha estavam na mesma classe na escola. Naldinho queria lev-los a ver a descida dos fantasmas noturnos, mas era impossvel naquela hora.

Nenhuma me deixaria eles ir l. Uma semana tentou ver se as mes deixavam os dois dormir l de uma sexta para um sbado. Deram uma desculpa de um trabalho para a matilha. Uma das mes perguntou a Mirtes, a Akel e ela no se lembrava de nenhum trabalho. Deu em nada. No sbado aps a reunio, Naldinho props aos dois irem at a casa e tentar entrar. Sapinho tremeu e disse que tinha medo. Princesa apesar de ter duvida topou na hora. Nem bem a reunio terminou saram correndo, pois se atrasassem na chegada em casa ia ser um Deus nos acuda! Procuram alguma janela aberta e com surpresa viram que todas estavam abertas e as portas tambm. Entraram. Sala vazia. Sem mveis. Cozinha nada. Subiram ao andar superior. Um cheiro de queimado. Um quarto. Nada, vazio. Segundo quarto uma surpresa. Cordas, velas, uma machadinha, um faco, potes cheios de uma coisa vermelha (seria sangue?) e muitos gravetos num canto. Assustaram-se. No segundo quarto outra surpresa. Uma cama sem estrado. Um emaranhado de arame farpado fazia s vezes de colcho. O que era aquilo? O que significava? Sapinho comeou a tremer e chorar baixinho. Pedia insistentemente para ir embora. Naldinho resolveu descer e ao chegar embaixo um barulho. As janelas se fecharam automaticamente. As portas estavam trancadas. Tentaram abrir e nada. Meu Deus! E agora? Sentaram em um cantinho debaixo da escada e ficaram ali tremendo de medo. Viram as sombras aparecerem pela sada da chamin. Sapinho chorava baixinho. Princesa de olhos arregalados. Naldinho achou que era o Chefe. Levantou-se e disse Eu no tenho medo! Sou lobinho! O lobinho forte! As sombras riram. Pegaram os trs e os levaram ao andar de cima onde em um quarto foram amarrados. Umas das sombras tomou vida. Um enorme tigre dentuo. Voc o Shere Khan? No tinha jeito. As sombras iam frit-los na fogueira. Pedir socorro no adiantava. Gritar tambm no. Mas Naldinho no desistiu. Fechou os olhos e pediu a Deus, a Jngal, aos seus irmos lobos que no os deixassem morrer. Um claro enorme aconteceu! Quase cegou os olhos dos trs lobinhos. Quando abriram viram um enorme Urso, uma enorme Pantera a gritar para Shere Khan: Voc no desiste mesmo no seu Tigre Manco! Vamos lhe dar uma lio. Shere Khan deu enormes gargalhadas e sumiu na fumaa. Bagheera a Pantera Negra os soltou. Baloo o urso grandalho e amigo os aconselhou Nunca faam o que sabem ser errado. Voces conhecem a Lei do Lobinho O Lobinho ouve sempre os velhos lobos. E os dois tambm desapareceram. Voltaram para suas casas. Ainda tremendo deram o Melhor Possvel um para o outro se se foram. Naldinho aprendeu a lio. Nunca mais tomou iniciativa sem antes aconselhar com seus pais, sua professora, e seus chefes. Uma semana depois nova placa anunciava a venda da Casa do Espanto. Desta vez Naldinho no quis nem saber quem iria comprar, quem iria morar e dormia cedo. Muito cedo. As mximas da Jngal nunca mais seria esquecida. Naldinho agora andava de olhos e ouvidos bem abertos, nunca deixou de pensar primeiro nos outros, andar sempre limpo, dizer sempre a verdade, e claro, dar boas

risadas de tudo, pois o lobinho como Akel levando sua Alcatia com alegria e sempre procurando o caminho para o sucesso de todos!

(lendas para fogo de conselho) A ardilosa Acar do riacho Vermelho. Podem dizer que inveno. Podem dizer o que quiserem. No me importo, juro pela alma do Cavalo Baio do Seu Chico das Mercs que verdade. Afinal tenho mais trs testemunhas (todas j se foram para ao grande acampamento). Quatro experientes escoteiros sendo enganados por um peixe? Fiquei deveras preocupado com o acontecido. Isto nunca aconteceu antes. Como uma simples pescaria um peixinho mixuruca deu um baile em quatro primeiras classes? E sem me gabar, me considerava um grande pescador. No Rio Doce pesquei todo tipo de peixe. Era bamba na pesca do Timbur. O peix e que no era para qualquer um pescar. Um dia at peguei um com as mos quando mergulhava num remanso l pelos lados de Derribadinha. Mas vamos contar o que aconteceu. Acredite quem quiser. Nosso Chefe era muito amigo do Seu Chico das Mercs. Ele tinha um sitiozinho l pelos lados de Malacacheta. Assim ele dizia. Um sitiozinho, mas querem saber? A cavalo precisava de mais de cinco dias para percorrer toda sua divisa com outras fazendas. Sempre acampvamos l. No era longe e ele era um amigo do peito dos escoteiros. O melhor, a mata era linda e sumia de vista. Cinco crregos e ainda o Rio Vertente cruzava de norte a sul em suas terras. Um local perfeito. Nada que menos de duas horas nas nossas bicicletas no resolvesse a viagem (parece que eram duas lguas de distancia, mais ou menos doze quilmetros). Frias de janeiro. Grupo fechado em frias, mas alguns da Patrulha Lobo s reclamavam de no fazer nada. Porque no acampar? Melhor ainda, vamos levar s sal e leo e l nos viramos? Desafio era conosco. ramos quatro primeiras classes. Experincia era o que no nos faltavam. Primeiro dia, montamos uma cabana que quebrava o galho para os quatro dormirem. Chegamos s trs da tarde. Seu Chico sempre rindo. Era uma festa quando amos. Jantem comigo hoje, disse. Obrigado Seu Chico, mas sabe como . Pretendemos acampar l prximo ao Crrego Vermelho e no perto. - Entendo ele disse. Mas cuidado. No contem com as acars de l. So danadas de espertas. Todos riram. Peixe esperto? S mesmo o seu Chico para dizer isto. L pelas quatro achei um local com muita minhoca puladeira. Perfeito. Era a melhor para a ocasio. Cortamos eu e o Fumanch duas varas de bambus e em minutos tnhamos tudo preparado. Romildo e Israel ficaram no campo fazendo uma mesa. Achamos um belo remanso. gua cristalina. L no fundo uma bela de uma Acar. Enorme. Rabo vermelho. S ela seria um jantar perfeito. Joguei meu anzol e aproximei de sua boca. Ela deu uma nadada para trs. Fui

mais prximo e ela escondeu em uma galhada. Perdi meu anzol. Fumanch tentou e nada. Tinha reservas. De novo ela andando de r. Resolveu pular na gua e sumia. Aparecia em outro remanso bem abaixo. Corramos at l e nada. A maldita sumia e aparecia em outro remanso. J ia escurecer e no tnhamos pegado nada. Caramba! E as traras? E os lambaris? S aquela maldita Acar? No podamos desistir. A fome ia chegar e comer capim? Programa de ndio. Foi ento que resolvemos fingir que amos embora. Voltamos rastejando p ante p e vimos o inusitado. No era uma Acar, eram mais de vinte. Elas fingiam ser uma s. Impossvel? J disse, juro pela alma do Cavalo Baio do Seu Chico. Combinei com Fumanch. Voc joga a linha mais no meio e eu no inicio do remanso. Vamos nos encontrar bem devagar. Pelo menos uma vaia morder. Sabem o que elas fizeram? Uma fila indiana como se estivessem a escrever a palavra otrios no fundo do remanso. No acreditei. E elas ento ficaram juntas e vieram at a borda da gua e fizeram biquinhos como estar dando risadas. Voltamos sem nada. Uma noite sem comer no mata ningum. Na volta achei um p de banana ma. Quebrou o galho. Nossa pescaria mudou de rumo. Agora amos at o rio Vertente. L no teve problemas. Uma pescaria das boas. De vez em quando ia at o remanso e ficava olhando as Acars. Elas sempre vinham tona e abriam sua boquinha como a dizer: - Otrios! Acho que esta foi minha melhor histria. Ningum vai acreditar, mas fazer o que? Contei isto para muitos escoteiros. Todos que foram l foram tapeados pelas Acars. Na tropa e nos Seniores no houve quem no tentasse. Pela primeira vez, a Patrulha Lobo foi enganada por um bando de Acars. Um peixinho que todos dizem ser mansos e agora eu mudei de opinio. E quem quiser acreditar tudo bem, quem no quiser deixem a histria para contar a noite em um Fogo de Conselho. Mas no se esqueam de dizer a todos que eu juro que verdade. Pela alma do Cavalo Baio do Seu Chico das Mercs. Nota O Cavalo Baio nunca existiu. Era uma lenda que Seu Chico contava e ningum acreditava! E quem quiser que conte outra.

Crnicas de um Chefe Escoteiro. Minhas quinze horas de terror. No gosto de contar histrias assim. Acham que no aconteceu e minha imaginao e frtil. No importa. Esta a histria de Katia. Katia era guia. Da Patrulha Sete Quedas. Katia adorava o escotismo. Estava nele desde lobinha e nunca perdeu uma reunio, um acampamento. Ela, entretanto tinha um segundo amor. Orqudeas. Era louca por orqudeas. Em casa tentava faz-las viver e

rejuvenescer. Nem sempre conseguia. Tudo que escreviam ou falavam sobre elas ela lia. Ela nem bem fez quinze anos e a passaram para guia. Disseram que era uma tropa nova formada s por moas. Ela achou bom. Teria maior liberdade o que no acontecia quando sub-monitora na tropa Escoteira. Ela sabia que havia mais de trinta mil espcies de orqudeas e fceis de cultivar em casa. Lindas, coloridas, perfumadas cabiam em qualquer lugar e como era cuidadosa duravam anos. Seus amigos e at um professor de seu colgio j tinha ido visitar seu orquidrio. Nos acampamentos sempre tentava descobrir alguma rvore, prximo ou no de uma floresta que tivesse uma orqudea. Quem sabe descobria alguma que no conhecia. Lorena sua monitora j alertara ela diversas vezes que nunca devia sair sozinha e sempre avisar aonde ia. Claro o tempo livre era pouco e Katia no perdia tempo. J tinha dois dias que estavam acampadas em um sitio e bem prximo uma linda mata. Ela tinha certeza que iria encontrar l a Phalaenopsis, pois o ambiente da floresta com pouca humidade era prprio para isto. No segundo dia logo aps o almoo sabia que haveria um tempo livre de pelo menos trs horas. No era a cozinheira e pela manh tinha construdo uma bela de uma mesa com bancos reclinveis. Sabia que no devia sair s, mas estavam todas to entretidas com seus afazeres que escapuliu e se embrenhou na mata. No andou muito. Prximo a um pequeno vale bem profundo ela avistou em uma rvore o que achava ser uma Phalaenopsis. No se fez de rogada. Tirou a blusa de frio e l foi ela arvore acima, pois tinha um bom treino em subir em rvores. Encantou-se com a orqudea. Linda, maravilhosa. Esqueceu que estava em uma arvore escorregadia. Caiu, um tombo enorme, quando batia nos galhos da rvore sentiu que um galho havia atravessado sua coxa esquerda. Na hora no sentiu nada, pois rolou em uma ribanceira caindo entre um vale onde havia uma vegetao espessa que escondia o que havia por ali. Agora sim, via que no podia mexer com a perna. Uma dor terrvel. Um brao estava quebrado. No podia se movimentar. Teve vontade de chorar, pois sabia que ali dificilmente iriam encontr-la. A tarde chegou e veio noite. Ouviu vozes e gritos tentou gritar e no conseguiu. Alguma coisa a impedia de falar. Logo o silencio da noite voltou novamente. Para Katia seria uma noite de terror. A Patrulha deu falta dela logo aps a chamada geral. Busca daqui e dali e nada. O desespero passou a acompanhar todos os participantes. A Chefe Maria Clia ligou para os bombeiros na cidade. No demoraram e antes do escurecer mais de vinte homens experimentados na arte de sobrevivncia na selva l estavam. At meia noite tentaram e depois s no dia seguinte. Uma nevoa espessa e terrvel tomou conta da floresta. No se via um palmo adiante do nariz. Todos choravam. Ningum conseguia dormir. Os pais de Katia chegaram. Ainda bem que eram calmos. Diziam confiar na filha e em Deus. Ela tinha experincia e no se deixaria levar pelo desespero. Acontea o que acontecer. Miltinho tinha cinco anos. Todos o chamavam de manteiga, porque ele no sabia. Sua me era assistente da tropa. No tinha com quem deixar e o levou

para o acampamento. Ele dizia ver coisas. Ningum acreditava. Coisas de crianas diziam. Chamou sua me. Mame, eu sei onde ela est. A me no acreditou. Ele pegou na mo do Capito Marquetti. Venha comigo, eu sei onde ela est. O capito o olhou de soslaio. Resolveu segui-lo floresta adentro. Passava das quatro da manh. O dia ainda no tinha amanhecido. Al ele apontou. O capito Marquetti desceu at a ravina. Katia estava l. Desmaiada. Praticamente com avanado estado de hipotermia. Sonolenta no ouviu e nem sentiu a chegada deles. O Capito Marquetti viu que seu ritmo respiratrio a estava levando a uma parada cardaca. Se tivessem demorado mais meia hora Katia teria morrido. Ele chamou pelo radio outros bombeiros. Levaram Katia ao hospital. Um ms depois ela estava em casa. No houve sermes, admoestaes ou ameaas. Ela voltou a Patrulha e a tropa. E agora nunca mais, mas nunca mais sairia sozinha do campo de Patrulha. Bastou quelas quinze horas de terror para aprender a lio. Que sirva para todos os meus amigos escoteiros.

Crnicas de um Chefe Escoteiro. Ariranha, um co inesquecvel. No tenho certeza se foi em 1953 ou 1954 que conheci Ariranha. Nove dias para ser exato convivemos juntos em um acampamento de tropa na Mata do Quati. No d para esquecer, pois foi nossa segunda Olimpada Escoteira, e a cada ano elas marcavam poca. Ideia do Munir, um Pioneiro meio afastado do grupo. Chefe Jess relutou, mas a Corte de Honra achou a ideia esplndida. Era uma Olimpada diferente. Sempre acampvamos em uma clareira prxima ao Rio do Morcego, onde se avistava a bela cachoeira do Sonho. Na poca da Piracema era um espetculo ver os peixes tentando subir nas corredeiras e pulando sobre as pedras. Se podia pegar com a mo. As provas eram somente de atividades aventureiras e tcnicas Subir em rvores de seis metros de altura em um minuto atravessar o rio nadando em dez minutos ida e volta (60 metros) Fazer 25 ns escoteiros ou de marinheiro em seis minutos de olhos fechados Deixar-se cair da cachoeira (oitos metros) em um tambor vazio de 200 litros Semforas e Morse uma prova onde tnhamos grandes sinaleiros Fazer um caf e po do caador em oito minutos Uma fogueira em dez minutos que durasse quarenta minutos sem alimentar Cortar uma tora de madeira de oito polegadas em oito minutos usando s um faco Trilha e pista de animais e tantas outras que deixaram saudades. O caminho da prefeitura nos deixou pela manh na trilha da mata que levava ao Rio do Morcego. O resto era a p. Apenas quatro quilmetros. Adorvamos este acampamento anual. A Patrulha se preparava meses antes. O trofu pela vitria alcanada no eram medalhas. Uma faca Escoteira, um canivete Suo, uma bssola, vrios distintivos de lapela com flor de lis, premios

que ambicionvamos muito. Cada Patrulha tinha o seu campo separado da outra mais ou menos por oitenta metros. As pioneiras eram feitas no primeiro dia, pois no segundo as Olimpadas comeavam. Lembro que estava fazendo uma fossa para o WC quando avistei Ariranha. Notei algum diferente. Parecia um lobo Guar, mas tinha o pelo cinza e quase sem rabo diferente do lobo que conhecia bem. Quem sabe era um cruzamento com um vira-lata qualquer com alguma loba perdida por a. Ele nunca sentava. Sempre em p, orelhas para o alto e olhando sem piscar o que fazamos. Quando me aproximava ele dava alguns passos para trs e parava. Durante todo o dia ele ficou l, prximo ao nosso campo de patrulha. Acho que foi o Israel que lhe deu o nome de Ariranha. Porque no sei. noite quando amos dormir ele l estava na entrada do prtico com se fosse velar nosso sono. Pela manh impreterivelmente l o encontrvamos. Durante a realizao das provas da Olimpada, ele ficava muito prximo a mim. Uma vez entrando na mata a procura de uma pista pisei em falso e um enorme corte se fez em minha perna bem abaixo do joelho. Ele veio at a mim pela primeira vez e lambeu onde o sangue escorria. Parou na hora. Quando passei a mo em seu pelo saltou de lado e tomou distncia. Uma noite acordamos com seus latidos. Latia para uma enorme cascavel que impreterivelmente invadiria nosso campo. Ele a espantou. Outra vez seus latidos foram mais altos e foi tarde quando estvamos tomando banho no crrego da Lagartixa. Desta vez era uma Ona parda. Fugiu com seus latidos. Durante os nove dias de campo, Ariranha l permaneceu. No ltimo dia no cerimonial de bandeira Ariranha se colocou ao meu lado na ferradura. No me olhava. Estava fixo na bandeira Nacional. Enquanto ela farfalhava ao sabor do vento e descia dos cus seus olhos acompanhavam. Quando as patrulhas deram o grito ele ficou no meio e pela primeira vez se deixou abraar. Foi um espetculo comovente. Todos os escoteiros das demais patrulhas vieram tambm abra-lo. Ao partirmos ele nos acompanhou at a estrada onde pegaramos o caminho da prefeitura. Ao subir na carroceria ele estava l me olhando. Abanando o pequeno rabo e deu um uivo enorme. Gritante e choroso. Como se fosse um lobo de verdade se despedindo para sempre. Voltei para casa chorando. Chorei por vrios dias. Devia ter trazido ele comigo, mas meu pai disse que ele era da floresta, nunca iria se acostumar na cidade. Chamei o Romildo na semana seguinte e fomos at l de bicicleta. Rodamos e rodamos e nem sinal de Ariranha. Nunca mais o vi, mas nunca mais o esqueci. Ariranha ficou marcado em nossa Patrulha lobo. No nosso livro de Atas ele teve um lugar especial. No sei se fcil explicar como se ama um co em poucos dias e nunca mais o esquece. No sei mesmo. At hoje me lembro de Ariranha com saudades. Histrias so histrias, tem umas que marcam, tem outras que ficam gravadas em nossa mente para sempre!

Crnicas de um Chefe Escoteiro. A rede. At aquele vero de 1953 eu no tinha possudo uma rede. Nunca tinha pensado em ter. Afinal dormia bem no cho, seja forrado com capim, ou seja, sem ele. Dormia mesmo. Sono dos justos. Qualquer toco de madeira servia de travesseiro. Dormia muito bem obrigado. Dormi at em uma barraca suspensa, em cima do estrado de bambus sem nada. Dormia sentado encostado em uma rvore e um dia dormi em p caindo como uma abobora no cho quando o sono bateu forte. Quase nunca usava lenol ou fronha de casa. S uma Capa Negra que ganhei do meu av. Dormi em cima de pedras pontiagudas em vrias montanhas. Sem cobertor dormi at em locais frios, mas... Um dia acampamos com alguns escoteiros do norte. Gente boa, bonssima. Alegres um sotaque delicioso. Apareceram em nossa cidade como se fossem transportados por uma nave interplanetria. Turma de primeira. Disseram-nos que estavam fazendo uma jornada e a p ou de carona pretendiam ir at o Rio de Janeiro. A Rio Bahia estava no auge, boa parte asfaltada. Quando os vi na Av. Prudente de Morais dei um belo de um sorriso. Aproximei-me e em alto e bom som gritei! Sempre Alerta! Na melhor pose que conhecia. Eles me olharam espantados. Eram cinco. No lembro os nomes. Estavam vindos de Jequi na Bahia. Logo apareceram outros escoteiros do nosso grupo. L fomos ns com eles at a sede. Causos e causos. Levei um para minha casa e os outros ficaram sem jeito pela insistncia de mais de trinta escoteiros brigando para levarem eles para suas casas. Era assim na poca. Ver algum de outro grupo era uma apoteose. O que foi para minha casa no quis dormir em meu quarto. Aproveitou o p de manga e o p de abacate e ali amarrou sua rede. Voc vai dormir a? Porque no? minha cama preferida! Calei-me. No meu quarto fiquei pensando em dormir em uma rede tambm. Fcil de colocar na mochila seria uma mo na roda. Ficaram quatro dias e partiram em uma manh ensolarada. Ficamos muito amigos e quando partiram senti saudades. Coloquei na minha mente que devia ter uma rede. Nas lojas em minha cidade custavam uma nota. No importava. Chegava da escola, pegava minha caixa de engraxate e partia para o centro da cidade. Demorou quatro meses, mas consegui a quantia necessria e comprei a rede. Levei para casa. Amarrei-a no p de abacate e o de manga. Fiquei ali um tempo enorme admirando minha nova amiga. Sentei e deitei. Gostoso. Meia hora depois me virei e fiquei virando e virando. Danada de rede. No seria fcil acostumar. Na semana seguinte fomos acampar na Serra da Gamboa. Ia matar todo mundo de inveja. Levei a rede. L chegando todos assustaram. Uma linda rede. Vais dormir a? Claro, melhor que no cho duro! Um frio danado. A manta no cobria tudo. Gelava por baixo. Fiz um fogo prximo. Nada. Fiz outro do lado contrrio. Nada.

L pelas trs da manh no aguentava mais. No tinha dormido e sempre fazendo foguinho aqui e ali. No queria dar o brao a torcer com meus amigos e voltar para a barraca. Seria um vexame. Eles riram quando disse que ia dormir ali e tinha de dormir. Quatro da manh e o frio piorou. Um claro iluminou a mata. Um trovo abateu em cima de mim. A chuva caiu torrencialmente. Fiquei ali na rede. Tinha dito que ia dormir nela e tinha de dormir. Meus amigos dormiam sono solto na barraca e o idiota l na rede molhado e na chuva. Nunca mais. Nunca mais mesmo iria dormir em uma rede. No era para mim. A levava sempre, mas para forrar a barraca. Uma rede. boa para sentar deitar e tirar uma soneca. Mas v l dormir em um acampamento de quatro ou cinco noites com o frio a gelar o esqueleto? Deixo para meus amigos escoteiros nortistas. Eles so bons nisto. At hoje fico pensando porque no acostumei. Mas eu dormia gostoso no cho duro, nas pedras, em cima de pontes, em trilhas, em capim meloso, braquiria, colonio, no meio das samambaias, ou seja, l o que for. Que chovesse canivete. Mas na rede? Nunca mais!

A lenda do Sapo Vermelho. (Nesta historia simples, coloquei o nome de muitos amigos meus do Facebook. As personagens nada tm a ver com a personalidade de cada um. Fazem parte do desenrolar da histria. Aos demais amigos peo desculpas por no ter colocados todos na historia. No ia ser fcil. risos). O Grupo Escoteiro guia do Deserto estava em polvorosa. O Chefe Castanha, Diretor Tcnico conversava com o presidente do grupo o Chefe Rogerio. Concluses? Ningum sabia. Como agir? Diversas sugestes. O prprio Conselho de Chefes reunidos no dia anterior ficou por mais de quatro horas tentando achar uma soluo. Eram e sempre foram um Grupo Escoteiro padro e bem respeitado em sua cidade. Hiury o Chefe da Tropa estava l. Esteban o Mestre Pioneiro quase no falou. Hilda da Tropa de Guias era uma grande amiga da famlia de Milinho. Antnio Carlos calado. Sempre fora assim. Felipo um assistente muito falante falava sem parar. Carlos Adl da tropa Escoteira que sonhava em receber sua insgnia no perdoava. Rodrigo assistente nos seniores e Rosa assistente da tropa das escoteiras eram os mais exaltados. Os pais de Milinho (Murilo) Rui e Marcia choravam durante a reunio. Pensavam o que fizeram para ter um filho assim. Foi uma discusso das boas. Era verdade. Milinho o lobinho no era flor que se cheire. Traquinas era pouco para cham-lo. Quase ps fogo na sede na semana anterior quando acendeu cinco velas para chamar o Espirito de Mowgly como ele dizia. Ainda bem que a Bagheera Elizete chegou a tempo para evitar a catstrofe. Na Alcatia todos gostavam dele. Vanessinha pata tenra era sua preferida. Talvez porque ela sempre o ajudou nas suas lambanas, mas sabida, ficava com um p atrs com cara de inocente arrependida. Milinho tinha sido expulso de duas escolas

primrias. Mesmo os pais insistindo, pois ele s tinha sete anos Dona dryka diretora disse que no aguentava mais. Na classe nenhuma professora podia dar aula. A professora Aline um dia achou que ia vencer a batalha com ele. Colocou de castigo na ultima carteira e assim ningum veria sua traquinagem. Sorrindo foi sentar quando sentiu uma pontada enorme no traseiro. Algum colocou na cadeira varias tachinhas e ela no aguentou mais. - J para a diretoria disse! Os pais de Milinho eram pobres, mas a vizinhana que gostava muito deles tentaram ajuda-los a pagar um psiclogo e quem sabe ele melhoraria? Seu Nilton o presidente dos amigos do bairro e sua esposa Dona Luiza foram a casa deles levar a boa notcia. Ao subir na escada da varanda no viu uma cordinha esticada. Tropearam e caiu em suas cabeas uma lata cheia de gua. Os pais pediram desculpas. Na semana seguinte o levaram ao psiclogo. O Doutor Marcelo Bezerra riu quando disseram como era Milinho. Deixa comigo disse. Vamos tentar ajud-los. Tudo foi bem na primeira consulta. Na Segunda o cheiro ruim invadiu o consultrio. O Doutor Marcelo descobriu um barbante que fedia medida que queimava as pontas. Olhou para Milinho e no disse nada. Bem foram s trs consultas. Olhem disse o Doutor Marcelo, tentem os escoteiros. Se eles no puderem dar um jeito nem Deus pode. E riu. Ilda era da Matilha Verde. Detestava Milinho. O mesmo pensavam Amanda e Anny duas lobinhas Cruzeiro do Sul. Quando entrou ele foi para a matilha delas. Mas em menos de duas reunies as mes dona Lilian e dona Taufica, sem contar o pai de uma o senhor Marcos Roberto disseram que iam tirar as filha do grupo. Conversa daqui e dali tudo se ajeitou. Foi Celia Regina e Isabel que o deixaram ser da matilha Azul. Nunca se arrependeram, pois adoravam as trapalhadas de Milinho. A Patrulha da Ona Pantaneira atravs do seu escriba o Escoteiro Jefferson resolveu contar sua historias em um livro. O Monitor Mario no achou boa ideia. Dermival o sub tambm no gostou. Mas a histria foi escrita e muitos anos depois se tornou um dos livros mais lidos em sua cidade. No vero de 68, a Alcatia foi fazer um acampamento no sitio da Viva Sabrina. Ela morava com sua irm, Dona Monica. Elas adorava os escoteiros e quando eles iam l sempre se juntava a eles. Joaquim Neto o caseiro no gostava principalmente quando Milinho ia acantonar. Ele j o conhecia de longa data. A Akel Ieda combinou com Moreira o Balu e Eliana a Kaa ficarem de olho em Milinho. O lobinho era um desastre. Ningum entendia porque at hoje no o mandaram embora. Achavam que devia ser os pais Rui e Marcia, pois sempre quando eram chamados s ficavam chorando e todos tinham pena. Walkiria a lobinha da marrom corria quando via Milinho. Uma tarde ele desapareceu. Tantos sempre o olhando que dormiram no ponto e ele sumiu. Foi Luana a menina que sonhava ser Escoteira uma morena dos cabelos negros e filha do caseiro que disse saber onde ele estava. O lobinho Milinho se escondeu no banheiro, pulou a janela e correu para um arvoredo prximo e l deitou embaixo de uma rvore. Deve ter dormido, pois se transformou em um horrendo sapo vermelho. Ele tinha muito medo da

lagoa, pois l tinha uma cobra enorme e um gavio que queriam com-lo de todo jeito. Num canto da lagoa, Douglas o gavio malvado olhava o Sapo Vermelho. Carla a cobra mansa e amiga de todos tambm espreitava embaixo dgua. Milinho o Sapo Vermelho estava com sono, mas no podia dormir. Acordou com o Jos Alves o Grilo Falante gritando Corra Sapo! Eles vem te comer! . Correr pr onde? Alberto Franco o Jacar cinzento disse pule nas minhas costas eu o levarei a margem. E agora? Confiar neste jacar? Mas no se fez de rogado. Pulou. O jacar afundou e levou Milinho o Sapo Vermelho com ele. No fundo da lagoa estava o Jacar, A cobra, O Gavio e at Vilma a malvada Peixe Espada comedora de sapos. Paty a linda estrela cadente l no cu assistiu a tudo e deu belas risadas junto aos cometas Walter Dohme, Elmer e Fernando Robleo que passavam. Na via lctea, Natalia Cristina e Cris outras estrelas cadentes tambm sorriram. Milinho acordou gritando. A Akel e todos os lobinhos estavam em volta dele. Todos davam enormes gargalhadas. Vera uma me que ajudava veio abra-lo. Ele chorava e suava. Bruno e Carlinha de sua matilha Azul tambm vieram abraar Milinho. Ele olhou todo mundo e ali mesmo fez um juramento. Juro Akel que nunca mais farei traquinagem. Acho que aprendi a lio. E foi assim que Murilo Homem, mais conhecido como Milinho o traquina se transformou em um lobinho que todos passaram a orgulhar. Foi um susto na Alcatia. Chegaram a telefonar para o delegado Ricardo Frugoli e o detetive Wagner que deram belas gargalhas com tudo. Ainda bem que ele tinha muitos amigos e todos o ajudaram em ser um cruzeiro do sul. Quando passou para a tropa, todas as patrulhas o queriam. Uma histria simples. Mais que uma histria uma lenda. De amigos de Milinho e amigos meus. Para ficar na lembrana de todos os meus amigos aqui quando um dia eu me for. Que eles no escotismo ajudem sempre a um Milinho dos milhares que existem por a a ser um bom Escoteiro. A lenda do Sapo Vermelho um conto dedicado a todos. Obrigado!

Nas terras bravias do Lago Dourado. Foi uma noite calma. As estrelas no cintilavam no cu como no dia anterior. Algumas nuvens brancas as cobriam como se fossem um manto protetor. A lua se fora h tempos. Achei que ia chover. No choveu. Meus olhos estavam fechados. Dormitava pela madrugada fria. Um pequeno tronco me serviu como travesseiro. Coisas de um "Velho" mateiro acostumado. Um pequeno fogo ao lado agora s brasas com pequenas fagulhas que se inibiam ao subir aos cus me davam um pouquinho de calor. Pela aba do meu chapu de trs bicos eu podia ver a escurido da noite. Gostava dela. noite. Era minha amiga de muitas e muitas jornadas. No ansiava pela madrugada. Que ela chegasse de mansinho. No era um arbusto e quem sabe seria um pequeno arvoredo que encontrei perdido naquele vale dos sonhos era onde dormia. Serviu-me de manto para a noite gostosa

daquele inverno que no fora to rigoroso como os anteriores. Minha mochila ao lado era minha companheira de anos e anos de caminhada. Sempre fora. Dentro dela com carinho estavam minhas bugigangas de mais uma jornada. Meu bornal pendurado no galho guardava minha matutagem caso tivesse fome. Abri um olho de mansinho. Avistei uma cigarra azul que cantava baixinho seus cantos noturnos. Gosto das cigarras. Fazem-se de prdigas e s aparecem uma vez ao ano. E como so lindas. Amo-as! Muito! Senti uma brisa leve no rosto. Soprava gostosamente. Gostosa mesmo. Afagante. A brisa. Sempre perdida por a. Nas montanhas, nos vales nos rios caudalosos ou no pequeno riacho de aguas turvas. Uma amiga. No se esquece da gente. Os anos passam e l est ela. A madrugada no iria demorar. Grilos falantes pareciam fantasminhas na escurido noturna. Melhor tentar dormir. Fora um dia e tanto. Uma grande jornada de um "Velho" Escoteiro sonhador. Um vagalume pousou no meu ombro. Sorri para ele. Enrosquei-me na Manta Negra que um dia a muitos e muitos anos meu V me deu com carinho. No sentia frio. O corpo curtido pela idade j no era aquele de um passado que se foi. Um pequeno lusco fusco. Sinal que ela a madrugada ia chegar. Eu gostava das madrugadas. Eram lindas. No importava se com sol ou com chuva. Adorava as madrugadas nos campos perdidos deste mundo de Deus. O cheiro da relva, das flores silvestres. O cheiro da terra. Ah! Maravilhoso! Tive madrugadas que marcaram. Com brumas a cobrir o campo verdejante, com brumas sobre os lagos azuis, cinzentos e vermelhos com o sol cobrindo-os. As brumas. Ah! Adoro-as. So lindas, querem cobrir meus olhos. No querem que voc veja ningum s elas. Mas choram. Choram porque o sol ir chegar e elas tero que ir para longe, aonde ele o Senhor Sol ainda no chegou. L no horizonte um pequeno brilho. Pequeno mesmo. O sol. Ele estava chegando. Gostava de anunciar sua chegada. Era o rei. No era um astro qualquer. No aparecia assim do nada. Anunciava que se preparassem todos. Uma pequena claridade, um pequeno vermelho desbotado, raios brancos tingidos de amarelo ouro e eis que ele aparece. A montanha o reverencia. O dia nasceu. Eu estou acordado. Uma hora sagrada. Sempre gosto de ver o nascer do dia. como se fosse uma criana chegando ao mundo. As brumas cinzentas me disseram adeus. O orvalho se escondeu. A ltima gota dgua caiu de uma folha adormecida. A brisa insistente continuava l a me acariciar o rosto. No se afastava. Uma amiga de pocas e pocas passadas. Hora de partir. No disse adeus para todos eles que me acompanharam a noite e no lusco fusco da manh. No precisava. Eles sabiam que no era mais que um at logo, no era mais que um breve adeus. Eu voltaria. O "Velho" Escoteiro no para. Em sonhos ou pisante nos meus ps hoje cansados. Ajeitei meu leno, arrumei meu meio. Calcei meu velho coturno de guerra. Mochila as costas, pendurei meu bornal no ombro. Minha forquilha de anos e anos e agradeci o arbusto que me serviu de lar e parti. Meu rumo? O mesmo de sempre. A busca da aventura. Sabia que em algum lugar iria encontrar o Lago Dourado.

Diziam que no tinha peixes. Que uma bruma cinza o cobria por todo o tempo. Isto eu iria ver quando chegasse. O sol a pino. Gosto disto. Os primeiros pingos do suor caem e somem na estrada da vida que leva a rumos impossveis. Meu chapu de abas largas me protege. A forquilha me ajuda a andar e achar o caminho. Uma montanha verde, cheia de arvores lindas e floridas avisto ao longe. Deve estar perto a minha busca incessante. Quem sabe na virada da curva da Raposa que Chora eu encontro o Lago Dourado. Acordo. Era um sonho. Sempre sonho com este lago. Um dia irei encontrar. A cada dia em meus sonhos mais me aproximo. Levanto. Dou um sorriso. Um novo dia. Na janela o sol. No h brumas. At o lusco fusco da manh se foi. A brisa est ali de leve de mansinho nunca deixou de me acariciar o rosto. Mais um dia iniciando. Ele vai passar como tantos que passaram. E quando a noite chegar vou dormir, vou sonhar e quem sabe um dia eu vou encontrar o Lago Dourado. No vou desistir dos meus sonhos. Eles fazem parte de mim. A cada dia eu digo, no desista "Velho" Escoteiro. Digo sempre Eu voltarei. Quem sabe um dia eu poderei dizer que encontrei o meu querido Lago Dourado?

A chave secreta da felicidade. (Para voc levar hoje a reunio) Silvio levantou sorrindo. Um belo sorriso. Pensava no sonho que tivera. Nunca sonhou assim. Um vale de flores, um perfume de jasmim, um cu azul e nuvens escritas Seja feliz sempre! Onde seria? No sabia, mas uma paz silenciosa abateu sobre ele. Sentou na relva e a brisa soprou de leve em seu rosto, ao longe um arco ris lindo e colorido se formou. Passarinhos cantavam em suas volta. Meu Deus! Isto era suprema felicidade para ele, pois sua semana no foi boa. Muito trabalho. Muitos problemas. Ficou em p, fez a sua higiene pessoal e sempre pensando. Eu posso ser feliz, porque no? Se Baden Powell dissera que a felicidade fazer os outros felizes porque eu no posso fazer isto? Claro. Hoje iria fazer todos a sua volta feliz. Comeou abraando seus filhos e sua esposa. Disse em voz alta Amo e adoro voces. Sem voces no sou nada! Todos espantaram. Era um pai e esposo diferente. At a hora do almoo cantava. Ratapl, De BP trago o esprito, e tantas outras. S escoteiras, nada de outras musicas. Depois do almoo ajudou a todos a se prepararem para a reunio. Sempre solcito corria aqui e ali.

Uma e vinte saram cantando e uniformizados. Como no era longe convidou a todos para irem a p. Os vizinhos estranharam. Uma famlia Escoteira? E sorrindo? E cantando? Enfim, pensaram cada doido com sua mania. Chegaram sede, resolveram cumprimentar a cada um em particular. Um vigoroso aperto de mo claro sem machucar e um abrao. No deixaram de dizer o quanto era importante serem amigos. Convidaram a todos para ser o dia de sorrisos, porque no? A Alcatia sorriu, a tropa sorriu. Sempre aps um jogo todos se cumprimentavam dando os parabns. O Diretor Tcnico achou estranho no incio, mas logo aderiu sorrindo. Foi a cada Chefe cumprimentar e abraar. Disse baixinho no ouvido de cada um Obrigado por ser meu amigo, voc muito importante para mim e para o grupo. No final da reunio todos se abraaram e disseram at mais, um at logo gostoso, uma saudao sincera e Silvio voltou com sua famlia para casa feliz. Viu que basta um para fazer todos felizes e ele? Nunca sorriu tanto de sua felicidade. Agradeceu a Deus pelo dia. Pediu que todos agora fossem assim. Sentiu pela primeira vez que no s sua famlia, mas a famlia Escoteira tambm era feliz! E voc? Vai para a reunio hoje? Porque no levar um sorriso gostoso? Lindo? Aquele que voc sabe dar e todos adoram? Leve tambm um aperto de mo e decore as palavras que vai dizer a cada um em particular Obrigado, muito obrigado mesmo por ser meu amigo. Sabe voc muito importante em minha vida e o grupo precisa muito de voc! ISTO MESMO. HOJE NA REUNIO ABRAOS VONTADE. SORRISOS EM PROFUSO. E LEMBRE-SE A VERDADEIRA FELICIDADE FAZER OS OUTROS FELIZES!

Lendas escoteiras. O grande amor da escoteira Nadya Romanov. Nadya Romanov era Escoteira. Tinha quatorze anos e faria quinze no final do ms. Nadya Romanov era linda. Alta para sua idade, corpo bem feito, cabelos encaracolados de um castanho avermelhado. Sua pele alva e sua face rosada, olhos verdes como se fossem duas turmalinas, completavam a beleza que irradiava para todos seus amigos ou no. Nadya Romanov amava o escotismo. Com paixo. S falava nele em todos os lugares aonde ia. Nadya Romanov era excelente aluna. Sempre a primeira da classe. Sua Chefe Marlcia Javiere tinha uma afinidade grande com ela. Quem sabe pelo seu esforo pessoal, pois era de famlia humilde e seu pai e sua me faleceram quando nasceu. Foi criada pela Av Dona Cataryna Romanov, cuja penso do marido era mnima. Nadya Romanov foi primeira Escoteira a conseguir o Lis de Ouro em sua tropa. Fora lobinha Cruzeiro do Sul e h um ano eleita monitora da Patrulha Touro. Suas patrulheiras tinham grande simpatia por Nadya Romanov. Todos

diziam que um dia ela seria uma das melhores chefes que o Grupo J teve. Nos acampamentos e excurses estava sempre se movimentando ou ajudando onde sentia que podia completar a tarefa. Mas este mundo no feito s de alegrias. Dizem que nada para sempre. As coisas acontecem com qualquer um e Nadya Romanov no escapou das teias do destino que devia fazer parte da sua vida. Nadya Romanov estava apaixonada. Nunca pensou que pudesse acontecer. Um amor louco, uma paixo enorme por algum mais velho que ela. Andrey Kobilya vinte anos. Aconteceu ao acaso. Andrey Cobilya vinha a toda pela rua em seu conversvel amarelo ouro quando Nadya Romanov atravessou a rua. O sinal aberto para ela. Quase foi atropelada. Ele desceu do carro e queria lev-la ao hospital. Andrey Cobilya era um cavalheiro. Impressionava todas as mulheres pelo seu porte, seu rosto de Tom Cruise e seu sorriso encantador. A levou at sua casa, Nadya Romanov estava muda. No conseguia falar. Seu corao no parava de bater. Seu corpo tremia Esqueceu-se de convid-lo para entrar, mas ele a levou at a sala. Sua Av ficou f de Andrey Cobilya. Nadya Romanov esqueceu do escotismo. Saram diversas vezes. O primeiro beijo aconteceu em uma noite de luar, prximo a praia da Areia dos Sonhos. Foi um beijo delicioso. Mexeu com tudo em seu corpo. Seus olhos fecharam e abriram novamente nas nuvens brancas do espao sideral. Como se fosse uma carruagem puxada por dois cavalos brancos com crinas esvoaantes ela e seu amor cumprimentaram a lua, um cometa que passou e as estrelas cintilantes no cu. No entanto, Andrey Cobilya era filho de um Capo da Cosa Nostra, para dizer a verdade ele era o Capo di tutti capi, ou seja, o Chefe dos chefes dentro da Mfia. O Senhor Nicolau Cobilya era conhecido. Dono de estradas de ferro, fbricas e diziam a boca pequena que era o maior chefo que a Mfia conhecera. Andrey Cobilya a levou a visitar seu pai. Ele beijou suas mos. Elogiou. Falava rouco. Mexia com as mos. Atrs dele sempre dois brutamontes que deviam ser seus capangas. Nadya Romanov teve medo. J no frequentava mais os escoteiros. Seu corao pendeu para o outro lado. Seus irmos escoteiros sentiram sua falta. A Chefe Marlcia Javiere chorou muito ao saber da deciso de Nadya Romanov. Uma tarde um tiroteio em uma boate ps fim vida de Andrey Kobilya. Nadya Romanov tinha o corao partido. Mesmo sabendo que as dificuldades so enfrentadas pelo Escoteiro era difcil aguentar. No sabia o que fazer. S vivia em seu quarto. Chorando, pedindo a Deus que a levasse para junto do seu amor. O pior aconteceu. Nadya Romanov aos quinze anos estava grvida. No sentiu pavor nem medo. Andrey Kobilya deixou para ela uma parte de s. Iria amar seu filho para sempre. O Senhor Nicolau Cobilya queria lev-la para sua casa. Afinal era seu neto. O primeiro. Nadya Romanov no aceitou. Sua Av apoiava em tudo. Voltou para o escotismo. Uma alegria geral de todos. Contou a cada um sua vida. Apoio total. Ivan Romanov Kobilya nasceu em 19 de novembro. Dia da Bandeira. Ivan Romanov Kobilya no perdia uma reunio da tropa Snior/guia. Era amado por todos.

Ela acostumou com os dois homens que dia e noite a protegiam e ao seu filho. Sabia que de uma forma ou outra estava ligada a Mfia. No tinha jeito. Mas gostava sim de seu sogro. O Senhor Nicolau Cobilya era todo amor com o neto. Dava tudo que ele pedia. Foi com ela e ele percorrer o mundo. Ficaram muito tempo na Ciclia, principalmente em Palermo. Ela conheceu muitos padrinhos que faziam parte de sua famlia. Dizem que muitos anos depois, muitos anos mesmo Ivan Romanov Kobilya se tornou capo com a morte do Av. No sei bem o final da histria. Sei que at hoje Nadya Romanov Chefe Escoteira. Insgnia de Madeira. Seu filho cresceu como lobinho, foi Escoteiro Snior e Pioneiro. Aqui a histria termina. A mfia dominou o grupo? No sei. Acho que no. Nadya Romanov j Diretora Tcnica e ama o escotismo mais que tudo. Sem imposies e sem donos. O distrito e a regio tinham o maior respeito com ela. Pudera! Risos. Seu filho agora era o Capo dos Capos. Melhor calar e ir acampar. Com esta turma melhor distncia. Mochila as costas, bornal no pescoo, bandeiras ao vento e l vamos ns! Xau capo dos capos! Risos.

A histria a verdade que se deforma, a lenda a falsidade que se encarna. Jean Cocteau Lendas escoteiras A maldio do Lobo Vermelho. Juraram-me de p junto que era uma lenda. O povo gostava de contar histrias e inventavam muito. Eu pensava de maneira diferente. Lembrei quando nas eternas competies do passado quando no Quebra Coco nos fogos de conselho, tinha uma quadrinha que gostava de dizer: Minha me chamava Caca, e meu pai Caco Maria. Juntando Caco com Caco eu sou filho da Cacaria! Portanto, se o Cacique Boitiguara me contou eu no podia duvidar. Tinha passado para os pioneiros e acampava sempre nas plancies do Vale do Rio Doce l para os lados de So Mateus e Nanuque. J conhecia a tribo dos Machacalis, ou melhor, Pataxs como dizem hoje, e me tornei amigo do Cacique e de muitos outros ndios da tribo. Eram uma tribo sofrida, lutavam para sobreviver, mas com uma fraternidade que superava algumas vezes a to falada fraternidade escoteira. Quando voc fazia amigos na tribo podia-se saber que eram amigos de verdade. Eirapu, Piat e Potira trs jovens da tribo, sempre me acompanhavam quando ia ali acampar principalmente na Garganta Montanhosa do Vale do Castanheiro. Boitiguara o Cacique na ltima vez que l estive ficou horas e horas na beira do fogo junto com outros bravos me contando a maldio do Lobo Vermelho, uma narrativa que ele com seus gestos contava como se estivesse vivendo a personagem do "Velho" Paj Por (aquele que possui beleza) que ouviu de seus ancestrais esta lenda que nunca ser esquecida pela tribo enquanto ela existir.

Minha vida de Escoteiro nunca me deixava duvidar de um ndio, pois no havia motivo para mentiras entre eles. Acampei ali muitas vezes, atravessamos o Rio Doce na curva do Cavalo Doido, mergulhamos na cachoeira do Macaco e quantas e quantas vezes eu Eirapu, Piat e Potira subimos a montanha do Lobo Vermelho sempre luz do sol. Eles eram proibidos de passar a noite l. Desta vez, que o "Velho" cacique Boitiguara me desculpasse, mas pretendia aproveitar uma bela lua cheia para ir ao cume e ver toda a majestade do Rio Doce, desde Crenaque at prximo a Aimors. Era uma viso dos Deuses e eu precisava ver. Foi Por, o paj meu amigo que me contou a lenda nos seus detalhes. H muitas e muitas luas que passaram, havia um amor enorme entre dois jovens da tribo, cujos pais eram inimigos de morte. Ningum na tribo sabia explicar direito o dio entre eles, mas quem visse a esposa de Nakian, a bela Poranga (beleza) iria entender o dio dos dois. Nakian era pai de Kalin (bela jovem), uma jovem de deslumbrante beleza e Quara (luz do sol) um jovem esbelto, forte, cuja coragem todos da tribo reconheciam desde que participou da caada da ona parda nas selvas do Olho Negro, era filho de Mau, e nunca eles pensaram que seus filhos pudessem se apaixonar. Fugiram um dia e s deram falta dois dias depois. A procura foi grande. Nunca o encontraram. Um ano depois qualquer bravo que se arriscasse na Montanha Cinzenta voltava correndo, pois um lobo enorme, vermelho, com uma loba de olhos de fogo matavam que se aproximasse principalmente em noite de lua cheia. A montanha mudou de nome. Passou-se a chamar a Montanha do Lobo Vermelho. Do Cl s Israel topou ir comigo. Contei para ele a lenda e ele riu. Bitel (meu apelido) voc no quer que acredite no? Afinal quantas passamos juntos? Com minha mochila as costas e meu chapu de trs bicos l fomos ns no trem rpido da Vitria Minas as oito da manh. Descemos em Crenaque e partimos rumo a Montanha do lobo Vermelho. Nem passamos pela tribo. No dava tempo. Era tarde e mais duas horas a noite ia chegar. Subimos j noitinha. A lua ainda no havia despontado. Quase no topo vimos uma nascente e achamos boa para acampar. Montvamos a barraca de duas lonas e ouvi um uivo que me gelou as veias. Israel parou e ficou ao meu lado. Prximo curva da Arvore Seca avistamos os dois lobos. Meu Deus! Enormes! Um deles saiam chispas de fogo nos olhos. No nos atacaram. Ficamos l dois dias. O que aconteceu no vou contar aqui. S sei que descemos no terceiro dia e fomos direto at a tribo. Boitiguara se assustou. Estavam na Montanha do Lobo Vermelho? Rimos. Claro Chefe. A tribo inteira veio saber como foi. Pedi licena e usei meu apito. No meio das rvores surgiu os dois lobos, agora no tanto ameaadores, mas foram at Boitiguara e lamberam suas mos e desapareceram nas matas prximas ao vale do Rio Doce. Nunca mais, e isto fiquei sabendo de Piat e Potira, ningum nunca mais teve medo de ir a Montanha do Lobo Vermelho. Uma lenda que correu o vale, nas fazendas e nas cidades prximas por muitos e muitos anos. Mas soube que todos riam quando souberam da histria contada por dois escoteiros. Verdade ou no, at hoje dizem que os lobos da montanha ainda correm pelos picos,

pelas encostas, sobem em rvores e seu uivo percorre centenas de quilmetros. Verdade ou mentira prefiro no dizer. Quem quiser v a Nanuque. Atravesse o Rio Doce e siga no rumo das Pedras Negras. L na aldeia dos ndios pergunte ao novo cacique, pois Boitiguara no deve estar mais l. Talvez quem sabe seu espirito est a correr junto aos lobos vermelhos na Montanha onde vivem. E Chefe, como foi histria? Quem sabe um dia volto aqui para contar. E quem quiser que conte outra. Sou lenda, porque as lendas so envoltas em Mistrios e Magias. So uma criao dos caminhos da mente, da vaga imaginao da liberao dos silncios da alma...

A lenda da Escoteirinha e rvore da Vida. Conta uma lenda muito antiga, que existia em uma pequenina cidade, uma linda rvore que foi plantada em frente ao coreto da praa, e que ela sempre atendia aos pedidos dos meninos e meninas que ali se dirigiam. Ningum sabia se era um abacateiro, ameixeira, ou mesmo uma rvore comum. Interessante. Nunca deu flores. Nunca floriu na vida. Talvez esta tenha sido sua maior tristeza. No atendia aos adultos. Apesar de ser uma velha rvore ela sempre se sentiu como uma jovem e sabia que na mente dos jovens existia a pureza, os sonhos eram mais azuis e a vida era mais bela. Nem sempre os jovens lhe pediam o que ela poderia oferecer. Ficava triste com isto e a sua maneira tentava ajudar. Em uma tarde alegre, onde o sol ainda no havia se escondido atrs das montanhas, e quando os pardais procuravam nela seu ninho, fazendo uma algazarra que a divertia, viu pela primeira vez uma menina, pequena, mida, rostinho simples, e com um lindo uniforme de Escoteira. Interessante que todos os sbados a menina, ou melhor, a Escoteirinha ia ter com ela, e ficava at o escurecer. No pedia nada, s a olhava e sorria. A rvore da Vida perguntava sempre a si prpria - Ser que ela no tem sonhos? Gostaria de saber e ajudar. A rvore da Vida ficava encantada quando a escoteirinha aparecia. Foi ento que viu na mente da escoteirinha que ela se preocupava com a rvore da Vida. Voc no tem flores? No tem fruto? rvore da Vida se emocionou. Ningum nunca se preocupou com ela e aquela escoteirinha se preocupava. Foi ento que h escoteirinha um dia passou a levar uma sacola de esterco e em uma das mos uma pequena lata com gua, e colocava aos ps da rvore da Vida. rvore da Vida chorava de alegria. A escoteirinha disse rvore, vou lhe chamar de rvore da Vida. Voc vai reviver. Voc ter flores e ser a nica rvore da Vida no mundo que vai dar todas as espcies de frutos. A rvore da Vida chorava de emoo. Como? Pensava. Ningum nunca ningum se preocupou se ela era uma rvore comum, se era uma rvore que

pensava e nunca ningum falou com ela a no ser para pedir. Ela atendia os sonhos da meninada. Ela sabia que a cidade inteira um dia descansou nas suas sombras e agora uma simples escoteirinha se preocupava com ela? Mas um dia cinzento triste ela viu a escoteirinha sentar-se e encostar a cabea em seu tronco e a rvore da Vida viu que ela chorava. A rvore da Vida ficou triste. Muito triste. Viu que a Escoteirinha em seus pensamentos chorava, pois no iria a um grande encontro que os escoteiros faziam e que chamavam Jamboree. Seus pais no podiam pagar. O quer fazer? Como ela podia ajudar a escoteirinha? rvore da Vida soprou em sua fronte, uma brisa fresca, perfumada de suas folhas verdes e a escoteirinha dormiu. A escoteirinha acordou em um lugar lindo, com arco ris de todas as cores. Azuis, amarelos, verdes, uma relva cheia de flores silvestres e ela viu ao longe um enorme acampamento. Muitas barracas e milhares de escoteiros e escoteiras de todo o mundo. Assustou, pois ao seu lado a Arvore da Vida estava segurando suas mos e dizia Vamos minha amiga. Voc vai participar do primeiro Jamboree Escoteiro no mundo! Vai conhecer seu fundador. E a Escoteirinha sorria. Um sorriso que poucas escoteiras sabem dar. Eram milhares de jovens, todos segurando sua mo e dizendo Sempre Alerta linda Escoteirinha! Era a maior felicidade que ela podia alcanar. Viu algum batendo em suas costas se voltou e viu que era o fundador do escotismo. Abraou-a e disse - Minha jovem escoteirinha, acredite, voc quem faz seus sonhos e os transforma em realidade. Nem todos podem ter o que querem, mas devem lutar para ter. Acredito em voc. E voc deve acreditar na sua promessa! Quem passou ali no coreto naquela tarde de um lindo por de sol, assustouse. Em pouco tempo centenas de habitantes da cidade se aglomeraram, pois deitada encostada no trono de uma rvore simples daquela praa, que ningum nunca deu valor, uma Escoteirinha sorria, em volta dela lindas borboletas de todas as cores sobrevoavam sobre sua cabea, pssaros mil faziam seus cantos nos galhos da rvore e a rvore da Vida? Florida! Linda! Cheia de frutos. Incrvel! Nunca viram nada parecido. Uma brisa gostosa soprava trazendo perfumes de flores silvestres, e um papagaio verde e amarelo pousou em seu ombro e cantava Ela foi para o Jamboree, ela foi para o Jamboree!. A histria chega ao fim. Ela sonhou. E que sonho meu Deus! No foi naquele Jamboree, mas sabia que um dia iria em outro. Seu sonho no ia morrer nunca. Ela iria crescer trabalhar e fazer seu sonho virar realidade. E a Escoteirinha foi para sua casa sorrindo e cantando De BP trago o esprito, sempre na mente, sempre na mente e no meu corao estar! E a rvore da Vida que existiu em seus sonhos nunca mais a abandonou. As pessoas sempre tem aquilo que desejam. E ela a escoteirinha sabia que um dia teria seu desejo realizado. Sonhe, sonhe muito! Acredite em seus sonhos. Algum no disse que o futuro pertence queles que acreditam na beleza de seus sonhos?

A FELICIDADE FEITA DE DOCES MOMENTOS Morava em uma casinha diminuta. Apenas dois cmodos. Ali convivia com meu pai, minha me e um irmo mais novo. Ficava prximo a uma pequena cidade, distante umas cinco lguas. Meu pai lavrava a terra, plantando feijo, um pouco de arroz em uma vrzea prxima. Tambm plantava mandioca e nas barrancas do Rio das Flores, colhiam muita abobora que dava para o sustento da famlia. Nossa casa no tinha eletricidade e televiso s conhecamos na fazenda do Seu Malaquias. Meu pai no tinha salrio e trabalhava de sol a sol. Tnhamos um burrinho j velho e algumas galinhas e porcos no chiqueiro atrs da nossa casa. Um radinho a pilha servia para ouvirmos quando jantvamos. Gostava de ouvir a tal Hora do Brasil. Pela manh, corria quatro quilmetros com meu irmo at uma pequena escola na Fazenda do Seu Malaquias. Minha professora dona Niquinha era muito brava e todos os alunos tinham medo dela. Quando retornava, comia uma pequena refeio composta de um pouco de feijo com abobora e de vez em quando um peixe ou uma seriema que meu pai caava. No reclamava. Satisfazia-me com um prato e no pedia mais. Meu nome Tozinho e tenho 13 anos. Sou alto, bem magro, ainda tenho todos os dentes, pois escovo sempre com uma escova que havia ganhado na escola. No tinha pasta de dente e usava uma pequena planta que minha me fervia e deixava de molho at virar uma pasta. Era uma vida simples. No conhecia outra e gostava de tudo que fazia. Nunca reclamei e sempre tinha um sorriso nos lbios. Meu irmo mais novo, com nove anos era diferente. Ficava sempre raivoso, quase no ria, mas ele era meu grande amigo de todas as horas. Quando meus pais matavam um porco, e no era sempre, minha me limpava a bexiga e depois de cheia de ar deixava secar. Eram excelentes bolas de futebol. Eu e o meu irmo brincvamos muito a noitinha. No ano passado meu pai me levou at a cidade de So Quirino. Tinha ido outras vezes, mas era bem pequeno e no me lembrava de nada. Fiquei abismado com as ruas, as casas e perplexo com a igreja, uma torre alta, sinos e dentro um silencio de fazer medo. Vi a esttua de Jesus em um canto, e assustei-me com tanto sangue. Meu pai e minha me sempre contavam a vida de Jesus. tarde fomos a um cinema. No conhecia. Assustei com os tiros, era um filme de faroeste. No entendia bem, pois falavam em uma lngua estranha. Mas adorei o filme e dos pirulitos que meu pai comprou. Depois no voltamos mais a cidade. Numa sexta feira quando retornava da escola com meu irmo, vi dois nibus se aproximando da fazenda do seu Malaquias. Dois homens vestindo uma roupa caqui com chapus esquisitos desceram e conversaram longamente com seu Malaquias. Fiquei refletindo quem eram, porque suas calas eram curtas e porque aqueles meles. Quem sabe eram jogadores de futebol. Havia muita

algazarra e muita cantoria que eu no entendia. Aps alguns minutos os nibus tomaram rumo de nossa casa. Cortamos caminho pelo crrego das Antas e chegamos antes dos nibus. No foi preciso ir muito longe. Logo vimos os nibus parados prximo ao crrego e distante uns 300 metros do rio das Flores. Era um descampado e sempre pensei que meu pai poderia fazer um campo de futebol. Bem perto havia um grande bambuzal e mais atrs a mata da fazenda. Uma meninada sem tamanho desceu do nibus e fizeram fila igual na escola. S que estavam durinhos e na frente um com um pau e uma bandeira amarrado. Todos de chapu e tambm de roupa caqui com um leno no pescoo. Diacho o que seria aquilo pensei. Logo todos se abraaram e comearam a gritar. Gritaram e voltaram para as filas. Depois o homem mais velho mexeu com os braos e todos fizeram uma corrida at ficaram em uma espcie de roda. Outro homem j havia fincado um pau maior e amarraram uma bandeira que sabia ser de nosso pais. Achei bonito tudo aquilo. Ficaram com os dedos na testa e cantaram o nosso hino. Estava perplexo com tudo aquilo. Zez o meu irmo me cutucou e disse que era hora do almoo e a mame iria brigar. No queria sair dali, mas fui correndo com ele, almocei e expliquei ao papai o que tinha visto e se ele me deixava ficar l olhando. Meu pai era muito compreensivo. Concordou e sa correndo com o Zez at onde estava a meninada. Quando cheguei l eles tinham feito um cercadinho, e dentro tinha barracas de lonas e vrios bambus. Vrios deles estavam cortando no bambuzal e montavam mesas, cadeiras e outras armaes que no entendi. Chegamos mais perto deles e vi um com o pau e a bandeira na mo que se aproximou de ns. Cumprimento-nos e disse que eram escoteiros da capital. Se j conhecamos. Disse que no e tentou explicar o que era. No entendi bem, mas achei bacana tudo o que ele me dizia. Cada turminha se chamava patrulha tinha seu cercadinho que ele dizia ser a casa deles enquanto estivem acampados. Os homens eram chamados de chefes e tinham tambm o cercadinho deles. Eles fizeram um fogo de barro (muito mal feito) e expliquei a melhor maneira de usar o barro com pequenos pedaos de madeira para fortalecer. Fiquei ali a tarde toda. Convidaram-me para jantar e agradeci. Fui at em casa, era hora do meu banho e quando estava no rio me lavando ouvi vrios gritos. Olhei para ver o que era e vi um deles quase no meio do rio (no era largo) gritando e mexendo com os braos. Vi que estava afogando. Eu era um bom nadador e sabia como agir. Nadei at ele, peguei por traz e puxeio at a margem. Logo os chefes e vrios escoteiros apareceram. Deitaram-no de costa e apertaram sua barriga. Um deles deu um beijo varias vezes e o menino voltou a respirar (respirao artificial boca a boca). Abraaram-me, disseram que era heri e coisa e tal. No entendi nada. Tirar um afogado do rio era obrigao de cada um. Conversaram com meu pai e pediram para eu participar com eles

at o domingo. Nunca imaginei que isto pudesse acontecer. Zez no quis. Estava com medo. Mame me colocou a melhor roupa e fui com eles. Ensinaram-me como ficar na patrulha, os apitos, como correr em fila, os sinais que o chefe fazia. No entendia muito bem, mas olhava para os da frente e no era difcil participar. O chefe apitou e corremos at o chefe que mandou ficarmos em circulo. (chamavam ferradura e da ferradura do nosso burrinho no tinha nada). noite, aps a janta que jantei com eles (o cozinheiro deles cozinhava mal pr burro!) fizeram uma brincadeira muito gostosa. Rezaram o Pai Nosso e foram dormir. Eu fui para minha casa prometendo estar l bem cedo. Foi uma noite linda, no conseguia dormir e s pensava no sbado com eles, os meus novos amigos. Cheguei com o dia clareando. Estavam todos dormindo. Fiquei ali sentado na grama, olhando suas armaes (alguma bem feitas outra no) at que quando o sol j estava no alto eles levantaram correndo, cada um foi fazer uma coisa e o cozinheiro foi fazer o caf. Ajudei a ele com o fogo e de uniforme tomamos caf juntos com um po dormido. Mas tinha manteiga biscoitos e adorei tudo. Logo um apito longo e todos ficaram de frente ao seu cercadinho. O Monitor me disse que era a inspeo. Os chefes chegaram, gritaram e cumprimentaram os chefes. Cada chefe ficou olhando dentro e fora do cercadinho. Naquele momento no estava entendendo nada, mas achava bonito e gostava de estar na fila durinho como eles. Assim passou o dia. tarde fizemos um jogo na mata. Cada monitor levava um negcio que chamavam de bssola. Disseram que o chefe escondeu um tesouro nela e com um papel desenhado quem achasse o tesouro ganhava. Achar um tesouro na mata era complicado. Eu conhecia bem ela e nunca vi nenhum tesouro l. Um dos monitores encontrou o tesouro. Era uma caixinha cheia de chocolates. Distriburam entre todos. Adorei o chocolate. No lembrava quando tinha comido um. A noite foi a mais linda da minha vida. Acenderam um fogo e em volta dele cantaram, contaram piadas, juntos como teatrinho da escola brincavam e cantavam. Mostraram umas palmas esquisitas. Depois fizeram um crculo e cantaram uma musica muito bonita. Muitos choraram. Diziam que no era mais que um at logo, no era mais que um breve adeus e que bem cedo junto ao fogo, nos tornaramos a nos ver. Lembrei que no dia seguinte eles iriam embora. Chorei tambm. E Chorei muito. No domingo logo aps a inspeo comearam a desmontar as barracas e algumas construes que chamavam de pioneirias. Aps subirem a bandeira foi feito outra brincadeira chamada de Escalpes. Enfiamos o leno na cintura e tentavam tomar o leno um dos outros. Como era um terreno grande no foi fcil, mas consegui tirar seis lenos. tarde, aps o almoo (pedi o cozinheiro para fazer e adoraram minha comida) guardaram tudo no nibus. S ficou o mastro com a bandeira. Formaram e o chefe me chamou a frente com o monitor. Disse para ficar em posio de sentido

e repetir com ele as palavras: - Prometo, pela minha honra, fazer o melhor possvel para Cumprir o meu dever para com Deus e minha Ptria, ajudar o prximo em toda e qualquer ocasio e obedecer a Lei do Escoteiro. Ao final mandou baixar o brao e explicou as leis escoteiras. Caramba! Como era bonito tudo aquilo. No estava aguentando vi que o choro estava chegando e no seria bonito chorar ali. Ele se aproximou de mim e colocou um leno deles no meu pescoo com um anel. Disse que dali em diante eu era um Escoteiro Honorrio, com todos os direitos de pertencer ao 825 Grupo Escoteiro Leo do Norte. Meus olhos agora estavam cheio de lgrimas. Juntaram todos com os braos ao redor do pescoo de cada um e gritaram alto: - S os valentes entre os valentes so escoteiros. Temos orgulho de nossa patrulha, de nossa tropa de nosso grupo! Um por todos, todos por um. Anr, Anr, Anr. Para mim, um Escoteiro Honorrio foi como um lindo sonho real que estava acabando. Abraaram-me, despediram entraram no nibus e se foram acenando. Eu fiquei ali, parado por muito tempo. A noite chegou e eu continuava ali. Ainda em p. No queria sair. No podia abandonar a mais incrvel aventura de minha vida. Como fantasminhas eu os via correndo cantando e brincando. Tudo que aconteceu ficavam como lembranas vivas em minha mente. Minha me e meu pai vieram me buscar. No queria ir. Achava que podia esquecer quando sasse do calor que deixaram. Fui para a casa chorando. Dormi abraado com meu leno de Escoteiro Honorrio. Nunca esqueci aqueles trs dias que duraram para sempre em minha vida. Nunca mais os vi. Hoje, morando em Sesmaria, uma cidade a beira do rio das Flores, tenho uma pequena loja de tecidos e lembro-me daqueles dias como se fossem agora. Olhos meus trs filhos ainda pequenos e desejo para eles tudo aquilo que tive em trs dias, uma vida, uma histria para eles. Li muito sobre os escoteiros. So valentes, so heris, aprendem a ser grandes homens de bem. Li tambm que sabem o que ter carter, honra e tudo mais. Eu sei bem o que isto. Foram trs dias apenas, mas tambm aprendi tudo isto. O melhor, a irmandade. Foram meus irmos mesmo sem ser um deles. Quem sabe meus filhos um dia tambm tero esta oportunidade? E quem quiser que conte outra... Se tiveres de chorar por algum motivo que consideres justo, chora trabalhando para o bem, para que as lgrimas no se te faam inteis. * Nos dias de provao, efetivamente, no seriam razoveis quaisquer espetculos de bom humor, entretanto, o bom nimo e a esperana so luzes e bnos em qualquer lugar. *

O que importa a boa ao. A campainha tocou e Silvinho sorriu. Passou toda a aula da professora Doralice a sonhar com a bela mochila e o cantil que vira ontem nas lojas Abil. No era e nunca foi um mau aluno. Suas notas eram as melhores da classe. Chefe Marcio sorria sempre quando ele apresentava seu boletim, pois sabia que isto dava pontos a sua Patrulha. Os Morcegos eram amigos de fato. E ele os considerava a todos seus irmos. Saiu apressado da escola e logo via as Lojas Abil. Entrou sem correr. No queria que pensassem que era um moleque qualquer. No era. Era um Escoteiro, e dos bons. Foi logo onde expunham os materiais de camping. Viu alegre a mochila verde acolchoada pendurada. Seus olhos brilhavam. L estava o cantil. Lindo. Dois litros. Todo com capa impermevel. Ainda no tinham vendido. J tinha visto o preo. A mochila duzentos e cinquenta e o cantil sessenta. Um dia iria comprar os dois, prometera a si mesmo. Seu pai nunca teria essa quantia, pois eram pobres muito pobres. Uma pequena Sapataria e pouco a fazer. Mas ele se orgulhava do pai. O achava o melhor pai do mundo. Que o Chefe Marcio desculpasse, mas seu pai era seu heri. No demorou muito na loja. Sua me ficaria preocupada se chegasse tarde. Saiu assoviando. Gostava de assoviar. Vem depressa correndo Escoteiro, ajudar o cozinheiro a fazer o jantar!. Gostava dessa msica. Desceu a Rua dos Caracis e ao atravessar a ponte notou debaixo de uma lata vazia uma carteira. Foi l e viu que estava recheada. Achou que tinha mais de oitocentos reais. Uma fortuna para ele e para o pai dele. Muitos documentos. Chegou a casa e pensou Poderia ficar com esse dinheiro e comprar minha mochila e o cantil, o que sobrar dar para a mame fazer a feira. Mas ele no fundo sabia que no faria isso. No tinha como explicar e sabia que o Escoteiro leal, tem carter e tica. Procurou seu pai. Explicou. Ambos olharam os documentos. Dr. Mario Marcelo, dentista. O endereo no Bairro Palmeiras, Rua do Lavrador 115. Seu pai s tinha quinze reais para o nibus ida e volta. Era para a carne que pretendia comprar para a janta. Fica para outro dia. Silvinho, vamos l entregar? Claro papai. E l foram eles abraados, alegres e o pai at cantava com ele uma cano que aprendeu h muito tempo com seus avs. A montanha feliz. Chegaram ao endereo indicado. Silvinho foi de uniforme. Era seu dia. Sua boa ao. Fazia questo de se apresentar assim. Bateram a porta. Uma moa atendeu. Poderia falar com o Doutor Mario? Ele est ocupado respondeu ela. Podem falar comigo. Preferimos que seja ele. Ela nem respondeu e fechou a porta. Os dois ficaram ali esperando e sentaram no meio fio da rua. Uma hora depois ele gritou na porta do seu consultrio O que querem comigo? Falou bruscamente. Estou muito ocupado! Silvinho se aproximou Doutor desculpe. Achei sua carteira e vim devolver. Por favor, meu pai insistia. Verifique se no est faltando nada! O doutor olhou, e falou. Tudo

bem no falta nada. Agora me deixem em paz, estou ocupado com dois clientes me esperando. E fechou a porta na cara dos dois. Silvinho olhou para seu pai e perguntou? Est certo assim pai? Claro filho. Fez o que devia fazer. Se ele no reconheceu no importa. Importa seu ato de carter. De dignidade. Eu tenho o maior orgulho de voc e olhe, prometo que um dia vou lhe dar aquela mochila e o cantil. Quem sabe ganho um dinheiro a mais? E foram os dois cantando pela rua afora, sem ao menos guardar o menor rancor do doutor Mario. Silvinho sentia-se feliz. Ia contar a boa ao para seu Chefe. Sabia que ele iria gostar. No iria vangloriar e nem contar que o doutor fora mal educado. Ele sabia que o importante foi o que fez. O que os outros fazem e se voc no pode ajudar, deixa para Deus resolver. Acende o fogo, pe a panela, e dentro dela, o feijo cozinhar!

O Vagalume que no sabia voar O que voc est fazendo Naldinho? Olhando esse vagalume chefe. Veja, no interessante? Parece que . Mas e sua patrulha? Onde foi? Disseram que iam cortar madeira para fazer uma mesa. Foram todos, achei que no precisava ir. Mas veja, aproveitei bem o tempo. O senhor sabia que o vagalume s voa nas primeiras horas da noite? No sabia. Pois ele reconhecido pelo brilho esverdeado, continuo, e vive mais entre vegetao das regies tropicais e temperadas. Em alguns lugares o chamam de pirilampo. Olhe chefe, pode no acreditar, mas esse vagalume me disse que ele mora muito longe daqui. Pensou que eu poderia ajudar. Est tentando falar com seus irmos e no consegue Pensei com meus botes - Esses jovens e seus sonhos impossveis. Vivem criando histrias e mais histrias muitas vezes para no fazer nada. Naldinho abaixou a cabea, fingiu que ouvia o vagalume e me disse Ele est dizendo que eu no tenho sonhos. E ele disse tambm que no estou criando histrias chefe! Arregalei os olhos! O que? Repita que no entendi. Ora chefe, ele diz que verdadeiro, que eu sou verdadeiro e s no fui com a patrulha porque o Ldio monitor disse que no precisava. Estava ali olhando para Naldinho e pensando o que dizer e fazer com ele. Essas invencionices j estavam passando da conta. Naldinho riu. Sabe o que ele est dizendo chefe? Que o senhor acha que eu estou inventando. Ora Naldinho deixa disso. No vai querer que eu acredite que voc conversa com um vagalume. Quer uma prova chefe? Olhe Pimaisdois, d um pulo O vagalume deu. Voc soprou nele, eu disse. Est bem chefe Pimaisdois, agora cinco pulos. O vagalume deu cinco pulos. Porque Pimaisdois? o nome dele

chefe. O menino estava me fazendo de bobo. Estou perdendo o meu tempo aqui. Olhe vou lhe mostrar o que fao com um vagalume falador Peguei meu sapato e ia esmag-lo quando Naldinho pediu. No chefe, no. No faa isso. Ele se comunica com os outros. Poderiam vir milhares aqui e nos carregar para a cratera negra. J estava cheio daquilo. Deu uma pancada com o sapato no tal Pimaisdois. Ele pulou. Corri atrs. Ele pulou. O danado s me escapava. Ouvi um grande zumbido. Olhei para trs, centenas de milhares de vagalumes voavam em minha direo. Corri mas no tinha onde esconder. Corri mais e sem olhar para frente ca na cratera negra. Fui caindo e l em baixo tudo vermelho. Ia morrer queimado. Comecei a gritar, a chorar e pedir perdo. Tremia como vara verde. Chefe, chefe, calma, no grite. Era Naldinho. Abri os olhos. Estava dormindo debaixo de uma castanheira. Chefe no hora da atividade do jogo noturno? Caramba. Dormi mais de quatros horas. J escurecia. Que sono. Ferrei no sono. Mas o pesadelo. Que susto. Vamos l Naldinho. As patrulhas no podem esperar. Naldinho foi a minha frente, com minha lanterna olhava o cho para no tropear. Olhei as costas de Naldinho, um grande vagalume est l em seu ombro. Olhando para mim e sorrindo com um olhar zombeteiro! No acredito! Era o Pimaisdois!

Uma medalha para Dona Sarita Silva Dona Sarita Silva. Cabelos brancos, morena, ou clara no sei bem, um sorriso no rosto, algumas rugas, olhos profundos, nem alta nem baixa, um vigor de dar inveja a muitos no Grupo Escoteiro. Claro, estou falando de uma senhora que no Escotista. Nunca foi. Ela uma das pioneiras no grupo. Como apareceu poucos se lembram. Mas est l. Firme como uma rocha. Apareceu assim do nada, sorrindo, dizendo que veio ajudar. Ela limpa a sede, corre ao lado dos chefes, sempre perguntando Tem algum que possa fazer? E quando o grupo vai fazer alguma festividade, visando melhorar as finanas do grupo? L esta Dona Sarita Silva. Um baluarte. Uma fora. Muitos no sabem a importncia no grupo de Dona Sarita Silva. Afinal ela no veste o uniforme. Nunca fez um curso na vida. Todos acham que ela a faxineira! Nas atividades extra sede, tais como acantonamentos dos lobinhos, Dona Sarita Silva sempre est presente. Quando na volta de acampamentos por motivo de fora maior (chuva etc.) ela vai at a sede com as patrulhas ajudar na limpeza. Se o grupo precisa fazer um cafezinho para visitantes, claro Dona Sarita Silva que faz tudo. Sem esquecer as feijoadas e milhares de outras coisas. Dificilmente ela d ideias. No para isso que est ali. Seu lema Servir!

Ela acho eu, uma senhora humilde, que est junto a ns todos os sbados e a noite tambm se precisarmos dela. Para dizer a verdade no tem hora nem dia que ela recuse um pedido nosso. Inclusive seu valor tanto que nem a colocam no registro do grupo. Registrar para que? Alguns de ns nem sabe onde ela mora. Muitos desconhecem que ela no tem filhos no grupo. Pode at ter tido, mas deve ter sido h muito tempo atrs. Interessante que Dona Sarita Silva uma das primeiras a chegar. Quando chega depois da hora nos procura e pede desculpas. Desculpas? Isso mesmo. Muitas vezes ningum se lembra dela, at o dia que ela no aparece. Ai sim. Onde est Dona Sarita Silva? Podem alguns perguntar. Muitas vezes no a convidam para o cerimonial de bandeira. Afinal ela no chefe. No tem nada a fazer ali. Um dia algum se lembrou do seu trabalho. Pediu e insistiu para que ela recebesse uma medalha de gratido. Foi um custo. Os dirigentes que decidem disseram: - Quem Sarita? escoteira? O que faz? Tem ficha modelo 120? A Diretoria do Grupo Sabe disso? Tem Ata registrada do pedido? Tem processo bem feito? Caramba! Quase desistiu. Mas insistiu e a medalha veio. Dona Sarita Silva no sabia. Quando a convidaram para a ferradura ela quase desmaiou de emoo. Mas eu no sou escoteira! Disse. E ento algum do grupo reconheceu o trabalho de Dona Sarita Silva. A medalha foi entregue com pompa. Ela chora, sorri, no sabe o que dizer. Uma simplria a Dona Sarita Silva. Nunca pensou que poderia ser recompensada assim. Uma medalha escoteira? Claro ela iria mostrar a todas suas amigas, ao Padre, ao Pastor, a todos que ela dedica amizade. Durante muito tempo ela deita e sonha com a medalha. No deixa de voltar ao grupo sempre. Seu trabalho continua. Um dia ela fica doente. Poucos do grupo lembram-se de visitar. Alguns vo. Ela sorri. No reclama nunca. Essa Dona Sarita Silva no exclusiva deste Grupo Escoteiro. Existem em muitas espalhadas por esse Brasil. Pode ser no seu. Quem sabe ela est a junto a vocs e ainda no descobriram Dona Sarita Silva? Mas importante no descobrir s quando ela adoecer, no for mais ao seu grupo. E se Deus a chamar junto de si, no vo chorar tardiamente. No vo dizer Lembra-se de Dona Sarita Silva? Que falta ela est fazendo. Porque no soubemos agradecer a ela em vida? Nunca lhe dei um abrao, nunca disse Olhe a Senhora importante. Mais importante que todos ns... Uma vez um Velho chefe me disse amigo, sabe quem o mais importante em seu grupo? O annimo. O que faz a faxina. No se esquea dele nunca. Um dia li que o que diferencia o Presidente do faxineiro a responsabilidade que cada um tem na empresa. O Presidente tem a responsabilidade de fazer toda a empresa funcionar e o faxineiro manter sua sala e os ambientes limpos. Se no faz, a sala fica suja prejudicando seu trabalho. Assim caso seu servio no seja bem feito, a empresa poder sofrer grandes perdas. Na estrutura em rede, ningum mais importante que ningum.

Assim no esquea, verifique se no tem uma Dona Sarita Silva em seu grupo Escoteiro! Ou quem sabe o Seu Pedro Frana, aquele humilde que ningum v. Faa isso j! E se possvel briguem para ela ou ele receber uma recompensa e nada melhor que uma medalha de Gratido. Nada de bronze e prata, tem de ser a de Ouro!

O fantstico voo do paraquedas amarelo Quando somos crianas temos sonhos, desejos e no nos preocupamos se sero alcanados ou no. Basta sonhar. Criamos em nossa mente tudo aquilo que gostaramos de realizar. Nada h ver com a histria, mas quando minha mente me leva ao passado de criana, lembro-me da personagem de Dibs: em busca de si mesmo. (autoria de Virginia M. Axline) a histria de uma criana que lutou pra conquistar sua identidade atravs do processo psicoterpico. O Livro oferece uma viso daquilo que chama busca de si mesmo. No final Dibs consegue emergir como uma pessoa brilhante e talentosa. Um verdadeiro lder. Eu estava com treze anos. Pertencia a patrulha da Raposa. ramos sete. Uma felicidade sem par. Sem televiso, sem internet, ainda sem pensar nas namoradas a patrulha escoteira era nossa vida. Reunamos praticamente todos os dias. Amigos dentro e fora do escotismo. Cuidvamos com cuidado de nossa intendncia. Pobre claro. Pouca coisa um lampio vermelho a querosene, panelas de alumnio doadas por nossas mes, uma machadinha um faco tudo conquistado a duras penas. Duas barracas de duas lonas era nosso cu nos acampamentos. Daquelas usadas pelo exrcito na dcada de trinta. Estavam velhas e por mais que cuidssemos elas estavam se diluindo. No tnhamos mais o que fazer. Tudo que nos disseram para fazer fizemos. Estava difcil acampar. Lonas extras? Nem pensar. Um preo que no tnhamos como pagar. Um dia achei uma revista na casa de uma tia, e vi um lindo paraqueda. Encantei-me com ele. Mas como ter um para ns? Seria uma grande barraca. Daria para armarmos facilmente e caberia todo mundo. Sabia que era um sonho. Cidade pequena, s um cinema, uma igreja, uma praa com um coreto, alguns ricos e a maioria pobres. Em nossos acampamentos de fins de semana perdamos muito tempo montando abrigos naturais. Tnhamos uma tcnica prpria, mas mesmo assim perdamos tempo na construo. Um dia, acho que foi em um domingo de sol, vimos um avio sobrevoando a cidade. Uma surpresa. Isto nunca acontecia. S ouvamos os roncos de um que passava todas as quartas feiras pela manh. Em dado momento, vimos algum voando fora do avio (um teco-teco). Um pra-quedas se abriu. O povo da cidade parou. Embasbacados todos olhavam para o cu. Que beleza! Que espetculo! O homem do cu caiu bem na praa e um bbado que todos chamavam de Sebastio Barrigada ajoelhou-se no

p do pra-quedista e gritou bem alto Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo! Todos caram na risada. Eu no tirava os olhos do para queda amarelo. Ele enrolou tudo com carinho e explicou que sua irm iria se casar e ele no queria chegar atrasado. Por isto o salto no para-queda. Ele no iria decepcionar Mercedes. Conhecia-a. Irm de Laudivino nosso sub. Monitor. Grande. Fui correndo a casa dele. Chamei os demais da patrulha. Conseguimos o para quedas. Arquimedes o irmo de Laudivino nos presenteou. Um presente dos cus! Levamos o pra-quedas para a sede. Todos os escoteiros do Grupo se juntaram a ns. Ningum tirava os olhos dele. Chefe Jess chegou mais tarde. Sorriu. Grande chefe! Fazer fazendo era seu lema. Abrimos o pra-quedas para conhecer melhor. Muitas cordinhas de nylon que no conhecamos. Uma poca de cordas de cnhamo. Aquelas de fibras nos faziam arregalar os olhos. Foi aberto o para quedas. Nossa sede ficava na entrada da cidade. Na estrada do Alvarenga. Prximo ao rio das Flores. Um p de vento apareceu de uma hora para outra. Levantou o praquedas. Todos correram. Eu no. Agarrei-me as cordas. Amarrei-me em uma delas. Era meu sonho! No iria perd-lo nunca! Fui levantado no ar. O praquedas com a fora do vento se elevou a vrios metros de altura. Virei um menino voador. Um medo incrvel, mas no larguei o pra-quedas. Fui elevado a mais de oitenta metros de altura. No vi. Meus olhos se mantinham fechados. Pedia a Deus que no deixasse perder o pra-quedas. A cidade inteira viu o menino escoteiro agarrado ao pra-quedas. No entenderam nada. Uma multido seguiu o p de vento e o pra-quedas. Ele desceu suavemente na baixada do cristo. Graas a Deus! O local no tinha rvores e era um descampado onde acampamos vrias vezes. No tive um arranho. Todos bateram palmas. Abri os olhos e vi uma multido em minha volta. Sebastio Barrigada estava l Louvado seja o menino filho de Deus! Disse. O pra-quedas deu uma linda barraca. Durou anos. Mesmo depois que fui para os seniores e finalmente os pioneiros, l estava os raposas orgulhosos de sua barraca de pra-quedas. A nica nas redondezas. Ningum tinha. S ela. A Raposa que nunca mais esqueci. No sei o que aconteceu depois. Cresci, mudei de cidade, participei de outros grupos, mas acreditem, nunca mais esqueci o fantstico pra-quedas amarelo. Um sonho que se realizou!

Era uma vez... Na Morada da felicidade... Era uma vez, em um pas muito distante, havia um Grupo Escoteiro que se chamava a Morada da Felicidade. Era um grupo onde todos eram muito felizes. O sorriso ali era espontneo. Uma prtica que todos os membros do grupo faziam questo. Os abraos, os apertos de mo, os elogios, e a vontade

de servir eram ponto de honra para todos. No havia tristezas e parecia que eles tinham alcanado o Caminho para o Sucesso, ou melhor, da felicidade. Barbas Brancas era o "Chefe" Escoteiro deles. Um verdadeiro pai. Amigo, sincero e sempre junto para ajudar no que fosse necessrio. Haviam inmeros chefes. Rosa Prateada a Akel, Esquilo Sorridente o Chefe da tropa, Lobo Vermelho o Chefe Snior e tantos outros que se amavam e se respeitavam. Nos dias de reunies, parecia que o cu ficava mais azul e o sol brilhava s para eles. As estrelas cintilantes escondidas naquela hora do dia ficavam aguardando ansiosas quando eles estiverem cantando em um fogo de conselho l na mata verdejante, ou no bosque da Prosperidade onde sempre montavam suas barracas verdes e amarelas. Um dia, porm o inevitvel aconteceu. O proco da igreja onde eles tinham a sede chamou Barbas Brancas e deu a notcia fatdica Voces infelizmente tem dois meses para desocupar. Recebi instrues de Vossa Eminncia o Bispo Matusalm, que todas as parquias devem ter uma sala prpria para utilizao das Congregaes que iram se formar em todas elas. Infelizmente continuou S temos essa. No haveria acordo. No haveria recuo. Dois meses e a sede desocupada. Trinta anos ali, trinta anos formando cidados honestos na comunidade. O corao de Barbas Brancas bateu forte. Seus olhos ficaram molhados das lgrimas que caiam. Um conselho de chefes tomou conhecimento de tudo. Planos, discusses foram postos em prtica. Dois meses. Muito pouco tempo. Eles no sabiam como agir. Nunca tiveram dio, rancores e nem sabiam como brigar pelos seus direitos. Em seus coraes s habitavam o amor e o carinho. Na reunio da semana, no cerimonial de bandeira todos foram comunicados. De felizes agora s se ouviam lamentaes, lgrimas, queixas e todos acreditavam que a Morada da Felicidade nunca mais iria existir. Aguas cristalinas, uma guia chorou alto. Serra Alcantilada o Monitor Snior comeou a rezar. At Ventos na Face um Pioneiro antigo no sabia o que dizer. Olhos azuis um lobinho da matilha cinzenta e Sorriso Encantador uma lobinha sua amiga foram para um canto da sede e no choraram. Eles eram firmes nas suas palavras e aes. Diziam que deveria haver uma sada. Deixaram a reunio, subiram as escadas e procuraram o proco. Este nem ligou. Se querem resolvem falem com o Bispo Matusalm. Foi ele quem ordenou. Pegaram o nibus. Palcio Episcopal. O Secretario dizia que o bispo no podia atender. Por qu? Se ele viveu tanto, mais de mil anos deve ser um sbio. Afinal todos dizem que ele um homem bom. Filho de Enoch, e agora no pode nos receber? O Bispo Matusalm passava ali na hora. Sorriu divertido. Quem so voces? Perguntou. Eu sou Olhos Azuis, lobinho da matilha cinzenta. Sou segundo primo e tenho a segunda estrela, essa minha amiga, Sorriso Encantador, tambm segunda estrela e da minha matilha.

Sabemos a lei do lobinho de cor e sabemos que o senhor o culpado da nossa infelicidade. Logo a seguir beijaram o anel pastoral e fizeram uma genuflexo diante dele. O Bispo Matusalm assustou. Por qu? Disse Porque Vossa Eminncia tomou nossa sede, o proco disse que temos de morar na rua! E agora? Pensou ele. Venham comigo disse. Foram at a sala de visitas. O Bispo Matusalm serviu chocolate e biscoitos amanteigados. Obrigado Eminncia, mas no podemos. Na matilha ou todos comem ou no comem nenhum! O Bispo mandou seu secretrio preparar o carro. Foi at a sacristia e pegou duas latas de biscoitos e muitos chocolates. Olhos Azuis e Sorriso Encantador entraram no carro e foram com o bispo at a sede do Grupo Escoteiro Morada da Felicidade. Uma festa. Veio o proco. Ordem do Bispo, a sede de voces por centenas de anos! O Bispo Matusalm distribuiu chocolate e biscoitos amanteigados a escoteirada. Ficou amigo de todos. Barbas Brancas sorria. guas Cristalinas, Serra Alcantilada e Ventos na Face batiam palmas. A paz voltou a reinar no Grupo Escoteiro Morada da Felicidade. O sorriso ali nunca deixaria de existir. Sempre teria algum para encontrar o caminho do sucesso. Desta vez foi Olhos Azuis e Sorriso Encantador. Mas sabiam que nas dificuldades sempre temos algum preparado para pular por cima. J diziam os poetas que as dificuldades so como as montanhas, aplainam-se quando avanamos sobre elas e quanto maior a dificuldade, tanto maior o mrito em super-las. E eles, os escoteiros sonhadores da Morada da felicidade viveram felizes para sempre! Moral da histria Nos Grupos Escoteiros onde existem dilogos, entendimentos, compreenso, sorrisos e fraternidade claro que todos iro viver felizes para sempre!

A audcia dos amarelos Moreno olhava no espelho. Gostava do que via. Era simptico, agradvel. Cabelos negros lisos, vasta cabeleira. Um nariz afilado e uma boca que as mulheres desejavam. Usava um perfume exclusivo importado. Sabia que todos o admiravam e sempre impressionava a primeira vista. Moreno no sabia o porqu do seu apelido. Tinha a pele clara, alto, dentes perfeitos. Moreno se achava um partido. Mas infelizmente Moreno sabia que no era isso que procurava. Ria sempre do que fazia. Dizia a s mesmo Enquanto houver escoteiro otrio nesse mundo eu vou me dar bem.

Moreno nunca fora Escoteiro. Um dia em uma cidade do interior tentava aplicar um golpe no prefeito da cidade quando viu os escoteiros. Isso mesmo. Moreno era um escroque. Melhor dizendo ele era um embusteiro, trapaceiro, impostor e fraudador e ladro. Vivia disso. Seus golpes j no davam os resultados esperados. Porque no dar um golpe nos escoteiros? Bolou um plano. Plano que deu certo. Na primeira cidade na Bahia, conseguiu roubar um cofre cheio de dlares. No Piau no foi muito, mas deu para o gasto. Assim o nordeste conheceu a fama de Moreno. Ou melhor, os escoteiros. Mas nunca puderam provar nada. Era simples seu golpe. Comprou um uniforme Escoteiro caqui de tergal, um chapu, distintivos, um leno azul (ficou sabendo que era o leno dos dirigentes) e alm da meia de seda um sapato preto incrivelmente bem engraxado. Sabia que isso impressionava. Chegava cidade, se informava do dia de reunio e hora. Chegava com aquela estampa toda Sempre Alerta! Abraos. Beijos aperto de mo forte. Moreno aprendeu muitas coisas. At ns o danado sabia dar. Aprendeu alguns jogos que os meninos adoravam. Fazia amizade com os chefes, mas suas vtimas eram os lobinhos. Isso mesmo. Eles eram sempre mais puros, mais simples, acreditavam em tudo. Moreno escolhia o mais bem uniformizado, o mais falador e aos poucos descobria os mais ricos. Fazia jogos (as Akels adoravam) Contava histria e assim cativa turma do Mowgly. Na cidade de Ubaru, interior de Gois l estava moreno. Conquistou todo mundo. Os lobinhos riam a valer com ele. Anotava tudo. Vamos fazer o jogo dos ricos Eu pergunto voces respondem um por um! Quem o mais rico na cidade? Dr. Antnio dizia um No o Senhor Ludovico! Dizia outro. E aos poucos ia sabendo o que faziam e o resto era fcil. Escolheu a casa do Dr. Antnio. Sabia que ele era do Lions Club e todo sbado com a esposa ia ao jantar que faziam. No chegariam antes da meia noite. No hotel tirou o uniforme, vestiu sua roupa preta, guardou a mascara e esperou pacientemente a sada do casal. Eram nove da noite quando entrou. Tinha uma chave mestra. Abria com facilidade qualquer porta. Entrou. Silencio. Tudo na penumbra. Viu a escada que levava ao quarto. Subia p ante p quando recebeu na cabea com toda fora um saco de areia na cabea. Caiu da escada. Uma voz horrenda gritou Deita no cho bandido. Vou te matar. E Moreno ouviu um tiro. Deitou logo. Algum amarrou suas mos e seus ps. O viraram de barriga para cima. Meu Deus! No acreditava no que via! Era a matilha amarela e a frente o Neco, o primo da matilha. Logo chegou o delegado. Levaram Moreno preso. A cidade inteira ficou sabendo. O delegado disse que ele dava golpes em muitas cidades com Grupo Escoteiro. No sbado, aps a cerimonia de bandeira todos se reuniram com Neco. Como voc desconfiou Neco? "Chefe" Escoteiro, fcil. Muito fcil. Voces no notaram que ele usava o distintivo de promessa no bolso direito? E o distintivo da regio do Rio de Janeiro no ombro esquerdo? E as estrelas de

atividade? Todas no bolso direito. Tudo errado! Se ele era "Chefe" Escoteiro, devia saber como colocar no lugar certo! Muitas risadas. E o tiro? Perguntaram. O saco de pipoca. E o saco de areia? Vimos no filme que a Akel passou aqui. E a voz grossa? Ligamos o som, j tnhamos gravado em casa. Papai achou que era uma brincadeira. A Matilha Amarela se portou com vivacidade e sabia como fazer. No eram ainda Sempre Alertas, mas abrir os olhos e os ouvidos isto sim, eles eram perfeitos. Esses lobinhos maravilhosos. Fico espantado com eles sempre que os encontro. E viva os Amarelos, agora chamados na Alcatia de OS AUDACIOSOS Uma grande palma Escoteira para eles! E para terminar eu digo sempre, ADORO ESSES LOBINHOS E LOBINHAS DAS ALCATEIAS DO BRASIL!

O dirio secreto de Marly, a escoteirinha feliz. Uma deliciosa fbula Escoteira. Tera feira 18/05 seis horas da manh Meu querido Dirio. Hoje foi um dia normal. Acordei alegre. Minha festinha de aniversrio foi linda. Todos meus amigos presentes. Do Grupo Escoteiro vieram mais de vinte. A Chefe Marlene passou e me cumprimentou. Apaguei as doze velas com facilidade. Ganhei muitos presentes. Sabe meu dirio estou feliz muito mesmo. Tera feira 18/05 sete horas da manh Tomei caf e fui ao meu quarto pegar minha mochila. A pera da escola ia passar em cinco minutos. Uma discusso enorme. Gritos, palavres, meu pai e minha me pareciam que iam se matar em seu quarto. Estava acontecendo ultimamente. No sabia o porqu. Comecei a chorar. Minha me gritou que queria o divorcio. Se eles vo se divorciar prefiro morrer. Peguei minha mochila, tirei os cadernos e coloquei uma manta, vesti meu uniforme de Escoteira, passei na cozinha peguei biscoitos, enchi meu cantil e sai de casa. Tera feira 18/05 oito horas da manh Cheguei estao de trem. Peguei o primeiro. Sem rumo. Desci numa pequena estao. No parava de chorar. No trem algum me perguntou o que ouve. No respondi a ningum. Aprendi a no conversar com estranhos. Vi uma pequena estrada rumo onde o sol nascia. Andei bastante, uma casa aqui e outra ali. A estrada acabou. Agora era uma trilha, linda, flores silvestres, um perfume inebriante. Andei um pouco mais e vi um escoteirinho sentado em baixo de uma aroeira frondosa. Ele chorava copiosamente. Tera feira 18/05 onze horas da manh Porque choras escoteirinho? Ele respondeu Minha me e meu pai me deixaram. Procurei-os

e no encontrei. E o escoteirinho chorava e chorava. Meu corao no aguentou. Abracei-o. Disse no chores. Eu tambm estou chorando com voc. Olhe que eles vo aparecer. No sei disse. Estvamos em nosso automvel indo para a praia em frias, um caminho nos fechou. Camos da ponte e nosso carro afundou no rio. Acordei aqui debaixo dessa aroeira frondosa. Sozinho. No posso ficar sem eles! E chorava e chorava. Tera feira 18/05 meio dia em ponto Estava a chorar com o escoteirinho embaixo da aroeira frondosa. Meus olhos desciam lgrimas de tristezas. O Escoteirinho gritou! L vem minha me e meu pai! Graas a Deus. Deus nunca me abandonou. E o escoteirinho correu ao encontro deles abraando. Eles o pegaram e subiram em uma nuvem e se foram. Fiquei ali sozinha. Uma brisa gostosa me trouxe o perfume das flores silvestres. Orvalhos cados de uma nuvem branca molhavam meu rosto. Achei que era o sinal do escoteirinho. Olhei para o cu, vi pssaros lindos voando e fazendo acrobacias. As nuvens ficaram atnitas e os pssaros pararam em pleno voo e sorriram no ar. Tera feira 18/05 duas horas da tarde - Estava de volta. O trem chegou estao. Estava sorrindo. No chorava mais. Porque chorar? O problema do escoteirinho era maior que o meu e ele acreditou. Eu tambm no podia acreditar? Quando cheguei prximo casa muita gente l. Meus pais me viram. Abraaram-me. Minha me chorava. Filha, no faa mais isso. Nuca mais farei mame. Juro pela minha Promessa Escoteira. Tera feira 18/05 Sete horas da noite. Tinha tomado banho. Estava eu mame e papai na mesa de jantar. Todos calados olhando para mim. Mame me serviu uma deliciosa sopa de ervilha. Meu prato predileto. Ela sorriu, ele sorriu. Eu sorri tambm. Papai pegou na mo de mame e beijou. Um beijo lindo. Sorri mais ainda. Meus pais que eu amava. Sabia que nunca mais iriam se separar. Tera feira 18/05 Dez horas da noite. Estou deitada em minha cama. No choro mais. Eu sou uma escoteirinha feliz. Tenho os melhores pais do mundo, amigos lindos, uma Patrulha da Raposa que amo. Jurei a mim mesma e voc meu dirio querido vai ser a prova do que eu jurei. Nunca mais farei isso outra vez. No existe problema que no tenha soluo. Sabe meu querido dirio, voc lembra do poema que disse no Fogo do Conselho no vero passado? Minha me sempre diz: No h dor que dure para sempre! Tudo vrio. Temporrio. Efmero. Nunca somos, sempre estamos! E apesar de saber de tudo isso, porque algumas dores duram tanto? Porque alguns sentimentos (diga-se de passagem, os mais ridculos) demoram tanto a passar? Porque olhar pra ele reaviva esperanas perdidas e suscitas lgrimas quentes at ento contidas? Porque o crebro ainda no inculcou no corao que esquecer faz bem a sade? Porque tudo no pode ser como um bonito filme francs? (Chico Buarque)

O ltimo adeus! (Baseado no conto A Felicidade feita de doces momentos, lanado no blog historias escoteiras). Estou aqui, como sempre fao todas as tardes, sentado em um banquinho que fiz e que eles disseram ser uma pioneiria, na volta do rio das flores, a espera deles. Sei que no viro, mas sonho um dia ver todos eles, cantando, brincando naquele nibus colorido. Quando penso em tudo que aconteceu, meus olhos se enchem de lgrimas. Foram os dias mais lindos da minha infncia. Dias que nunca, mas nunca mais vou esquecer. Quatro dias de felicidade! Morava em uma pequena casa de pau a pique, prximo ao Rio das Flores. Meu pai trabalhava na fazenda do Senhor Coronel Alcebades, e tnhamos uma casinha pequena, de adobe. ramos quatro. Eu, meu pai, minha me e meu irmo de trs anos. Uma famlia feliz. Toda manh ia para a escola na fazenda Rancho Fundo do Coronel, onde tinha a nica escola da redondeza. Eram quatro quilmetros que eu fazia correndo. Ajudava meu pai na lida da capina e a tarde nadava no rio. Diziam que nadava como um peixe. Numa quarta feira vi um nibus colorido, cheio de cantorias que se dirigia a fazenda do coronel. Cortei caminho e do alto da Morada vi dois homens de cala curta e chapelo conversando com o Coronel. Ele fez sinal para mim e disse que levassem eles at A vrzea, perto do rio e do bambuzal. No falou mais nada. Entrei no nibus. Todas as crianas da minha idade, rindo, brincando me dando um tal de Sempre Alerta. Estava com vergonha deles e fiquei em p bem na frente, mas olhando todos de rabo de olho. Chegamos, eles desceram. Juntaram a tralha e ficaram esperando a chamada. Logo eles fizeram um meio circulo prximo a um p de amora, o tal do "Chefe" Escoteiro passou uma cordinha, e colocaram a bandeira do Brasil. Fiquei de longe olhando. Meus olhos estavam fixos na meninada. Eles corriam aqui e ali. Cada turminha fez um cercado, armaram barracas e foram cortar bambus. Olhei o sol e vi que mame estaria preocupada. Corri at em casa e contei as noticias. Pedi a ela e o papai se deixavam eu ficar l olhando. Meus pais nunca ralharam comigo. Almocei correndo um prato de abobora com peixe frito. Voltei ao lugar que eles estavam. Vrias barracas, e eles construram alguma coisa que no entendi e a fumaceira pegou fogo em todos os cercadinhos deles. O sol j se pondo e foram tomar banho no rio. Um deles tentou atravessar. Comeou a fazer sinais. Corri l. Pulei de roupa e tudo. Era bom nadador apesar dos meus doze anos. Tirei-o da gua. Os chefes comearam a beijar e ele e voltou a respirar. Agradeceram-me. Bateram uma palma esquisita. Me chamaram de

heri. Disseram que se quisesse ficar em uma Patrulha era s escolher. Nem sabia o que era isso, mas um loirinho me fez um sinal e fui. Disseram que eram os Touros. Dei risada. Aqueles fracotes Touros? Mas foi bom. Me ensinaram a dar sempre alerta, a gritar o tal grito da Patrulha, a entender os sinais do "Chefe" Escoteiro para formatura. Durante os quatro dias eu brinquei com eles. Corremos na mata. Pulamos a cerca do Boi Lamego, fomos at a subida do Catatu. Mostrei a eles o canto do sabi, do pssaro preto, mostrei como fazer o tat sair da toca. Eles me ensinaram ns e quiseram ensinar sinais de pistas. Dei risadas. Nunca iriam pegar uma seriema contra o vento. Quatro dias maravilhosos. Comi a comida deles, ruim bea. Sem sal. Mas eu ria e eles riam. Um dia cozinhei para eles. Gostaram. At o "Chefe" Escoteiro veio tirar um sarro. Um deles deu dor de barriga, levei para ele a fruta do pastor. Chupou a fruta e sarou. No ultimo dia fizeram um fogo. Cantaram, gritaram, bateram palmas, contaram causos, fizeram teatrinho e depois em volta da fogueira cantaram uma linda cano que s guardei uma parte. No mais que um at logo, no mais que um breve adeus. No ultimo dia desmontaram tudo. Fizeram uma limpeza. Na bandeira o "Chefe" Escoteiro deles me chamou. Dissera que eu era um Escoteiro honorrio. Mandou-me ficar durinho, e fiz o sinal deles. Me fizeram repetir a promessa deles. Prometo pela minha honra... Foi lindo. Foi demais. Depois ele me colocou o leno deles. Chorei. Abraaram-me. Chorei. Deram os gritos que chamavam de Patrulha. Chorei. Disseram-me Adeus e partiram. Eu chorava. Entraram no nibus. Eu fiquei ali em p, ao lado do mastro de bandeira como eles chamavam. O nibus virou a curva do rio buzinando. Um silncio atroz. Chorava. Chorava. A tarde veio. No arredei o p. No podia sair dali. Via todos eles cantando, brincando e me abraando. Se sasse toda essa iluso iria desaparecer. A noite chegou de mansinho. O orvalho caindo. Eu chorando. No parava de chorar. Queria eles de volta, mas sabia que isso no ia acontecer. Meus pais chegaram e me levaram. No queria ir. Mas no podia ficar ali toda a noite. O dia amanheceu. Como sempre voltei a minha rotina. Escola, trabalhar na roa com meu pai e as tardes ia sentar no meu banquinho l na curva do rio. Olhava o horizonte quem sabe, um nibus viria novamente! Meus olhos enchiam-se de lgrimas. Agora no chorava mais. A dor que sentia era no meu corao. Uma dor doda. Lembranas, lembranas que machucavam. Que dias lindos maravilhosos eu tive e se foram. Durante muitos anos a minha memria revivia todos os dias felizes que com eles passei. As saudades permaneceram por longo e longo tempo. Meu Deus! Daria tudo para v-los novamente! Sabia que no ia acontecer. Quando foram eu ainda no sabia, mas era o ltimo Adeus. Um adeus sem volta. Sem retorno. Gostava de aos domingos sentar prximo no mastro da bandeira deles. Agora seco, mas firme. Eu no deixava cair. Chegava com meu leno, ficava

durinho e dava sempre alerta. Olhava uma bandeira invisvel sendo erguida e chorava. No sei quantos anos se passaram. Cresci, casei, tenho filhos. Nunca mais vi os escoteiros. Quantas saudades que permanecem na minha lembrana e no se apagam. O ultimo adeus! Sim, foi o ltimo adeus daqueles que fizeram de mim, um homem feliz. Quatro dias. Quatro dias! O LTIMO ADEUS!

Parbola da Televiso, Internet, Celular e o Acampamento. A lio de Olhos Azuis Profundos! Olhos Azuis Profundos chegou a sua casa aborrecida. Todos os dias a rotina era a mesma. Escola, amigas, casa, TV, internet e seu inseparvel celular que lhe fazia companhia vinte e quatro horas por dia. Queria mudar. Fazer outra coisa. Mas fazer o que? Entrou e quando chegou porta do seu quarto ouviu algum conversando. Quem era? Ningum podia entrar ali. Seus pais, seu irmo sabia que ela no aceitava intruses em seu quarto. Queria privacidade. Abriu a porta devagar. Viu a Internet falando. Junto a Televiso e uma Barraca imaginria. Depois soube que era o smbolo do acampamento. Dizia a Internet: - Ainda bem que Olhos azuis Profundos tm a mim. Dou diverso a ela o tempo todo. Comigo ela viaja pelo mundo, conversa com os amigos, faz trabalhos escolares e me lendo pode at sonhar! Todos riram da Internet. Deixa disso metida, disse a Televiso. - Olhem quem d ela as novelas? Quem deixa ela ver em uma tela grande seus filmes preferidos? Quem lhe d opo de deitada ou descansando em uma poltrona ao simples toque de um controle escolher os melhores canais do mundo? E olhe, se ela dormir, ou cochilar eu no paro de funcionar. Fico colocando em sua mente tudo que passa em mim. Uma revolta se apossou do celular que estava em sua mo. - Ele gritou e esbravejou. Metida e metido! Podem cair fora! Eu sou o preferido dela. Afinal ando em sua bolsa, em sua mo, ela faz de mim o que quiser. Conversa com amigas, l suas mensagens, passeia no Face book e no Orkut comigo e quando quer acha em mim todos os canais que voc Televiso soberbamente se jacta de ter! Eu sou o nico. O seu preferido. Quando no me tem a mo ela chora. Reclama. Por isto tenho que estar sempre presente. O acampamento estava calado. Era humilde. Nunca se revoltou. Agora mais triste se sentia, pois s falavam em novos tempos. Sabia que Olhos Azuis Profundos no era Escoteira. Pensou em nada dizer. Mas ele sabia de sua importncia. Pediu se podia falar. A Internet, a Televiso e o Celular riram bastante. O que uma barraquinha mixuruca tem a dizer? O acampamento era

educado. No gostava de jactar-se. Nunca fez isso. Sabia de sua importncia para quem o conhecia. - Eu meus amigos, poderia oferecer a ela o perfume das flores silvestres. Poderia mostrar a ela a mais bela e misteriosa flor da floresta, o desabrochar de Orqudea branca l em cima da montanha no carvalho centenrio. Ela iria ver os olhos brilhantes como os dela na Coruja da noite. Poderia mostrar a ela a beleza do Bal dos Beija Flores na primavera. Ensinar a ela a seguir as estrelas brilhantes no firmamento. Quem sabe um passeio de sonhos na Via Lctea? Iria ensinar a ela a reconhecer as estrelas, que sabe a Alfa-Centauro? J pensou ela ver a chuva caindo na mata? Leve, calma como se fosse uma linda sinfonia imperdvel aos ouvidos de um mateiro. E a noite iria cantar com ela em volta do fogo junto a tantas amigas que l estaro. - E continuou Ela iria sorrir com o nascer do sol, e maravilhar-se com o por do sol, iria jogar, passear, fazer jornadas, ter uma fome tal que comeria um elefante o que no faz agora. Iria tenho certeza maravilhar-se na piracema, a ver os peixes saltitantes na cascata da nevoa branca, tentando alcanar o inatingvel. Ela meus amigos iria sentir orgulho de s mesma. No seria mais dependente, pois ali iria aprender junto natureza uma vida de aventuras. Ela iria colocar uma mochila e partir para um mundo de sonhos, onde nada estava previsto. A descoberta seria dela. Ela iria aprender a fazer fazendo e depois meus amigos quando retornasse, ela saberia que o escotismo e eu poderemos lhe oferecer muito mais. - O Acampamento com tristeza disse para terminar Nossa jovem meus amigos em breve ter as pernas e os braos atrofiados. Ela no anda mais. Agora viajam com voces vendo outros fazerem e ela nada fazer. Sua mente ir desaparecer na loucura do tempo. Nunca ir ver Deus em plena natureza, na cascata do riacho, nas campinas verdejantes, na noite e no amanhecer de um novo dia. Eu fico triste por ela. Triste porque s ela pode dizer sim ou no e voces e eu somos meros coadjuvantes! E sabem? Fico triste por voces, pois se a luz faltar e a bateria acabar voces desaparecem como o vento na tempestade. Eu? Nunca vou desparecer, com chuva ou no, tendo eletricidade ou no. Eu sou a mo de Deus aqui na terra! Olhos Azuis Profundos suspirou fundo. Nunca imaginou que aquela barraca era to sbia. Quem era ela? Escoteiros? J tinha ouvido falar. Tomou uma deciso. Procurou na Internet endereos de um Grupo Escoteiro. A Internet riu com orgulho. Ligou a TV e viu um belo acampamento passando em um canal. A TV deu gargalhada. Chamou pelo Celular uma amiga que conhecia outra que era Escoteira. O Celular explodiu em felicidade. Olhou para o Acampamento e disse meu amigo, voc me convenceu. Vamos acampar? E l foi ela com o acampamento, sua nova mochila e deixando para trs a Internet, A Televiso e o Celular. Eles tentaram reclamar, mas Olhos Azuis Profundos disse No vou levar voces. A natureza no pode se misturar a modernidade. Verei Deus ao meu lado e poderei sonhar com uma

viagem nas estrelas brilhantes e quem sabe, pegar uma carona em um cometa azul? Mas eu volto, sempre pensando no meu amado e adorado acampamento. Adeus, ou melhor, at logo meus amigos eletrnicos, que surgiram com a natureza, pois foi ela quem fez voces!

S o vento sabe a resposta Nada a ver com o romance de J.M. Simmel, por sinal um livro que devia ser lido por todos. Esta historia foi na dcada de setenta, eu era o Chefe de um Grupo Escoteiro por estes interiores do Brasil. Uma menina de uns doze anos se adentrou no ptio de reunies (era um sbado tarde) e ficou sentada observando a movimentao das tropas escoteiras. Ainda no havia a coeducao. Esta s foi iniciada na metade da dcada de oitenta. Em dado momento me procurou. Chefe como fao para entrar nos escoteiros? Um olhar profundo, uma vontade de ser e no poder ser. Expliquei a ela. Disse que s como bandeirante. - Mas aqui no tem? S balancei a cabea negativamente. No, respondi. Seus olhos se encheram de lgrimas. Tentei consolar, mas ela me olhou e saiu correndo. Passaram-se alguns anos, acho que uns seis anos se no me falha a memria. Conversava com um chefe e vi uma mocinha adentrando a sede. Pediu para falar comigo e prontamente a atendi. Chefe agora eu tenho dezessete anos. Vou fazer dezoito daqui a trs meses. Agora posso entrar? No me lembrava de porque ela disse a palavra agora. Perguntei. No lembras quando estive aqui h cinco anos? O senhor me disse que s poderia ser bandeirante. Em nossa cidade no tem. Esperei com calma e sonhando a cada dia em ser escoteira. Agora sou quase de maior, posso ou no? Claro, eu disse que sim. Nossa Alcatia tinha 26 lobinhos. Dois chefes masculinos e duas femininas. Tinha que arrumar um lugar para ela. Uma perseverana em querer, em poder ser e depois de anos e anos nunca esqueceu seus sonhos. Claro que nunca poderia ser recusada. Eu jurei a mim mesmo que seus sonhos seriam realizados. No foi bem recebida. Uma das chefes me procurou em particular e disse que no poderia aceit-la no grupo. - Por qu? Disse eu. Porque ela mora no Ferreirinho e o senhor sabe, l um bairro de m fama. Sua me s pode ser uma prostituta. No sei por que falou aquilo. Era uma jovem tima. Nunca deixou de ajudar ningum. Infelizmente era uma poca onde as mulheres que por um motivo ou outro foram parar ali naquele bairro no eram perdoadas facilmente. No esperava aquela atitude. Pensei que no ramos assim. ramos sim, uma fraternidade, cheia de compreenso para com o prximo. Ao encerrar a reunio ela pediu um Conselho de Chefes. Na reunio explicou o motivo. ramos doze. Claro que concordei. Ela expos suas razes. Pelo menos sete chefes concordaram com ela. Vamos colocar em votao disse? No precisa. Estou entregando meu cargo. Estou envergonhado. Pensei que aqui teramos outro pensamento. Mas me enganei. Se isso for acontecer novamente prefiro no estar presente.

Todos pediram um tempo para pensar. No preciso eu disse. Um dia vocs me disseram que o escoteiro amigos de todos e irmo dos demais. Se no pensam assim, aqui no o meu lugar. Procuraram-me no meio da semana, inclusive a chefe em questo. - Desculpe chefe. Agi mal. Muito. Peo perdo. Coloquei a mo em seu ombro. Nada de desculpas minha jovem chefe. Estou orgulhoso de voc e dos outros. No sbado seguinte a mocinha que pediu para entrar no apareceu. No outro tambm no. Fiquei preocupado. Ser que ele ficou sabendo do que aconteceu e desistiu? No tinha seu endereo. No tinha feito por escrito sua inscrio. No sabia como ach-la. Dois meses depois avistei uma mocinha que achei parecidssima com ela. Parei e perguntei. Expliquei tudo. Ela com lgrimas nos olhos disse que era sua irm mais nova. Ela se chamava Beatriz. Contou para todos de sua alegria em ser agora uma escoteira. Era seu sonho. Sempre falava o dia inteiro. Tnhamos que ouvir todos os dias. Durante mais de seis anos. No sbado pela manh se preparou para ir ter com vocs. Ao sair foi atropelada por um nibus. Levada ao hospital faleceu horas depois. Fiquei pensando em tudo. Nosso destino, nossos sonhos. Perdidos em minutos. Em segundos. Por qu? Sem retorno. Acho que s o vento sabe a resposta!

UMA LENDA, UMA LINDA LENDA. Existe uma histria de simplicidade linda, que eu gostaria de contar. Uma lenda, um acalanto... No sei se verdade... E no me importo com isso. No precisa ser... Foi h muito tempo atrs depois de o mundo ser criado e da vida complet-lo. Num dia, numa tarde de cu azul e calor ameno. Um encontro entre Deus e um de seus incontveis anjos. Acredita? Deus estava sentado, calado. Sob a sombra de um p de jabuticaba. Lentamente sem pecado, Deus erguia suas mos ento colhia uma ou outra fruta. Saboreava sua criao negra e adocicada. Fechava os olhos e pensava. Permitia-se um sorriso piedoso. Mantinha seu olhar complacente. Foi ento que das nuvens um de seus muitos arcanjos desceu e veio em sua direo. J ouviu a voz de um anjo? como o canto de mil baleias. como o pranto de todas as crianas do mundo. como o sussurro da brisa. Ele tinha asas lindas. Brancas, imaculadas. Ajoelhou-se aos ps de Deus e falou: Senhor visitei sua criao como pediu. Fui a todos os cantos. Estive no sul, no norte. No leste e oeste. Vi e fiz parte de todas as coisas. Observei cada uma de suas crianas humanas. E por ter visto, vim at o Senhor... Para tentar entender. Por qu? Por que cada uma das pessoas sobre a terra tem apenas uma asa? Ns anjos temos duas. Podemos ir at o amor que o Senhor representa sempre que desejarmos. Podemos voar para a liberdade sempre que

quisermos. Mas os humanos com sua nica asa no podem voar. No podem voar com apenas uma asa... Deus na brandura dos gestos, respondeu pacientemente ao seu anjo. Sim... Eu sei disso. Sei que fiz os humanos com apenas uma asa... Intrigado, com a conscincia absoluta de seu Senhor o anjo queria entender e perguntou: Mas por que o Senhor deu aos homens apenas uma asa quando so necessrias duas asas para se poder voar... Para se poder ser livre? Conhecedor que era de todas as respostas, Deus no teve pressa para falar. Comeu outra jabuticaba, obscura e suave. Ento, respondeu: __ Eles podem voar sim meu anjo. Dei aos humanos apenas uma asa para que eles pudessem voar mais e melhor que Eu ou vocs, meus arcanjos... Para voar, meu amigo, voc precisa de suas duas asas... Embora livre, sempre estar sozinho. Talvez da mesma maneira que Eu... Mas os humanos... Os humanos com sua nica asa precisaro sempre dar as mos para algum a fim de terem suas duas asas. Cada um deles tem na verdade um par de asas... Uma outra asa em algum lugar do mundo que completa o par. Assim eles aprendero a se respeitarem, pois ao quebrar a nica asa de outra pessoa, podem estar acabando com as suas prprias chances de voar. Assim meu anjo, eles aprendero a amar verdadeiramente outra pessoa... Aprendero que somente se permitindo amar, eles podero voar. Tocando a mo de outra pessoa em um abrao correto e afetuoso eles podero encontrar a asa que lhes falta... E podero finalmente voar. Somente atravs do amor iro chegar at onde estou... Assim como voc meu anjo. E eles nunca. . . Nunca "estaro sozinhos quando forem voar.. Deus silenciou em seu sorriso. O anjo compreendeu o que no precisava ser dito. Escrito por: Fbio E.

A estrela verde. Quem sabe ela vai me trazer a paz que eu preciso para olhar o futuro e dizer: Cada pessoa cria e modela o seu prprio destino, seu futuro ser resultante de seus pensamentos presentes. As ideias assim como as sementes que se colocam no solo acabam por germinar. (Annimo). Metfora: A estrela verde

Era uma vez Milhes e milhes de estrelas no cu. Havia estrelas de todas as cores: brancas, lilases, prateadas, douradas, vermelhas, azuis. Um dia, elas procuraram o Senhor Deus, Todo-Poderoso, o Senhor Deus do Universo e disseram-lhe: - Senhor Deus, gostaramos de viver na Terra, entre os homens. - Assim ser feito, respondeu Deus. Conservarei todas vocs pequeninas, como so vistas, e podem descer a Terra. Conta-se que naquela noite, houve uma linda chuva de estrelas. Algumas se aninharam nas torres das igrejas, outras foram brincar e correr com os vagalumes, no campo. Outras se misturaram aos brinquedos das crianas e a Terra ficou maravilhosamente iluminada. Porm, passado algum tempo, as estrelas resolveram abandonar os homens e voltar para o Cu, deixando a Terra escura e triste. - Por que voltaram? perguntou Deus, medida que elas chegavam ao Cu. - Senhor, no nos foi possvel permanecer na Terra. L existe muita misria, muita desgraa, muita fome, muita violncia, muita guerra, muita maldade e muita doena. E o Senhor lhes disse: - Claro, o lugar real de vocs aqui no Cu. A Terra o lugar do transitrio, daquilo que se passa, do ruim, daquele que cai, daquele que erra, daquele que morre, onde nada perfeito. Aqui no Cu, o lugar da perfeio. O lugar onde tudo imutvel, onde tudo eterno, onde nada padece. Depois de chegarem todas as estrelas e conferindo o seu nmero, Deus falou de novo: - Mas est faltando uma estrela. Perdeu-se no caminho?. Um anjo, que estava perto retrucou: - No, Senhor. Uma estrela resolveu ficar entre os homens. Ela descobriu que seu lugar exatamente onde existe imperfeio, onde h limites, aonde as coisas no vo bem.. - Mas que estrela essa? Voltou Deus a perguntar. - Por coincidncia, Senhor, era a nica estrela dessa cor. - E qual a cor dessa estrela? insistiu Deus. - E o anjo disse: - A estrela verde, Senhor. A estrela verde do sentimento de esperana.

E quando ento olharam para a Terra, a estrela no estava s. A Terra estava novamente iluminada, porque havia uma estrela verde no corao de cada pessoa. Porque o nico sentimento que o homem tem e Deus no tm a esperana. Deus j conhece o futuro, e a esperana prpria da natureza humana. Prpria daquele que cai, daquele que erra, daquele que no perfeito, daquele que ainda no sabe como ser seu futuro. (retirado da internet. Annimo).

O PEIXE DA BOCA TORTA Uma das coisas que eu mais gostava quando acampava, era pescar. Adorava. Muitas vezes aps o horrio l pelas onze da noite, eu ia pescar alguns bagres e traras. A noite era o melhor horrio para esses peixes. Afinal comer s linguias no dava. No levvamos mais nada para completar o arroz, feijo, batata e macarro. Portanto o peixe era uma mo na roda. Na minha mochila sempre tinha trs linhas para pescar. Uma para peixes midos, linha fina e chumbada pequena. Outra com dois anzis. Linha nmero dois, chumbada mdia, para pescar peixes at meio quilo. E a mais grossa, trs anzis, numero trs para pescar peixes acima de meio quilo. Claro, podem at duvidar, mas no Rio Piranga eu peguei um piau de mais de cinco quilos. Comemos peixe vontade e ainda dividimos com o Antonio Vaqueiro que no saia de nosso acampamento. O danado tinha 14 filhos! Nunca faltava peixe em nossa cozinha. Os demais patrulheiros gostavam de comer de pescar no. Mas eu adorava. Na beira do crrego, da lagoa, do rio ou de uma represa eu era bamba na pesca. Usava duas espcies de isca. Um pedao de queijo partido em fatias pequenas e minhocas. Na poca conhecia dois tipos, a puladeira e a preguiosa. Fcil de conseguir em qualquer barranca. Lembro de uma vez que fomos acampar no crrego dos Pintos. Uma aguada excelente. O riacho corria por quilmetros sobre pedras, fazendo belas cachoeiras e corredeiras. Ns nos divertamos a valer. Claro, s amos nas partes rasas. Prximo onde acampvamos ficava uma curva sinuosa do riacho. Uma parte ficava represada e devido a chuvas fortes na barraca se juntava muitos paus e diversos tipos de arvores arrastadas pela correnteza. Um pesqueiro dos melhores. Uma poca onde se preservava a natureza. Nada de garrafas pet sacolinhas e latas vazias de cerveja. Lembro como se fosse hoje, que no segundo dia pela manh falei com Romildo nosso monitor que iria pegar uns peixes para o almoo. Nosso campo j possua todas as pioneirias necessrias e pela manh no estvamos fazendo nada. Com minha faca escoteira fui barranca, l tinha um pequeno bambuzal de bambus chineses. Perfeito para pescar.

Ali ao lado um pequeno lamaal. As minhocas a rodo. Peguei na beira do crrego duas folhas de inhame amarelo, que no servia para comer. Suas folhas eram enormes. Muito usada como copos na falta destes. Com barro e muita minhoca enrolei a folha e fui para o meu lugar favorito. Mas de dez minutos e nada. Nenhum peixe mordia. Nenhum puxo. Notei um peixe prximo com a boca para fora da gua. O danado tinha a boca torta. A gua estava meio turva, mas deu para ver que era uma Car. Das grandes. Daria uma boa fritada. Jogava o anzol prximo e ela nada. Ficamos assim no jogo de gato e rato e desisti. Voltei ao campo e esqueci na beira do remanso, minhas iscas amarradas na folha de inhame. Depois do almoo voltei l. Em nossa programao s pelas quatro iramos at a casa do Z do Boi, um fazendeiro amigo. Ele sempre insistia que fossemos l. Gostava de sentar fora da sua choupana e contar causos e causos pitando um cigarrinho de palha. O danado era bom nisso, pois ficvamos horas e horas ouvindo e s voltvamos tarde da noite. Sua esposa dona Hortncia sempre fazia um quentado para ns. Na volta, fui direto ao pesqueiro. As iscas desapareceram. Algum desamarrou as folhas de inhame e as minhocas sumiram. No outro dia cedo, l fui eu de novo. Peguei muitas minhocas. Logo ela apareceu. A danada da car e sua boca torta. Nenhum peixe. Quando desisti por volta das onze da manh, e vinha saindo, um redemoinho de peixes se formou. A car da boca torta deu vrios pulos como se estivesse rindo. Pensei comigo. Aguarde! Vou comer voc frita! Depois do almoo todos foram at o morro onde se avistava toda a cidade onde morvamos. Iriam treinar semforas. No fui. Voltou ao pesqueiro de novo as minhocas se foram. Quem estaria desamarrando as folhas? Fiquei ali at as cinco. Nada. No pegava nada. Ao ir danada da cara da boca torta pulava e um redemoinho de peixes se formava. Parecia que ela estava rindo de mim. Fiquei toda tarde e a noite fazendo um balaio de taquaras. Era bom nisso. Fiz um belo balaio. No dia seguinte, voltei l. Sabia que no ia pescar nada. Fingi que vinha embora e quando a car pulou e os peixes pularam joguei o balaio e pulei na gua. Levantei o balaio e l estava ela, a bela car e sua boca torta. Mais de um palmo e meio. Sai da gua, olhei para ela e disse E agora ladrona de minhocas, vai dar sua risada? Ela fechou os olhos, mexeu com a boca e parece que saiu um pequeno gemido. No aguentei. Joguei-a de novo na gua. Ela comeou a pular e o cardume em sua volta pulando tambm. Naquele acampamento s comemos linguia. Peixes? Nem pensar! PS No historia de pescador. Histria de escoteiros e suas lembranas extraordinrias!

Lendas escoteiras. O simptico macaquinho Quinzinho. Quando escoteiro tnhamos facilidades de acampar sempre. Seja com a tropa ou com a patrulha quase sempre passvamos o fim de semana no campo. Todas as patrulhas tinham suas escolhas. Seus locais. A nossa, a Raposa sempre que podamos acampvamos na Fazenda do Chico Flores. Perto, menos de seis quilmetros. Uma aguada maravilhosa e um grande bambuzal que poderamos usar a vontade. Menos de cinco quilmetros do Rio Doce. Chico Flores e sua esposa dona Alice Flores eram um casal de velhinhos muito simpticos. Nem precisvamos avisar e quando l chegvamos, ele dava um belo sorriso. Sua casa era simples, ainda de barro, mas por dentro era um brinco. Dona Alice com seu eterno sorriso. Os filhos na capital estudando. Uns boizinhos (como ele dizia, mas eram mais de 2.000 cabeas), uns porquinhos, galinhas e uma centena de bodes e avestruz. Estvamos voltando pela segunda vez aquele ms. Uma investigao se fazia necessria. Na ltima vez, fomos roubados em toda nossa alimentao. Quem roubou abriu a porta da barraca de duas lonas facilmente. Ela estava bem presa e no sobrou nada. Tnhamos naquela poca trs tipos de rao. Rao A Arroz feijo, batata e macarro e dois pedaos de lingia. leo, sal e sabo. Tudo dividido por cada patrulheiro. Nossas mes colocavam em saquinhos e vidrinhos, fcil para levar na mochila. A rao B era mais ou menos a mesma, mas para dois ou trs dias. E por ltimo a rao C Maior. Comprada no Armazm do Seu Z Mutum. Ele fazia um preo especial para ns. Nossos pais pagavam com a caderneta mensal. Dormamos na sede a noite na sexta, e l pelas quatro da manh j com a carrocinha preparada partamos. Menos de duas horas e j estvamos no local. Montamos o campo como se no soubssemos de nada. Fizemos um almoo e sabamos que era de primeira. Fumanch nosso cozinheiro tinha fama de ser p melhor cozinheiro de todas as patrulhas. Aps a limpeza do vasilhame e do campo, samos como se fossemos fazer uma excurso. Nosso material de sapa e alimentao era guardado na barraca de intendncia. As lingias penduradas no teto da barraca para durar mais. Voltamos e nos escondemos em uma salincia a menos de oitenta metros do nosso campo. No demorou. O ladro chegou. Olhou para um lado, para o outro e como se fosse treinado abriu a porta da barraca. Levou o que podia. Voltou logo, levou mais. Romildo o monitor p-ante-p o prendeu dentro da barraca. O danado nem gritou. Punha a mo entre os olhos e mostrava seus belos dentes como se aquilo fosse uma diverso. Ficamos seu amigo, ele ficou nosso amigo. Quando amos acampar ali estava ele. Claro que no nos esquecamos de levar suas duas dzias de banana caturra. Sua preferida. Quinzinho nunca foi esquecido. Um macaquinho lindo,

amvel e educado. Claro, roubava comida, mas para ele no era roubo. Ali era seu habitat. Ele era o dono. Nascera ali. Tinha o seu direito. Ns ramos os invasores. Nas outras vezes nem chegvamos e ele saltava em nossas costas com aquele sorriso brejeiro. O tempo passou, crescemos outras plagas, agora mais longe em busca de novas aventuras. No esquecemos Quinzinho. Quando podamos amos l de bicicleta sempre levando suas bananas. Mas nem tudo dura para sempre. Um dia no vimos mais Quinzinho. Para onde foi se morreu, se o levaram para um circo qualquer. Foram muitas saudades. Muitas. Quinzinho teve seu lugar de honra no livro da Patrulha Raposa. Acho que est l at hoje!

O meu Melhor Possvel! O meu Sempre Alerta! O meu Servir!

Fim.

Você também pode gostar