VEJA Entrevista Robert Hare
VEJA Entrevista Robert Hare
VEJA Entrevista Robert Hare
Psicopatas no div O psiclogo canadense, criador de uma escala usada para medir os graus de psicopatia, explica por que uma pessoa aparentemente normal pode fazer as piores coisas sem sentir remorso Laura Diniz
Montagem sobre fotos divulgao e Album-Latin Stock
"O psicopata como o gato, que no pensa no que o rato sente. Ele s pensa em comida. A vantagem do rato sobre as vtimas do psicopata que ele sempre sabe quem o gato"
O trabalho do psiclogo canadense Robert Hare, de 74 anos, confunde se com quase tudo o que a ci!ncia descobriu sobre os psicopatas nas "ltimas duas d#cadas$ %oi ele quem, em &''&, identificou os crit#rios ho(e uni)ersalmente aceitos para diagnosticar os portadores desse transtorno de personalidade$ Hare come*ou a aproximar se do tema ainda rec#m formado, quando, trabalhando com detentos de uma pris+o de seguran*a m,xima nas proximidades de -ancou)er, ficou intrigado com uma quest+o. /0u queria entender o moti)o pelo qual, em alguns seres humanos, a puni*+o n+o tem efeito algum/$ 1 curiosidade le)ou o at# os labirintos da psicopatia 2 doen*a para a qual, at# ho(e, n+o se )islumbra cura$ /O que tentamos agora # reduzir os danos que ela causa, aos seus portadores e aos que os cercam$/
Um psicopata nasce psicopata? 3ingu#m nasce psicopata$ 3asce com tend!ncias para a psicopatia$ 1 psicopatia n+o # uma categoria descriti)a, como ser homem ou mulher, estar )i)o ou morto$ 4 uma medida, como altura ou peso, que )aria para mais ou para menos$ O senhor o criador da escala usada mundialmente para medir a psicopatia. uais so as caracter!sticas "ue apro#imam uma pessoa do n$mero %&' o (rau m)#imo "ue sua escala estabelece? 1s principais s+o aus!ncia de sentimentos morais 2 como remorso ou gratid+o 2, extrema facilidade para mentir e grande capacidade de manipula*+o$ 5as a escala n+o ser)e apenas para medir graus de psicopatia$ 6er)e para a)aliar a personalidade da pessoa$ 7uanto mais alta a pontua*+o, mais problem,tica ela pode ser$ 8or isso, # usada em pesquisas cl9nicas e forenses para a)aliar o risco que um determinado indi)9duo representa para a sociedade$ *odo psicopata comete maldades? 3+o necessariamente com o intuito de "No h como di!er se uma crian"a se tornar um adulto cometer a maldade$ Os psicopatas psicopata. #as, se ela age de apresentam comportamentos que modo cruel com outras crian"as e podem ser classificados de per)ersos, animais, mente olhando nos olhos mas que, na maioria dos casos, t!m e no tem remorso, isso sinali!a por finalidade apenas tornar as coisas um comportamento problem tico no $uturo" mais f,ceis para eles 2 e n+o importa se isso )ai causar pre(u9zo ou tristeza a algu#m$ 5as h, os psicopatas do tipo s,dico, que s+o os mais perigosos$ 0les n+o somente buscam a prpria satisfa*+o como querem pre(udicar outras pessoas, sentem felicidade com a dor alheia$ At "ue ponto a associa+o entre a ,i(ura do psicopata e a do serial -iller le(!tima? 1 estimati)a # que cerca de &: da popula*+o mundial preencheria os crit#rios para o diagnstico de psicopatia$ 3os 0stados ;nidos, ha)eria, ent+o, cerca de < milh=es de psicopatas$ 6e o n"mero de serial >illers em ati)idade naquele pa9s for, como se acredita, de aproximadamente cinquenta, isso significa que a participa*+o desses criminosos no uni)erso de psicopatas # muito pequena$ 8or outro lado, segundo um estudo
do psiquiatra americano 5ichael 6tone, cerca de '?: dos serial >illers seriam psicopatas$ Em "ue medida o ambiente in,luencia na constitui+o de uma personalidade psicopata? 3a d#cada de @?, Aohn B$ Catson, um estudioso de psicologia comportamental, dizia que, ao nascer, ns somos como p,ginas em branco. o ambiente determina tudo$ 3a sequ!ncia, entrou em )oga o termo sociopata, a sugerir que a patologia do indi)9duo era fruto do ambiente 2 ou se(a, das suas condi*=es sociais, econDmicas, psicolgicas e f9sicas$ Esso inclu9a o tratamento que ele recebeu dos pais, como foi educado, com que tipo de amigos cresceu, se foi bem alimentado ou se te)e problemas de nutri*+o$ Os adeptos dessa corrente defendiam a tese de que basta)a in(etar dinheiro em programas sociais, dar comida e trabalho Fs pessoas, para que os problemas psicolgicos e criminais se resol)essem$ Ho(e sabemos que, ainda que )i)!ssemos uma utopia social, ha)eria psicopatas$
"%m psicopata ama algum da mesma $orma como eu, digamos, amo meu carro & e no da $orma como eu amo minha mulher. %sa o termo amor, mas no o sente da maneira como ns entendemos. Em geral, um sentimento de posse, de propriedade"
.omo se che(ou a essa concluso? 3a d#cada de G?, ),rios estudiosos, inclusi)e eu, come*aram a pesquisar a rea*+o de um grupo de psicopatas a situa*=es que, em pessoas normais, produziriam efeitos sobre o sistema ner)oso autDnomo$ 7uando se est, na expectati)a da ocorr!ncia de algo desagrad,)el, a preocupa*+o do indi)9duo transparece por meio de tremores, transpira*+o e acelera*+o card9aca$ Os psicopatas estudados, mesmo quando confrontados com situa*=es de tens+o, n+o exibiam esses sintomas$ Esso refor*ou a conclus+o de que existem diferen*as cerebrais entre psicopatas e n+o psicopatas$ 8ouco a pouco, essas diferen*as )!m sendo mapeadas$ / poss!vel observar sinais "ue indi"uem "ue uma crian+a pode se tornar um adulto psicopata? 3+o h, nada que indique que uma crian*a for*osamente se transformar, num psicopata, mas # poss9)el notar que algo pode n+o estar funcionando bem$ 6e a crian*a apresenta comportamentos cru#is em rela*+o a outras crian*as e animais, # h,bil em mentir olhando nos olhos do interlocutor, mostra
aus!ncia de remorso e de gratid+o e falta de empatia de maneira geral, isso sinaliza um comportamento problem,tico no futuro$ Os pais podem inter,erir nesse processo? 6im, para o bem e para o mal, mas nunca de forma determinante$ O ambiente tem um grande peso, mas n+o mais do que a gen#tica$ 3a )erdade, ambos atuam em con(unto$ Os pais podem colaborar para o desen)ol)imento da psicopatia tratando mal os filhos$ 5as uma boa educa*+o est, longe de ser uma garantia de que o problema n+o aparecer, l, na frente, )isto que os tra*os de personalidade podem ser atenuados, mas n+o apagados$ O que um ambiente com influ!ncias positi)as proporciona # um melhor gerenciamento dos riscos$ Os psicopatas t0m consci0ncia de "ue so di,erentes? 1 consci!ncia, o processo de a)aliar se algo de)e ser feito ou n+o, en)ol)e n+o somente o conhecimento intelectual, mas tamb#m o aspecto emocional$ Do ponto de )ista intelectual, o psicopata pode at# saber que determinada conduta # conden,)el, mas, em seu Hmago, ele n+o percebe qu+o errado # quebrar aquela regra$ 0le tamb#m entende que os outros podem pensar que ele # diferente e que isso # um problema, mas n+o se importa$ O psicopata faz o que dese(a, sem que isso passe por um filtro emocional$ 4 como o gato, que n+o pensa no que o rato sente 2 se o rato tem fam9lia, se )ai sofrer$ 0le s pensa em comida$ Iatos e ratos nunca )+o entender um ao outro$ 1 )antagem do rato sobre as )9timas do psicopata # que ele sempre sabe quem # o gato$ / muito di,!cil identi,icar um psicopata no dia a dia? 6uperficialmente, um psicopata pode parecer um su(eito normal$ 5as, ao conhec! lo melhor, as pessoas notar+o que ele # um indi)9duo problem,tico em di)ersos aspectos da )ida$ 0le pode ignorar os filhos, mentir sistematicamente ou apresentar grande capacidade de manipula*+o$ 6e # flagrado fazendo algo errado, por exemplo, tenta con)encer todo mundo de que est, sendo mal interpretado$ Um psicopata no sente amor? 1credito que sim, mas da mesma forma como eu, digamos, amo meu carro 2 e n+o da forma como eu amo minha mulher$ ;sa o
termo amor, mas n+o o sente da maneira como ns entendemos$ 0m geral, # traduzido por um sentimento de posse, de propriedade$ 6e )oc! perguntar a um psicopata por que ele ama certa mulher, ele lhe dar, respostas muito concretas, tais como /porque ela # bonita/, /porque o sexo # timo/ ou /porque ela est, sempre l, quando preciso/$ 1s emo*=es est+o para o psicopata assim como o )ermelho est, para o daltDnico$ 0le simplesmente n+o consegue )i)enci, las$ ue ,i(uras hist1ricas podem ser consideradas psicopatas? 4 dif9cil dizer, porque seu comportamento # mediado por relatos de terceiros, e n+o por um diagnstico psiqui,trico$ 5as o ditador da ex ;ni+o 6o)i#tica Aosef 6talin, por exemplo, era de tal forma impiedoso que tal)ez possa ser considerado psicopata$ O ex ditador iraquiano 6addam Hussein # outro exemplo$ 0u ficaria muito surpreso se ele n+o preenchesse todos os crit#rios para a psicopatia$ 1li,s, 6addam tinha um filho claramente psicopata (Udai Hussein, morto em 2003), dirigente de um time de futebol$ 7uando o time perdia, ele tortura)a os (ogadores 2 ou se(a, era s,dico tamb#m$ A, o l9der nazista 1dolf Hitler # um caso mais complexo$ 0le pro)a)elmente n+o era s psicopata$ A psicopatia incur)vel? 8or meio das terapias tradicionais, sim$ 8egue se o modelo padr+o de atendimento psicolgico nas pris=es$ 0le simplesmente n+o tem nenhum efeito sobre os psicopatas$ 3esse modelo, tenta se mudar a forma como os pacientes pensam e agem estimulando os a colocar se no lugar de suas )9timas$ 8ara os psicopatas, isso # perda de tempo$ 0le n+o le)a em conta a dor da )9tima, mas o prazer que sentiu com o crime$ Outro tratamento que n+o funciona para criminosos psicopatas # o cogniti)o 2 aquele em que psiclogo e paciente falam sobre o que deixa o criminoso com rai)a, por exemplo, a fim de descobrir o ciclo que le)a ao surgimento desse sentimento e, assim, e)it, lo$ 0sse procedimento n+o se aplica aos psicopatas porque eles n+o conseguem )er nada de errado em seu prprio comportamento$
2o 3rasil' os psicopatas costumam ser considerados semi4imput)veis pela Justi+a. Os ma(istrados entendem "ue eles at podem ter consci0ncia do car)ter il!cito do "ue cometeram' mas no conse(uem evitar a conduta "ue os levou a praticar o crime. Assim' se condenados' vo para a cadeia' mas t0m a pena diminu!da. O senhor acha "ue' do ponto de vista 5ur!dico' os psicopatas so totalmente respons)veis por seus atos? 0u diria que a resposta # sim$ 5as h, di)erg!ncias a respeito e existem muitas in)estiga*=es em andamento para determinar at# que ponto )ai a responsabilidade deles em certas situa*=es$ ;ma corrente de pensamento afirma que o psicopata n+o entende as consequ!ncias de seus atos$ O argumento # que, quando tomamos uma decis+o, fazemos pondera*=es intelectuais e emocionais para decidir$ O psicopata decide apenas intelectualmente, porque n+o experimenta as emo*=es morais$ 1 outra corrente diz que, da perspecti)a (ur9dica, ele entende e sabe que a sociedade considera errada aquela conduta, mas decide fazer mesmo assim$ 0nt+o, como ele faz uma escolha, de)e ser responsabilizado pelos crimes que por)entura )enha a cometer$ 3+o h, dados emp9ricos que deem apoio a um lado ou a outro$ 1inda # uma quest+o de opini+o$ 1credito que esse ponto ser, moti)o de discuss+o pelos prximos cinco ou dez anos, tanto por parte dos especialistas em dist"rbios mentais quanto pelos profissionais de Austi*a$ O senhor est) para publicar um estudo sobre um novo modelo de tratamento para psicopatas. 6o "ue se trata? Jrata se de um modelo mais afeito F escola cogniti)a, em que os pacientes s+o le)ados a compreender que at# podem fazer algo que dese(em, sem que isso se(a ruim para os outros$ 3+o )ai mud, los, mas tal)ez possa atenuar as consequ!ncias de suas a*=es$ 4 um tratamento com ambi*=es relati)amente modestas 2 tem por ob(eti)o a redu*+o de danos$
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